Ezequiel Lins Wanderley

Propaganda
Observação
Solicitamos aos eventuais leitores que, caso disponham de outras informações que possam
enriquecer este verbete, favor encaminhá-las à Fundação José Augusto através do seu
Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL, situado na Rua Jundiaí, 641,
Tirol, CEP 59020-120, ou, pelo E-mail [email protected]
Ezequiel Lins Wanderley
WANDERLEY, Ezequiel Lins - Nasceu em Açu, a 27.10.1872, filho de Luís Carlos Lins Wanderley e d.
Francisca Carolina Lins Wanderley. Era irmão de Manoel Segundo Wanderley (V. “WANDERLEY, Manoel
Segundo”, Século XIX) e casou-se com uma prima, Claudina Augusta. Estudou no Atheneu Norte-riograndense e na Faculdade de Direito do Ceará. Foi Escriturário da Fazenda Estadual, Administrador da Mesa
de Renda de Macau e Diretor-Secretário do Banco de Natal (1918-1927). Fundou jornais (“Tentâmen”, “A
Evolução”, “O Porvir”, “Fantoche” e “A Tribuna”), redigiu para “A Pátria” e “A Folha Nova”, ambos de Macau, e
para o “Diário de Notícias”, colaborando, ainda, com o “Jornal da Tarde” e “A República”. Era sócio-efetivo da
ABI-Associação Brasileira de Imprensa. Publicou Balões de Ensaio (artigos e crônicas). O Meu Teatro
(coletânea de suas peças) e a antologia Poetas do Rio Grande do Norte (1922), esta talvez sua obra mais
expressiva. Em 1912 fundou, com um grupo de amigos, o Ginásio Dramático, redimensionando as atividades
cênicas desta Capital com a produção, montagem e encenação de várias revistas teatrais, tais como “Papa
Jerimum”, “Cadê Você”, “Ele, Ela e as Outras”, etc. Ezequiel escreveu, também, “Mortalha de Rosas” (drama),
“Tia Quitéria”, “Os Cajus de Papai”, “República dos Bichos” e “Como Isto Aqui Está Mudado” (comédias), entre
outras peças. Era membro participativo, extremamente atuante, de associações literárias e dramáticas, a ponto
de assim se manifestar Cascudo, em crônica memorial (1940): Estaria ele em todas as associações literárias,
declamando, versejando, escrevendo teatro, prosa, crônica, alegre, transbordante de vida e de esperança (O
Livro das Velhas Figuras, vol. 2, p. 30). Faleceu em Natal, a 26 de novembro de 1933).
Lima Teixeira
Por Luís da Câmara Cascudo
Lembra-se dele? Não é possível. Raros recordam sua existência, nome e pequena história breve,
começada em Lisboa e finda na cidade do Natal. Aqui viveu meses. Deixou amigos, admiradores que o diziam
sempre presente. Depois o tempo foi apagando, apagando, apagando tudo com suas mãos de cinza e
bronze.
Três ou quatro pessoas têm a memória de Lima Teixeira. Serão os sobreviventes do Ginásio Dramático,
nascido a 3 de maio de 1913. Há 46 anos ...
Lima Teixeira era um ator dramático, português de Lisboa onde nascera em 1881, "Alfacinha", como
dizem em Portugal.
O nome era longo, sonoro, aristocrático, Manoel Ferreira Pereira de Lima Teixeira e Comba ...
Veio para Natal em 1914 na Companhia dirigida pela atriz Lucila Silva, que aqui se dissolveu. O Ginásio
Dramático convidou- o para ficar como ator e ensaiador.
Lima Teixeira aceitou e ficou.
Natal vivia uma intensidade de produção teatral como não se repetiu. Basta uma consulta aos jornais do
tempo para verificar-se a surpresa deste ambiente de vibratilidade cênica. Quase duas representações por
mês, de amadores locais e, na maioria, dos dramas, revistas e comédias eram de autoria norte- rio-grandense.
Neste 1915 o teatro Carlos Gomes divulga O motivo, além, de Ivo Filho, Papa-jerimum, de Ezequiel
Wanderley, Céu aberto, de Ezequiel Wanderley, Jorge Fernandes e Virgílio Trindade, O já teve de F. Fídelis &
Cia (Jorge Fernandes), revistas com muitos números musicais, Pelas grades, de Jorge Fernandes. Tudo isto
antes de agosto, data da morte do Lima Teixeira.
Depois de agosto, tivemos O Flagelo, de Ivo Filho, Ginásio por dentro, de Virgílio Trindade. O Sonho, de
Ponciano Barbosa, com João Estevão e Aristóteles Costa, entreato que causou profunda impressão na cidade,
pela delicadeza e originalidade da intenção dramática do enredo.
Para muitos, O Sonho foi frustração teatral do poeta Ponciano, alto, magro, esgrouviado e fazendo
versos que resistem ao tempo.
Lima Teixeira acamaradou-se estreitamente com os rapazes do Ginásio Dramático. Sabia conversar,
evocar, declamar, especialmente declamar os versos de Guerra Junqueiro, O Melro Fiel, Caridade e Justiça,
tropos da Velhice do Padre Eterno e lirismo doce do Simples e Musa em Férias. Eu era rapaz, com as mãos
inquietas num volante do desejo, da curiosidade, do voo ansioso pela vida. Gostava imensamente de ouvir
Lima Teixeira, pagar-lhe os vários conhaques e provocar reminiscências de Lisboa, as noitadas alegres, os
poetas noturnos, os bastidores, as atrizes bonitas e sentimentais.
Queixando-se do estômago, com crises dolorosas no palco, Lima Teixeira foi para o Hospital Juvino
Barreto. Os rapazes do Ginásio Visitavam-no diariamente. Fui deste número.
Quando não estava sofrendo, reclamava a saudosa e substancial cozinha portuguesa, o caldo verde
expresso, o salpicão, paios, chouriços e salames, o presunto com ovos, as sardinhas assadas com pimentos
cozidos, uma boa caldeirada à fragateira, o bacalhau completo, o copázio de vinho, com sua espuma aperitiva,
a bagaceira queimante, para rematar ... Sonhos ... Morreu a 6 de agosto de 1915. Trinta e quatro anos de
idade. Não deve ser esquecido na formação moderna do amadorismo teatral.
Antes de fechar os olhos, angustiado, disse para Diolindo Lima que o assistia, chorando:
"Que saudades de minha mãe!... ".
Fonte: CÂMARA CASCUDO, Luís. “O Livro das Velhas Figuras”, páginas 153 a 155.
A REPÚBLICA – 17/07/1959.
Jailton Augusto da Fonseca
Download