ISSN21763771 ISSN21763771 1 ISSN21763771 REVISTA CIENTÍFICA DO HOSPITAL GERAL CÉSAR CALS CONSELHO EDITORIAL : Ernani Ximenes Rodrigues - Cirurgião Proctológico Flávio Lucio Pontes Ibiapina – Ginecologista-obstetrica Francisco Ércio Prado - Cirurgião Geral Francisco Ney Lemos - Cirurgião Geral George Matos Cavalcante - Pneumologista Janedson Baima Bezerra - Cirurgião Proctológico Maria Solange Araújo Paiva Pinto – Enfermeira Paulo Marcos Lopes - Cirurgião Geral Sheila Márcia de Araújo Fontinele - Reumatologista CONSELHO CIENTÍFICO: Aline Mireille da Cunha Fiévez Ana Maria de Sousa Ribeiro Ângela Nirlene Monteiro Vieira Elitônio Bezerra e Silva Ernani Ximenes Rodrigues Everardo Macedo Guanabara Francisca Márcia Alvarez Barros Francisco Ércio Prado Francisco Ney Lemos George Matos Cavalcante José Fernandes Magalhães Campos José Gerardo Araújo Paiva José Walter Correia Lineu Ferreira Jucá Luiz Gonzaga Moura Maria do Socorro Cavalcante Maria Goretti Alves de Olveira Paulo Marcos Lopes Raphael Felipe Bezerra de Aragão Sara Frota Marcelo Stella Maria Torres Furlani SECRETARIA: Francisca Goreth Cavalcante de Menezes JORNALISTA: Wescley Jorge Barbosa ISSN21763771 2010 Valdy Ferreira de Menezes Diretor Geral Antônio Eliezer Arrais Mota Filho Diretor Clínico Luiz Quinderé Ribeiro Diretor Técnico Marcos Roberto Arruda Bastos Diretor Adminstrativo-Financeiro 4 ISSN21763771 EDITORIAL PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA E SUA INFLUÊNCiA NA TOMADA DE DECISÃO A publicação científica tornou-se, nas últimas décadas, mais um desafio para os médicos e profissionais da saúde. Em 1990, foram publicados, no nosso país, 3.665 artigos e 30.021, em 2008 (RADIS Comunicação em Saúde – FIOCRUZ). Cada vez mais, vem sendo cobrada a publicação cientifica como uma maneira de colaborar com a mudança do estado da arte na busca incansável pela excelência na assistência. Entretanto, a falta de rigor metodológico de muitos artigos vem promovendo uma discussão no processo de influenciar a tomada de decisão, prin- cipalmente na área médica. O avanço tecnológico exige trabalhos com forte nível de evidência como as metanálises, revisões sistemáticas ou megatrial. Por outro lado, a tomada de decisão médica diante desta ebulição de publicações vem se tornando uma atividade cada vez mais complexa, exigindo, não só do profissional competência técnica, mas, também, conhecimento científico na escolha das últimas publicações, evitando assim não só o comprometimento do serviço de saúde, mas também a excelência na assistência. O Hospital Geral César Cals, com o compromisso histórico e acadêmico de acompanhar esta evolução, vem produzindo esta revista científica, cuja missão primordial é fomentar o raciocínio clínico investigativo e a pesquisa como ferramentas que promovem a melhoria dos cuidados à saúde. Antônio Eliezer Arrais Mota Filho Diretor Clínico 5 ISSN21763771 6 SUMÁRIO 1. Ensino-aprendizagem em um Hospital de Ensino......................................12 José Gerardo Araújo Paiva. 2. Liderança e processos motivacionais em organizações de saúde...............14 Marcos Roberto Arruda Bastos. 3. Avaliação das ações e controle da sífilis no binômio mãe e filho no município de Fortaleza no ano de 2007.....................................................16 Maria do Socorro Cavalcante; Antonia Aila Coelho Barbosa Brito; Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr; Carla Mônica Nunes Pombo1; Sandra Solange Leite Campos. 4. Ingestão alimentar de adolescentes gestantes atendidas no Hospital Geral Cesár Cals...........................................................................26 Alexsandra Silva Thé; Fernanda Maria Machado Maia. 5. Luto antecipatório de familiares em um hospital geral da rede pública estadual na cidade de Fortaleza...................................................................34 Cynara Teles Dionísio. 6. Caracterização dos casos de abuso sexual em mulheres atendidas em emergência obstétrica...........................................................................42 Cacilda Maria Ferreira do Carmo; Ana Maria de Sousa Ribeiro. 7. Desmame da ventilação Mecânica: Uma Revisão de Literatura................50 Fabíola Maria Sabino Meireles, Márcia Cardinalle Correia Viana. 8. Perfil clínico das úlceras esclerodérmicas refratárias – estudo de caso.........58 Lara Pinheiro Maciel; Ricardo Eustáquio Magalhães; Adriana Carvalho Bezerra; Sheila Márcia de Araújo Fontenele. 9. Pseudomixoma retroperitoneal...................................................................63 Marcos Aurélio Pessoa Barros; Diego de Aragão Bezerra; Janiel Ponte Vieira Bruna Vitória Lima Martins; Elitonio Bezerra e Silva. 10. Esofagectomia por videotoracoscopia e videolaparoscopia em paciente com megaesôfago chagásico associado a carcinoma espinocelular.........68 Paulo Marcos Lopes; Luzinei dos Santos Monteiro; Carlos Kleber Diniz Carneiro; Elitonio Bezerra e Silva; Simone Lima Verde de Lavor. 11. Cistoadenocarcinoma mucinoso de pâncreas............................................72 Manoel Messias de Campos Júnior, Dalgimar Beserra de Menezes, Bruno Lima Linhares, João Bosco Breckenfeld Bastos Filho, Olavo Napoleão Araújo Júnior. 12. Linfoma esplênico primário......................................................................76 Raphael Felipe Bezerra de Aragão; Frederico Costa dos Santos; Diego de Aragão Bezerra2; Elitonio Bezerra e Silva; Cristiano Aparecido Cavalcante Inácio. 13. Transposição das grandes artérias.............................................................80 Andréa Gonçalves de Lima; Everardo de Macedo Guanabara; Carlos Renato Bezerra Mota; Marcela Montenegro Braga Barroso; Jaime Paula Pessoa Linhares Filho. PARA AUTORES INSTRUÇÕES A Revista do Hospital Geral César Cals (HGCC) é publicação semestral e se propõe a divulgação de artigos das especialidades médicas e das profissões da saúde, que contribuam para o ensino, o desenvolvimento da pesquisa e a assistência ao paciente. Os artigos publicados na Revista do HGCC seguem os requisitos uniformes recomendados pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (www.icmje.org) e são submetidos à avaliação por pares (peer review). A Revista do HGCC apóia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Internacional Committee of Medical Journal Editor (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro de divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. O Conselho de Revisores (responsável pelo peerreview) recebe os textos de forma anônima e decidem por sua publicação. No caso de ocorrência de conflito de pareceres, o Conselho Editorial avaliará a necessidade de um novo parecer. Artigos recusados são devolvidos aos autores. Somente serão submetidos a avaliação os trabalhos que estiverem dentro das normas para publicação na revista. Os artigos aprovados poderão sofrer alterações de ordem editorial, desde que não alterem o mérito do trabalho. INFORMAÇÕES GERAIS A Revista do HGCC avalia para publicação em português. FORMA E ESTILO Texto: A forma textual dos manuscritos apresentados para publicação devem ser inéditos e enviados na forma digital (Word Doc), espaço um e meio, ISSN21763771 fonte times new roman, tamanho 12. As imagens deverão ser inseridas no próprio artigo, no formato JPG, GIF, TIF. Os artigos devem ser concisos e redigidos em português, e uma segunda língua podendo ser o inglês ou espanhol. As abreviaturas devem ser em menor número possível e limitadas aos termos mencionados repetitivamente, desde que não alterem o entendimento do texto, e devem ser definidas a partir da sua primeira utilização. Cada artigo deverá ser entregue sob o formato eletrônico (CD) e impresso, duas vias acompanhadas dos termos de ineditismo, liberação de direitos autorais devidamente assinados e aprovados no comitê de ética em pesquisa. Fica expresso que, com a remessa eletrônica, o(s) autor(es) concorda(m) com as seguintes premissas: 1 ) que no artigo não há conflito de interesse, cumprindo o que diz a Resolução do CFM no 1595/2000 que impede a publicação de trabalhos e matérias com fins promocionais de produtos e/ ou equipamentos médicos; 2) citar a fonte financiadora, se houver; 3) poderá os revisores remover redundâncias, retirar tabelas e/ou figuras que forem consideradas não necessárias ao bom entendimento do texto, desde que não altere seu sentido. A responsabilidade de conceitos ou asserções emitidos em trabalhos e anúncios publicados na Revista do Hospital Geral César Cals cabe inteiramente ao(s) autor(es). Tabelas e figuras (Máximo permitido: 4) Devem ser numeradas em algarismos arábicos, encabeçadas por suas legendas com uma ou duas sentenças, explicações dos símbolos no rodapé, fonte times new roman, tamanho 10, espaço simples. Cite as tabelas no texto em ordem numérica incluindo apenas dados necessários á compreensão de pontos importantes do texto. Os dados apresentados não devem ser repetitivos em gráficos. A montagem das tabelas deve seguir as normas supracitadas de Vancouver. São consideradas figuras todos as fotografias, gráficos, quadros e desenhos. Todas as figuras devem ser referidas no texto, sendo numeradas consecutivamente por algarismos arábicos e devem ser acompanhados de legendas descritas. Resumo: deve ter no máximo 250 palavras e estruturado da seguinte maneira: objetivo, método, resultados, conclusões e descritores na forma referida pelo DeCs (http://desc.bvs. br). Podem ser citados até cinco descritores. O abstract também deve conter até 250 palavras e ser estruturado da seguinte maneira: objective, methods, results, conclusion e keywords (http:// desc.bvs.br). Key Words (Descritores): servem para pesquisa de assuntos da literatura científica em bases de dados. Devem constar do DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) criado pela BIREME e disponível no site http://decs.bvs.br. Podem ser citados de 3 (três) até 5 (cinco) descritores. *Agradecimentos: Devem ser feitos às pessoas que contribuíram de forma importante para a sua realização. *Referências: Devem ser referidos no texto, em ordem de citação, numeradas consecutivamente e apresentadas conforme as normas de Vancouver (Normas para Manuscritos Submetidos ás Revistas Biomédicas – ICMJE www.icmje.org). Não serão aceitas como referências anais de congressos, comunicações pessoais. Os autores do artigo são responsáveis pela veracidade das referências. 9 ISSN21763771 *Editorial: É o artigo inicial de um periódico, geralmente a respeito de assunto atual solicitado a autor de reconhecida capacidade técnica e cientifica, máximo de uma página. *Artigo Original: é o relato completo de investigação clinica ou experimental com resultados positivos ou negativos. Deve ser constituído de Resumo, Introdução, Método, Resultados, Discussão, Abstract e Referências, limitadas ao máximo de 30 procurando incluir sempre que possível artigos de autores nacionais e periódicos nacionais, podendo ser de 6 à 10 páginas. títulos e subtítulos de acordo com complexidade do assunto, resumo e abstract não estruturados. Quando couber, ao final poderão existir conclusões, opiniões dos autores sumarizando o referido no texto da revisão. Deve conter no máximo 10 paginas e 45 referências. *Nota Prévia: Constitui observação clinica original, ou descrição de inovações técnicas, apresentadas de maneira concisa, de preferência não excedendo a 500 palavras, cinco referências, duas ilustrações e abstract não estruturado. Permite-se três autores. O Titulo deve ser redigido em português, inglês ou espanhol (quando o trabalho for enviado nesta língua). Deve conter o máximo de informações, o mínimo de palavras e não deve conter abreviatura. Deve ser acompanhado do(s) nome(s) completo(s) do(s) autor(es) seguido do(s) nome(s) da(s) instituição(ões) onde o trabalho foi realizado. Se for multicêntrico, informa em números arábicos a procedência de cada um dos autores em relação às instituições referidas. *Relato de Caso: Descrição de casos clínicos (até 10 casos) de interesse geral seja pela raridade na literatura médica ou pela forma de apresentação não usual do mesmo. Não deve exceder a 1500 palavras e não necessita resumo, apenas abstract não estruturado, cinco referências e três ilustrações. Número de autores até cinco. Estrutura: título / introdução / relato do caso / discussão / abstract / key words / referências / Endereço para correspondência. Os autores deverão enviar junto ao seu nome somente um titulo e aquele que melhor represente sua atividade acadêmica, fonte times new roman, tamanho 10, espaço simples. Título: Deve ser redigido em português e inglês contendo o máximo de informações com o mínimo de palavras (máximo de 40 palavras). Não deve conter fórmulas, abreviações ou interrogações. *Artigo de Revisão: O Conselho Editorial incentiva a publicação de matéria interesse para as especialidades médicas e das profissões da saúde contendo análise sintética e critica relevante e não meramente uma descrição cronológica da literatura. Deve ter uma introdução com descrição dos motivos que levaram á redação do artigo, os critérios de busca, seguido de texto ordenado em Introdução: Deve indicar o objetivo do relato. Informações que situem o problema na literatura e suscitem o interesse do leitor podem ser mencionadas. Evitar extensas revisões bibliográficas, histórico, bases anatômicas e excesso de nomes de autores da literatura. Não incluir dados nem conclusões. 10 ISSN21763771 Relato de Caso: Manter uniformidade no padrão de vocabulário utilizado. Descrição objetiva, dando ênfase principalmente às características que ilustram o caso. Sumarizar as informações com um breve histórico do paciente e importantes aspectos clínicos, positivos e negativos, com detalhes das investigações, tratamento, e a condição do paciente após o tratamento. Excluir detalhes desnecessários. Seguir a sequência: identificação, histórico, exames, investigação, tratamento e evolução. Discussão: Devem incluir os principais achados, a validade e o significado do trabalho, correlacionando-o com outras publicações sobre o assunto. Deve ser clara e sucinta evitando-se extensa revisão da literatura, bem como hipóteses e generalizações sem suporte nos dados obtidos no trabalho. Neste item devem ser incluídas as conclusões desde que fundamentadas nos dados do trabalho e recomendações quando necessário. Evitar afirmações não qualificadas e conclusões não apropriadamente corroboradas pelos dados. Deve-se também evitar a alusão a trabalho ainda não completado. Colocar novas hipóteses quando for o caso, mas claramente indicá-las como novas hipóteses. Como isto influenciou o resultado? Como isto difere do habitual e quais são as suas recomendações? Existe alguma conclusão a ser tirada disto? Todas ou pelo menos a maioria destas perguntas precisam ser respondidas na discussão. Abstract: Não estruturado, deve conter até 150 (cento e cinquenta) palavras. Evitar abreviações. Texto bastante resumido (resumo de cada seção sem discriminações, separações ou parágrafos), mas contendo as informações fundamentais para uma localização efetiva do relato de caso nos bancos de dados indexados. *Cartas ao Editor: Comentários científicos ou controvérsias com relação aos artigos publicados na Revista do HGCC. Em geral tais cartas são enviadas ao autor principal do artigo em pauta para resposta e ambas as cartas são publicadas no mesmo número da Revista, não sendo permitido réplica. *Comunicação Cientifica e de Ensino: Conteúdo que aborde a forma da apresentação da comunicação cientifica, investigando os problemas existentes e propondo soluções. Por suas características, essa Seção poderá ser multiprofissional e multidisciplinar, recebendo contribuições de profissionais das mais variadas áreas. *Nota Técnica: Informação sobre determinado tema de relevância. O original não deve ultrapassar seis páginas incluídas as fotos e referencias se necessário. È artigo com formato livre, com resumo abstract. Endereço para Correspondência: Informações para contato do autor principal. Deve ser o mais completo possível, incluindo o endereço eletrônico. ENDEREÇO PARA ENVIO DE TRABALHOS Hospital Geral César Cals Centro de Estudos Aperfeiçoamento e Pesquisa Av. do Imperador 372 - Centro CEP: 60.015. 052 - Fortaleza/CE Email: [email protected] Fone: (85) 3101.5354 11 ISSN21763771 Artigo de ensino O ensino num hospital de ensino. Teaching in a teaching Hospital. José Gerardo Araújo Paiva1 1 Coordenador da Comissão de Residência Médica Não é uma tarefa fácil essa de ensinar, principal- clínica médica, peço por tudo que não façam as mente tratando-se de um conteúdo tão complexo contas de quanto tempo já se passou, o que mais como habilidades clínicas. Do outro lado também me inspirou e gerou para mim um encantamento não é tão simples aprender de forma que o apre- com a medicina foram os modelos de médico que endido faça diferença no resultado final, o melhor aqui encontrei. Estes MESTRES não habitavam para o paciente. Este tema que é tão discutido nos somente a clínica médica, também a cirúrgica e dias de hoje parece interminável. Novas teorias a a obstetrícia. Alguns destes modelos já se foram, todo o momento emergem quanto à metodologia outros ainda estão entre nós, com muita vitalidade. de ensino e o ambiente propício para tal. E nós, Quantas gerações não foram treinadas e hoje estão para onde estamos indo no século XXI? Essa per- neste trabalhando e exercendo a sua profissão? gunta eu lanço ao corpo clínico do Hospital Cesar Estas pessoas levaram o nome deste Hospital por Cals para uma reflexão. O fato é que o Hospital ai afora. Pois bem, o que se dizer deste modelo? Dr. Cesar Cals tem atravessado e sobrevivido a Digo primeiramente que ele tem funcionado até todas estas mudanças em metodologias de ensino hoje. Porém, há que se pensar que uma estrutura e aperfeiçoamento de instrumentos de avaliação de ensino baseada em modelos tende a desapare- ao seu modo. Continua hoje como um centro de cer casos os modelos desapareçam. Por outro lado formação médica, concorrido, às vezes beirando a poderíamos de alguma forma continuar com estes uma superlotação de internos e com o desafio de modelos e mantermos esta estrutura viva indefini- abrir espaços para formar mais profissionais. Cito damente. Embora os novos atores também tenham como exemplo as residências de anestesiologia e os seus valores, e aqui me incluo, os fundadores endoscopia que deverão iniciar-se a partir de 2010 do ensino neste hospital, hoje de ensino, assim o e a abertura de novas vagas nas áreas de clínica fizeram não por uma mera circunstância e sim por médica, cirurgia geral e ginecologia-obstetrícia. E uma gigantesca vocação. em que tem se sustentado o ensino neste hospital Qual seria então o futuro deste hospital? O mesmo hoje reconhecido como de ensino? Resposta, nos modelos médicos. Explico melhor. Nos anos de 1985 e 1986, quando fiz a minha residência em 12 futuro de qualquer outra instituição de ensino hoje. Uma estruturação do ensino com bases num sistema de competências clínicas definidas a serem ISSN21763771 aprendidas e um sistema de avaliação eficiente que nos dirá se o que estamos fazendo está ou não surtindo efeito e um acompanhamento de perto de cada aluno, para identificar possíveis lacunas no aprendizado a serem trabalhadas Endereço para Contato: José Gerardo Araújo Paiva Coordenador da Comissão de Residência Médica E-mail: [email protected] Fone: (85) 3101 5383 Nesta estrutura de ensino não esta descartada a figura do modelo, porém este modelo trabalhará em cima de objetivos bem definidos. Este desafio é bem maior do que imaginamos. Não porque os alunos não sejam capazes de se adaptar e sim pela preparação dos futuros mestres desta instituição, pois requer tempo e incentivos. Do ponto de visto político é cada vez maior a pressão da Secretaria de Saúde do Estado para a formação de especialistas que serão integrados às policlínicas no interior. Nada vem sem investimentos. Os gestores devem acordar para as potencialidades que instituições como o Hospital Dr. Cesar Cals, Hospital Geral de Fortaleza, Albet Sabin, só para citar algumas, têm, porém um investimento pesado em ensino precisa ser urgentemente feito nestas instituições, treinando os preceptores e gratificando-lhes por esta relevante tarefa que é a de ensinar. Assim teremos gerações e gerações de bons médicos, perpetuando a memória de que este hospital sempre foi de ensino. 13 ISSN21763771 Artigo de comunicação científica Liderança e processos motivacionais em organizações de saúde. Leadership and motivacional Processes in Health Care. Marcos Roberto Arruda Bastos1 1 Diretor Administrativo e Financeiro do Hospital Geral César Cals Atualmente, todas as organizações têm experi- organizações sejam flexíveis, inteligentes, adaptá- mentado um profundo processo de mudanças, veis, capazes de se recuperar, de se renovar e de resultando na necessidade do aprofundamento da aprender. discussão dos aspectos motivacionais e de liderança de equipes. Historicamente, o resultado da inflexibilidade organizacional e de comando focado em controles, têm produzido sérias distorções nas organizações com trabalhadores desmotivados e lideres se perguntando porque ninguém se empenha e nem assume responsabilidades. A motivação dos trabalhadores e a liderança adequada podem ser citadas como os fundamentos para construir um novo ambiente de trabalho na área da saúde, focado na satisfação pessoal e no atingimento de resultados organizacionais, através da formação de times de trabalho de alto desempenho. As modernas organizações enfrentariam com mais sucesso seus desafios com menor grau de controle, Nesse contexto, o perfil e o papel do líder cons- focando em práticas que motivem e comprometam tituem como referenciais e forças motivadoras o potencial humano sem, contudo, abstrair-se de para o alcance de resultados organizacionais. O ferramentas mínimas de comando da instituição. líder sabe aonde quer chegar e aglutina para que o Vale ressaltar que experiências positivas de en- acompanhem. volvimento e motivação de equipes são cada vez mais frequentes, apontando para um caminho que pode ser seguido no intuito de enfrentar a atual situação. No mundo competitivo de hoje, onde a complexidade das tarefas diárias requer maior cooperação e conhecimento, o trabalho em equipe tornou-se uma necessidade. As equipes de trabalho podem No mundo moderno começa a surgir um ideal aumentar a produtividade e ajudar na redução de diferente de organização. A busca por uma orga- custos através da reunião de experiência profis- nização mais adaptável, ágil, motivadora e com sional, conhecimento e criatividade de seus mem- ambiente de trabalho favorável aos resultados bros. Embora possa parecer simples, gerenciar o organizacionais tem sido uma constante entre comportamento humano é uma tarefa complexa. os estudiosos do assunto que defendem que as Os membros da organização reconhecem as di- 14 ISSN21763771 ferenças entre os comportamentos socialmente sustentados pelo seu grupo e as cobranças feitas pela organização. Nessas circunstâncias, a comunicação constitui um elemento que favorece o adequado gerenciamento. Contudo, ela é benéfica Endereço para Contato: Marcos Roberto Arruda Bastos Diretor Administrativo e Financeiro do HGCC E-mail: [email protected] Fone: (85) 3101 5350 apenas na medida em que as pessoas encarregadas de gerenciar esses indivíduos conhecem os grupos aos quais pertencem, assim como as regras que, nesses grupos, norteiam o comportamento. A saúde pública, a despeito de ser um setor de absoluta relevância para a população, apresenta um quadro de comprovada necessidade de melhorias nas relações de trabalho e gerenciamento da atenção à saúde. Assim, para as organizações de saúde que enfrentam uma realidade complexa e de profundas incertezas, resta investir em metodologias de motivação e valorização de seus profissionais, em busca de agregar competências, conhecimentos e comportamentos adequados ao enfrentamento de tais desafios. O papel e o perfil da liderança, bem como a formação de times de trabalho, precisam urgentemente ser priorizados no processo de gestão organizacional da saúde em busca das respostas que a sociedade exige. 15 ISSN21763771 Artigo original Avaliação das ações e controle da sífilis no binômio mãe e filho no município de Fortaleza no ano de 2007. Maria do Socorro Cavalcante1,2 Antonia Aila Coelho Barbosa Brito2 Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr3 Carla Mônica Nunes Pombo1 Sandra Solange Leite Campos1 Evaluation of prevention and control of syphilis in both the mother and child in the city of Fortaleza in 2007. 1 Hospital Geral César Cals / Núcleo Hospitalar de Epidemiologia 2 Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza 3 Departamento de Saúde Comunitária/UFC RESUMO O estudo objetiva avaliar a realização das ações de ocorreu em 46,0% das mulheres no momento do prevenção e controle da sífilis, recomendadas pelo parto e 42,3% tiveram conhecimento durante a Programa Nacional de DST e Aids, em gestantes consulta de pré-natal. Mais da metade das mulhe- notificadas com sífilis na gravidez e admitidas res utilizaram tratamento inadequado e 77,32% para parto nas maternidades públicas de Fortaleza. dos parceiros não receberam tratamento conco- Estudo descritivo, com dados secundários obtidos mitante à gestante. De acordo com a evolução por meio das fichas de notificação/investigação de da gestante 12,2%, resultaram em natimorto por sífilis em gestante e congênita registradas no Sis- sífilis. Percebe-se ainda uma clara evidência da tema de Informação de Agravos de Notificação, necessidade de melhoria da assistência pré-natal, com base de dados de 2007. Os bancos de dados principalmente no que diz respeito à qualidade foram analisados separadamente no Stata, v.10.0, dessa assistência, envolvendo todos profissionais TX, USA. Realizaram-se análises univariadas de saúde no compromisso das ações direcionadas para descrição de frequências e proporções sim- à eliminação da sífilis congênita. ples e medidas de tendência central e dispersão (médias e desvio padrão). Foram notificados 131 casos de mulheres com diagnóstico de sífilis na gravidez e 352 com VDRL reagente na admissão para parto/curetagem. 73,3% de gestantes inicia- Palavras chaves: Sífilis, Gravidez, Sífilis congênita. INTRODUÇÃO ram o pré-natal no 2º e 3º trimestre de gravidez, Das várias doenças que podem ser transmitidas du- quase um terço foi diagnosticado como sífilis ter- rante a gravidez, a sífilis é a que apresenta maiores ciária, embora 30,7% dos casos estivessem com taxas de transmissão. Dessa forma, a transmissão informação ignorada. Quase 70,0% informaram vertical da sífilis constitui-se um importante pro- ter realizado o pré-natal, a descoberta da sífilis blema de saúde pública no Brasil1. 16 ISSN21763771 Segundo a estimativa da Organização Mundial de transmissão vertical, que varia de 30 a 100% sem o Saúde (OMS) em 1999, o total de casos novos de tratamento, ou com tratamento inadequado1. Sífilis no mundo atingiu 12 milhões e destes, três milhões ocorreram na América Latina e Caribe2. Com isso, espera-se reforçar as ações de controle da transmissão vertical da sífilis (sífilis congênita) Desde 1995, o Ministério da Saúde juntamente e acompanhar, adequadamente, o comportamento com países da América Latina e Caribe assumiu da infecção entre gestantes facilitando dessa for- o compromisso para a elaboração do Plano de ma, o planejamento e avaliação das medidas de Ação, visando à eliminação da sífilis congênita prevenção e controle, uma vez que a sífilis congê- nas Américas até o ano 2000. Dessa forma, a nita está na lista de notificação compulsória desde partir de 1997, o Ministério da Saúde considerou 1986 por meio da portaria 542 e, apesar de todos como meta reduzir os casos de sífilis congênita os esforços, ainda não se conseguiu eliminá-la1. para 01 caso por 1.000 nascidos vivos por ano3. Um estudo sentinela realizado em gestantes de Até o momento, essa meta não foi cumprida e para todo o país em 2004, com amostra de aproxima- que isto aconteça, devem-se reforçar as ações de damente 20.000 mulheres entre 15 e 49 anos de diagnóstico, prevenção e tratamento oportuno da idade, estimou uma taxa de incidência de infecção sífilis, sobretudo na assistência pré-natal e parto. pelo Treponema pallidum de 1,6% para o Brasil, Nessa perspectiva, a partir de 2005, a sífilis em gestante foi incluída na listagem nacional de doenças de notificação compulsória pela Portaria nº 33 do Ministério da Saúde. No entanto, somente em 2007 foi implantado nos serviços da rede básica de saúde e nos serviços de referência de todo Brasil. A inclusão da sífilis na gestação, como doença sexualmente transmissível de notificação obrigatória, justifica-se por sua alta prevalência e elevada taxa de variando de 1,3% na região Centro-Oeste até 1,9% na região Nordeste. Essa taxa no Brasil representaria 50.000 gestantes infectadas e uma estimativa de 12.000 nascidos vivos com sífilis congênita por ano2,4. Tomando por base a taxa de 1,9% para o Nordeste e 38.000 nascimentos vivos por ano em Fortaleza, a estimativa de recém-nascidos com sífilis congênita seria de 405 casos por ano (utilizando apenas 70% da rede pública). 17 ISSN21763771 Segundo dados do boletim epidemiológico de dados de 2007. Os dados foram obtidos por meio DST e Aids5, em 2007 foram notificados 5.301 das fichas de notificação/investigação de sífilis casos de sífilis congênita no Brasil, destes 421 em gestante e congênita registradas no Sistema de casos no Ceará, dos quais 126 são residentes em Informação de Agravos de Notificação – SINAN Fortaleza. NET, notificadas à Célula de Vigilância Epide- Em 2000, o Ministério da Saúde por meio do Programa Nacional de DST e Aids implantou o Pro- miológica da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza. jeto Nascer – Maternidade em todo o Brasil, com A utilização dos testes sorológicos permanece o objetivo de garantir a melhoria da qualidade dos como a principal forma de se estabelecer o diag- cuidados com a mulher e criança durante a ges- nóstico da sífilis. São divididos em testes não tação, parto e pós-parto. O Projeto disponibilizou treponêmicos (Venereal Disease Research La- recursos financeiros para todas as maternidades boratory – VDRL) e treponêmicos (Fluorescent cadastradas, de acordo com as recomendações de Treponemal Antibody Absorption – FTA- ABS; prevenção e controle da transmissão vertical do Treponema Pallidum Hemaglunation –TPHA; HIV e da sífilis, tais como a testagem e tratamento . Enzyme- Linked- Imunosorbent Assay -ELISA ). É importante lembrar que a sífilis na mulher Os dados dos dois bancos foram analisados sepa- grávida pode causar o abortamento, a morte intra- radamente no Stata, versão 10.0 (StataCorp. Col- uterina, levar ao óbito neonatal, além de deixar lege Station, TX, USA). Realizaram-se análises sequelas irreversíveis nos recém-natos . univariadas para descrição de frequências, pro- 6 7 O presente estudo objetiva avaliar a realização das ações de prevenção e controle da sífilis, recomendadas pelo Programa Nacional de DST e Aids, em gestantes notificadas com sífilis na gravidez e admitidas para parto nas maternidades públicas de Fortaleza no ano de 2007. porções simples e medidas de tendência central e dispersão (médias e desvio padrão). Foram estudadas as seguintes variáveis: demográficas (idade, escolaridade, procedência); medidas profiláticas (realização de pré-natal, diagnóstico de sífilis na gravidez, testes treponêmicos e não treponêmicos, realização do tratamento do parceiro, esquema de MÉTODO tratamento da gestante e evolução). Trata-se de um estudo descritivo onde foram utili- Este trabalho foi avaliado e aprovado em reunião zados dados secundários de dois bancos de dados, do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola sendo um com diagnóstico de sífilis na gravidez e de Saúde Pública do Ceará, resguardando as infor- o outro com diagnóstico de sífilis congênita, em mações e identidade em absoluto sigilo. maternidades públicas de Fortaleza, com base de 18 ISSN21763771 RESULTADOS encontrava-se na faixa etária de 20 a 29 anos e Foram notificados 131 casos de mulheres com diagnóstico de sífilis na gravidez e 352 com sífilis na admissão para parto/curetagem. O perfil sóciodemográfico nos dois grupos apresentou média de idade de 24 anos cada; desvio padrão de 6,72 e 6,43, respectivamente. A idade variou de 12 a 45 anos nas mulheres com sífilis na gravidez e de 13 a 44 anos nas parturientes. Mais da metade tinha o ensino fundamental incompleto em ambos os grupos. Entretanto, aproximadamente um terço das informações encontrava-se ignorada nos dois grupos. Fortaleza apresentou a maior concentração de casos nos dois grupos. Quanto à distribuição da notificação de sífilis nas seis Secretarias Executivas Regionais de Fortaleza, a SER VI foi a área com maior número de notificações (Tabela 1). Tabela 1 – Perfil sócio-demográfico das mulheres com sífilis diagnosticada na gravidez e no momento do parto em Fortaleza – 2007. Variáveis Faixa etária 12 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 e mais anos Escolaridade (anos de estudo) Analfabeto 1º a 4º série incompleta 4º série completa do ensino fund. 5º a 8º série incompleta Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo Educação superior incompleta Educação superior completa Ignorado Município de Residência Fortaleza Outros municípios Secretaria Executiva Regional – SER * SER I SER II SER III SER IV SER V SER VI Sífilis diagnosticada na gravidez (n=131) Sífilis diagnosticada no parto (n=352) N 34 68 26 3 % 26,0 51,9 19,8 2,3 N 93 189 57 9 % 26,7 54,3 16,4 2,6 3 17 9 27 4 4 6 3 2 37 2,7 15,2 8,0 24,0 3,6 3,6 5,4 2,7 1,8 33,0 8 49 20 125 24 25 25 2 2 72 2,3 13,9 5,7 35,5 6,8 7,1 7,1 0,6 0,6 20,4 126 5 95,7 4,3 315 37 89,5 10,5 11 13 19 10 19 48 9,2 10,8 15,8 8,4 15,8 40,0 47 34 48 23 67 83 15,5 11,3 15,9 7,6 22,2 27,5 Fonte: SMS/CEVEPI/SINANNET . Dados sujeitos a revisão. * 11 casos de sífilis na gravidez e 13 casos em parturiente com sífilis com SER ignorada. 19 ISSN21763771 A Tabela 2 apresenta os aspectos clínicos da sífilis 95% foram detectados pelo teste não treponêmico na gravidez e aponta uma maior frequência de no- (VDRL), dentre essas, 21 grávidas (16,0%) neces- tificação de casos de sífilis em mulheres entre o 2º sitaram realizar o teste treponêmico (confirmató- e 3º trimestre de gravidez (73,3%). De acordo com rio) por apresentarem titulações inferiores a 1:8 e a classificação clínica informada na ficha, quase tiveram o resultado reagente. Quase metade das um terço foi diagnosticada como sífilis terciária grávidas utilizou o esquema de tratamento com (32,5%), embora 30,7% dos casos estivessem com Penicilina 7.200,000 UI/IM como forma de tratar informação ignorada. Dos 131 casos notificados, à sífilis na gestação. Tabela 2 – Aspectos clínicos das mulheres diagnosticadas com sífilis na gravidez em Fortaleza - 2007. Variáveis Gestação 1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre Ignorado Classificação clínica Sífilis primária Sífilis secundária Sífilis terciária Latente Ignorado Teste não treponêmico (VDRL) Reagente Não realizado Ignorado Teste treponêmico Reagente Não realizado Ignorado Esquema de tratamento Penicilina 2.400,000 UI/IM Penicilina 4.800,000 UI/IM Penicilina 7.200,000 UI/IM Outro esquema Não realizado Ignorado Fonte: SMS/CEVEPI/SINANNET *Dados sujeitos a revisão. 20 N % 18 49 47 17 13,7 37,4 35,9 13,0 24 12 38 07 36 20,5 10,2 32,5 6,0 30,8 124 6 1 94,7 4,6 0,7 21 93 17 16,0 71,0 13,0 40 08 65 02 07 09 30,5 6,1 49,6 1,5 5,4 6,9 ISSN21763771 Em relação às gestantes com VDRL reagente no 341 (96,9%) parturientes. Apenas 9,4% realiza- momento do parto, quase 70,0% informaram ter ram o teste confirmatório e estes foram reagentes. realizado o pré-natal. De acordo com as fichas Observou-se que mais da metade das mulheres de notificação analisadas, a descoberta da sífilis utilizaram tratamento inadequado e 272 (77,32%) ocorreu em 162 (46,0%) mulheres no momento dos parceiros não receberam tratamento conco- do parto e 149 (42,3%) tiveram conhecimento mitante à gestante. De acordo com a evolução da durante a consulta de pré-natal. Verificou-se que gestante, 43 (12,2%) resultaram em natimorto por o teste não treponêmico (VDRL) foi reagente em sífilis (Tabela 3). Tabela 3 – Aspectos clínicos das mulheres diagnosticadas com sífilis no momento do parto em Fortaleza – 2007. Variáveis Realização de pré-natal Sim Não Ignorado Diagnóstico de sífilis Durante o pré-natal Momento do parto/curetagem Após o parto Não realizado Ignorado Teste não treponêmico (VDRL) Reagente Não realizado Ignorado Teste treponêmico Reagente Não realizado Ignorado Esquema de tratamento Inadequado Não realizado Ignorado Tratamento do Parceiro Sim Não Ignorado Evolução Vivo Óbito por sífilis Aborto Natimorto N % 243 91 18 69,0 25,9 5,1 149 162 19 3 19 42,3 46,0 5,4 0,9 5,4 341 2 9 96,9 0,6 2,5 33 290 29 9,4 82,4 8,2 188 123 41 53,4 34,9 11,7 35 272 45 9,9 77,3 12,8 281 3 25 43 79,8 0,9 7,1 12,2 Fonte: SMS/CEVEPI/SINANNET * Dados sujeitos a revisão. 21 ISSN21763771 DISCUSSÃO Os resultados apresentados neste estudo revelam que apesar de todos os esforços, a sífilis ainda representa um problema de saúde pública. Identificou-se uma elevada subnotificação de casos de sífilis na gravidez apontando para uma inadequada vigilância por parte da assistência pré-natal, uma vez que a notificação de sífilis diagnosticada no momento do parto (sífilis congênita) foi três vezes maior do que na gravidez. O número de notificações de sífilis em gestante em Fortaleza ainda está muito aquém do esperado, principalmente quando comparado ao total de casos de sífilis congênita no mesmo período em residentes em Fortaleza. Dados apresentados no último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde5 registraram 6.143 casos notificados de sífilis na gestação em 2007, representando uma pequena parcela dos casos esperados, onde um estudo de abrangência em anos de estudo ou fundamental incompleto e residente na capital. Os dados apresentados no boletim epidemiológico do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde evidenciam o mesmo perfil para o Brasil e outros estados5. O perfil da escolaridade materna também é semelhante ao dos Estados do Brasil onde metade das gestantes concluiu até o ensino fundamental. Chama atenção ao elevado número de informações ignoradas, o que invalida qualquer conclusão. A escolaridade é utilizada como um indicador socioeconômico, e mede o grau de compreensão das informações para mudança de comportamento e hábitos. Sabe-se que o diagnóstico precoce é a melhor forma de prevenir a sífilis congênita e a sorologia é de vital importância. Entretanto, encontram-se ainda hoje dificuldades que vão desde a captação precoce da gestante no pré-natal até a realização da sorologia e o recebimento do resultado. 2004 estimou que aproximadamente 1,6% das Neste estudo, 70% das parturientes referiram ter parturientes, cerca de 50 mil, apresentariam sífilis realizado pré-natal, embora com início tardio (2º ativa. A subnotificação de casos fica evidenciada e 3º trimestre de gravidez), quase metade desco- também nos dados do presente estudo, onde se briram o diagnóstico de infecção pelo Treponema esperariam 425 casos de sífilis. É preocupante o ainda no pré-natal e a outra metade no momento aumento do número de casos de sífilis congêni- da internação hospitalar, por ocasião do parto. ta nos últimos anos, por um lado isso representa Lorenzi et al., em 2001 no Rio Grande do Sul8 uma melhoria da notificação e, por outro, revela relataram que 85,2% das gestantes do seu estudo a inadequação do tratamento da gestante e do(s) realizaram o acompanhamento pré-natal e em parceiro(s) durante a gravidez. 70% foram identificadas sífilis na gravidez, mas As variáveis sócio-demográficas deste estudo apontaram mulheres jovens, com idade de vida sexual e reprodutiva ativa, a maioria com até sete 22 não realizaram o tratamento ou o tratamento foi inadequado para a prevenção da sífilis congênita, segundo as recomendações do Ministério da Saúde, o que permite questionar a qualidade da ISSN21763771 assistência pré-natal. Outro estudo realizado por entanto, apenas 49,6% utilizaram esse esquema Rodrigues e colaboradores, em 20046, verificou de tratamento, apontando a falha terapêutica. Lo- um grande número de gestantes que referiram ter renzi et al., 2004 em seu estudo, questionaram se realizado pré-natal, porém não realizaram VDRL, o insucesso da terapêutica penicilínica deve-se a e que a captação dessas gestantes para o pré-natal reinfecção, recidiva, resistência bacteriana às dro- foi muito baixa no primeiro trimestre, reduzindo gas antimicrobianas ou por omissão do tratamento as chances de tratamento no período adequado, do parceiro8. corroborando com os resultados encontrados no presente estudo. Dentre as inúmeras dificuldades para o correto tratamento e prevenção da sífilis congênita estão as baixas titulações do VDRL. Titulações inferiores a 1:8 têm gerado discussões em torno do tratamento, tanto para o recém-nascido, quanto à gestante, visto que, a recomendação do Ministério da Saúde para esses casos é realizar o teste treponêmico (FTA-ABS, TPHA, e ELISA), que são testes confirmatórios e nem sempre os testes estão disponíveis nos serviços de saúde. Então, na falta do teste, deve-se tratar a gestante, o parceiro e o Outro problema identificado foi o não tratamento do parceiro, que deve ser realizado durante o prénatal concomitante à gestante. Dados do Programa Nacional de DST e Aids5 apontam para 15,0% de parceiros tratados no Brasil, semelhante aos desse estudo. Em Fortaleza, apenas 15,8% informaram o tratamento do parceiro. Além disso, acrescentase o tratamento inadequado da gestante para a fase clínica da doença; tratamento incompleto, mesmo sendo feito com a penicilina; tratamento concluído dentro dos 30 dias antes do parto e ausência de informação sobre o tratamento anterior7. recém-nascido como portador de sífilis, de acor- A sífilis na mulher grávida pode resultar em óbito do como preconizado pelo Ministério da Saúde por sífilis, aborto e natimorto sifilítico. Uma revi- e Centers for Disease Control and Prevention são de literatura realizada por Genç; Ledger, 20007 (CDC)1,4,8. referiram em um estudo realizado em 22 mulheres Merece serem discutidos os resultados da classificação clínica de acordo com a fase da doença e a aplicação da terapêutica penicilínica. Observou-se que quase 70% dos casos deveriam ter sido tratados com o esquema para tratar sífilis terciária ou não tratadas para sífilis, 41% das crianças apresentaram sífilis congênita, 25% eram natimortos, 14% foram a óbito no período neonatal e 21% nasceram prematuras. Os resultados desse estudo corroboram com os encontrados em Fortaleza. assintomática com mais de um ano de evolução Esses resultados apontam para um problema de (latente tardia) ou com duração ignorada, que se- grande magnitude que persiste em nosso país. Per- ria a dose total de 7.200.000 UI, de acordo com cebe-se ainda uma clara evidência da necessidade as recomendações do Ministério da Saúde. No de melhoria da assistência pré-natal, principal23 ISSN21763771 mente no que diz respeito à qualidade dessa assis- and 3rd trimester of pregnancy, nearly one third tência, envolvendo todos profissionais de saúde no was diagnosed as tertiary syphilis, while 30.7% compromisso das ações direcionadas à eliminação of cases were unknown. Nearly 70.0% reported da sífilis congênita. Além disso, existem inúmeras having performed the pre-natal, the discovery falhas em todas as etapas para a prevenção e con- of syphilis occurred in 46.0% of women at deli- trole da doença, que vai desde a captação precoce very and 42.3% had knowledge during prenatal da gestante, realização de dois testes no pré-natal, care. More than half of women used inadequate agilidade no resultado, notificação e investigação, treatment and 77.32% of partners did not receive diagnóstico e tratamento adequado da gestante concomitant treatment to pregnant women. Accor- e do parceiro e seguimento até a negativação do ding to the evolution of pregnant women 12.2% resultado. Somente com a execução de todas essas resulted in stillbirths due to syphilis. It is also ações será possível a tão sonhada eliminação da noticed a clear evidence of the need for improved sífilis congênita no país. prenatal care, especially with regard to quality ABSTRACT The study aims to evaluate the implementation of prevention and control of syphilis as recommended by the National STD and AIDS, reported in pregnant women with syphilis in pregnancy and admit- of care, involving all health professionals in the undertaking of actions aimed at the elimination of congenital syphilis. Key words: Syphilis, Pregnancy, Congenital syphilis. ted for delivery in public hospitals of Fortaleza. Descriptive study with secondary data obtained through the forms of reporting and investigation of syphilis in pregnancy and congenital registered in the Information System of Notification Diseases, based on 2007 data. The databases were analyzed separately in the Stata, v.10.0, TX, USA. There were univariate analysis of frequencies and description of simple ratios and measures of central tendency and dispersion (mean and standard deviation). Been reported 131 cases of women diagnosed with syphilis in pregnancy and 352 with VDRL at admission for delivery / curettage. 73.3% of women began prenatal care in the 2nd 24 REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o Controle da Sífilis Congênita. Série Manuais nº 62. Brasília, DF. 2005. 2. World Health Organization. Global prevalence and incidence of selected curable sexually transmitted infections: Geneva: WHO/HIV_ AIDS/2001.02. Acessado em: http://www.who. int/hiv/pub/sti/pub7/en/; Data 18 de fevereiro de 2010. ISSN21763771 Aids. Protocolo para a prevenção de transmissão Endereço para Contato: Maria do Socorro Cavalcante Núcleo Hospitalar de Epidemiologia/ HGCC vertical de HIV e sífilis. Série B. Textos Básicos e-mail: [email protected] de Saúde. Série Manuais 80. Brasília, DF. 2007. [email protected] Fone: (85) 3101-5313 3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e 4. Ramos Jr AN, Matida LH, Saraceni V, Veras MA, Pontes RJ. Control of mother-to-child transmission of infectious diseases in Brazil: progress in HIV/AIDS and failure in congenital syphilis. Cad Saude Publica 2007;23 Suppl 3:S370-S378. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. AIDS: Boletim Epidemiológico. AIDSDST. Documento eletrônico Disponível em: www.aids.gov.br. Brasília: PN DST/AIDS; 2008. 6. Rodrigues CS, Guimaraes MD, Cesar CC. Missed opportunities for congenital syphilis and HIV perinatal transmission prevention. Rev Saude Publica 2008 Oct;42(5):851-8. 7. Mehmet Genç, William J Ledger. Syphilis in pregnancy. Sex Transm Inf. 2000; 76:73-79. 8. De Lorenzi DR, Madi JM. Sífilis congênita como indicador de assistência pré-natal. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 2001; 23(10):647-652. 25 ISSN21763771 Artigo original Ingestão alimentar de adolescentes gestantes atendidas no Hospital Geral Cesár Cals. Dietary intake of pregnancy adolescentes seen at the Hospital Geral Cèsar Cals. Alexsandra Silva Thé¹ Fernanda Maria Machado Maia² Nutricionista, Universidade Estadual do Ceará Professora, Doutora em Bioquímica do Curso de Nutrição, Universidade Estadual do Ceará. 1 2 RESUMO O estudo teve o objetivo de estimar a adequação da dieta de adolescentes gestantes no Hospital Geral Dr. César Cals, Fortaleza-CE. Foram entrevistadas 24 adolescentes com idade entre 13 e 18 anos, participantes das oficinas semanais do serviço de obstetrícia através de recordatório alimentar de 3 dias para o levantamento dos dados alimentares. Para a comparação do consumo com a recomendação de ingestão de energia, de macronutrientes e micronutrientes foram utilizadas as Dietary Reference Intakes. Os resultados evidenciaram uma relevância e preocupação na atualidade, no âmbito da saúde pública, pelas grandes implicações de natureza biológica, familiar, emocional, psicológica, social e econômica que atinge, tanto para a mãe e seu filho como para a sociedade. Devido às repercussões sobre a mãe e sobre o concepto é considerada gestação de alto risco pela Organização Mundial da Saúde. Entretanto, nos dias atuais postula-se que o risco seja mais social do que biológico1,2. Com relação às necessidades nutricionais da adolescente gestante, estas estarão maiores, devido ingestão alimentar inadequada em calorias, fibras, tanto à fase de crescimento, característica da ado- vitaminas, minerais e adequada em proteínas, car- lescência, que requer maiores quantidades de nu- boidratos e lipídios. Portanto, as adolescentes ne- trientes, quanto ao acréscimo do crescimento fetal cessitam de uma atenção nutricional durante todo que implica em aumento destas necessidades3. o pré-natal para auxiliar na escolha de alimentos saudáveis, considerando os aspectos socioeconô- Os distúrbios nutricionais mais encontrados na micos, biológicos e psicológicos. adolescência e gestação referem-se, principal- Palavras chaves: Gestantes adolescentes, ingestão alimentar, nutrição. INTRODUÇÃO A gravidez na adolescência não é um fato recente na nossa história, contudo tem se tornado tema de 26 mente, ao consumo de energia, ferro, ácido fólico, cálcio, e vitamina A. A ingestão de proteínas na maioria dos estudos encontra-se adequada, exceto quando as adolescentes são vegetarianas ou o consumo de energia é baixo porque pode ser risco para o insuficiente aporte de proteína. Assim, as recomendações de nutrientes na gravidez devem ISSN21763771 adaptar-se a cada mulher, levando em considera- nais oferecidas entre os meses de maio e junho ção as variações individuais quanto às necessida- de 2007. Nestes dois meses, segundo o setor de des em cada gestação estatística do HGCC, a obstetra e a enfermeira re- . 4,5,6 A nutrição inadequada da gestante adolescente tem tido correlação com maior frequência na prematuridade, pré-eclâmpsia, e anemia, além alizaram 110 atendimentos a adolescentes, sendo esta última responsável pelo encaminhamento das adolescentes para a participação das oficinas. de outras complicações gestacionais como baixo A amostra foi constituída de 30 adolescentes ges- peso ao nascer e doenças neonatais7,6. tantes, sendo excluídas 6 devido a perda de con- O presente estudo teve como objetivo estimar a adequação da dieta de adolescentes gestantes, atendidas em uma maternidade de referência da cidade de Fortaleza-Ceará, em relação às necessidades nutricionais de energia, carboidratos, proteínas, lipídios, fibras, vitamina A, vitamina C, folato tiamina, niacina, riboflavina, fósforo, cobre, zinco e cálcio. tato ou nascimento da criança, com faixa etária menor ou igual a 19 anos, capazes de responder ao recordatório alimentar de 3 dias (ou que o(a) responsável respondesse por ela). Ao consentirem em participar do estudo, o(a) responsável ou a própria participante assinou o termo de consentimento livre e esclarecido, conforme recomendação da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996). A coleta de dados foi iniciada MÉTODO logo após a aprovação da pesquisa pelo Comitê O estudo realizado foi transversal e com aborda- César Cals (Protocolo Nº104/2007). gem quantitativa. Seleção e Descrição dos Participantes: de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Geral Dr. Coleta dos dados: O primeiro recordatório 24 horas ocorreu após A população em estudo foi compreendida de consulta pré-natal ou grupo e os outros dois dias, adolescentes gestantes atendidas no Hospital Ge- não consecutivos, em visita domiciliar ou em ral Doutor César Cals (HGCC). As participantes consulta de pré-natal, incluindo um dia de final do estudo foram selecionadas entre as gestantes de semana. Os dados do recordatório alimentar 24 adolescentes participantes das oficinas sema- horas de 3 dias foram transformados de medidas 27 ISSN21763771 caseiras para gramas ou mililitros utilizando-se energia. Sendo 50% (n=12) destas com consu- as padronizações da Tabela para Avaliação de mo insuficiente de calorias (ingestão energética Consumo Alimentar em Medidas Caseiras8, e pos- abaixo da EER (Estimated Energy Requirement) teriormente analisados por grama ou mililitros de - 2DP) e 29,2% (n=7) destas com consumo ex- alimento a partir do software DietWin Profissional, cessivo de calorias (ingestão energética acima da versão 2.0.24. Na verificação da adequação de EER (Estimated Energy Requirement) + 2DP). consumo de energia, os dados de ingestão alimen- Somente 20,8% (n=5) das adolescentes consumi- tar foram comparados com as recomendações para ram dietas com adequada energia, entre -2DP e + gestantes adolescentes do Institute of Medicine ± 2DP da EER. 9 2 desvios-padrão. A adequação de distribuição dos macronutrientes e ingestão de fibras foi realizada seguindo os critérios estabelecidos pelo Institute of Medicine10. A adequação da ingestão de vitaminas (A, C, folato, tiamina, riboflavina, niacina) e minerais (cobre, fósforo, zinco e cálcio) foi analisada de acordo com as DRIs do Institute of Medicine11,12,13,14. A prevalência de ingestão adequada correspondeu à proporção de indivíduos que tinha um consumo referente ao z=1,05, ou seja, probabilidade de adequação de 85%, utilizando as fórmulas da Estimated Average Requeriment (EAR), ou da Adequate Intake (AI) para análise do consumo individual. RESULTADOS Os recordatórios alimentares mostraram a ingestão energética média das gestantes adolescentes foi de 2.447,5 ± 454,2 kcal, variando entre o mínimo de 1.496 kcal e o máximo de 3.389 kcal. No presente estudo 83,3% (n=20) das gestantes adolescentes apresentaram consumo adequado de carboidratos (45-60%)10 em relação ao Valor Calórico Total (VCT), enquanto 16,7% (n=4) tiveram consumo excessivo e nenhuma teve consumo insuficiente. O percentual de adequação de carboidratos em relação ao VCT médio foi de 58,24% ± 1,43; com variação entre o mínimo de 47,28% e o máximo de 71,49%. Quanto à adequação do consumo protéico, a amostra total deste estudo apresentou ingestão dentro do intervalo proposto (10-35% do VCT)10 conforme. A média do percentual de adequação em relação ao VCT foi de 15,7% ± 3,07; com variação entre o mínimo de 11,1% e o máximo de 21,9%. Em relação ao consumo de lipídios, o percentual de adequação médio foi de 26,12% ±5,29; variando entre 11,71% e 34,17%. Das adolescentes estudadas, 21 (87,5%) tiveram consumo adequa- O total de energia consumida foi comparado com do (20-35% do VCT)10, enquanto que 4 (12,5%) as necessidades individuais estimadas. Constatou- tiveram consumo insuficiente e nenhuma teve se que 79,2% (n=19) das gestantes adolescentes consumo excessivo. Quanto às fibras dietéticas, apresentaram inadequação quanto à ingestão de somente 25% das dietas estavam adequadas. 28 ISSN21763771 A análise pela mediana (23,2g/dia) confirma o C tiveram mais da metade da amostra 66,7% e baixo consumo pelas adolescentes estudadas, 54,1%, respectivamente, com probabilidade de mostrando que a maioria (75%) não atingiu a re- 85% de adequação. Somente uma adolescente comendação (28g/dia). apresentou a probabilidade de adequação de cál- Os achados do presente estudo demonstram através da Tabela 1 que a grande maioria das adolescentes gestantes teve consumo inadequado de vitaminas e minerais. Apenas o cobre e a vitamina cio, enquanto para folato, nenhuma adolescente atingiu o consumo equivalente à probabilidade de 85% de adequação, considerando a média dos três recordatórios alimentares. Tabela Única. Adequação do consumo de vitaminas e minerais de gestantes adolescentes (n=24). Fortaleza, 2008. Nutriente Indivíduos com 85% de probabilidade de ingestão adequada Consumo EAR*/AI** Média DP n % Vitamina A (µg/dia) 530* 864,11 594,34 7 29,1 Vitamina C (mg/dia) 66* 189,89 186,71 13 54,1 Folato (µg/dia) 520* 180,81 69,07 0 0 Tiamina (mg/dia) 1,2* 1,32 0,83 6 25,0 Riboflavina (mg/dia) 1,28* 1,77 1,22 8 33,3 Niacina (mg/dia) 14* 17,58 6,48 7 29,1 Cobre (µg/dia) 785* 1,54 0,87 16 66,7 Fósforo (mg/dia) 1055* 1166,21 424,29 9 37,5 Zinco (mg/dia) 10,5* 9,95 4,14 4 16,7 Cálcio 1300** 347,14 1 4,2 620,44 *EAR: Estimated Average Requeriment, ** Adequate Intake. DISCUSSÃO A dieta da gestante adolescente é frequentemen- e padrões de estética corporal que também pode . Segundo Barros et al. (2004) 6 induzir a uma restrição alimentar. Em paralelo, as diversos fatores podem estar influenciando, entre condições socioeconômicas precárias e a falta de eles às necessidades nutricionais na adolescência aceitação da gravidez podem dificultar o acesso ao somadas à gestação e adoção de estilos de vida consumo adequado de alimentos. te inadequada 16,17 29 ISSN21763771 Na investigação do consumo alimentar feita por Como as gestantes estudadas apresentaram baixa Azevedo e Sampaio (2003)18, foi também encon- ingestão de fibras, é necessário o aumento no trada a ingestão energética média de 2.347 kcal, consumo, pois estas quando ingeridas adequada- em que 77,7% das dietas consumidas pelas ges- mente auxiliam na prevenção de diversas com- tantes adolescentes estavam inadequadas. Assim plicações durante a gestação, tais como distúr- como no estudo de Guerra et al. (2007)19 em hos- bios hipertensivos, diabetes mellitus gestacional, pital público em Curitiba, estado do Paraná, com hemorróidas, síndrome do intestino irritável e adolescentes no terceiro trimestre de gestação, tratamento de anemias21. em que a maioria (85,6%) das adolescentes teve consumo calórico inadequado, sendo 40,2% com consumo menor que 90% das necessidades calóricas e 45,4% com consumo maior que 110%. Quanto ao consumo de micronutrientes, Barros (2002)22 ao estudar o consumo alimentar habitual de adolescentes gestantes do município do Rio de Janeiro obteve que as médias do consumo de Ao verificar o consumo protéico de gestantes ado- ferro, folato e cálcio apresentaram valores abaixo lescentes, resultados divergentes têm sido encon- do requerimento, ao passo que a de vitamina C ex- trados na literatura. Alguns autores têm encontrado cedeu as recomendações, conforme a proposição consumo adequado do IOM (2000)13. . Em regiões mais pobres, ,6,20 como a Nigéria, as gestantes adolescentes frequentemente apresentam consumo protéico inadequado16. No estudo de Azevedo e Sampaio (2003)18 foi constatado, também, que a maioria das dietas das adolescentes teve consumo protéico adequado (1015% do VCT), todavia o valor médio consumido (75g/dia) encontrava-se acima do recomendado, assim como no estudo de Silva (2005)17, que teve 64% de sua amostra consumindo 78,5 ± 28g/dia. Em relação à ingestão de lipídios, Azevedo e Sampaio (2003)18 encontraram resultados diferentes, pois 66,7% da sua amostra apresentaram consumo excessivo de lipídios (acima de 30% do VCT). O intervalo percentilar de adequação atual proposto pelo IOM pode ser a justificativa para A avaliação das dietas das adolescentes gestantes, em relação aos micronutrientes realizada por Azevedo e Sampaio (2003)18 demonstrou inadequação (<70%) do cálcio, ferro, zinco, vitamina B1 e folato, enquanto que a vitamina C e a vitamina A atingiram 100% de adequação, sendo 53,3% e 58,2% das adolescentes, respectivamente. Nogueira et al. (2002)20 ao avaliar a composição e adequação da dieta das adolescentes gestantes, segundo a RDA (1989), encontrou resultados semelhantes, pois a ingestão média diária foi de 10,5 mg para ferro, 119,7 µg para folato e 9,8 mg para zinco, sendo o percentual de adequação da dieta 35%, 30% e 65%, respectivamente. a maioria das adolescentes estudadas terem tido No tocante às deficiências nutricionais, a inges- suas dietas adequadas. tão inadequada de ferro tem sido associada ao 30 ISSN21763771 aumento da morbidade e mortalidade das gestan- o desenvolvimento do feto humano. A suplementa- tes e do feto, podendo a carência deste nutriente ção de ferro em excesso inibe a absorção de cobre. durante a gravidez afetar o desenvolvimento físico e mental, diminuição da capacidade cognitiva, aprendizagem, concentração, memorização e alteração do estado emocional20,23,24. Além disso, muitas adolescentes antes de engravidarem são anêmicas por deficiência de ferro e suas dietas são pobres em cálcio e folato25. As concentrações de vitamina A encontradas em adolescentes grávidas são descritas por alguns autores como adequadas ou superiores à recomendação, porém Barón et al. (2003)27 achou em seu trabalho que os níveis séricos de retinol diminuíam conforme o tempo de gestação evoluía, enquanto o consumo alimentar de vitamina A au- Em relação ao folato, Nogueira et al. (2002)20 mentou, podendo esta relação ser explicada pela afirma que a deficiência desta vitamina durante transferência de grandes quantidades de retinol da a gestação é comum, pois a dieta habitual não é mãe para o feto. capaz de suprir a quantidade recomendada, ou seja, é necessária a suplementação de folato ou de alimentos fortificados. Durante a gravidez a deficiência de ácido fólico está associada a várias patologias, entre elas a anemia megaloblástica, e com diversas complicações, tais como aborto espontâneo, síndromes hipertensivas da gravidez, retardo do crescimento intra-uterino, hemorragia e fator de risco para o defeito do Concluindo, pode-se dizer que o consumo alimentar para a maioria das adolescentes estudadas mostrou-se insuficiente em calorias e fibras e adequado em proteínas, carboidratos e lipídios e inferior à recomendação para vitaminas e minerais. Quanto ao ferro e folato, nenhuma apresentou probabilidade de 85% de adequação no consumo, sendo um dado preocupante, pois a tubo neural26. carência nutricional destes nutrientes nessa fase A carência de zinco durante a gestação apresenta resultado obstétrico indesejável. A orientação e relação com aborto espontâneo, retardo do cres- o acompanhamento nutricional durante a assis- cimento intra-uterino, nascimento pré-termo, tência pré-natal são necessários para estimular pré-eclâmpsia, prejuízo na função dos linfócitos novos estilos de vida e incorporação de hábitos T, anormalidades congênitas, como retardo neural alimentares saudáveis, considerando os aspectos e prejuízo imunológico fetal . socioeconômicos, biológicos, psicológicos e cul- do ciclo biológico pode estar associada com o 24 Segundo Shabert (2005)25, as dietas das gestantes frequentemente contêm quantidades reduzidas de cobre, porém não foi determinado se a ingestão dietética moderadamente deficiente deste mineral afeta turais. Os profissionais envolvidos necessitam ter maior cuidado na abordagem deste grupo de risco nutricional e social, para que se possa auxiliar na prevenção de complicações na gravidez; 31 ISSN21763771 REFERÊNCIAS 1. Vitalle MSS, Amancio OMS. Gravidez na adolescência. 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A busca de alternativas filosófi- psicológicas, fisiológicas, culturais podem facili- cas, psicológicas, fisiológicos, culturais podem tar o enfrentamento. No luto antecipatório pode- facilitar o enfrentamento da mesma. É notória a mos distinguir três focos temporais em destaque: transferência da morte da casa do doente para o o passado, o presente e o futuro. Para o paciente hospital e esta transferência trouxe mudanças na em fase terminal, o sofrimento de perdas viven- relação de como a família e a equipe de saúde pas- ciadas no passado podem voltar a tona, e para o sa a enfrentar e assistir esta passagem da vida sob familiar, além de lidar com a conscientização da sua responsabilidade. perda no presente, irá ter de lidar com as perdas futuras diante da falta do ente querido em momentos que ficaram na memória para sempre. Foi um estudo de natureza qualitativa, captando assim, a subjetividade de cada participante. A coleta de dados foi realizada e um hospital dá rede pública estadual, localizado na cidade de Fortaleza. A amostra foi constituída por cinco participantes (03 homens e 02 mulheres) acompanhantes dos pacientes internados. A natureza do estudo é adquirir informações sobre como os mesmos lidam com o luto antecipatório e sua visão dentro da instituição hospitalar. Palavras chaves: Luto, Família, Perda. 34 No hospital, por ser local de vida e morte, os profissionais das diversas áreas de saúde deparam-se cotidianamente com as pessoas que estão morrendo. E nesta situação tem que se conduzir a dar comunicação de más notícias aos familiares quanto ao estado dos pacientes. Essa não é uma tarefa fácil e muitas vezes não há preparação para este procedimento. Embora a perda seja um processo natural, a dor e a tristeza tanto do paciente quanto do familiar acompanhante podem se estender por um tempo muito prolongado, desafiando os profissionais da área da saúde a encontrarem soluções para o seu enfrentamento. ISSN21763771 Com a morte e, consequentemente o luto, se faz tos, valores, princípios e crenças e deve se ter o necessário saber como abordar estes familiares. O cuidado para que isto não influa no tratamento do assistente social é um dos profissionais que está doente afim deste não sofrer outro choque num diretamente ligado à comunicação de más notí- momento tão crítico1. cias, tendo que vivenciar cada sofrimento ao ser dado a notícia de morte aos familiares. E, tanto o paciente como o familiar acompanhante que tem a oportunidade de falar sobre o assunto, diminui o impacto traumático causado pelo falecimento do ente querido e ajuda do enlutado a superar a perda. No luto antecipatório podemos distinguir três focos temporais em destaque: o passado, o presente e o futuro. Para o paciente em fase terminal, o sofrimento de perdas vivenciadas no passado podem voltar a tona, e para o familiar, além de lidar com a conscientização da perda no presente, irá O luto antecipatório pode ser entendido, analisado ter de lidar com as perdas futuras diante do ente e experimentado por quatro perspectivas distintas, querido em momentos que ficaram na memória sendo cada uma pertinente a cada pessoa que o para sempre. experimenta: 1 – Perspectiva do doente: sendo ele a pessoa central do drama, desempenha o MÉTODO papel do doente e do enlutado; 2 – Perspectiva O estudo é de natureza qualitativa, pois capta a dos familiares: refere-se à rede social com quem subjetividade de cada participante. Abordagem o doente tem afinidade; 3 – Perspectiva de outras qualitativa é dada a pesquisa que se vale do dis- pessoas: as pessoas que tem algum tipo de relação, curso, no qual a coleta de dados são coletados porém pouco interesse vínculo com a pessoa do- por meio de interações sociais e analisados com a ente; 4 – Perspectiva do cuidador: para este o luto visão do pesquisador2. pode variar consideravelmente de acordo com o nível e significado do relacionamento dele com o paciente. Analisando todo contexto, cada elemento que participa deste luto precisa ser ouvido e respeitado. Cada um destes possui pensamentos, sentimen- A coleta de dados foi realizada em um hospital geral público, da rede estadual, localizado na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. A pesquisa foi realizada na 2ª quinzena de junho do ano de 2009. Os participantes deste estudo foram selecionados 35 ISSN21763771 de forma aleatória. Vale salientar que os pesqui- cando extrair os temas relevantes expressos pelos sados foram escolhidos de acordo com a perma- entrevistados. Após este recorte e organização do nência no hospital do paciente, conforme ficou corpus da pesquisa, as falas foram agrupadas em comprovado através do prontuário do mesmo. categoriais temáticas a partir do referencial teóri- O número de participantes foi de cinco, sendo composto da seguinte forma: duas mulheres e três homens que acompanhavam o paciente no hospital. co e de leitura sucessiva do material que permitiu a compreensão de seus significados. RESULTADOS E DISCUSSÕES Para descrever as respostas das perguntas durante A coleta de dados foi feita por meio de grupo focal o grupo focal, as falas foram organizadas em três com familiares utilizando um roteiro de entrevista categorias, assim descritas: semi-estruturada. O segundo encontro foi para validar as falas decorridas do grupo focal. O grupo focal é uma técnica de pesquisa que utiliza as sessões grupais para a expressão de características psicossociológicas e culturais. Nas sessões grupais os participantes discorrem sobre aspectos Categoria 1: Reação familiar com a doença do ente querido Esta categoria mostra como cada familiar participante do grupo descrevem sua reação diante da doença do seu familiar, conforme relatos abaixo: e tópicos específicos direcionados pelo facilitador M.A.♀: “Eu, minha pessoa, estou reagindo muito do grupo3. mal a tudo. Estou muito triste. Não consigo acre- Segundo Hassen (2002), grupo focal corresponde a uma técnica de pesquisa, de abordagem rápida de modo que possa haver a obtenção de dados da natureza qualitativa a partir das sessões em grupo, composta por cinco a vinte pessoas com objetivo comum, sendo fundamental para o sucesso da técnica a escolha de um ambiente acolhedor, para que sejam colocados assuntos em discussões e os ditar em tudo que estou vivendo. Parece que estou num sonho muito, muito ruim”. J.M.♂: Triste. M.C.♀: “Quando soubemos da notícia ficamos muito tristes. Eu pensei: “Meu Deus, será verdade? Está acontecendo com a nossa família? Nosso Pai?”. participantes interajam entre si4. Em qualquer etapa da nossa vida estamos sujeitos Inicialmente foi feita a transcrição das fitas em compartilhamos de sua presença física, com sua cada sessão de grupo, e em mãos destas transcrições, seguiu-se leitura exaustiva do material, organizando os relatos em determinada ordem, bus36 a conviver com pessoas ao nosso redor, assim história e suas relações com o mundo. Partindo da idéia que todo ser humano tem a necessidade de estabelecer a manutenção de vínculos na vida, ISSN21763771 surge o comportamento do apego que, segundo Indagados quanto ao que mudou na vida a partir Bowbly (1982), é concebido como qualquer for- da doença do seu ente internado, os familiares ma de comportamento que resulta em que uma relataram experiências pessoais. pessoa alcance ou mantenha proximidade com algum outro indivíduo diferenciado e preferido, o que usualmente é considerado mais forte ou mais sábio. Esta definição procura explicar porque cada perda que sofremos tem um nível de dor e de sofrimento relativo. O luto surge como uma perda, por separação ou afastamento físico do objeto amado que comumente lava à renúncia do objeto, M.C.♀: “Abandonei minha casa (ela mora no interior) para dar mais atenção, para passar mais tempo com ele; quanto mais tempo melhor. Aí, eu venho, converso muito com ele relembro coisas de quando a gente era criança. Meu pai muito bom, maravilhoso. E eu quero fazer dele um exemplo para meus filhos. Lembrar para eles a pessoa ma- gerando dor emocional. (5) ravilhosa que ele é. O que mudou na minha vida O luto é a consequência de uma perda, esperada estar com ele; cuidar dele”. foi que eu agora tenho tempo. Encontrei tempo de ou não. Afinal, perdas são sempre perdas, e lidar com elas, especialmente numa cultura que nega a J.A♂: “Minha vontade é chegar aqui e ver meu morte e abomina as perdas, se torna, muitas ve- pai, ficar ligado só nele. Moro em outro estado zes, bastante difícil. O luto se faz frequentemente e vim. Deixei família, emprego. Eu estou muito maior do que poderia ser, e as pessoas encontram feliz por estar com ele. Ajudá-lo nesta fase. Não enormes dificuldades em lidar com este estado me arrependo por ter feito isso. Vou ficar com ele temporário, que para muitos parece definitivo. até o fim”. O significado da perda é mais intenso quanto J.M.♂: “Nós nos tornamos mais solidários. Aca- maior for o apego do indivíduo a pessoa amada, bou acontecendo mais união com nossos irmãos. mais intensa e mais variada será as reações nas Houve perdão! Nossa família passou por muitas situações que põem em perigo o laço afetivo que é coisas. Meus tios, irmãos do meu pai, também se mantido pelo apego. aproximaram. Esta minha tia que acompanha meu Nestes casos específicos, onde há parentes com doenças graves e quando estão internadas em UTI’s há um temor de perder a pessoa amada que leva a variadas reações, podendo desencadear o luto antecipatório. pai, não falava com ele. E hoje está aqui, cuidando dele. E o que mudou em mim, foi saber que aquela pessoa que você ama tanto pode te deixar de uma hora para outra. Talvez isso vai me fazer bem mais tarde, mas por enquanto eu tenho que suportar a dor e a tristeza para confortar ele e permanecer o Categoria 2: Mudanças ocorridas na vida do fami- maior tempo ao seu lado. Já o perdoei por muitas liar após a doença do ente querido coisas. Ele é meu pai e ele só queria o nosso bem. 37 ISSN21763771 São vários os estágios pelos quais passa o doente, Eu sonho com o futuro feliz. Que tudo isso passe, desde o diagnóstico até a morte. Durante o essa dor, essas lágrimas, o sofrimento dela (choro)”. período anterior à morte, as relações entre familiar acompanhante e o paciente que vai morrer podem ir de íntima e afetuosa a distante e hostil. O padrão assumido pela reação nesse período reflete tanto o padrão de relacionamento que existia antes devido à internação entre o familiar e o paciente sem possibilidade de cura, como o grau de elaboração da família em relação a perda deste. Assim pode ser extremamente aflitivo, para ambos, quando ocorre uma briga, ou são ditas antes da morte do paciente Bowbly (1984). Para este autor, o familiar acompanhante e o paciente que têm conhecimento prévio da possibilidade da morte, podem compartilhar seus sentimentos e reflexões, e despedirem-se como preferirem. Essa despedida pode ser influenciada por fatores contextuais que podem, tanto facilitá-la como dificultá-la . 6 Categoria 3: Expectativas quanto ao futuro do familiar doente M.C.♀: “O que eu quero é que ele fique bom (choro) e volte à rotina, tenha mais tempo com a gente, com os netos, com toda a família. Volte a fazer o que ele gosta. Cuidar da casa dele. O que eu quero do futuro é saúde”. J.A.♂: “Meu pai é um homem bom, alegre, divertido. A vizinhança toda está sentindo muito a falta dele. A gente não quer que nada aconteça, mas se é pra deixar meu pai no sofrimento, que Deus tire logo! Não quero que vê-lo sofrer! A gente não pode ser egoísta, porque eu acho que isso é egoísmo. Nosso fim vai chegar um dia também. Eu prefiro que ele se vá, sem sofrer, sem dor. Eu amo meu pai, mas eu não quero vê-lo sofrer! É muito triste. Acho que ninguém quer isso pro seu pai, sabendo que ele sempre foi um homem correto, justo. Um homem que sempre viveu para casa, pro filhos. Meu pai nunca deixou faltar nada na nossa casa, pra gente. Ganhava pouco, mas era todo pra dentro Quando questionados sobre o futuro em relação ao de casa. Mãe não sabe da gravidade da doença dele, doente na família, os acompanhantes descreveram e a gente ainda não teve coragem de falar pra ela! como esperam que tudo se resolva. Eu acho que a gente deveria ir preparando porque M.A.♀: “O que penso do futor é que a nossa rotina volte normalmente. Que ela não pare. A gente pensa e quer que volte tudo do jeito que era. Eu tenho eu sei que ele não vai ficar aqui por muito tempo apesar do meu desejo ser outro. Prefiro que Deus tire ele logo! Pra ele não sofrer! muita fé nos médicos. Mas tenho muito mais em O tratamento de um paciente com câncer é para Deus. E primeiro lugar Deus, depois os médicos. a família um momento de grande esperança e Gostaria muito que Deus desse mais 10 anos a ela, otimismo, quando todos procuram reunir forças para que eu possa ter mais tempo com ela. Minha para superar esta etapa tão difícil. Ele é permeado, mãe é tão boa, tão nova, tem tanto ainda pela frente. entretanto, também por ocasiões de maior deses- 38 ISSN21763771 truturação e ameaça de morte. Em remissões pro- vivenciam diversos temores e o principal deles é o longadas, a família se tranqüiliza por pensar logo medo da morte. O grande problema não é aquele que está completamente curado ou bem próximo que morre, mas, o sentimento de desesperança, de desse estado. Quando há recorrências, a família desamparo e de isolamento que o acompanha. tende a apresentar as mesmas reações da época do diagnóstico. A reincidência do câncer produz sentimentos como insegurança, desapontamento, ansiedade, revolta, desespero e confusão. Além disso, uma comunicação franca e aberta da equipe de saúde é muito importante para a família, que também está fragilizada, necessitando de apoio e auxilia no estabelecimento do vínculo e Lidar com a morte do outro nos faz refletir sobre a nossa morte. Percebemos o quanto isolamos a idéia da finitude e o quanto estamos despreparados para enfrentar a perda, mesmo sabendo que a morte é uma das poucas certezas que temos na vida. Somos frágeis diante da morte, mas, como não podemos evitá-la, devemos, pelo menos, lutar para que nossos pacientes experimentem o pro- na confiança dos familiares na equipe que trata cesso do morrer de maneira mais digna. seu familiar. A verdade deve sempre aparecer, e O dilema ético de como cuidar de quem se en- as dúvidas esclarecidas com uma linguagem que contra na iminência da morte exige muito mais seja acessível à família, a fim de que possa propor- do que conhecimentos acerca da doença ou mes- cionar uma melhor compreensão e assimilação do mo das características de um paciente terminal. conteúdo transmitido. O agir ético nesse tipo de situação envolve uma CONSIDERAÇÕES FINAIS O familiar acompanhante que está com seu ente no hospital com diagnóstico de câncer precisa entrar em contato com seus sentimentos que muitas vezes parecem contraditórios, principalmente em relação a este familiar. Reconhecer e aceitar esses sentimentos nem sempre é fácil. E a família en- espécie de consciência que só pode ser desenvolvida quando sentimos a essência, a individualidade do paciente. Como na ética, para cuidar, não exigem regras, apenas orientações que nem sempre podem ser generalizadas. É de grande importância que as famílias possam ser ajudadas, por meio dos rituais que favorecem frenta estágios semelhantes ao paciente. a elaboração do luto, a fazer o reconhecimento Percebemos, no estudo do grupo, que o diagnósti- a perda. Não existe uma forma única de como co de câncer ainda é interpretado como uma sen- proceder nos últimos momentos de vida de um pa- tença de morte. Neste estudo, observamos que o ciente. Apesar de todo sofrimento vividos, pelos familiar acompanhante, sendo filhos e filhas, pre- filhos, como vimos no grupo, o que eles realmente ferem negar a doença, enquanto outros enfrentam desejam de toda equipe de saúde, é uma informa- momento de revolta e depressão. A cada dia eles ção completa e honesta. comum da realidade da morte a fim de normalizar 39 ISSN21763771 Aprendemos nesta experiência, como assistente cos e sociais. A participação do assistente social é social de um hospital e ser humano, que vivenciar de grande importância dentro da equipe de saúde o luto não é algo a ser rejeitado. O luto é essencial para trabalhar estas questões. à nossa saúde emocional. É no período de luto, bem elaborado, que conseguimos superar muitos ABSTRACT problemas que nos fazem, com frequência, sofrer One of the biggest challenges of being human mais do que seria adequado. O luto antecipatório is to face the reality of death, define it and live oferece a oportunidade de vivenciar a despedida with their existence. The search for alternatives e reorganização psicossocial necessária antes da philosophical, psychological, physiological, cul- morte, abrindo espaço para refletir sobre a vida e a tural, can facilitate coping. In anticipatory grief morte e viver os desejos que ainda são possíveis. can distinguish three areas highlighted in time: A dor de uma perda, pode parecer-nos interminável, e, quanto maior é a perda, maior são os sentimentos de revolta, sofrimento e dor; e a morte nos rouba pais, cônjuges e filhos. A morte é inexorável. Da morte ninguém escapa. Mas, talvez, o que muitos não saibam é que a dor da perda também tem seu fim. Não importa quão grande é essa dor, também um dia será “perdida”! E para nos livrarmos de um sofrimento e de uma dor, necessitamos tempo. Se tivermos a oportunidade de trabalhar a perda que nos faz sofrer, com certeza iremos reduzir o tempo e, o que é mais importante, aprendemos a usar essa perda para conquistar uma qualidade past, present and future. For the terminally ill, suffering from losses experienced in the past may re-surfaced, and the family, and dealing with loss of awareness of this, you will have to deal with future losses at the lack of loved one moments that remain in memory forever. It was a qualitative study, thus capturing the subjectivity of each participant. Data collection was performed and a hospital public school, located in the city of Fortaleza. The sample consisted of five participants (03 men and 02 women) accompanying the hospitalized patients. The nature of the study is to acquire information about how they deal with anticipatory grief and its vision within the hospital. Key words: Bereavement, Family, Loss. melhor de vida. Percebemos o quanto foi rica nossa experiência e o quanto foi bom para toda a família acompanhan- REFERÊNCIAS 1. Fonseca JP. Luto antecipatório. Campinas: Ed. te que participou desde momento. Percebemos Livro Pleno, 2004. ainda a importância do trabalho interdisciplinar, 2. 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Characteristics of cases of sexual abuse in women answered in emergency obstetrical. 1 Cacilda Maria Ferreira do Carmo1 Ana Maria de Sousa Ribeiro2 Especialista, Coordenadora de Enfermagem da Unidade de Alojamento Conjunto do Hospital Geral César Cals 2 Mestre, Coordenadora de Enfermagem da Unidade Ambulatorial do Hospital Geral César Cals RESUMO A violência contra a mulher é um fenômeno uni- te fora do ambiente domiciliar (60,4%). Diante versal que atinge, indiscriminadamente, todas as disso, propõe-se que seja instituída uma rotina de classes sociais, etnias, religiões e culturas. Se to- qualidade para os registros dos casos futuros nesta dos os profissionais de saúde, as vítimas, a socie- instituição, havendo como avaliar a incidência de dade em geral, resolvessem não silenciar os casos novos casos, o que poderá contribuir com maior de abuso sexual, bem como procedessem a notifi- propriedade para instituição de medidas para coi- cação sistemática às autoridades, o problema seria bição da violência sexual contra mulheres. mais valorizado pelo poder público. O estudo teve por objetivo caracterizar os casos de abuso sexual em mulheres atendidas em emergência obstétrica. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa. A pesquisa foi conduzida em um Palavras Chaves: abuso sexual, adolescentes, emergência obstétrica, mulheres INTRODUÇÃO hospital da rede pública municipal, de atenção A violência contra a mulher é um fenômeno uni- secundária em Fortaleza-Ce, através da aplicação versal que atinge, indiscriminadamente, todas as de um formulário sobre a amostra de 48 fichas, se- classes sociais, etnias, religiões e culturas. lecionadas do universo de mulheres atendidas na emergência obstétrica vítima de abuso sexual, documentadas no período de 2006 a 2009. De acordo com os resultados da investigação, caracterizados com base na antiga lei de crimes por abuso sexual (Código Penal, 1940), verificou-se que a faixa etária mais atingida foi de 11-18 anos (47,9%). O estupro (66,7%) foi o crime predominante seguido de atentado violento ao pudor. Como agressor, prevaleceu pessoa desconhecida das vítimas (50.0%). O abuso sexual ocorreu principalmen42 Estima-se que a violência através do sexo atinja 12 milhões de pessoas a cada ano no mundo. As mulheres que sofrem violência física perpetrada pelos parceiros íntimos estão sob o risco da violência sexual. Pesquisas apontam que, mulheres que sofrem violência por parte de seu parceiro, normalmente são acompanhadas por outro tipo de abuso. No Japão, entre 613 mulheres que sofreram algum abuso, 57% sofreram de todos os tipos de abuso, inclusive o sexual1. ISSN21763771 Calcula-se que nos Estados Unidos da América anticoncepção de emergência, profilaxia das DST/ do Norte, ocorre uma violação sexual a cada 6 HIV, tratamento e reabilitação dos danos causa- minutos e que cerca de 30% das mulheres têm dos, incluindo a garantia da interrupção legal da experimentado algum tipo de contato sexual não gravidez. consentido durante a infância e adolescência2. O fenômeno da violência sexual também envolve O Brasil ocupa o quarto lugar no âmbito de vio- questões que ultrapassam a esfera da saúde bioló- lência na América Latina, depois da Colômbia, El gica, física e psicológica. Atinge questões sociais, Salvador e Venezuela. A violência e os acidentes éticas e jurídicas. Recentemente, o poder público que afetam a saúde dos brasileiros são responsá- compreendeu que para combater os altos índices veis pela segunda causa de mortalidade geral e é de violência sexual precisaria mudança de leis a primeira causa nas amplas faixas etárias de 5 que tratem o problema com maior rigor. Para isso a 49 anos. Nos casos que exigem internação, a procedeu a alterações no Código Penal Brasilei- violência e os acidentes estão no sexto lugar de ro5, com a criação da Lei 12.015, sancionada em importância, sendo que a violência, pelo número 7 de agosto de 2009, caracterizando como estupro de vítimas e pela magnitude de sequelas orgânicas situações antes não consideradas, adotando crité- e emocionais que produz, adquiriu um caráter en- rios de inclusão e alterando definições dos artigos dêmico na região das Américas e se converteu em 213 e 214, tornando as punições mais rígidas um problema de saúde pública3. para o agressor. Vale ressaltar que, na revisão da Dados do núcleo de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes indicam que o número de denúncias cresceu cerca de 60% de 2007 a 2008, no Ceará4. A violência sexual vem sendo crescentemente uma demanda no serviço de saúde. Tal realidade tem exigido políticas públicas atuais que incorporem protocolos de acolhimento e atenção multidisciplinar que normatizem condutas para a literatura para consecução desse estudo, não foi encontrado nenhum trabalho sobre o tema abuso sexual em mulheres, sob a vigência da nova lei. A importância da atuação multidisciplinar na assistência à violência sexual, nas suas diversas formas, tem se tornado um foco crescente nos cuidados de enfermagem. A violência urbana tem acometido mulheres e principalmente as adolescentes, caracterizando uma intervenção no âmbito da saúde pública nas emergências obstétricas, onde o enfer43 ISSN21763771 meiro encontra nos programas de atenção de saúde Foram considerados como critérios de inclusão fichas reprodutiva uma condição propícia para exercer um de notificação do Sistema de Informação de Agravos papel social, legal e terapêutico de referência nas de Notificação – SINAN, das mulheres atendidas situações de abuso sexual vividas pelas mulheres. em emergência obstétrica, vítimas de abusos sexu- O desenvolvimento de pesquisa referente aos vários aspectos que podem estar envolvidos na violência por abuso sexual representa medida importante para que o tema seja, efetivamente, abordado como problema de saúde pública relevante. Além disso, constitui-se ferramenta importante para identificação das situações suspeitas ou confirmadas, afim de que sejam planejadas intervenções apropriadas no campo da assistência, contribuindo para agregar mais conhecimentos e subsidiar as políticas públicas. Nesse contexto, com intuito de agregar conhecimentos e contribuir com dados epidemiológicos acerca da temática, o presente estudo teve como objetivo caracterizar o abuso sexual em mulheres atendidas em emergência obstétrica de um hospital municipal em Fortaleza, referência em atendimento à violência doméstica e sexual. MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa, com dados coletados de 48 fichas de mulheres sexualmente abusadas, atendidas no período de agosto de 2006 a setembro de 2009, em um serviço de referência à mulher em situação de violência sexual e doméstica de um Hospital Distrital de atenção secundária da rede municipal, integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS), na cidade de Fortaleza-CE. 44 ais. Consideraram-se como agregados a categoria abuso sexual: estupros; assédios sexuais; atentados violento ao pudor com penetração vaginal; oral; anal e exploração sexual, independente da idade, ou de ter sofrido outras violências concomitantes. Para a caracterização dessas ocorrências foram adotadas as definições dos artigos 213, 214 da lei antiga do Código Penal Brasileiro. Foram excluídas da amostra, fichas com notificação de outros tipos de violência que não seja sexual, de vítimas de abuso sexual do sexo masculino e dos casos duvidosos. As variáveis de estudo foram analisadas considerando-se as categorias de inclusão como se seguem: idade; local de ocorrência; tipos de violência sexual (estupro, atentado violento ao pudor, outros tipos de atentado violento ao pudor, como assédio, exploração); tipos de exposições: penetrações vaginais; orais e anais; tipificação do agressor (amigo/identificado, pai, padrasto, tio, cônjuge, namorado, ex-namorado, cunhado, pessoa com relação institucional). Para a coleta dos dados, foi solicitada a autorização através do termo Fiel Depositário. Foram utilizadas as informações registradas em fichas de notificação pela equipe de profissionais do serviço de emergência. Foram ainda resgatadas informações documentadas em relatórios da equipe interdisciplinar. Elaborou-se um instrumento baseado na ficha de notificação/investigação individual – violência doméstica, sexual e /ou outras violências - SINAN. ISSN21763771 Para formação do banco de dados foi utilizado O Gráfico 1 apresenta os tipos de exposições de o programa estatístico SPSS, versão 16.0, sendo abuso sexual, onde se verifica que o tipo de expo- estes organizados em tabelas de frequências e cru- sição de maior frequência predominou com 60,4% zamentos com a faixa etária. para a penetração vaginal. RESULTADOS Gráfico 1 - Características dos tipos de exposições de abuso sexual. Fortaleza Ceará, agosto/2006 – setembro/2009. A Tabela 1 representa a variável idade das mulheres vítimas de abuso sexual, onde se observa que a maior frequência das ocorrências está na faixa etária entre 11- 18 anos, com 23 casos (47,9%). Tabela 1 - Violência sexual segundo a faixa etária. Fortaleza - Ceará, agosto / 2006 - setembro / 2009. Variável Faixa Etária (1) 11|- 18 18|- 25 25|- 32 32|- 39 39|- 46 46|- 53 >= 53 Total N % 23 8 11 3 1 1 1 48 47,9% 16,7% 22,9% 6,3% 2,1% 2,1% 2,1% 100,0% Fonte: Núcleo de Epidemiologia do Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana. (1) Faixa Etária em ano Fonte: Núcleo de Epidemiologia do Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana. A Tabela 3 mostra que, no geral, o maior número de casos de violência sexual ocorreu fora da residência, em locais diversos, com 29 ocorrências (60,4%). A distribuição dos tipos de abuso sexual registrado na tabela 2 mostra a predominância de estupro, com 38 casos (78,3%), de forma isolada e/ou as- Tabela 3. Número de vítimas de abuso sexual segundo o local da ocorrência. Fortaleza Ceará, agosto/2006 – Setembro/2009. sociada a outros tipos de crimes sexuais. Local Ocorrência N % Tabela 2 - Caracterização segundo os tipos de abuso sexual. Fortaleza Ceará, agosto/2006 – Setembro/2009. Outros locais/via pública 29 60,4 Residência 15 31,3 Campo não preenchido 4 8,3 Total 48 100,0 Tipos de Abuso Sexual N % Estupro 32 66,7 Estupro/Atentado Violento ao Pudor 11 22,9 Campo não preenchido 5 10,4 Total 48 100,0 Fonte: Núcleo de Epidemiologia do Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana. (1) Outros tipos de violência (física, psicológica) Fonte: Núcleo de Epidemiologia do Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana. Os agressores do abuso sexual foram notificados como desconhecidos das vítimas em 24 casos (50%), conforme representado na Tabela 4. 45 ISSN21763771 A somatória dos agressores membros do núcleo vítima, seja pela força física ou pelo terror, com ou familiares ou com algum vínculo totalizou 11 ca- sem arma, que sofre danos graves, associados ou sos ( 22,9%). não, como o estupro, atos libidinosos, ferimentos, Tabela 4. Tipificação do agressor identificado. Fortaleza Ceará, agosto/2006 – Setembro/2009. roubo, trauma psicológico, gravidez ou morte6. O atentado violento ao pudor é caracterizado por submeter pessoas de ambos os sexos, mediante os Agressor N % Desconhecido 24 50,0 Núcleo familiar/algum vínculo 11 22,9 Amigo/identificado 7 14,6 Neste estudo os sujeitos que sofreram abuso sexual Campo não preenchido 6 12,5 foram: crianças, adolescentes, mulheres adultas e Total 48 100 idosas. Não obstante, terem sido atingidas pessoas Fonte: Núcleo de Epidemiologia do Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana. DISCUSSÃO As lacunas existentes nas fichas de notificação de atendimento, a respeito de dados específicos dos casos de abuso sexual, constituiram-se como limitação do estudo. Por essa razão, mesmos mecanismos de intimidação, a quaisquer atos sexuais diferentes da penetração vaginal7. de todos os ciclos vitais, vale salientar que a maior vulnerabilidade recaiu para criança e adolescente nos achados de 23 casos (47,9%) de abuso sexual na faixa etária de 11 - 18 anos. Pesquisa7 investigando ocorrência desse tipo de agravo na faixa de 12 - 14 anos foram encontrados 17,3% de casos e 16,8%.na faixa de 14 - 16 anos. utilizou-se relatórios de atendimento da equipe Dados extraídos entre janeiro de 1996 e março interdisciplinar, ora para complementar os dados de 2002 de estudo com 87 adolescentes do sexo ora para confrontá-los. Assim o estudo propôs feminino abusadas sexualmente, matriculadas no investigar, através de dados secundários, as centro de referência da criança e do adolescente, ocorrências de abuso sexual em mulheres atendidas órgão vinculado à Ordem dos Advogados do Bra- em emergência obstétrica, no período de 2006 a sil de São Paulo, apontaram maior frequência de 2009, com base na caracterização das tipologias da antiga Lei do Código Penal Brasileiro de 1940 que tratava dos crimes de abusos sexuais6. No Brasil, foi sancionada em 7 de agosto de 2009 pelo Presidente da República a nova Lei 12.015, que trata dos Crimes Contra a Dignidade Sexual, alterando o Código Penal Brasileiro (no seu Título VI)5. O abuso sexual é caracterizado pela submissão da 46 casos de estupro, isolado ou associado a outro tipo de abuso sexual (63,1%), e frequência (36,9%) de atentado violento ao pudor2. Nesta pesquisa o tipo de abuso sexual encontrado com maior frequência foi o estupro isoladamente, em 32 casos (66,7%), e associado ao atentado violento ao pudor 43 casos (89,5%). Estes dados evidenciaram aumento significativo em comparação aos percentuais descritos acima, respectivamente isolado e associado. ISSN21763771 A caracterização dessas ocorrências, adotadas diferentes formas de violência contra a criança e com base nas definições dos artigos 213 e 214 da adolescente, entre estas o abuso sexual, elevando Lei antiga do Código Penal (1940), que tratava os a frequência com o aumento da idade e caracteri- crimes de estupro e atentado violento ao pudor, zando um acontecimento do contexto familiar e de eram considerados dois crimes autônomos com difícil identificação. penas somadas. Desse modo, quem, por exemplo, Nesta pesquisa merece destaque o fato de 50% praticava de forma forçada, sexo vaginal, que era estupro, depois oral, que era atentado violento ao pudor, podia receber a pena de seis anos para cada delito. Agora com a nova Lei, ambos os casos são, igualmente, considerados estupros . 8 A variável penetração vaginal constituiu-se nesta investigação importante para caracterização do tipo de crime sexual, uma vez que foi observado, de forma isolada, que o tipo de abuso sexual com penetração vaginal ocorreu no geral em mais da metade das mulheres (60,4%), destacando a faixa etária mais atingida de 11- 18 anos. Estudo semelhante2 mostrou que este tipo de crime tem dos agressores serem desconhecidos das vítimas. Estes dados são divergentes com os da literatura, uma vez que estudos têm demonstrado que na maior parte dos casos os agressores pertencem ao núcleo familiar, ou mantêm com as vítimas laços de parentesco, o que pode significar que a violência sexual à mulher e mais precisamente contra as adolescentes, está ultrapassando a esfera privada, como nos casos da violência doméstica e intrafamiliar, e ganhando espaço na violência urbana, situação que pode aumentar as notificações de casos de abusos sexuais, já que os agressores, não sendo familiares, as vítimas não temem identificá- se perpetuado contra adolescente em 63,1%, ha- los e denunciá-los. vendo o abuso sexual com conjunção carnal e com Em estudo realizado em prontuários de 87 adoles- o constrangimento da mulher ao coito vaginal, o centes, os autores verificaram que a somatória dos que caracterizava o estupro na antiga lei. membros do núcleo familiar ou parente das ado- Quanto aos locais das ocorrências registradas, a maioria se deu em ambiente externo, com 29 (60,4%) casos fora do âmbito da residência, diferentemente do que acontece naqueles referidos como violência doméstica. Desse modo, os ocorridos na moradia foram inferiores àqueles abordados fora do âmbito privado, divergindo das evidências de outro estudo9 realizado em Feira de Santana, usando registros de dois Conselhos Tu- lescentes foi de 72,4%, em 4,6% o agressor não foi identificado pela vítima ou seu representante2. Ressaltam que o crime por abuso sexual não pode ser devidamente compreendido se desconectado da questão do agressor, acrescentando que investigações mostram o abusador como sendo conhecido e próximo da vítima em aproximadamente 50 % a 70% dos casos, percentuais que poderá elevar-se caso a vítima seja criança ou adolescente. telares (2003/2004) apontaram o domicílio como A violência sexual vem sendo crescentemente local privilegiado (78%) para a ocorrência das remetida à área da saúde, e as políticas públicas 47 ISSN21763771 atuais incorporam protocolos de atenção imedia- que somente a Lei não basta, é preciso ver na prá- ta com vistas a prevenir as consequências para a tica como serão punidos os infratores. saúde das mulheres10. No entanto, não se observa relações colaborativas entre setores da saúde e do direito. Os profissionais de saúde, em geral, temem por se envolverem com questões legais, ou policiais e se restringem em comunicar as ocorrências do que tem conhecimento. Pouco percebem eles da importância de seu papel na promoção da justiça, oferecendo escassa atenção aos dispositivos previstos na Lei. Além disso, quando solicitados Tendo em vista as lacunas existentes de registros incompletos neste estudo, propõe-se que seja implantada na instituição uma rotina de qualidade para os registros futuros e sejam desenvolvidas pesquisas de forma prospectiva para um maior aproveitamento com registros de qualidade. Abstract a prestarem informações para a justiça, por meio Violence against women is a universal phenome- de relatório, o fazem de forma inconsistente ou non that affects indiscriminately all social classes, evasiva. Por outro lado, os operadores do direi- ethnicities, religions and cultures. If all health to, por sua vez, pouco conhecem sobre os dados professionals, victims, society as a whole, they epidemiológicos obtidos nos serviços de saúde, decided not to silence the sexual abuse and syste- que constituem informações fundamentais para matic notify the authorities, the problem would be se compreender os reais mecanismos da violência most appreciated by the public. The study aimed sexual2. to characterize the cases of sexual abuse in wo- A atenção à violência contra a mulher é condição que requer abordagem intersetorial e interdisciplinar, com importante interface com questões policiais e judiciais. Algumas informações são críticas para profissionais de saúde que atendem pessoas em situação de violência sexual1. Do exposto, é possível avaliar a gravidade deste fenômeno, bem como a relevância das políticas públicas que têm sido adotadas no intuito de proteger e de restabelecer a saúde das mulheres que sofreram violência sexual. men seen in emergency obstetric care. This is a descriptive quantitative approach. The research was conducted in a public hospital municipal, secondary care in Fortaleza, through the application of a form on a sample of 48 chips, selected from the universe of women seen in emergency obstetric victim of sexual abuse, documented in the 2006 to 2009. According to research results, characterized based on old law of crimes of sexual abuse (Penal Code, 1940), it was found that the most affected age group was 11-18 years (47.9%). Rape (66.7%) was the predominant crime followed by indecent assault. How aggressor prevailed Apesar das alterações da Lei 12.015, ora em vigor unknown person of victims (50.0%). The sexual constituir-se um grande avanço, para o mal tão abuse occurred mainly outside the home (60.4%). nefasto à sociedade como é o estupro, entende-se Given this, it is proposed to be established as a 48 ISSN21763771 routine for the records of future cases in this ins- 6. Vadem Mecum. 8ª ed. (atualizada) São Paulo: titution, there is way to evaluate the incidence of 2009. new cases, which may contribute to more accurate to impose measures to restrain from sexual violence against women. Keywords: sexual abuse, adolescents, emergency obstetric care, women. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de ações programáticas estratégicas. Área técnica de saúde da mulher. Prevenção Tratamento dos Agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes. Norma técnica. 2ª ed. Atual e ampliada Brasília: Ministério da Saúde. 2005. 2. Drezett J, Junqueira L, Antônio IP, Campos FS, Leal MCP, Iannetta R et.al Contribuição ao estudo do abuso sexual contra adolescente: uma perspectiva de saúde sexual e reprodutiva e de violação de direitos humanos. Adolescência & Saúde 2004. 3. Minayo MCS. Violência e Saúde. Rio de janeiro: Friocruz; 2006. 7. Associação Brasileira de Enfermagem. Adolescer: compreender. Atuar, acolher: projeto acolher. In: Pereira SM, Ferriani MGC, Hirata MC. Violência sexual.. Brasília: ABEN; 2001. p. 104-11. 8. Imantob FT. Revista consultor jurídico. 17/08/2009. Disponível: http://www.conjur.com. br/2009-agos-17/lei-crimessexuais-provocaretrocesso-penal-diversos-artigos Acessado: 29 de dezembro de 2009. 9. Costa MCO, Carvalho RC, Bárbara JFRS, Santos CAST, Gomes WA, Sousa HL et. al. O perfil da violência contra criança e adolescentes, segundo registros de conselho tutelares: vítimas, agressores e manifestáveis de violência. Ciência & Saúde Coletiva, 12(5): 1129-1141. 2007. 10. Higa R, Mondaca ADCA, Reis MJ, Lopes MHBM et al. Atendimento à mulher vítima de violência sexual: Protocolo de Assistência de Enfermagem. Rev. Esc. Enferm. USP. 2008:42 (2): 377 – 82. Disponível: www.ee.usp.br/reeusp. Acessado: 09 de dezembro de 2009. 4. O Povo, Jornal. Reviravolta no caso de criança vítima de abuso sexual. Disponível: <http://www. opovo.com.Br>. Acessado: 19 de março de 2009. 5. Diário do Nordeste, Jornal. Nova lei contra estupro e pedofilia se torna mais severa. Disponível: <http://www.correioforense.com.br/noticia/idnoticia/47673/titulo/Nova_lei_contra_estupro_e_ pedofilia_se_torna_mais_severa.html>Acessado: 1 de janeiro de 2010. Endereço para Contato: Cacilda Maria Ferreira do Carmo Coordenadora de Enfermagem da Unidade de Alojamento Conjunto blocos 200/ 400 do HGCC Endereço – Rua Oscar Bezerra Araújo, 247, apartamento 101 bloco F – Damas E-mail: [email protected] Fone: (85) 3101.5417 49 ISSN21763771 Artigo de revisão Desmame da ventilação mecânica: uma revisão de literatura. Weaning from respiration artificial: a review of literature. Fabíola Maria Sabino Meireles1 Márcia Cardinalle Correia Viana2 Aluna do 9º semestre do curso de Fisioterapia da Faculdade Christus Fisioterapeuta da Unidade de Terapia Intensiva Adulto do Hospital Geral César Cals 1 2 RESUMO INTRODUÇÃO A Ventilação Mecânica é um método de suporte A Ventilação Mecânica (VM) é um método de terapêutico usado no tratamento do paciente suporte terapêutico invasivo que muitas vezes é internado na Unidade de Terapia Intensiva, prin- utilizado durante o internamento do paciente na cipalmente naqueles que apresentam quadro clí- Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Não neces- nico crítico e acometidos por uma Insuficiência sariamente todo paciente que esteja numa UTI Respiratória Aguda. Sua utilização pode provocar necessite desse suporte, mas grande parte desses, algumas repercussões, tais como: lesão traqueal, principalmente aqueles com quadro clínico crítico barotrauma, diminuição do débito cardíaco e to- e acometidos por uma Insuficiência Respiratória xicidade pelo uso do oxigênio. Portanto, diante Aguda (IRA) ou Insuficiência Respiratória Crôni- dessas alterações, necessita-se que o desmame ca (IRC)1. seja instituído o mais precoce possível. Sendo assim, realizou-se uma revisão bibliográfica objetivando reunir informações atuais e relevantes sobre o processo de desmame da ventilação mecânica, através de pesquisas em livros clássicos e artigos científicos, publicados nos últimos cinco anos. Constatou-se que a ventilação mecânica é um método de suporte ao paciente internado numa unidade de terapia intensiva, necessitando que, os profissionais dessa unidade trabalhem de maneira integrada para evitar o insucesso do desmame, já que o seu sucesso permite ao paciente o retorno à ventilação fisiológica. Palavras-chaves: Ventilação mecânica. Desmame do respirador. Força muscular respiratória. Por ser um recurso bastante eficaz, proporciona não só um repouso na musculatura respiratória, mas também uma melhora na ventilação/perfusão (V/Q). Entretanto, existe a possibilidade de causar algumas repercussões, tais como: lesão traqueal, barotrauma e/ou volutrauma, diminuição do débito cardíaco e toxicidade pelo uso do oxigênio. Em virtude disso, faz-se necessário o desmame da VM o mais precoce possível2, 3. O processo de desmame se dá pela transição da ventilação artificial para a ventilação espontânea do paciente, considerando que essa invasão mecânica ocorra em um tempo superior à 24hs4, 3. Tendo em vista as repercussões causadas pela permanência do paciente na VM, o desmame deve 50 ISSN21763771 ser priorizado no intuito de reduzir os riscos de cem em VM prolongada dificultando o desmame morbimortalidade. Diante desses fatos é impor- da prótese ventilatória entendido como desmame tante que se desenvolva nas UTI’s, protocolos de difícil (DD), o qual acontece quando os pacientes avaliação diária, nos quais a evolução do paciente não toleram várias tentativas de redução do supor- seja da melhor forma possível, se­lecionando-se te ventilatório8. aqueles que podem ser submetidos à ten­tativa de ventilação espontânea, o que proporcionará não somente uma redução no tempo de VM como também no custo total da internação hospitalar e até mesmo da morbi mortalidade5. Para que se obtenha sucesso no desmame é necessário que exista uma redução da demanda e, consequentemente, um aumento da capacidade ventilatória. Assim, após a realização de um breve teste de respiração espontânea, o paciente encontra-se apto Tendo em vista a importância terapêutica desse suporte para os pacientes internados em terapia intensiva, realizou-se a presente revisão bibliográfica com o objetivo de reunir informações atuais e relevantes sobre o processo de desmame da ventilação mecânica. Para a realização dessa pesquisa, foram desenvolvidas buscas em artigos publicados nos últimos cinco anos, disponibilizados na base de dados do a ser desconectado do ventilador mecânico através SCIELO, usando os termos: ventilação mecânica, da extubação. Em algumas vezes, a extubação pode desmame do respirador, força muscular respira- não ser bem sucedida na primeira tentativa, sendo tória. Procurou-se também, trabalhos relevantes necessário realizar outras avaliações posteriores. sobre o tema em questão em livros clássicos de Por outro lado, a falha no processo de extubação terapia intensiva, com o intuito de obter o má- pode propiciar uma permanência em ventilação ximo de informações para o enriquecimento da mecânica, que muitas vezes é decorrente a fadiga pesquisa. da musculatura respiratória6. VENTILAÇÃO MECÂNICA O paciente que tem insucessos no desmame, deverá ser submetido a um desmame de forma gradual, para que os fatores que determinaram essa falha possam ter uma estabilidade7. Em algumas unidades hospitalares, muitos pacientes permane- A VM é recurso terapêutico utilizado desde a década de 60, por ocasião da epidemia da Poliomielite, época em que vários pacientes apresentaram insuficiência respiratória aguda resultante 51 ISSN21763771 dessa epidemia. De acordo com publicações feitas É descrito que, dentre as inúmeras internações em revistas e artigos científicos, os ventiladores nas UTI’s, 40% são de pacientes que necessitam mecânicos de VM, o que demonstra ser uma terapêutica de apresentaram grandes evoluções terapêuticas1. Uma de suas principais indicações está relacionada com o paciente acometido por uma IRA ou IRC. Três fatores influenciam na complicação da insuficiência respiratória, sendo eles: fraqueza da musculatura respiratória, fadiga da musculatura respiratória e a incapacidade de manter as vias aéreas pérvias. Diante desse quadro, a respiração do paciente sob VM é substituída ou auxiliada por um aparelho mecânico que proporciona uma abertura dos alvéolos durante todo ciclo respiratório9. Vale ressaltar que, a VM também impõe alguns riscos para a saúde do paciente, dentre os quais: lesão pulmonar, pneumonia, trauma da via área e atrofia da musculatura respiratória. Apesar de ser uma terapêutica fundamental em alguns casos, o momento para o retorno à ventilação espontânea é essencial 1. No entanto, em pacientes que permanecem muito tempo em VM, a traqueostomia deve ser indicada com objetivo de evitar complicações associadas à instalação do tubo 11, 12, 13. DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA A palavra desmame está relacionada a um processo de transição da ventilação mecânica artificial para respiração espontânea do paciente. Em alguns casos, o prolongamento do tempo da VM pode acarretar um comprometimento nos sistemas muscular, cardiovascular e respiratório14, 11. 52 alta prevalência. A antecipação da retirada desse método, assim como o prolongamento de sua utilização, poderá ocasionar inúmeros malefícios ao paciente, dentre eles prejuízo na troca gasosa e atrofia muscular respectivamente4. Assim, para que o paciente consiga tolerar a descontinuidade do suporte ventilatório é necessário que a equipe esteja atenta para alguns fatores clínicos e fisiopatológicos, sendo eles: habilidade de troca gasosa, fatores psicológicos (ansiedade, pânico e insegurança) e capacidade contrátil da musculatura respiratória15. O processo de desmame é bem mais complicado do que manter o paciente na prótese ventilatória. Tal fato é decorrente aos diversos fatores associados com essa transição e que vão desde o momento exato para que a equipe possa dar inicio à retirada do suporte ventilatório até a técnica a ser adotada durante esse processo, o qual pode ser dividido em três fases: desmame durante a VM, extubação e desmame do oxigênio. O desmame da VM está diretamente ligado a redução dos parâmetros do ventilador, fazendo com que o paciente passe a adquirir uma certa independência ventilatória. Já a extubação consiste na retirada da prótese ventilatória7, 3. As principais causas de falha no procedimento do desmame da VM estão relacionadas a fatores, como: desequilíbrio entre a capacidade muscular ISSN21763771 respiratória e o trabalho respiratório, a obstrução em vista que pode ser instituído através das se- da via área e o excesso de secreções respiratórias16. guintes modalidades ventilatórias8: Sendo assim, para que o processo de desmame Ventilação mandatória intermitente sincronizada seja considerado satisfatório é necessário que o (SIMV) – permite momentos em que se intercala paciente consiga vencer um teste de respiração a respiração espontânea do paciente com a frequ- espontânea. Esse teste é uma das formas mais ência ventilatória da VM. eficazes para avaliar e predizer o sucesso na interrupção da VM11, 12. • SIMV + pressão de suporte (PS) – a cada esforço do paciente uma pressão positiva inspira- Dessa forma, os profissionais da equipe intensivista tória é fornecida ao paciente, sendo que o vo- devem estar aptos a identificar os pacientes capazes lume corrente e o fluxo inspiratório variam de de serem submetidos ao teste de respiração espon- acordo com a pressão de suporte selecionada. tânea para que assim, possam dar início ao processo de desmame. E para que isso ocorra de forma • Pressão positiva contínua (CPAP) – estabelece adequada é necessário ficar alerta a alguns itens a um aumento na capacidade residual funcional serem avaliados e que poderão decidir a condição permitindo a estabilização alveolar diante da do paciente a fim de instituir ou não a interrupção pressão positiva contínua nas vias áreas. da ventilação mecânica, dentre os quais estão7, 15: • Desmame em Peça T – esse método acarreta • Estabilidade hemodinâmica – observar ausên- um aumento do trabalho respiratório, sendo cia de sinais de má perfusão tecidual, assim útil para identificar a capacidade ventilatória como ausência de arritmias que possam oca- para interrupção da VM. sionar uma alteração na hemodinâmica. • Sedação – observar presença de sonolência ou até mesmo uma agitação. Uma falha no desmame pode estar diretamente ligada ao fracasso da musculatura respiratória. Tal fato é descrito quando o paciente não tolera o teste • Troca gasosa – avaliar o equilíbrio na hema- da respiração espontânea e necessita do retorno tose, podendo apresentar-se de forma que a da ventilação artificial antes de 24 horas a fim de PaO2 > 60 mmHg com FiO < 0,4 e PEEP 5 – 8 promover um repouso da musculatura respirató- 2 cmH2O. ria. Diante desses casos é necessário que a equipe assistente avalie as possíveis causas de fracasso e A eficácia na realização de um desmame está na retorno a VM e planeje uma nova estratégia para maneira correta de se utilizar este método, tendo o desmame11, 18. 53 ISSN21763771 Nessas condições, a força muscular respiratória a uma alteração na função do miocárdio, disfun- pode ser avaliada através da manovacuometria, ção neurológica decorrente a acometimentos no onde os parâmetros de normalidade estão com- sistema nervoso central (SNC) e ou sistema ner- preendidos em uma pressão inspiratória máxima voso periférico (SNP) e por fim a uma alteração (PImax) < - 20 cmH2O nutricional14. . 19, 20 DESMAME DIFÍCIL DA VENTILAÇÃO MECÂNICA tam as iniciativas de retirada da VM. Destaca-se O desmame difícil (DD) pode ser definido como dentre essa iniciativas a tentativa de diminuir a o período de tempo superior à 48-72 horas, na qual o paciente não consegue realizar ou manter a respiração espontânea, tendo como resultado o insucesso em tentativa anterior. O paciente que se encontra nessa situação pode apresentar déficit muscular respiratório por conta da hipotrofia do diafragma. Dessa forma, ao realizar o desmame difícil necessita-se de um planejamento para a desconexão do suporte ventilatório a fim de se Os pacientes que se encontram em DD não supor- PS a valores < 10 cmH2O, a utilização da musculatura acessória, o índice de respiração rápida superficial > 105 e a diminuição de SatO2 e/ou retenção de CO2 8. Caso ocorra falha no teste da respiração espontânea durante o DD, é necessário que se adote uma conduta adequada priorizando o repouso dos músculos ventilatórios e o controle da causa que inviabilizou o teste de ventilação espontânea e evitar a reintubação21. reduzir a PSV e realizar novos testes de ventilação Já é descrito que, o processo de desmame pode espontânea a cada 24 horas após o controle da ser classificado em três grupos, sendo eles: desmame, desmame difícil e desmame prolongado. O primeiro grupo inclui aqueles pacientes que obtiveram sucesso na retirada da VM na primeira tentativa. O segundo grupo inclui os pacientes que necessitaram de até três tentativas de retirada da VM em sete dias e o terceiro grupo inclui os pacientes que necessitaram de mais de três tentativas em sete dias . 22 As principais causas de dependência da VM estão diretamente ligadas à disfunção respiratória decorrente a alteração na função dos músculos (mm) respiratórios, disfunção cardiovascular decorrente 54 causa14. Nos pacientes que se encontram em VM prolongada e/ ou DD é fundamental a realização de treinamento da musculatura respiratória. Diante da retirada da VM , o paciente passa a respirar espontaneamente e realiza ao longo do tempo um treinamento da musculatura trabalhando contra uma carga imposta pela retirada do suporte que promove um trabalho respiratório em alguns casos, acima do limiar de fadiga 23. As principais estratégias para o desmame difícil incluem 24, 11, 20 : ISSN21763771 • Reduzir gradualmente a pressão de suporte No entanto, é necessário que os profissionais de (realizada através da redução de valores de 2 a terapia intensiva trabalhem de maneira integrada 4 cmH2O até quatro vezes ao dia); para evitar o insucesso do processo de desmame, • Intercalar CPAP x Tubo T(realizada intercalando períodos em que o paciente esteja conectado a uma peça em forma de “T” e períodos na VM em CPAP); já que o seu sucesso permite ao paciente o retorno à ventilação fisiológica. ABSTRACT The Mechanical ventilation is a method of thera- • Aumentar a sensibilidade da VM (atualmente peutic support used in the treatment of patients não é recomendada pelo III Consenso Brasilei- hospitalized in the Intensive Care Unit, especially ro de Ventilação Mecânica); in those with critical clinical state and affected • Usar o Threshold (o paciente é desconectado da VM e uma resistência é aplicada conectada ao tudo orotraqueal (TOT) ou traqueostomia (TQT). Esse treino é realizado com 40 % do valor da PI max, 3 vezes ao dia em um intervalo de até 20 minutos). CONCLUSÃO O Desmame da ventilação mecânica é uma ferramenta essencial, tendo vista a sua alta prevalência em grande parte dos pacientes que se encontram internados em unidade de terapia intensiva e necessitam desse suporte. Além de ser um método eficaz para aqueles que apresentam déficit ventilatório é um recurso terapêutico capaz de proporcionar um repouso na musculatura respiratória, melhorando assim o quadro clínico do paciente. Ao contrário do que o termo desmame sugere, esse processo pode ser abrupto, o que é relativamente comum em situações em que a retirada gradual se by an acute respiratory insufficiency. Its use can cause some repercussions, such as tracheal injury, barotrauma, decreased cardiac toxicity and the use of oxygen. Therefore, before these changes, it requires the weaning to be established as early as possible. So, we carried out a literature review aimed to gather current and relevant information about the process of weaning from mechanical ventilation, through research on classic books and scientific articles published over the past five years. It was found that mechanical ventilation is a method of supporting patients in a hospital intensive care unit, requiring that the professionals in this unit work in an integrated manner to avoid the failure of weaning, as its success allows the patient to return to ventilation physiological. Key words: Respiration Artificial. Ventilator Weaning. Muscle Strength. REFERÊNCIAS faz desnecessária permitindo a observação clínica 1. Damasceno MPCD, David CMN, Souza PCSP, contínua do paciente que respira espontaneamente. Chiavone PA, Cardoso LTQ, Amaral JLG, Tasana55 ISSN21763771 to E, Silva NB, Luiz RR. Ventilação Mecânica no Protocolos de Desmame com Tubo-T e Pressão Brasil: Aspectos Epedemiologicos. Rev. bras. ter. Suporte Associada a Pressão Expiratória Final intensiva, 2006; 18(3)219-228. Positiva em Pacientes Submetidos a Ventilação 2. Amato MBP, Carvalho CRR, Vieira S, Isola A, Rotman V, Moock M, Jose A, Franca SA. 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Refratory sclerodermic ulcers´s clinic profile-care report. 3 Lara Pinheiro Maciel1 Ricardo Eustáquio Magalhães2 Adriana Carvalho Bezerra2 Sheila Márcia de Araújo Fontenele3 1 Interna do Hospital Geral César Cals Preceptora e Professora Doutora do curso de Medicina da Faculdade Christus INTRODUÇÃO 2008 queixando-se havia quatro anos de astenia, A esclerose sistêmica (ES) é uma doença reumática auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por fibrose cutânea e visceral e acometimento vascular. O fenômeno de Raynaud (FRy) é uma manifestação vascular comum nesta doença, que se caracteriza por episódios transitórios de vasoconstrição de extremidades e tem como complicação o aparecimento de úlceras isquêmicas em dígitos e membros inferiores2. hiporexia e perda de peso; sintomas vasculares sugestivos de FRy e dores músculo-esqueléticas, associadas ao frio; espessamento cutâneo, hipercromia e perda de fâneros; e, disfagia. Nessa ocasião, evoluiu com auto-amputação de falange distal de 3º quirodáctilo esquerdo e tenossinovite estenosante do flexor da 3ª IFP direita com úlcera de pressão em face extensora, levando à diminuição da capacidade funcional (Figura 1). Iniciouse Prednisona 5mg/dia, Colchicina 0,5mg/dia. Na maioria das vezes, as úlceras esclerodérmicas Marevan 5mg/dia e Nifedipina 20mg/dia, além de são recorrentes, extremamente dolorosas e incapa- Azathioprina 50mg/dia. citantes podendo evoluir para infecção secundária, gangrena e até amputação de extremidades . 2 O objetivo deste relato é descrever a condução clínico-terapêutica de paciente com úlceras digitais esclerodérmicas recorrentes tanto em dígitos de mãos e pés quanto em outros sítios distais refratárias ao tratamento clínico usual. RELATO DE CASO I.B.S.F., sexo feminino, 38 anos, natural de Ipu, procedente de Fortaleza-CE, internou-se no Serviço de Clínica Médica do HGCC em abril de 58 Figura 1 – Auto-amputação da falange distal do 3º dedo esquerdo e semi-flexão do 3º dedo direito. ISSN21763771 Porém, descontinuou seguimento até fevereiro de rodáctilo esquerdo, 3º e 4º pododáctilos esquerdos, 2009, quando apresentou FRy e dor refratária em além da região maleolar lateral esquerda e perfura- dígitos, evoluindo com úlceras isquêmicas em pol- ções em diferentes sítios plantares (Figura 3). pas digitais, aparentemente sem sinais de infecção (Figura 2). Associou-se à conduta anterior, Bosentana 62,5mg 2x/dia por 30 dias, seguida de 125mg Figura 3 – Auto-amputação da falange distal do 2º dedo esquerdo, ulcerações isquêmicas de polpas digitais e perfurações plantares. 2x/dia por mais 30 dias, com controle satisfatório dos níveis álgicos, cicatrização das lesões isquêmicas cutâneas e evolução para auto-amputação da falange distal do 2º pododáctilo esquerdo. Figura 2 – Ulceração isquêmica de polpa digital e necrose da falange distal do 2º pododáctilo esquerdo. A segunda admissão deu-se em outubro de 2009 O exame físico evidenciava hiperfonese de 2ª apresentando, além da dor e flogose intensas, ul- bulha; crepitações discretas em bases pulmonares cerações isquêmicas, necrose e infecção em 4º qui- e expansibilidade pulmonar reduzida; redução de 59 ISSN21763771 ruídos hidroaéreos; edema ++/4+ de membros inferiores. Na primeira microscopia do swab de Figura 4 – Auto-amputação da falange distal do 4º dedo esquerdo. secreção de dedos foi encontrado Pseudomonas aeruginosa e, uma nova cultura isolou-se Staphylococus aureus. Os exames complementares demonstraram esofagite erosiva e severa por refluxo e hérnia hiatal por deslizamento de pequeno volume; Anti-Scl 70 positivo; pneumopatia intersticial em ambas as bases pulmonares. Os Raios-X de pés e mãos descartaram osteomielite. A antibioticoterapia baseou-se em Oxacilina (4g/ dia), Tazocin (13,5g/dia) e Metronidazol (750mg/ dia). Submeteu-se a paciente a pulsoterapia com Xilocaína a 2% (sem vasoconstrictor), mas no 3º dia como apresentasse episódios de diarréia, cólicas abdominais, taquicardia e visão turva, decidiuse pela sua suspensão. Após procedimento cirúrgico ter sido descartado pela Cirurgia Vascular, intensificaram-se o aquecimento das extremidades e o tratamento tópico e, cerca de um mês depois recebeu alta hospitalar em uso de Prednisona 10mg/dia, Anlodipina 10mg/dia, Marevan 5mg/ dia, Colchicina 0,5 mg/dia, Pentoxifilina 400mg/ dia e Azathioprina 50mg/dia. DISCUSSÃO Devido a seu caráter clínico espectral, a ES permanece a mais desafiadora dentre todas as doenças do colágeno. Contudo, a última década foi marcada por inovações propedêuticas e terapêu- Nas sessões de curativo ambulatorial semanais ticas, que aliadas a uma melhor caracterização do observou-se recuperação das lesões isquêmicas perfil clínico-epidemiológico, concorreram para cutâneas e plantares, tendência a sindactilia dos melhorar a sobrevida dos pacientes3. Atualmente, 3º e 4º pododáctilos esquerdos, com prejuízo da o interesse da comunidade científica volta-se para deambulação da paciente. Infelizmente seguiu-se minorar as sequelas, que levam à dor e incapa- mais uma auto-amputação, dessa vez do 4º quiro- cidade funcional e interferem negativamente na dáctilo esquerdo (Figura 4). qualidade de vida. 60 ISSN21763771 Úlceras isquêmicas em extremidades representam uma opção terapêutica para pacientes com úlceras uma manifestação grave e extremamente inca- recorrentes e refratárias graves. pacitante, que acometem até 50% dos pacientes com ES. Além do acometimento vascular, a fibrose cutânea, a xerodermia, os microtraumas e as contraturas articulares são fatores associados à presença de úlceras, principalmente as digitais2. Através desse relato de caso, percebe-se a existência de um subgrupo de pacientes esclerodérmicos, que evoluem com várias lesões isquêmicas, recorrentes e, sobretudo, refratárias a politerapia, cuja condução é complexa e onerosa, por envolver Os bloqueadores dos canais de cálcio ainda são as uma equipe multidisciplinar composta de clínicos, drogas de primeira escolha para o tratamento do cirurgiões, enfermeiros e terapeutas e, às vezes, FRy e sucedâneos, pois exercem potente efeito va- ainda culminar com hospitalizações demoradas, sodilatador1. Outros como objetivando o tratamento de infecções e uso de simpaticolíticos, inibidores da enzima conversora analgésicos opióides, para o controle da dor. Além de angiotensina, bloqueadores dos receptores de disso, medidas não-medicamentosas – curativos, angiotensina II são descritos como eficazes, porém e mudanças comportamentais – parar de fumar, com nível de evidência científica variada. evitar exposição ao frio, também são necessárias2. Inibidores da 5-fosfodiesterase (sildenafil) e, Nosso intuito foi sensibilizar os profissionais de principalmente, os análogos da prostaciclina sob saúde para o reconhecimento dessa patologia rara, forma endovenosa (epoprostenol, alprostadil e ilo- mas cujo potencial para a incapacitação física e o prost) têm se mostrado eficazes, para uma parcela impacto negativo sobre a qualidade de vida, exi- dos pacientes2. gem dos gestores de saúde competência para tor- vasodilatadores, Baseando-se que a endotelina exerce potente vasoconstricção, além de promover a proliferação celular, estudos recentes apontaram a bosentana, um inibidor dos receptores A e B da endotelina 1, para a prevenção do surgimento de novas úlceras em curto prazo4,5. Apesar de não ter demonstrado eficácia para reduzir o tempo de cicatrização, preveniu o aparecimento de novas lesões, reduziu os níveis de dor e melhorou a capacidade funcional5. Como seu melhor efeito foi no subgrupo de pacientes mais se- nar acessível o diagnóstico precoce e a terapêutica órgão-específica mais eficiente, para cada perfil de paciente. AGRADECIMENTOS A todos os profissionais da enfermaria de clínica médica e do ambulatório do HGCC, envolvidos nesse caso, e a paciente I.B.S.F., que mesmo nas piores circunstâncias, confiou e cooperou para a sua recuperação. veros, e ainda não há evidências que suportem seu uso precocemente, sugere-se que esta droga seja 61 ISSN21763771 ABSTRACT The systemic sclerosis (SSc) is a rheumatic autoimmune disease of unknown etiology, characterized by cutaneous and visceral fibrosis and vascular 3. Barros PDS. É hora de tratar a esclerose sistêmica. Rev Bras Reumatol, 2009;49(3):201-203. involvement. Ischemic ulcers in the extremities 4. Korn JH, Mayes M, Matucci-Cerinic M, Raini- are a manifestation of extremely severe and disa- sio M, Pope J, Hachulla E, et al. Digital ulcers in bling, affecting up to 50% of patients with SSc. We systemic sclerosis: prevention by treatment with described the clinical profile of one scleroderma bosentan, an oral endothelin receptor antagonist. patient, which evolves systematically with several, Arthritis & Rheum, 2004;50(12):3985-93. recurrent and refractory ischemic lesions, which involved a multidisciplinary team of physicians, surgeons, nurses and therapists, and sometimes led to lengthy hospitalization for treatment infections and use of opioids for pain control. Our endpoint was to sensitize health professionals to recognize this rare condition, and its potential for physical disability and negative impact on quality of life, that require health managers’ responsibility to make affordable early diagnosis and organspecific therapy more effective for each patient profile. Key words: systemic sclerosis; ulcer; therapeutics. REFERÊNCIAS 1. Cruz AB, Malachias ML, Hybner T, de Melo ALV. 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Marcos Aurélio Pessoa Barros1 Diego de Aragão Bezerra2 Janiel Ponte Vieira2 Bruna Vitória Lima Martins3 Elitonio Bezerra e Silva3 Pseudomixoma retroperitonei. 1 Cirurgião Geral do Hospital Geral César Cals Residente de Cirurgia Geral do Hospital Geral César Cals 3 Acadêmico de Medicina (Internato) da Universidade Estadual do Ceará 2 Introdução O pseudomixoma peritoneal é um tumor bastante pós-prandial, sem relato de perda de peso nesse raro que se origina a partir do trato gastrintestinal, período. Apresentava ainda alteração do hábito especialmente do apêndice, ou do ovário. Possui intestinal, intercalando períodos de constipação, comportamento insidioso e incide geralmente em que duravam em média seis dias, com períodos de torno de 50 anos. Manifesta-se clinicamente por diarréia. Referia cansaço à realização de médios aumento do perímetro abdominal, através do pre- esforços e palpitações ao deitar-se. Relata inter- enchimento da cavidade abdominal com material rupção do jato urinário, associada a gotejamento, mucóide predominantemente à noite e aparecimento de 1, 2, 3, 4, 5 . Apresentamos um caso de pseudomixoma retroperitoneal (PRP), também denominado pseudomixoma extra-peritoneal, que não apresenta comprometimento intra-peritoneal, sendo um tipo de tumor extremamente raro, com apenas 12 casos massa na região escrotal de forma intermitente. Paciente hipertenso e diabético há mais de 30 anos, dislipidêmico, tabagista (81 maços/ano) e etilista diário (1400 ml/dia de cachaça) há cinquenta anos. Fazia uso de captopril, ácido acetil- relatados na literatura1, 2, 3. salicílico e hidroclorotiazida. Os exames labora- Relato do caso apresentava abdome globoso, levemente doloroso Paciente do sexo masculino, 78 anos, aposentado, toriais eram normais. Ao exame físico, paciente à palpação profunda difusamente, sem sinais de natural de Boa Viagem-CE e residente em Forta- irritação peritoneal. Não foram palpadas massas e leza, procurou atendimento médico com queixas visceromegalias abdominais. O exame pulmonar de dor e desconforto em fossa ilíaca direita há 7 revelava crepitações em ambas as bases pulmona- meses e aparecimento de caroço em virilha, após res. O exame das extremidades evidenciava uma uma queda da própria altura. Negava febre, náuse- massa em topografia de anel femoral direito, visí- as e vômitos. Relatava hiporexia e empachamento vel e palpável apenas em posição ortostática. Ao 63 ISSN21763771 exame urológico, os testículos estavam normais e investigação com tomografia computadorizada de a próstata apresentava–se aumentada de volume, abdômen total e pelve (Figura 1), que evidenciou aproximadamente 60g. O paciente relatava queda uma massa expansiva, hipodensa, com atenuação da própria altura há 07 meses associada à dor em cística, multiloculada, localizada no retroperitônio fossa ilíaca direita. Foi submetido à ultrassonogra- à direita, estendendo-se do pólo inferior do rim fia de abdome que evidenciou: distensão líquida direito, até próximo ao grande trocanter femoral, de alças intestinais em hemiabdome direito, asso- com pequenos focos de calcificação e apresen- ciada à aparente espessamento de alças intestinais tando íntima relação com o ceco. Radiografia de em fossa ilíaca direita, contígua a massa heterogê- tórax e exames laboratoriais foram normais. nea que mede 8,6 x 6,7x 6,4cm. Prosseguiu-se a Figura 1 – Tomografia de abdome evidenciando massa cística em retroperitônio. 64 ISSN21763771 Realizada biópsia incisional da massa através do O tumor apresenta curso indolente e se caracteriza anel femoral, com achado anatomopatológico pelo acúmulo de múltiplos implantes de material sugestivo de pseudomixoma retroperitoneal. Rea- gelatinoso intraperitoneal, devido à ruptura de lizado laparotomia exploradora para drenagem do uma lesão mucinosa do apêndice ou ovário, deter- material mucóide na região retroperitoneal (Figu- minando uma evolução com produção de muco, ra 2). No intra-operatório foi detectada ruptura de esfoliação de células tumorais e redistribuição apêndice retrocecal e então realizado apendicec- destas pela cavidade peritoneal. Ocasionalmente, tomia. O estudo histológico do material cirúrgico o PP pode originar-se do cólon, mama, endomé- concluiu adenocarcinoma mucinoso de apêndice trio, pâncreas, carcinoma do ducto biliar comum, cecal (Figura 3). úraco e ducto onfalomesentérico. Figura 2 – Material mucóide e apêndice roto. A maioria dos pseudomixomas está localizada na cavidade peritoneal, embora também possam ser encontrados no retroperitônio. O Pseudomixoma retroperitoneal constitui uma condição extremamente rara causada pela ruptura de uma lesão mucinosa no apêndice retrocecal, com consequente fixação na parede abdominal posterior. No paciente relatado, o sítio primário era o um Figura 3 – Anatomopatológico do apêndice cecal. adenocarcinoma de apêndice retrocecal. A apresentação clínica é inespecífica e o paciente geralmente cursa com dor e distensão abdominal. Outros achados associados são: febre, anorexia, náuseas, vômitos e perda ponderal, além de sintomas urinários e massa escrotal. A suspeita diagnóstica no pré-operatório é feita em menos da metade dos casos e é realizada a partir da citologia por punção aspirativa por agulha fina, ultrassonografia, tomografia computadorizada ou Discussão ressonância magnética de abdome. A confirmação se dá pelo aspecto macroscópico de material gelatinoso Pseudomixoma peritoneal (PP) é uma condição oriundo de adenocarcinoma mucinoso de apêndice, clínica muito rara, com incidência de 1: 1.000.000. sem atipias ou atividade mitótica significante. 65 ISSN21763771 Os achados de imagem encontrados no pseudomi- abordagem terapêutica foi a apendicectomia com xoma retroperitoneal são semelhantes aos do pseu- drenagem do muco. O papel da terapia adjuvante domixoma peritoneal. O diagnóstico diferencial não é conhecido, mas diversas modalidades de inclui linfoma disseminado, peritonite piogênica, tratamento com radioterapia e quimioterapia carcinomatose peritoneal, lipossarcoma, pseudo- por via intravenosa e intraperitoneal têm sido cistos com pancreatite, tuberculose abdominal, e, tentadas. mais raramente, mesotelioma peritoneal primário. Para o PP, sabe-se que se trata de um tumor de No caso relatado, a suspeita diagnostica se iniciou cura difícil, com taxas de sobrevida de 75% e 60% ainda no pré-operatório com TC de abdome que em cinco e dez anos, respectivamente. Quadro de evidenciou lesões císticas na região retroperi- ascite mucinosa recorrente e obstrução intestinal toneal direita. Sarcoma retroperitoneal, linfoma estão associados à maior morbidade. retroperitoneal difuso e pseudomixoma foram os diagnósticos diferenciais levantados. A biópsia ABSTRACT incisional reforçou a suspeita sobre PRP, contudo Case report of a rare and progressive disease who- o diagnóstico só foi concluído após confirmação do adenocarcinoma mucinoso de apêndice. Como se trata de uma patologia com baixa incidência, sem estudos prospectivos randomizados, ainda persiste controvérsia em relação ao manejo e prognóstico dessa afecção. O papel do tratamento adjuvante e as taxas de sobrevida ainda não são conhecidos, justamente devido à escassez de casos relatados. Os poucos casos existentes permitem inferir que o prognóstico é mais favorável do que o pseudomixoma peritoneal, pois as estruturas vitais abdominais, geralmente não estão envolvidas. As principais modalidades terapêuticas descritas para o pseudomixoma retroperitoneal são as mesmas do pseudomixoma peritoneal: hemicolectomia direita, citorredução agressiva, apendicectomia, omentectomia, drenagem de coleções de mucina e ooforectomia. No presente caso, a 66 se diagnosis is difficult because of the nonspecific symptoms. Male, 78 years-old patient, presenting cystic retroperitoneal mass. Laparotomy hás shown a mucinous tumoral mass compromising the retroperitoneal cavity. Pseudomyxoma retroperitnei is a rare and poorly undertood disease, characterized by implants involving the peritoneal or extra peritoneal surfaces,resulting in a “jelly belly”.The primary site of origin is commonly the appendix. Key words: Pseudomyxoma retroperitonei; Adenocarcinoma mucinoso de apêndice. REFERÊNCIAS 1. Solkar MH, Khan MZ, Parker MC. Pseudomyxoma peritonei confined to the retroperitoneum occurring 35 years after appendicectomy. Int J Colorectal Dis (2004) 19:399–400. ISSN21763771 2. Matzuoka Y, Masumoto T, Suzuki K et al. Pseudomyxoma retroperitonei. Eur. Radiol. 9, 457-459 (1999) 3. Somoza N, Sylvas AA, Moljo J et al. Cistoadenoma mucinoso de apéndice (Pseudomixoma Peritoneal). J R Villavicencio 2006: n.14; 190-193. Endereço para contato: Marcos Aurélio Pessoa Barros Hospital Geral César Cals, Av. do Imperador, nº 545, Centro - CEP 60.015-102 - Fortaleza / Ceará / Brasil. E-mail: [email protected] Fone: (85) 3101 78 39 4. Moreira LBM, Melo ASA, Pinheiro RA et al. Pseudomixoma peritoneal: aspectos tomográficos e na ressonância magnética - relato de três casos. Radiol Bras 2001; 34(3): 181–186. 5. Yang DM, Iung DH, Kim H et al. Retroperitoneal Cystic Masses: CT, Clinical, and Pathologic Findings and Literature Review. RadioGraphics. 2004 set-out. v.24; n.5. 1353-1365. 67 ISSN21763771 Relato de caso Esofagectomia por videotoracoscopia e videolaparoscopia em paciente com megaesôfago chagásico associado a carcinoma Espinocelular. Esophagectomy by videotoracoscopy and videolaparoscopy in A pacient with megaesophagus by chagas´s disease associated to carcinoma. 1 Paulo Marcos Lopes1 Luzinei dos Santos Monteiro2 Carlos Kleber Diniz Carneiro3 Elitonio Bezerra e Silva4 Simone Lima Verde de Lavor5 Cirurgião Geral e Preceptor da Residência do Hospital Geral César Cals 2 Cirurgião Geral do Hospital Geral César Cals 3 Residente de Cirurgia Geral do Hospital Geral César Cals 4 Acadêmico de Medicina (Internato) da Universidade Estadual do Ceará 5 Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Ceará Introdução O megaesôfago é uma afecção prevalente no Bra- sintomas, associando-se a odinofagia. A paciente sil devido a Doença de Chagas, que tem caráter manteve hábito tabagista por 48 anos, fazendo uso endêmico em diversas regiões do Brasil. Estima- de cachimbo (7 vezes/dia), não tinha comorbidades se que 10 milhões de pessoas estejam afetadas pela e morou durante 40 anos em casa de taipa em con- doença no país, principalmente homens adultos tato com triatomíneos desde sua infância. Afirma que vivem no interior1,4. que há um ano e meio, após acentuada perda pon- Indivíduos com essa afecção podem apresentar em sua evolução associação com câncer de esôfago2. É relatado o caso de uma paciente de 60 anos portadora de megaesôfago chagásico associado a carcinoma espinocelular que foi submetida a esofagectomia por videotoracoscopia e videolaparoscopia. Relato do caso Paciente do sexo feminino de 60 anos, natural e procedente do interior do estado, refere que há cerca de 42 anos passou a apresentar disfagia para sólidos, evoluindo ao longo dos anos com piora dos 68 deral (cerca de 14 kg em 3 meses), resolveu pela primeira vez procurar assistência médica. Realizou investigação com endoscopia digestiva alta (EDA) que evidenciou megaesôfago. Submeteu-se, na época, à dilatação esofágica, passando a aceitar melhor a dieta, o que a fez ganhar peso. Há três meses, evoluiu com piora clínica realizando nova EDA que mostrou lesão compatível com carcinoma espinocelular, sendo então indicado cirurgia. Submeteu-se à esofagectomia por videotoracoscopia (Figura 1) e confecção de tubo gástrico por videolaparoscopia (Figura 2) com esofagogastroplastia cervical. ISSN21763771 Figuras 1 e 2 – Colocação de trocarteres torácicos e abdominais. com fístula da anastomose cervical, controlada com medidas locais e antibióticos. Apresentou extravasamento de seroma por dreno de tórax e derrame pleural contra-lateral resolvido com toracocentese. Recebeu alta hospitalar no 26º dia de pós-operatório aceitando dieta e sem queixas. Cerca de um mês depois retornou com queixa de disfagia para sólidos, onde após esofagograma identificou-se estenose da anastomose cervical, sendo submetida à dilatação esofágica endoscópica. Recebeu alta em seguida em boas condições clínicas. Figura 3 – Peça após ressecção cirúrgica. O laudo histopatológico da peça cirúrgica (Figura Discussão 3) revelou tratar-se de um carcinoma espinocelular O megaesôfago é um distúrbio motor esofagiano moderadamente diferenciado de invasão superficial, que se caracteriza por: dilatação e aumento do não alcançando a muscular própria (carcinoma in esôfago, ausência de movimentos peristálticos, situ), com margens livres. Evoluiu no pós-operatório presença de contrações terciárias e ausência do 69 ISSN21763771 relaxamento total ou parcial do esfíncter inferior1. O tipo histológico mais frequente de câncer de Essas alterações ocasionam principalmente disfa- esôfago é o carcinoma espinocelular, o que foi gia que pode comprometer o estado nutricional do evidenciado no caso relatado. Os principais fato- paciente. Essa doença pode apresentar-se sob duas res de risco para esse tipo de neoplasia são: etilis- formas: a de etiologia chagásica, relatado no caso mo pesado, tabagismo e também tilose, acalasia, em questão, ou por acalasia idiopática4. No mega- esôfago de Barret, lesões cáusticas do esôfago, esôfago chagásico há a destruição dos plexos mio- Síndrome de Plummer-Vinson2,5. A paciente além entéricos causada pelo Trypanossoma cruzi. Esse de acalasia tinha história de tabagismo. é o substrato responsável pelas alterações funcionais, como hipercontratilidade, discinesia motora e acalasia dos esfíncteres, sendo essa última fator de risco importante para o desenvolvimento de carcinoma de esôfago1,4. A avaliação diagnóstica do megaesôfago é feita através da clínica do paciente, onde a disfagia é o sintoma predominantemente encontrado, e complementado com raio-X de esôfago - que classifica a dilatação desse órgão em grupos de Portadores de megaesôfago tem 33 vezes mais I a IV de acordo com classificação de Rezende, chance de desenvolver carcinoma esofágico do EDA - muito importante para o diagnóstico e do- que a população em geral: estudos apontam, além enças associadas e/ou complicações decorrentes da acalasia, a possível relação entre a produção de da estase dos alimentos na luz esofágica, e exame compostos N-nitrosos na luz do esôfago, que é for- manométrico em casos selecionados nos quais mado a partir de nitratos da dieta e o contato crônico existe dúvida diagnóstica1. desses carcinógenos com a mucosa esofágica2,3. A produção dessas substâncias é mediada por bactérias. Outros estudos mostraram que patógenos isolados no líquido de estase e ou nos fragmentos de biópsia em portadores de megaesôfago chagásico são semelhantes aos encontrados na flora intestinal, o que corrobora com a presença de patógenos com capacidade de redução de nitratos em nitritos em pacientes com megaesôfago chagásico2,3. O tratamento do megaesôfago pode ser clínico através do uso de drogas que atuam relaxando o esfíncter inferior do esôfago como os nitratos e os antagonistas dos canais de cálcio, endoscópico através da dilatação pneumática ou injeções de toxina botulínica e nos casos refratários aos tratamentos clínico e endoscópico indica-se o tratamento cirúrgico com a realização de esofagomiotomia associada à procedimento anti-refluxo e A prevalência do câncer do esôfago em pacientes esofagectomia para os doentes com megaesôfago com megaesôfago chagásico é variável. Alguns grau IV, falha em esofagomiotomia prévia ou estudos verificaram que aproximadamente 10% estenose1,5. Esta paciente após tratamento endos- dos pacientes com megaesôfago desenvolveram cópico com bom resultado inicial apresentou nova câncer de esôfago2. endoscopia com estase acentuada e estenose distal 70 ISSN21763771 importante por uma massa onde o histopatológico 3. Pajecki D; Zilberstein B; Santos MAA et al. mostrou carcinoma espinocelular, tendo sido op- Microbiota do megaesôfago e carcinogênese. Arq tado pela realização de esofagectomia pela vide- Gastroenterol. 2003 v.40 n.1 jan/mar. olaparoscopia e videotoracoscopia, procedimento realizado em poucos serviços, e a relatada, foi a primeira realizada no estado do Ceará, mostrando a qualidade técnica de nossos profissionais de saúde. ABSTRACT 4. Medeiros SC. Tratamento cirúrgico do megaesôfago. [Monografia]. Jacarepaguá: Hospital Geral de Jacarepaguá; 2008. 5. Pinto CE; Dias JA; Sá EAM et al. Tratamento cirúrgico do câncer de esôfago. Rev Bras Cancerologia 2007; 53(4): 425-430. Chagas disease is an important cause of acalasia, and this condition is larged associated to carcinoma of esophagus. Carcinoma of esophagus is an aggressive disease with different incidence in the world. The best treatment for esophagus cancer is the surgery. A great improvements is the minimal invasive surgery. This case report shows a pacient with acalasia and carcinoma in situ of esophagus Endereço para contato: Paulo Marcos Lopes Hospital Geral César Cals, Av. do Imperador, nº 545, Centro - CEP 60.015-102 - Fortaleza / Ceará / Brasil. E-mail: [email protected] Fone: (85) 3101 7839 treated by videlaparoscopy and videotoracoscopy with success. Key words: Esophagectomy; Videotoracoscopy; Videolaparoscopy; Megaesophagus Chagas disease; Trypanosoma cruzi; Carcinoma. REFERÊNCIAS 1. Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Ministério da Saúde. Rev da Soc Bras de Medicina Tropical. 2005: v.38, sup. III. 2. Henry MACA; Lerco MM; Oliveira WK. Câncer de esôfago em paciente com megaesôfago chagásico. Arq Gastroenterol. 2007 v.44 n.2 abr/ jun. 71 ISSN21763771 Relato de caso Cistoadenocarcinoma mucinoso de pâncreas. Mucinous cystadenocarcinoma of the pancreas. Manoel Messias de Campos Júnior1 Dalgimar Beserra de Menezes2 Bruno Lima Linhares1 João Bosco Breckenfeld Bastos Filho3 Olavo Napoleão Araújo Júnior 4 Residente de Cirurgia Geral do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) 2 Patologista do Hospital Geral de Fortaleza 3 Interno da Universidade Estadual do Ceará – HGF 4 Supervisor da Residência de Cirurgia Geral do Hospital Geral de Fortaleza 1 INTRODUÇÃO RELATO DO CASO Lesões císticas de pâncreas foram descritas pela Paciente do sexo feminino, 70 anos, relatando que primeira vez em 1824 e podem ser congênitas, há 4 meses iniciou história de adinamia e perda não neoplásicas ou neoplásicas, epiteliais ou ponderal importante (17 kg), e evoluiu com mas- mesenquimais, verdadeiras ou degenerativas(2). sa abdominal palpável e diagnóstico de diabetes Tumores císticos de pâncreas são incomuns e mellitus há 2 meses. Ao exame físico, apresentava correspondem a somente 10-15% das massas pan- bom estado geral e era evidenciado massa pal- creáticas e a 1% das malignidades pancreáticas(3). pável em hipocôndrio esquerdo, indolor, de con- Nesse grupo, destacamos os cistos mucinosos que sistência cística e pouco móvel. Na investigação, são neoplasias produtoras de mucina e que na foi realizada Endoscopia Digestiva Alta (EDA) histologia apresentam estroma, às vezes, de tipo que mostrou abaulamento de provável natureza ovariano(1). A neoplasia cística mucinosa (NCM) extrínseca na parede posterior do corpo gástrico; a é mais prevalente em mulheres, cerca de 90% dos Ultrassonografia (USG) abdominal revelou massa casos, no período próximo ao climatério, com cística com vegetações em seu interior na projeção média de idade de 48 anos . Neoplasias císti- da cauda pancreática (11 x10 x11 cm), confirmada cas mucinonas são consideradas pré-malignas e, por Ressonância Magnética (RNM), preferida em consequentemente, a ressecção cirúrgica é o trata- relação a TC, pois a paciente apresentava clearen- mento de escolha(1). Relata-se o caso de um cisto- ce de creatinina estimado em 28,6 ml/min, que adenocarcinoma pancreático em uma paciente de mostrou lesão expansiva sólido-cística na cauda 70 anos que foi submetida a tratamento cirúrgico do pâncreas, sugestiva de neoplasia (Figura 1). (1) (4,5) com sucesso. 72 ISSN21763771 Figura 1 - RNM mostrando lesão cistica em cauda de pâncreas com vegetação no seu interior. A paciente foi submetida à cirurgia que teve como achados uma volumosa massa tumoral em cauda de pâncreas, envolvendo raiz do mesocólon esquerdo, sendo realizada a pancreatectomia corpocaudal, esplenectomia e ressecção de segmento de cólon transverso em peça única (Figuras 2a e 2b). O resultado histopatológico constou de cistadenocarcinoma mucinoso, estadiamento patológico pT2N0 (Figuras 3a, 3b e 3c). A paciente evoluiu sem complicações, tendo alta no sexto dia pós-operatório. Figura 2a - Vista intra-operatória de lesão em cauda pancreática com envolvimento de mesocólon transerso. Figura 2b - peça cirúrgica. 73 ISSN21763771 Figura 3a - aspecto papilífero complexo com modificação estromal DISCUSSÃO As lesões císticas de pâncreas são relativamente raras, mas constituem uma importante categoria neste órgão, pois a maioria é benigna ou indolente, apresentado um prognóstico bem melhor que o adenocarcinoma ductal(4). Os três principais grupos de tumores císticos de pâncreas compreendem tumores serosos (cistoadenoma seroso e o cistoadenocarcinoma), tumores mucinosos (cistoadenoma, cistoadenocarcinoma e adenoma papilar intraductal e adenocarcinoma papilar Figura 3b - representação de revestimento epitelial com aspecto cribriforme, perda de polaridade e acentuada atipia intraductal) e tumores sólidos pseudo-papilares (1). As Neoplasias Císticas Mucinosas (NCMs), na maioria das séries, são menos comuns que as neoplasias serosas e neoplasias mucinosas papilares intraductais(2). A NCM é uma precursora de carcinoma invasivo e apresenta componente invasivo em um terço dos casos(2). Relatamos um caso de cistoadenocarcinoma mucinoso, em paciente de sexo feminino, de 70 anos de idade; segundo a literatura há predominância desta patologia em mulheres, 90% dos casos (relação homem:mulher < 1:20), e média de idade de 48 anos (intervalo de 18 – 95 anos)(2,4,5). Conforme o caso, as Figura 3c - trecho apresentando polaridade dos núcleos mantida, com padrão adenomatoso. NCMs são usualmente encontradas no corpo e cauda pancreática(1,2), solitárias, bem demarcadas, uni ou multiloculadas, com tamanho variando de 6 a 350mm (média 80mm)(2,3,4), paredes fibrosas espessas e sem comunicação com o ducto pancreático ao menos que haja formação de fístula(1,2) ou comunicação microscópica com ducto pancreático, como sugerido em alguns trabalhos japoneses(1). Microscopicamente, os cistos apresentam epitélio alto, colunar e produtor de mucina com graus variados de atipia(2) e, além disso, apresenta estroma tipo ovariano(1). 74 ISSN21763771 As NCMs apresentam-se, tipicamente, com vago desconforto abdominal ou dor, no entanto, sintomas como perda de peso e anorexia podem significar malignidade(1), como a paciente do caso relatado. Exames de imagem como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética REFERÊNCIAS 1. Garcea G, Ong SL, Rajesh A, Neal CP, Pollard CA, Berry DP. Cystic Lesions of the Pancreas: a diagnostic and management dilemma. Pancreatology 2008; 8: 236-251 (RNM) são muito úteis na realização do diagnós- 2. Campbell F, Azdeh B. Cystic neoplasms of tico correto(6). As NCMs devem ser ressecadas the exocrine pancreas. Histopathology 2008; 52: por causa do potencial maligno que apresentam . 539-551 (2) Quanto às alterações genéticas, mutações no gene k-ras, p53 e SMAD4/DPC4 são mais comuns nas NCMs com componente invasivo(2). Dessa forma, a distinção em NCM não invasiva e NCM com componente invasivo é fundamental, pois a ressecção cirúrgica é curativa para a primeira; e, para a NCM com componente invasivo a sobrevida média de 5 anos está em torno 50-60%, tendo, mesmo assim, um prognóstico melhor do que o adenocarcinoma ductal de pâncreas(2,5). 3. Berindoague R, Targarona E, Savelli A, Pernas J, Lloreta J. Mucinous cystadenocarcinoma of the pancreas diagnosed in post partum. Langenbecks Arch Surg 2007; 392: 493-496 4. Adsay NV. Cystic neoplasia of the Pancreas: Pathology and Biology. J Gastrointest Surg 2008; 12: 401-404 5. Singh M., Maitra A. Precursor Lesions of Pancreatic Cancer: Molecular Pathology and Clinical Abstract Implications. Pancreatology 2007; 7: 9-19 Cystic neoplasms of the pancreas are uncommon, 6. Ishigami S, Baba K, Mataki Y, Noma H, Mae- accounting for approximately 1% of all pancreatic neoplasms and 1 to 15% of all pancreatic cysts. They are seen mostly in middle aged women and often require surgical treatment. We report and discuss a case of a 70-year-old female patient, mura K, Schinchi H, Takao S, Natsugoe S, Aikou T. Pancreatic Mucinous Cys Adenocarcinoma Producing CA 19-9. A Case Report. J Pancreas 207; 8(2): 228-231 in which a mucinous cystic neoplasm was diagnosed and an elective surgery was successfully performed. Key Words: Pancreas; cystic lesions; mucinous cystadenocarcinoma Endereço para contato: Manoel Messias de Campos Junior. Rua Dr. José Lourenço, 636, apto. 702, Meireles. Fortaleza, CE – Brasil. Email: [email protected] Fone: 75 ISSN21763771 Relato de caso Raphael Felipe Bezerra de Aragão1 Frederico Costa dos Santos1 Diego de Aragão Bezerra2 Elitonio Bezerra e Silva3 Cristiano Aparecido Cavalcante Inácio3 Linfoma esplênico primário. Primary splenic lymphoma. Serviço de Cirurgia do Hospital Geral César Cals Residente de Cirurgia Geral do Hospital Geral César Cals 3 Acadêmico de Medicina (Internato) da Universidade Estadual do Ceará 1 2 Introdução O linfoma esplênico primário, independente de e fígado a 5 cm do direito, sem adenomegalias como definido, é uma doença rara, corresponden- periféricas. do a 1% de todos os linfomas 1,2,3,4 ; entretanto, cer- ca de 20-50% de todos os linfomas cursam com envolvimento esplênico em algum momento de sua evolução1,4. É mais comum entre os linfomas não-Hodking que na doença de Hodking, geralmente cursando com sintomas inespecíficos, além de febre, perda ponderal e sudorese noturna1. As terapias correntes variam amplamente e a literatura não define nem indicações nem sugestões sobre a melhor abordagem após a esplenectomia1. Este relato objetiva apresentar um caso de linfoma esplênico primário confirmado após esplenectomia. Relato do caso Paciente do sexo feminino, de 40 anos, vindo há 3 meses da admissão com quadro de empachamento pós-prandial e desconforto abdominal. Ao exame clínico, apresentava abdome globoso com baço palpável a 5 cm do rebordo costal esquerdo 76 Os exames laboratoriais, incluindo o hemograma, eram normais. Realizou exames de imagem: I) Ultrassonografia (US) de abdome: vesícula de paredes finas, cheia e com sombra acústica no seu interior; baço aumentado de volume (165 x 101 x 100 mm), textura grosseira, sem evidência de nódulo ou cisto. Doppler: baço sem dilatação do sistema venoso portal; sistema venoso hepatoportal com fluxo normal. II) Radiografia de tórax sem alterações. III) Tomografia computadorizada (TC) de abdome: fígado e vias biliares de aspecto normal; baço bastante aumentado de volume às custas de uma lesão expansiva não homogênea, com focos mais densos em seu interior, de limites precisos medindo 150 x 120 mm nos seus maiores eixos axiais. A lesão rechaça o rim esquerdo para baixo e o estômago para a direita. A infusão de contraste observou impregnação de forma difusa com imagens que sugerem presença de vasos no interior da lesão (Figura 1). ISSN21763771 Figura 1 – TC de abdome com baço aumentado de volume. histoquímica, a qual sugeriu tratar-se de linfoma não-Hodgkin tipo B de células marginais. Figura 2 – Laparotomia Exploradora evidenciando baço aumentado e áreas de necrose no seu interior. O mielograma evidenciou aspirado medular normoplásico de todas as linhagens, sem depósitos de ferro e a sorologia para esquistossomose foi negativa. Foi indicada laparotomia exploradora, na qual Figura 3 – Peça Cirúrgica - Baço. foram encontrados: litíase biliar, baço bastante aumentado de volume com áreas de necrose em seu interior (Figura 2), ausência de adenomegalias ou implantes linfonodais, fígado normal, pedículo venoso esplênico e vasos gástricos curtos varicosos. Foi realizada esplenectomia (Figura 3) e colecistectomia incidental, com amostras enviadas para exame histopatológico, revelando: tecido hepático sem evidência de neoplasia; colecistite crônica; quadro histológico esplênico em favor de doença linfoproliferativa, sendo sugerida imuno77 ISSN21763771 Evoluiu bem no pós-operatório, recebendo alta ridades histológicas e imunológicas: linfoma hospitalar sem intercorrências e sendo encami- esplênico com linfócitos vilosos circulantes e nhada à quimioterapia complementar. linfoma esplênico da zona marginal, do qual trata o caso relatado. O primeiro é caracterizado por Discussão hiperesplenismo, linfócitos vilosos circulantes A definição de linfoma esplênico primário é con- e gamopatia monoclonal. O último se origina de troversa, podendo ser sumarizada em três formas: uma estrutura peculiar de células B separadas pela linfoma que envolve apenas baço e linfonodos zona do manto com linfócitos KiB3-positivo com do hilo esplênico; linfoma com envolvimento do núcleos redondos e citoplasma pálido; apresentam baço e esplenomegalia como uma característica ainda centros foliculares ao redor e infiltração da dominante; linfoma que apresenta esplenomegalia zona do manto1. com bicitopenia e ausência de adenopatias periféricas1. Ahmann definiu alguns critérios para facilitar a definição, de acordo com o envolvimento de outras estruturas: I) apenas o baço envolvido; II) envolvimento do baço e dos linfonodos esplênicos; III) envolvimento de outras estruturas. A vantagem desses critérios é separar os casos clara- Apesar de controversos, a maioria dos trabalhos sugere a realização da esplenectomia que funciona também como método diagnóstico, além de resolver as citopenias e os sintomas de massa1,3,4. Ainda se encontram em debate os papéis da radio e quimioterapia2,3,4. mente primários (I e II) daqueles presumidos (III). Há ainda autores que, devido a considerarem O caso apresentado trata de um paciente com en- o curso da doença indolente, adotam conduta volvimento exclusivo, que na literatura apresenta expectante2,3. um melhor prognóstico1. A apresentação clínica mais comum é a espleno- A sobrevida varia de 31-78%2,4 sendo pior nos pacientes com estágio III de Ahman. megalia em 44 a 73% , predominante na paciente 3.4 referida. Além disso, podem aparecer sintomas gerais (febre, perda ponderal e sudorese noturna), dor ou desconforto abdominal, anemia e trombocitopenia, entre outros. É importante realizar a investigação do envolvimento da medula óssea, de outros linfonodos, do fígado e de outros órgãos2, como foi descartado pelos exames realizados. O linfoma esplênico primário divide-se em duas entidades distintas baseadas nas suas peculia78 ABSTRACT Primary splenic lymphoma is a rare disease, corresponding to 1% of all lymphomas. We reported a case in a 40-years-old female with postprandial bloating and abdominal discomfort. The clinical examination showed that abdomen was distended with splenomegaly and hepatomegaly, without peripheral lymph. The patient underwent splenectomy. Surgical treatment is still controversial, ISSN21763771 but most authors suggest the implementation of splenectomy which is also a method diagnosis. The adjuvant treatment is under discussion Key words: primary splenic lymphoma; splenectomy; lymphoma. Endereço para contato Raphael Felipe Bezerra de Aragão Hospital Geral César Cals, Avenida do Imperador, nº 545, Centro - CEP 60.015-102 - Fortaleza / Ceará / Brasil. Email: [email protected] Fone: (85) 3101 7839 REFERÊNCIAS 1. Gobbi PG, Grignani GE, Pozzetti U et all. Primary splenic lymphoma: does it exist? Rev Haematologica 1994; 79:286-293. 2. Franco V, Florena AM, Lannitto E. Splenic marginal zone lymphoma. Rev Amer Society of Hematology. 2003; v.101 n.7:2464-2472. 3. Chácon JI, Mollejo M, Muñoz E et al. Splenic marginal zone lymphoma: clinical characteristics and prognostic factors in a series of 60 patients. Blood. 2002 100: 1648-1654. 4. Kim JK, Hahn JS, Kim GE et al. Three cases of diffuse large B-cell lymphoma presenting as primary splenic lymphoma. Yonsei Medical Journal. 2005: v.46. n. 5, 703-709. 5. Zhang R. Primary lymphoma of the spleen: clinical analysis of 23 cases. Zhonghua Wai Ke Za Zhi 2002 Mar; 40 (3): 208 – 9. 79 ISSN21763771 Relato de caso Everardo de Macedo Guanabara1 Andréa Gonçalves de Lima2 Carlos Renato Bezerra Mota2 Marcela Montenegro Braga Barroso3 Jaime Paula Pessoa Linhares Filho3 Transposição das grandes artérias. Transposition of the great arteries. 1 Mestre, Preceptor da Residência de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Geral César Cals 2 Residente de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Geral César Cals 3 Interno do Hospital Geral César Cals INTRODUÇÃO Transposição das Grandes Artérias (TGA), tam- Durante o acompanhamento pré-natal, a pacien- bém conhecida como transposição completa, é te apresentou-se normotensa e com as seguintes uma malformação cardíaca congênita caracteriza- glicemias: 87mg/dl (IG=16s2d) e 121mg/dl da por concordância átrio-ventricular e discordân- (IG=30s2d). Em nosso serviço, realizou TTGO cia ventrículo-arterial, em que a aorta encontra-se 50g (IG=38s4d), o qual evidenciou glicemia de conectada ao ventrículo direito e a artéria pulmo- jejum=84mg/dl e de 2h=166mg/dl, demonstrando nar ao ventrículo esquerdo1. intolerância à glicose. Foi realizada curva glicêmi- A exata etiologia é incerta, porém alguns fatores de risco estão associados, como diabetes gestacional, exposição materna a herbicidas e uso de anticonvulsivantes na gestação1. O presente caso trata-se de uma gestante, cujo feto é portador de transposição das grandes artérias. RELATO DO CASO M.M.D., 36 anos, G3P2A0, sendo dois partos vaginais, natural de Itapajé e procedente de Sobral, foi encaminhada para o Hospital Geral César Cals, no dia 14/01/2010, após realização de USG no pré-natal sugestiva de TGA, sendo realizado Ecodoppler fetal (15/12/2009) que confirmou o achado. No dia 19/01/2010, realizou Ecodoppler fetal em nosso serviço que também demonstrou TGA (Figura 1). 80 ca, a qual não confirmou o diagnóstico de diabetes. As sorologias realizadas de rotina no pré-natal foram negativas. Durante a gestação, a paciente evoluiu sem intercorrências e assintomática. A paciente nega patologias nas gestações anteriores, e seus filhos nasceram saudáveis e a termo. Na gravidez atual, nega uso de medicamentos, exposição a substâncias tóxicas ou outros fatores que poderiam levar a uma malformação fetal. Nega história familiar de malformações. É ex-tabagista e etilista social. Submeteu-se à cesariana no dia 21/01/2010 com idade gestacional de 39s2d pela USG de 17s (18/08/2009). Recém-nascido (RN), feminino, com Apgar de 8 (1º minuto) e 8 (5º minuto), peso de 3250g, comprimento de 50cm e Capurro 38s4d. RN foi encaminhado ao Hospital do Cora- ISSN21763771 ção de Messejana, tendo realizado ecocardiograma (Figura 2), que evidenciou TGA associada à Figura 3 – Aorta (apontada por pinça cirúrgica) emergindo do ventrículo direito. comunicação intra-ventricular. Foi submetido à cirurgia de Jatene (Figura 3), no dia 27/01/2009. Atualmente, encontra-se na UTI neonatal. Figura 1 - Ecodoppler fetal mostrando continuidade entre aorta (AO) e ventrículo direito (VD). DISCUSSÃO A TGA apresenta uma incidência estimada de 1 para 3.500 – 5.000 nascidos vivos e com predominância no sexo masculino (1.5:1)2. Nessa Figura 2 – Ecocardiograma do RN confirmando TGA. patologia, as circulações sistêmica e pulmonar correm em paralelo: o retorno venoso que chega ao átrio direito, retorna à circulação sistêmica por meio da aorta que emerge do ventrículo direito, formando um circuito fechado, enquanto o sangue oxigenado nos pulmões chega ao átrio esquerdo e retorna para os pulmões por meio da artéria pulmonar, que emerge do ventrículo esquerdo. Durante a vida intra-uterina, essa malformação não gera um grande problema, pois na circulação fetal existem o forame oval e o canal arterial, os quais são “shunts” que promovem a mistura do sangue. 81 ISSN21763771 Em 50% dos casos, a discordância ventrículo- da, avaliando o binômio materno-fetal de forma arterial é um fato isolado, condição designada plena, possibilitando o rastreio e diagnóstico de transposição simples. Nos casos em que há coe- condições maternas que impõem risco fetal ou se xistência com outras malformações, como defei- mostram associadas, como é o caso dos estados tos no septo ventricular, anormalidades no arco de intolerância a glicose e sua associação com aórtico e retorno venoso sistêmico anômalo, ela é malformações fetais, dentre estas as anomalias denominada transposição complexa1. congênitas cardíacas. A principal manifestação clínica corresponde ao ABSTRACT estado hipoxêmico, que é observado por uma cianose central. O seu início e severidade dependem das variações anatômicas e funcionais que influenciam o grau de mistura das duas circulações1. Transposition of great vessels (or great arteries) is a congenital cardiac malformation (heart defects, congenital), which aorta is connected with the right ventricle and the pulmonary trunk emerges O diagnóstico definitivo é dado pelo ecocardiogra- from the left ventricle. Its incidence is estimated ma, que apresenta grande importância no acompa- at 1 in 3.500 – 5000 live births. This pathology nhamento pré-natal, pois promove um manejo ne- is associated with some risk factors, as maternal onatal precoce, reduzindo a morbi-mortalidade3,4. exposure to rodenticides and herbicides, gestatio- O tratamento definitivo e de escolha da TGA consiste na cirurgia de Jatene, em que os troncos das artérias pulmonares e aorta são seccionados e suas extremidades distais são invertidas e anastomosadas. Essa cirurgia deve ser feita preferencialmente no primeiro mês de vida. Com o avanço das técnicas cirúrgicas, as taxas de sobrevivência atingem hoje cerca de 90% em 15 anos, porém, estudos recentes demonstram que esses pacientes podem apresentar um desempenho em exercícios físicos diminuída, bem como um comprometimento cognitivo e uma desfavorável nal diabetes mellitus and maternal use of antiepileptic drugs. It is diagnosed by echocardiography and the clinical manifestations are represented by central cyanosis. The Jatene arterial switch operation is usually the best treatment for transposition of great arteries. Key words: Transposition of great vessels; heart defects, congenital; diabetes mellitus; cyanosis. REFERÊNCIAS 1. Martins P, Castela E. Transposition of the great arteries. Orphanet J Rare Dis. 2008; 3: 27. qualidade de vida5. 2. Ho SY, Baker EJ, Rigby ML, Anderson RH. A apresentação do caso mostra a necessidade da phologic and Clinical Correlations. Londres: realização de uma assistência pré-natal adequa82 Color Atlas of Congenital Heart Disease – MorMosby-Wolfe; 1995. ISSN21763771 3. Bonnet D, Coltri A, Butera G, Fermont L, Le Bidois J, Kachaner J, Sidi D. Detection of Transposition of the Great Arteries in Fetuses Reduces Neonatal Morbidity and Mortality. Circulation. 1999;99:916–8. 4. Chantepie A, Schleich JM, Gournay V, Blay- Endereço para contato: Andreia Gonçalves de Lima Residente de Ginecologia e Obstetretrica Rua Álvaro Martins, 116A - Bairro Damas CEP: 60415-550 Email: [email protected] Fortaleza / Ceará / Brasil sat G, Maragnes P. Preoperative mortality in transposition of the great vessels. Arch Pediatr. 2000;7:34–9. 5. de Koning WB, van Osch-Gevers M, Harkel AD, van Domburg RT, Spijkerboer AW, Utens EM, Bogers AJ, Helbing WA. Follow-up outcomes 10 years after arterial switch operation for transposition of the great arteries: comparison of cardiological health status and health-related quality of life to those of the a normal reference population. Eur J Pediatr. 2008;167:995–1004. 83