38 Revista Hospital São Vicente de Paulo Médica Ciências da saúde ARTIGOS ORIGINAIS Incidência de acidentes ofídicos registrados na região fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil Nível de informação sobre a pré-eclâmpsia das gestantes atendidas nos centros de assistência integral à saúde de Passo Fundo Interações medicamentosas com fitoterápicos: conhecimento popular e científico Obesidade gestacional e suas repercussões na saúde materno-infantil Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares ARTIGOS DE REVISÃO Asma na infância Importância da descontaminação das mucosas da cavidade oral nos pacientes hospitalizados: Revisão de Literatura RELATOS DE CASOS Aneurisma de artéria carótida interna: Tratamento cirúrgico Doenças bolhosas agudas da pele: Síndrome de Stevens Johnson & Necrólise epidérmica tóxica: Comparação entre dois casos clínicos Cisto de Baker gigante bilateral: relato de caso Histoplasmose de próstata: relato de um caso e discussão Carcinoma de pequenas células da próstata: relato de caso Passo Fundo – RS Ano XVII – Nº 38 Dezembro / 2013 ISSN 0103 - 4162 Revista EDITORIAL Médica Ciências da saúde Hospital São Vicente de Paulo ISSN 0103 - 4162 As publicações médicas de Passo Fundo. Em setembro de 1960, há 53 anos, surgiu a primeira publicação médica de Passo Fundo com a nome de Anais de Medicina e Cirurgia, chancelado pela Sociedade Pró-Universidade de Passo Fundo e tendo como Diretor o Dr. Paulo Loureiro Azambuja. Nesta revista, o Dr. Paulo Azambuja, conseguiu reunir como autores conhecidos médicos de Passo Fundo e região: Drs. Antônio Albuquerque, Aldo Conte (Sarandi), Ary Tasca (Ronda Alta), João Carlos Oliveira, Antônio Loureiro Kruel, Carlos Alberto Benicá (Serafina Corrêa), Tobias Wainstein, Carlos Alberto Fialho (Marau), Alberto Lago, Maria Francisca Teixeira, Manoel Lacerda, Odaglas Salgado, Valny Giacomelli, Hélio dos Santos Ferreira e Luiz Phillipe Cunha. Em 1970 inicia a funcionar Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo. A publicação inicial precedeu por uma década esta Faculdade demonstrando que a efervescência cien+fica já apontava para a concre!zação desta escola médica. Os ar!gos eram bem variados e interessantes dando uma ideia das dificuldades e preocupações médicas há meio século atrás. Nesta edição é possível ver as influências da literatura médica da época na qual aparecem muitas citações da língua francesa mas já predominavam ar!gos da literatura inglesa, que é a mais usada nos nossos dias. Em janeiro de 1986 foi lançada a RUA, Revista da Unimed Planalto Médio e Amrigs de Passo Fundo que teve como fundador o Dr. Luiz Fragomeni e como componentes da editoria cien+fica os Drs. Luis Sérgio Fragomeni, Paulo Cera* Azambuja e Gilberto Tubino da Silva. No editorial deste número o Dr. Renato Tadeu dos Santos faz um veemente alerta ao exagero do consumismo, agressão ambiental e, enfa!zando, a importância com o cuidado ao ser humano. Em 1989 é lançada a revista Anais de Medicina e Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo e tendo como comitê cien+fico novamente os Drs. Luis Sérgio Fragomeni e Paulo C. Azambuja e mais o Dr. Jorge Salton. Tinha uma assessoria de alto gabarito com as Professoras Tânia Rosing, Telisa Furlane% o Graeff e Zelir Lago Busato. Todas as professoras da Universidade de Passo Fundo. Todas estas três publicações citadas !veram sua circulação suspendida após períodos variáveis Neste mesmo ano de 1989 surgiu a Revista Médica do Hospital São Vicente de Paulo, que foi a que mais tempo esteve em circulação tendo como o primeiro conselho editorial os Drs. Claudio Albano Seibert, Diógenes Luiz Bassegio e Osvandré Luiz Lech. Nesta revista publicaram-se ar!gos de todas as áreas como Nutrição, Fonoaudiologia, Enfermagem, Farmácia além dos ar!gos relacionados a Medicina. Esta caracterís!ca de mul!disciplinar a!ngia plenamente os obje!vos de uma publicação biomédica. Lendo o Editorial do Dr. César Pires em janeiro 2003 Ano XV, No 32, portanto há 10 anos, percebe-se que os obje!vos de uma publicação médica não mudam. Ele diz: “A verdadeira vocação de uma revista na área de saúde..... é permi!r a publicação dos estudos e experiências de seus autores, que desejam exibir, compar!lhar informações, dúvidas, contradições e observações pessoais com a sua comunidade”. Neste momento por es+mulo do Professor Dr. Rudah Jorge, Diretor Médico do Hospital São Vicente e com o incondicional apoio do Professor Dr. Norberto Toazza Duda que, voluntariamente, assumiu a tarefa da organização para si, está sendo relançada a Revista Médica do Hospital São Vicente de Paulo: Ciências da Saúde. Com o apoio do Comissão de Pesquisas e Pós Graduação (CPPG) e organização da gerente, Dra. Rejane Eliete Luz Pedro, pretende-se lançar uma revista remoçada, oficialmente mul!disciplinar, em Português e Inglês e na forma de papel e digital. Os cerca de 250 estudos realizados nos úl!mos cinco anos no HSVP; dissertações de mestrado, teses de doutorado, trabalhos de conclusão de cursos e outras pesquisas terão mais um lugar para serem publicados. Desta forma, aproveitem esta edição de relançamento, enviem suas sugestões e crí!cas e, principalmente, ar!gos para serem examinados pelo conselho editorial e publicado. Vida longa a Revista Médica: Ciências da Saúde do HSVP. Boa leitura . Hugo Roberto Kurtz Lisboa, MD, PhD Coordenador do CPPG Diretoria HSVP Presidente Décio Ramos de Lima Vice-Presidente José Miguel Rodrigues da Silva Diretor Médico Dr. Rudah Jorge Vice-Diretor Médico Dr. Júlio César Stobbe Administrador Bel. Ilário Jandir De David Chefe de Enfermagem Ir. Carmelina Pellegrini Revista Médica Ciências da saúde HospitalSão Vicente de Paulo Equipe editorial Editor Dr. Alexandre Pereira Tognon Coordenador do CPPG Dr. Hugo Roberto Kurtz Lisboa Gerente de Projetos do CPPG Dra. Rejane Eliete Luz Pedro Conselho Científico Dr. Antônio Lourenço Severo Dra. Karen Oppermann Lisboa Dr. Luiz Eduardo Schardong Spalding Dr. Norberto Toazza Duda Dr. Paulo Roberto Reichert Dr. Ronaldo André Poerschke Colaboradores Dr. Ferdinando De Conto Dileta Cecchetti Tradução Bianca Portella Editoração eletrônica - Comunicação Social HSVP Correspondências REVISTA MÉDICA: Ciências da Saúde - HSVP Hospital são Vicente de Paulo www.hsvp.com.br/revista Rua Teixeira Soares, 808 CEP: 99010.080 | Passo Fundo/RS E-mail: [email protected] Telefone: 55 xx (54) 3316.4095 ISSN 0103 - 4162 | Ano XVII | Volume 38 | Dezembro 2013 Sumário ARTIGO ORIGINAIS 09 Incidência de acidentes o! dicos registrados na região fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil Jacquelinne Andrade de Lara, Simone de Fá!ma Nunes, Glória Jancowski Boff. 15 Nível de informação sobre a pré-eclâmpsia das gestantes atendidas nos centros de assistência integral à saúde de Passo Fundo Viviane Rech, Caroline Kirinus, Rochele de Vargas Pinheiro. 20 Interações medicamentosas com fitoterápicos: conhecimento popular e cien#fico Angela M. Piva, Solange M. Dieterich. 25 Obesidade gestacional e suas repercussões na saúde materno-infan$l Graziela De Carli, Pamela da Luz, Ericka Margelis González, Ana Cris!na Soares de Azevedo. 31 Avaliação da função pulmonar em pacientes subme$dos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares Bárbara Timm, Simone Regina Posser, Camila Pereira Leguisamo, Chris!ano da Silveira Barcellos. ARTIGOS DE REVISÃO 38 Asma na Infância Luísa E. Dariz, Viviane Rech. 45 Importância da descontaminação das mucosas da cavidade oral nos pacientes hospitalizados. Revisão de Literatura Guilherme M Zana# a, Saulo C dos Santos, Andrea Pre# o, Roger Costa, Marcos E Bi# encourt. RELATOS DE CASOS 49 Aneurisma de Artéria Caró$da Interna: Tratamento Cirúrgico Clebes Fagundes, Deivid C. Colombelli, Hugo M. Cunha, Angelo R. Pasco!ni, Ligia C. Pereira, João B. J. Ben, Eder N. Colombelli. 54 Doenças Bolhosas Agudas da Pele: Síndrome de Stevens Johnson & Necrólise Epidérmica Tóxica: Comparação entre dois casos clínicos Anelise M. Cappelari, Kelli T. Sartori, Raquel Giacomini. 58 Cisto de Baker gigante bilateral: relato de caso Antônio L. Severo, Leandro de F. Spinelli, Marcelo Lemos, André Kuhn, Osvandré L. C. Lech, Paulo F. Piluski. 62 Histoplasmose de próstata: relato de um caso e discussão Mário Franciosi, Rubens Rodrigues, Júlio César Foia# o, Jaber Nashat de Souza Saleh, Junior Atolini, Nédio Annes, Rafael Agos!ni 66 Carcinoma de pequenas células da próstata: relato de caso Rudinei D. M. Linck, Alvaro V. S. Machado, Giovana Z. Vaccaro. 71 NORMAS DE PUBLICAÇÃO Ar!go Original Incidência de Acidentes O, dicos Registrados na Região Fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil INCIDENCE OF OPHIDIAN ACCIDENTS REGISTERED IN THE PHYSIOGRAPHIC REGION OF THE HIGHLANDS OF THE STATE OF RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL. RESUMO Na região do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul, os acidentes o, dicos são um problema de saúde pública, pouco conhecido. Por este mo!vo, foi realizado um estudo sobre os acidentes o, dicos ocorridos nesta região, que abrange um total de 65 municípios, e foram analisados 527 acidentes que acometeram indivíduos no período de 1999 a 2003. As caracterís!cas mais comuns encontradas foram: pacientes com idade variando entre 20 - 49 anos e do sexo masculino (71,2%); as serpentes que mais causaram acidente foram as do gênero Bothrops (70,8%), Crotalus (0,8%) e Micrurus (0,2%); quanto à evolução do paciente a cura foi comprovada em 63,8% (n=508) e o óbito ocorreu em apenas um paciente, representando 0,2% do total dos acidentes; quanto ao !po de envenenamento, 43,3% foram considerados como leve, 22,8% como moderado e 14,2% foram considerados como graves. Conclui-se que o maior número de acidentes ocorreu com indivíduos do sexo masculino, em idade produ!va, sendo, causado por serpente do gênero Bothrops nos meses com temperatura mais elevada. Unitermos: Acidente o, dico, serpentes, o, dios. Jacquelinne Andrade de Lara¹ Simone de Fá!ma Nunes¹ Glória Jancowski Boff² Ins!tuto de Ciências Biológicas da Universidade de Passo Fundo (RS)¹ Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS)² Correspondências: Simone de Fá!ma Nunes Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] ABSTRACT Ophidian accidents are an unfamiliar public health issue, in the region of the Highlands of the State of Rio Grande do Sul. Hence, a study was carried out on the ophidian accidents occurred in this region, which covers a total of 65 ci!es. Five hundred and twenty seven accidents that affected individuals from 1999 to 2003 were analyzed. The most common characteris!cs found were the following: male pa!ents aged from 20 - 49 years old (71.2%); the snakes that caused more accidents belonged to the genres Bothrops (70.8%), Crotalus (0.8%), and Micrurus (0.2%). Regarding the evolu!on of the pa!ent, healing was confirmed in 63.8% (n=508) of the cases, and death occurred in just 0.2% of the total accidents. As for the type of poisoning, 43.3% were considered light, 22.8% moderate, and 14.2% severe. It was concluded that most accidents occurred with male individuals in working age, and were caused by snakes of the genre Bothrops in months of high temperature. Keywords: Ophidian accidents, snakes, ophidian. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 09 Incidência de Acidentes Ofídicos Registrados na Região Fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul A região do Planalto Médio está localizada ao norte do Estado do Rio Grande do Sul, composta por 65 municípios, sendo que, apesar do grande desmatamento que vem sofrendo ao longo dos anos, apresenta uma grande diversidade de o, dios¹. Possui uma população total de 812.554 habitantes (IBGE, 2003), com uma economia voltada para a agricultura e a pecuária, apresentando um aumento da a!vidade de trabalhadores no campo, em certas épocas do ano, proporcionando, com isso, a ocorrência de acidentes o, dicos. No Brasil, os períodos de incremento do número de acidentes coincidem em todas as macro-regiões do país, em especial no Sul, Sudeste e Nordeste, com o aumento das a!vidades no setor agropecuário. Dessa maneira, existe uma relação direta com a época des!nada ao preparo da terra, ao plan!o e à colheita da safra agrícola². São várias as espécies de serpentes existentes em todo o território brasileiro, e os gêneros de o, dios peçonhentos que mais provocam acidentes, são: Bothrops, jararaca e outras (90%); Crotalus, cascavel (7,7%); Lachesis, surucucu (1,4%) e Micrurus, coralverdadeira (0,4%)³. No Estado do Rio Grande do Sul as serpentes peçonhentas que mais provocam acidentes o, dicos são as do gênero: Bothrops (69,7%), Crotalus (0,4%), Micrurus (0,3%), outros gêneros (5,3%) e não determinados (24,3%)4. Kouyoumdjian e Polizelli5 realizaram um levantamento sobre os acidentes o, dicos causados por Bothrops moojeni, no Estado de São Paulo, ressaltando os aspectos epidemiológicos e clínicos com a espécie. Carvalho e Nogueira6 enfa!zaram aspectos ecológicos associados a acidentes o, dicos na área urbana de Cuiabá-MT. Borges et al 7 e Nascimento 8 descreveram os aspectos epidemiológicos e clínicos dos acidentes o, dicos ocorridos nos Estados do Amazonas e Roraima, respec!vamente. E ainda, dentre as serpentes não-peçonhentas que podem causar acidentes encontramos o relato de Balestrin e 9 Santos-Costa sobre a epidemiologia dos acidentes causados por serpentes não peçonhentas na grande Porto Alegre e cidades próximas. Na região do Planalto Médio, encontra-se, o relato de um trabalho considerando, apenas a 6º Delegacia Regional de Saúde¹. Obje!vou-se com este trabalho verificar os dados sobre os acidentes o, dicos na região fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul, u!lizando dados existentes no Centro de Informações Toxicológicas (CIT). MATERIAIS E MÉTODOS Para realização deste trabalho, foram avaliadas fichas dos registros de acidentes o, dicos junto ao Centro de Informações Toxicológicas (CIT), da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS), da Secretaria Estadual de Saúde (SES), sediado na cidade de Porto Alegre/RS, em função do mesmo centralizar os casos enviados pelas 6º, 9º e 17º Coordenadorias Regionais de Saúde. Foi realizado um levantamento de dados sobre a frequência dos acidentes o, dicos, ocorridos na região fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul, no período de 1999 a 2003 e analisadas individualmente, 527 registros de atendimento prestado à pacientes acome!dos por picada de o, dios. Para a análise dos acidentes foram considerados os dados epidemiológicos, onde foram avaliados a idade e o sexo do paciente, o gênero da serpente envolvida, a região fisiográfica onde ocorreu o acidente, a sazonalidade dos acidentes e alguns achados clínicos sobre os acidentes para os quais foram considerados a evolução do paciente (cura, cura com seqüela, óbito ou ignorado), assim como a gravidade dos mesmos (leve, moderado ou grave). Foi realizado o mapeamento da região e detectada a ocorrência de acidentes o, dicos em 36 dos 65 municípios: Ajuricaba, Augusto Pestana, Campos Borges, Carazinho, Caseiros, Círiaco, Colorado, Condor, Cruz Alta, Ernes!na, Espumoso, Fontoura Xavier, Fortaleza dos Valos, Ibiaçá, Ibiruba, Ijuí, Jóia, Júlio de Cas!lhos, Marau, Não Me Toque, Nova Ramada, Panambi, Passo Fundo, Pejuçara, Pinhal Grande, Quevedos, Quinze de Novembro, Saldanha Marinho, Salto do Jacuí, Santa Barbara do Sul, São J o s é d o H e r va l , S e r tã o, S o l e d a d e , Ta p e j a ra , Tupanciretã e Victor Graeff, os quais totalizam uma população de 707.802 habitantes (Tabela 1). 62 70 59 60 58 51 48 50 35 40 30 25 21 19 16 20 14 15 2 2 22 19 15 11 9 10 5 0 0 1-4 0 5-9 10 6 0 1 1 0 1 0 100 10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80E+ Masculino Feminino Ignorado Figura 1. Distribuição dos acidentes ofídicos relacionando o sexo do paciente com a faixa etária Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 10 Incidência de Acidentes Ofídicos Registrados na Região Fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul Sendo que nos municípios: Água Santa, Alto Alegre, Barros Cassal, Boa Vista do Cadeado, Boa Vista do Incra, Bozzano, Charrua, Coronel Barros, Coxilha, David Canabarro, Entre Ijuis, Eugenio Castro, Gen!l, Ibirapuitã, Jarí, Jacuizinho, Lagoa dos Três Cantos, Mato Castelhano, Mormaço, Muliterno, Nicolau Vergueiro, Santa Cecilia do Sul, Santo Antonio do Planalto, Selbach, Tapera, Tio Hugo, Toropi, Tunas e Vila Langaro com uma população total de 104.572 habitantes (Tabela 2), não foi registrado nenhum caso de acidente por picada de o, dios. RESULTADOS Dos 65 municípios estudados, apenas em 36 (55,4%), foram registrados acidentes o, dicos. Sexo e Idade As caracterís!cas encontradas dentre os p a c i e nte s a co m e!d o s p o r s e r p e nte s fo ra m : indivíduos com idade entre 20 a 49 anos n=233 (44,2%), do sexo masculino n=375 (71,1%), feminino n=146 (27,8%) e ignorado n=6, onde se presume que o sexo da ví!ma não foi registrado, representando 1,1% (Figura 1). Sazonalidade dos acidentes Dentre os casos registrados no CIT/RS, o ano com m a i o r f re q ü ê n c i a d e a c i d e n te s o , d i c o s , fo i 2001(n=117) e o ano com menor número de casos registrados foi 1999 (n=92) (Figura 2). Em todos os anos observou-se a predominância de acidentes com indivíduos do sexo masculino (Figura 3). Estes acidentes ocorreram com maior freqüência nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, e a menor freqüência foi registrada no mês de julho (Figura 4). 100 Evolução do acidente Observou-se que dentre os casos com diagnós!co clínico de envenenamento por serpentes na grande maioria houve cura suposta (quando o paciente não retornou ao consultório médico) (n=156), seguidos dos registros de cura comprovada (n=336) e cura com seqüela (n=16), totalizando 96,4% do total dos acidentes. Apenas uma pequena parte dos casos não obteve sucesso clínico devido a um óbito (0,2%), ocorrido na zona rural do município de Pinhal Grande, com paciente do sexo masculino, aos sete anos de idade causado por uma serpente do gênero Bothrops. Devido a falta de informações sobre a evolução de alguns acidentes, 3,4% dos mesmos, foram considerados como ignorados (Figura 6). 100 82 77 80 Serpentes causadoras de acidentes o! dicos O maior número de acidentes registrados ocorreu com os o, dios do gênero Bothrops (n=373) e, os de menor frequência com os o, dios dos gêneros Crotalus (n=4) e Micrurus (n=1). Dentre os casos ocorridos entre os anos de 1999 a 2003, numa grande parte, o gênero causador não foi iden!ficado (n=134), porque o agente não foi levado para iden!ficação e os pacientes acidentados não apresentavam sintomas de envenenamento por serpente peçonhenta. Nestes casos, estes acidentes são considerados como causados por o, dios não-peçonhentos, da mesma forma que, os acidentes causados por outros o, dios (n=15), aqueles animais que foram levados à iden!ficação e, constatado ser não peçonhento, com uma pequena incidência de acidentes (Figura 5). 98 84 79 81 69 68 80 60 50 50 60 43 34 40 33 30 26 23 39 40 26 15 20 1 2 0 3 0 0 1999 2000 Masculino 2001 Feminino 2002 Ignorado Figura 2. Distribuição anual dos acidentes ofídicos relacionados com o sexo do paciente. 2003 20 18 15 Ago Set 8 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Out Nov Dez Figura 3. Número e porcentagem dos acidentes ofídicos, com ocorrência mensal (1999-2003). Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 11 Incidência de Acidentes Ofídicos Registrados na Região Fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul 0,8 0,2 2,8 70,8 DISCUSSÃO 25,4 70,8 N/I* Bothrops Micrurus Crotalus Outros ofídios Figura 4. Distribuição dos acidentes ofídicos segundo o gênero da serpente. * N/I - ofídio peçonhento, não identificado. 600 508 500 400 300 200 100 0 Cura 18 1 Ignorado Óbito Figura 5. Evolução clínica do paciente: número e porcentagem de casos. 600 228 500 400 120 300 75 93 200 100 0 11 Cura Ignorado Óbito Ignorado Óbito Figura 6. Avaliação, quanto à gravidade dos acidentes ofídicos. Envenenamento causado por serpentes Os acidentes foram classificados quanto a sua gravidade, como leve (43,3%), moderado (22,8%) e uma parcela de 14,2% com prevalência na manifestação clínica grave. Os registros considerados não tóxicos representaram 8,5%, os registros considerados como provavelmente não tóxico 9,1% e 2,1% dos registros onde não foram constatadas manifestações clínicas evidenciando ser o acidente causado por serpente peçonhenta, foi caracterizado como nãoexcluído (Figura 7). Os resultados referentes ao sexo e idade dos pacientes acome!dos por acidentes o, dicos são semelhantes aos encontrados na literatura sendo, mais comum em pessoas do sexo masculino em idade 7,10,1 produ!va ). Por tratar-se de municípios de tradição agrícola o perfil sexo-etário dos acidentados pode ser relacionado às tarefas co!dianas no campo, sobretudo, o plan!o, a colheita e o lavrado da terra. Os acidentes foram mais frequentes nos meses mais quentes do ano em decorrência da a!vidade metabólica das serpentes se encontrar mais elevada, caracterizando-se também, pela procura por recursos alimentares ou por pares reprodu!vos. O oposto ocorre no mês de julho, sob condições de baixas temperaturas ocasionando a queda no metabolismo das serpentes causando assim, um estado letárgico nestes animais11). Dados semelhantes foram encontrados por outros autores que estudaram acidentes com o, dios no Estado do Rio Grande do Sul 9 , 1 ). 12 Santos-Costa , também chama a atenção para o fato de que nos meses mais quentes ocorre um incremento das a!vidades do homem nas áreas onde as serpentes ocorrem, sejam áreas rurais ou de lazer. A serpente peçonhenta do gênero Bothrops foi a responsável pelo maior número de acidentes, corroborando os dados encontrados nos trabalhos 1,8,13 anteriores ); por apresentarem condutas comportamentais agressivas2). Os resultados ob!dos neste trabalho reforçam as conclusões de Bochner e Struchiner 1 3 quando afirmam que a epidemiologia dos acidentes o, dicos aponta para um perfil que se mantém inalterado ao longo dos úl!mos 100 anos no Brasil. Ocorrem com maior freqüência no início e no final do ano, em pessoas do sexo masculino, na faixa etária produ!va de 15 a 49 anos, e a maioria desses acidentes é atribuída ao gênero Bothrops. Dados levantados neste estudo estão em acordo com os anteriormente encontrados na literatura corrente, destacando os acidentes com o gênero Micrurus como os menos corriqueiros10,8,13) em todo o país; Nascimento8 jus!fica a baixa ocorrência de acidentes elapídicos, pelo fato de que as espécies são pouco freqüentes e por serem fossoriais. Explica também que a den!ção das Micrurus (protéroglifa) apresenta disposição diferente daquela encontrada nos gêneros Crotalus, Bothrops (den!ção solenóglifa), sendo que a boca das cobras corais não se abre elas!camente e as presas que inoculam peçonha são Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 12 Incidência de Acidentes Ofídicos Registrados na Região Fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul pequenas, situando-se na parte mediana do maxilar, desta maneira dificultando a inoculação do veneno. Os poucos registros em algumas cidades do interior da Região Fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul podem ser reflexos da busca por atendimento nos grandes centros médicos e grandes redes hospitalares, em função das Coordenadorias Regionais de Saúde disponibilizar os soros an!-o, dicos somente para municípios onde existem hospitais. A cidade de Passo Fundo, apesar de apresentar o maior número de acidentes totais, causados por picada de serpentes, populacionamente, não tem importância epidemiológica, visto que apresenta menos de um acidente por cada 1.000 habitantes. Os municípios onde se deve ter atenção são: Ciriaco, Pinhal Grande, Campos Borges e Jóia, com uma média de três acidentes para cada 1.000 habitantes, durante o período analisado. Dez municípios !veram em média um acidente e o restante menos de um caso. Quanto aos municípios onde não ocorreram os acidentes, 58,6% (17), apresentaram uma população inferior a 3.000 habitantes, 31% (9) possuíam uma população entre 3.000 e 5.000 habitantes e apenas três municípios !veram população entre 9.000 e Municípios 1. Ajuricaba 2. Augusto Pestana 3. Campos Borges 4. Carazinho 5. Caseiros 6. Ciriaco 7. Colorado 8. Condor 9. Cruz Alta 10. Ernestina 11. Espumoso 12. Fontoura Xavier 13. Fortaleza dos Valos 14. Ibiaçá 15. Ibirubá 16. Ijuí 17. Jóia 18. Julio de Castilhos 19. Marau 20. Não Me Toque 21. Nova Ramada 22. Passo Fundo 23. Panambi 24. Pejuçara 25. Pinhal Grande 26. Quevedos 27. Quinze de Novembro 28. São José do Herval 29. Saldanha Marinho 30. Salto do Jacuí 31. Santa Barbara do Sul 32. Sertão 33. Soledade 34. Tapejara 35. Tupanciretã 36. Victor Graeff Total População 7.588 7.772 3.759 59.454 2.871 5.066 3.972 6.513 68.063 3.098 14.999 11.282 5.112 4.646 18.885 77.335 8.523 20.633 30.297 14.764 2.651 176.729 33.605 4.235 4.909 2.666 3.629 2.553 3.153 12.102 10.022 7.212 30.217 14.744 21.437 3.306 707.802 Nº Acidente Acidentes/1.000 habitantes Soro 8 8 12 20 1 19 2 13 40 1 15 7 6 2 2 70 22 21 25 5 1 72 25 1 16 2 2 3 2 22 4 9 37 14 16 2 527 1,05 1,03 3,19 0,34 0,35 3,75 0,50 1,99 0,59 0,32 1,00 0,62 1,18 0,43 0,11 0,91 2,58 1,02 0,83 0,39 0,38 0,41 0,74 0,24 3,26 0,75 0,55 1,18 0,95 1,82 0,39 1,25 1,22 0,95 0,75 0,60 Hospital Hospital Hospital Hospital 6a CRS Hospital Hospital Hospital Hospital 6a CRS Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital 17a CRS Hospital Hospital Hospital Hospital 4a CRS Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Hospital Tabela 1. Número de acidentes por cada 1.000 habitantes, ocorridos nos Municípios do Planalto Médio. Fonte: IBGE - Censo 2003, Centro de Informações Tóxicológicas. 11.000 habitantes (Tabela 1). Somente quatro (11,1%) dos municípios onde não ocorreram acidentes, possuíam hospital, e em quatro municípios sem hospital, também ocorreram acidentes (Tabela 2). Podemos dizer de uma maneira geral que na região do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul, ocorreram no período estudado, 0,65 acidentes causados por o, dios por cada 1.000 habitantes. CONCLUSÃO Após o levantamento dos acidentes o, dicos, ocorridos na região fisiográfica do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, conclui-se que: o maior número de acidentes ocorreu com o sexo masculino, em idade produ!va, causado por serpente peçonhenta do gênero Bothrops e nos meses com temperatura mais elevada. Há necessidade de realizar campanhas de esclarecimento como medida preven!va para reduzir a incidência de acidentes o, dicos. Sendo os acidentes o, dicos um problema de saúde pública de caráter regional, é necessário que estudos semelhantes sejam realizados em outras regiões do estado. Municípios População Acidente 1. Agua Santa 3.880 2. Alto Alegre 2.136 3. Barros Cassal 11.051 4. Boa Vista do Cadeado 2.497 5. Boa Vista do Incra 2.310 6. Bozano 2.395 7. Charrua 3.757 8. Coronel Barros 2.461 9. Coxilha 2.960 10. David Canabarro 4.762 11. Entre Ijuis 9.624 12. Eugenio Castro 3.243 13. Gentil 1.720 14. Ibirapuitã 4.073 15. Jarí 3.710 16. Jacuizinho 2.416 17. Lagoa dos Tres Cantos 1.582 18. Mato Castelhano 2.527 19. Mormaço 2.442 20. Muliterno 1.729 21. Nicolau Vergueiro 1.814 22. Santa Cecilia do Sul 1.747 23. Santo Antonio do Planalto 1.999 24. Selbach 4.948 25. Tapera 10.798 26. Tio Hugo 2.421 27. Toropi 3.183 28. Tunas 4.286 29. Vila Langaro 2.281 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Porcentagem Soro 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 6a CRS 6a CRS Hospital 9a CRS 9a CRS 17a CRS 11 a CRS 17a CRS 6a CRS Hospital 12a CRS 12a CRS 6a CRS 6a CRS 4a CRS 9a CRS 6a CRS 6a CRS 6a CRS 6a CRS 6a CRS 6a CRS 6a CRS Hospital Hospital 6a CRS 4a CRS 6a CRS 6a CRS 0,00 Total 104.752 0 Tabela 2. Municípios do Planalto Médio onde não ocorreram acidentes ofídicos. Fonte: IBGE - Censo 2003, Centro de Informações Tóxicológicas. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 13 Incidência de Acidentes Ofídicos Registrados na Região Fisiográfica do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul REFERÊNCIAS 1. Tauffer E, Zanella N. Acidentes o, dicos na região de Passo Fundo (RS). Revista Médica do Hospital São Vicente de Paulo 1996;8(18):10-11. 2. Barraviera B. Estudos Clínicos dos Acidentes O, dicos. Jornal Brasileiro de Medicina, São Paulo 1993;65(04):209-249. 3. Araújo FA, Santalúcia M.C, RF. Epidemiologia dos Acidentes por Animais Peçonhentos. P. 6-12. In Cardoso JLC; França FO de S; Wen FH; Malaque CMS e Haddad Jr V. Animais peçonhentos no Brasil: Biologia, Clínica e terapêu!ca dos acidentes. São Paulo: Savier, 2003:135. 4. Nicolella A; Ferreira E; Abella HB & Lessa CAS. 2002. Centro de Informações Tóxicológicas, Relatório de Atendimento, Porto Alegre 2001:27. 5. Kouyoumdjian JA; Polizelli C. Acidentes ofidicos causados por Botrops moojeni: correlação do quadro clínico com o tamanho da serpente. Revista do Ins!tuto de Medicina Tropical, São Paulo 1989;31(2):84-90. 6. Carvalho MA De; Nogueira F. Serpentes da área urbana de Cuiabá, Mato Grosso: aspectos ecológicos e acidentes o, dicos associados. Caderno de Saúde Pública. 1998;14(4):753-763. 7. Borges CC; Sadahiro M; Santos MC. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos acidentes o, dicos ocorridos nos municípios do Estado do Amazonas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 1999;32(6):637-646. 8. Nascimento SP. do. Aspectos epidemiológicos dos acidentes o, dicos ocorridos no Estado de Roraima, Brasil, entre 1992 e 1998. Caderno de Saúde Pública, 2000;16(1):271-276. 9. Balestrim RL & dos Santos-Costa MC. Epidemiologia dos acidentes causados por serpentes não peçonhentas na grande Porto Alegre e Cidades próximas, Rio Grande do Sul, Brasil. Comunicações do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, Série Zoologia , Porto Alegre, 2003;16(2):211-221. 10. Ribeiro LA; Jorge MT, Iversson LB. Epidemiologia do acidentes por serpentes peçonhentas: Estudo de casos atendidos em 1988. Revista de Saúde Pública, São Paulo, 1995;29(5). 11. Marques OAV; Sazima I. História Natural das serpentes. P. 62-71. In Cardoso JLC., França FO de S; Wen FH; Malaque CMS e Haddad Jr. V. Animais peçonhentos no Brasil: Biologia, Clínica e terapêu!ca dos acidentes. São Paulo: Savier, 2003:135. 12. Santos-Costa MC. Relação antrópica e aspectos biológicos de serpentes causadoras de acidentes no Rio Grande do Sul. Comunicações do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, Série Zoologia, Porto Alegre, 1999;12(2):111-125. 13. Bochner R; Struchiner CJ. Epidemiologia dos acidentes o, dicos nos úl!mos 100 anos no Brasil: uma revisão. Caderno de Saúde Pública, 2003;19(1):7-16. 14. Fundação Ins!tuto Brasileiro de Geografia e Esta+s!ca – (IBGE). Censo 2003. Disponível em: h% p: // www.ibge.gov.br. Acesso em: 10 Agosto de 2004. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 14 Ar!go Original Nível de Informação Sobre a Pré-eclâmpsia das Gestantes Atendidas nos Centros de Assistência Integral à Saúde de Passo Fundo LEVEL OF INFORMATION ON PREECLAMPSIA OF PREGNANT WOMEN ASSISTED IN THE CENTERS FOR COMPREHENSIVE HEALTH CARE OF PASSO FUNDO – BRAZIL. RESUMO A pré-eclâmpsia é caracterizada por hipertensão arterial sistêmica, edema e proteinúria, que se manifestam na segunda metade da gestação e podem evoluir para convulsão e coma. Esta patologia acarreta repercussões maternas e fetais, tais como vasoespasmo, a!vação do sistema de coagulação e alterações nos sistemas humorais relacionados ao controle da volemia e da pressão arterial. Conhecer a doença em relação aos sintomas e riscos é um fator importante de prevenção. Com o obje!vo de idenficar o nível de conhecimento sobre a pré-eclâmpsia, foi realizado um estudo descri!vo e inves!ga!vo com 116 gestantes, na faixa etária entre 15 e 40 anos de idade, atendidas nos Centros de Assistência Integral à Saúde (CAIS) da cidade de Passo Fundo. Para obter as informações, foi aplicado um ques!onário validado pela Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia de 2002, com algumas modificações adequadas à pesquisa atual, o qual mostrou que o nível de conhecimento das gestantes apresenta-se bastante reduzido. Acredita-se que a pouca informação sobre a patologia, seus sintomas e riscos, foram, pela maioria da amostra, procurar atendimento médico num período mais avançado da gestação, limitando o nível de informações que poderia ser fornecido pelos CAIS e outro dado importante é que maior parte das gestantes par!cipantes do estudo !nham idade inferior a 20 anos, o que pode sugerir o desinteresse pelo assunto. Os dados ob!dos ainda mostram que grande parte das par!cipantes da pesquisa sabem que há riscos para as gestantes que possuem hipertensão arterial, mas não os conhecem, talvez por muitas grávidas não apresentarem a patologia e nem possuírem história familiar de pré-eclâmpsia. A maioria afirmou que segue as recomendações médicas, afere a pressão arterial com freqüência, pensa que a patologia só pode ser tratada com medicamentos e que a internação hospitalar pode controlar os níveis pressóricos da parturiente. Porém, percebeu-se que algumas respostas foram contraditórias, evidenciando, assim, a necessidade de programas preven!vos nessa área, emergindo o incen!vo a novas pesquisas. Unitermos: Nível de informação, pré-eclâmpsia, gestantes. ABSTRACT Viviane Rech¹ Caroline Kirinus² Rochele de Vargas Pinheiro³ Mda. Fta. Viviane Rech, supervisora de Estágio do Curso de Fisioterapia em Leitos de Internação II, presidente da Comissão Própria de Avaliação Institucional da Universidade de Passo Fundo.¹ Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo²,³. Correspondências: Viviane Rech Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] Preeclampsia is characterized by systemic arterial hypertension, edema, and proteinuria that manifest in the second half of gesta!on, and may evolve into convulsion and coma. This pathology brings maternal and fetal repercussions, such as vasospasm, coagula!on system s!mula!on, and altera!ons in humor systems related to the control of blood volume and pressure. Knowing the symptoms and the risks of the disease is an important preven!on factor. Aiming to iden!fy the level of knowledge about preeclampsia, a descrip!ve and inves!ga!ve study was performed with 116 pregnant women, aged between 15 and 40 years old, assisted at the Centro de Assistência Integral a Saúde (CAIS) (Center for Comprehensive Health Care) of the city of Passo Fundo. In order to obtain informa!on, a ques!onnaire recognized by the Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia de 2002 (Brazilian Magazine of Gynecology and Obstetrics of 2002) was applied, with some modifica!ons to fit the current survey, which showed that the level of knowledge of pregnant women is quite low. It is believed that the li% le informa!on about the pathology, its symptoms, and risks is mostly because the pregnant women sampled looked for medical assistance in a more advanced period of gesta!on, thus limi!ng the level of informa!on that could be provided by the CAIS. Another important standpoint is that most women who par!cipated in the study were under 20 years old, what may demonstrate the disinterest in the subject. Data collected also show that a great number of par!cipants of the survey know that there are risks to pregnant women that suffer from arterial hypertension, but do not know what these risks are, maybe because many of them neither demonstrate the pathology nor have family history of preeclampsia. Most of the women affirmed following medical recommenda!ons, o'en checking their blood pressure, thinking that the pathology may only be treated with medicines, and that being in a hospital can control the blood pressure levels of the parturient. However, it was observed that some answers were conflic!ng, thus stressing the need for preven!ve programs in this area, and emerging the s!mula!on to new researches. Keywords: Ophidian accidents, snakes, ophidian. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 15 Nível de Informação Sobre a Pré-eclâmpsia das Gestantes Atendidas nos Centros de Assistência Integral à Saúde de Passo Fundo A pré-eclâmpsia é uma das síndromes hipertensivas, que cons!tuem no Brasil, as complicações mais freqüentes durante o período gestacional, sendo a principal causa de morte materna. A pré-eclâmpsia define-se pelo desenvolvimento de hipertensão arterial, proteinúria e/ou edema de mãos ou face¹. Além disso, acrescentou-se como sinais e sintomas associados a distúrbios visuais, cefaléia e dor epigástrica². Acrescentou-se que o aparecimento dos sintomas é geralmente após 20 semanas de gestação. Existem várias classificações da pré-eclâmpsia, adota-se a seguinte divisão: a pré-eclâmpsia, com proteinúria e edema patológico, se subdivide em leve e grave 4 . Classifica-se a pré-eclâmpsia como: leve, grave e eclâmpsia5. O contexto da doença, a hipertensão arterial sistêmica, é a intercorrência clínica mais comum na gravidez e é responsável por 5% a 10% dos distúrbios que ocorrem nesse período 6 . É uma incidência rela!vamente alta que aumenta em alguns grupos específicos. Os fatores de risco são: história familiar posi!va para pré-eclâmpsia, pré-eclâmpsia em gestação anterior, doença vascular crônica, prenhez múl!pla, Lupus Eritematoso, Diabetes Mellitus, Insuficiência Renal, Mola Hidan!forme, adolescente ou gestante idosa, Poliidrâmnio, Hidropsia Fetal, ocupação fora de casa (em condições que exigem 3,4 excessos , sicos e psíquicos), etnia negra . Um estudo feito constatou que a idade materna igual ou superior a 40 anos é fator de risco para o surgimento da hipertensão induzida pela gravidez independente da paridade e à hipertensão arterial7. O risco maior da pré-eclâmpsia é o aparecimento de convulsões. A mulher tem crises convulsivas porque a pressão aumenta, em decorrência disso, diminui o fluxo de sangue que vai para o cérebro. É importante considerar que 75% das mortes por hipertensão arterial na gravidez têm como causa a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia. Infelizmente porque a eclâmpsia, em especial, é uma forma grave da préeclâmpsia e uma patologia que pode ser prevenida desde que se consiga atuar precocemente. O diagnós!co é feito durante o pré-natal e pode-se evitar a ocorrência da forma mais grave antecipando-se o parto. O t r a t a m e n t o fis i o t e r a p ê u !c o d e v e s e r individualizado e de acordo com o grau da doença. A gestante recebe orientações quanto a posicionamen- tos, amplitude de movimento, mobilidade e transferência, hidroterapia, exercícios respiratórios e 8 orientações de exercícios pós-parto . Todo o trabalho preven!vo respec!vo aos cuidados gestacionais é de grande importância e totalmente relacionado aos programas de saúde pública. Quanto maior o nível de cuidados primários des!nados às gestantes, menores os fatores de risco existentes. O obje!vo desse estudo foi constatar o nível de conhecimento das gestantes atendidas nos CAIS (Centros de Assistência Integral à Saúde) de Passo Fundo sobre a pré-eclâmpsia. METODOLOGIA O p r e s e n t e e s t u d o , d o !p o d e s c r i !v o e inves!ga!vo, foi realizado nos Centros de Assistência Integral à Saúde (CAIS) de Passo Fundo, no período de abril e maio de 2006, após aprovação pelo Comitê de É!ca e Pesquisa da Universidade de Passo Fundo, foi solicitado e autorizado pela Secretaria Municipal de Saúde a realização da pesquisa. Todas as par!cipantes assinaram um termo de consen!mento livre e esclarecido. Par!ciparam do estudo 116 gestantes, que são atendidas para realização do pré-natal, escolhidas de forma aleatória e sem critérios de exclusão, que responderam a próprio punho um ques!onário modificado, no qual foi baseado no validado Protocolo de Hipertensão com questões relacionadas a Pré-eclâmpsia. 60 52,58 50 43,96 40 30 20 10 3,44 0 Muito Nada Um pouco Figura 1. Conhecimento sobre pressão alta na gestação. RESULTADOS E DISCUSSÕES A faixa etária das grávidas par!cipantes do estudo variou entre 15 e 40 anos de idade, sendo que 34.48% das gestantes !nham idades entre 15 e 19 anos; 25.86% !nham idades entre 20 e 24 anos; Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 16 Nível de Informação Sobre a Pré-eclâmpsia das Gestantes Atendidas nos Centros de Assistência Integral à Saúde de Passo Fundo 22.41% compreendiam entre 25 e 29 anos; 7.75% !nham idades entre 30 e 34 anos e 9.50% das gestantes compreendiam a faixa etária entre 35 e 40 anos de idade. Importante salientar que a faixa e s t a !s !c a m e n t e s i g n i fic a !va c o m p r e e n d e u gestantes que se encontravam entre 15 e 19 anos de idade. Outro fator a ser levado em consideração é que não foi perguntado sobre o nível de escolaridade das gestantes, que poderia ser um referencial neste estudo, mas não é o principal determinante do nível de conhecimento de um assunto mais específico, como a pré-eclâmpsia. Das gestantes que par!ciparam da pesquisa, 6,89% estavam no primeiro trimestre da gestação; 24,13% no segundo e 68,96% estavam no terceiro trimestre. Através desses dados, percebe-se a pouca conscien!zação das mesmas na fase inicial da gestação; nota-se que a procura por auxílio médico ocorre principalmente no final da gravidez. A maior parte das gestantes respondeu que não apresentou problemas durante o período gestacional. De 24,13% que afirmaram ter problemas, 7,18% relataram hipertensão gestacional. As gestantes que relataram ter apresentado hipertensão na gestação !nham idades acima de 30 anos. Em um estudo feito, também se verificou que a metade das gestantes hipertensas era dessa mesma faixa etária9. Das gestantes que afirmaram ter problemas durante a gravidez (24,13%), apenas a metade (12,06%) achou que esses problemas poderiam prejudicar a si mesmas ou o bebê. Subentende-se, a par!r dos dados, que pode estar havendo uma interferência nas respostas, pela condição sócioeconômica e cultural das par!cipantes do estudo. O peso das gestantes ques!onadas, a par!r da auto-avaliação das mesmas, não aumentou muito em pouco tempo, representando 78,44%. Em contrapar!da, para 21.55% o peso aumentou muito em um curto espaço de tempo. A gestante pode desenvolver várias patologias, como hipertensão arterial, diabetes, obesidade pós-parto e complicações no parto e puerpério através do ganho de peso excessivo durante a gestação, tendo uma relação importante, quando as gestantes afirmaram não terem apresentado problemas durante a gravidez10. Pode-se observar que 55,17% das mulheres relatam pra!car exercícios , sicos e 44.82% não pra!cam. A prá!ca regular de a!vidade , sica durante a gravidez parece contribuir no controle do ganho de peso nesse período e no pós-parto, principalmente quando o suprimento nutricional está adequado11. Através da análise de dados, 77,58% disseram não ter história familiar de pressão alta na gestação e 22,41% afirmaram ter. Das gestantes que relataram ter apresentado pressão alta durante a gravidez, todas disseram ter antecedentes familiares, coincidindo com o estudo sobre a prevalência da eclâmpsia em parturientes, que entre as mulheres préeclâmp!cas, todas também apresentaram histórias 9 familiares . A figura 1 mostra o nível de conhecimento das gestantes em relação à hipertensão gestacional. Nota-se que 43,96% afirmaram total desconhecimento; 52,58% relataram saber um pouco e apenas 3,44% disseram saber muito sobre a patologia. Das gestantes pesquisadas, 91,37% têm consciência do risco da hipertensão na gravidez, sendo que os riscos mais citados dizem respeito à morte do bebê (26,05%), bebê prematuro (12,60%) e morte materna (10,08%). 38,65% não soube apontar quais são os riscos. E apenas uma gestante relatou a eclâmpsia como risco. Benute et al. (2002), em estudo realizado também verificou entre os riscos mais apontados da pressão alta na gestação, os que dizem respeito à morte do bebê e à morte materna. Sobre as recomendações médicas importantes na gestação, as mais apontadas foram: boa alimentação com 42,87%; 13,12% evitar estresse e 13,12% prá!ca de exercícios , sicos. Sendo que 84,48% seguem a recomendação médica, 9,48% de vez em quando e 6,03% não aderem às recomendações. Apresenta diferenças, nas que dizem seguir as orientações médicas, quando relacionados aos dados do estudo, que teve como finalidade realizar um levantamento acerca do conhecimento das pacientes sobre a hipertensão, porém se obteve porcentagem semelhante nas que não seguem orientações médicas12. As gestantes que apresentaram nesta ou em gestações anteriores problemas e necessitaram de internação correspondem a 11,20%, sendo o mo!vo mais citado a ameaça de aborto e apenas uma delas atribuiu este fato à hipertensão. Com relação à freqüencia da verificação da pressão arterial, nota-se que 82,75% relataram aferir a pressão freqüentemente. Entre as que afirmaram, Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 17 Nível de Informação Sobre a Pré-eclâmpsia das Gestantes Atendidas nos Centros de Assistência Integral à Saúde de Passo Fundo umas descrevem mensalmente (31,89%), outras quinzenalmente (16,37%), algumas semanalmente (30,17%) e 4,32% disseram aferir diariamente ou de 2 em 2 dias. O local de maior freqüência para a conferência da pressão é nos Centros de Assistência Integral à Saúde e nos Postos Municipais de Saúde, correspondendo a 75,86%, em seguida em farmácias com 17,24%; 4,31% no hospital e em casa, 2,58%. Das grávidas par!cipantes da pesquisa, 43,96% afirmaram que o tratamento pode ser suspenso se a pressão voltar ao normal; 42,24% disseram que não e 13,79% negaram conhecimento. Subentende-se que, por saberem pouco sobre a doença ou até por ser uma patologia que geralmente não apresenta sintomas, aparece um índice tão elevado de gestantes que acha que o tratamento pode ser suspenso. Analisando os dados coletados, 61,20% da amostra acreditaram que a hipertensão causa outras doenças; 11,20% afirmaram que não e 27,58% não soube responder. Dentre as respostas afirma!vas, as patologias citadas foram: problemas cardíacos, problemas neurológicos, colesterol, diabetes, problemas renais e algumas não souberam responder. Na interrogação das gestantes sobre se pode ser evitado o aumento da pressão, 77,58% acharam que sim, através da alimentação, da administração de remédios adequados, ida ao médico regularmente entre outros. 13,79% acreditam que não tem o que ser feito para evitar o aumento da pressão e 8,62% não soube responder. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo, que teve como proposta a constatação do nível de conhecimento das gestantes atendidas nos Centros de Assistência Integral de Saúde de Passo Fundo sobre a pré-eclâmpsia, a!ngiu seu obje!vo. O nível de conhecimento nas gestantes sobre pré-eclâmpsia mostrou-se reduzido e por vezes equivocado. Acredita-se que o pouco conhecimento sobre a patologia, seus sintomas e riscos sejam mul!fatoriais, sendo que a maior parte da amostra relatou procurar atendimento médico num período mais avançado da gestação, limitando o nível de informações que poderia ser fornecido pelos CAIS e outro dado importante é que maior parte das gestantes par!cipantes do estudo !nham idade inferior a 20 anos, o que pode sugerir o desinteresse pelo assunto. Determinou-se o !po de controle que as gestantes fazem de sua própria pressão e os problemas com seu organismo, sendo que a maioria segue as recomendações médicas, afere a pressão arterial com freqüência, pensa que a patologia só pode ser tratada com medicamentos e que a internação hospitalar pode controlar os níveis pressóricos da parturiente. Porém, constatou-se que há divergências sobre o conceito de freqüência, pois umas relataram achar freqüente uma vez por semana e outras acham freqüente realizar a verificação mensalmente. Houve, ainda, a constatação de encaminhamento à internação por causa da pré-eclâmpsia. Através disso, fica evidente a importância em inves!gar o nível de conhecimento das gestantes sobre a pré-eclâmpsia e que a melhor forma de prevenção é o esclarecimento através de programas de conscien!zação sobre a doença. Contudo, o baixo nível de conhecimento sobre a pré-eclâmpsia das gestantes pesquisadas serve de incen!vo para que mais estudos sejam realizados nessa área. Como trabalhos futuros, sugere-se que sejam incluídos o grau de escolaridade e um número maior de gestantes, a fim de iden!ficar os principais fatores que limitam a informação sobre a hipertensão gestacional, como a pouca idade das grávidas, o sigilo da gravidez, problemas descobertos somente no final da gestação, o exame pré-natal realizado com pouca regularidade. E que, ainda, em estudos posteriores exista a intervenção da fisioterapia preven!va e novas abordagens fisioterápicas, para o aprimoramento da ciência em atuação fisioterapêu!ca preven!va para gestantes. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 18 Nível de Informação Sobre a Pré-eclâmpsia das Gestantes Atendidas nos Centros de Assistência Integral à Saúde de Passo Fundo REFERÊNCIAS 1. Kahhale, Soubhi; Zugaib, Marcelo. Síndromes hipertensivas na gravidez: Pré-eclâmpsia. In: Benzecry, Roberto; Oliveira, Hildoberto C.; Lemgruber, Ivan. Tratado de Obstetrícia. Rio de Janeiro: Revinter, 2000, p. 524-526. 2. Rezende, Jorge; Montenegro, Carlos A. B. Obstetrícia Fundamental. 9ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003, p. 54-55, 73-76, 79-83, 85, 227-229, 231 e 235. 3. Reddy, Uma; Wi% er, Frank. Distúrbios hipertensivos da gestação. In: Lambrou, Nicholas C.; Morse, Abraham N.; Wallach, Edward E. Manual de ginecologia e obstetrícia do Johns Hopkins. Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 120-121. 4. Oliveira, Sinval Ferreira de. Síndromes Hipertensivas na Gravidez. In: Baracho, Elza. Fisioterapia Aplicada à Obstetrícia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Medsi, 2002, p. 102-104. 5. Mar!ns-Costa, Sérgio H. et al. Doença Hipertensiva na Gravidez. In: Freitas, Fernando et al. Ro!nas em Obstetrícia. 4ª edição. Porto Alegre: Artemed, 2003, p. 377 e 383. 6. Oliveira, Maria H. N. de; Araújo, Ana C. P. F. De. Hipertensão arterial na gravidez. In: Porto, Celmo C. Doenças do coração – prevenção e tratamento. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, p. 560. 7. Costa, Hélio de Lima Ferreira Fernades; Costa, Cícero Ferreira Fernandes; Costa, Laura Olinda Bregieiro Fernades. Idade Materna como Fator de Risco para a Hipertensão Induzida pela Gravidez: Análise Mul!variada. Revista Brasileira Ginecologia e Obstetrícia. Vol. 25, nº 92003. 8. Silva, Lívia F. da. Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG). Revista Fisiobrasil, n. 76, p. 36-37, mar/abr. 2006. 9. Oliveira, Sonia Maria Junqueira V. de; Domingues, Cris!ane de Alencar. Prevalência da eclampsia em parturientes. Revista de Ginecologia e Obstetrícia, ano 15, vol. XV, nº 3, p. 148-53, julho/agosto/setembro 2004. 10. Rossner, S. Physical ac!vity and preven!on and treatment of weight gain associated with pregnancy: current evidence and research issues. Med Sci Sports Exercise, 1999; 4 suppl: 560-63; 11. Acog (American College of Obstetricians and Gynecologists). Exercise during pregnancy and the postpartum period. Washington (D>C>): College: 1994. 12. Benute, Gláucia Rosana Guerra et al. Gestantes hipertensas: crenças, mitos e conhecimentos permeando a adesão ao tratamento. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, vol. 13, nº 1, p. 8-12, 2002. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 19 Ar!go Original Interações Medicamentosas com Fitoterápicos: conhecimento popular e cien+fico HERB-DRUG INTERACTIONS: POPULAR AND SCIENTIFIC KNOWLEDGE RESUMO O uso associado de plantas medicinais e fármacos foi avaliado em uma população de pacientes (37 adultos hipertensos e/ou diabé!cos) cadastrados no Programa de Saúde da Família do Município de Ibiraiaras/RS, por meio de entrevistas. Dos pacientes entrevistados, 18,92% usam plantas medicinais diariamente, 71,97% usam mais de 1 vez por mês e 8,10% usam menos de 1 vem por mês. 21,62% dos pacientes relataram ter apresentado alguma reação adversa relacionada ao uso de plantas, das quais, 83,33% estavam relacionadas ao sistema cardiovascular (SCV). Entre as 259 indicações referidas pelos pacientes, 26,25% eram relacionadas ao SCV, envolvendo efeito hipotensor, diuré!co e redutor de níveis séricos de triglicerídeos e de colesterol. Apesar do direcionamento do estudo para pacientes diabé!cos e hipertensos, o uso de plantas medicinais mostrou-se significa!vo para o controle de distúrbios gastrintes!nais (25,87%). Estes resultados evidenciam riscos potenciais de interferência nos parâmetros farmacociné!cos e farmacodinâmicos dos fármacos prescritos. Unitermos: Plantas medicinais, etnofarmacologia, interações medicamentosas. Angela M. Piva¹ Solange M. Dieterich¹ Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo – RS Correspondências: Angela Piva Ibiraiaras, RS, Brasil E-mail: [email protected] ABSTRACT The concurrent use of medicinal plants and drugs has been assessed by interviewing a popula!on of pa!ents (37 hypertensive and/or diabe!c adults) registered in the Family Health Program of the city of Ibiraiaras/RS - Brazil. From the interviewed pa!ents, 18.92% use medicinal plants daily, 71.97% use them more than once a month, and 8.10% use them less than once a month; 21.62% of the pa!ents reported having some side effect related to the use of the plants, which 83.33% were related to the cardiovascular system (CVS). Among the 259 indica!ons referred by pa!ents, 26.25% were related to the CVS, involving hypotensive, diure!c, and reducer of triglycerides/cholesterol plasma concentra!on effects. Although this study was directed to diabe!c and hypertensive pa!ents, the use of medicinal plants has shown to be significant for the control of gastrointes!nal disorders (25.87%). These results show poten!al risks of interference in the pharmacokine!c and pharmacodynamic analysis of the prescribed medicines. Keywords: Medicinal plants, ethnopharmacology, drug interac!ons. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 20 Interações Medicamentosas com Fitoterápicos: Conhecimento Popular e Científico O uso da fitoterapia vem crescendo, em grande parte, devido à percepção popular de que este !po de abordagem é natural e, portanto, mais segura que a medicina alopá!ca. Por esta razão o uso de plantas medicinais freqüentemente não é comunicado ao médico1,2,3,4, havendo o risco de interações sinérgicas ou antagônicas entre as substâncias u!lizadas, 5 alterando a evolução clínica esperada. Segundo Fong 6 e Poppenga , razões sociais, econômicas e filosóficas também levam as pessoas a usar plantas medicinais. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem publicado Resoluções17,18 e Alertas de Farmacovigilância 1 9 , 2 0 para o uso de fitoterápicos amplamente u!lizados no país e implicados com sérios efeitos adversos e interações medicamentosas de risco, ressaltando a importância do uso destes produtos sob prescrição médica. Por outro lado, a qualidade do produto u!lizado é um dos pontos cruciais da fitoterapia, porque esta pode afetar a eficácia e/ou segurança destes produtos, sendo influenciada por fatores regulatórios, intrínsecos e extrínsecos. Intrinsecamente, espécies diferentes (mistura de mais de uma planta), especificidade de órgão (sí!o de biossíntese e acúmulo na planta), variações diurnas e ou sazonais. Um estudo realizado com dois cul!vares de tanchagem (Plantago lanceolata) demonstrou interferência da variação sazonal na concentração de catalpol, aucubina e aceteosídeo nas folhas, indicando que as estações do ano podem influenciar no produto final11. Extrinsecamente, cul!vo, coleta, transporte e estocagem; processamento; contaminação, 3,5,7,8,9 subs!tuição ou adulteração . Estes fatores ressaltam a importância dos estudos de caracterização farmacognós!ca, correlacionados com a!vidade farmacológica9. Além destes fatores, quando se trata de avaliação de interações medicamentosas entre plantas e medicamentos convencionais, devem ser considerados ainda fatores ligados ao fármaco (dose, posologia, forma de administração) 1 0 , à planta (dose, posologia, forma de administração)1,7,8 e ao paciente (polimorfismo gené!co, idade, raça e condição 1,7,8,10 patológica) . A iden!ficação correta destes componentes é crucial para avaliar a confiabilidade das interações planta-fármaco8. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado pela aplicação de ques!onários a pacientes cadastrados no Programa de Saúde da Família (PSF) do Município de Ibiraiaras/RS. A seleção dos pacientes foi realizada pela busca dos cadastros dos pacientes hipertensos e/ou diabé!cos. Agentes de saúde acompanharam o pesquisador até a residência dos pacientes, durante visitas de ro!na. Foram incluídos no estudo somente aqueles que relataram fazer uso de regular de plantas medicinais. A amostra final ficou cons!tuída por 37 pacientes, entrevistados após a concordância em par!cipar do estudo. Os ques!onários foram direcionados a questões rela!vas ao uso de plantas medicinais ou produtos derivados destas, associados a medicamentos convencionais. Os relatos registrados foram restritos aos 12 meses que antecederam a entrevista, para diminuir o número de informações imprecisas. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de É!ca e m Pe s q u i s a d a U n i ve rs i d a d e d e Pa s s o Fundo/RS, sob número 011/2006. RESULTADOS E DISCUSSÃO Do total de 37 pacientes entrevistados, 91,89% eram do sexo feminino, com faixa etária predominante (35,13%) entre 61 e 70 anos. Foram entrevistados somente pacientes hipertensos e/ou diabé!cos para controlar a variedade de medicamento usados, facilitando a análise dos dados e tornado-os mais concisos. Dos pacientes entrevistados, 18,92% relataram usar plantas medicinais diariamente, 71,97% mais de 1 vez por mês e 8,10% menos de 1 vez por mês. O número de pessoas que relatou usar plantas medicinais diariamente não é muito diferente daquele 4 encontrado por Wheaton et al. , em que 7% dos adultos entrevistados por telefone referiram este hábito. Os autores chamam a atenção para a importância da discussão do assunto entre usuários e seus médicos, no intuito de prevenir possíveis interações entre plantas e medicamentos e complicações cirúrgicas. Considerando-se o município em que o estudo foi realizado, de economia agropecuária, é comum o cul!vo caseiro associado de hortaliças e plantas medicinais, tornando freqüente o uso de plantas Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 21 Interações Medicamentosas com Fitoterápicos: Conhecimento Popular e Científico como forma complementar de terapia. Assim, é muito pequena a busca destes produtos em estabelecimentos comerciais (2,70% dos pacientes) e o uso de plantas frescas é mais comum (67,56%) do que o uso de plantas secas (27,02%). A principal influência deste costume está na composição química das plantas, visto que esta sofre influências edafoclimá!9 cas . O uso de plantas medicinais pode estar associado a manifestações adversas, as quais foram citadas por 21,62% dos pacientes entrevistados. Destas, 83,33% estavam relacionadas ao sistema cardiovascular (SCV), resultado em possíveis alterações dos níveis pressóricos. Tendo em vista as classes de medicamentos que estes pacientes fazem uso, este dado mostra potenciais interações de risco entre as plantas e os medicamentos. Zaffani et al.2 e Ernst13 constataram que os efeitos adversos das plantas medicinais não costumam ser relatados aos médicos. Para Ernst et al13,14 os pacientes não relatam tais efeitos, por acreditar que efeitos adversos surgidos com o uso concomitante de plantas e fármacos alopá!cos são devidos aos úl!mos e não às plantas u!lizadas. O autor considera importante que os profissionais da saúde perguntem aos pacientes sobre o uso de produtos a base de plantas e, por outro lado, estes devem entender que plantas são medicamentos e, portanto, têm um considerável potencial de causar danos14. N e s t e s e n !d o , u m “A l e r t a F e d e r a l d e Farmacovigilância” da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)20, de 12 de março de 2002, relata riscos graves com o uso de kava-kava (Piper methys!cum L.), evidenciando que produtos fitoterápicos podem apresentar efeitos adversos importantes, bem como interações medicamentosas de risco. A gravidade dos efeitos adversos da kava-Kava (hepatotoxicidade, necessidade de transplante de , gado ou morte) resultou na publicação da Resolução n. 356 de fevereiro de 2002 1 9 , des!nada à fiscalização de produtos a base desta planta, que não contenham os dizeres “Venda sob prescrição médica”. Aproximadamente 62% dos pacientes entrevistados neste estudo relataram não mencionar ou conversar sobre o uso de plantas com seus médicos ou profissionais da saúde. Isto revela o fato de a população considerar o uso de plantas uma terapia natural e, portanto, mais segura que a terapia alopá!ca e, também, ao fato de os profissionais da saúde não ques!onarem os pacientes sobre este uso. Para o total de 65 plantas citadas foram atribuídas 259 indicações de uso. Entre estas, foram mais freqüentes as recomendações de uso para doenças do SCV (26,25%) e trato gastrintes!nal (25,87%) (Figura 1). Correlacionando estes dados com o !po de população estudada, 7,33% das indicações foram para controlar a hipertensão, 5,40% para aumentar a eliminação de líquidos, 3,86% e 6,956% para baixar níveis séricos de triglicerídeos e de colesterol, respec!vamente. Poucas indicações relacionadas à diabete foram observadas, pois somente 7 dos pacientes entrevistados (18,92%) apresentavam esta patologia. No Quadro 1 estão listadas as plantas mais freqüentemente citadas pelos entrevistados e as principais indicações de uso, e no Quadro 2, as interações potenciais entre plantas e medicamentos, considerando-se que os pacientes relataram o uso associado de plantas e fármacos alopá!cos para o controle de diferentes patologias. 30 30 25 25 20 20 15 15 10 10 5 5 0 0 Trato gastrintestinal Dor, infla/infecção Sistema nervoso Trato Sistema respiratório cardiovascular central Figura 1. Indicações referidas pelos pacientes (porcentagem). Diuréticos Outras Cardiotônicos Agentes Outros do SNC anti-hipertensivos Hipoglicemiantes AAS Diversos Figura 2. Medicamentos utilizados pela populção estudada (porcentagem). Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 22 Interações Medicamentosas com Fitoterápicos: Conhecimento Popular e Científico A maioria das plantas iden!ficadas neste estudo não está entre as mais citadas por outros autores, pois este !po de terapia sofre importantes diferenças geográficas e étnicas. Por outro lado, as indicações para as plantas citadas conferem, em parte, com indicações reconhecidas cien!ficamente. A camomila, por exemplo, possui a!vidade carmina!va e an!espasmódica sobre o trato gastrintes!nal (TGI), além de ação an!inflamatória. No estudo, foi citada principalmente para distúrbios do TGI e pouco para inflamações. A melissa e o capim-cidró apresentam a!vidade depressora do SNC e foram citados para a mesma finalidade. A sálvia, por outro lado, foi citada para indicações do TGI; entretanto, é conhecida cien!ficamente por possuir ação es!mulante cardiovascular9. O uso concomitante de plantas medicinais com outros fármacos pode resultar nos mais diversos !pos de interações, nem sempre com significado clínico. Entretanto, têm sido descritas algumas interações relevantes, principalmente envolvendo funções cardiovasculares, imunológicas e centrais, algumas delas consideradas de risco e outras benéfi1,10 cas . A echinacea (Echinacea), por exemplo, por seu potencial imunoes!mulatório não deve ser usada associada a imunossupressores 7 , 1 2 . Não foram encontradas informações na literatura sobre interações entre medicamentos e as plantas citadas neste estudo. Entre os efeitos de interações já conhecidos, é relevante a a!vidade modulatória de algumas plantas sobre a depuração plasmá!ca de fármacos importantes. Entre as mais citadas encontra-se a erva-de-são-joão, que é substrato da glicoproteína-P e da CYPA4. Estudos clínicos mostram que a erva-desão-joão reduz a concentração plasmá!ca da ciclosporina, amitrip!lina, contracep!vos orais, digoxina, indinavir, neviparina, varfarina, femprocumona, teofilina e sinvasta!na. Quando combinada com contracep!vos orais (e!nilestradiol/desogestrel), loperamida e inibidores sele!vos da recaptação da serotonina (sertralina, paroxe!na, nefazodona) pode causar sangramento intermenstrual, delírio, ou síndrome da serotonina, respec!vamen10 te . Considerando-se a população estudada, o uso de plantas medicinais com fármacos pode afetar o 7 controle da glicemia. Segundo Chavez et al. , estudos clínicos sugerem que o Ginseng pode aumentar o risco de hipoglicemia e, portanto, o uso concomitante de ginseng e medicamentos an!-diabé!cos deve ser evitado. Apesar de o ginseng não ser conhecido nesta região, outras plantas com propriedades similares e que são u!lizadas pelos pacientes podem resultar no mesmo !po de efeito. Interações que interferem na hemostasia e na coagulação têm sido descritas com freqüência para algumas plantas e fármacos. Um estudo com sangue total de coelhos observou que o chá verde é um potente inibidor da formação de trombina es!mulada pelo tromboxano plaquetário, o que sugere que o extrato de chá verde pode ser benéfico no tratamento de doenças vasculares, mas pode também aumentar o risco de sangramento quando usado em combinação com fármacos an!plaquetários ou an!coagulantes15. A B C D E F Total A B C D E F G H Ameixa-inverno Eriobotrya japonica - 9 - - - - 9 Ameixa-inverno 7 5 0 7 1 1 2 2 Boldo Peumus boldus 9 - - - - - 9 Boldo 3 4 0 5 2 0 6 1 Camomila Matricaria recutita 8 - 1 - 4 2 15 Camomila 8 3 1 8 4 0 5 3 Capim-cidró/melissa Melissa officinales - 1 1 1 9 4 16 Capim-cidró/melissa 9 3 3 8 7 3 7 3 Espinheira-santa Maytenus ilicifolia 1 - - 8 - - 9 Espinheira-santa 5 2 2 5 2 0 2 3 Hortelã Mentha spp 1 3 4 1 5 - 14 Hortelã 7 1 1 8 1 3 2 0 Laranja Citrus sp 1 7 1 - 2 3 14 Laranja 9 7 0 8 1 4 7 4 Macela Achyrocline satureioides 16 - - 1 - - 17 Macela 12 5 1 12 4 6 3 3 Sálvia Salvia officinalis 9 1 - - - - 10 Sálvia 6 5 0 3 0 3 2 3 45 21 7 17 20 9 Total 66 35 8 64 22 20 36 22 Total Quadro 1. Plantas mais citadas e número de citações das respec!vas indicações de uso terapêu!co. A: trato gastrintes!nal; B: trato respiratório; C: dor, inflamação; infecção; D: sistema cardiovascular; E: Sistema nervoso central; F: outras indicações. Quadro 2. Plantas u!lizadas associadas com fármacos. Grupos de fármacos (A: diuré!cos; B: bloqueadores adrenérgicos; C: bloqueadores dos canais de cálcio; D: inibidores da enzima conversora da angiotensina; E: cardiotônicos; F: hipoglicemiantes; G: distúrbios do humor; H: AAS). Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 23 Interações Medicamentosas com Fitoterápicos: Conhecimento Popular e Científico 3 Teoricamente, segundo Izzo , efeitos an!coagulantes aumentados podem ser esperados quando a varfarina é combinada com plantas que contêm cumarinas (ex. boldo, dong quai) ou com plantas an!plaquetárias (ex. sálvia, alho, ginkgo). Inversamente, plantas que contêm vitamina K (ex. chá verde) podem antagonizar o efeito an!coagulante da varfarina. O Ginkgo biloba tem causado sangramento em pessoas saudáveis, possivelmente devido ao efeito an!agregante plaquetário do componente ginkgoside B; relatos de caso desta possível interação foram observados com aspirina, ibuprofeno e varfarina7. O G. biloba ainda pode agir como antagonista do ácido gama-aminobu+rico (GABA), interagindo com os benzodiazepínicos7. G. biloba também causou aumento da pressão arterial quando combinado com diuré!cos !azídicos e coma quando combinado com trazodona10. O estudo das interações é par!cularmente importante quando envolve fármacos de baixo índice terapêu!co, como varfarina, digoxina, imunossupressores e outros3,7. Como exemplo destas, temos a interação entre digoxina e goma guar, a qual retarda o esvaziamento gástrico podendo diminuir a absorção da digoxina3. Por isso, pacientes que estejam recebendo medicamentos com baixo índice terapêu!co 8 devem ser monitorados cuidadosamente . As evidências de interações entre produtos naturais e fármacos são baseadas na a!vidade farmacológica conhecida ou suspeita, em dados derivados de estudos in vitro ou em animais, ou em relatos de casos isolados, nem sempre adequadamente estudados7,8. Segundo Fugh-Berman16, a falta de dados experimentais a respeito das interações medicamentosas ocorre também nas interações entre fármacos. Assim, a verdadeira prevalência de interações medicamentosas é grande, mas desconhecida. Sabendo que milhões de pacientes usam plantas e medicamentos convencionais concomitantemente, freqüentemente sem o conhecimento de seus médicos, e considerando a presente falta de entendimento de interações planta-fármaco, mais pesquisas nesta área parecem ter caráter de urgência3,8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. Pal D, Mitra A K. MDR- and CYP3A4-mediated drug-herbal interac!ons. Life Sci 2006; 78(18): 2131-2145. Zaffani S, Cuzzolin L., Benni G. Herbal products: behaviors and beliefs among italian women. Pharmacoepidemiol Drug Saf 2006; 15(5): 354-359. Izzo A. Herb-drug interac!ons: an overview of the clinical evidence. Fundam Clin Pharmacol 2005; 19(1): 1-16. Wheaton A G, Blanck H M, Gizlice Z, Reyes M. Medicinal herb use in a popula!on-based survey of adults: prevalence and frequency of use, reasons for use, and use among their children. Ann Epidemiol 2005; 15(9): 678-685. Fong H H S. Integra!on of herbal medicine into modern medical prac!ces: issues and prospects. Integr Cancer Ther 2002; 1(3): 287-293. Poppenga R H. Herbal medicine: poten!al for intoxica!on and interac!ons with conven!onal drugs. Clin Tech Small Anim Pract 2002; 17(1): 6-18. Chavez M L, Jordan M A, Chavez P I. Evidence drug-herbal interac!ons. Life Sci 2006; 78(18): 2146-2157. Coxeter P D, McLachlan A J, Duke C C, Roufogalis B D. Herb-drug interac!ons: an evidence based approach. Curr Med Chem 2004; 11(11): 1513-1525. Simões C M O, Schenkel E P, Gosmann G, Mello J C P, Mentz L A, Petrovick P R. Farmacologia: da planta ao medicamento. 5ª ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003. Zhou S, Huang M, Xu A, Yang H, Duan W, Paxton J W. Predic!on of herb-drug metabolic interac!ons: a simula!on study. Phytother Res 2005; 19(6): 464471. Tamura Y, Nishibe S. Changes in the concentra!ons of bioac!ve compounds in plantain leaves. J Agric Food Chem 2002; 50(9): 2514-2518. Ernst E. Herb-drug interac!ons: poten!ally important but woefully under-researched. Eur J Clin Pharmacol 2000; 56(8): 523-524. Ernst E. Herbal remedies for anxiety – a systema!c review of controlled clinical trials. Phytomedicine 2006; 13(3): 205-208. Ernst E. Herbal medicines – they are popular, but are they also sage? Eur J Clin Pharmacol 2006; 62(1): 1-2. Ali M, Afzal M. A potent inhibitor of thrombin s!mulated platelet thromboxane forma!on from unprocessed tea. Prostaglandins Leukot Med 1987; 27(1): 9-13. Fugh-Berman A. Herb and drug interac!ons. Lancet 2000; 355(9198): 134-138. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITARIA. Resolução RE nº 356, de 28 de fevereiro de 2002. Determina como medida de interesse sanitário, a apreensão em todo território nacional, de qualquer produto farmacêu!co a base de Kava-Kava (Piper methys!cum L.) que não possua tarja vermelha contendo os dizeres ”Venda sob prescrição médica”, ou que não possua registro na Anvisa. Diário Oficial da União; Poder execu!vo, de 04 de março de 2002. Disponível em: <h% p://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=4444&word>. Acesso em: 15 fev. 2007. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITARIA. Resolução RE nº 357, de 28 de fevereiro de 2002. Determina como medida de interesse sanitário, a apreensão em todo território nacional, de qualquer produto farmacêu!co a base de Erva de São João (Hypericum perforatum) que não possua tarja vermelha contendo os dizeres ”Venda sob prescrição médica”, ou que não possua registro na Anvisa. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em: <h% p://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=4445&word>. Acesso em: 15 fev. 2007. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITARIA. Farmacovigilância. Alerta SNVS/Anvisa/Ufarm nº 7, de 15 de março de 2002. Disponível em: <h% p://www.anvisa.gov.br/farmacovigilancia/alerta/federal/2002/federal_7_2.htm>. Acesso em: 15 fev. 2007. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITARIA. Farmacovigilância. Alerta SNVS/Anvisa/Ufarm nº 5, de 12 de março de 2002. Disponível em: <h% p://www.anvisa.gov.br/farmacovigilancia/alerta/federal/2002/federal_5_02.htm>. Acesso em: 15 fev. 2007. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 24 Ar!go Original Obesidade gestacional e suas repercussões na saúde materno-infan!l GESTATIONAL OBESITY AND ITS REPERCUSSIONS IN MATERNAL AND CHILD HEALTH RESUMO Obje!vou-se analisar a associação entre obesidade materna, complicações gestacionais, !po de parto e saúde do recém-nascido de mães que !veram seus filhos na Maternidade do Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo-RS, durante o período de setembro a dezembro de 2006. O estudo cons!tuiu-se de 140 pares de puérperas e seus recém-nascidos. As mulheres foram divididas em grupos segundo categorias do Índice de Massa Corporal (IMC) na úl!ma semana de gestação. As variáveis de estudo foram complicações maternas, !po de parto, peso do recém-nascido, índice de Apgar no 1° e 5° minutos e idade gestacional ao nascimento. Observaram-se as maiores médias de peso pré-gestacional e ganho de peso durante a gestação em obesas. As variáveis que se associaram esta!s!camente com obesidade foram pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional, parto cesáreo e baixos índices de Apgar (p<0,05). A obesidade gestacional está fortemente associada com vários fatores obstétricos que influenciam a saúde materno-infan!l. Unitermos: Obesidade, gestação, índice de massa corporal, complicações, cesárea, recém-nascido. ABSTRACT Graziela De Carli¹ Pamela da Luz¹ Ericka Margelis González¹ Ana Cris!na Soares de Azevedo² Curso de Nutrição, Universidade de Passo Fundo (RS)¹ Hospital São Vicente de Paulo (RS)² Correspondências: Graziela De Carli Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] This study aimed to analyze the associa!on among maternal obesity, gesta!onal complica!ons, childbirth types, and health of the newborns from mothers that had their children in the maternity of the São Vicente de Paulo Hospital in the city of Passo Fundo-RS - Brazil, during the period of September - December 2006. The study was cons!tuted of 140 pairs of postpartum women and their newborns. The women were divided into groups according to categories of Body Mass Index (BMI) in the last week of gesta!on. The study variables were: maternal complica!ons, childbirth type, weight of the newborn, Apgar score in the 1st and 5th minutes, and gesta!onal age at birth. The highest averages of pre-pregnancy weight and weight gain were observed during the gesta!on of obese women. The variables that showed sta!s!cal associa!on with obesity were: preeclampsia, gesta!onal hypertension, cesarean childbirth, and low Apgar score (p <0.05). The gesta!onal obesity is strongly associated with several obstetric factors that influence maternal and child health. Keywords: Obesity, gesta!on, body mass index, complica!ons, cesarean sec!on, newborn. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 25 Obesidade gestacional e suas repercussões na saúde materno-infantil INTRODUÇÃO A obesidade é definida como uma enfermidade crônica, que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura a um nível tal que comprometa a saúde. Atualmente, está sendo considerada como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois diminui a qualidade e a expecta!va de vida¹. Durante o período gestacional, a obesidade está fortemente associada com várias complicações maternas e fetais. Até mesmo o sobrepeso moderado já é considerado um fator de risco para diabetes e hipertensão gestacional, sendo mais evidente na obesidade. Comparado com mulheres de peso adequado, o sobrepeso materno é relacionado com um alto risco de cesáreas e complicações pósoperatórias. Baixos Índices de Apgar, macrossomia fetal, defeitos no tubo neural e mortalidade perinatal são mais freqüentes em crianças de mães obesas quando comparado com crianças de mães em eutrofia. A longo prazo, as complicações incluem agravação da obesidade materna e desenvolvimento de obesidade na criança2,3,4. O controle da obesidade durante o pré-natal pode reduzir em, aproximadamente, 10% os partos cesárea e a mortalidade fetal tardia e, pela metade, os casos de hipertensão e de diabetes gestacional5. O presente estudo teve como obje!vo analisar a associação entre obesidade materna, complicações gestacionais, !po de parto e saúde do recém nascido de mães que !veram seus filhos na Maternidade do Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo-RS, durante o período de setembro a dezembro de 2006. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado na Maternidade do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), Passo FundoRS. A população alvo da pesquisa foram as mulheres que !veram filhos entre os meses de setembro a dezembro de 2006 na Maternidade, e seus respec!vos recém nascidos, independente do município de onde pertenciam. Trata-se de um estudo observacional, descri!vo e com desenho de corte transversal, natureza qualiquan!ta!va e amostra não probabilís!ca por conveniência. Os seguintes critérios de elegibilidade foram estabelecidos: ter entre 18 e 45 anos, estar livre de doenças crônicas e não apresentar gestação gemelar. U!lizou-se a recomendação proposta pelo 6 Ministério da Saúde , que u!liza o IMC e a semana gestacional, para classificar o estado nutricional materno na úl!ma semana de gestação. Para tanto, obteve-se a idade gestacional ao nascimento e o respec!vo peso materno na úl!ma semana de gestação. As puérperas foram divididas em quatro grupos: Grupo 1: puérperas com baixo peso na úl!ma semana de gestação; Grupo 2: puérperas com peso adequado na úl!ma semana de gestação; Grupo 3: puérperas com sobrepeso na úl!ma semana de gestação e; Grupo 4: puérperas com obesidade na úl!ma semana de gestação. Os dados dos Grupos 3 e 4 foram coletados através de informações presentes nos prontuários da Maternidade e/ou da Carteira da Gestante e do Registro de Nascimentos do HSVP durante o período de internação da mãe, sendo a coleta realizada em dias alternados. Em relação ao Grupo 1 e Grupo 2, os dados foram ob!dos através de um estudo retrospec!vo dos prontuários médicos dos meses de setembro a dezembro de 2006, arquivados no Departamento de Arquivos Médicos do HSVP. Este estudo foi realizado após o período de coleta de dados dos Grupos 3 e 4. As variáveis de estudo foram: a) complicações maternas; b) !po de parto; c) peso do recém-nascido; d) índice de Apgar no 1° e 5° minutos após o nascimento; e) idade gestacional ao nascimento. Considerou-se como “complicações gestacionais”: o desenvolvimento de diabetes mellitus gestacional, hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia/ eclâmpsia, descolamento prematuro de placenta, infecção do trato urinário e anemia durante o período gestacional; “peso do recém-nascido”: peso ao nascimento > 4.000g como macrossomia, entre 3.000 a 4.000g como peso normal, entre 2.500 a 3.000g como peso insuficiente, < 2.500g como baixo peso, < 1.500g como muito baixo peso e, < 1.000g, baixo peso extremo; “índice de Apgar”: quando ≤ 7, classificouse como baixos e quando >7, como normais; “idade gestacional ao nascimento”: nascimento antes de 37 semanas de gestação como pré-termo, entre 37 a 42 semanas, como recém-nascido a termo e, ≥ 42 semanas como pós-termo; As seguintes co-variáveis foram incluídas na análise: idade da mãe (≤ 19 – adolescente; 20-35 idade fér!l; ≥ 35 - idade avançada), estado marital (casada, união, solteira), escolaridade (< 8, ≥ 8 anos), episódio prévio de aborto (não, sim), paridade (primípara, mul+para), IMC pré-gestacional (< 19,8 Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 26 Obesidade gestacional e suas repercussões na saúde materno-infantil baixo peso; 19,8 a 26 - eutrofia; 26,1 a 29 - sobrepeso; 2 > 29 Kg/m - obesidade), número de consultas no prénatal (< 8, ≥ 8 consultas), sexo da criança (masculino, feminino), comprimento, perímetro cefálico e perímetro torácico do recém-nascido. O ganho de peso gestacional foi analisado segundo categorias de ganho de peso recomendadas pelo IOM (Ins!tute of Medicine). O IOM recomenda ganhos diferenciados segundo o estado nutricional pré-gestacional, medido pelo IMC. Foram considerados como ganho de peso adequado valores entre 12,5 a 18 Kg para mulheres com IMC pré-gestacional < 19,8 Kg/m 2 , entre 11,5 a 16 Kg para aquelas com 2 IMC pré-gestacional entre 19,8 e 26 Kg/m , entre 7,0 a 11,5 Kg para mulheres com IMC pré-gestacional > 2 26 e < 29 Kg/m , e entre 7,0 a 9,1 Kg para mulheres 2 com IMC pré-gestacional > 29 Kg/m . Caracterizou-se como ganho de peso insuficiente, os valores que ficaram abaixo do recomendado e, excessivo, os que ficaram acima da recomendação. As variáveis quan!ta!vas foram analisadas descri!vamente pela observação dos valores mínimos e máximos, e do cálculo de médias e desvios-padrão. Para as variáveis qualita!vas, calculou-se freqüências absolutas e rela!vas. A comparação das médias foi realizada u!lizando-se o teste t de Student para amostras não pareadas. A associação entre o IMC na úl!ma semana de gestação e as variáveis e co-variáveis foi avaliada pelo teste Qui-quadrado. Adotou-se como nível de significância o valor 0,05 (α=5%). Com isso, níveis descri!vos (p) inferiores a esse valor foram considerados significa!vos (p<0,05). O projeto foi subme!do e aprovado pelo Comitê de É!ca em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo (UPF) e pela Comissão de Pesquisa e Pós Graduação da Associação Hospitalar São Vicente de Paulo e está d e a c o r d o c o m o s p r i n c í p i o s é !c o s d e n ã o maleficência, beneficência, jus!ça e autonomia con!dos na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. As par!cipantes em que os dados foram ob!dos durante o período de internação, assinaram o Termo de Consen!mento Livre e Esclarecido, ob!do de forma livre e espontânea após terem sido feitos todos os esclarecimentos necessários. RESULTADOS E DISCUSSÃO Um total de 140 mulheres que !veram seus filhos na Maternidade do HSVP, durante o período de setembro a dezembro de 2006, foram selecionadas, pois possuíam os critérios de inclusão estabelecidos. Destas, 28 (20%) foram incluídas no Grupo 1 (baixo peso), 37 (26,4%) no Grupo 2 (peso adequado), 34 puérperas (24,3%) no Grupo 3 (sobrepeso), e, no Grupo 4 (obesidade), foram incluídas 41 delas (29,3%). As mulheres com obesidade !nham em média 28,4 ± 6,9 anos, variando de 19 a 45 anos, 1,62 ± 0,07m de altura, variando de 1,47 a 1,75m, peso prégestacional médio de 78,1 ± 10,4Kg, variando de 58 a 115Kg, ganho de peso médio de 16,9 ± 7,2Kg, variando de 2 a 37,5Kg e média de peso no final da gestação de 95 ± 10,7Kg, variando de 72 a 125,5Kg. Os valores das médias de peso pré-gestacional, ganho de peso durante o período gestacional e peso na úl!ma semana de gestação de todos os grupos, podem ser observados no Gráfico 1, onde se verifica média significa!vamente inferior (p<0,0001) no Grupo 1 (baixo peso), quando comparado ao Grupo 4 (obesidade). Observa-se que as puérperas que finalizam o período gestacional com obesidade, iniciam este período com excesso de peso além de excederem a recomendação no ganho de peso durante a gestação. Já no grupo das mulheres com baixo peso, ocorre um insuficiente ganho de peso gestacional e conseqüente baixo peso no final da gestação. Com vista a explorar as informações ob!das, na Tabela 1 são apresentadas as co-variáveis de caracterização das mulheres selecionadas. A obesidade foi prevalente entre mulheres com escolaridade < 8 anos 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Peso Pré-Gestacional (Kg) Grupo 1 Ganho de Peso (Kg) Grupo 2 Grupo 3 Peso Final (Kg) Grupo 4 Figura 1. Médias do peso das mulheres nos diferentes períodos gestacionais Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 27 Obesidade gestacional e suas repercussões na saúde materno-infantil (53,7%), sem episódios prévios de aborto (82,9%), casadas (41,5%), mul+paras (56,1%), que haviam realizado ≥ 8 consultas no pré-natal e com idade entre 20 a 35 anos (70,7%). Não se observou diferença esta!s!camente significa!va entre o IMC final e as categorias das co-variáveis estudadas, com exceção à idade, que apresentou um valor de p=0,0171. Este dado revela que mulheres com idade ≤19 anos, ou seja, adolescentes, tendem a estar com baixo peso no período gestacional (Grupo 1: 32,1%; Grupo 4: 7,3%), enquanto mulheres com idade considerada avançada (≥ 35 anos) para gestação, tendem a ser obesas neste período (Grupo 1: 0,0%; Grupo 4: 22,0%). Um estudo realizado em 6 capitais brasileiras (São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e Manaus) encontrou uma maior freqüência de obesidade em mulheres mais velhas, com menor grau de escolari7 dade e mul+paras . A Tabela 2 apresenta as categorias das variáveis de estudo maternas segundo o IMC final. O !po de parto apresentou diferença esta!s!camente significa!va (p<0,0001), sendo mais prevalente em obesas quando comparado com as outras categorias de IMC. Do total das mulheres que realizaram parto cesárea, 26 (43,3%) eram obesas, 21 (35,0%) estavam em sobrepeso, 10 (16,7%) eutróficas e 3 (5,0%) mulheres de baixo peso. Em relação ao Grupo 4, 63,4% realizaram cesárea, enquanto o Grupo 1, 89,3% realizaram parto vaginal. Um resultado semelhante ao do presente estudo foi encontrado num estudo com 1.484 pacientes que fizeram parto no Hospital Materno Infan!l Ramón Sardá, encontrando quase o dobro de risco de cesárea em pacientes obesas quando comparado ao grupo controle (OR: 1,88; IC 95%: 1,26-2,79)8. Escolaridade (anos) <8 ≥8 Aborto prévio Sim Não Estado marital Casada União Solteira Paridade Primípara Multípara Idade (anos) ≤ 19 20-35 ≥ 35 Consultas no pré-natal <8 ≥8 Ganho de peso gestacional Insuficiente Adequado Excessivo IMC pré-gestacional (Kg/m²) < 19,8 19,8-26 26,1-29 > 29 Baixo peso n % 28 20,0 IMC (kg/m²) Adequado Sobrepeso n % n % 37 26,4 34 24,3 Obesidade n % 41 29,3 13 15 46,4 53,6 16 21 43,2 56,8 9 25 26,5 73,5 22 19 53,7 46,3 2 26 7,1 92,9 6 31 16,2 83,8 6 28 17,6 82,4 7 34 17,1 82,9 0,6316 3 9 16 10,7 32,1 57,1 12 11 14 32,4 29,7 37,8 15 9 10 44,1 26,5 29,4 17 11 13 41,5 26,8 31,7 0,1126 13 15 46,4 53,6 16 21 43,2 56,8 14 20 41,2 58,8 18 23 43,9 56,1 0,9814 9 19 0 32,1 67,9 0,0 9 26 2 24,3 70,3 5,4 5 23 6 14,7 67,6 17,6 3 29 9 7,3 70,7 22,0 0,0171 16 12 57,1 42,9 23 14 62,2 37,8 13 21 38,2 61,8 19 22 46,3 53,7 0,1842 24 4 0 85,7 14,3 0,0 19 16 2 51,4 43,2 5,4 5 10 19 14,7 29,4 55,9 2 4 35 4,9 9,8 85,4 < 0,0001 18 10 0 0 64,3 35,7 0,0 0,0 9 26 2 0 24,3 70,3 5,4 0,0 0 20 12 2 0,0 58,8 35,3 5,9 0 5 13 23 0,0 12,2 31,7 56,1 < 0,0001 p Esses valores também coincidem outro estudo realizado em seis capitais brasileiras (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e Manaus), com uma amostra de 4.486 mulheres do pré-natal geral do Sistema Único de Saúde. A incidência de cesarianas ocorreu em 164 (53,2%) obesas, 407 (43,1%) pré-obesas, 1.045 (35,1%) normais e em 64 (24,5%) mulheres de baixo peso. O risco rela!vo para cesariana na comparação de obesas com 9 grávidas de peso normal foi 1,8 (IC 95%: 1.5-2.0) . As complicações maternas que apresentaram diferença significa!va, com p<0,005, foram préeclâmpsia e hipertensão gestacional, sendo predominantes no grupo das obesas (75,0% e 68,8%, respec!vamente). Não foram constatadas diferenças esta!s!camente significa!vas em relação às outras complicações, embora 53,3% dos casos de anemia tenham sido observados no grupo de obesidade (Tabela 2). E m re l a çã o a o d e s e nvo l v i m e nto d e p ré eclâmpsia, nossos achados são concordantes com vários estudos, que verificaram a maior prevalência de pré-eclâmpsia em gestantes com obesidade7,10,11. IMC (kg/m²) Baixo peso Adequado Sobrepeso Obesidade n % n % n % n % Total Tipo de parto Vaginal Cesárea Complicações maternas DMG Pré-eclâmpsia HG Anemia ITU DPP p 80 60 25 3 89,3 10,7 27 10 73,0 27,0 13 21 38,2 61,8 15 26 36,6 63,4 < 0,0001 6 12 16 15 36 5 1 1 1 2 5 2 16,7 8,3 6,3 13,3 13,9 40,0 0 0 0 1 12 1 0,0 0,0 0,0 6,7 33,3 20,0 2 2 4 4 9 1 33,3 16,7 25,0 26,7 25,0 20,0 3 9 11 8 10 1 50,0 75,0 68,8 53,3 27,8 20,0 0,4200 0,0028 0,0010 0,1017 0,6090 0,7267 Tabela 2. Variáveis maternas selecionadas segundo categorias de IMC no final da gestação. Passo Fundo, setembro a dezembro 2006. IMC (kg/m²) Baixo peso Co-variáveis Comprimento (cm) Perímetro cefálico (cm) Perímetro torácico (cm) Adequado Sobrepeso Obesidade MD* DP* MD* DP* MD* DP* MD* DP* 47,8 33,5 31,8 2,3 1,8 2,3 48,0 34,2 32,0 2,4 1,6 2,3 48,1 34,5 33,1 3,5 1,8 2,8 47,9 34,1 32,8 3,5 3,0 3,5 Tabela 3. Co-variáveis do recém-nascido segundo categorias de IMC na última semana de gestação. Passo Fundo, setembro a dezembro 2006. 0,1202 Tabela 1. Co-variáveis de caracterização das mulheres selecionadas segundo categorias de IMC. Passo Fundo, setembro a dezembro 2006. IMC (kg/m²) Variáveis RN pelo PN Baixo peso Peso Normal Peso Insuficiente Muito baixo peso Macrossomia IG ao nascimento (semanas) < 37 37-42 > 42 Índice de Apgar no 1° minuto ≤7 >7 Índice de Apgar no 5° minuto ≤7 >7 Sobrepeso p Baixo peso Adequado n % n % n % 7 14 7 0 0 25,0 50,0 25,0 0,0 0,0 4 18 12 1 2 10,8 48,6 32,4 2,7 5,4 3 20 7 1 3 8,8 58,8 20,6 2,9 8,8 5 26 7 2 1 12,2 63,4 17,1 4,9 2,4 0,5039 5 22 1 17,9 78,6 3,6 4 33 0 10,8 89,2 0,0 5 29 0 14,7 85,3 0,0 7 33 1 17,1 80,5 2,4 0,7841 3 25 10,7 89,3 4 33 10,8 89,2 3 31 8,8 91,2 14 27 34,2 65,8 0,0078 0 0,0 28 100,0 1 36 2,7 97,3 0 34 0,0 100,0 5 36 12,2 87,8 0,0260 Obesidade n % Tabela 4. Variáveis neonatais estabelecidas segundo as categorias de IMC. Passo Fundo, setembro a dezembro 2006. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 28 Obesidade gestacional e suas repercussões na saúde materno-infantil No presente estudo, o aparecimento da préeclâmpsia teve relação com a obesidade, pois 75% dos casos desta patologia se desenvolveram em obesas, com um valor esta+s!co significa!vo (p=0,0028). A prevalência de 4,3% de diabetes mellitus gestacional na população estudada está de acordo com a literatura sobre o assunto, que descreve esta prevalência de 7,6%, podendo variar de 1 a 14%12,13,14. Embora não se encontrou diferença esta!s!camente significa!va entre diabetes gestacional e obesidade neste estudo (p=0,42), a maioria dos casos foi observada nos grupos de sobrepeso e obesidade, com 33,3% e 50,0%, respec!vamente. Este achado reafirma o pressuposto que um sobrepeso e/ou obesidade durante o período gestacional é um fator de risco para o desenvolvimento do diabetes gestacional. Um estudo realizado na Espanha, com 2.574 gestantes, encontrou a obesidade (IMC ≥30kg/m²) como um dos maiores fatores de risco para o diabetes mellitus gestacional, com uma prevalência de 14,3% (IC 95% 8,83-21,41). Em relação ao sobrepeso (IMC >27-30 kg/m²), a prevalência foi de 3,83% (IC 95% 1,55-7,72)15. O sexo das crianças não demonstrou diferença significa!va (p=0,573). Os Grupos 2, 3 e 4 !veram na maioria crianças do sexo masculino (54,1%, 55,9% e 51,2%, respec!vamente). Enquanto o Grupo 1 teve 60,7% de crianças do sexo feminino. Em relação ao comprimento, perímetros cefálico e torácico, foram comparadas as médias dos grupos de peso adequado com obesidade e não foi observada diferença esta+s!ca (p=0,9467 para comprimento; p=0,8692 para o perímetro cefálico e, p=0,2843 para o perímetro torácico). As médias e os desvios-padrão podem ser observados na Tabela 3. Com relação ao peso de nascimento dos bebês das mães obesas, a média foi de 3126 ± 711,7 g. Na classificação do peso ao nascer (Tabela 4), a maioria (63,4%) teve peso normal, 17,1% !veram peso insuficiente, 12,2% eram de baixo peso, 4,9% apresentaram muito baixo peso e, apenas 1 (2,4%), apresentou macrossomia. Porém, observa-se que dos 6 casos de macrossomia encontrados no presente estudo, 4 (66,7%) foram de recém-nascidos de mães com sobrepeso (3) e obesidade (1). Esta prevalência de 66,7% de macrossomia em mães com sobrepeso e obesidade pode caracterizar a associação entre excesso de peso e nascimento de bebês macrossômicos. Outros estudos também encontraram a maior incidência de macrossomia em mulheres com obesidade7,10,11,16. Quanto à idade gestacional ao nascimento, não houve diferença significa!va. Dos recém-nascidos de mães com obesidade, 80,5% (33) nasceram a termo, 17,1% (7) nasceram pré-termo e, 2,4% (1) pós-termo. A maioria dos casos de nascimento pré-termo observados foi de crianças de mães obesas (Tabela 4). Pela avaliação clínica dos recém-nascidos através do Índice de Apgar no 1° e 5° minutos, observou-se diferença significa!va (p<0,05). Dos 24 recémnascidos em que o Apgar no 1° minuto se apresentou ≤ 7, 14 (58,3%) eram de mães obesas. Em relação ao Apgar no 5° minuto, um total de 6 recém-nascidos apresentaram um valor ≤ 7, sendo 5 (83,3%) de mães obesas (Tabela 4). Resultados semelhantes também foram vistos em outros estudos2,8,17. A análise deste estudo aponta uma alta prevalência de parto cesárea em obesas, além de maior freqüência no desenvolvimento de complicações gestacionais e menor qualidade de vida para o recém-nascido, reafirmando que a obesidade gestacional, seja ela adquirida no período prégestacional ou mesmo durante a gestação, exibe uma variedade de riscos para o binômio mãe-filho. No entanto, novas pesquisas devem ser realizadas para analisar até que ponto estes riscos evidenciados poderiam ser minimizados com uma assistência nutricional pré-natal altamente qualificada. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 29 Obesidade gestacional e suas repercussões na saúde materno-infantil REFERÊNCIAS 1. Cuppari L. Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto. 2 ed. São Paulo: Manole, 2005. 2. Gal!er-Dereure F, Boegner C, Bringer J. Obesity and pregnancy: complica!ons and cost. Am J Clin Nutr 2000; 71(suppl): 1242–800. 3. Sebire N J, Jolly M, Harris J P, Wadsworth J, Joffe M, Beard R W, Regan L, Robinson S. Maternal obesity and pregnancy outcome: a study of 287 213 pregnancies in London. Interna!onal Journal of Obesity 2001; 25: 1175-1182. 4. Cedergren M I. Maternal Morbid Obesity and the Risk of Adverse Pregnancy Outcome. Obstet Gynecol 2004; 103 (2): 21924. 5. Atalah E S, Castro R S. Obesidad materna y riesgo reproduc!vo. Rev Méd Chile 2004; 132: 923-930. 6. Ministério da Saúde. Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN: Orientações básicas para a coleta, o processamento, a análise de dados e a informação em serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 7. Nucci L B, Scmidt M I, Duncan B B, Fuchs S C, Fleck E T, Bri% o M M S. Nutri!onal status of pregnant women: prevalence and associated pregnancy outcomes. Rev Saúde Pública 2001; 35 (6): 502-507. 8. Valen! E A, Sciamanna D E, Herrera V A, Dörfler K A, Bonavera F. Riesgo de operación cesárea en pacientes obesas con embarazos de término. Rev. Hosp. Mat. Inf. Ramón Sarda 2001; 20 (3): 105-109. 9. Seligman L C, Duncan B B, Branchtein L, Gaio D S M, Mengue S S, Schmidt M I. Obesity and gesta!onal weight gain: cesarean delivery and labor complica!ons. Rev Saúde Pública 2006; 40 (3): 457-465. 10. Baeten J M, Bukusi E A, Lambe M. Pregnancy Complica!ons and Outcomes Among Overweight and Obese Nulliparous Women. Am J Public Health 2001; 91 (3): 436-440. 11. Wendland E M D R, Duncan B B, Mengue S S, Nucci L B, Schmidt M I. Waist circumference in the predic!on of obesityrelated adverse pregnancy outcomes. Cad. Saúde Pública 2007; 23 (2): 391-398. 12. Accioly E, Saunders C & Lacerda E M A. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 3 ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2005. 13. Freitas F, Mar!ns-Costa S H, Ramos J G L & Magalhães J A. Ro!nas em Obstetrícia. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 14. Maganha C A, Vanni D G B S, Bernardini, M A, Zugaib M. Tratamento do Diabetes Melito Gestacional. Rev Assoc Med Bras 2003; 49 (3): 330-334. 15. Moleón J J J, Cavanillas A B, Cas!llo J D L, Mar+n M G, Claret P L, Vargas R G. Prevalence of gesta!onal diabetes mellitus: varia!ons related to screening strategy used. European Journal of Endocrinology 2002; 146: 831–837. 16. Kac G, Velásquez-Meléndez G. Ganho de peso gestacional e macrossomia em uma coorte de mães e filhos. J Pediatr 2005; 81 (1): 47-53. 17. Stepan H, Scheithauer S, Dornhöfer N, Krämer T, Faber R. Obesity as an obstetric risk factor: does it ma% er in a perinatal center? Obesity 2006; 14 (5): 770-773. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 30 Ar!go Original Avaliação da função pulmonar em pacientes subme!dos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares P ULMONARY F UNCTION A SSESSMENT IN P ATIENTS S UBMITTED TO M YOCARDIAL R EVASCULARIZATION S URGERY WITH OR WITHOUT E XTRACORPOREAL C IRCULATION: P RELIMINARY R ESULTS RESUMO A Cirurgia de Revascularização do Miocárdio (CRM), na maioria das vezes, causa prejuízo na função pulmonar, uma vez que se trata de uma cirurgia de grande porte e com toracotomia. Além disso, as alterações da função pulmonar em pacientes subme!dos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea podem ser, em grande parte, responsáveis pela morbidade desses pacientes. Dessa forma, avaliar e comparar a função pulmonar em pacientes subme!dos à CRM com e sem o uso de circulação extracorpórea (CEC), foi o obje!vo geral do presente estudo. A pesquisa caracterizou-se por um estudo quasi experimental analí!co, composto por 18 pacientes subme!dos a CRM com e sem CEC, internados no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP). Todos os pacientes foram subme!dos à avaliação da função pulmonar. Registros espirométricos da capacidade vital forçada (CVF) e do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) foram ob!dos no pré, 1°, 3° e 5° dias de pós-operatório (PO). Houve uma queda da função pulmonar do pré para o 1° PO, com aumento, mas não retorno, dos valores pré-operatório no 5° PO, independente da u!lização ou não da CEC. Dessa forma, pacientes subme!dos à CRM, independentemente do uso da CEC, apresentaram comprome!mento da função pulmonar no período PO. Entretanto, os pacientes operados sem o uso de CEC demonstraram melhor preservação da função pulmonar quando comparados aos que foram operados com CEC. Unitermos: Cirurgia de revascularização miocárdica, circulação extracorpórea, espirometria. ABSTRACT Bárbara Timm Simone Regina Posser Camila Pereira Leguisamo Chris!ano da Silveira Barcellos Faculdade de Educação Física e Fisioterapia, Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo(RS). Correspondência: Camila Pereira Leguisamo Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] Myocardial Revasculariza!on Surgery (MRS) most o'en causes hazards to thepulmonary func!on, since it is a major surgery with thoracotomy. Moreover, the altera!ons inpulmonary func!on of pa!ents submi% ed to heart surgery with extracorporeal circula!on may be greatly responsible for the morbidity of these pa!ents. Thus, the main goal of this study was to evaluate and compare the pulmonary func!on of pa!ents submi% ed to MRS with and without the use of extracorporeal circula!on (ECC). The research was characterized by a quasiexperimental analy!cal study including 18 pa!ents submi% ed to MRS with and without ECC,admi% ed in the São Vicente de Paulo Hospital (HSVP). All pa!ents were submi% ed to a pulmonary func!on assessment. Spirometric measurements of the forced vital capacity (FVC), and the forced expiratory volume in one second (FEV1)were obtained at preopera!ve, on the 1st, 3rd, and 5th post-opera!ve days. There was a decrease in pulmonary func!on from preopera!ve to the 1st post-opera!ve day, followed by an increase - but no return, of the preopera!ve values in the 5th post-opera!ve day, regardless of the use or not of ECC. Hence, pa!ents submi% ed toMRS presented a compromisedpulmonary func!on in the post-opera!ve period, regardless of the use of ECC. However, pa!ents operated without the use of ECCshowed be% er preserva!on of pulmonary func!on when compared to the ones operated with ECC. Keywords: Myocardial revasculariza!on surgery, extracorporeal circula!on, spirometry. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 31 Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares. As doenças cardiovasculares na realidade brasileira atual ocupam a liderança das causas de óbito e internação, correspondendo a 32,6% dos óbitos com causa determinada 1 . Nas úl!mas décadas, tem aumentado, significa!vamente, o número de pacientes com enfermidades cardiovasculares que necessitam de cuidados cirúrgicos 2 . Apesar das inúmeras alterna!vas para o tratamento da doença arterial coronariana (DAC), a Cirurgia de Revascularização Miocárdica (CRM) é uma opção com indicações precisas e com bons resultados a médio e longo prazo, proporcionando a remissão dos sintomas anginosos e contribuindo para o prolongamento e melhora da qualidade de vida de pacientes portadores de doença coronariana3,4. A Cirurgia de Revascularização do Miocárdio, na maioria das vezes, causa prejuízo na função pulmonar, uma vez que se trata de uma cirurgia de grande porte, com grande agressão tecidual, podendo estar associada a complicações pulmonares no pósoperatório, tais como atelectasia, pneumonia e retenção de secreções5. O grau de alteração funcional pulmonar depende de vários fatores, como a função pulmonar préoperatória, o !po de cirurgia, o tempo de circulação extracorpórea, a intensidade da manipulação cirúrgica, o número de drenos pleurais colocados e o tempo de cirurgia6,7. As alterações da função pulmonar em pacientes subme!dos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea podem ser, em grande parte, responsáveis pela morbidade desses pacientes7,8. Assim, avaliar e comparar a função pulmonar em pacientes subme!dos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem o uso de circulação extracorpórea (CEC) foi o obje!vo geral da presente pesquisa. Para tanto, os obje!vos específicos compreenderam: mensurar e comparar o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e a capacidade vital foçada (CVF) no pré-operatório, 1º, 3º e 5º dias de pós-operatório, verificar e comparar o tempo de hipotermia, sala cirúrgica, permanência em ven!lação mecânica (VM) e de internação hospitalar, além de observar possíveis associações entre fator de risco cirúrgico e o uso ou não de CEC. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa caracterizou-se por um estudo quasi experimental analí!co, composto por indivíduos subme!dos à CRM com uso ou não de CEC, no período de fevereiro a maio de 2006, internados no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), na cidade de Passo Fundo-RS. Amostra Fizeram parte da pesquisa 18 pacientes subme!dos à CRM com e sem o uso da CEC, conforme avaliação clínica pré-operatória do cirurgião cardiovascular responsável, de ambos os sexos, diferentes idades e cor de pele. O projeto de pesquisa do presente estudo foi primeiramente enviado e aprovado pelo Comitê de É!ca e Pesquisa do HSVP. Após, foi encaminhado ao Comitê de É!ca da Universidade de Passo Fundo, na cidade de Passo Fundo/RS, obtendo aprovação. Posteriormente, foi lido e entregue aos pacientes, individualmente, o termo de consen!mento livre e esclarecido, elucidando de forma bem clara e obje!va os procedimentos envolvendo a pesquisa, riscos e bene, cios para sua autorização de par!cipação. Esse termo foi realizado em duas vias de igual teor, permanecendo uma em posse do paciente e outra, em posse das autoras. Foi critério de exclusão desse estudo pacientes subme!dos à cirurgia de revascularização do miocárdio de emergência ou com outros procedimentos cirúrgicos associados, como valvuloplas!as, pacientes com déficit neurológico ou cogni!vo, e pacientes que se negaram a assinar o termo de consen!mento livre e esclarecido ou que exerceram seu direito de desis!r, a qualquer momento, de sua par!cipação na presente pesquisa. Na amostra, em questão, nenhum paciente foi excluído. Pré-operatório Foi preenchida uma ficha de avaliação detalhada no período pré-operatório, em que foram ob!dos dados de iden!ficação do paciente e fatores de risco para complicação pulmonar. Foram considerados obesos os pacientes com IMC acima de 30 Kg/m2, conforme a OMS. Com relação à história de tabagismo, considerou-se tabagista os pacientes com história de tabagismo prévio. Já os pacientes que negaram o uso de cigarro por toda sua vida foram considerados como nãotabagistas. Em seguida, foi realizada a avaliação da função pulmonar, através da espirometria. Os índices Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 32 Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares. verificados foram o volume expiratório forçado no 1º segundo (VEF1) e capacidade vital forçada (CVF). Os registros foram ob!dos no pré, 1º, 3º e 5º dias de PO. Para análise da função pulmonar, foi u!lizado um espirômetro simples, modelo digital da marca CLEMENT-CLARK VM 1ATS® e bucais individualizados e descartáveis com 3 cm de diâmetro. Intra-opratório A CRM foi realizada através de esternotomia mediana, com uso de enxerto de ATIE (artéria torácica interna esquerda) e pleurotomia esquerda, complementada com pontes adicionais de veia safena. A técnica anestésica empregada seguiu a ro!na dos serviços. Todos os pacientes foram ven!lados com volume corrente de 8 a 10 ml/kg, com pressão posi!va expiratória final (PEEP) e FiO2 de 100%. Nos pacientes do grupo com CEC, a circulação extracorpórea foi instalada com canulação de aorta ascendente e drenagem venosa através da cava única atrial, após heparinização sistêmica com 4mg/kg, repe!da de acordo com o TCA (tempo de coagulação a!vado), com obje!vo de mantê-lo acima de 450 segundos. Em todos os casos, foi usado oxigenador de membrana. A proteção miocárdica foi realizada pela u!lização de cardioplegia sangüínea hipotérmica anterógrada intermitente, associada a hipotermia leve (aproximadamente 34ºC). Nos pacientes operados sem CEC, foi seguida a técnica do serviço, com heparinização sistêmica (2mg/kg). A oclusão da artéria coronária foi ob!da com uso de garrote proximal com fios elás!cos. Posteriormente, dependendo do enxerto, foi realizado pinçamento lateral da aorta ascendente para confecção da anastomose proximal. Estabilizador de sucção Octopus® 3 (Medtronic, Inc®) foi u!lizado em todos os casos. O espaço pleural esquerdo foi drenado com dreno tubular reto de PVC inserido e exteriorizado na intersecção do sexto espaço intercostal esquerdo com a linha axilar média. Em todos os pacientes, também foi deixado um dreno tubular medias!nal exteriorizado por via subxifóide, ou pleural direito. Pós-operatório Terminada a cirurgia, os pacientes foram conduzidos ao Centro de Terapia Intensiva Cardiológica, sob intubação orotraqueal (IOT). Inicialmente, foram ven!lados com FiO2 de 100%, volume corrente de 8 a 10ml/Kg, PEEP de 5cmH2O e extubados de acordo com o protocolo da unidade. Os critérios de extubação u!lizados foram: nível de consciência (EMV) entre 8 e 15, pressão inspiratória máxima (PImáx) entre 20 e 30cmH2O e ausência de distúrbios do equilíbrio acidobásico através de análise gasométrica. Os dois grupos foram reavaliados em relação à função pulmonar no 1º, 3º e 5º dias de PO. Limitação do estudo Os pacientes par!cipantes de ambos os grupos receberam atendimento fisioterapêu!co pela equipe de profissionais do hospital, cabendo-lhes intervir livremente. Não houve acompanhamento do número de atendimentos fisioterapêu!cos realizados pela equipe de fisioterapia, na amostra subme!da durante o tempo de internação. Sendo assim, a pesquisa foi uma intervenção adicional, sem interferir na ro!na hospitalar. Análise esta#s$ca As variáveis con+nuas foram descritas através de média e desvio padrão e as variáveis categóricas foram descritas através de tabelas de freqüência com proporções. Foi eleito o teste de KrusKal Wallis a fim de comparar as variáveis nos quatro momentos dis!ntos. Foi u!lizada análise de variância para medidas repe!das com o obje!vo de comparar as alterações no teste de função pulmonar entre pré, primeiro, terceiro e quinto dias de pós-operatório. Em todas as comparações foi considerado um alfa crí!co de p £ 0,05. RESULTADOS Fizeram parte deste estudo 18 pacientes, sendo 09 homens (50%) e 09 mulheres (50%). Destes, 10 pacientes foram subme!dos à CRM sem CEC e 08 com CEC. Todos apresentaram diagnós!co clínico de cardiopa!a isquêmica. A fim de testar a normalidade dos dados, foi u!lizado o teste Kruskal Wallis com significância de p £ 0,05. A média de idade foi de 61,63 anos para o grupo com CEC e 55,40 anos, para o grupo sem CEC (p= 0,593); a média de altura foi de 160,63 cm para o Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 33 Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares. grupo com CEC e 165,60 cm, para o grupo sem CEC (p= 0,285); a média de peso foi de 71, 38 Kg para o grupo com CEC e 76,00 Kg, para o grupo sem CEC (p= 0,534); e o IMC obteve média de 26,41 Kg/m2 para o grupo com CEC e 28,44 Kg/m2, para o grupo sem CEC (p= 0,131). Para todas as variáveis analisadas, não se obteve diferença significa!va (p £ 0,05), (Tabela 1). Em relação aos fatores de risco para complicação pulmonar (Tabela 2), 3 dos pacientes do sexo masculino e 5 do sexo feminino fizeram uso de CEC; já para o grupo que não u!lizou CEC, 6 eram do sexo masculino e 4 do sexo feminino (p= 0,637). Para a variável idade avançada, 1 paciente realizou CRM com CEC e 7 não u!lizaram CEC, sendo que tais pacientes apresentavam idade inferior a 65 anos; já para o grupo sem CEC, 6 pacientes apresentavam idade avançada (p= 0,066). Para a variável obesidade, 1 paciente do grupo que u!lizou CEC foi considerado obeso e 7 pacientes, não, e para o grupo sem CEC, 3 pacientes foram considerados obesos (p= 0,588). Para o variável tabagismo, 5 pacientes tabagistas faziam parte do grupo que u!lizou CEC e 3 não apresentavam história de tabagismo; para o grupo que não u!lizou CEC do total de 10 pacientes 3 eram tabagistas (p= 0,342). A média de hipotermia foi de 34,13 ± 0,35 para o grupo com CEC, e de 35,10 ± 0,32 graus cen+grados para o grupo sem CEC (p= 0,000). O tempo de sala cirúrgica foi de 4,72 ± 1,06 horas em média para o grupo com CEC, 3,50 ± 0,62 horas para o grupo sem CEC (p= 0,012). A média do tempo de VM foi de 15,38 ± 13,62 horas para o grupo com CEC, e de 8,40 ± 7,69 horas para o grupo sem CEC (p= 0,074). Já o tempo de internação hospitalar foi de, em média, 11,13 ± 7,14 dias para o grupo com CEC, e 10,0 ± 5,44 dias para o grupo sem CEC (p= 0,560) (Tabela 3). A análise desses resultados mostrou diferença significa!va para temperatura de hipotermia (p = 0,000) e tempo de sala cirúrgica (p = 0,012) entre ambos os grupos. O gráfico 1 demonstra os valores espirométricos, em que o valor médio da CVF, ob!do pela espirometria, no período pré-operatório, foi de 1,8388 ± 0,6675 l/min para o grupo com CEC e 3,3933 ± 1,3236 l/min para o grupo sem CEC (p= 0,016); no primeiro dia pós-operatório a média foi de 0,6738 ± 0,3484 l/min para o grupo com CEC e 1,0000 ± 0,4732 l/min para o grupo sem CEC (p= 0,149); no terceiro dia de pós-operatório a média foi de 0,946 ± 0,367 l/min para o grupo com CEC e 1,919 ± 1,284 l/min para o grupo sem CEC (p= 0,110); no quinto dia de pós- operatório, a média foi de 1,2250 ± 1,0966 l/min para o grupo com CEC e 1,1500 ± 0,6499 l/min para o grupo sem CEC (p= 0,656). Com a análise dos dados iden!ficados, observou-se diferença significa!va (p=0,016) quando comparado os grupos com e sem CEC no período pré – operatório. O valor médio de VEF1 ob!do no pré-operatório foi de 1,5425 ± 0,6152 l/min para o grupo com CEC e 2,3622 ± 1,4875 l/min para o grupo sem CEC (p= 0,286); no primeiro dia de pós – operatório a média foi 0,5038 ± 0,3284 l/min para o grupo com CEC e 0,7122 ± 0,3710 l/min para o grupo sem CEC (p= 0,112); no terceiro dia de pós –operatório a média foi 0,6563 ± 0,2326 l/min e 1,3811 ± 0,8424 l/min para o grupo sem CEC (p= 0,051); no quinto dia de pós – operatório a média foi de 1,3950 ± 1,1439 l/min para o grupo com CEC e 1,9622 ± 1,2811 l/min para o grupo sem CEC (p= 0,214). Com esses dados, pôde-se observar que não houve diferença significa!va entre os valores médios de VEF1. DISCUSSÃO O presente estudo demonstrou que os grupos com e sem CEC não apresentaram diferença esta!s!camente significa!va em relação à idade, altura, ao sexo, peso e índice de massa corporal (IMC). Resultados semelhantes foram descritos por Guizilini et al.9 e Iglézias et al.10. Alterações na função pulmonar ocorrem em todos os pacientes após horas do processo cirúrgico11. A diminuição de volumes e capacidades pulmonares foi demonstrada, nesse estudo, através de uma redução dos seus valores do pré ao quinto dia de pósoperatório nos grupos com e sem CEC, quando analisados isoladamente. Entretanto, quando comparados os grupos observou-se diferença significa!va (p =0,016) apenas para os valores médios de CVF no período pré-operatório. Na literatura pesquisada, não foi encontrado estudo que comparasse esse achado. Já para os outros valores médios de CVF e VEF1 analisados, não foi encontrada diferença significa!va (p< 0,05). Parâmetro Idade Altura Peso IMC *p £ 0,05 CEC n = 08 61,63 160,63 71,38 26,41 Sem CEC n = 10 55,40 165,60 76,00 28,44 P 0,593 0,285 0,534 0,131 Figura 1. Perfil dos pacientes submetidos à CRM com e sem CEC. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 34 Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares. Fatores de risco Sexo Masculino Feminino Idade avançada Sim Não Obesidade Sim Não Tabagismo Sim Não * p £ 0,05. CEC n = 08 Sem CEC n = 10 Período Transoperatório 3 5 6 4 0,637 Temperatura de hipotermia 34,13 ± 0,35 35,10 ± 0,32 0,000* 1 7 6 4 0,066 Tempo de Sala Cirúrgica 4,72 ± 1,06 1 7 3 7 0,588 5 3 3 7 0,342 p CEC Sem p CEC 3,50 ± 0,62 0,012* Tempo de VM 15,38 ± 13,62 8,40 ± 7,69 0,074 Tempo de internação hospitalar 11,13 ± 7,14 10,0 ± 5,44 0,560 *p £ 0,05. Figura 2. Fatores de risco para complicação pulmonar. Figura 3. Variáveis transoperatórias e tempo de internação hospitalar. 9 Confirmando achados de estudos anteriores , o presente estudo demonstrou que há uma maior alteração da função pulmonar em pacientes que realizaram CRM com u!lização de CEC, exceto no 5º dia de pós-operatório. O grupo sem CEC apresentou menor queda da função pulmonar. A CRM com u!lização de CEC, embora seja considerada como “padrão ouro” no tratamento da insuficiência coronariana mul!arterial, tem sido ul!mamente bastante ques!onada devido aos efeitos deletérios 12,13 da CEC . O seu uso acompanha-se de certa morbidade e, em algumas situações clínicas, associa-se a maior incidência de morbimortalidade pósoperatória, devido à reação inflamatória sistêmica 14,15,16,17 por ela ocasionada . A CEC tem demonstrado potencializar a lesão e o retardo na recuperação da função respiratória, produzindo aumento da permeabilidade endotelial e lesão parenquimatosa pulmonar, contribuindo para o surgimento de atelectasias, aumento do shunt, redução da complacência pulmonar e troca gasosa. Estudos relatam experiências com cirurgia sem CEC, reafirmando os resultados favoráveis em relação a melhor preservação da função pulmonar, e diminuição da morbidade pósoperatória9. A redução dos volumes pulmonares pode ser observada, principalmente, do pré para o primeiro pós-operatório, com aumento, mas não retorno, dos valores pré-operatório no 6º pós-operatório, o que demonstra, também11,18. As manifestações clínicas da disfunção pulmonar, após a cirurgia cardíaca com o uso de CEC, estariam presentes, no geral, até o 6º pós-operatório19. Na pesquisa em questão, o tempo médio de sala cirúrgica foi de 4,72 ± 1,06 horas para o grupo com CEC, e de 3,50 ± 0,62 horas para o grupo sem CEC. Houve, assim, diferença esta!s!camente significa!va (p= 0,012) entre os grupos. Sabe-se que com os avanços nos cuidados pré-operatórios, técnicas cirúrgicas, materiais e métodos para u!lização da CEC, os pacientes indicados para este procedimento são mais graves, além de que, na CEC, são u!lizadas uma série de circuitos (canulação) para a filtração de leucócitos, levando um maior tempo para colocação e posterior re!rada destes aparatos 20 . Em estudo realizado, foram comparados o tempo de sala cirúrgica e CEC em pacientes subme!dos à CRM, pôde-se observar que o tempo de permanência em sala cirúrgica foi maior nos pacientes que u!lizaram a CEC21. As alterações pulmonares causadas pela CEC, provavelmente, interferiram para que a amostra subme!da à cirurgia com tal aparato apresentasse maior dependência de VM19. Esse achado também foi visto no estudo em tela, em que o tempo médio de permanência em VM foi maior (15,38 ± 13,62 horas) para o grupo com CEC e menor (8,40 ± 7,69 horas) para o grupo sem CEC. Segundo Lima et al.22, o tempo médio de ven!lação pós-operatória foi menor na operação sem CEC (± 3 horas e 48 minutos), confirmando, assim, o achado. Na pesquisa, o tempo médio de hipotermia foi de 34,13 ± 0,35 graus cen+grados para o grupo com CEC, e de 35,10 ± 0.32 graus cen+grados para o grupo sem CEC. Houve, assim, diferença significa!va (p= 0,000) no tempo de hipotermia do grupo com CEC, quando comparado ao grupo sem CEC. Na literatura pesquisada, não foi encontrado estudo que comparasse a Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 35 Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares. esse achado do período transoperatório. Entretanto, o impacto da temperatura durante a cirurgia de revascularização do miocárdio sobre a função intrapulmonar têm sido controverso23. Em um estudo, observaram redução dos valores de função pulmonar no grupo normotérmico, indicando que normotermia pode preservar a função pulmonar após a CRM24. O tempo de hospitalização foi menor nos 22 pacientes operados sem CEC (p< 0,05) . Em seu estudo, também afirmaram que o tempo médio de permanência hospitalar foi de 21,7 dias para o grupo com CEC e de 11, 7 dias para o grupo sem CEC. Esses achados foram constatados no estudo em questão, em que o tempo de internação do grupo que u!lizou a CEC foi maior quando comparado aos que não a u!lizaram. Porém, não se observou diferença 10 esta!s!camente significa!va (p=0,560) . As complicações pulmonares pós-operatórias s ã o u m a fo n t e s i g n i fic a !v a d e m o r b i d a d e e mortalidade no pós-operatório, sendo resultado de uma complexa interação de fatores de risco clínicos associados principalmente ao !po de procedimento 25,26,27 cirúrgico realizado . Quando avaliados os fatores 3,5 3,3933 3 2,5 2 2,3622 1,9622 1,919 1,8388 1,5425 1,3811 1,5 1 1 0,6738 0,5 0,946 0,7122 0,5038 0,6563 0 CEC Sem CEC 1,225 1,15 1,395 de risco para complicação pulmonar, observou-se que, entre as variáveis sexo, idade avançada, obesidade e tabagismo, não houve diferença esta!s!camente significa!va quando comparados os grupos com e sem CEC. Contribuem para a disfunção pulmonar condições prévias como doença pulmonar obstru!va brônquica (DPOC), tabagismo, obesida28 de . Realizou-se um estudo retrospec!vo e compara!vo entre pacientes operados com e sem CEC, que não mostrou diferença esta+s!ca entre os dois g r u p o s e m re l a çã o a o s fato re s d e r i s co p ré 22 operatório . Observou-se um maior número de tabagistas no grupo com CEC, o que também foi 10 observado no estudo em tela . CONCLUSÃO Com o presente estudo, verificou-se que há queda da função pulmonar do pré para o primeiro pós-operatório, com aumento, mas não retorno, dos valores pré-operatório no 5º pós-operatório, independente da u!lização ou não de CEC. Quando analisadas as variáveis, tempo de ven!lação mecânica e internação hospitalar, não foi observada relevância esta+s!ca entre elas. Já os valores médios de hipotermia no trans-operatório apresentaram-se menores nos pacientes que u!lizaram a CEC, com um tempo de permanência em sala cirúrgica maior neste mesmo grupo. Há carência na literatura consultada que traga essa relação, pois se observaram as variáveis sendo estudadas de forma isolada. Assim, fazem-se necessários estudos com um número de par!cipantes maior, que analisem as relações de CRM com u!lização e não da CEC, função pulmonar, variáveis transoperatórias e fatores de risco cirúrgico. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. ALMEIDA, Fernanda F. et al. Fatores preditores da mortalidade hospitalar e de complicações pré-operatórias graves em cirurgia de revascularização Miocárdica. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v.80, n.01, p.41-50, 2003. REGENGA, Marisa de Moraes. Fisioterapia em cardiologia: da unidade de terapia intensiva à reabilitação. São Paulo: Roca, 2000. ALMEIDA, Rui M. S. et al. Revascularização do miocárdio em pacientes após a oitava década de vida. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, São Paulo, v.17, n.02, p.116-122, abr./jun., 2002. WAJNARTEN, M. Cirurgia de revascularização do miocárdio em paciente de 87 anos de caso, relato de caso. Revista Brasileira de Cardiologia do Estado de São Paulo, São Paulo, v.14, n.05, p.1-7, set./out., 2004. WALDHAUSEN, P. J & ORRINGER, M. B. Complica!on in Cardiothoracic Surgery. Saint Luis: Mosby Year Book, 1991. HIGGINS T. L. et al. Stra!fica!on of morbidity and mortality outcome by preopera!ve risk factors coronary artery bypass pa!ents. JAMA, [S.l], v.267, p.2344-2348, 1992. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 36 Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea: resultados preliminares. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. BARBOSA, Ricardo A. G.; CARVALHO, Maria J. Avaliação da função pulmonar em pacientes subme!dos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea. Revista de Anestesiologia, São Paulo, v.52, n.06, p.689-699, 2002. VAN BELLE, A. F., WESSELING, G. J., WOUTERS, E. F. M. et al. Postopera!ve pulmonary func!on abnormali!es a'er coronary artery by pass surgery. Respiratory Medicine, [S.l], v.86, p.195-199, 1992. GUIZILINI, Solange et al. Avaliação da função pulmonar em pacientes subme!dos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, São Paulo, v.20, n.03, p.310316, 2005. IGLÉZIAS, José C. R. et al. Revascularização do miocárdio no paciente idoso – com ou sem circulação extracorpórea? Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, v.18, n.04, p.321-325, 2003. LEGUISAMO, Camila Pereira; KALIL, Renato; FURLANI, Ana Paula. A efe!vidade de uma proposta fisioterapêu!ca préoperatória para cirurgia de revascularização do miocárdio. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, v.20, n.02, p.134141, abr./jun., 2005. PINHEIRO, Bruno B. et al. Revascularização do miocárdio sem circulação extracorpórea em pacientes mul!arteriais: experiência de 250 casos. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, São Paulo, v.17, n.03, p.242-247, jun./ set., 2002. MILANI, Rodrigo et al. Revascularização total do miocárdio sem circulação extracorpórea: cinco anos de experiência. Jornal Brasileiro, v.20, n.01, p.52-57, jan./mar., 2005. NAVIA, Daniel et al. Cirurgia coronária com condutos arteriais múl!plos sem circulação extracorpórea. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, São Paulo, v.20, n.01, p.39-45, 2005. MATATA, B. M.; SOSNOWSKY, A. W.; GALINANES, M. Coronary artery bypass gra'surgery off-pump on the bea!ng heart abolishs inflanna!on and oxida!ve stress. Ar!f Organ, [S.l], v.23, p.662-663, 1999. BELUDA, Fernanda A.; BERNASCONI, Renata. Relação entre força muscular respiratória e circulação extracorpórea com complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Revista da Sociedade de Cardiologia de Estado de São Paulo, São Paulo, v.14, n.05(supl. A), set./out., 2004. LIMA, Ricardo C. et al. Resultados cirúrgicos na revascularização do miocárdio sem circulação extracorpórea: análise de 3.410 pacientes. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, vol.18, n.03, p. 261-267, 2003. GUIZILINI, Solange et al. Efeitos do local de inserção do dreno pleural na função pulmonar no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, São Paulo, v.19, n.01, p.47-54, 2004. FANELLI, A.; SOFIA, R. R. Estudo compara!vo de pacientes subme!dos a cirurgia cardíaca com e sem circulação extracorpórea, quanto ao tempo de intubação orotraqueal. Revista de Fisioterapia UNICID, São Paulo, v.01, n.01, p.45-52, jan./jun., 2000. SILVA, Luiz Henrique F. et al; Revascularização do miocárdio em idosos. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, São José do Rio Preto v.12, n.02, abr./jun., 1997. DAVIDSON, Josy; VELLOSO, Marcelo. Importância da fisioterapia pneumofuncional para a re!rada da ven!lação pulmonar mecânica dos pacientes subme!dos à cirurgia de revascularização do miocárdio. Revista da Sociedade de Cardiologia de Estado de São Paulo, São Paulo, v.13, n.05(supl. A), set./out., 2003. LIMA, Ricardo et al. Revascularização miocárdica em pacientes octogenários: estudo retrospec!vo e compara!vo entre pacientes operados com e sem circulação extracorpórea. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, vol.20, n.01, p.0813, 2005. CALVIN, S. H.; ANTHONY, P. C. Pulmonary Dysfun!on A'er Cardiac Surgery. Chest, v.121, n.04, p.1269-1277, abr., 2002. BIRDI, Regragui I. A., et al. Effects of cardiopulmonary bypass temperature on pulmonarygas exchange a'er coronary artery opera!ons. Ann Thorac Surg, n. 61, p. 118-123, 1996. FERREIRA, F. R. et al. Ven!lação não invasiva no pós-operatório de cirurgias abdominais e cardíacas – revisão de literatura. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Paulo, v.06, n.02, p.47-54, 2002. FARESIN, S. M. et al. Aplicabilidade da escala de Torrington e Henderson. Revista da Associação Medica Brasileira, [S.l], v.46, n.02, p.159-165, 2000. BARBOSA, Ricardo A. G.; CARVALHO, Maria J. Avaliação da função pulmonar em pacientes subme!dos à Cirurgia Cardíaca com Circulação Extracorpórea. Revista de Anestesiologia, São Paulo, v.52, n.06, p.689-699, 2002. SAAD, I. A. B. & ZAMBOM, L. Variáveis clínicas de risco pré-operatório. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v.47, n.02, abr./jun., 2001. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 37 Ar!go de Revisão Asma na Infância CHILDHOOD ASTHMA RESUMO A asma é uma doença das vias aéreas onde a inflamação é o fator primário e secundariamente a ela surgem a hiperreatividade brônquica e a obstrução do fluxo aéreo. O principal fator predisponente é a atopia, onde o processo inflamatório é desencadeado após o contato com antígenos e resulta em secreção de muco, edema de mucosa e broncoespasmo. Os sintomas da asma são decorrentes da obstrução da vias aéreas e podem variar de acordo com a gravidade da crise. Comumente estão presentes: dispnéia, sibilos e tosse. O tratamento visa à prevenção, resolução das crises e a melhora da saúde geral da criança através de fármacos e fisioterapia que têm como objetivo mais importante proporcionar à criança uma melhor qualidade de vida. Este estudo teve como objetivo estabelecer os conceitos atuais sobre a asma na infância e o papel da fisioterapia na reabilitação deste paciente. Unitermos: Asthma, infância, fisioterapia. Luísa E. Dariz Viviane Rech Curso de Fisioterapia, Faculdade de Educação Física e Fisioterapia, Universidade de Passo Fundo (RS). Correspondências: Viviane Rech Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] ABSTRACT Asthma is an airway disease, which primary factor is inflammation, followed by the emergence of bronchial hyperreactivity and airflow obstruction. Atopy is the main predisposing factor, and the inflammatory process is developed after contact with antigens resulting in mucus discharge, mucosal edema, and bronchospasm. Asthma symptoms come fromairways obstruction and mayvary according to the severity of the crisis. The following are frequentlypresent: dyspnea, wheezing, and cough. The treatment aims atsolving and preventing crisis, and improving the child's general health through medicines and physiotherapy, which main goal is providing the child with a better quality of life. This study aimed to establish the current concepts of childhood asthma, and the role of physiotherapy in the patient's rehabilitation. Keywords: Asthma, childhood, physiotherapy. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 38 Asma na Infância A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas definida pelo Na!onal Heart Lung and Blood Ins!tute como uma doença pulmonar com três principais caracterís!cas: obstrução reversível das vias aéreas espontaneamente ou com tratamento onde em alguns pacientes não há reversibilidade completa; inflamação das vias aéreas; e aumentada sensibilidade das vias aéreas a inúmeros es+mulos1,2. O conceito de asma mudou significa!vamente nas úl!mas cinco décadas, na proporção dos progressos de sua terapêu!ca. Os conhecimentos sobre a doença foram sendo agregados aos poucos e permi!ram que se chegasse a terapêu!ca u!lizada atualmente3. DISCUSSÃO Mais de 80% das crianças com asma desenvolvem sintomas antes dos cinco anos de idade, e que a atopia é o mais forte fator predisponente4. Inúmeros estudos atuais mostram um aumento alarmante na prevalência de asma nos Estados Unidos, Austrália, Escócia e Inglaterra. No Brasil, estudos em algumas comunidades revelam prevalência de asma na população pediátrica de até 10%. A asma tem sido responsável por cerca de 5% das consultas ambulatoriais e por até 16% dos atendimentos no pronto socorro 2 . A exposição ambiental à poluição e a produtos químicos tem sido apontada como responsável pelo crescimento da incidência de asma na atualidade, porém não há provas conclusivas a este 5 respeito . A asma mostra associação posi!va com contato com animais domés!cos, história familiar6,9, piores condições socioeconômicas7,8, aglomeração, exposição ao fumo8, fumo na gestação, cor da pele 9 não-branca e rinite alérgica da criança . No que se diz respeito ao sexo mais acome!do estudos realizados u!lizando a metodologia ISAAC, mostram maior prevalência de asma no sexo masculino na faixa etária entre 6 e 7 anos e maior prevalência de asma no sexo feminino na faixa etária entre 13 e 14 anos6,7,10,11. Um corpo crescente de pesquisa afirma que número de meninas com asma supera o de meninos por volta dos 12 anos de idade, idade média do início da puberdade, por exis!r uma relação do estrógeno e da progesterona com asma e alergia12. A avaliação da mortalidade por asma como causa básica em pessoas entre 5 e 19 anos, no período de 1970 a 1998, no estado do Rio Grande do Sul mostrou um significa!vo aumento de mortalidade por asma no final da década de 1970, seguindo de estabilização, em patamar superior, na década de 9013. A asma está associada a atopia na maioria dos casos, isto representa um aumento de susce!bilidade à produção de imunoglobulina E (IgE) em resposta aos alérgenos inalados 1 4 . O paciente com asma atópica é sensível a alérgenos externos, normalmente começa na infância é comumente é acompanhada de outras alergias hereditárias, tais como a rinite alérgica e o eczema15. A asma apresenta duas respostas asmá!cas dis!ntas: a resposta asmá!ca imediata onde há interação dos alérgenos com a IgE nos mastócitos e conseqüente liberação e ação dos mediadores inflamatórios, e a resposta asmá!ca tardia onde há a liberação dos grânulos dos eosinófilos comprometendo a função mucociliar e lesando as células epiteliais. A lesão das células epiteliais es!mula terminações nervosas da mucosa, iniciando uma descarga autonômica que contribui para o estreitamento das vias aéreas e secreção do muco16. A inves!gação inicial na asma deve ser feita para confirmar o diagnós!co do paciente, iden!ficar os fatores desencadeantes das crises agudas, reconhecer a gravidade do quadro clínico, avaliar os tratamentos anteriores e traçar uma estratégia de tratamento imediata e em longo prazo17. Na anamnese deve se interrogar sobre os episódios de obstrução respiratória com sibilância, através de sua natureza, freqüência, intensidade e duração dos sintomas, bem como sobre os fatores precipitantes das crises, o grau de interferência nas a!vidades da criança e sua resposta à terapêu!ca alem de se prestar atenção aos sinais de alergia no trato respiratório superior2. Não se deve deixar de ques!onar todos os possíveis fatores que possam desencadear crises asmá!cas, além de inves!gar a presença de familiares com asma, rinite alérgica, derma!te alérgica e reações à 17 fármacos . Ao exame , sico, a ausculta torácica durante uma expiração pode revelar a prolongação da fase expiratória e sibilos quando os sintomas estão ausentes ou são leves4. Os sibilos podem ser auscultados na inspiração, expiração ou em ambas as fases e quando a criança apresenta tosse 2 . A ausculta do paciente asmá!co pode apresentar sons respiratório s d i m i n u í d o s e ca m p o s p u l m o n a re s h i p e r ressonantes, devido ao aprisionamento de ar nos pulmões, pela dificuldade expiratória15. As provas de função pulmonar são importantes Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 39 Asma na Infância para o diagnós!co de asma. Nos pacientes assintomá!cos, seus resultados podem ser normais, mas comumente eles revelem algum grau de obstrução brônquica através da diminuição da VEF1 e da relação VEF1/CVF (capacidade vital forçada) 18. A avaliação funcional pulmonar através da espirometria e serve para confirmar a presença de obstrução das vias aéreas e seu grau de resposta ao broncodilatador17. A variação diurna no PFE (diferença entre as medidas da manhã e da noite), de mais de 15 – 20% tem sido usada como uma definição caracterís!ca de asma. Pode ocorrer mudança significa!va no PFE antes ainda dos sintomas se tornarem evidentes4. Quando a criança asmá!ca está estável, o valor do fluxo expiratório pode mostrar-se razoavelmente normal, sem muita variação entre a manhã e a noite, uma mudança acentuada dos valores (>20%) indica que a asma não está controlada. A medida do PFE antes e após o uso de broncodilatadores, assim como na espirometria, auxilia na avaliação da resposta à terapêu!ca broncodilatadora2. Os exames radiológicos têm contribuição para o diagnós!co diferencial de asma e ajudam a verificar a presença de complicações como pneumonia, 17 atelectasia, pneumotórax e pneumomedias!no . Nas crianças com asma leve e moderada a radiografia se mostrará normal e na criança com asma grave poderá se observar sinais radiográficos de hiperluscência, horizontalização das costelas e do diafragma e aumento do diâmetro ântero-posterior da caixa torácica2. Na infância a asma apresenta quadro clínico com caracterís!cas variadas, estas caracterís!cas geralmente estão associadas a sintomas de obstrução das vias aéreas. A maior parte das crianças asmá!cas apresenta episódios recorrentes de sibilância, tosse e/ou dispnéia19. O sibilo é o sinal mais caracterís!co de asma, porém ele pode estar ausente em algumas crianças, principalmente naquelas com a tosse variante de asma e quando a obstrução é severa4. Na asma quase sempre existe a tosse, que pode estar associada com a dispnéia, predominar o quadro ou ser a única manifestação da asma, o que acontece com pouca freqüência. Normalmente a tosse é acompanhada pequena quan!dade de secreção de cor clara e aspecto altamente viscoso20. Nos lactentes o quadro clínico mostra predominância do uso da musculatura acessória e os sibilos são grosseiros, podendo ser confundidos com os sibilos produzidos por obstrução das vias aéreas superiores21. A crise asmá!ca acontece quando os sintomas se agravam, mostrando como sinais de gravidade a dispnéia de forte intensidade, o uso de musculatura acessória, o pulso paradoxal e a falta de resposta à terapêu!ca de broncodilatação20. Outros sintomas associados à crise de asma com grave limitação do fluxo aéreo (VEF1 < 40%) são: taquicardia, taquipnéia, fala monossilábica ou total incapacidade de fala, exaustão, ausência de ruídos adven+cios, alteração da consciência, cianose e choque17. Durante a crise asmá!ca pode haver desidratação, par!cularmente nas crianças, devido à perda de excessivo volume de líquido por evaporação do aparelho respiratório e pela sudorese abundante causada pelo esforço respiratório e ansiedade20. Eventualmente, as crises de asma se prolongam, cons!tuindo o que se convencionou chamar de estado de mal asmá!co. Algumas caracterís!cas importantes que marcam este estado são o broncoespasmo acentuado que gera uma hiperdistensão alveolar, a secreção que se encontra desidratada e viscosa, formando rolhas de muco, e a subs!tuição da hiperven!lação da crise usual por uma hipoven!lação global, dando origem a uma insuficiência respiratória20. Durante a inspiração a luz do brônquio está estreitada, mas pode se expandir levemente, permi!ndo que o ar alcance os alvéolos. Já na expiração, o aumento da pressão intratóracica fecha a luz brônquica completamente. Deste modo, o ar consegue penetrar nos pulmões, porém não consegue escapar, fazendo com que o paciente desenvolva o tórax em barril e apresente hiper-ressonância a percussão22. O diagnós!co diferencial da asma é mais relevante quando a criança é mais jovem em função das muitas possibilidades e!ológicas e das dificuldades para a confirmação do diagnós!co de asma no paciente desta faixa etária. Estes diagnós!cos devem ser levados em consideração principalmente se a criança não responde bem ao tratamento proposto para controle da asma23. A asma é uma doença de caráter mul!fatorial, que inclui fatores familiares, ambientais, alérgicos, socioeconômicos, psicossociais e infecciosos21. Em certas pessoas as crises de asma são desencadeadas após a exposição a alérgenos, quase sempre inalados. Mais raramente, a crise aguda de asma pode ser Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 40 Asma na Infância precipitada por tensões emocionais, exercício , sico, 20 ingestão de certos fármacos ou exposição ao ar frio . O controle da asma se torna di, cil se persis!rem os fatores desencadeantes, e é importante, sempre que 24 possível, iden!ficá-los e eliminá-los . A classificação da asma é feita de acordo com a gravidade com o obje!vo de facilitar a abordagem terapêu!ca. Para a classificação da severidade da asma, deve-se, cuidadosamente, inves!gar a história da doença, o exame , sico e a função pulmonar19. A asma é classificada quanto à sua intensidade em grave persistente, moderada persistente, leve 25 persistente e leve intermitente . As crianças com asma leve têm sintomas leves como tosse, sibilos e dispnéia esporadicamente e apresentam crises com dispnéia e taquipnéia moderadas, no máximo 2 vezes por mês. Na asma leve intermitente a redução do TFEM é menor que 20% e responde aos broncodilatadores de 24 a 48 horas. Normalmente as crianças com asma leve intermitente não necessitam do uso de medicação entre as exacerbações. Na asma leve persistente os sintomas ocorrem mais de duas vezes por semana, porém não diariamente, sendo que os sintomas noturnos ocorrem mais de duas vezes por mês. A TFEM ou o VEF1 é no mínimo de 80% do valor previsto e as variações diárias da TFEM a!ngem no máximo 30%. Estes pacientes podem necessitar de terapia an!inflamatória diária. Na asma moderada as crises com sibilância e dispnéia moderada são freqüentes e a criança tem sintomas leves pelo menos 3 vezes por semana. Nestas crianças, a assiduidade escolar e a tolerância ao exercício podem estar diminuídas e devido aos sintomas a criança pode perder o sono à noite pelo menos uma vez por semana. A TFEM e o VEF1 podem estar entre 60 e 80 % do previsto e a variação diária da TFEM pode ser maior que 30% Estes pacientes freqüentemente necessitam de terapia an!inflamatória diariamente. A asma grave é iden!ficada nas crianças que têm sintomas con+nuos com limitação de sua a!vidade , sica, crises severas, história de internações hospitalares e necessidade freqüente de visitas à sala de emergência. Estas crianças freqüentemente perdem o sono devido aos sintomas noturnos. Sua tolerância aos exercícios é baixa o seu número de faltas na escola pode ser significa!vo. O diâmetro ântero-posterior do tórax destas crianças pode estar aumentado devido a hiperinsuflação, podendo ser evidenciado por radiografias e o TFEM e VEF 1 são menores que 60% do valor previsto podendo ainda ter menor resposta aos broncodilatadores. Estes pacientes sempre necessitarão de terapia an!inflamatória con!nuamente26. Os obje!vos principais do tratamento da asma são o alívio ou minimização dos sintomas, a melhora da função pulmonar, a prevenção das exacerbações e a manutenção da dose mínima do medicamento profilá!co para evitar os efeitos adversos do tratamento27. Este tratamento deve ser planejado do modo individual para atender as necessidades de cada paciente e ser adaptado às mudanças que ocorrem durante a evolução da doença2. Os fármacos disponíveis para o tratamento de manutenção da asma são os esteróides inalatórios (beclometasona, budesonida, flunisolina, flu!casona e triancinolona), fármacos inalatórios não-esteroidais (nedocromil, cromoglicato) ou an!leucotrienos orais17. A fisioterapia não deve ser executada durante a crise aguda, pois ela pode exacerbar a constrição brônquica, o tratamento só deve ser realizado depois que o broncoespasmo es!ver controlado, e ainda, outros autores preconizam que na crise aguda, quando o broncoespasmo é grave, a criança não deve ser posicionada com a cabeça para baixo, não deve ser encorajada a tossir e o fisioterapeuta não deve u!lizar manobras para mobilizar as secreções até que a broncodilatação ocorra5. Para outro autor fisioterapia pode ser realizada durante a crise de asma, neste momento o papel do fisioterapeuta será levar o paciente a posturas de relaxamento, com o obje!vo de reduzir a exaustão pelo esforço muscular e a incoordenação entre a respiração abdominal e torácica. Ainda, no período intercrise deve-se dar atenção ao aumento da resistência à fadiga da musculatura respiratória programando-se seções de exercícios evolu!vos e seqüenciados, es!mulando a tonificação da musculatura abdominal e melhora da cinemá!ca diafragmá!ca. Além disso, criança asmá!ca desenvolve respiração bucal e mesmo no período assintomá!co tende a respirar com padrão ven!latório acessório, fixação da cintura escapular e respiração superficial. Este padrão inadequado favorece a instalação de posturas corporais patológi- Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 41 Asma na Infância cas como hipercifose dorsal, protusão de ombros e escoliose e também favorece o aparecimento de deformidades torácicas 2 . O treino de respiração combinado com técnicas de relaxamento têm sido sugeridos para a melhora do padrão ven!latório dos pacientes com asma1. Um estudo com asmá!cos estáveis leves, moderados, graves e crianças, u!lizou as técnicas de vibrocompressão, tapotagem e huffing com o obje!vo de verificar se estas manobras desencadeavam broncoespasmo. Para este estudo foram avaliados o PFE, o VEF1, o fluxo expiatório forçado entre 25 e 75% e a porcentagem do volume expiratório forçado sobre a capacidade vital. Os pacientes foram avaliados antes, logo após e 8 horas após as manobras. Os resultados mostraram que as manobras citadas não pioram ou desencadeiam broncoespasmo, nem mesmo quando executadas 3 dias 25 seguidos . Quando o broncoespasmo grave começa a diminuir normalmente podem ser encontradas secreções nas vias aéreas, por isso é de extrema importância a realização de uma higiene brônquica intensa, pois o acúmulo de secreção predispõe o paciente ao desenvolvimento de atelectasias e infecções brônquicas. A drenagem brônquica, com percussão e vibração estão indicadas, respeitando o limite de tolerância do paciente 1 . As crianças que apresentam áreas de colapso pulmonar respondem bem a drenagem postural, tapotagem e a técnicas de ciclo a!vo da respiração, porém se deve fazer pausas para o relaxamento e o controle respiratório para 5,28 evitar qualquer aumento do broncoespasmo . Autores u!lizaram a oscilação de alta freqüência através do Flu% er como um adjunto no tratamento fisioterapêu!co em pacientes com asma hipersecre!va com di, cil. Os pacientes u!lizavam o Flu% er pelo menos cinco vezes por dia, durante 5 minutos, por um período de 30 a 45 dias. Foram avaliados o VEF1, o PFE e a capacidade vital antes do início do tratamento e depois de um mês de tratamento. Os resultados deste estudo mostraram melhora significa!va nos três parâmetros avaliados em 18 dos 20 pacientes 25 par!cipantes do estudo . Outro estudo u!lizando a oscilação de alta freqüência foi realizado com o obje!vo de avaliar a u!lização da pressão posi!va expiratória gerado pelo Shaker no paciente asmá!co. Concluindo o estudo, as autoras constataram um aumento entre o intervalo das crises de asma de três crises por semana para uma crise por mês, diminuição do uso de broncodilatadores de cinco para uma vez por semana e melhora no valor do PFE29. O principal obje!vo da implementação de um programa de a!vidades , sicas para crianças asmá!cas é de dar a elas uma melhor qualidade de vida, ou seja, proporcionar a elas condições , sicas para que estas possam par!cipar de a!vidades 30 próprias para a sua idade . Em longo prazo do tratamento fisioterapêu!co através da realização de um programa de a!vidades , sicas para a criança com asma proporciona a melhora da resistência, da capacidade de trabalho e da força, pois em geral, as crianças com asma são menos condicionadas fisicamente que as crianças saudáveis1. A melhora da condição , sica do paciente asmá!co permite que ele suporte mais tranqüilamente os agravos de saúde porque aumenta a resistência e fornece a ele mais reservas para enfren30 tar as crises . A natação é a a!vidade que menos provavelmente causa broncoespasmo induzido pelo exercício (BIE), parece que o fator mais importante é o alto teor de água inspirado durante este exercício, o que impede o ressecamento e o resfriamento da mucosa respiratória, contrastando com o ar mais seco que é inspirado durante os exercícios em terra. Alguns fisioterapeutas organizam programas de natação e exercícios na água para crianças asmá!cas31. Teixeira, Andrade e Saraiva apud Silva et al. 32 (2005) realizaram um estudo que teve por obje!vo inves!gar se a função pulmonar poderia ser modificada por um programa de exercício para crianças asmá!cas. O estudo não detectou alteração significa!va da capacidade vital forçada, VEF1 ou fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% da capacidade vital forçada, mas os resultados indicaram uma tendência à melhora. O resultado de outro estudo que mostrou que o treino específico da musculatura inspiratória durante o período de seis meses, melhorou a força dos músculos inspiratórios e reduziu os sintomas de asma relacionados com hospitalizações, atendimentos em serviços de emergência e consumo de medicamentos1. Um estudo de caso de uma criança asmá!ca de Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 42 Asma na Infância 11 anos foi realizado visando demonstrar o beneficio do tratamento fisioterapêu!co na melhora da qualidade de vida deste paciente. O tratamento adotado enfocou manobras de higiene brônquica e cinesioterapia respiratória através de um programa cons!tuído de exercícios progressivos de readequação do complexo toracopulmonar no solo e na bola suíça. A paciente apresentou melhora na capacidade de exercício, qualidade de vida e controle das crises 33 respiratórias . Para auxiliar no controle da doença e melhorar a qualidade de vida dos asmá!cos se sugere a implantação de programas de educação em asma. Alguns pontos são básicos em um programa de educação em asma, como ensinar o paciente os conceitos fundamentais sobre a doença, ensinar o uso correto de medicações inalatórios, iden!ficar ou fatores ambientais que podem exacerbar a asma e propor um esquema de monitoração e intervenção efe!va e precoce para a prevenção e controle rápido 17 das crises . CONCLUSÕES A asma é uma doença muito comum, em especial na região sul do Brasil, onde sua prevalência é amplamente estudada. Os conceitos e a forma de tratamento desta doença mudou significa!vamente ao longo dos anos e o papel da fisioterapia dentro da equipe clínica no tratamento da asma ainda parece controverso, por isso o interesse de pesquisar melhor este assunto. Após conclusão do estudo ficou clara a relação entre a asma infan!l e a atopia, que se mostra como principal desencadeante das crises. A criança com asma atópica é sensível à alérgenos inaláveis os quais desencadeiam uma reação anafilá!ca nas vias aéreas proporcionando a obstrução brônquica. Esta obstrução das vias aéreas resulta em um grande espectro de sinais e sintomas que vão desde a dispnéia, sibilos e tosse, em crises mais leves, a hiperdistensão alveolar, formação de tampões mucosos, insuficiência respiratória e morte em crises muito severas. É importante ressaltar que a prevalência e a mortalidade por asma têm aumentado a nível mundial nas úl!mas três décadas. A poluição ambiental é apontada como a principal causa deste aumento, porém não há estudos suficientemente conclusivos a este respeito. As medidas terapêu!cas para asma em geral visam aliviar os sintomas durante as crises e prevenir novos episódios agudos. Os fármacos u!lizados englobam an!inflamatórios esteroidais, não-esteroidais e broncodilatadores, que podem ser u!lizados por via oral e inalatória, tanto para o aspecto profilá!co quanto terapêu!co. O papel da fisioterapia no tratamento da criança asmá!ca é amplo, apesar de exis!r, ainda, poucos estudos que o comprove. O fisioterapeuta pode atuar durante a crise asmá!ca, após a resolução da exacerbação e no período de remissão da doença. Durante a crise, o fisioterapeuta atua orientando o paciente para a melhora da dispnéia, através da realização de posturas adequadas e exercícios respiratórios. Após a resolução da crise aguda, o papel do fisioterapeuta é de extrema importância para a higiene brônquica, através de manobras, uso de aparelhos e exercícios. Na fase assintomá!ca da asma é indispensável a implementação de um programa de exercícios , sicos progressivos para melhora do condicionamento , sico e da saúde geral destes pacientes, com o obje!vo de diminuição do número das crises. O fisioterapeuta par!cipa a!vamente da educação e das orientações ao paciente asmá!co e aos seus responsáveis a respeito da doença, do uso correto das medicações e da importância no controle de fatores precipitantes dentro do ambiente domiciliar. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 43 Asma na Infância REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. Tecklin JS. Fisioterapia pediátrica. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. Rozov T. Doenças Pulmonares em pediatria: diagnós!co e tratamento. 1. ed. São Paulo: Atheneu, 2004. Silva LCC, Silva LMC, Hetzel JL. Manual do curso de educação em asma. São Paulo: Phoenix, 2005. Hay J, Willian W. Current pediatric diagnosis & treatment. 16.ed. New York: Lange Medical, 2003. Smith M, Ball V. Cardiorrespiratório para fisioterapeutas. São Paulo: Premier, 2004. Maia JGS, Marcopito LF, Amaral NA, Tavares BF, Santos FANL. Prevalência de asma e sintomas asmá!cos em escolares de 13 e 14 anos de idade. Rev. Saúde Pública 2004; 38(2):292-299. Felizola MLBM, Viegas CAA, Almeida M. Prevalência de asma brônquica e de sintomas a ela relacionados em escolares do Distrito Federal e sua relação com o nível socioeconômico. J. bras. pneumol. 2005; 31(6):486-491. Chatkin M, Menezes AMB, Aalbernaz E, Victora CG, Barros FC. Fatores de risco para consultas em pronto-socorro por crianças asmá!cas no Sul do Brasil. Rev. Saúde Pública 2000; 34(5):491-498. Chatkin M, Menezes AMB. Prevalência e fatores de risco para asma em escolares de uma coorte no Sul do Brasil. J. Pediatr. 2005; 81(5):411-416. Soares F. et al. Prevalência de asma brônquica em escolares e adolescentes do município de Maceió. 2005. Acessível em: h% p://www.pediatriasaopaulo.usp.br. Boechat JL, Rios JL, Sant'anna CC, França AT. Prevalência e gravidade de sintomas relacionados à asma em escolares e adolescentes no município de Duque de Caxias. J. bras. pneumol, 2005; 31(2):111-117. Alford G. Unmasking the role of hormones in asthma: Estrogen and progestrone may affect asthma. Asthma Magazine 2006; 11(1):23-25. Chatkin JM, Fiterman J, Fonseca NA, Fritscher CC. Mudança da tendência da mortalidade por asma em crianças e adolescentes no Rio Grande do Sul: 1970-1998. J. Pneumologia 2001; 27(2):89-93. Robbins SL. Robbins: patologia estrutural e funcional. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. Santos J. Fisiopatologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. Rubin E, Gorstein F. Rubin patologia: bases clinicopatológicas da medicina. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. Taran!no AB. Doenças pulmonares. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. Scalan CL, Stoller JK, Wilkins RL. Fundamentos da terapia respiratória de Egan. 7. ed. São Paulo: Manole, 2000. Silva LCC. Condutas em Pneumologia. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. Bethlem N. Pneumologia. 4.ed. São Paulo: Atheneu, 2001. Carvalho WB, Souza N, Souza RL. Emergência e terapia intensiva pediátrica, 2.ed. São Paulo: Atheneu 2004. Santos JL. Guia profissional para fisiopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. Ferreira JP. Pediatria: Diagnós!co e tratamento. São Paulo: Artmed, 2005. Palombini BC. Doenças das vias aéreas: uma visão clínica integradora (Viaerologia). Rio de Janeiro: Revinter, 2001. Barnabé V. Revisão bibliográfica sobre fisioterapia e asma. Revista de Fisioterapia da UNICID 2003; 2(1): 67-72. Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB. Nelson tratado de pediatria. 16.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. Moura JAR, Camargos PAM, Blic J. Tratamento profilá!co da asma. J. Pediatr.2002; 78(supl.2):141-150. Pryor JA, Weber BA. Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. Galon AT, Bidese D. U!lização da PEP gerada por “Shaker” no paciente asmá!co: Estudo de caso. Passo Fundo. Monografia – Universidade de Passo Fundo, 2004. Gualdi FR, Tumelero S. Asma e os bene, cios da a!vidade , sica. Revista digital efdeportes 2004, 10(72). Acessível em: h% p://www.efdeportes. com. Becker B, Cole A. Terapia aquá!ca moderna. São Paulo: Manole, 2000. Silva CS, Torres LAGMM, Rahal A, Filho JT, Vianna EO. Avaliação de um programa de treinamento , sico por quatro meses para crianças asmá!cas. J. bras. Pneumol.2005; 31(4):279-285. Paulin E, Favoreto PB, Vido% o CC. Bene, cios da fisioterapia respiratória na asma: relato de um caso. Arq. ciências saúde UNIPAR 2001; 5(2):149-154 Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 44 Ar!go de Revisão Importância da Descontaminação das Mucosas da Cavidade Oral nos Pacientes Hospitalizados. Revisão de Literatura THE IMPORTANCE OF ORAL MUCOSA DECONTAMINATION IN HOSPITALIZED PATIENTS. LITERATURE REVIEW RESUMO Inúmeros estudos evidenciam que a cavidade oral pode influenciar os processos infecciosos que se propagam pelos tratos respiratório alto e baixo originando pneumonias nosocomiais e podendo muitas vezes culminar com o óbito do indivíduo. Estudos avaliaram a origem dos microorganismos que predominavam nas pneumonias hospitalares, ficando claro que dentre as vias hematogênicas, gastrintes!nal e orofaringeana, esta úl!ma é a de maior relevância na e!opatogenia dessas afecções. A descontaminação sele!va do trato diges!vo (DSD) é uma estratégia usada para diminuir a taxa de infecção hospitalar, que tem como obje!vo reduzir a colonização bacteriana aeróbica da orofaringe e super, cie intes!nal sem alterar a flora anaeróbia. Muitos desses experimentos clínicos de descontaminação sele!va do trato diges!vo (DSD) tem demonstrado diminuição das taxas de infecção respiratória hospitalar. Esta revisão de literatura, busca analisar o papel da desinfecção da mucosa bucal na redução do risco de infecções hospitalares, com especial atenção para a pneumonia. Unitermos: Pacientes hospitalizados, descontaminação bucal, trato respiratório baixo, higiene bucal. ABSTRACT Guilherme M Zana% a¹ Saulo C dos Santos¹ Andrea Pre% o² Roger Costa³ Marcos E Bi% encourt² Departamento de Periodon!a – UNICAMP (SP)² Faculdade de Odontologia de Passo Fundo², Serviço de Cardiologia do Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo(RS)³. Correspondências: Marcos E Bi% encourt Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: ebi% [email protected] Several studies provide evidence that the oral cavity may influence the infec!ous processes disseminated by upper and lower respiratory tracts, which causes nosocomial pneumonia, and may o'en lead to the death of the individual. Studies have shown the source of microorganisms predominant in hospital-acquired pneumonia, clarifying that among hematogenous, gastrointes!nal, and oropharyngeal channels, the la% er is most relevant in the e!opathogeny of these condi!ons. The selec!ve diges!ve decontamina!on (SDD) is a strategy used to decrease the rate of hospital-acquired infec!on aiming to reduce aerobic bacterial coloniza!on of the oropharynx and intes!nal surface without altering the anaerobic flora. Many of these clinical experiments of selec!ve diges!ve decontamina!on (SDD) have shown a decrease in rates of hospital-acquired respiratory infec!on. This literature review seeks to analyze the role of oral mucosa disinfec!on in reducing the risk of hospital-acquired infec!ons, especially focusing on pneumonia. Keywords: Hospitalized pa!ents, oral decontamina!on, lower respiratory tract, oral hygiene. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 45 Importância da Descontaminação das Mucosas da Cavidade Oral nos Pacientes Hospitalizados. Revisão de Literatura A variabilidade da microbiota oral é muito grande e, diferentes microorganismos colonizam diferentes locais na cavidade oral. Apesar disto, todos os organismos indígenas podem ser encontrados em cada local num determinado período de tempo1. Repe!das culturas dentro da boca de um mesmo indivíduo revelam uma grande variabilidade na composição microbiana daquele local em diferentes ocasiões2. Certos organismos parecem ter a habilidade em trafegar para diferentes super, cies na cavidade oral 3 . Esses microorganismos também apresentam afinidades específicas para as diferentes áreas e tecidos orais, havendo algumas espécies que se adaptam melhor a super, cies duras e outras as super, cies mucosas como o dorso da língua. O modo de retenção dessas bactérias foi dividido em duas categorias: retenções adesivas e não adesivas. As adesivas são aquelas em que os organismos são capazes em aderir as super, cies lisas dos dentes e super, cies epiteliais ou mesmo a outros organismos. Já as retenções não-adesivas são aquelas em que os microorganismos para se manterem na cavidade oral dependem de uma retenção mecânica, seja em fossas ou fissuras dos dentes, 1 lesões cariosas, sulco gengival ou bolsa periodontal . Portanto, a microbiota que habita a cavidade oral humana não é homogeneamente distribuída, mas taxas variadas compõem vários microcosmos 4 existentes na cavidade oral . REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO Têm-se a idéia que a placa dental e as bolsas periodontais são geralmente o habitat dos microorganismos associados a periodon!te 5 . Porém, microorganismos periodontais como o Ac!nobacillus ac!nomycetemcomitans podem também se inserir e colonizar as super, cies da mucosa oral 6 e muitos anaeróbios, além da mucosa bucal foram detectados no dorso da língua e nas tonsilas7. Isto pode implicar que ao lado da placa dental e da bolsa periodontal, as super, cies da mucosa oral podem ser consideradas como um habitat de microorganismos periodontopa8,9 togênicos . A língua tem maior carga bacteriana que qualquer outro tecido oral e é a maior contribuidora de bactérias para a saliva. Ela é colonizada imediatamente após o nascimento e espécies anaeróbias, tais como a Prevotella melaninogênica e F. nucleatum, podem ser detectadas antes das erupções dos dentes10. A pneumonia hospitalar ou nosocomial é definida como a infecção do parênquima pulmonar que não estava presente no momento da internação no hospital 1 7 , sendo uma causa importante de infecção nos pacientes internados nas unidades de cuidado intensivo18,19. Mostrou-se que 36 pacientes de UTI com Pneumonia associada ao ven!lador (PAV) !nham uma porcentagem significa!vamente mais alta de colonização orofaríngea que os 27 pacientes ven!lados mecanicamente sem pneumonia27. A pneumonia hospitalar freqüentemente ocorre pela aspiração das bactérias que colonizam a orofaringe, e a fatores do hospedeiro, medicações, escassas prá!cas de controle de infecção, fontes ambientais e uso de equipamentos invasivos ou contaminados que aumentam a colonização e infecção e são, portanto, alvos importantes para a prevenção17,18,19,20. A maioria das pneumonias nosocomiais é provocada por bactérias, e essas infecções são geralmente polimicrobianas 1 9 , 2 1 , 2 2 . As células do epitélio oral ricas em fibronec!na facilitam a adesão d e m i c ro o rga n i s m o s G ra m - p o s i !vo s d o !p o estreptococo e Staphilococos aureus, enquanto que e m zo n a s p o b re s e m fib ro n e c !n a s e a d e re m fortemente os bacilos Gram-nega!vos como a Pseudomona aeruginosa23,24. Os estudos em microscopia eletrônica de varredura revelaram que mais de 95% dos tubos endotraqueais examinados !nham colonização bacteriana parcial e 84% estavam totalmente cobertos por bactérias reves!das por uma película biológica: o biofilme (placa bacteriana)28. A descontaminação sele!va do trato diges!vo (DSD) é uma estratégia usada para diminuir a taxa de infecção hospitalar, que tem como obje!vo reduzir a colonização bacteriana aeróbica da orofaringe e super, cie intes!nal sem alterar a flora anaeróbia. Uma variedade de regimes de (DSD) tem sido estudados durante muitos anos na Europa e recentemente na América. Os regimes consistem de pastas an!microbianas locais aplicadas quatro vezes ao dia na orofaringe com ou sem componente intragástrico administrado via tubo nasogástrico. Alguns estudos têm incluído regimes an!fúngicos tópicos de anfotericina B ou nista!na, e outros admitem IV an!bió!cos sistêmicos. As pastas an!microbianas administradas localmente e intragastricamente Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 46 Importância da Descontaminação das Mucosas da Cavidade Oral nos Pacientes Hospitalizados. Revisão de Literatura incluem uma combinação de agentes an!bió!cos tais como polimixina e um aminoglicosídeo ou uma quinolona11,12,13. Muitos desses experimentos clínicos de descontaminação sele!va do trato diges!vo (DSD) tem demonstrado diminuição das taxas de infecção respiratória hospitalar14,15,16. Realizou-se um estudo para examinar o uso de clorexidina oral a 0,12% (Peridex) em pacientes que foram subme!dos à implantação de bypass aortocoronário, os pacientes eram randomizados para receber Peridex frente a placebo antes e depois da cirurgia. Os resultados demonstraram que o grupo que usou clorexidina teve uma menor taxa de infecção nosocomial (p<0,01), menor número de infecções respiratórias (p,0.05) e um menor uso significa!vo de an!bió!cos25. Diversa e ampla são as tenta!vas em se minimizar os processos infecciosos que se propagam pelos tratos respiratório alto e baixo originando pneumonias nosocomiais e podendo muitas vezes culminar com o óbito do indivíduo. Estudos na área médica19,20 avaliaram a origem dos microorganismos que predominavam nas pneumonias hospitalares, traçando sua possível rota até chegarem aos tecidos pulmonares, ficando claro que dentre as vias hematogênicas, gastrintes!nal e orofaringeana, esta úl!ma é a de maior relevância na e!opatogenia dessas afecções. Aponta-se a aspiração como o fator mais importante para a contaminação e posterior infecção dos tratos respiratórios alto e baixos, principalmente em pacientes internados em UTI's (Unidades de 17,18,19,20,21,22,28 Tratamento Intensivo) . Isso pode ser explicado pela boca apresentar várias super, cies dotadas de uma série de requisitos anatômicos, fisiológicos, químicos e térmicos, que facilitam o depósito, a colonização e a mul!plicação de microorganismos, transformando este local num excelente reservatório e fonte de transmissão e contaminação, para diversas outras áreas da cavidade oral e do organismo humano 29,30,31,32 . Tendo em vista que a contagem microscópica total de microorganismos na saliva apresenta números que variam de 43 milhões a 5,5 bilhões por mililitro e que, este valor representa principalmente microorganismos oriundos da língua 33 , além de que, a capacidade e velocidade de duplicação (capacidade mitogênica) das várias espécies microbianas variam na sua grande maioria entre os 20 minutos e às 3 horas34,35, é de se esperar que num indivíduo que se encontra impossibilitado de exercer sua higiene oral tradicional de forma adequada (pacientes internados em UTI's) haja um aumento considerável desse bioburden microbiano com o passar do tempo. O estudo de DeRISO et al.25 (1996) foi o primeiro a avaliar a influência da descontaminação da boca na quan!dade de u!lização de an!bió!cos, tempo de permanência em UTI's e taxa de infecções nosocomiais num grupo de pacientes subme!dos à cirurgia cardíaca, obtendo resultados significa!vamente posi!vos. Es!ma-se que, a cada ano, mais de 35 milhões de pacientes são internados em hospitais americanos e pelo menos 2,5 milhões irão desenvolver uma infecção hospitalar. O primeiro reflexo é o aumento do tempo de permanência, em média de sete dias, chegando até 24 dias, quando a bacteremia acomete paciente internado em unidade de terapia intensiva, além de aumentar em cerca de US$ 3.100 o custo por episódio, levando a um aumento de cerca de US$ 3,5 36,37 bilhões anualmente nos EUA . CONCLUSÃO Devido a principal via de entrada dos microorganismos causadores das pneumonias ser a orofaringeana, e a boca como importante componente desta, ser uma estufa em condições ó!mas para a rápida proliferação de bactérias, principalmente na ausência de higienização, a diminuição dessa carga microbiana através de meios químicos e ou mecânicos, poderá ter impacto benéfico em pacientes hospitalizados. Além dessas questões técnicas acima descritas, soma-se o caráter preven!vo com abrangência à saúde pública, o que poderá contribuir de forma exeqüível, por conta do seu baixo custo aplica!vo, na melhoria da qualidade de vida da nossa sociedade, por se tratar de medida básica de promoção de saúde, somada a uma imensa economia nos gastos hospitalares públicos e privados, por diminuir o uso de an!bió!cos, tempo de permanência e mortalidade nos seus leitos. Portanto, com o advento da medicina periodontal e a urgente necessidade da inter, trans e mul!disciplinaridade, a odontologia, e em par!cular a periodon!a, poderá se apresentar como uma real contribuidora para a saúde não apenas bucal, mas geral dos indivíduos. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 47 Importância da Descontaminação das Mucosas da Cavidade Oral nos Pacientes Hospitalizados. Revisão de Literatura REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. Socransky SS, Manganiello SD. The Oral Microbiota of Man from Birth to Senility. J. Periodontol. 1971; 8(42): 485-494. Carlson J. Presence of various types of nonhaemoly!c streptococci in dental plaque and in other sites of the oral cavity in man. Odont. Revy 1967; 18:55. Quirynen M, De Soete M, Dierickx K, Van Steenberghe D. The intra-oral transloca!on of periodontopathogens jeopardizes de outcome of periodontal therapy. J. Clin. Periodontol 2001; 28: 499-507. Gibbons RJ, Kapsimalis B, Socransky SS. The Source of Salivary Bacteria. Arch. Oral Biol 1964; 9: 101-103. Slots J, GENCO RJ. Microbial pathogenicity. Black-pigmented Bacteroides species, Capnocythophaga species, and Ac!nobacillus ac!nomycetemcomitans in human periodontal disease: virulence factors in coloniza!on, survival, and !ssue destruc!on. Journal of Dental Research 1984; 63, 412-421. Slots J, Reynolds HS, GENCO RJ. Ac!nobacillus ac!nomycetemcomitans in human periodontal disease: a cross-sec!onal microbiological inves!ga!on. Infec!on and Immunity 1980; 29, 1013-1020. Zambon JH, Reynolds HS, SLOTS J. Black-pigmented Bacteróides ssp. In the human oral cavity. Infec!on and Immunity 1981; 32, 198-203. Van Der Velden U, Van Winkelhoff AJ, Abbas F, De Graaff J. The Habitat of Periodontopathic Micro-organisms. J Clin. Periodontol 1986; 13: 243-248. Wolffe GN, Van Der Velden U. Reproducibility of phase-constrast microscopoe measurements of percentage mo!le microorganisms in samples removed from the dorsum of the tongue. J. Periodontol. Res 1987; 22: 366-369. Könönen E, Asikainen S, Jousimies-Somer H. the early coloniza!on of gram-nega!ve anaerobic bacteria in edentulous infants. Oral Microbial. Immunol 1992; 7: 28-31. Aerdts SJA, Van Daelen R, Clasener HAL, et al. An!bio!c prophylaxis of respiratory tract infec!on in mechanically ven!lated pa!ents: a prospec!ve, blinded, randomized trial of the effect of a novel regimen. Chest 1991; 100: 783-791. Flaherty J, Nathan C, Kabins SA, et al. Pilot trial of selec!ve decontamina!on for preven!on of bacterial infec!on in an intensive care unit. J. Infect. Dis 1990; 162: 1393-1397. Hartenauer U, Thulig B, Diemer W, et al. Effect of selec!ve flora suppression on coloniza!on, infec!on, and mortality in cri!cally ill pa!ents: a 1-year, prospec!ve consecu!ve study. Crit. Care Med 1991; 19: 463-473. Stoutenbeek CP, Van Saene HKF, Miranda DR, et al. The effect of selec!ve decontamina!on of the diges!ve tract on coloniza!on and infec!on rate in mul!ple trauma pa!ents. Intensive Care Med. 1984; 10: 185-192. Ulrich C, Harinck-De Weerd JE, Bakker NC, et al. Selec!ve decontamina!on of the diges!ve tract with norfloxacin in the preven!on of ICU-acquired infec!ons: a prospec!ve randomized study. Intensive Care Med. 1989; 15: 424-431. Pugin J, Auckenthaler R, Lew DP, et al. Oropharyngeal decontamina!on decreases incidence of ven!lator-associated pneumonia: a randomized, placebo-controlled, double-blind clinical trial. JAMA 1991; 265: 2704-2710. Craven DE, Steger KA. Epidemiology of nosocomial pneumonia: New concepts on an old disease. Chest 1995108: 1S-16S. Craven DE, Steger KA, Fleming CA. Preven!ng hospital-acquired pneumonia: Current concepts and strategies. Seminars in Respiratory and Cri!cal care Medicine 1997; 18: 185-200. Tablan OC, Anderson LJ, Arden NH, et al. Guideline for preven!on of nosocomial pneumonia: Part 1. Issues on preven!on of nosocomial pneumonia, 1994. Infect. Control. Hosp. Epidemiol 1994; 15: 588-625. Kollef MR, Bock KR, Richards RD, Hearns ML. The safety and diagnos!c accuracy of minibronchoalveolar lavage in pa!ents with suspected ven!latorassociated pneumonia. Ann. Intern. Med 1995; 122: 743-748. Fagon JY, Chastre J, Domart Y, et al. Nosocomial pneumonia in pa!ents receiving con!nuous mechanical ven!la!on: Prospec!ve analysis of 52 episodes with use of a protected specimen brush and quan!ta!ve culture techniques. Am. Rev. Respir. Dis 1989; 139: 877-884. Mcgowan JE. Do intensive hospital an!bio!c control programs prevent the spread of an!bio!c resistance? Infect. Control. Hosp. Epidemiol 1994; 15: 478-483. Niederman MS. Gram-nega!ve coloniza!on of the respiratory tract: Pathogenesis and clinical consequences. Semin. Respir. Infect 1990; 5: 173-184. Woods DE, Straus DC, Johanson WG, et al. Role of fibronec!n in the preven!on of adherence of Pseudomonas aeruginosa to buccal cells. J. Infect. Dis 1981; 143: 784-790. DeRiso AJ, Ladowski JS, Dillon TA, Jus!ce JW, Peterson AC. Chlorhexidine Gluconate 0,12% Oral Rinse Reduces the Incidence of Total Nosocomial Respiratory Infec!on and Nonprophylac!c Systemic An!bio!c Use in Pa!ents Undergoing Heart Surgery. Chest 1996; 109: 1556-61. Pi% et D, Harbarth SJ. The intensive care unit. In: Benne% , J.V. & Brachman, P.S. eds. Hospital Infec!ons. 4th ed. Philadelphia: Lippinco% -Raven 1998; 381-402. Torres A, El-Ebiary M, Gonzalez J. Gastric and pharyngeal flora in nosocomial pneumonia acquired during mechanical ven!la!on. Am. Rev. Respir. Dis 1993; 148: 352-57. So* le FD, Marrie TJ, Prough DS, et al. Nosocomial pulmonary infec!on: Possible e!ologic significance of bacterial adhesion to endotracheal tubes. Crit. Care Med. 1986; 14: 265-70. Cutcher JL. et. al. Fluorescente bacteria of the human tongue. J Dent Res. Mar-Apr; 1973; 52(2):385. De Boever EH, Loesche WJ. Assessing the Contribu!on of Anaerobic Microflora of the Tongue to Oral Malodor. J Am Dent Assoc 1995; 126(10):13841393. De Campos C.M, Zelante F. Human Oral Microbiota. I. Occurrence of enteric bactéria in saliva, tongue and dental plaque. Rev Fac Odontol São Paulo 1978; Jan-Jun; 16(1):77-86. Gonzales LF. Electron cytochemical observa!ons on the a% achment of bacteria to kera!nized tongue epithelium. J Dent Res 1977; Aug: 56(8):994. Burne% GW et al. Microbiologia Oral e Doenças Infecciosas. 4ª ed. Pg. 214-253; Editora Guanabara Koogan; 1978. Ferré E. Bacteriologia. 1959. 3ª ed. P. 26. Librería El Atheneo Editorial. Buenos Aires. Lucas RB, Kramer IRH. Bacteriologia. 1957. 1ª ed. P.26. Editora Cien+fica Rio de Janeiro. Pi% et D. Nosocomial bloodstream infec!ous; secular trends in rates, mortality, and contribu!on to total hospital deaths. Arch. Intern. Med 1995; 155: 1177-1184. Jarvis WR. Seleted aspects of the socioeconomic impact of nosocomial infec!ons. Mortality, cost, and preven!on. Infect. Control. Hosp. Epidemiol 1996; 17(8): 552-557. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 48 Relato de Caso Aneurisma de Artéria Caró!da Interna: Tratamento Cirúrgico INTERNAL CAROTID ARTERY ANEURYSM: SURGERY TREATMENT RESUMO Aneurismas da artéria carótida interna extracraniana são lesões incomuns com causas variáveis. Vários aspectos dessa patologia ainda necessitam ser completamente analisados e discutidos. Devido ao risco de ruptura aneurismática bem como de seqüelas neurológicas causadas por ateroembolismo, intervenção cirúrgica é recomendada para aneurismas de artéria carótida para minimizar potenciais complicações. Relatamos um caso incomum de uma mulher com um aneurisma sacular do segmento médio da artéria carótida interna. Esse tipo de aneurisma é mais comumente localizado no segmento distal da artéria carótida interna e nos vasos intracranianos. Foi realizada cirurgia eletiva nesse caso após tentativa sem sucesso de intervenção endovascular. Unitermos: Artéria carótida interna, aneurisma aterosclerótico, carótida extracraniana, aneurisma sacular. Clebes Fagundes Deivid C. Colombelli Hugo M. Cunha Angelo R. Pasco!ni Ligia C. Pereira João B. J. Ben Eder N. Colombelli Serviço de Cirurgia Vascular, Hospital Universitário São Vicente de Paulo, Passo Fundo (RS). Correspondência: Clebes Fagundes Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] ABSTRACT Extracranial internal carotid artery aneurysms are uncommon lesions with variable causes. Several aspects of this disease still need to be completely analyzed and discussed. Because of the risk of aneurysm rupture as well as the neurologic sequalae caused by cerebral atheroembolism, surgical intervencion is recommended for a carotid artery aneurysm to minimize potencial complications. We report the unusual case of a woman with a sacular aneurysm of the middle internal carotid artery segment. This type of aneurysm is most commonly located in the distal internal carotid artery segment and intracranial vessels. Elective surgery was performed in this case after attemp unsuccess of endovascular intervencion. Keywords: Intenal carotid artery, atherosclerotic aneurysm, extracranial carotid, saccular aneurysm. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 49 Aneurisma de Artéria Carótida Interna: Tratamento Cirúrgico Os aneurismas das artérias caró!das extracranianas (ACEC) são pouco freqüentes. Em virtude da raridade dos ACEC, é di, cil definir sua real incidência, 1 e!ologia e evolução natural . No entanto, es!ma-se que ela represente, somente 0,1% a 2% do total de procedimentos realizados nas artérias caró!das; 0,1% a 1% dos aneurismas arteriais; e apenas 0,4 a 4% 1,2,3 do universo de aneurismas periféricos . Em 20 anos de publicações cien+ficas, estão documentados apenas 98 cirurgias para correção de aneurismas das ACE de um total de 10.830 pacientes subme!dos a cirurgias de caró!das em centros terciários de cirurgia vascular4. A localização preferencial é na caró!da comum, par!cularmente na sua origem, seguido da caró!da interna e mais raramente na artéria caró!da externa1,5. Geralmente, ocorrem como resultado de degeneração ateroscleró!ca, displasia fibromuscular da parede arterial ou como conseqüência de trauma!smo local2. Em virtude do risco de ruptura do aneurisma e seqüelas neurológicas ocasionadas por ateroembolismo cerebral, a intervenção cirúrgica é recomendada, com o intuito de diminuir potenciais complicações 2 . O sucesso no tratamento cirúrgico destes aneurismas foi primeiramente descrito em 1808 por Astley Cooper, que realizou a ligadura da artéria aneurismá!ca. Apenas em 1952 foram descritos avanços, com reanastomose arterial adequada 6,7 (revas-cularização distal) e exclusão do aneurisma . Mais recente-mente, avanços na terapia endovascular, têm proporcionado a possibilidade de terapia minimamente invasiva, com considerável redução de morbimortalidade2,4. O obje!vo desse trabalho é relatar um caso raro de uma patologia pouco conhecida pela maioria da classe médica, apresentando uma revisão literária concisa e obje!va sobre dados epidemiológicos, fisiopatológicos e terapêu!cos. RELATO DO CASO: Paciente feminina, branca, 54 anos, natural e procedente de Santa Maria, hipertensa e dislipidêmica, veio encaminhada ao serviço de cardiologia intervencionista com queixa de dor cervical esquerda de moderada intensidade, próxima ao ângulo da mandíbula, sem irradiação, há vários meses. Não apresentava sintomas neurológicos evidentes. Constatou-se em exame ultra-sonográfico da cidade de origem alteração ectásica inespecífica da artéria caró!da. Ao exame , sico, palpava-se massa pulsá!l em região cervical anterior esquerda, próxima ao ângulo da mandíbula, sem sopros ou frêmitos. A paciente foi subme!da a novo ecodoppler colorido que evidenciou presença de aneurisma de artéria caró!da interna esquerda (ACIE). Medido diâmetro transverso máximo de 19 mm, acompanhada de imagem suges!va de tortuosidade (“kinking”), sem repercussão hemodinâmica, em artéria distal ao aneurisma (Figura 1A e 1B). À arteriografia, visualizou-se a presença de aneurisma fusiforme em ACIE. Não foi confirmada presença de tortuosidade arterial. Realizou-se tenta!va de terapêu!ca endovascular, com a cateterização da ACIE para possível implante de endoprótese. Após inúmeras tenta!vas sem sucesso Figura 1A. Ecocolor Doppler evidenciando em corte tranversal presença de aneurisma de ACIE . Nota-se fluxo turbilhonar (variação de cores) característico do interior do saco aneurismático. Figura 1B. Angiografia demostrando aneurisma de ACIE, que por essa incidência fornece uma imagem sugestiva de aneurisma fusiforme. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 50 Aneurisma de Artéria Carótida Interna: Tratamento Cirúrgico na progressão do fio guia, optou-se por suspensão do procedimento e encaminhamento para avaliação cirúrgica do caso pela equipe da cirurgia vascular. A paciente foi subme!da à correção cirúrgica ele!va após análise dos riscos e bene, cios do procedimento proposto. Havia várias opções possíveis para revascula-rização da artéria caró!da interna, desde reconstrução com anastomose términoterminal até interposição de enxerto autólogo (veia safena interna) ou sinté!co (prótese de PTFE ou Dacron). Após adequada exploração cirúrgica cervical, com exposição das artérias caró!das, evidenciou-se grande aneurisma sacular originando-se do terço médio da ACIE; esta encontrava-se tortuosa e próxima ao nervo hipoglosso. O saco aneurismá!co se projetava pendularmente até o nível da bifurcação caro+dea, onde se encontrava aderido ao nervo vago na bainha caro+dea (Figura 2A e 2B). Foi realizada aneurismectomia. Optou-se pela revascularização primária com anastomose términoterminal. Não foi u!lizado shunt (derivação arterial) devido à ó!ma exposição cirúrgica e redundância da artéria caró!da interna. Foi realizado clampeamento sele!vo da ACIE e anastomose com fio monofilamentar sinté!co 6-0 (Prolene®). O tempo de clampeamento foi de 11 minutos (Figura 3A e 3B). A paciente evolui sa!sfatoriamente no pósoperatório, recebendo alta hospitalar no 3º dia após a cirurgia. Não apresentou nenhuma queixa significa!va ou seqüelas neurológicas no pós-operatório precoce e em controle ambulatorial em 30 dias. O anatomopatológico definiu haver aterosclerose na parede arterial do segmento aneurismá!co. Figura 2A. Exploração cirúrgica evidenciando a anatomia topográfica local (artérias carótida interna aneurismática, carótida comum e externa, além do nervo hipoglosso cranialmente). Figura 3A. Aspecto final após aneurismectomia e anastomose término-terminal da ACIE. Observa-se a proximidade da anastomose com o nervo hipoglosso. Figura 2B. Após ampla dissecção observa-se artéria caró!da interna proximal normal e presença de aneurisma sacular em região de tortuosidade arterial. Figura 3B. Peça cirúrgica demostrando placas ateroscleró!cas no interior do saco aneurismá!co. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 51 Aneurisma de Artéria Carótida Interna: Tratamento Cirúrgico COMENTÁRIOS A e!ologia dos aneurismas caro+deos não está bem definida. Relata-se que em 70% dos casos os aneurismas caro+deos são de origem ateroscleró!ca, em 20% dos casos decorrente de displasia fibromuscular e em 10% devido a uma plêiade de e!ologias, incluindo síndrome de Marfan, micó!co e de origem congênita1. Outras publicações demonstraram variabilidade muito grande quanto à origem: ateroscleró!ca (9,5 a 83%), displasia fibromuscular (17 a 50%) e traumá!ca (4 a 47%)3. A maioria dos ACE envolvem a caró!da comum e sua bifurcação. Aproximadamente 35% dos ACE ficam confinados a caró!da interna. A ocorrência é igual nas três porções da artéria caró!da interna, proximal, média e distal. Os aneurismas da artéria caró!da extra-craniana predo-minantemente ateroscleró!cos são amiúde localizados no terço proximal e os de causa degenera!va no terço distal8. Quanto à distribuição por sexo, há predominância entre os homens (2:1)1,6. A bilateralidade dos ACE ocorre em 21% 6 . A associação com aneurismas periféricos é pouco 3 freqüente. A história natural revela crescimento progressivo e grande potencial de ruptura. Embolização distal e sintomas compressivos locais são também comuns. Entretanto, os ACE podem ser assintomá!cos, sendo um achado eventual no exame clínico 2,5 . Sintomas neurológicos são freqüentes nesse grupo de pacien2 tes. McCollum e colaboradores iden!ficaram sintomas neurológicos e tumoração palpável em 15% dos pacientes. El-Sabrout 2 relatou que 59% dos pacientes apresentavam massa cervical, 43% sintomas neurológicos, 10% sintomas compressivos locais e 3% evoluíram com ruptura ou iminente ruptura. Clinicamente, estes aneurismas podem se apresentar como uma tumoração pulsá!l logo abaixo do ângulo da mandíbula. Os aneurismas de caró!da interna são mais visíveis à inspeção quanto mais baixa for a bifurcação caro+dea. Os aneurismas da artéria caró!da interna próximos da base do crânio podem aparecer como um abaulamento no lado correspondente da orofaringe; estes, na maioria das vezes, são primeiramente avaliados pelo otorrinola- ringologista. O crescimento do aneurisma pode causar disfagia, rouquidão, surdez, síndrome de Horner e dor por compressão nervosa, no território correspondente1. O diagnós!co diferencial deve ser feito com os alongamentos e os acotovelamentos das artérias caró!das, mais comumente da artéria caró!da comum, que pode simular a dilatação. Tumores de corpo caro+deo, adenomegalias, higromas cís!cos e mesmo bifurcações caro+deas proeminentes em indivíduos magros e hipertensos, também devem ser considerados. Para a avaliação diagnós!ca, indica-se a u!lização de ultra-sonografia ou duplex scan. To m o g rafia co m p u ta d o r i za d a e re s s o n â n c i a magné!ca também podem ser u!lizadas. Todavia, a arteriografia é indispensável, pois é fundamental 1,5 para o planejamento cirúrgico . Em razão do potencial de complicações severas, a intervenção cirúrgica mostra-se extremamente favorável 2 . Winslow 1,2 relatou mortalidade de 71% por ruptura, trombose ou embolia em seguimento de 35 pacientes sem cirurgia; a ligadura da artéria caró!da está associada a uma mortalidade de 28%. El-Sabrout e Cooley 2 relataram maior redução da mortalidade (9 a 12%) quando u!lizada reconstrução cirúrgica. Trabalho recente realizado por Zhou e colaboradores2, avaliando dois grupos, um tratado cirurgicamente de 1985 a 1994 e outro por modalidade cirúrgica ou endovascular entre o período de 1995 a 2005, mostrou considerável redução da mortalidade (12% a 5%), em favor do segundo grupo. O tratamento endovascular oferece a vantagem de não necessitar dissecção com os riscos inerentes da exploração cirúrgica cervical, tal como a lesão nervosa. No trabalho de revisão realizado por Zhou e 2 colaboradores , constatou-se a tendência em tratar as lesões mais distais por método endovascular. Também mostrou ser um importante método alterna!vo naqueles pacientes com risco proibi!vo de cirurgia. No entanto, revela a necessidade de seguimento a longo prazo, para garan!a de segurança. As limitações ao uso desta técnica são a presença de kinking e/ou redundância arterial, com impossibilidade do posicionamento do disposi!vo endovascular e/ou risco de ruptura do vaso4. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 52 Aneurisma de Artéria Carótida Interna: Tratamento Cirúrgico CONCLUSÃO Os ACEC são patologias raras, de etiologia variável e ainda não bem definidas. Devido a possibilidade de ser um achado ocasional em exame físico de um médico generalista, o conhecimento desta afecção deve ser difundido. A intervenção mostra-se mandatória, seja ela cirúrgica ou por método endovascular, em virtude do risco de complicações relacionadas à não intervenção. O tratamento endovascular tem mostrado melhores resultados quanto a morbimortalidade, quando comparado à terapia cirúrgica. No entanto, a escolha do melhor tratamento deve ser individualizada caso a caso. REFERÊNCIAS 1. Brito CJ, Merlo I, Fonseca Filho VL. Aneurismas dos Troncos Supra-Aórticos. In: Cirurgia Vascular: Cirurgia Endovascular. Angiologia. Ed Revinter 2002;1:524-534. 2. Zhou W et al. Carotid artery aneurysm: Evolution of management over two decades. J Vasc Surg 2006; 43493-6. 3. Faggioli GL et al. Extracranial internal carotid artery aneurysms: Results of a surgical series with long-term follow-up. J Vasc Surg 1996; 23:587-95. 4. Trinidad-Hernández M, Introcaso J, White J. Combined open and endovascular treatment of a saccular aneurysm and redundant loop of the internal carotid artery. J Vasc Surg 2006;44:642-6. 5. Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado.Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. 6. Painter TA et al. Extracranial carotid aneurysms: Report of six cases and review of the literature. J Vasc Surg 1985; 2:312-8. 7. Hertzer NR. Extracranial carotid aneurysms: A new look at an old problem. J Vasc Surg 2003;31:823-5. 8. Valentine RJ. Asymptomatic internal carotid artery aneurysm. J Vasc Surg 2003;37:210. 9. El Sabroaut R, Cooley D. Extracranial carotid aneurysms: Texas Heart Institute experience. J Vasc Surg 2000; 31:70212. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 53 Relato de Caso Doenças Bolhosas Agudas da Pele: Síndrome de Stevens Johnson e Necrólise Epidérmica Tóxica: Comparação entre dois casos clínicos ACUTE BULLOUS SKIN DISEASES: STEVENS-JOHNSON SYNDROME & TOXIC EPIDERMAL NECROLYSIS: COMPARISON BETWEEN TWO CLINICAL CASES RESUMO Algumas doenças de pele caracterizam-se por lesões bolhosas e variam quanto ao modo, e!ologia e idade de ocorrência. A síndrome de Stevens Johnson (SSJ) se apresenta sob a forma de vesículas bolhosas disseminadas, enquanto a Síndrome de necrólise epidérmica tóxica (NET) provoca a separação da epiderme, com aparecimento de bolhas e desnudamento da super, cie cutânea. O diagnós!co é di, cil pela semelhança da fisiopatologia o que torna confundível a terapêu!ca de ambas. Esse trabalho ressalta as diferenças de cada uma das síndromes trazendo relatos prá!cos e uma revisão sobre essas patologias. Unitermos: Síndromes de hipersensibilidade, Stevens Johnson, necrólise epidérmica tóxica, doenças bolhosas. ABSTRACT Anelise M. Cappelari Kelli T. Sartori Raquel Giacomini Some skin diseases are characterized by bullous lesions and vary in mode, e!ology, and age of occurrence. The Stevens-Johnson Syndrome (SJS) presents disseminated bullous vesicles, while the toxic epidermal necrolysis (TEN) causes epidermis separa!on, with blisters emerging and cutaneous surface denuding. The diagnosis is difficult because of the physiopathology similarity, which confuses the therapeu!cs of both diseases. This work highlights the differences of each syndrome showing prac!cal reports and a review on these pathologies. Centro de Tratamento Intensivo Pediátrico do Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo (RS) Correspondências: Raquel Giacomini Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] Keywords: Hypersensi!vity syndrome, Stevens-Johnson, toxic epidermal necrolysis, bullous diseases. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 54 Doenças Bolhosas Agudas da Pele: Síndrome de Stevens Johnson & Necrólise Epidérmica Tóxica: Comparação entre dois casos clínicos A síndrome de Síndrome Stevens Johnson é uma doença vesicolobolhosa dentro da classificação de síndromes de hipersensibilidade muito semelhante a Necrólise Epidérmica Tóxica. As drogas são a causa mais comum, ocorrendo mais freqüentemente em crianças e adultos jovens com distúrbios convulsivos, infecções respiratórias superiores, vírus herpes simples e distúrbios gastrintes!nais1. As lesões podem ser cutâneas, com alvos a+picos planos ou maculopurpúricos, disseminados e distribuídos pelo tronco, nas palmas e plantas, sendo autolimitada e com regressão em aproximadamente um mês se não houver complicações. Também temos lesões mucosas que aparecem de 1 a 14 dias após os sintomas prodrômicos (febre alta, dor de garganta, tosse, infecções respiratórias superiores), surgindo na conjun!va dos olhos (podendo levar a cegueira, complicação grave penfigóide cicatricial), membranas mucosas das narinas, boca, junção anorretal, região vulvovaginal, meato uretral e estoma!tes ulcera!va com formação de crostas hemorrágicas. O seu diagnós!co pode ser feito através de uma biópsia da pele, com método de imunofluorescência direta para diferenciação das síndromes. O tratamento mais usual é an!bio!coterapia, an!-histamínicos para prurido e o uso de cor!costeróides permanece controverso. Cura!vos com soro fisiológico 0,9% , lavagens com hidrocloreto de lidocaína para reduzir a dor, solução de Burow, colírios an!-sép!cos e vitamina A fazem hipossecreção lacrimal, hidratação endovenosa com dieta líquida1,3,4. Já a NET apresenta aspecto clínico similar à da Síndrome da Pele Escaldada Estafilocócica (SPEE), porém diferenciam-se pela e!ologia, secundárias a medicação na NET e infecciosa na SPEE. É também é classificada como um sub!po de síndromes de hipersensibilidade. A NET assim como a SSJ apresenta-se semelhante a da SSJ iniciando com lesões vesiculasbolhosas e progredindo para um deslocamento difuso e generalizado da epiderme através da junção dermoepidér- mica resultando assim, perda de toda espessura da epiderme causando em uma alta taxa de mortalidade. A perda de líquido não é o maior problema, pois a morte geralmente é causada por sepse incontrolável, originada pela pele desnuda ou nos pulmões. A NET é 1 rara, ocorrem e, 1,3 casos por 1 milhão por ano . As causas da NET são as mesmas das SSJ, as drogas estão freqüentemente implicadas em ambas. A reação é independente da dose. Em duas grandes séries, as drogas culpadas incluíram an!bió!cos (40%), an!convulsivantes (11%) e analgésicos (5 a 23%). Os países desenvolvidos têm maior incidência de reações a drogas tuberculostá!cas. As doenças subjacentes mais frequentes que jus!ficam o tratamento com essas drogas são infecções (52,7%) e dor (36%)4. A NET também pode estar ligada a um defeito hereditário, onde um metabólito da droga pode se ligar a proteínas na epiderme desencadeando uma reação medicamentosa cutânea adversa imunoalérgica. As medicações mais comumente implicadas são: sulfonamidas, trimetropimsulfametoxazol, clormezanona, aminopenicili-nas, quinolonas, cefalosporinas, acetominofeno, carbomaze-pina, fenobarbital, fenitoína, ácido valpróico, an!inflamatórios não esteróides, alopurinol, Cor!costeróides2,4. O tratamento poderá ser feito com ciclosporina (3mh/kg/dia), ciclofosfamida (100 a 300 mg/dia por cinco dias), as quais interrompem a formação de bolhas, dor e eritema. O uso de imunoglobulina é recomendado, bem como o controle dos distúrbios hidroeletrolí!cos, plasma fresco, suporte nutricional, semelhante ao usado em grandes queimados.Os cura!vos devem ser feitos com So'-Dorb, especial com solução de nitrato de prata a 0,5%, pode ser deixado no lugar por dois a três dias, permi!ndo uma cicatrização da ferida com umidade. Deve-se evitar sulfadiazina de prata e acetato mafenida, pois retardam a reepitezização e ressecam a ferida. Também existe o Biodrame, uma pele sinté!ca temporária, diminuindo a dor e perda de líquidos e 1 possivelmente facilitará a epitelização . Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 55 Doenças Bolhosas Agudas da Pele: Síndrome de Stevens Johnson & Necrólise Epidérmica Tóxica: Comparação entre dois casos clínicos RELATO DE CASO 1 Criança, sexo masculino, 9 anos e 11 meses, procedente do interior de Palmi!nho RS internou em 18/08/06 no Centro de tratamento Intensivo Pediátrico do Hospital São Vicente de Paulo, com quadro de lesões bolhosas e com necrose epidérmica. Tem história prévia de acidente de trânsito com trauma!smo crânio encefálico (TCE) em uso de fenobarbital e fenitoína. Hipótese diagnós$ca: Síndrome de Stevens Johnson e broncopneumonia (BCP). Tratamento: Cura!vos com sulfadiazina de prata, analgésicos, hidratação endovenosa (EV), ven!lação mecânica e an!bio!coterapia. Evolução: remissão das lesões com alta para casa. Figura 1. Síndrome de Stevens Johnson. Figura 2. Síndrome de Stevens Johnson. RELATO DE CASO 2 Criança, sexo feminino, 2 anos e 2 meses, procedente de Muliterno interior do RS internou em 21/08/06 no Centro de tratamento Intensivo Pediátrico do Hospital São Vicente de Paulo, com quadro de lesões bolhosas. História prévia de crise convulsiva e infecção de vias aéreas superiores (IVAS), febril em uso de fenobarbital e an!bio!coterapia com amoxacilina via oral. Hipótese diagnós$ca: Síndrome de Necrólise Epidérmica Tóxica ou SSJ ou SPEE. Evolução: Sep!cemia e óbito com duas semanas de internação. Figura 3. Síndrome de Necrólise Epidérmica Tóxica. Figura 4. Síndrome de Necrólise Epidérmica Tóxica. Tratamento: Cura!vos com sulfadiazina de prata e Triglicérideos (TCM), analgésicos, hidratação endovenosa (EV), ven!lação mecânica e an!bio!coterapia. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 56 Doenças Bolhosas Agudas da Pele: Síndrome de Stevens Johnson & Necrólise Epidérmica Tóxica: Comparação entre dois casos clínicos COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES Através do estudo desses dois casos clínicos relatados, extraímos que ambos ocorreram simultaneamente e que a principal preocupação da equipe da CTIP foi em relação ao diagnós!co e terapêu!cas corretas para uma ideal evolução da patologia, visto que, as lesões apresentavam grande semelhança. A primeira medida da equipe foi isolar estes pacientes em um mesmo box a fim de protegê-los contra possíveis infecções bacterianas secundárias. Em ambos os pacientes foram realizadas avaliações o'almológica, para prevenção de lesões oculares e dermatológica para diferenciar as patologias. O tratamento realizado para caso de SSJ foi seguido conforme orientação do dermatologista usando triglicérideos de cadeia média (TCM), enquanto a do cirurgião plás!co foi para se usar a forma de tratamento para queimados, lavando a pele lesada com clorexidine degermante e rompimento as bolhas, após usar sulfadiazina de prata 1% com envolto de atadura rayon facilitando assim o ressecamento das lesões. Na sequência foram suspensos o uso da sulfadiazina de prata e introduzido o uso do TCM, com remissão quase total das bolhas e melhora da pele. Já o tratamento para NET foi com sugestões mul!disciplinares incluindo a equipe de médicos da CTIP, da dermatologia, do Controle de Infecção hospitalar e da cirurgia plás!ca do HSVP onde se decidiu que seria realizado um cura!vo diário com lavagem com SF 0,9% morno mais TCM envolvendo o corpo também com atadura de rayon usando sempre analgesia antes da realização dos cura!vos. Estes dois casos clínicos de doenças com comprome!mento da pele e tecido subcutâneo impressionou toda a equipe do CTIP do HSVP, tanto pela coincidência de internarem no mesmo período, pois são doenças raras, de incidência muito pequena nesta CTIP, tanto quanto pela evolução. Pois ambos chegaram clinicamente graves, com comprome!mento sistêmico, receberam tratamentos semelhantes e !veram evoluções tão dis!ntas. O ensinamento que adquirimos é de ofertar uma assistência que provenha a melhor tecnologia de saberes, procedimentos e equipamentos conjugados ao diagnós!co diferencial rápido fornecendo a estes pacientes o tratamento eficaz aliado à humanização do cuidado, elemento este indispensável a todas as crianças internadas no nosso CTIP. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. T.P. Habif. Dermatologia Clínica: Guia colorido para Diagnós!co e Tratamento. 4ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. Lowy G, Alonso FJ, Cestari SCP, Cestari TF, Oliveira ZNP. Atlas de Dermatologia Pediátrica Topográfico e Morfológica – Editora Medsi, 2000. RE Behrman MD, RM Kliegman MD, AM Arvin MD. Nelson. Tratado de Pediatria. 15ª edição. Editora Guanabara Koogan S.A, 1997. J. Murahovschi. Pediatria, Diagnos!co e Tratamento. Editora Sarvier, 2003. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 57 Relato de Caso Cisto de Baker gigante bilateral: relato de caso* ACUTE BULLOUS SKIN DISEASES: STEVENS-JOHNSON SYNDROME & TOXIC EPIDERMAL NECROLYSIS: COMPARISON BETWEEN TWO CLINICAL CASES RESUMO O presente trabalho discute o caso clínico de um homem de 57 anos de idade com cistos de Baker gigantes em panturrilhas bilateralmente, previamente hígido e sem história familiar de doenças reumatológicas. O paciente apresentava dores constantes em pernas e edemas em tornozelos com dificuldades para deambular. Iniciou o quadro com tumorações de crescimento lento, sem história prévia de trauma. Materiais e métodos: a radiografia inicial dos joelhos e das pernas direita e esquerda mostrou apenas edema de partes moles sem o envolvimento periosteal, enquanto a ultrassonografia mostrou imagens cís!cas em ambas as pernas com diâmetros aproximados de 25x11cm e 16x6cm. O exame clínico e laboratorial revelou a presença de artrite reumatóide. O tratamento escolhido foi a excisão dos cistos com realização de videoartroscopia com sinovectomia de ambos os joelhos para evitar recidivas. Conclusão: o tratamento escolhido foi a remoção cirúrgica dos cistos pelo fato de serem gigantes e de comprometerem a qualidade de vida do paciente, evitando dor, edema e trombose venosa nos pés e pernas. Unitermos: Cisto de Baker/diagnós!co; Cisto de Baker/radiologia; Cisto de Baker/tratamento; Relato de caso ABSTRACT Antônio Lourenço Severo Leandro de F. Spinelli Marcelo Lemos André Kuhn Osvandré L. C. Lech Paulo F. Piluski *Trabalho realizado no Ins!tuto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) e Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) em Passo Fundo, RS. Correspondências: Antônio Lourenço Severo Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] The present work discusses a clinical case of a 57 year-old man with bilateral giant Baker's cysts in the calves. The individual was previously healthy and without any family history for rheuma!c diseases. The pa!ent presented constant pain in the legs, and edema in the ankles with difficul!es to move. The condi!on started with slow-growing tumors without previous history of trauma. Materials and methods: ini!al radiography of knees, and right and le' legs presented only edema of so' parts without periosteal implica!on, while the ultrasound presented cys!c images in both legs with 25x11 cm and 16x6 cm mean diameters. Clinical and laboratory evalua!on revealed rheumatoid arthri!s. The treatment selected was the excision of cysts, performing arthroscopy with synovectomy in both knees to avoid recurrences. Conclusion: the treatment of choice was the surgical removal of the cysts because of their giant size and for compromising the pa!ent's quality of life, thus avoiding pain, edema, and venous thrombosis in feet and legs. Keywords: Baker's cyst/diagnosis; Baker's cyst/radiology; Baker's cyst/ treatment; Case report. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 58 Cisto de Baker gigante bilateral: relato de caso INTRODUÇÃO A herniação da sinóvia através da cápsula ar!cular ou o aumento maciço de uma bolsa podem iniciar o desenvolvimento de um cisto sinovial. Um exemplo bem conhecido é o cisto sinovial que se forma no espaço poplíteo no contexto da artrose, lesões meniscais e sinovites crônicas, chamado de cisto de Baker 1,3 . O reves!mento sinovial pode ser hiperplásico e conter células inflamatórias e fibrina, mas de outro modo é inespecífico2. Na artrite reumatóide pode-se verificar a formação dos cistos poplíteos em conseqüência de derrame ou proliferação sinovial na membrana do semi-membranoso. Os cistos podem dissecar ou sofrer ruptura na panturrilha, produzindo sinais e sintomas que mime!zam a tromboflebite e a trombose venosa profunda. A ultrassonografia e os estudos com Doppler da fossa poplítea e panturrilha podem ser úteis para firmar o diagnós!co, bem como para excluir a trombose venosa profunda, que pode ocorrer por compressão venosa de um cisto grande em até 5% dos casos3,5. O diagnós!co do cisto pode também ser feito por transiluminação, aspiração, a r t ro g ra fia , t o m o g ra fia c o m p u t a d o r i za d a e ressonância nuclear magné!ca3,6. O presente trabalho discute o caso clínico de um homem de 57 anos de idade com cistos de Baker gigantes em panturrilhas bilateralmente. RELATO DE CASO O caso clínico apresentado neste trabalho é o de um paciente masculino de 57 anos de idade, branco, fumante e e!lista, previamente hígido. Há sete anos havia iniciado quadro de dor insidiosa de leve intensidade no joelho direito, com caráter progressivo, sem derrame ar!cular ou outros sinais inflamatórios. Somou-se, consecu!vamente à dor no joelho direito, dor em tornozelos, mãos, cotovelos, quadris, pés e no joelho esquerdo. Inicialmente as dores eram ocasionais, com duração de dois a três dias. Com o passar do tempo, passou a apresentar sinais flogís!cos em todas as ar!culações citadas, com rigidez ma!nal que perdurava por várias semanas. Iniciou tratamento com um clínico geral com o diagnós!co de artrite reumatóide, confirmada por critérios clínicos e laboratoriais. Seu tratamento foi baseado em cor!coesteróides injetáveis e an!-inflamatórios não-hormonais por via oral. Há dois anos apresentou piora significa!va dos sintomas e foi-lhe indicado consultar um reumatologista. O médico reumatologista observou cistos poplíteos de grande volume, que foram aumentando grada!vamente, sendo então encaminhado ao ortopedista, que solicitou radiografias dos joelhos e das pernas direita e esquerda, evidenciando apenas edema de partes moles sem o envolvimento perios!al. A seguir, foi solicitada ultrassonografia que mostrou imagens cís!cas em ambas as pernas com diâmetros aproximados de 25x11cm e 16x6cm. O paciente negava história familiar de artrite reumatóide e outros problemas de saúde. Atualmente encontra-se em tratamento da artrite reumatóide com prednisona, metotrexato, sulfassalazina e an!-inflamatórios nãohormonais com bom alívio dos sintomas. Ao final de sua avaliação ortopédica, foi-lhe indicada ressecção cirúrgica dos cistos para aliviar a dor e diminuir Figura 1. (A) demarcação cirúrgica pré-operatória da perna esquerda; (B) transoperatório com elevação do cisto da perna esquerda e (C) remoção; (D) e (E) transoperatório e remoção do cisto da perna direita; (F) resultado estético final; (G) resultado funcional. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 59 Cisto de Baker gigante bilateral: relato de caso edemas, além de melhorar a deambulação, sendo também realizada no mesmo ato cirúrgico uma videoartroscopia para realização de sinovectomia para evitar recidivas. A Figura 1A apresenta o préoperatório da perna esquerda com a demarcação cirúrgica, enquanto as Figuras 1B e 1C o transoperatório com a remoção do cisto da perna esquerda, medindo 16x6cm. As Figuras 1D e 1E mostram o trans-operatório do cisto da perna direita e remoção do mesmo, medindo 25x11cm. O resultado esté!co e funcional final pode ser visto nas Figuras 1F e 1G. DISCUSSÃO Nos adultos o cisto de Baker pode ser secundário a modificações patológicas no interior da ar!culação tais como em artrose, lesões meniscais e sinovites crônicas1,7. Os cistos frequentemente se formam no espaço poplíteo quando a inflamação no joelho resulta em efusão persistente, com volume moderado. A formação é devida a um aumento significa!vo da pressão intra-ar!cular. Gradualmente uma parte da cápsula posterior enfraquece e a membrana sinovial é forçada para fora através do defeito. Uma vez que a pressão no joelho será sempre maior do que a do cisto, este vai aumentado gradualmente, dissecando ao longo dos planos fasciais em direção inferior até a panturrilha 5 . Nos casos de sinovite reumatóide, pela friabilidade dos tecidos, o cisto 1 pode romper-se . Como o cisto não possui cápsula fibrosa, e portanto uma tendência a romper-se, ocorre vazamento do líquido sinovial inflamatório nos tecidos da panturrilha e inicia um quadro de dor abrupta com edema e calor na panturrilha, simulando uma trombose venosa profunda, tromboflebite ou celulite 1,5 . Krome et al. relataram o desenvolvimento de síndrome compar!mental aguda como resultado de um cisto de Baker roto e sangramento venoso espontâneo8. Se não houver ruptura, o cisto pode causar dor crônica ou compressão venosa parcial, resultando em edema da panturrilha e do pé5. Ji et al. relataram um caso de compressão nervosa dos nervos !bial e fibular comum, causada por um cisto de Baker inicialmente assintomá!co que trouxe como conseqüência a queda do pé9. Childress considerou que alguns cistos poplíteos são causados por uma lesão do corno posterior do menisco medial ou alguma outra condição patológica não diagnos!cada no joelho10. Isto foi confirmado por relatos posteriores nos quais condições patológicas intra-ar!culares foram constatadas em até 50% dos adultos com cistos poplíteos3,10. O diagnós!co do cisto poplíteo pode ser confirmado por uma punção aspira!va, artrografia, ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magné!ca do joelho, evidenciando comunicações 1,3,5 do cisto e delineando sua extensão de dissecção . Pozzi e Konkewicz discutem que o tratamento deve ser realizado sobre a patologia primária que gera o cisto. Os autores comentam que, quando muito 1 distendido, pode ser aspirado para alívio da dor . Naides et al., ao contrário, comentam que os cistos grandes e sintomá!cos podem ser tratados pela sinovectomia do joelho, mas também não recomen5 dam a excisão do cisto . Dlabach discute que antes da excisão de um cisto poplíteo devemos realizar uma avaliação artroscópica cuidadosa, fato este que foi 3 realizado no presente caso clínico . Takahashi e Nagano e Ahn et al. discutem que o tratamento dos cistos poplíteos pode ser realizado pela artroscopia e apresentam algumas soluções através de diferentes 11,12 portais . Condições patológicas intra-ar!culares, como condromalácia patelofemural ou uma laceração degenera!va do corno posterior do menisco medial, podem ser inden!ficadas e tratadas por desbridamento dos fragmentos car!laginosos soltos ou meniscectomia parcial, respec!vamente 3 . Válvulas comunicantes podem ser responsáveis pela formação e recorrência dos cistos e podem ser ressecadas na mesma ocasião da artroscopia12. Bui-Mansfield e Youngberg discutem o tratamento conservador com agentes an!-inflamatórios, gelo e perda de peso. Referem que alterações intraar!culares devem ser tratadas com artroscopia e que a excisão do cisto deve ser considerada nos casos não responsivos aos tratamentos prévios13. Realizamos, no presente caso, a remoção dos cistos, inclusive pelo fato de serem gigantes, comprometendo a funcionabilidade e a qualidade de vida do paciente. Consideramos a subs!tuição da pneumoartrografia pela ultrassonografia ou ressonância magné!ca, discu!da também por Dlabach3 e Arne% 4. Cistos sinoviais gigantes da panturrilha em pacientes com artrite reumatóide foram descritos também por Perri et al, originando-se e comunicando-se com o joelho na área poplítea, como pode ser demonstrado 3,14 pela artrografia ou ressonância . Em pacientes reumatóides que têm um cisto sinovial gigante removido, Vahvanen sugeriu realizar uma sinovectomia posterior para prevenir recidivas3,15, exatamente o que foi feito no caso do paciente relatado. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 60 Cisto de Baker gigante bilateral: relato de caso REFERÊNCIAS 1. Pozzi JFA, Konkewicz ER. Joelho do adulto. In: Herbert S et al. (Eds). Ortopedia e traumatologia: princípios e prá!ca. Porto Alegre: Artmed Editora, 2003; 470-1. 2. Cotran RS, Kumar V, Collins T. Robbins: Patologia estrutural e funcional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. p. 1125. 3. Dlabach JA. Transtornos não-traumá!cos de partes moles. In: Canale ST (Ed) - Cirurgia Ortopédica de Campbell, tradução de Nelson Gomes de Oliveira. 10a ed. Barueri: Manole, 2006; 1(24): 896-8. 4. Arne% FC. Artrite reumatóide. In: Goldman L, Bennet JC (Eds). Cecil: Tratado de medicina interna. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001; p. 1666. 5. Naides SJ, Ashman RF, Field EH et al. Afecções reumá!cas: diagnós!co e tratamento. In: Weinstein SL, Buckwalter JA (Eds). Ortopedia de Turek: Princípios e sua aplicação, tradução de Fernando Gomes do Nascimento. Barueri: Manole, 2000; p. 163. 6. Beall DP, Ly JQ, Wolff JD, Sweet CF, Kirby AB, Murphy MP, Webb H, Fish JR. Cys!c masses of the knee: magne!c resonance imaging findings. Curr. Probl. Diagn. Radiol. 2005; 34(4): 143-159. 7. Windsor RE. Joelho do adulto. In: Weinstein SL, Buckwalter JA (Eds). Ortopedia de Turek: Princípios e sua aplicação, tradução de Fernando Gomes do Nascimento. Barueri: Manole, 2000; p. 587. 8. Krome J, Araújo W, Webb LX. Acute compartment syndrome in ruptured Baker's cyst. J South Orthop Assoc. 1997; 6: 1104. 9. Ji J-H, Shafi M, Kima W-Y, Parka SH, Cheona JO. Compressive neuropathy of the !bial nerve and peroneal nerve by a Baker's cyst: Case report. Knee 2007; 14(3): 249-52. 10. Childress HM. Posterior medial meniscal lesions and popliteal cysts. J Bone Joint Surg Am. 1965; 47(A): 1272-3. 11. Takahashi M, Nagano A. Arthroscopic treatment of popliteal cyst and visualiza!on of its cavity through the posterior portal of the knee. Arthroscopy 2005; 21(5): 638. 12. Ahn JH, Yoo JC, Lee SH, Lee YS. Arthroscopic cystectomy for popliteal cysts through the posteromedial cys!c portal. Arthroscopy 2007; 23: 559.e1-4. 13. Bui-Mansfield LT, Youngberg RA. Baker Cyst. [periódico na Internet]. 2007 [citado 2007 Set 01]. Disponível em: h% p://www.emedicine.com/radio/topic72.htm. 14. Perri JA, Rodnan GP, Mankin HJ. Giant synovial cysts of the calf in pa!ents with rheumatoid arthri!s. J Bone Joint Surg Am. 1968; 50(4):709-19. 15. Vahvanen V. Popliteal cyst: a follow-up study on 42 opera!vely treated pa!ents. Acta Orthop Scand. 1973; 44:303. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 61 Relato de Caso Histoplasmose de próstata: relato de um caso e discussão ACUTE BULLOUS SKIN DISEASES: STEVENS-JOHNSON SYNDROME & TOXIC EPIDERMAL NECROLYSIS: COMPARISON BETWEEN TWO CLINICAL CASES RESUMO A histoplasmose é a doença fúngica sistêmica mais comum nos EUA. As razões precisas para a distribuição endêmica da infecção não são bem conhecidas. Sabe-se , porém, que a histoplasmose sistêmica ocorre em regiões endêmicas ou, mais comumente, em pacientes imunodeprimidos. A infecção pulmonar primária, como porta de entrada, resulta da inalação de esporos do Histoplasma Capsulatum. A histoplasmose urológica é rara em pacientes imunocompetentes, acometendo principalmente glândulas supra-renais e os rins e, muito raramente, a próstata. Nós, descrevemos um caso de um paciente HIV-posi!vo com histoplasmose prostá!ca, alterações genitourinárias, bem como sinais e sintomas sistêmicos ( perda de peso, fadiga, convulsões), com diagnós!co prévio de hiperplasia prostá!ca benigna. Discu!remos a inves!gação diagnós!ca e o tratamento deste paciente. Unitermos: Próstata, histoplasmose, Aids. Mário Franciosi¹ Rubens Rodrigues² Júlio César Foia% o³ Jaber Nashat de Souza Saleh³ Junior Atolini Nédio Annes³ 4 Rafael Agos!ni Professor da disciplina de Urologia, Faculdade de Medicina, Universidade de Passo Fundo (RS)¹ Professor da disciplina de Patologia, Faculdade de Medicina, Universidade de Passo Fundo (RS)² Acadêmicos, Faculdade de Medicina, Universidade de Passo Fundo (RS)³ 4 Médico Correspondências: Mário Franciosi Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] ABSTRACT Histoplasmosis is the most common systemic fungal disease in the USA. The precise reasons for endemic distribu!on of the infec!on are not well known. However, it is know that systemic histoplasmosis occurs in endemic regions or, more o'en in immunosuppressed pa!ents. As a gateway, primary pulmonary infec!on results from the inhala!on of spores of Histoplasma Capsulatum. Urological histoplasmosis is rare in immunocompetent pa!ents, primarily affec!ng adrenal glands and kidneys and, very rarely, the prostate. We d e s c r i b e a c a s e o f a n H I V - p o s i !v e p a !e n t w i t h p r o s t a !c histoplasmosis, genitourinary changes, and systemic signs and symptoms (weight loss, fa!gue, convulsions), with prior diagnosis of benign prosta!c hyperplasia. The discussion will be on the diagnos!c inves!ga!on and treatment of this pa!ent. Keywords: Prostate, histoplasmosis, AIDS. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 62 Histoplasmose de próstata: relato de um caso e discussão INTRODUÇÃO A histoplasmose é principalmente encontrada na América do Norte e Central. No Brasil, a doença predomina na região da Serra do Mar. O Rio Grande do Sul é área endêmica par!cularmente no vale do rio Jacuí, onde o Histoplasma capsulatum foi isolado do solo e onde 89% dos jovens são reatores ao teste 1 da histoplasmina . Em áreas endêmicas, 5% a 20% dos pacientes infectados pelo HIV desenvolvem histoplasmose disseminada2; verificou-se, em estudo restrospec!vo, que 80% dos pacientes com histoplasm o s e d i s s e m i n a d a !n h a m a l g u m a fo r m a d e imunossupressão3. A maioria dos casos é esporádica e a fonte exata de exposição é obscura. A endemicidade é atribuída ao clima, a umidade e as caracterís!cas do solo. As fezes de pássaros e morcegos potencializam a esporulação desse organismo no solo4. Esse fungo dimórfico térmico causa diferentes manifestações clínicas, dependendo do estado anatômico e imunológico do hospedeiro e do tamanho do inóculo fúngico 5 . A progressão para doença disseminada ocorre em cerca de 1 para 20.000-50.000 casos 6 . Em 1987, a histoplasmose disseminada foi incluída no grupo de doenças indicadoras de Aids em pacientes com infecção 7 comprovada pelo HIV . A mortalidade nos imunossuprimidos chega a 90%. Segue descrição de caso de histoplasmose de próstata em paciente portador do vírus da imunodeficiência humana (HIV) que se apresentou com perda de peso e sintomas urinários obstru!vos. RELATO DE CASO H.B., 57 anos, divorciado, agricultor, natural e procedente de Passo Fundo (RS). Vem a emergência do Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo (RS), queixando-se de dor em região perineal ao urinar, disúria, hesitância, diminuição do jato urinário há cerca de 6 meses. Refere ainda fadiga e inapetência há 10 dias. Em uso de doxazocina e omeprazol. História prévia de úlcera pép!ca. Ao exame: regular estado geral, afebril, eupnéico, taquicárdico, pressão arterial de 95/55mmHg; mucosas hipocoradas (3+/4+), desidratadas, anictéricas, acianó!cas; ausculta pulmonar evidencia roncos e sibilos nas bases pulmonares; toque retal demonstra próstata de aproximadamente 40g, lobulada, elás!ca; genitália sem alterações; com o restante do exame , sico sem anormalidades. Exames laboratorias iniciais evidenciam pancitopenia (hemoglobina: 7,7 g%; hematócrito: 23%; eritrócitos: 2.570.000/mm3; plaquetas: 80.000/mm3; leucócitos: 2.600/mm3), crea!nina de 5,26mg%, hipercalemia (8,3mEq/l), PSA de 8 ng/ml, hematúria, ves+gios de proteínas no EQU e radiograma torácico apresenta sinais de doença pulmonar obstru!va crônica. Foi solicitado acompanhamento nefrológico devido a perda de função renal. Na seqüência da avaliação urológica, foi solicitada ultra-sonografia de abdome total e próstata que mostrou: esteatose hepá!ca severa; aumento difuso da ecogenicidade renal (suges!vo de nefropa!a aguda e/ou diabé!ca); paredes vesicais difusamente irregulares; próstata de contornos irregulares, ecotextura heterogênea e com volume de 56,8 cm3). Procedeu-se a biópsia prostá!ca (6 fragmentos por lobo), cujo laudo diagnos!ca histoplasmose de próstata. Iniciou-se terapia com fluconazol. Devido ao diagnós!co patológico, solicitou-se sorologia para HIV que se mostrou reagente. Apresentou crises convulsivas. A avaliação neurológica diagnos!cou toxoplasmose cerebral. O paciente teve alta após 45 dias de internação. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Referiu-se a caso de histoplasmose de próstata em paciente imunossuprimido, residente em área endêmica que não apresentou quadro pulmonar ou cutâneo prévio. No Brasil, foram relatadas 26 microepidemias de histoplasmose desde 1958, envolvendo 184 pacientes em 8 estados (RJ, RS, SP, DF, MG, PB, AM, BA). As principais fontes de infecção foram visitas a grutas com fezes de morcego, seguidas por visitas a minas abandonadas e contato com fezes de galinheiro5. No RS, a par!r de 1981, 39 casos de histoplasmose foram 3 publicados . Infecções fúngicas podem envolver qualquer estrutura do trato geniturinário, inclusive a próstata; a prosta!te micó!ca decorre da disseminação hematogênica (maioria dos casos) ou da disseminação por con!güidade a par!r das vesículas seminais e do epidídimo (fluxo retrógrado do fluido seminal). A incidência dos casos de prosta!te micó!ca é incerta, devido à raridade e à precariedade de sintomas. Em análise de 150 casos de micoses sistêmicas, 6% apresentaram envolvimento do 8 sistema geniturinário . Estudo com 123 pacientes Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 63 Histoplasmose de próstata: relato de um caso e discussão com cultura posi!va para Histoplasma capsulatum encontrou 1 caso de envolvimento prostá!co9. Série maior, envolvendo 530 casos documentados de histoplasmose, encontrou somente 1 caso de acome!mento da próstata10,11. Estudo realizado no período de 1984 a 1991 arrolou 45 pacientes com histoplasmose, nenhum dos quais apresentou envolvimento prostá!co; nessa série, a histoplasmose disseminada foi a doença definidora de Aids em 6 metade dos pacientes portadores do HIV . Estudo realizado no RS, no período de 1978 a 1999, não detectou quaisquer casos de envolvimento da próstata pelo Histoplasma capsulatum em 137 casos 3 analisados . O envolvimento prostá!co é bem documentado na blastomicose e na criptococose, ao contrário do que ocorre com a paracoccidioidomicose e com a histoplasmose. Nesses casos, deve haver a diferenciação diagnós!ca com tuberculose, neoplasias, hiperplasia prostá!ca benigna, sífilis, prosta!te bacteriana. A apresentação pode ser marcada por desconforto perineal ou supra-púbico, hematúria, hematospermia, disúria, sintomas obstru!vos. O s a c h a d o s c l í n i co s d a d i s s e m i n a çã o d o Histoplasma capsulatum são inespecífico, incluindo febre e perda de peso 12 . O radiograma pulmonar pode ser normal – onde se enquadra o presente caso – ou apresentar pequenos nódulos disseminados (suges!vo de tuberculose miliar) ou mostrar infiltrado re!culonodular difuso (suges!vo de pneumonia por Pneumocys!s carinii)13,14,15. O diagnós!co da forma disseminada é firmado ao ser encontrado o fungo em material de biópsia co ra d o p e l a té c n i ca d e G o m o r i - G ro co % co m metenamina argên!ca (GMS); testes sorológicos podem ser realizados (imunodifusão). Os casos de histoplasmose são descritos principalmente em pacientes imunossuprimidos; apesar disso, o envolvimento geniturinário pela histoplasmose permanece raro. Nesses indivíduos, o tratamento deve ser agressivo e prolongado16 . A terapia da histoplasmose disseminada em pacientes com Aids é dividida em duas fases: indução (12 semanas) e manutenção. Para a primeira fase, anfotericina B lipossomal está indicada para pacientes cri!camente doentes que requeiram hospitaliza- ção, podendo ser subs!tuída por itraconazol em pacientes em melhor estado ou para con!nuação da indução após melhora parcial do paciente; itraconazol pode ser subs!tuído por fluconazol em indivíduos que não toleram o primeiro (itraconazol só é absorvido em ambiente ácido). A manutenção é realizada preferencialmente com itraconazol; o fluconazol é opção. Os pacientes que recebem fluconazol devem ser rigorosamente acompanhados pelo risco de 17 recaídas . A profilaxia primária em pacientes com Aids está indicada a par!r de contagens de CD4 menores que 150/ml 4,18 . A cirurgia não é indicada nesses casos pelo risco de disseminação do fungo9. No paciente relatado, optou-se pelo fluconazol devido a história de úlcera pép!ca e uso crônico de inibidor da bomba de prótons. Há poucos casos relatados de histoplasmose de próstata, os quais ocorreram por disseminação hematogênica de foco pulmonar. O primeiro caso foi publicado por Bersack et al., em 1958, diagnos!cou, em autópsia, um caso em paciente de 63 anos com síndrome de Peutz-Jehgers19 . Reddy et al., em 1970, descreveu paciente de 55 anos, fazendeiro, residente no estado de Missouri, Estados Unidos, que apresentou histoplasmose cutânea, histoplasmose pulmonar e, na seqüência, histoplasmose de próstata 10 . Em 1 9 9 2 , n o e s t a d o d o Texa s , E s t a d o s U n i d o s , Zighelboim J et al. descreveu um caso de abscesso prostá!co por Histoplasma capsulatum surgido após tratamento de histoplasmose pulmonar em paciente com Aids20 . Mawhorter et al., em 2000, relatou caso de paciente de 77 anos, com sistema imunológico íntegro, que apresentou histoplasmose pulmonar aguda e, após, histoplasmose de próstata12. Outros 5 casos foram relatados8,11,21,22,23. Em resumo, discu!u-se a respeito de caso de histoplasmose de próstata. O diagnós!co acurado depende de alto índice de suspeição e do conhecimento do valor dos testes diagnós!cos. A próstata deve ser considerada como reservatório capaz de causar recaídas em pacientes em tratamento para histoplasmose disseminada. Apesar da alta taxa de mortalidade, principalmente em pacientes imunossuprimidos, o paciente em questão apresentou melhora significa!va do quadro. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 64 Histoplasmose de próstata: relato de um caso e discussão REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. Zembrzuski MM, Bassanesi MC, Wagner LC, Severo LC. Inquérito intradérmico com histoplasmina e paracoccidioidina em duas regiões do Rio Grande do Sul. In: Severo LC, Oliveira FM, Irion K, Porto NS, Londero AT. Histoplasmosis in Rio Grande do Sul, Brazil: a 21-year experience. Rev Int Med Trop S Paulo 2001; 43(4):150-160. Wheat LJ. Histoplasmosis in the acquired immunodeficiency syndrome. In: Johnson PC, Wheat LJ, Cloud GA, et al. Safety and efficacy of liposomal amphotericin B compared with conven!onal amphotericin B for induc!on therapy of histoplasmosis in pa!ents with Aids. Annals of Internal Medicine, 2002; 137:105-110. Severo LC, Oliveira FM, Irion K, Porto NS, Londero AT. Histoplasmosis in Rio Grande do Sul, Brazil: a 21-year experience. Rev Int Med Trop S Paulo 2001; 43(4):150-160. Wheat J, Sarosi G, McKinsey D, et al. Prac!ce guidelines for the management of pa!ents with histoplasmosis. Clinical Infec!ous Diseases 2000; 30:688-695. Oliveira FM, Unis G, Severo LC. Microepidemia de histoplasmose em Blumenau, Santa Catarina. Jornal Brasileiro de Pneumologia, 2006; 32:375-378. Radin DR. Disseminated histoplasmosis: abdominal CT findings in 16 pa!ents. AJR 1991; 157:955-958. Centers for diseases control. Revision of CDC surveillance case defini!on for acquired immunodeficiency syndrome. MMWR 1987; 36 (suppl 1S):3S-15S. Orr WA, Mulholland SG, Walzak MP. Geniturinay tract involvment with systemic mycosis. In: Mawhorter SD, Curley GV, Kursh ED, Farver CE. Prosta!c and central nervous system histoplasmosis in an immunocompetent host: case report and review of the prosta!c histoplasmosis literature. Clinical Infec!ous Diseases 2000; 30:595-598. Rubin H, Furcolow ML, Yates JL. The course and prognosis of histoplasmosis. In: Mawhorter SD, Curley GV, Kursh ED, Farver CE. Prosta!c and central nervous system histoplasmosis in an immunocompetent host: case report and review of the prosta!c histoplasmosis literature. Clinical Infec!ous Diseases 2000; 30:595-598. Reddy PA, Gorelick DF, Brasher C, Larsch H. Progressive disseminated histoplasmosis as seen in adults. In: Mawhorter SD, Curley GV, Kursh ED, Farver CE. Prosta!c and central nervous system histoplasmosis in an immunocompetent host: case report and review of the prosta!c histoplasmosis literature. Clinical Infec!ous Diseases 2000; 30:595-598. Reddy PA, Sutaria M, Brasher CA, Chris!anson CS. Disseminated histoplasmosis: cutaneus (subcutaneus abscess), vesical and prosta!c histoplasmosis. South Med J 1970;63:819-821. Mawhorter SD, Curley GV, Kursh ED, Farver CE. Prosta!c and central nervous system histoplasmosis in an immunocompetent host: case report and review of the prosta!c histoplasmosis literature. Clinical Infec!ous Diseases 2000; 30:595-598. Sarosi GA, Johnson PC. Progressive disseminated histoplasmosis in the acquired immunodeficiency syndrome: a model for disseminated diseases. In: Radin DR. Disseminated histoplasmosis: abdominal CT findings in 16 pa!ents. AJR 1991; 157:955-958. Salzman SH, Smith AL, Aranda CP. Histoplasmosis in pa!ents at risk for the acquired immunodefiency syndrome in a noendemic se* ng. In: Radin DR. Disseminated histoplasmosis: abdominal CT findings in 16 pa!ents. AJR 1991; 157:955-958. Nigh!ngale SD, Parks JM, Pounders SM et al. Disseminated histoplasmosis in pa!ents with Aids. In: Radin DR. Disseminated histoplasmosis: abdominal CT findings in 16 pa!ents. AJR 1991; 157:955-958. Greybill JR. Histoplasmosis and Aids. In: Mawhorter SD, Curley GV, Kursh ED, Farver CE. Prosta!c and central nervous system histoplasmosis in an immunocompetent host: case report and review of the prosta!c histoplasmosis literature. Clinical Infec!ous Diseases 2000; 30:595-598. Wheat J, MaWhitnney S, Hafner R, et al. Treatment of histoplasmosis with fluconazole in pa!ents with acquired immunodeficiency syndrome. In: Wheat J, Sarosi G, McKinsey D, et al. Prac!ce guidelines for the management of pa!ents with histoplasmosis. Clinical Infec!ous Diseases 2000; 30:688-695. Wheat J, Sarosi G, McKinsey D, et al. Prac!ce guidelines for the management of pa!ents with histoplasmosis. Clinical Infec!ous Diseases 2000; 30:688-695. Bersack SR, Howe JS, Rabson AS. Inflammatory pseudopolyposis of the small and large intes!nes with Peutz-Jeghers syndrome in a case of diffuse histoplasmosis. Urology 1958; 80:73-78. Zighelboim J, Goldfarb RA, Mody D et al. Prosta!c abscess due to Histoplasma capsulatum in a pa!ent with the acquired immunodefiency syndrome. J Urol 1992;147(1):166-168. Miller AA, Ramsden F, Geake MR. Acute disseminated histoplasmosis of pulmonary origin probably contracted in Britain. Thorax 1961;16:388-394. Marans HY, Mandell W, Kislak JW et al. Prosta!c abscess due to Histoplasma capsulatum in the acquired immunodeficiency syndrome. J Urol 1991;145:1275-1276. Shah RD, Nardi PM, Han CC. Histoplasma prosta!c abscess: rare cause in na immunocompromised pa!ent. AJR Am J Roentgenol 1996;166:471. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 65 Relato de Caso Carcinoma de pequenas células da próstata: relato de caso SMALL CELL CARCINOMA OF THE PROSTATE: A CASE REPORT RESUMO O carcinoma de próstata de pequenas células (CPPC) é uma entidade rara que, quando identificado, é geralmente em concomitância com adenocarcinoma acinar usual da próstata. Clinicamente muito agressivo, geralmente com metástases já no momento do seu diagnóstico, os pacientes com CPPC têm um mau prognóstico. Por se tratar de uma entidade rara, não há estabelecido um regime de tratamento padrão. Apresentamos caso de carcinoma de pequenas células de próstata seguindo controle de longo prazo de adenocarcinoma da próstata e revisamos a literatura no PubMed. Unitermos: Próstata, carcinoma de pequenas células, câncer de próstata. Rudinei D. M. Linck Alvaro V. S. Machado Giovana Z. Vaccaro Serviço de Oncologia do Hospital São Vicente de Paulo e Centro de Oncologia e Hematologia do Planalto. Correspondências: Giovana Z. Vaccaro Passo Fundo, RS, Brasil E-mail: [email protected] ABSTRACT Small cell carcinoma of the prostate (SCCP) is a rare entity that, when identified, it is typically combined with usual acinar adenocarcinoma of the prostate. It is clinically very aggressive, usually presenting metastases at the time of diagnosis; patients with SCCP have a poor prognosis. Because it is a rare entity there is no standard treatment regimen. We introduce a case of small cell carcinoma of the prostate following long-term control of prostate adenocarcinoma, and review the literature in PubMed. Keywords: Prostate, small cell carcinoma, prostate cancer. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 66 Carcinoma de pequenas células da próstata: relato de caso. A.R., masculino, branco, 69 anos, diagnós!co em maio de 1999 de adenocarcinoma acinar usual da próstata por ressecção transuretral, Gleason 7 (4+3), an+geno prostá!co específico (PSA) inicial 45,6 ng/ml, cin!lografia óssea normal, tendo sido tratado com radioterapia externa. A melhor resposta do PSA ocorreu em dezembro de 2000 com nível sérico de 1,89 ng/ml. Em janeiro de 2001 progressão do PSA para 7,01, iniciando tratamento com flutamida exclusiva. Progressão do PSA em junho do mesmo ano e trocado o an!-androgênico para bicalutamida. Avaliado nesta época pela oncologia clínica, foi sido ins!tuído bloqueio androgênico completo com goserelina e bicalutamida, de forma intermitente conforme os níveis séricos do PSA. O paciente está sem progressão do PSA (ou falha ao tratamento hormonal) até a presente data. Em janeiro de 2006 apresentou emagrecimento, anorexia, dor em fossa ilíaca esquerda e sintomas urinários recorrentes. Inves!gação evidenciou lesão em loja prostá!ca, múl!plos nódulos hepá!cos e múl!plas captações patológicas na cin!lografia óssea. Biópsia percutânea do , gado (figura 1) e da próstata (figura 2) iden!ficou, independentemente, carcinoma de pequenas células com diferenciação neuroendócrina. Iniciado tratamento quimioterápico com derivado da pla!na e etoposide em março de 2000, alcançando resposta tomográfica completa (figura 3) com toxicidade gastrintes!nal e hematológica severa. DISCUSSÃO Mais de 99% das neoplasias prostá!cas são adenocarcinomas derivados de células epiteliais 3 . Esta é atualmente a patologia maligna mais freqüente no sexo masculino nos Estados Unidos da América, sendo a segunda causa de morte por câncer entre os homens desse país3,4. No Brasil é o !po de câncer que mais aumenta em incidência. Es!ma-se em cerca de 48.000 novos casos de câncer prostá!co para o ano de 2006 9 e que, desses, aproximadamente 10.000 resultem em óbito4. As diferenças de incidência entre diferentes raças e populações têm sido explicadas pela diversidade gené!ca e hábitos de vida, com destaque para a ingestão alimentar, onde o consumo de gorduras seja 5,9 3 o mais importante , assim como o sedentarismo . Diferenciação neuroendócrina focal nos adeno- Figura 1. Carcinoma de pequenas células em fígado. Figura 2. Carcinoma de pequenas células em glândula prostática. carcinomas de próstata é freqüentemente encontrada, porém carcinoma de pequenas células é raro, e representa menos de 1% dos tumores prostá!cos6. Células neuroendócrinas representam uma subpopulação altamente especializada na próstata, provenientes de células to!potentes com potencial endócrino-parácrino 6 . Na próstata normal, estas células podem estar envolvidas na regulação da proliferação, diferenciação e a!vidade secretora exócrina. Vários hormônios estão relacionados a estas células como a cromogranina A, enolase neurônio-específica, sinaptofisina, calcitonina, serotonina, somatosta!na e hormônio !reo-es!mulante1. Carcinoma de pequenas células primário de próstata é mais usualmente descoberto em concomitância com adenocarcinomas1,6,9 variando a incidên- Revista Médic Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 67 Carcinoma de pequenas células da próstata: relato de caso. Figura 3. Ressonância magnética inicial (alto) com lesão hepática principal com cerca de 3,0 cm e RM (acima) após quimioterapia com imagem residual menor que 1,0 cm. cia entre 0,5% e 0,97% do total de neoplasias prostá!cas 7 , 9 . A população de pequenas células pode comprometer uma parte ou todo o tecido neoplási7 co , mas carcinoma de próstata puro de pequenas células é de ocorrência extremamente rara e com caracterís!cas clínicas dis!ntas. Enquanto o carcinoma misto de pequenas células e adenocarcinomas usualmente são recorrentes em adenocarcinoma primário, carcinoma de próstata puro de pequenas células, pela sua natureza agressiva, freqüentemente é associado com doença metastá!ca precoce. Assim como o adenocarcinoma, o CPPC surge na periferia da glândula e portanto pode ocorrer sem sintomas urinários. A doença tem uma propensão a metas!sar precocemente, principalmente para , gado, ossos, pulmões, sistema nervoso central e pericárdio, e regionalmente para linfonodos pélvicos, reto e bexiga urinária, além de estar associada a síndromes paraneoplásicas com a produção de hormônio adrenocor!cotrófico1. Histologicamente, CPPC é caracterizado por um padrão similar ao carcinoma de pulmão de pequenas células1,3. Três teorias para sua histogênese têm sido propostas, mas devido à similaridade histológica entre essas duas en!dades e a ocorrência de síndromes paraneoplásicas neuroendócrinas, a mais amplamente aceita é que os CPPC se originam de células to!potentes da próstata com habilidade de diferenci- ar-se em carcinoma do !po epitelial ou neuroendó1 crino . Do ponto de vista clínico, o an+geno prostá!coespecífico não é um marcador fidedigno para CPPC. Eventualmente o an+geno carcinoembrionário (CEA) pode ser mais fiel à progressão ou regressão da doença. Mais recentemente, enolase neurônioespecífica (NSE) tem sido considerado um indicador de prognós!co, onde altos níveis sugerem um pior 1 prognós!co . A iden!ficação de elementos neuroendócrinos em espécimes de biópsias se faz por estudos imunohistoquímicos com imunomarmarcação de cromogranina A, enolase neurônio-específica, sinaptofisina, calcitonina, serotonina, somatosta!na e hormônio !reo-es!mulante3. Carcinomas neuroendócrinos podem ser classificados morfologicamente como sendo de baixo grau (carcinóide +pico), intermediário ou alto grau (carcinomas de pequenas células)3,8. O prognós!co de CPPC é extremamente ruim, com 1,3,8 sobrevida média de sete meses . Por se tratar de uma en!dade extremamente rara, não há estabelecido um tratamento padrão e, em contraste com os adenocarcinomas, esta neoplasia não é responsivo ao tratamento hormonal. Relatos de casos têm proposto regimes de tratamento similares aos u!lizados nos carcinomas de pequenas células de pulmão. Os 1,3 resultados, no entanto, não têm sido favoráveis . Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 68 Carcinoma de pequenas células da próstata: relato de caso. CONCLUSÃO O carcinoma de pequenas células da próstata é um en!dade rara apesar de não ser raro encontrarmos células pequenas ou com diferenciação neuroendócrina em espécimes de biópsia prostá!ca de adenocarcinomas acinares. Em geral, o CPPC se torna evidente numa fração mínima de pacientes com adenocarcinoma avançados e controlados por longos períodos. Histologicamente e biologicamente os carcinomas de pequenas células se assemelham aos carcinoma de pequenas células de pulmão, e assim são tratados na prá!ca clínica. Como estas neoplasias não se relacionam com o an+geno prostá!co específico (PSA), pacientes com adenocarcinoma de próstata avançado e PSA controlado, que se apresentem com metástase viscerais e curso agressivo da doença devem ser suspeitos de portarem CPPC e manejados de forma adequada, como o presente caso relatado. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Trotz C. Prostate cancer with a normal PSA: Small cell carcinoma of the prostate - A rare entity. J Am Board Fam Pract 2003;16(4):343-4. Alapont AJM, Montaner RMJ, Pontones MJL, Valls BF, Vera-Sempere FJ, Jimenez-Cruz JF. Small cell carcinoma of the prostate. Actas Urol Esp 2002;26(8):585-8. Howard IS, Steven AL, Zvi F, Carlos CC, Peter TS. In: DeVitta Jr V, Hellmann S and Rosenberg SA (Eds) - Cancer Principles and Practice of Oncology. 7th ed. USA: Lippincott, Williams & Wilkins, 2005. Corrêa NAB, Costa GFM, Massambani EM, Matumoto FH, Paula MMM. Dignóstico precoce de carcinoma de próstata: Antígeno prostático específico (PSA), um marcador quase ideal. Rev Bras Anal Clin 2003;35 (2)63-4. Tobias-Machado M, Goldenstein PT, Kappáz GT, Silvério J, Silva MM da, Wroclawski ER. Influência da dieta lipídica no risco de desenvolvimento do câncer de próstata. An Paul Med Cir 2002;129(1):04-10. Baird AD, Cornford PA, Helliwell T, Woolfenden KA. Small cell prostate cancer with anti-Hu positive peripheral neuropathy. J Urol 2002;168(1):192. Petraki C, Vaslamatzis M, Petraki K, Revelos K, Alevizopoulos N, Papanastasiou P, Grefrakis A. Prostate cancer with small-cell morphology: An immunophebotypic subdivision. Scand J Urol Nephrol 2005;39(6):455-63. Steineck G, Reuter V, Kelly WK, Frank R, Schwartz L, Scher HI. Cytotoxic treatment of aggressive prostate tumors with or without neuroendocrine elements.Acta Oncol 2002;41(7):668-74. http://www.inca.gov.br/estimativa/2006/index.asp Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 69 Normas de Publicação REVISTA MÉDICA: Ciências da Saúde HOSPITAL SÃO VICENTE DE PAULO A Revista Médica: Ciências da Saúde do Hospital São Vicente de Paulo publicará semestralmente ar!gos que expressem a produção na área da saúde, com o obje!vo de disseminar conhecimentos. Normas para o envio dos manuscritos: Ao submeter o manuscrito, os autores assumem a responsabilidade de o trabalho não ter sido previamente publicado e nem estar sendo analisado por outra revista. A aceitação será baseada na originalidade, significância e contribuição cien+fica para o conhecimento da área. Serão considerados para publicação ar!gos originais e de revisão, relatos de caso e ar!gos que exprimam o ponto de vista de especialistas, adequadamente fundamentados na literatura e experiência profissional. Os textos e as tabelas devem ser editados no Microsfot Word e as figuras e ilustrações devem ser disponibilizadas também em arquivos separados, no formato JPEG com alta definição para impressão. A submissão dos ar$gos será realizada de forma eletrônica, devendo os arquivos serem encaminhados para [email protected]. No corpo do e-mail deverão constar os dados de contato do autor correspondente, incluindo e-mail, telefone e endereço para correspondência. Todos os ar!gos devem vir acompanhados por uma carta de submissão ao editor, incluindo (1) declaração do autor principal de que todos os coautores estão de acordo com o conteúdo expresso no manuscrito, explicitando a existência ou não conflitos de interesse e os aspectos é!cos relevantes relacionados ao trabalho e (2) especificação da função de cada um dos autores exercida no estudo ou ar!go. Os autores dos ar$gos aprovados deverão encaminhar para a Revista Médica, previamente à publicação, declaração de transferência de direitos autorais, assinada por todos os coautores. Os autores devem descrever de forma explícita, no texto, se a pesquisa foi aprovada por Comitê de É!ca em Pesquisa, consoante à Declaração de Helsinki. Nos trabalhos experimentais envolvendo animais, as normas estabelecidas no “Guide for the Care and Use of Laboratory Animals” (Ins!tute of Laboratory Animal Resources, Na!onal Academy of Sciences, Washington, D. C. 1996) e os Princípios É!cos na Experimentação Animal do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) devem ser respeitados e à aderência à essas normas deve estar explícita no texto. Para referências bibliográficas, os autores deverão seguir os Requisitos Uniformes de Vancouver, conforme as recomendações do Interna!onal Comi% ee of Medical Journal Editors (www.icmje.org). Os ar$gos devem ser redigidos em língua portuguesa com resumo também em português e inglês. Caso já exista uma versão em inglês, tal versão deve também ser enviada para agilizar a publicação. Para os trabalhos que não possuírem versão em inglês ou que essa seja julgada inadequada pelo Editor, a revista providenciará a tradução sem ônus para o(s) autor(es). As versões em português e inglês serão disponibilizad a s n a í n t e g ra n o e n d e re ç o e l e t rô n i c o d a H S V P (h% p://www.hsvp.com.br/revista), permanecendo à disposição da comunidade internacional. Todos os trabalhos serão subme!dos à avaliação inicial do editor, que decidirá, ou não, pelo envio para revisão por pares. Os autores podem indicar até três membros do Conselho de Revisores que gostariam que analisassem o ar!go, assim como até três revisores que não gostariam que par!cipassem do processo. Os revisores farão comentários gerais sobre o trabalho e decidirão se ele deve ser publicado, corrigido segundo as recomendações ou rejeitado. Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 71 Os editor, de posse dos comentários dos revisores, tomará a decisão final. Em caso de discrepâncias entre os revisores, poderá ser solicitada uma nova opinião para melhor julgamento. Quando forem sugeridas modificações, essas serão encaminhadas ao autor principal para resposta e, em seguida, aos revisores para que verificarem se as exigências foram sa!sfeitas. Em casos excepcionais, quando o assunto do manuscrito assim o exigir, o editor poderá solicitar a colaboração de um profissional que não conste do Corpo de Revisores. Os autores têm o prazo de trinta para proceder às modificações solicitadas pelos revisores e submeter novamente o ar!go. A inobservância desse prazo poderá implicar na re!rada do ar!go do processo de revisão. Sendo aceitos para revisão, os pareceres dos revisores deverão ser produzidos no prazo de 60 dias. As decisões serão comunicadas por correio eletrônico. Os editor e os revisores não discu!rão as decisões por telefone, nem pessoalmente. Todas as réplicas deverão sem subme!das por correio eletrônico para a revista. Os ar$gos deverão seguir a seguinte estrutura: 1. Página de #tulo: 1.1. Deve conter o +tulo completo do trabalho de maneira concisa e descri!va, em português e inglês, assim como um +tulo resumido (inferior a 50 caracteres, incluindo espaços) para ser u!lizado no cabeçalho das demais páginas do ar!go; 1.2. Devem ser incluídos de três a cinco descritores (palavras-chave), assim como a respec!va tradução para as keywords (descriptors). Os descritores devem ser consultados nos sites: h% p://decs.bvs.br/, que contém termos em português, espanhol e inglês ou www.nlm.nih.gov/mesh, para termos somente em inglês; 2.1.2. Obje!vos; 2.1.3. Métodos (breve descrição da metodologia empregada); 2.1.4. Resultados (apenas os principais e mais significa!vos); 2.1.5.Conclusões (frase(s) sucinta(s) com a interpretação dos dados). 3. Texto: 3.1. Deve ser estruturado em introdução, métodos, resultados, discussão e conclusões. 3.1.1. Introdução: deve conter descrição dos fundamentos e do racional do estudo, jus!ficado com base na literatura. 3.1.2. Métodos: deve descrever detalhadamente como foram selecionados os sujeitos da pesquisa (pacientes ou animais de experimentação, incluindo o grupo controle, quando houver). Equipamentos e reagentes u!lizados devem ser descritos incluindo nome do fabricante, modelo e país de fabricação. Intervenções, desfechos, métodos de alocação, mascaramento e análise esta+s!ca devem estar con!dos nessa sessão, bem como aspectos é!cos, inclusive aprovação por um Comitê de É!ca em Pesquisa em caso de estudo em seres humanos. 3.2.2. Resultados: tabelas devem ser incorporadas ao texto, com formatação de acordo com o padrão Vancouver. Figuras devem ser acompanhadas das respec!vas legendas. 3.2.3. Discussão: relacionada diretamente ao tema e embazada na literatura, salientando os aspectos novos e importantes do estudo, suas implicações e limitações. 3.2.4. Conclusões: contendo, se per!nentes, recomendações e implicações clínicas. 3.2.5. Referências bibliográficas: de acordo com o padrão Vancouver CONTATO E ENDEREÇO PARA ENCAMINHAMENTO DE MANUSCRITOS: Revista Médica Ciências da saúde Hospital São Vicente de Paulo 2. Segunda página: 2.1. Resumo: O resumo deve ser estruturado em cinco seções, evitando abreviações e observando o número máximo de palavras. Os relatos de caso não devem apresentar resumo. Referência não serão citadas no resumo. 2.1.1. Racional para o estudo; Rua Teixeira Soares, 808 CEP: 99010-080 - Passo Fundo/RS E-mail: [email protected] www.hsvp.com.br/revista Revista Médica Hospital São Vicente de Paulo. 2013, 38 / 72 www.hsvp.com.br