UMA PROPOSTA DE ENSINO DE MECÂNICA NO ENSINO MÉDIO CONTEXTUALIZADO COM A ASTRONOMIA E A ASTRONÁUTICA Hugo Henrique de Abreu Pinto Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Física. Orientador: Sérgio Eduardo Silva Duarte Rio de Janeiro Março de 2012 ii UMA PROPOSTA DE ENSINO DE MECÂNICA NO ENSINO MÉDIO CONTEXTUALIZADO COM A ASTRONOMIA E A ASTRONÁUTICA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Física. Hugo Henrique de Abreu Pinto Aprovada por: ______________________________________________________________ Presidente, Prof. Dr. Sérgio Eduardo Silva Duarte, D. Sc. (orientador) ______________________________________________________________ Profa. Andreia Guerra de Moraes, D. Sc. ______________________________________________________________ Prof. Carlos Eduardo Magalhães de Aguiar, D. Sc. (UFRJ) Rio de Janeiro Março de 2012 iii Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do CEFET/RJ P659 Pinto, Hugo Henrique de Abreu Uma proposta de ensino de mecânica no ensino médio contextualizado com a astronomia e a astronáutica / Hugo Henrique de Abreu Pinto.—2012. xii, 189f. : il.col. , tab. ; enc. Dissertação (Mestrado) Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca ,2012 Bibliografia : f.84 – 88 Inclui apêndices Orientador : Sérgio Eduardo Silva Duarte. 1.Física 2.Mecânica (Ensino médio ) 3.Astronomia 4.Astronáutica I.Duarte,Sérgio Eduardo Silva (orient.)II.Título. CDD 530 iv Aos meus alunos. v AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Sérgio Eduardo Silva Duarte, por sempre acreditar no meu trabalho, pelo incentivo constante e por manter meu foco nos alunos. À minha companheira, Franciane Santos de Sousa, pelo apoio, incentivo e compreensão durante esses três anos de mestrado. E também pelos “testes de qualidade” do produto educacional. Ao meu grande amigo, Rodrigo de Sousa Gonçalves, por se divertir revisando minha dissertação e pelas valiosas sugestões. À direção do Colégio Estadual Capitão de Fragata Didier Barbosa Vianna, pelo total apoio à aplicação do projeto em sala de aula. Em especial, agradeço à diretora do colégio, Tânia de Lacerda Gabriel. Aos professores Dr. Carlos Eduardo Magalhães de Aguiar e Dra. Wilma Machado Soares Santos, do meu curso de Graduação (Instituto de Física / UFRJ), por terem “aberto os meus olhos” para as grandes possibilidades de inovação no ensino de física. Aos meus professores do Mestrado, pela grande contribuição à minha profissão como professor de física. Agradeço a todos os professores que ministraram disciplinas a mim (em ordem alfabética): Dr. Alvaro Chrispino, Dra. Andreia Guerra, Dr. Marco Braga, Dra. Mônica Waldhelm, Dr. Sérgio Duarte (meu orientador) e Dra. Tereza Fachada. vi RESUMO UMA PROPOSTA DE ENSINO DE MECÂNICA NO ENSINO MÉDIO CONTEXTUALIZADO COM A ASTRONOMIA E A ASTRONÁUTICA Hugo Henrique de Abreu Pinto Orientador: Sérgio Eduardo Silva Duarte Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Física. Este trabalho tem como objetivo contribuir para uma maior aproximação entre os currículos tradicionalmente aplicados na disciplina de física de nível médio e as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), em especial em relação à contextualização e à organização de conteúdos em temas estruturadores. Isso é feito através de uma proposta de ensino de mecânica, utilizando como tema estruturador a “astronomia e astronáutica”. Ao longo do trabalho, são apresentados alguns resultados da aplicação da proposta em uma turma de um colégio estadual. Como produto educacional, desenvolvemos uma hipermídia, com os conteúdos trabalhados em aula, que pode servir como material didático a alunos e suporte a professores. A hipermídia se encontra disponível em www.hugo.pro.br/astronomia.htm. A proposta considera a realidade do ensino noturno da rede estadual do Rio de Janeiro, mas ela pode ser aplicada em outros contextos, com as devidas adaptações. Com isso, esperamos que este trabalho contribua para uma releitura curricular por parte de outros professores de física em diferentes contextos escolares. Palavras-chave: Astronomia; Astronáutica; Ensino de Física. Rio de Janeiro Março de 2012 vii ABSTRACT A PROPOSAL FOR TEACHING MECHANICS IN HIGH SCHOOL CONTEXTUALIZED WITH ASTRONOMY AND ASTRONAUTICS Hugo Henrique de Abreu Pinto Advisor: Sérgio Eduardo Silva Duarte Abstract of dissertation submitted to Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática - Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ, as partial fulfillment of the requirements for the degree of Master in Teaching Physics. This work aims to contribute to a further approximation between the curriculum traditionally applied in the discipline of physics in high school and the orientations of the Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), especially concerning to the contextualization and organization of content in structuring themes. This is made through a proposal of teaching on mechanics, using the structuring themes "astronomy and astronautics." Throughout the present work we present some results of the proposal implementation in a class of a state high school. As educational product, we developed a hypermedia, with the contents worked in class, which can serve as teaching material for students and support teachers. The hypermedia available in www.hugo.pro.br/astronomia.htm. The proposal considers the reality of evening study of the state of Rio de Janeiro, but it can be applied in other contexts, with the necessary adaptations. With this in mind, we hope this work contribute to a rereading curriculum by other physics teachers in different school contexts. Keywords: Astronomy; Astronautics; Teaching of Physics. Rio de Janeiro March, 2012 viii Sumário I Introdução 1 II Estudos Relacionados 5 II. 1 Astronomia e Astronáutica como Exemplos para a Física 6 II. 2 Astronomia e Astronáutica como Temas para a Física 7 II. 3 Comentários 9 Referencial Teórico 10 III. 1 A Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel 11 III IV III. 1. 1 A Identificação dos Subsunçores 12 III. 1. 2 Os Organizadores Prévios 13 III. 1. 3 Evidências da Aprendizagem Significativa 13 III. 2 A Teoria da Educação de Novak 14 III. 3 O Referencial Teórico e o Desenvolvimento do Trabalho 15 Justificativa e Motivação 16 IV. 1 A Aplicação dos PCNs 16 IV. 2 O Ensino Médio Noturno 19 IV. 2. 1 O Colégio Estadual Capitão de Fragata Didier Barbosa Vianna 21 IV. 2. 2 A Motivação como Estratégia para o Ensino Médio Noturno 24 IV. 3 A Astronomia e a Astronáutica no Ensino de Física 24 IV. 3. 1 A Astronomia e a Astronáutica como Elementos Motivadores para a Física 25 IV. 3. 2 A Física para a Compreensão de Temas Científicos e Tecnológicos IV. 3. 3 A Importância dos Conhecimentos Astronômicos e Astronáuticos V 26 27 IV. 4 A Hipermídia como Produto Educacional 28 Metolodogia 29 V.1 Os Conhecimentos Prévios dos Alunos 30 V. 1. 1 A Investigação e Análise dos Conhecimentos Prévios 30 ix V. 1. 2 Os conhecimentos Prévios e o Desenvolvimento do Trabalho V. 2 A Proposta Curricular V. 2. 1 Proposta Curricular para o Primeiro Bimestre V. 2. 1. 1 Unidade Temática 1: Qual é o Tamanho do Universo? 45 46 49 49 V. 2. 1. 2 Unidade Temática 2: Os Corpos Celestes se 49 Movimentam? V. 2. 2 Proposta Curricular para o Segundo, Terceiro e Quarto Bimestres VI VII 50 V. 3 Metodologia de Avaliação do Projeto 51 V. 4 O Produto Educacional 52 Aplicação do Projeto 53 VI. 1. Aplicação do Questionário de Conhecimentos Prévios 54 VI. 2 Aulas do Primeiro Bimestre 54 VI. 2. 1 Primeira Aula 54 VI. 2. 2 Segunda Aula 58 VI. 2. 3 Terceira Aula 59 VI. 2. 4 Quarta Aula 61 VI. 2. 5 Quinta Aula 64 VI. 3 Aulas do Segundo Bimestre 67 VI. 4 Aulas do Terceiro Bimestre 67 VI. 5 Aulas do Quarto Bimestre 68 Avaliação do Projeto 69 VII. 1 A Compatibilidade com o Público Alvo e o Tempo Disponível 69 VII. 2 A Função Didática do Questionário de Conhecimentos Prévios 69 VII.3 Análise das Reações dos Alunos no Primeiro Bimestre 70 VII. 4 Análise das Notas das Provas do Primeiro Bimestre 72 VII. 5 Questionário de Conhecimentos Prévios x Provas do Primeiro Bimestre 74 VII. 6 Discussão dos Resultados 79 VII. 7 A Avaliação do Projeto e o Produto Educacional 80 x VIII Considerações Finais 81 Referências Bibliográficas 84 Apêndice I – Questionário de Conhecimentos Prévios 89 Apêndice II – Prova do Primeiro Bimestre 91 Apêndice III - Produto Educacional - Texto 94 Apêndice IV – Produto Educacional – Guia do Professor 177 Apêndice V – CD-ROM com Produto Educacional 189 xi Lista de Figuras Figura IV.1 – Maquete sobre usina termonuclear e distribuição de energia elétrica............................ Figura IV.2 – Localização do C.E Capitão de Fragata, obtida pelo Google Maps................................ Figura IV.3 – Área externa do C.E. Capitão de Fragata....................................................................... Figura V.1 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 1)......................................................... Figura V.2 – Exemplos de desenhos de alunos (questão 1)............................................................... Figura V.3 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 2).......................................................... Figura V.4 – Exemplos de desenhos de alunos (questão 2)................................................................ Figura V.5 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 3).......................................................... Figura V.6 – Exemplos de desenhos dos alunos (questão 3).............................................................. Figura V.7 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 4).......................................................... Figura V.8 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 5).......................................................... Figura V.9 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 6).......................................................... Figura V.10 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 7)........................................................ Figura V.11 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 8)........................................................ Figura V.12 – Questionário de conhecimentos prévios (questão 9)..................................................... Figura V.13 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 10)...................................................... Figura V.14 – Exemplos de respostas dos alunos (questão 9)............................................................. Figura V.15 - Questionário de conhecimentos prévios (questão 10).................................................... Figura V.16 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 10)..................................................... Figura V.17 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 11)...................................................... Figura V.18 – Questionário de conhecimentos prévios (questão 11)................................................... Figura V.19 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 12)...................................................... Figura V.20 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 13). .................................................... Figura V.21 – Questionário de conhecimentos prévios (questão 14)................................................... Figura V.22 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 14)...................................................... Figura VI.1 - Representação do Sistema Solar fora de escala de tamanho e distância....................... Figura VI.2 - Representação do Sistema Solar em escala de tamanho............................................... Figura VI.3 - Algumas estrelas e o planeta Júpiter em escalas de tamanho........................................ Figura VI.4 – Astros do Sistema Solar em escala de distância............................................................ Figura VI.5 - Trajetória de estrelas no céu, obtida com fotografia de longa exposição........................ Figura VI.5 – Representação dos dias e das noites com globo terrestre............................................. Figura VI.6 – Astronauta no espaço com Terra ao fundo, sob pontos de vista diferentes................... Figura VI.7 – Ônibus espacial ejetando seus foguetes propulsores..................................................... Figura VI.8 – Professor realizando experimento do “foguete de garrafa pet”, em sala de aula............ Figura VI.9 – Órbitas de satélites........................................................................................................ Figura VI.10 – Prova do quarto bimestre.............................................................................................. Figura VII.1 – Notas na prova do primeiro bimestre em função da frequência às aulas...................... Figura VII.2 – Notas mais altas na prova do primeiro bimestre em função da frequência às aulas..... Figura VII.3 – Distribuição de respostas dos alunos (questão 4 x questão 5)...................................... Figura VII.4 – Distribuição de respostas dos alunos (questão 6 x questão 2)...................................... Figura VII.5 - Pré-teste (questão 10), pós-teste (questão 8)............................................................... Figura VII.6 – Distribuição de respostas dos alunos (questão 10 x questão 8).................................... Figura VII.7 – Distribuição de respostas dos alunos (questão 11 x questão 10).................................. 22 22 23 31 32 32 33 33 34 35 35 36 37 38 38 39 39 40 40 41 42 42 43 43 44 55 55 56 57 59 61 62 64 65 66 68 72 73 75 76 77 77 78 xii Lista de Tabelas Tabela V. 1 – Grade curricular da segunda série do E.M. da rede estadual do Rio de Janeiro.......... 48 1 Capítulo I - Introdução Atualmente, podemos imaginar que todo aquele que inicia uma carreira como professor de física deve enfrentar um dilema: este profissional, ao pisar em sala de aula pela primeira vez, além de pensar em seu próprio sustento, deve ter pelo menos uma vaga noção dos seus objetivos. Esses objetivos envolvem, entre outros fatores, os conteúdos abordados, as metodologias de aplicação dos conteúdos e os motivos para abordá-los. Para tanto, o professor tem à sua disposição, entre outras coisas: sua experiência como aluno de ensino médio; a abordagem de física dos livros didáticos mais adotados no país; os objetivos do ensino e as diretrizes curriculares oficialmente estabelecidos na LDB (BRASIL, 1996) e nas DCNs (BRASIL, 1998); as orientações curriculares nacionais, como os PCNs (BRASIL, 2000; BRASIL, 2002) e os OCNs (BRASIL, 2006); as estruturas curriculares estabelecidas pelos próprios colégios e/ou pelas secretarias de educação de cada estado; as necessidades mais pragmáticas dos alunos, como se preparar para um vestibular ou simplesmente adquirir um diploma de ensino médio como uma forma de ascensão social. Além de todos esses fatores, devemos considerar ainda a realidade de cada contexto escolar. Por mais que um professor tenha uma visão educacional formada no momento em que conclui seu curso de licenciatura, não raramente professores de ensino médio se deparam com alunos que não possuem nem ao menos o nível mínimo de conhecimento esperado daqueles que já passaram pelo ensino fundamental. Isso leva muitos professores a adaptar todo o seu currículo e metodologia a cada perfil de aluno que encontra em sua vida profissional. Isso significa que não existe uma fórmula pronta sobre o “como ensinar”. Mais do que isso, muitas vezes o professor pode ter a impressão de que alguns dos elementos citados acima, que deveriam contribuir para a definição de sua linha pedagógica, são contraditórios uns em relação aos outros. Por exemplo, muitos colocam as exigências dos principais exames de vestibular do país como contraditórios às orientações de desenvolvimento de competências e habilidades dos PCNs. Outros argumentam que as estruturas curriculares pensadas para grandes redes de ensino, como as estabelecidas pelas secretarias de estado de educação, são inadequadas para as realidades particulares dos alunos de cada colégio específico. 2 Com essas dificuldades, não devemos nos admirar ao vermos professores optando pelo caminho educacional mais simples, ou seja, reproduzindo a linha pedagógica que tiveram em seu próprio ensino médio. Obviamente, existe um grande esforço de aproximação de diretrizes e orientações educacionais aparentemente antagônicas. Vejamos alguns exemplos: o Novo Enem é visto por alguns como uma tentativa de aproximação das exigências dos exames vestibulares com as orientações dos PCNs; os currículos estabelecidos por redes de ensino são muitas vezes reestruturados como tentativa de uma melhor adaptação às realidades escolares; existem esforços de formação de professores, como os mestrados profissionais em ensino e os cursos de aperfeiçoamento de professores, que, de uma forma geral, visam estimular e dar condições aos professores de superarem as linhas pedagógicas utilizadas por seus próprios professores no ensino médio. Apesar desses esforços, acreditamos que uma das melhores formas de verificação de todas as linhas educacionais atuais é a tentativa de aplicação de tais ideias em sala de aula. Não podemos esquecer que o “freguês” de qualquer professor é o aluno, e que toda produção educacional acadêmica, por mais teórica que seja, deve ter por objetivo atingir o aluno, direta ou indiretamente. Dentro dessa perspectiva, acreditamos que este trabalho possa contribuir para uma maior aproximação entre os conteúdos de física tradicionalmente aplicados no ensino médio e os PCNs. Isso é feito por meio de uma proposta de organização de conteúdos e metodologia de ensino testada em sala de aula, em uma turma de segundo ano do ensino médio. De forma específica, este trabalho representa uma proposta de adaptação de conteúdos tradicionais de física às orientações dos PCNs+ (BRASIL, 2002) relativas à contextualização e organização dos conteúdos em temas estruturadores (seção IV.1). Quando falamos em organização de conteúdos em temas estruturadores, devemos considerar que um mesmo conjunto de conteúdos pode ser abordado dentro de vários temas diferentes. Assim, por exemplo, o estudo da mecânica em nível médio pode ser abordado dentro de temas como “o trânsito”, “a física dos parques de diversão”, “os movimentos dos corpos celestes” etc. Isto significa que todo conteúdo organizado em temas estruturadores sempre irá se tratar de uma escolha em particular. No caso do presente trabalho, optamos por fazer uma proposta de ensino de física de nível médio usando como tema estruturador a “astronomia e astronáutica”. Apesar de existirem outros possíveis temas estruturadores para a física do ensino médio, nossa escolha pelo tema “astronomia e astronáutica” não foi arbitrária. Atualmente, tal 3 tema é recorrente no cotidiano do cidadão comum, através da mídia, além de despertar uma curiosidade e fascínio por parte de muitos cidadãos não especializados na área (seção IV.3.1). Acreditamos que o caráter motivador do tema “astronomia e astronáutica” é especialmente relevante dentro do contexto escolar onde o projeto foi aplicado, ou seja, no ensino médio noturno, onde a maioria dos alunos são trabalhadores e existem altas taxas de evasão escolar e baixa frequência às aulas (seção IV.2). Devido a restrições de tempo e espaço, limitamos nossa proposta ao ensino dos conteúdos de mecânica, em geral aplicado em apenas um dos três anos do ensino médio. Apesar disso, acreditamos que o tema estruturador “astronomia e astronáutica” pode ser usado no ensino de todas as áreas tradicionais do ensino médio. Isso significa que este trabalho dá apenas um exemplo da utilização de tais temas no ensino de física. O curso de mecânica descrito neste trabalho foi aplicado em sala de aula ao longo de todo o ano letivo de 2010, mas podemos dividi-lo em duas partes bem delimitadas: o primeiro bimestre do ano letivo e o restante do ano. No primeiro bimestre, foi dada uma “visão geral” dos conteúdos de mecânica que seriam trabalhados ao longo do ano, de forma qualitativa, dentro do tema estruturador “astronomia e astronáutica”. No restante do ano letivo, foi retomada a organização tradicional dos conteúdos, com os temas do primeiro bimestre sendo usados como exemplos e elementos motivadores na aplicação de tais conteúdos. As aulas do primeiro bimestre foram desenvolvidas com ampla utilização de imagens, simulações e animações computacionais, além de alguns experimentos. Para tornar nossas propostas mais concretas e permitir a outros professores aplicá-las, essas aulas foram escritas em formato HTML, na forma de um produto educacional, disponíveis no CD-ROM em anexo (apêndice V). O formato HTML foi escolhido por possibilitar a inclusão de textos interativos, além de vários tipos de mídias, como imagens, vídeos, applets etc. Um material nesse formato define o que é chamado atualmente de hipermídia e existem estudos que mostram as contribuições desse tipo de sistema para o ensino de ciências (seção IV.4). O formato de hipermídia também foi escolhido pela possibilidade de acesso direto através da internet, sem a necessidade de downloads e impressões de textos. A hipermídia produzida se encontra disponível em www.hugo.pro.br/astronomia.htm. Apesar das vantagens do formato hipermídia, também foram disponibilizados no CDROM o texto da hipermídia, em formato PDF, e apresentações relativas aos conteúdos da hipermídia, em formato PPT, para serem utilizadas em sala de aula. Por fim, foi feita uma análise qualitativa e quantitativa dos resultados da aplicação do projeto, focando na aplicação do primeiro bimestre, mas também avaliando as contribuições dos temas do primeiro bimestre para o restante do ano. A análise qualitativa foi feita através de 4 registros das reações dos alunos ao longo das aulas, realizados pelo professor/pesquisador, buscando evidências do caráter motivador do material produzido. A análise quantitativa buscou evidências da aprendizagem significativa ao longo do primeiro bimestre, através dos resultados das provas bimestrais e da comparação de resultados de questões específicas, aplicadas no início e no fim do primeiro bimestre. Em resumo, podemos dizer que este trabalho teve dois objetivos principais: mostrar a possibilidade de aplicação das orientações dos PCNs de contextualização e organização de conteúdos em temas estruturadores, usando como exemplo o caso específico do ensino de mecânica no ensino médio noturno da rede estadual do Rio de Janeiro, e tendo como tema estruturador a astronomia e a astronáutica; mostrar a contribuição de tal metodologia de ensino para a aprendizagem significativa dos conteúdos curriculares tradicionais da disciplina de física de nível médio, através da utilização da astronomia e da astronáutica como elementos motivadores à aprendizagem de conceitos físicos. Apesar de termos uma proposta bem específica e voltada para um público também específico, obviamente qualquer professor pode se sentir a vontade para utilizar nosso produto educacional da forma que mais lhe convenha, fazendo as adaptações necessárias. 5 Capítulo II - Estudos Relacionados Neste capítulo, apresentaremos um breve panorama dos trabalhos de pesquisa em ensino de física que consideramos relacionáveis com o presente trabalho. Para tanto, foi feita uma pesquisa por amostragem, considerando os artigos publicados no Caderno Brasileiro de Ensino de Física, na Revista Brasileira de Ensino de Física e na revista A Física na Escola entre os anos de 2001 e 2010, além das dissertações do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática do CEFET/RJ e do Mestrado Profissional em Ensino de Física da UFRGS, defendidas no mesmo período de tempo. As revistas citadas foram escolhidas por apresentarem trabalhos voltados especificamente ao ensino de física, apesar de termos consciência da existência de ótimos trabalhos de ensino de física publicados em revistas de ensino de ciências. Demos atenção especial ao Mestrado Profissional em Ensino de Física da UFRGS, pois, além de ser um dos primeiros mestrados brasileiros nessa área, ele possui uma linha de pesquisa específica de ensino de astronomia [1]. Consideramos como principal elemento diferenciador do presente trabalho a utilização da astronomia e da astronáutica como contribuição à aprendizagem de física no ensino médio regular. Portanto, esse foi o critério utilizado para relacionarmos os trabalhos pesquisados ao nosso. Durante a pesquisa, encontramos metodologias diferenciadas de utilização da astronomia e astronáutica como contribuição ao ensino de física. Assim, para tornar nossa pesquisa mais objetiva, resolvemos classificar esses trabalhos em duas categorias: trabalhos que utilizam a “astronomia e astronáutica como exemplos para a física” (seção II.1) e trabalhos que utilizam a “astronomia e astronáutica como temas para a física” (seção II.2). É importante deixar claro que não estamos propondo uma dicotomia entre as formas de utilização da astronomia e astronáutica no ensino de física. Temos consciência de que existe uma ampla variedade de abordagens desse tipo e, por isso, faremos apenas uma classificação, considerando as abordagens que possuam uma identidade maior com uma ou outra categoria, dentro de nossa avaliação. Também não pretendemos apresentar um perfil conclusivo dos estudos relacionados ao presente trabalho, já que utilizamos critérios de classificação subjetivos. Nem todos os trabalhos pesquisados apresentavam propostas concretas de intervenção em sala de aula. Nesses casos, tivemos que usar nossa interpretação, a fim de avaliar os [1] Informação disponível na página do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física da UFRGS, seção “informações”, disponível em http://www.if.ufrgs.br/ppgenfis/index.php (acesso em 6 mar. 2012). 6 trabalhos com “potencial” (ou não) de aplicação ao ensino médio regular. Seguindo essa linha, também citamos alguns trabalhos voltados para a disciplina de “ciências” do ensino fundamental, mas que poderiam ser adaptados para o ensino médio. A seguir, vamos descrever cada uma das categorias de trabalhos pesquisados e vamos citar esses trabalhos. II. 1 Astronomia e a Astronáutica como Exemplos para a Física Os trabalhos desta seção usam tópicos de astronomia e astronáutica como exemplos e aplicações dos conteúdos de física do ensino médio. Eles não propõem alterações significativas da estrutura curricular do ensino médio, mas propõem o enriquecimento dos conteúdos curriculares tradicionais de física no ensino médio com aplicações dentro da astronomia e astronáutica. Uma das aplicações mais óbvias da física dentro da astronomia e da astronáutica é através da gravitação universal newtoniana, como forma de explicar fenômenos como os movimentos dos corpos celestes, as órbitas de satélites artificiais e as marés. Dentre os trabalhos que usam exemplos da astronomia e astronáutica e que podem ser usados para enriquecer o conteúdo curricular da gravitação universal newtoniana, podemos citar o de SILVEIRA (2003) e o de PRAXEDES e PEDUZZI (2009). Em particular, o trabalho de Praxedes e Peduzzi faz uma proposta de aplicação de dois artigos de MEDEIROS (2001, 2002). O segundo artigo de Medeiros ainda possui uma continuação (MEDEIROS, 2003). SILVEIRA, BRAUN, F. e BRAUN, T. (2010) aplicam conceitos de gravitação e colisões no exemplo do “estilingue gravitacional”, utilizado para aumentar a energia mecânica de sondas espaciais ao passarem nas imediações de planetas. O trabalho de PIRES e VEIT (2006) descreve uma dissertação de mestrado da UFRGS (PIRES, 2005), que apresenta um projeto testado em sala de aula, trabalhando o tema da gravitação universal, dentro da estrutura curricular tradicional, e enriquecendo este assunto com o que chama de “temas afins”. Na verdade, o foco deste trabalho está na utilização das tecnologias da informação e comunicação como contribuição ao ensino regular. Encontramos dois trabalhos envolvendo movimentos astronômicos em diferentes referenciais (AGUIAR; BARONI; FARINA, 2009; SILVA; CATELLI; GIOVANNINI, 2010). Esses trabalhos poderiam ser usados para exemplificar o conceito de referencial, dentro do ensino médio regular. Também encontramos dois trabalhos exemplificando a terceira lei de Newton através da astronáutica (SOUZA, 2007; REIS et al., 2008). 7 Dentre os trabalhos pesquisados, verificamos uma recorrência de tópicos de astronomia como aplicação da óptica (geométrica e física). Um exemplo que encontramos em cinco artigos (CANALLE, 2004; CANALLE; SOUZA, 2005; BERNARDES et al., 2006; BERNARDES; SCALVI, 2008; IACHEL et al.; 2009) foi a da construção de lunetas ou telescópios, com propostas de utilização não só para observações astronômicas, mas também para a discussão da física por trás desses instrumentos. A óptica também aparece aplicada à astronomia em trabalhos que tratam de eclipses solares e lunares (LIMA; ROCHA, 2004), cores e tamanho da Lua observados da Terra (SILVEIRA; MEDEIROS, 2006; SILVEIRA; SARAIVA, 2008 a), cores do céu e do pôr do Sol (ROCHA et al.; 2010), além de sombras e imagens do Sol (SILVEIRA; AXT, 2001, 2007; SILVEIRA; SARAIVA, 2008 b). Encontramos outros temas da física, exemplificados pela astronomia, menos recorrentes que os anteriores. O trabalho de LATTARI e TREVISAN (2001) mostra a aplicação do conceito físico de ondas, através da radioastronomia. O trabalho de SCHAPPO (2009) usa conceitos geométricos e de cinemática em uma proposta experimental de determinação da velocidade angular de rotação da Terra. II. 2 Astronomia e Astronáutica como Temas para a Física Os trabalhos desta seção propõem a introdução de tópicos de física do ensino médio através de temas relacionados a astronomia e a astronáutica. Dentro desta proposta, a estrutura tradicional de abordagem de conteúdos de física é substituída pela abordagem de temas de astronomia e astronáutica (pelo menos em um certo período do ano letivo) e os tópicos de física são introduzidos de forma contextualizada com esses temas. A metodologia proposta por DIAS, SANTOS e SOUZA (2004), propõe a apresentação da gravitação universal dentro de uma perspectiva histórica, antes da apresentação tradicional dos conteúdos, como um organizador prévio da teoria de David Ausubel (seção III.2). Desse modo, os conteúdos tradicionais de mecânica, especialmente os da gravitação universal, são apresentados de forma contextualizada com a história da física e da astronomia. O trabalho de REIS e GARCIA (2006) descreve a aplicação de uma aula sobre educação espacial, em turmas de 5ª série do ensino fundamental (atual 6º ano), onde a lei da ação e reação foi trabalhada dentro desse contexto. Ao pesquisarmos as dissertações produzidas no Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática do CEFET/RJ, encontramos um trabalho que aborda a astronomia em uma perspectiva histórica, utilizando tal tema a favor da aprendizagem no ensino médio (NASCIMENTO, 2007). [2] Tivemos acesso apenas ao resumo dessa dissertação. [2] 8 Dentre as dissertações do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da UFRGS, encontramos cinco delas onde, em vez de ser aplicada a estrutura curricular tradicional de física (dividida em mecânica, termologia etc...), foram aplicados temas de astronomia, com conceitos físicos surgindo dentro desse contexto. A dissertação de DEBOM (2010) apresenta uma proposta de ensino de astronomia e ciências afins em um curso extracurricular, usando imagens e observações astronômicas como motivação. Apesar do caráter extracurricular, o público alvo são alunos do ensino médio. Além disso, e os conteúdos ministrados envolvem uma grande quantidade de conceitos físicos presentes no ensino médio, contextualizados com os temas astronômicos. A dissertação de MESS (2004) apresenta uma proposta voltada para a 8ª série do ensino fundamental (atual 9º ano). Nesse trabalho, o autor mostra que estrutura curricular do 9º ano abordada por livros de ciências consagrados não é muito diferente da estrutura curricular de física do ensino médio, e a partir daí propõe uma estrutura curricular alternativa para o segundo semestre do ano letivo, trabalhando com temas de astronomia. Em sua proposta, conteúdos diversificados dos currículos tradicionais de física, como luz, calor e movimentos são trabalhados dentro do contexto da astronomia. Avaliamos que uma abordagem desse tipo no 9º ano do ensino fundamental é mais natural do que no ensino médio, já que os conteúdos de física tradicionalmente ministrados no 9º ano são trabalhados novamente no ensino médio, de uma forma mais aprofundada, mas sem a necessidade de “pré-requisitos” das aulas de ciências. O trabalho de NEITZEL (2006) é voltado especificamente para o ensino médio, onde o autor substitui a estrutura tradicional de física do segundo ano por temas ligados a astronomia, com ênfase em astrobiologia. Assim como no trabalho citado anteriormente, neste trabalho, testado em sala de aula, conteúdos tradicionais de física vão surgindo de acordo com as necessidades do tema, de forma diversificada. Já na dissertação de SCHMITT (2005), a astronomia é utilizada no ensino médio para trabalhar especificamente os conteúdos curriculares de radiações eletromagnéticas, mas com uma abordagem mais geral que a tradicional, tratando inclusive de aspectos da física moderna, como a quantização da energia da radiação eletromagnética. Isso é feito abordando os métodos modernos de observações astronômicas, através de diferentes faixas do espectro eletromagnético, no último bimestre de uma turma do terceiro ano do ensino médio. No trabalho de KEMPER (2008), o objetivo principal é o desenvolvimento de um curso de um ano letivo de mecânica, no ensino médio, de forma contextualizada com temas astronômicos. A particularidade nesse caso é a abordagem da astronomia com um caráter histórico e epistemológico, aproveitando-se da proximidade que existe entre o desenvolvimento histórico da mecânica e da astronomia. 9 II. 3 Comentários Para efeito de comparação, devemos considerar que nosso trabalho se enquadra na seção II.2 (“astronomia e astronáutica como temas para a física”), já que ele propõe a organização curricular em temas estruturadores. Dentre os trabalhos pesquisados, 26 deles foram inseridos na seção II.1 (“astronomia e astronáutica como exemplos para a física”) e apenas 8 deles foram inseridos na seção II.2 (“astronomia e astronáutica como temas para a física”). Devemos lembrar também que nosso trabalho propõe o desenvolvimento de conceitos de mecânica de nível médio. Dentre os 8 trabalhos citados na seção II.2 (que poderíamos considerar como mais próximos da nossa proposta), três deles abordam especificamente conceitos de mecânica: o artigo de DIAS, SANTOS e SOUZA (2004) e as dissertação de NASCIMENTO (2007) e de KEMPER (2008). Entretanto, esses três trabalhos abordam conceitos de mecânica dentro de contextos históricos, diferente do nosso trabalho. Apesar de a pesquisa sobre as contribuições da astronomia e astronáutica ao ensino de física não ser algo inédito, podemos ver, a partir da amostragem de trabalhos deste capítulo, que o nosso trabalho possui características específicas que o distingue dos demais, servindo como mais uma contribuição a essa linha de pesquisa. Ainda vale ressaltar que, entre os 8 trabalhos que usam a “astronomia e astronáutica com temas para a física”, 6 são dissertações de mestrado profissional em ensino de ciências ou em ensino de física. Isso dá uma dimensão da contribuição desses mestrados para reformas curriculares mais amplas, em relação ao que é usualmente encontrado em artigos de periódicos. 10 Capítulo III - Referencial Teórico Em um contexto educacional real, tão importante quanto a escolha de conteúdos que serão trabalhados com os alunos, é o desenvolvimento de metodologias que favoreçam a aprendizagem de tais conteúdos. Nesse sentido, o conhecimento do que hoje são denominadas como teorias da aprendizagem (MOREIRA, 1999), podem contribuir para o desenvolvimento de metodologias de ensino de forma consciente e embasada. Neste trabalho, desenvolvemos uma metodologia de ensino baseada na Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel (AUSUBEL, 1968, 1978, 1980 apud MOREIRA, 1999, p. 151) e na Teoria da Educação de Joseph D. Novak (NOVAK, 1981 apud MOREIRA, 1999). Veremos que a própria escolha do tema “astronomia e astronáutica”, em parte, foi influenciada por tais teorias. Para situar essas duas teorias dentro de um contexto mais amplo, devemos considerar que, segundo MOREIRA (1999), as teorias da aprendizagem tratam de três tipos gerais de aprendizagem: cognitiva, afetiva e psicomotora. A aprendizagem cognitiva resulta em um armazenamento organizado de informações na mente do ser que aprende; a aprendizagem afetiva resulta em mudanças internas ao indivíduo, identificadas com experiências tais como prazer e dor, satisfação ou descontentamento, alegria ou ansiedade; a aprendizagem psicomotora envolve respostas musculares adquiridas por meio de treino e prática. Devemos ter claro, entretanto, que esta distinção é apenas uma questão de foco, já que aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores da aprendizagem ocorrem frequentemente de forma concomitante. A Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel dá ênfase à aprendizagem cognitiva, embora reconheça a importância da experiência afetiva. A Teoria da Educação de Novak integra a Teoria da Aprendizagem Significativa, ou seja, também considera aspectos cognitivos, mas possui uma proposta mais ampla, enfatizando também as características afetivas da aprendizagem (MOREIRA, 1999). Devemos considerar também que a Teoria da Aprendizagem Significativa está constantemente voltada para a aprendizagem tal como ela ocorre em sala de aula, no dia-a-dia da grande maioria das escolas (MOREIRA, 1999). Isso é especialmente útil em trabalhos como o nosso, com aplicação em sala de aula e desenvolvimento de um produto educacional. A seguir, faremos uma breve explanação destas duas teorias, focando nos aspectos mais relevantes para o presente trabalho. A maior parte dessa explanação é baseada nos livros Teorias da Aprendizagem (MOREIRA, 1999) e Aprendizagem Significativa: A Teoria de David Ausubel (MOREIRA, 1982). 11 III. 1 A Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel A teoria de Ausubel parte da premissa que o armazenamento de informações no cérebro humano é feito de forma organizada e hierarquizada, na qual conceitos mais específicos de conhecimento são ligados a conceitos mais gerais e inclusivos. Essa rede conceitual é conhecida como estrutura cognitiva (MOREIRA, 1982). A partir dessa premissa, Ausubel distingue dois tipos de aprendizagem: a aprendizagem mecânica e a aprendizagem significativa. A aprendizagem mecânica é aquela em que as novas informações possuem pouca ou nenhuma interação com conceitos relevantes préexistentes na estrutura cognitiva. Podemos considerar como exemplo de aprendizagem mecânica a famosa “decoreba”. Na aprendizagem significativa, ao contrário, uma nova informação relaciona-se, ou ancora-se, a conceitos ou proposições especificamente relevantes, existentes na estrutura cognitiva do indivíduo (MOREIRA, 1982). O conceito de aprendizagem significativa é central na teoria de Ausubel. Nas palavras de Ausubel: “A essência do processo de aprendizagem significativa é que ideias simbolicamente expressas sejam relacionadas de maneira substantiva (nãoliteral) e não arbitrária ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum aspecto de sua estrutura cognitiva especificamente relevante para a aprendizagem dessas ideias. Esse aspecto especificamente relevante pode ser, por exemplo, uma imagem, um símbolo, um conceito, uma proposição, já significativo.” (apud MOREIRA, 1999, p. 155-156) Ausubel chama os conceitos pré-existentes relevantes para a aprendizagem significativa de conceitos subsunçores [3] (MOREIRA, 1982). Existem formas diversificadas de se obter subsunsores relativos a certos assuntos, que variam desde as experiências de infância e da vida cotidiana até a aprendizagem escolar. Através da aprendizagem significativa, há um processo de interação entre o novo conceito a ser aprendido e o conceito subsunçor, de tal forma que ambos se modificam no processo. Isso significa que na aprendizagem significativa, além do conceito subsunçor servir de ancoradouro para os novos conceitos, existe o desenvolvimento da estrutura cognitiva do indivíduo como um todo. Este processo de interação de novas ideias com a estrutura cognitiva do indivíduo é conhecido como assimilação (MOREIRA, 1982). Considerando que a aprendizagem significativa contribui para a assimilação de conhecimentos, e não apenas para uma inclusão arbitrária de conceitos na estrutura cognitiva do indivíduo, Ausubel defende que esse tipo de aprendizagem possui vantagens notáveis em relação à aprendizagem mecânica. As vantagens existem tanto do ponto de vista do [3] Do inglês subsumer, sem tradução para a língua portuguesa. 12 enriquecimento da estrutura cognitiva do indivíduo como do ponto de vista da lembrança posterior e a utilização dos conteúdos assimilados para novas aprendizagens (SALVADOR at al., 2000). Supondo que a aprendizagem significativa deva ser preferida em relação à mecânica, Ausubel aponta duas condições para a ocorrência desse tipo de aprendizagem (MOREIRA 1982): a) O material a ser aprendido deve ser relacionável à estrutura cognitiva do aprendiz de maneira não arbitrária e não literal. Isso significa que, além da necessidade de o material possuir uma estrutura não arbitrária em si, o aprendiz deve possuir os conceitos subsunsores adequados para sua aprendizagem. Esse tipo de material é chamado de potencialmente significativo. b) O aluno deve apresentar disposição a aprender de forma significativa. Ou seja, mesmo que o material seja potencialmente significativo, se a intenção do aprendiz for simplesmente memorizá-lo, então a aprendizagem será mecânica. Para resumir tudo o que foi dito até agora sobre a teoria de Ausubel, podemos usar suas próprias palavras: “...o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe; descubra isso e ensine-o de acordo” (AUSUBEL, 1968, 1978, 1980 apud MOREIRA, 1999, p. 163). A seguir, veremos algumas estratégias para a facilitação da aprendizagem significativa em sala de aula e para a avaliação da ocorrência desse tipo de aprendizagem. III. 1. 1 A Identificação dos Subsunçores Considerando como fator mais importante para a aprendizagem aquilo que o aluno já sabe, é de fundamental importância a identificação dos subsunçores relevantes que se encontram previamente presentes na estrutura cognitiva do aluno, relativos aos conteúdos que se deseja ensinar. Para atingir esses objetivos, pode-se aplicar questionários relativos aos conteúdos trabalhados, antes da apresentação de tais conteúdos, de forma a se identificar quais dos conhecimentos prévios dos alunos podem ser considerados como subsunçores relevantes (NOVAK; GOWIN, 1986 apud DIAS; SANTOS; SOUZA, 2004, p. 258). Sempre existe a possibilidade de não existirem subsunçores adequados a determinada aprendizagem. Nesse caso, uma das estratégias para o desenvolvimento de subsunçores, antes da apresentação dos conteúdos, é através da utilização de organizadores prévios, como veremos a seguir. 13 III. 1. 2 Os Organizadores Prévios Organizadores prévios são materiais introdutórios apresentados antes do próprio material a ser aprendido, com um maior nível de abstração, generalidade e inclusividade (MOREIRA, 1982). Os organizadores prévios não devem ser confundidos com sumários, resumos e introduções, que simplesmente destacam certos aspectos do assunto, mantendo o nível de abstração, generalidade e inclusividade. Segundo AUSUBEL (apud MOREIRA, 1982), a utilização de organizadores prévios é uma estratégia de ensino que serve como uma ponte entre o que o aluno já sabe e aquilo que ele deve saber, a fim de que o material possa ser aprendido de forma significativa. Quando o aluno já possui os conceitos subsunçores relevantes para a aprendizagem de determinados conteúdos, os organizadores prévios podem ser utilizados para manipular deliberadamente a estrutura cognitiva do aluno de forma a “mobilizar” os subsunçores e fazer a ligação entre esses e os conteúdos que se deseja ensinar. No caso de um material totalmente não-familiar, em que existem poucos ou nenhum subsunçor disponível na estrutura cognitiva do aluno, pode-se utilizar um organizador prévio “expositório”, para o desenvolvimento de subsunçores relevantes, ainda que pouco elaborados. Nesse caso, os conceitos subsunçores serão adquiridos mecanicamente, mas a própria aprendizagem significativa subsequente pode servir para elaborar os conceitos adquiridos de forma mecânica (MOREIRA, 1982). III. 1. 3 Evidências da Aprendizagem Significativa Segundo AUSUBEL (apud MOREIRA, 1982), os testes de compreensão, como questionários e problemas para serem resolvidos pelos alunos, podem ser utilizados como forma de verificação da ocorrência da aprendizagem significativa. Entretanto, questionários e problemas também podem ser respondidos corretamente através de respostas mecanicamente memorizadas, resultando em apenas uma “simulação da aprendizagem significativa”. Ausubel argumenta que os alunos se habituam a memorizar não apenas proposições e fórmulas, mas também causas, exemplos, explicações e maneiras de resolver “problemas típicos”. Para que a simulação da aprendizagem significativa seja evitada, Ausubel afirma que testes de compreensão devem ser, no mínimo, fraseados de maneira diferente e apresentados num contexto de alguma forma diverso daquele originalmente encontrado no material instrucional (MOREIRA, 1982). 14 III. 2 A Teoria da Educação de Novak Conforme já foi dito, as propostas de Novak integram a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, mas possui uma abordagem mais ampla, desenvolvendo o que ele chama de uma Teoria da Educação. Nesta seção, ao invés de descrevermos a teoria de Novak com detalhes, nos limitaremos a apresentar algumas de suas idéias, que consideramos enriquecer a Teoria da Aprendizagem Significativa e que foram mais relevantes no desenvolvimento deste trabalho. Um aprofundamento maior fugiria do escopo do nosso trabalho. A teoria de Novak parte da premissa básica de que os seres humanos fazem três coisas: pensam, sentem e atuam. Segundo ele, uma teoria da educação deve considerar cada um desses três elementos e explicar como se pode melhorar as formas com as quais os seres humanos pensam, sentem e atuam, de forma a contribuir para o engrandecimento do indivíduo para lidar com a vida diária. Partindo dessa premissa, Novak considera que qualquer evento educativo é uma ação para trocar significados (pensar) e sentimentos entre o aprendiz e o professor. O objetivo desta troca é a aprendizagem significativa de um novo conhecimento contextualmente aceito (MOREIRA, 1999). Quando Novak fala em troca de sentimentos, ele quer dizer que todo evento educativo é acompanhado de uma experiência afetiva. Assim como Ausubel, Novak considera que uma das condições da aprendizagem significativa é uma predisposição por parte do aprendiz para aprender de forma significativa. Para Novak, essa predisposição está intimamente relacionada com a experiência afetiva que o aprendiz tem no evento educativo. Como um exemplo de experiência afetiva positiva para a aprendizagem significativa, podemos considerar a importância de o aprendiz perceber alguma relevância no novo conhecimento a ser aprendido, de forma que o conhecimento seja de, alguma forma, motivador para ele. Novak também considera a própria aprendizagem significativa como uma experiência afetiva que gera uma predisposição na aprendizagem dos conteúdos subseqüentes. Isso significa que, segundo Novak, a aprendizagem significativa e a predisposição para a aprendizagem guardam entre si uma relação praticamente circular: a aprendizagem significativa requer predisposição para aprender e, ao mesmo tempo, gera essa predisposição. Podemos dizer que a aprendizagem significativa gera uma experiência afetiva que “motiva” o aprendiz a aprender cada vez mais (MOREIRA, 1999). 15 III. 3 O Referencial Teórico e o Desenvolvimento do Trabalho Toda a metodologia deste trabalho está baseada em um perfil específico de aluno: alunos do ensino médio noturno. Dessa forma, à luz da Teoria da Aprendizagem Significativa, consideramos como um dos fatores mais importantes da metodologia deste trabalho a investigação dos conhecimentos prévios desses alunos. Essa investigação foi feita por amostragem, através da aplicação e análise de um questionário de conhecimentos prévios, em uma turma de ensino médio noturno de um colégio estadual do Rio de Janeiro (seção V.1). Toda a metodologia subsequente foi desenvolvida levando-se em consideração a análise desse questionário. Nossa metodologia se resume a uma proposta curricular aplicada na mesma turma analisada pelo questionário de conhecimentos prévios. Nessa proposta, conteúdos de mecânica são trabalhados de duas formas distintas: enquanto que no primeiro bimestre os conteúdos são trabalhados dentro do tema estruturador da “astronomia e astronáutica”, nos outros bimestres retorna-se à organização tradicional. Dentro da Teoria da Aprendizagem Significativa, podemos considerar os conteúdos do primeiro bimestre como um organizador prévio para o restante do ano letivo. A “astronomia e astronáutica” não era o único tema possível de ser usado para a introdução de conceitos de mecânica. Esse tema foi escolhido, de forma especial, devido ao seu caráter motivador (seção IV.3.1), contribuindo para a predisposição à aprendizagem significativa, por parte dos alunos. Isso é justificado pela teoria de Ausubel e, em especial, pela teoria de Novak. Buscamos relacionar a astronomia e a astronáutica a assuntos atuais, presentes na mídia. Também apresentamos aspectos relacionados a observações do céu a olho nu, possíveis de serem feitas por qualquer aluno. Dessa forma, buscamos mostrar ao aluno a relevância de tais temas em suas vidas, de acordo com teoria de Novak. Para avaliarmos a aprendizagem significativa de forma quantitativa, consideramos o questionário de conhecimentos prévios como um “pré-teste” e a prova do primeiro bimestre como um “pós-teste” (seção VII.5). Para efeito de comparação de resultados, seria mais simples aplicarmos as mesmas questões nos dois casos. Entretanto, seguindo as recomendações de Ausubel, optamos por utilizar, em sua maior parte, questões diferentes no pré-teste e no pós-teste, reduzindo as chances de resolução do pós-teste por simples memorização. 16 Capítulo IV - Justificativa e Motivação No capítulo anterior, descrevemos aspectos cognitivos e afetivos da aprendizagem, de uma forma geral. Neste capítulo, descreveremos a importância da aprendizagem de física para nosso público alvo e mostraremos a relevância de uma metodologia diferenciada de ensino para esse público. Como foi dito na introdução, o presente trabalho apresenta uma proposta de ensino de física em nível médio seguindo a linha dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Desenvolvemos essa proposta considerando como público alvo alunos do ensino médio noturno. Além disso, utilizamos a “astronomia e astronáutica” como tema estruturador para o ensino de física. Como produto educacional, desenvolvemos uma hipermídia com os conteúdos propostos. Dessa breve descrição da metodologia do nosso trabalho, podemos formular quatro questões: Por que seguir as orientações dos PCNs? Por que buscar inovações metodológicas no ensino noturno? Por que utilizar a astronomia e a astronáutica no ensino de física? Por que utilizar uma hipermídia no ensino de física? A seguir, vamos apresentar justificativas e motivações para cada uma das questões acima. IV. 1 A Aplicação dos PCNs Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) (BRASIL, 2000), foram publicados propondo uma ampla reforma educacional no ensino médio brasileiro. No final de 2002, foram publicados os PCNs+ (BRASIL, 2002), buscando aprofundar a proposta inicial dos PCNEM, através de exemplos e estratégias de trabalho (KAWAMURA, HOSOUME, 2003). Segundo os PCNs+: “A presença do conhecimento de Física na escola média ganhou um novo sentido a partir das diretrizes apresentadas nos PCN. Trata-se de construir uma visão da Física que esteja voltada para a formação de um cidadão contemporâneo, atuante e solidário, com instrumentos para compreender, intervir e participar na realidade. Nesse sentido, mesmo os jovens que, após a conclusão do ensino médio não venham a ter mais qualquer contato escolar com o conhecimento em Física, em outras instâncias profissionais ou universitárias, ainda assim terão adquirido a formação necessária para compreender e participar do mundo em que vivem.” (BRASIL, 2002, p. 1) 17 Lendo apenas o parágrafo acima, poucos questionariam os aspectos positivos das propostas dos PCNs. Entretanto, considerando os PCNs como um todo, ainda existem críticas em relação às suas reais finalidades, como as apresentadas por LOPES (2002), que analisa os PCNEM como uma forma de adaptação ao mundo produtivo. Controvérsias a parte, não podemos negar que os PCNEM representam uma proposta de modernização do ensino médio. Não é a única proposta possível e não podemos afirmar, de forma conclusiva, que representa a melhor proposta. Entretanto, consideramos válido o esforço em sua implementação, como uma tentativa de maior aproximação entre o ensino médio e as reais necessidades dos estudantes. Também podemos verificar que a influencia dos PCNs nas pesquisas de ensino de física é significativa (PENA, 2009). Uma das principais novidades dos PCNs+, em relação ao PCNEM, é a proposta de organização de conteúdos em temas estruturadores, subdivididos em unidades temáticas. Sobre os temas estruturadores, os PCNs+ afirmam que: O tratamento de diferentes campos de fenômenos implica em preservar, até certo ponto, a divisão do conhecimento em áreas da física tradicionalmente trabalhadas, como mecânica, termologia, ótica e eletromagnetismo, não só pela unidade conceitual que esses campos estabelecem, mas também por permitir uma “transcrição” da proposta nova em termos da compartimentalização anteriormente adotada, reconhecendo-a para superá-la. No entanto, é essencial que se faça uma releitura dessas áreas, para que a definição dos temas privilegie os objetos de estudo, explicitando desde o início os objetivos estabelecidos (BRASIL, 2002). Dessa forma, os PCNs+ propõem, por exemplo, que o conteúdo tradicional de “mecânica” seja substituído pelo tema estruturador “movimentos: variações e suas conservações”, subdividida nas unidades temáticas “fenomenologia cotidiana”, “variação e conservação da quantidade de movimento”, “energia e potências associadas aos movimentos” e “equilíbrios e desequilíbrios” (BRASIL, 2002). Quase dez anos após a publicação dos PCNs+, sua aplicação em sala de aula ainda é um tema controverso, em especial em relação à organização curricular em temas estruturadores. Essa controvérsia pode ser constatada, de forma especial, ao analisarmos as últimas orientações curriculares das redes estaduais de ensino. Vamos ver dois exemplos, comparando trechos das orientações curriculares do Rio de Janeiro e de São Paulo. No Rio de Janeiro, em 2004, houve uma reorientação curricular, onde podemos ler o seguinte [4]: [4] Todas as referências curriculares deste trabalho consideram o ano letivo de 2010, data de aplicação do projeto em sala de aula. Em 2012, foi estabelecido um “currículo mínino” de física, para o estado do Rio de Janeiro, mais de acordo com as orientações dos PCNs. Esse currículo está disponível em http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/ (acesso em 7 mar. 2012). 18 “A presente proposta afasta-se um pouco da orientação sugerida nos Parâmetros Curriculares Nacionais no que diz respeito à organização dos conteúdos em temas estruturadores. Uma das razões para isso é a pequena disponibilidade de material didático realmente compatível com os PCN, o que torna mais difícil a adaptação da prática docente a uma reformulação que atinge não apenas os conteúdos, mas também os enfoques e formas de apresentação.” (AGUIAR; GAMA; COSTA, 2005, p. 161) Por outro lado, a proposta curricular do Estado de São Paulo, de 2008, afirma que: “Estas orientações tomam como base os Parâmetros Curriculares Nacionais de Física, mais especificamente o texto conhecido como PCN+. Partes daquele texto foram tomadas na íntegra, pois acredita-se que as orientações aqui contidas colocam-se na mesma perspectiva de mudança na educação de Física do Ensino Médio lá iniciado. Essas orientações, assim como aqueles Parâmetros, buscam a aproximação entre o conhecimento físico e o mundo vivenciado pelos adolescentes no início deste século.” (SÃO PAULO, 2008) Desse modo, podemos verificar que, em dois estados fronteiriços, existem posicionamentos opostos em relação às propostas PCNs. Apesar de algumas redes de ensino estaduais já adotarem propostas dos PCNs+, segundo RICARDO (2003, p. 8), “há uma distância entre o que está proposto nesses documentos e a prática escolar, cuja superação tem se mostrado difícil”. Entre as dificuldades de implementação dos PCNEM e dos PCN+ (RICARDO; ZYLBERSZTAJN, 2002; RICARDO, 2003, p. 8), podemos citar: a) deficiências na formação inicial e continuada dos professores; b) pouca disponibilidade de material didático-pedagógico; c) estrutura verticalizada do sistema de ensino; d) incompreensão dos fundamentos das propostas. Vemos, portanto, que as resistências relativas à implementação dos PCNs em sala de aula possuem um caráter mais pragmático do que ideológico. Vemos, em especial, que a dificuldade relativa à falta de material didático (dificuldade (b)), também é citada na reorientação curricular do Rio de Janeiro. Esse panorama nos motivou a elaborar uma proposta curricular para o ensino médio, como tentativa de fazer uma aproximação maior entre os currículos de física tradicionalmente aplicados no ensino médio (divididos em mecânica, termologia etc.) e os PCNs. Propomos que conceitos tradicionais de mecânica sejam trabalhados na disciplina de física do ensino médio regular, no primeiro bimestre do ano letivo, dentro de um tema estruturador, seguindo a linha dos PCNs+. Mais especificamente, propomos como tema estruturador a “astronomia e astronáutica”. Para demonstrar a viabilidade de nossa proposta curricular, essa foi aplicada em sala de aula, em uma turma de ensino médio da rede estadual do Rio de Janeiro (capítulo VI). 19 Para superar as dificuldades (a) e (b), apontadas acima, (formação dos professores e falta de material didático), os conteúdos aplicados em sala de aula foram transformados em uma hipermídia, que pode servir como apoio a professores e material didático a alunos. Considerando-se a dificuldade (c) (estrutura verticalizada do ensino), procuramos ao máximo possível relacionar o material produzido com conteúdos tradicionalmente aplicados no ensino médio. Não pretendemos neste trabalho servir como um modelo de aplicação das propostas dos PCNs. Nosso objetivo é apenas contribuir para uma aproximação maior entre as propostas dos PCNs, em especial os PCNs+, e os conteúdos tradicionalmente aplicados no ensino médio. IV. 2 O Ensino Médio Noturno Conforme vimos no capítulo II, de acordo com a teoria de Ausubel, o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe. Para sermos coerentes com essa máxima, nossa proposta metodológica não poderia estar desvinculada de um contexto educacional específico. Neste trabalho, nosso foco são alunos com o perfil do ensino médio noturno. Segundo CARVALHO (1998), quando se fala em ensino noturno, é comum tratá-lo como problema, fonte de insatisfação, necessitando de solução, já que este ensino é voltado para os que dispõem de menos recursos econômicos. TOGNI e CARVALHO (2007) indicam que, possivelmente, a característica mais forte do ensino médio noturno está no fato de a maioria dos alunos serem trabalhadores, em jornadas de oito ou mais horas diárias. Esses autores afirmam também que os alunos se encontram nessa situação por extrema necessidade de sobrevivência. Nas palavras de PUCCI (apud TOGNI; CARVALHO, 2007, p. 67): “Talvez a característica de um aluno de ensino noturno de 1º e 2º graus seja a condição de trabalhador desqualificado e superexplorado ao peso de um salário vil e de uma insuportável dupla jornada de trabalho: a da fábrica, loja ou escritório, e a da escola noturna.” Isso não significa que todos os alunos do ensino médio noturno são trabalhadores. Entre outros motivos que levam alunos a optarem pelo ensino noturno, citados por TOGNI e CARVALHO (2007), podemos citar: a defasagem entre a idade do aluno e a série cursada; a necessidade de auxiliar em trabalhos domésticos; a busca pela convivência com iguais; a busca por possíveis “facilidades” oferecidas pelos cursos noturnos. 20 Um dos principais problemas encontrados no ensino médio noturno é a alta taxa de evasão escolar. O relatório do SAEB, publicado pelo INEP em 2004 (BARBIERI at al., 2005, p. 955) mostra uma porcentagem de evasão escolar no ensino médio brasileiro de 17%, sendo que, desta porcentagem, 70% compreende o ensino médio noturno. A evasão escolar no ensino médio noturno também é evidenciada Censo Escolar. No início de 2003 houve 1 564 458 alunos matriculados na primeira série do ensino médio noturno em todo o Brasil, enquanto que, no final de 2005, houve apenas 886 817 alunos concluintes. Isso significa que, dentro do período de tempo esperado para a conclusão do ensino médio (três anos) a quantidade de alunos concluintes foi de apenas 57% do total de alunos matriculados na primeira série [5]. Seguindo o mesmo raciocínio anterior para o estado do Rio de Janeiro (local de aplicação de nossas propostas), encontramos uma situação ainda mais alarmante. Verificamos um total de 137 125 alunos matriculados na primeira série do ensino médio noturno, em 2003, contra apenas 56 140 alunos concluintes, em 2005. Ou seja, um total de concluintes de apenas 41% do total de matriculados na primeira série, em um período de três anos. Obviamente, essa diferença entre matriculados e concluintes possui outras causas além da evasão escolar, como repetências e transferências de redes de ensino. Ainda assim, esses dados podem nos dar uma dimensão do problema da evasão no ensino médio noturno. Não existe um consenso sobre as causas da evasão escolar (CERATTI, 2008). Entretanto, BARBIERI at al. (2005) e BRAGA (2009) concordam que um dos principais fatores para a evasão escolar no ensino noturno é a dificuldade, por parte dos alunos, de conciliação entre trabalho e estudos. Entre outras possíveis causas para evasão escolar, podemos listar: gravidez e casamento entre meninas, que leva a um acúmulo de tarefas domésticas (BARBIERI at al., 2005; BRAGA, 2009); aulas pouco atrativas para os alunos, em especial, por não considerem a realidade específica dos alunos do ensino noturno (BARBIERI at al., 2005; BRAGA, 2009); problemas relacionados à violência e drogas nas comunidades (BRAGA, 2009). Os trabalhos citados anteriormente são fruto de pesquisas realizadas no estado do Paraná. Entretanto, outros trabalhos de observação direta do cotidiano do ensino médio noturno, em outros estados, como na região metropolitana São Paulo (ZIBAS, 1991), no Pará (RIBEIRO at al., 2007) e em Pernambuco (VILELA; AMARAL; BARBOSA, 2007), apresentaram características semelhantes, indicando que a discussão apresentada pode ser generalizada. [5] Dados disponíveis em http://portal.inep.gov.br/basica-censo (acesso em 17 fev. 2012). Não usamos dados do Censo Escolar mais atuais, pois, a partir de 2006, não encontramos o total de alunos concluintes discriminado por turno. 21 para todo o ensino médio noturno brasileiro. IV. 2. 1 O Colégio Estadual Capitão de Fragata Didier Barbosa Vianna O autor do presente trabalho é professor efetivo de física do Colégio Estadual Capitão de Fragata Didier Barbosa Vianna, situado no bairro do Tauá – Ilha do Governador, na região metropolitana do Rio de Janeiro, desde agosto de 2008 (iremos abreviar o nome do colégio para C. E. Capitão de Fragata). Esse colégio oferece ensino médio, exclusivamente no período noturno [6] . As propostas deste trabalho foram aplicadas em uma turma desse colégio, onde o autor lecionou aulas de física, no ano letivo de 2010. Essa turma refletiu de uma forma extrema os dados sobre a evasão do ensino médio noturno apresentados na seção anterior, já que na verdade a turma se originou de duas turmas de segundo ano, com média de 40 alunos inscritos em cada. Devido à alta taxa de evasão, a turma se fundiu em apenas uma, a partir do segundo semestre, com freqüência máxima de 20 alunos por aula. Por sua vez, estes alunos do segundo ano foram, em sua maioria, o remanescente de duas turmas de primeiro ano com mais de 60 alunos inscritos em cada. Neste colégio podemos verificar, além de altas taxas de evasão por parte de alunos, baixas e irregulares frequências escolares e constantes problemas em relação à entrega de trabalhos, cumprimentos de prazos etc. Os alunos frequentemente usam o trabalho e as atividades domésticas como justificativas para o não cumprimento de tarefas escolares. Existem casos de alunos, por exemplo, que faltam às aulas por semanas, ou até meses, perdendo inclusive avaliações bimestrais e segundas chamadas. Muitos desses alunos “retornam” ao colégio graças ao trabalho da direção, entrando em contato com os alunos e/ou com suas famílias. Nestes casos, os alunos são amparados por lei (RIO DE JANEIRO, 2004), que garante a eles o direito de serem avaliados ao “retornarem” ao colégio. Por um lado, isso gera um trabalho extra aos professores, mas, por outro lado, evita o “mal maior” da desistência desses alunos. Apesar de todos esses problemas, existem atividades em que a participação dos alunos se mostra acima da esperada, surpreendendo professores e direção de forma positiva. Entre essas atividades, podemos citar as feiras de ciências do colégio e a Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA). Supomos que os temas de tais atividades despertem um interesse nos alunos acima do que é encontrado nos currículos tradicionais. [6] O espaço físico do colégio pertence à rede municipal, que disponibiliza suas instalações ao estado no período noturno. Dessa forma, apesar de fisicamente existir apenas um colégio, administrativamente existem dois colégios, um municipal e outro estadual. 22 Figura IV.1 – Maquete sobre usina termonuclear e distribuição de energia elétrica, produzida por alunos do C. E. Capitão de Fragata, como parte da avaliação da Feira de Ciências de 2011. As ligações elétricas mostradas não foram exigidas como avaliação, ou seja, foram uma iniciativa dos alunos, indicando interesse e participação. Conforme já foi discutido, o ensino médio noturno é voltado para alunos com menos recursos financeiros. Esse fato é intensificado no C. E. Capitão de Fragata, devido à sua localização. Como podemos ver na figura a seguir, esse colégio se localiza na entrada de uma comunidade dominada pelo tráfico de drogas, o “Morro do Querosene”. Além disso, existe outra grande comunidade sob o domínio do tráfico nas proximidades: o “Morro do Dendê”. Figura IV.2 – Localização do C.E Capitão de Fragata, obtida pelo Google Maps 23 Figura IV.3 – Área externa do C.E. Capitão de Fragata. À esquerda, o portão interno do colégio; à direita (ao fundo), vista do Morro do Dendê. A maioria dos alunos matriculados no C. E. Capitão de Fragata é residente de uma das duas comunidades citadas. Sobre esse aspecto particular, o Projeto Político Pedagógico do colégio pode nos dar alguns esclarecimentos: “O Colégio Estadual Capitão de Fragata Didier Barbosa Vianna, no bairro do Tauá, na Ilha do Governador, localizada em área de risco e difícil acesso, atende a adolescentes, jovens e adultos carentes, oriundos em sua maioria, dos Morros do Dendê e Querosene. (...) Os alunos pertencem à comunidade urbana mais agressiva, com histórias de perdas, violência, drogas e convivência direta com crime em uma comunidade carente e extremamente agressiva. Vivem em condições econômicas e sociais sufocantes, ficando para a escola o papel social na construção de um processo educativo centrado em valores e essencial atividade pública de construir blocos de formação do cidadão como um ser social, histórico e sujeito de suas relações. Nossos alunos, diante das adversidades, tornam-se sobreviventes, precisando apenas de uma oportunidade. São trabalhadores, algumas vezes estão em idade superior à esperada para a série. Já estão inseridos no mercado de trabalho formal ou informal ou precisando ingressar.” Essa localização do colégio pode ser mais uma causa da evasão escolar. Um estudo feito em um colégio de ensino médio noturno no Paraná (BRAGA, 2009) mostrou que 20% da evasão escolar no colégio era causada por problemas relacionados à violência e drogas dentro de comunidades. Nesse estudo, os problemas variavam desde a falta de segurança no trajeto entre a casa e o colégio dos estudantes até o consumo de drogas entre os alunos. O autor deste trabalho já esteve presente em situações em que alunos e professores tiveram que aguardar o término de confrontos relacionados ao tráfico de drogas, nas proximidades do colégio, para poderem retornar às suas casas. Já houve casos também de alunos sem condições de chegarem ao colégio pelo mesmo motivo. 24 IV. 2. 3 A Motivação como Estratégia para o Ensino Médio Noturno Apesar de não haver um consenso sobre as causas do fracasso escolar (em especial em relação à evasão), alguns estudos apontam para causas fora do alcance do corpo docente, como as dificuldades de conciliação entre trabalho e estudos por parte dos alunos. Isso não significa que os professores devam “cruzar os braços” diante dos problemas. Existem outras possíveis causas do fracasso escolar, diretamente relacionadas ao trabalho docente, como a falta de interesse dos alunos em relação aos conteúdos aplicados em sala de aula. Além disso, pelo exemplo do C. E. Capitão de Fragata, vemos que certas atividades podem estimular os alunos à participação, a despeito das grandes adversidades enfrentadas por eles dentro e fora da sala de aula. Não estamos aqui responsabilizando os professores pelo fracasso escolar. Estamos apenas indicando a possibilidade de um trabalho docente voltado para a redução desse tipo de problema, em especial em relação à evasão escolar. Todo esse panorama nos motivou a produzir um trabalho considerando a realidade ensino médio noturno, tendo como principal foco a motivação para a aprendizagem de física e a relevância dos assuntos tratados para a vida dos estudantes de forma imediata. IV.3 A Astronomia e a Astronáutica no Ensino de Física Podemos considerar a astronomia e a astronáutica como ramos do conhecimento interdisciplinares, envolvendo áreas como a física, a química e a matemática. Atualmente, também verificamos a participação da biologia dentro da astronomia, com a busca de vida fora do planeta Terra. Isso faz da astronomia e da astronáutica temas estruturadores em potencial. Por exemplo, se o objetivo for trabalhar conceitos de termologia, podemos usar a astronomia como tema estruturador, dentro da unidade temática “temperaturas dos planetas do Sistema Solar”; ou se quisermos falar sobre conservação de energia, podemos usar a astronáutica como tema estruturador, usando a unidade temática “transformações de energia no lançamento de foguetes espaciais”. Esses são apenas alguns exemplos, mas as possibilidades são muitas. Apesar do potencial da “astronomia e astronáutica” como tema estruturador, apenas essa característica não é suficiente para justificar sua escolha. Isso porque, um mesmo conjunto de conteúdos pode ser abordado dentro de vários temas estruturadores diferentes. Conceitos de mecânica, por exemplo, podem ter desenvolvidos dentro de temas como “o trânsito”, “a física dos parques de diversão”, “os movimentos dos corpos celestes” etc. 25 A principal razão para a escolha da “astronomia e astronáutica” como tema estruturador é a possibilidade de tais temas servirem como elementos motivadores ao estudo da física. Também consideramos a importância da física utilizada como um instrumento para a compreensão de temas astronômicos e astronáuticos presentes na mídia, além da relevância da compreensão de tais temas para o cidadão comum. IV.3.1 A Astronomia e a Astronáutica como Elementos Motivadores para a Física De acordo com OLIVEIRA FILHO e SARAIVA (2004): O estudo da astronomia tem fascinado as pessoas desde os tempos mais remotos. A razão para isso se torna evidente para qualquer um que contemple o céu em uma noite limpa e escura. Depois que o Sol – nossa fonte de vida – se põe, as belezas do céu noturno surgem em todo o seu esplendor. A Lua se torna o objeto celeste mais importante, continuamente mudando de fase. As estrelas aparecem como uma miríade de pontos brilhantes, entre as quais os planetas se destacam por seu brilho e movimento. E a curiosidade para saber o que há além do que podemos enxergar é inevitável. A utilização desse “fascínio pela astronomia”, como contribuição ao ensino, é proposta em trabalhos como os de PEREIRA et al. (2009) e GAMA e HENRIQUE (2010). Gama e Henrique propõem que: “(...) a astronomia não precisa ser vista como apenas um novo conjunto de conteúdos a serem ensinados, mas figura como conjunto de temas motivadores para discussões histórico-filosóficas, além de permitir a abordagem de conceitos típicos de outras disciplinas.” (GAMA; HENRIQUE, 2010, p. 7, grifo nosso) Existem propostas concretas de utilização de temas astronômicos como motivação ao ensino de física, testadas em sala de aula com resultados positivos, como as descritas nas dissertações de MEES (2004), de SCHIMTT (2005) e de KEMPER (2008). Em especial, Kemper afirma que: A inserção de conteúdos de astronomia nos cursos de nível médio de física torna-se pertinente por mostrarem-se de grande interesse pelo público jovem que os freqüentam. Esse interesse fica evidenciado pelas dúvidas e perguntas que os alunos trazem às aulas, bem como a participação e a motivação manifestada por eles quando esses conteúdos são abordados. (KEMPER, 2008, p. 8) O interesse de alunos do ensino médio em relação à astronomia e à astronáutica também foi evidenciado através da experiência profissional do autor do presente trabalho. Ao aplicar a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) em suas turmas de ensino médio noturno, no Colégio Estadual Capitão de Fragata, em 2009, o professor/pesquisador se surpreendeu com o interesse mostrado por seus alunos. Em um primeiro momento, a olimpíada foi aplicada sem grandes pretensões, em caráter opcional e sem valer nota em nenhuma disciplina. Houve apenas uma aula com tópicos de astronomia, para servir de 26 motivação para a inscrição na OBA. Mesmo assim, houve a participação de 26 alunos, em um colégio com seis turmas e baixa freqüência escolar. Muitos desses alunos solicitaram materiais extras para estudos, antes da aplicação das provas da OBA, e procuraram o professor para discutir questões, após as provas [7]. Esse tipo de iniciativa não é comum para o perfil de alunos desse colégio, que costumam argumentar falta de tempo para estudos em casa. Devido ao caráter interdisciplinar da astronomia e da astronáutica, sabemos que questões relacionadas a tais temas são melhor compreendidas a luz de conhecimentos físicos. Por exemplo, na astronomia, as temperaturas médias dos planetas do Sistema Solar dependem das trocas de calor envolvidas (conceito físico). Já na astronáutica, o lançamento de foguetes espaciais obedece a Lei da Ação e Reação (lei física). Dentro desse panorama, propomos a utilização de temas de astronomia e de astronáutica como motivação para o estudo dos conteúdos físicos relacionados . IV.3.2 A Física para a Compreensão de Temas Científicos e Tecnológicos Mesmo supondo uma motivação para o estudo da física, os conceitos físicos presentes do ensino médio não devem ter um fim em si mesmos, mas devem servir como “instrumentos para compreender, intervir e participar na realidade” (BRASIL, 2002, p.1). Nesse sentido, a física pode contribuir para o desenvolvimento de competências relacionadas à compreensão de notícias de caráter científico e tecnológico, divulgadas pela mídia, em especial as notícias relacionadas com a astronomia e a astronáutica. O esforço no desenvolvimento de competências desse tipo é recomendado pelos PCNs+ (competência I.3): “consultar, analisar e interpretar textos e comunicações de C&T veiculados através de diferentes meios” (BRASIL, 2002, p. 8). Podemos constatar uma freqüente divulgação de temas de astronomia e astronáutica, em especial por meio da mídia, dentro do que é atualmente conhecido com divulgação científica. Segundo ALBAGLI (1996), a divulgação científica supõe a tradução de uma linguagem especializada para uma leiga, visando a atingir um público mais amplo. Apesar dessa “tradução” feita pela mídia, ainda não existem garantias de que tais informações sejam compreendidas de forma satisfatória por todos os cidadãos. No caso especial da astronomia e da astronáutica, conseguimos facilmente encontrar exemplos de temas presentes na mídia. Vamos citar apenas alguns: [7] No ano seguinte, foram oferecidos pontos extras na disciplina de física pela participação na OBA, mas houve um aumento no número de participantes de apenas 23% (total de 32 alunos). Isso mostrou de que os “pontos extras em física” não foram um fator determinante para a participação dos alunos na OBA. 27 O telescópio espacial Hubble, em funcionamento desde 1990, representou um marco na história da astronomia, ao apresentar imagens do universo nunca vistas antes através dos telescópios terrestres, por estar livre das distorções atmosféricas (NASA, 2010 a). Até hoje, imagens impressionantes do Hubble são divulgadas pela mídia. Apesar das previsões sobre a desativação do telescópio espacial Hubble a curto prazo, o seu sucessor já está em construção, o telescópio espacial James Webb (NASA, 2010 b). Entre 1992 e 1994, foram descobertos os primeiros planeta fora do nosso Sistema Solar (planetas extrassolares), em meio a muita especulação sobre as chances de existência de planetas orbitando estrelas diferentes do Sol (NOGUEIRA, 2010). Em dezembro de 2010 o número de planetas extrassolares catalogados já beirava aos quatrocentos. Em menos de duas décadas é possível que exista tecnologia suficiente para a detecção de atividade biológica nesses planetas (DAMINELI, 2010). A descoberta dos planetas extrassolares mais importantes para a ciência também estão sendo divulgados pelos meios de comunicação em massa. No campo da astronáutica, podemos citar os avanços brasileiros relembrando a “Missão Centenário”, que colocou o primeiro brasileiro no espaço, o astronauta Marcos Pontes, em março de 2006 (PONTES, 2010). Acreditamos que o ensino de física pode contribuir para uma melhor compreensão de todos os assuntos citados acima. Isso não precisa ser feito abordando todos esses assuntos em sala de aula, mas sim desenvolvendo competências para a compreensão desses assuntos e de outros. IV.3.3 A Importância dos Conhecimentos Astronômicos e Astronáuticos Ainda nos cabe questionar a real relevância na compreensão de temas relacionados à astronomia e à astronáutica para o cidadão comum. Dentro de uma perspectiva axiológica (ou seja, em relação aos valores e fins atribuídos às coisas), podemos considerar os conhecimentos atuais sobre astronomia de uma forma mais abrangente do que apenas teorias baseadas em conjuntos de dados observacionais (GAMA; HENRIQUE, 2010). Ao longo da história, os estudos astronômicos estiveram relacionados às concepções dos seres humanos sobre sua posição e papel no universo. Desde as visões cosmológicas da antiguidade, de um universo geocêntrico, até as concepções atuais, que colocam a Terra orbitando uma estrela na periferia de uma galáxia, ouve uma grande mudança de concepção que afastou o homem cada vez mais do centro do universo. Isso ocorreu tanto no sentido literal como no sentido mais abstrato, de “importância do homem” no universo como 28 um todo. Mesmo que estes conhecimentos não possuam fins pragmáticos, os seres humanos estão constantemente fazendo escolhas que se baseiam em suas concepções de mundo, e essas concepções também podem ser construídas dentro do contexto escolar. As áreas de astronomia e da astronáutica também estão relacionados a aspectos tecnológicos presentes no cotidiano dos cidadãos, pelo menos através da mídia. Podemos citar como exemplos o funcionamento de lunetas e telescópios, as observações astronômicas em várias faixas do espectro eletromagnético, o lançamento de foguetes ao espaço, o envio de sondas espaciais e robôs a outros planetas, as órbitas dos satélites artificiais etc. Costumamos ver artefatos tecnológicos em filmes de ficção e em outras mídias como produtos criados por “gênios”, com princípios de funcionamento inacessíveis ao cidadão comum. Acreditamos que a compreensão dos princípios físicos por trás de tecnologias astronômicas e astronáuticas possa contribuir para mudar esse tipo de concepção, em relação à tecnologia presente em nossa sociedade. Com isso, pode-se desenvolver competências para a compreensão de outros tipos de tecnologias presentes no cotidiano. IV.4 A Hipermídia como Produto Educacional Antes de justificarmos a utilização de uma hipermídia no ensino de física, vamos ver o que é uma multimídia, um hipertexto e uma hipermídia. Segundo RESENDE e BARROS, 2005: Multimídia são múltiplos meios usados na representação de uma informação (texto, imagem, áudio, animação e vídeo). Hipertexto é um sistema onde a informação em geral aparece na forma de texto, organizada não-seqüencialmente, por meio de ligações entre palavras-chave. Hipermídia pode ser vista como a interseção entre a multimídia e o hipertexto. Durante a aplicação do projeto (capítulo VI), foram utilizadas diferentes mídias, como vídeos e simulações computacionais. Como produto educacional, as aulas aplicadas no primeiro bimestre foram descritas em forma de texto. Entretanto, apenas o texto não era suficiente para descrever as aulas fielmente, devido à ausência das multimídias. Desse modo, desenvolvemos uma hipermídia com o objetivo de fazer a interseção entre as multimídias utilizadas em sala de aula e o texto desenvolvido. Com o desenvolvimento da hipermídia, o texto também se tornou mais interativo, com links para respostas a questões e leituras opcionais. Isso tornou a produto desenvolvido mais similar à dinâmica da sala de aula, onde alunos mais interessados fazem perguntas e buscam informações mais aprofundadas. 29 Capítulo V - Metodologia O primeiro passo da metodologia deste trabalho foi a escolha de uma turma de ensino médio noturno, para a investigação dos conhecimentos prévios dos alunos. Escolhemos uma turma com aulas de física ministradas pelo autor do presente trabalho, no ano letivo de 2010. A investigação dos conhecimentos prévios foi feita através da aplicação de um questionário aos alunos e posterior análise das respostas. O objetivo da aplicação do questionário de conhecimentos prévios foi a procura por conhecimentos pré-existentes na estrutura cognitiva dos alunos que pudessem servir como subsunçores para os conteúdos que queríamos ensinar, de acordo com a Teoria da Aprendizagem Significativa (seção III.1.3). Incluímos algumas questões sobre assuntos que os alunos ainda não haviam estudado no ensino regular, por considerarmos que, ao longo da vida do aluno, existem formas diversificadas de obtenção de subsunçores, que vão além das atividades escolares (seção III.1). Levando-se em consideração a análise do questionário de conhecimentos prévios, desenvolvemos uma estrutura curricular para a disciplina de física, no segundo ano do ensino médio. Para tanto, também consideramos a grade curricular oficial da rede estadual do Rio de Janeiro, que orienta o desenvolvimento de conceitos de mecânica em turmas de segundo ano. A quantidade de conteúdos propostos foi limitada pelo tempo disponível na disciplina de física. Em 2010, os alunos do período noturno da rede estadual tinham apenas 2 tempos semanais de aulas de física, com cada tempo possuindo 40 minutos. A estrutura curricular desenvolvida foi aplicada pelo autor do presente trabalho, na mesma turma analisada pelo questionário de conhecimentos prévios, ao longo de todo o ano letivo de 2010. No primeiro bimestre do ano letivo, utilizamos o tema estruturador “astronomia e astronáutica” para o ensino de conceitos de mecânica. Nos outros bimestres, retomamos a organização tradicional dos conteúdos, mas de forma mais geral e menos formal que a encontrada nos livros de física mais comuns do ensino médio. Sempre que possível, utilizamos os temas trabalhados no primeiro bimestre como exemplos e motivações para o desenvolvimento dos conteúdos do restante do ano letivo. Dessa forma, também utilizamos o tema estruturador “astronomia e astronáutica” como um grande organizador prévio para os conteúdos tradicionais de mecânica, de acordo com a Teoria da Aprendizagem Significativa (seção III.1.2). Com essa organização de conteúdos, foi possível conciliar os objetivos do ensino de física presentes nos PCNs (utilizando um tema estruturador) com aspectos cognitivos da 30 aprendizagem (utilizando o tema estruturador como organizador prévio para os conteúdos tradicionais). Na avaliação do projeto, buscamos evidências da aprendizagem significativa dos conteúdos do primeiro bimestre e de sua contribuição para o restante do ano letivo. Toda a metodologia descrita contribuiu para o desenvolvimento de uma hipermídia com os conteúdos trabalhados em aula no primeiro bimestre do ano letivo, na forma de um produto educacional. V.1 Os Conhecimentos Prévios dos Alunos Os alunos escolhidos para a investigação dos conhecimentos prévios (e posterior aplicação do projeto) pertenciam a uma turma de segundo ano do ensino médio do Colégio Estadual Capitão de Fragata Didier Barbosa Vianna. Muitas das características da turma e do colégio de aplicação das nossas propostas metodológicas já foram apresentadas na seção IV.2.1. Vimos que essas características influenciaram na escolha do tema “astronomia e astronáutica”. Nesta seção analisaremos especificamente a questão dos conhecimentos prévios desses alunos, que influenciaram em particularidades da estrutura curricular desenvolvida. V.1.1 A Investigação e Análise dos Conhecimentos Prévios Entre os dias dia 26 de fevereiro e 5 de março de 2010, antes do início da aplicação das aulas do projeto, 15 alunos da turma de aplicação responderam ao questionário de conhecimentos prévios presente no “anexo I”. 9 desses alunos compareceram à aula do dia 26 de fevereiro e responderam ao questionário em sala de aula; os outros 6 alunos responderam ao questionário em casa. Ainda houve 16 alunos da turma que foram avaliados no primeiro bimestre, mas não responderam ao questionário, por não terem sido encontrados pelo professor durante esse período. A seguir, apresentaremos as questões do questionário de conhecimentos prévios, as respostas esperadas e as distribuições de respostas dos 15 questionários respondidos pelos alunos. Também faremos uma breve análise de cada distribuição de respostas. As três primeiras questões pediam para os alunos apresentarem desenhos sobre temas astronômicos. Nesses casos, os desenhos foram agrupados em padrões de respostas, de acordo com nossa interpretação. O mesmo foi feito com as questões discursivas (questões 13 e 14). 31 Questão 1 - Faça um desenho (em uma folha separada) representando a posição da Terra, do Sol e da Lua no Sistema Solar. Indique os movimentos dos corpos celestes (se houver) por linhas pontilhadas. Resposta esperada: Apesar da variedade de movimentos da Terra e da Lua, esperávamos que os alunos representassem os movimentos que possuem as maiores consequências em nosso cotidiano, ou seja, a rotação da Terra, a translação (ou revolução) da Terra e o movimento da Lua em torno da Terra. Respostas dos alunos: Respostas - questão 1 Somente a Terra girando em torno de si mesma: 20% Terra e Lua girando em torno de si mesmas: 20% Terra, Sol e Lua girando em torno de si mesmos: 6% 7% 20% 13% 7% Terra e Lua girando em torno do Sol: 13% 20% 13% Somente a Terra girando em torno do Sol: 7% 7% 7% 6% Sol e Lua girando em torno da Terra: 7% Sem movimentos: 7% Outros movimentos (físicamente incorretos): 13% Não responderam: 7% Figura V.1 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 1). Nessa questão, encontramos uma grande variedade de respostas. Entretanto, é possível agruparmos alguns padrões de resposta, de forma a obtermos uma análise mais esclarecedora. Somando as porcentagens de todas as questões que apresentam o movimento de rotação da Terra (1º, 2º, e 3º itens da distribuição acima), obtemos um total de 46% de respostas. Sobre a translação da Terra em torno do Sol (4º e 5º itens da distribuição), temos um total de 20% de respostas. 32 Isso significa que obtivemos um total de 66% de respostas representando a rotação ou a translação da Terra. Entretanto, não houve nenhuma resposta representando esses dois movimentos simultaneamente. Houve apenas uma aluna (7% do total) representando o movimento da Lua em torno da Terra. Entretanto, essa aluna também representou o Sol se movendo em volta da Terra, evidenciando uma visão geocêntrica do sistema Sol-Terra-Lua. Figura V.2 – Exemplos de desenhos de alunos (questão 1): (a) somente a Terra girando em torno de si mesma (movimento representado por linha pontilhada); (b) outros movimentos (fisicamente incorretos). Questão 2 - Imagine que você passe um dia, do amanhecer até o fim da tarde, observando o céu sem nuvens. Faça um desenho (em uma folha separada) representando os corpos celestes que você poderia ver. Indique os movimentos observados (se houver) por linhas pontilhadas. Resposta esperada: Esperávamos que os alunos esboçassem a trajetória do Sol durante o dia, como um arco no céu. Respostas dos alunos: Respostas - questão 2 6% 7% 7% sem movimentos: 60% Sol fazendo um arco no céu: 20% 20% 60% Sol subindo e descendo no céu: 6% Sol girando em torno de si mesmo: 7% Não responderam: 7% Figura V.3 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 2). 33 Podemos ver que a maioria dos alunos (60%) não representou nenhum tipo de movimento no céu. Apenas uma minoria (20%) representou a trajetória do Sol como um arco no céu, conforme o esperado. Ainda houve um aluno (7%), que desenhou o Sol “subindo e descendo no céu” (figura V.4 (b)), que poderíamos interpretar como o Sol “nascendo” e “se pondo”. Figura V.4 – Exemplos de desenhos de alunos (questão 2): (a) Sol fazendo arco no céu; (b) Sol subindo e descendo no céu. Questão 3 - Imagine que você passe uma noite inteira observando o céu sem nuvens, com lua cheia. Faça um desenho (em uma folha separada) representando os corpos celestes que você poderia ver. Indique os movimentos observados (se houver) por linhas pontilhadas. Resposta esperada: Na verdade, o objetivo dessa questão foi apenas averiguar se o aluno observava mudanças de posição da Lua e das estrelas no céu e se associava essas mudanças a movimentos. De forma mais específica, a Lua deveria ser representada fazendo um arco no céu, nascendo no lado Leste e se pondo no lado Oeste. As estrelas poderiam seguir o mesmo tipo de trajetória ou - no caso das estrelas mais próximas do pólo sul celeste - poderiam traçar trajetórias circulares no céu. Respostas dos alunos: Respostas - questão 3 Lua e estrelas sem movimento: 27% 13% 7% 13% 27% 20% 20% Lua fazendo arco no céu: 20% Lua girando em torno de si mesma: 20% Estrelas com movimentos aleatórios: 13% Lua e estrelas com movimentos aleatórios: 7% Não responderam: 13% Figura V.5 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 3). 34 Apenas 20% dos alunos representaram a Lua fazendo um arco no céu. 20% também representaram movimentos das estrelas (3º e 4º itens da distribuição), entretanto, foram desenhados movimentos totalmente aleatórios (figura V.6 (b)). Figura V.6 – Exemplos de desenhos dos alunos (questão 3): (a) Lua fazendo arco no céu; (b) estrelas com movimentos aleatórios. Ainda temos 20% dos alunos que representaram a Lua girando em torno de si mesma. Apesar de, em relação ao Sol, isso de fato acontecer, em relação à Terra (como era pedido na questão), isso não é observado. Não temos condições de avaliar se esses alunos responderam à questão considerando o Sol como referencial. Questão 4 - A partir do que nós conhecemos sobre o Sistema Solar, por que ocorrem os dias e as noites? a) Por causa do movimento da Terra em torno do Sol. b) Por causa do movimento da Terra em torno de si mesma. c) Por causa do movimento do Sol em torno da Terra. d) Nenhuma das opções anteriores. Resposta esperada: Por causa dos movimentos da Terra em torno de si mesma (letra B). 35 Respostas dos alunos: Respostas - questão 4 Por causa do movimento da Terra em torno do Sol: 67% 7% 13% 13% Por causa do movimento do Sol em torno da Terra: 13% 67% Por causa do movimento da Terra em torno de si mesma: 7% Não responderam: 13% Figura V.7 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 4). Podemos ver que, nessa questão, a maioria dos alunos (67%) respondeu que os dias e as noites ocorrem por causa dos movimentos da Terra em torno do Sol. Apenas 7% dos alunos apontaram o movimento da Terra em torno de si mesma como causa dos dias e das noites. Questão 5 - Existem estrelas maiores que o planeta Terra? a) Sim. b) Não. Resposta esperada: Sim (letra a). Resposta dos alunos: Respostas - questão 5 33% Sim: 67% 67% Não: 33% Figura V.8 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 5). Nesta questão, a maioria dos alunos (67%) respondeu que existem estrelas maiores que o Sol, conforme o esperado, mesmo considerando que esse tipo de conteúdo (tamanhos de estrelas) não se encontra muito presente nos currículos escolares. 36 Questão 6 - Dos corpos celestes abaixo, qual deles se encontra mais distante de nós? a) O Sol. b) O planeta Marte. c) Plutão. d) As estrelas vistas no céu à noite. Resposta esperada: As estrelas vistas no céu à noite (letra d). Respostas dos alunos: Respostas - questão 6 7% Plutão: 53% 13% 27% 53% As estrelas vistas no céu à noite: 27% O Sol: 13% O planeta Marte: 7% Figura V.9 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 6). Vemos que a maior parte do alunos (53%) acha que o planeta anão Plutão se encontra mais distante de nós do que as estrelas vistas a noite. Apenas 27% dos alunos apontaram as estrelas vistas a noites como o astro mais distante entre as quatro opções. Questão 7 - Sirius é a estrela que vemos com maior brilho no céu à noite. Qual é a distância aproximada entre a estrela Sirius e a Terra? a) Dez quilômetros. b) Mil quilômetros. c) Um milhão de quilômetros. d) Tão grande que é difícil medir em quilômetros. e) Infinita. Resposta esperada: Tão distante que é difícil medir em quilômetros (letra d). 37 Respostas dos alunos: Respostas - questão 7 7% 13% 13% 20% 47% Tão grande que é difícil medir em quilômetros: 47% Infinita: 20% Mil quilômetros: 13% Um milhão de quilômetros: 13% Não responderam: 7% Figura V.10 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 7). Vemos que quase a metade dos alunos (47%) marcou a opção indicando que a estrela Sirius, mesmo sendo a mais brilhante vista no céu a noite, ainda se encontra tão distante de nós que seria difícil medir sua distância em quilômetros. Questão 8 - Leia a notícia a seguir: Planeta descoberto é o "mais similar à Terra", diz astrônomo Santiago do Chile, 21 de abril de 2009.- O menor planeta conhecido até o momento (fora do sistema solar), batizado como Gliese 581e e cuja descoberta foi anunciada hoje, é o "mais similar à Terra até hoje", afirmou Gaspare lo Curto, astrônomo do Observatório Europeu Austral (ESO, em inglês) no Chile. O novo planeta orbita ao redor da diminuta estrela Gliese 581, na constelação de Libra, localizada a 20,5 anos luz da Terra e em cuja órbita já foram descobertos outros três planetas. (notícia retirada de http://oglobo.globo.com, publicada em 23/4/2009, texto adaptado) O planeta citado na notícia se encontra: a) girando em volta do Sol, antes de Plutão; b) girando em volta do Sol, depois de Plutão; c) girando em volta de uma estrela que pode ser vista no céu a noite; d) em algum lugar do espaço, distante de todos os corpos celestes conhecidos. Resposta esperada: Girando em volta de uma estrela que pode ser vista no céu a noite (letra c) [8]. [8] A estrela Gliese 581 possui magnitude aparente igual a 10,57, ou seja, ela pode ser vista no à noite com a ajuda de pequenos telescópios (fonte: http://exoplanet.eu/star.php?st=Gl%20581, acesso: 20 fev. 2012). O termo “que pode ser vista no céu à noite” foi colocado apenas para distingui-la do Sol, que é uma estrela que, por definição, só pode ser vista de dia. 38 Respostas dos alunos: Respostas - questão 8 Girando em volta de uma estrela que pode ser vista no céu a noite: 60% 7% 33% 60% Girando em volta do Sol, depois de Plutão: 33% Em algum lugar do espaço, distante de todos os corpos celestes conhecidos: 7% Figura V.11 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 8). Podemos ver que, nessa questão, a maioria dos alunos (60%) marcou a opção que colocava o planeta girando em volta de uma estrela diferente do Sol, conforme o esperado. Apesar de ser um resultado positivo, não podemos avaliar até que ponto isso foi produzido pelo conhecimento teórico do tema ou pela interpretação do que estava escrito na notícia. Questão 9 - A figura abaixo representa o planeta Terra. Desenhe quatro pessoas na Terra: uma no Pólo Norte, uma no Pólo Sul, uma a leste e uma a oeste da direção da linha do equador. [9] Pólo Norte Oeste Linha do Equador Leste Pólo Sul Figura V.12 – Questionário de conhecimentos prévios (questão 9). Resposta esperada: Esperávamos que os alunos desenhassem pessoas em pé no referencial da Terra, ou seja, com os pés na superfície da Terra. [9] Em uma pesquisa realizada com professores do ensino fundamental (PINTO; FONSECA; VIANNA, 2007), aplicou-se uma questão semelhante à anterior, e também foram obtidos resultados semelhantes aos nossos. 39 Resposta dos alunos: Respostas - questão 9 13% Pessoas em pé no referencial do leitor: 80% 7% 80% Pessoas em pé no referencial Terra: 7% Não responderam: 13% Figura V.13 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 10). Nessa questão, vemos que a maioria dos alunos (80%) desenhou pessoas de pé no referencial do leitor. Apenas uma aluna (7%) desenhou pessoas de pé no referencial da Terra (figura V.14 (a)), conforme o esperado. Figura V.14 – Exemplos de respostas dos alunos (questão 9): (a) pessoas em pé no referencial da Terra; (b) pessoas em pé no referencial do leitor. 40 Questão 10 - A figura mostra um foguete sendo lançado para o espaço. Repare que durante o lançamento, o combustível é atirado violentamente para fora do foguete [10] . Figura V.15 - Questionário de conhecimentos prévios (questão 10). Com os conhecimentos que possuímos hoje sobre as leis da física, seria possível a construção de um foguete que utilizasse o mesmo tipo de combustível que o da foto, e que fosse lançado sem que o combustível fosse atirado para fora do foguete? a) Sim. b) Não. Resposta esperada: Esperávamos que os alunos associassem o fato de o combustível ser atirado para fora a uma lei física (lei da ação e reação), não sendo possível “desobedecê-la”, de acordo com conhecimentos científicos atuais (letra b). Resposta dos alunos: Respostas - questão 10 40% Não: 60% 60% Sim: 40% Figura V.16 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 10). Apesar de uma maioria respondendo de acordo com o esperado (60%), isso não é muito significativo, já que se tratava de uma questão com apenas duas opções. O que vemos é uma leve tendência para a resposta esperada, com opiniões divididas. Devemos considerar [10] Na verdade, o que é atirado para fora do foguete são os gases produzidos pela queima do combustível. Essa informação poderia ser incluída na questão, para torná-la mais precisa, entretanto, a questão poderia se tornar menos compreensível para os alunos. 6032 09265 9 531 41 que os alunos analisados ainda não haviam estudado a Lei da Ação e Reação no ensino médio (salvo possíveis casos de alunos transferidos de outros colégios). Questão 11 - Imagine uma nave espacial em uma viagem rumo à Lua. Quando esta nave já está bem longe da Terra, mas ainda distante da Lua, acaba seu combustível. O que aconteceria com a nave ao acabar o combustível? a) Continuaria com a velocidade que tinha. b) Diminuiria sua velocidade. c) Pararia. d) Mudaria o sentido do movimento (daria “ré”). Resposta esperada Esperávamos que os alunos associassem a grande distância entre a Terra e a Lua com a falta de gravidade, ou seja, com forças gravitacionais desprezíveis [11] . Com os motores desligados, isso implicaria em uma força resultante igual a zero e, pela Lei da Inércia, a nave continuaria com velocidade constante (letra a). Resposta dos alunos: Respostas - questão 11 6% Diminuiria sua velocidade: 67% 7% Pararia: 20% 20% 67% Continuaria com a velocidade que tinha: 6% Mudaria o sentido do movimento (daria “ré”): 7% Figura V.17 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 11). A maioria dos alunos (67%) considerou que a velocidade da nave diminuiria. Apenas um aluno (6%) marcou a opção esperada. [11] Na verdade, o campo gravitacional em uma viagem entre a Terra e a Lua só seria exatamente igual a zero em pontos específicos, chamados de Pontos Lagrangianos (LANDAU; STRANGE, 2012), em que os campos gravitacionais da Terra e da Lua se cancelariam. Entretanto, em pontos entre a Terra e a Lua suficientemente distantes de ambas, os campos gravitacionais podem ser considerados desprezíveis, mesmo sem se cancelarem. Para servir de exemplo, é fácil verificar que, no ponto médio do segmento de reta que liga a Terra à Lua, o campo gravitacional produzido pela Terra é da ordem de 0,1% do campo em sua superfície, e o campo gravitacional produzido pela Lua é da ordem de 0,01% do campo em sua superfície. 42 Questão 12 - O astronauta Dave Scott, da missão Apolo 15 na Lua, realizou um experimento para comprovar as teorias de Galileu Galilei, utilizando uma pena e um martelo. O astronauta, na Lua, levantou a pena em uma mão e o martelo na outra, na mesma altura, e soltou os dois ao mesmo tempo, conforme a figura (a pena e o martelo estão destacados na figura): Figura V.18 – Questionário de conhecimentos prévios (questão 11). O que aconteceu com a pena e o martelo ao serem soltos? a) Os dois ficaram flutuando. b) A pena ficou flutuando e o martelo caiu em direção ao solo. c) A pena e o martelo caíram, e os dois atingiram o solo ao mesmo tempo. d) A pena e o martelo caíram, e o martelo atingiu o solo antes que a pena. Resposta esperada: A pena e o martelo cairiam, e os dois atingiriam o solo ao mesmo tempo (letra c). Resposta dos alunos: Respostas - questão 12 13% 33% Os dois ficaram flutuando: 54% 54% A pena ficou flutuando e o martelo caiu em direção ao solo: 33% A pena e o martelo caíram, e os dois atingiram o solo ao mesmo tempo: 13% Figura V.19 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 12). A maioria dos alunos (53%) respondeu que a pena e o martelo ficariam flutuando. Podemos supor que esses alunos desconsideram o fato de a Lua possuir campo gravitacional. Apenas 13% dos alunos responderam de forma esperada. 43 Questão 13 - Por que os objetos que são soltos caem na Terra? Resposta esperada: Esperávamos apenas que os alunos associassem a queda à gravidade (ou à força da gravidade, ou ao campo gravitacional). Resposta: Respostas - questão 13 Por causa da gravidade / por causa da força da gravidade: 46% 7% 46% 33% 7% 7% Por que são sugados pela atmosfera: 7% Por que a densidade do ar é menor que a dos objetos: 7% Outras respostas (fisicamente incorretas): 33% Não responderam: 7% Figura V.20 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 13). Nessa questão, a maior incidência de respostas (46%) associou a queda dos corpos à gravidade, conforme o esperado. Questão 14 - A figura mostra um satélite em órbita na Terra. Figura V.21 – Questionário de conhecimentos prévios (questão 14). Por que o satélite não cai na Terra? 44 Resposta esperada: Existem dois fatores principais que mantêm um satélite em órbita: a gravidade da Terra e sua velocidade. Sem a gravidade da Terra, pela Lei da Inércia, o satélite manteria um movimento retilíneo com velocidade constante. Considerando a atração da gravidade, existe um intervalo de velocidades em que o satélite permanece em movimento orbital. Se a velocidade do satélite estivesse abaixo desse intervalo, o satélite cairia na Terra; se sua velocidade estivesse acima desse intervalo, ele “escaparia” da gravidade da Terra e se perderia no espaço. Resposta dos alunos: Respostas - questão 14 Por causa da gravidade / da força da gravidade: 27 % Por que existe um sistema para vencer a força da gravidade: 13 % 20% 27% 7% 13% 7% 13% 13% Por que cientistas o projetaram para isso: 13% Por que ele está em um local com gravidade zero / está flutuando: 13 % Por que ele está em um local com gravidade menor: 7 % Por que a densidade do satélite é menor que a do ar: 7 % Outras respostas (fisicamente incorretas): 20 % Figura V.22 – Distribuição das respostas dos alunos (questão 14). Houve uma grande variedade de respostas dadas pelos alunos nessa questão. A maior porcentagem de padrões de respostas (27%) apresentou a gravidade como responsável por manter o satélite em órbita, entretanto, nenhum dos alunos citou a velocidade do satélite. Citar apenas a velocidade do satélite não possui significado físico, pois um satélite em repouso sob a ação da gravidade terrestre acaba caindo na Terra. 45 V.1.2 Os Conhecimentos Prévios e o Desenvolvimento do Trabalho A análise das distribuições de respostas do questionário de conhecimentos prévios mostra uma grande deficiência por parte dos estudantes em relação a conhecimentos básicos sobre o Sistema Solar, o sistema Sol-Terra-Lua e as observações dos corpos celestes a olho nu. Esses assuntos são geralmente trabalhados em nível fundamental, em disciplinas como ciências e geografia e, por isso, muitas vezes considera-se que o alunos do ensino médio já dominam tais conceitos. Como exemplo, podemos citar o ensino da Lei da Gravitação Universal na disciplina de física de nível médio, onde em geral supõe-se que os alunos já conhecem as órbitas planetárias e de satélites. Dessa forma, resolvemos dar uma ênfase maior, em nossa proposta curricular, em relação a conceitos sobre o Sistema Solar, acima do que seria esperado para o ensino médio. Em particular, enfatizamos conceitos sobre o Sistema Sol-Terra-Lua de nível fundamental. Consideramos esses conceitos como uma base para a compreensão de outros conteúdos físicos e astronômicos, como a Gravitação Universal e os sistemas extrassolares. Apesar disso, não nos limitamos à abordagem de astronomia presente no nível fundamental. Buscamos enfatizar apenas os conceitos astronômicos diretamente relacionados com a mecânica do ensino médio. Além disso, expandimos tais conteúdos para tratar aspectos pouco trabalhados no ensino básico. Por exemplo, ao apresentarmos os movimentos da Terra, expandimos tal assunto, explicando “por que não sentimos os movimentos da Terra” e “o que mantém a Terra em órbita ao redor do Sol”. Por outro lado, em relação a conteúdos astronômicos pouco vistos no ensino básico, como as distâncias estelares, houve resultados positivos, como exemplo, a questão 6: “existem estrelas maiores que o planeta Terra?”, onde 67% dos alunos responderam “sim”. Isso é uma evidência da existência de formas diversificadas de obtenção de conceitos subsunçores por parte dos alunos (seção III.1). Esses conceitos foram utilizados ao expandimos a discussão astronômica para além do Sistema Solar, fazendo o gancho com o que os alunos já sabiam. A seguir, citaremos algumas distribuições de respostas que influenciaram diretamente nossa proposta curricular. A questão 1 mostrou que os alunos não associavam rotação e translação da Terra de forma simultânea, além de não representarem o movimento da Lua ao redor da Terra. Esse resultado nos motivou a utilizar, durante as aulas, uma animação com os movimentos da Terra e da Lua de forma simultânea. Na questão 2, a maioria dos alunos não associou o nascer e pôr do Sol a movimentos. Esse fato nos motivou usar simulações sobre movimentos observados no céu, além de definirmos “movimento” de forma objetiva. 46 A questão 4, sobre as causas dos dias e das noites, nos levou a realizar, em sala de aula, uma atividade prática sobre o assunto, com um globo terrestre e uma lanterna (seção VI.2.3). A questão 9, que pedia para os alunos desenharem pessoas na Terra, nos levou a colar um boneco no globo terrestre, na atividade citada anteriormente, o que gerou discussões muito positivas em sala de aula (seção VI.2.3) Entre os conhecimentos prévios dos alunos que foram considerados como conceitos subsunçores (seção III.1) para o desenvolvimento de nossa proposta curricular, podemos citar: O fato de existirem estrelas maiores que o Sol (67% de respostas na questão 5, entre 2 opções). O fato de as estrelas vistas a noite se encontrarem tão distantes de nós que é difícil medir em quilômetros (47% de respostas na questão 7, entre 4 opções). A associação da queda dos corpos à gravidade (46% de respostas na questão 13). Um fato importante sobre os conhecimentos prévios dos alunos estudados (e dos alunos da rede estadual do Rio de Janeiro, de uma forma geral) é a grande deficiência apresentada por eles em relação à matemática de nível fundamental. Qualquer professor lecionando disciplinas que exijam o mínimo de matemática, na rede estadual do Rio de Janeiro (em especial no período noturno), pode verificar que muitos alunos chegam ao colégio ser saber resolver as equações de primeiro grau mais elementares e com dificuldades em operações algébricas com números negativos e frações. As dificuldades matemáticas dos alunos nos levaram a elaborar um projeto onde o primeiro bimestre fosse apresentado de forma totalmente qualitativa, como motivação para a discussão mais quantitativa do restante do ano letivo. V. 2 A Proposta Curricular Pela orientação curricular vigente no ano letivo de 2010 para a rede estadual de ensino do Rio de Janeiro (AGUIAR; GAMA; COSTA, 2005), a disciplina de física deveria trabalhar apenas conteúdos de mecânica na segunda sério do ensino médio. No documento de reorientação curricular estabelece os seguintes conteúdos para a física na segunda série: 47 A descrição do movimento Posição e tempo; trajetória. Velocidade e aceleração. Representação gráfica dos movimentos. Forças Intensidade, direção e sentido das forças. Vetores. A soma de forças. Exemplos: forças de contato e atrito, peso, forças eletromagnéticas. Ação e reação. Equilíbrio. Força e movimento As leis de Newton. O conceito de massa. Movimento de uma partícula livre. Movimento sob uma força constante; projéteis. Movimento circular. * Gravitação universal. * Movimento oscilatório. * Conservação da energia Trabalho e potência. Energia cinética. Energia potencial. Conservação da energia mecânica. Conservação da quantidade de movimento * Impulso. Quantidade de movimento. A terceira lei de Newton e a conservação da quantidade de movimento. Hidrostática * Pressão em fluidos. O princípio de Pascal. Empuxo e o princípio de Arquimedes. Os itens marcados com asteriscos são opcionais, mas o professor deve trabalhar pelo menos um deles. 48 Neste trabalho, propomos uma grade curricular que leva em consideração a reorientação a estrutura curricular do estado do Rio de Janeiro (possivelmente similar a outras redes de ensino), mas que também apresente aspectos das propostas dos PCNs+. Propomos a seguinte grade curricular para o ensino de mecânica de nível médio: Tabela V. 1 – Grade curricular da segunda série do E.M. da rede estadual do Rio de Janeiro. BIMESTRE Primeiro bimestre CONTEÚDOS “Astronomia e astronáutica” como tema estruturador para a mecânica: Unidade temática 1: qual é o tamanho do universo? Unidade temática 2: os corpos celestes se movimentam? A descrição do movimento: Referenciais. Segundo Posição e tempo; trajetória. bimestre Velocidade. Forças e movimento: Lei da inércia. Forças e movimento: Intensidade, direção e sentido das forças. Terceiro Aceleração; Princípio Fundamental da Dinâmica. bimestre Movimentos de uma partícula livre. Movimentos sob uma força constante. Lei da Ação e Reação. Forças e movimento: Conceito de massa; força peso; queda livre. forças de contato e atrito. A soma de forças (somente com direções iguais). Quarto Algumas aplicações das leis de Newton. bimestre Gravitação universal (qualitativo). Conservação da energia: Conservação da energia mecânica (qualitativo). Exemplos de conservação da energia mecânica: usinas hidrelétricas, foguetes etc. 49 A seguir, descreveremos os conteúdos propostos para cada bimestre, de forma mais detalhada. V. 2. 1 Proposta Curricular para o Primeiro Bimestre Podemos ver que o principal diferencial dessa proposta curricular, em relação à orientação curricular vigente na rede estadual do Rio de Janeiro, está nos conteúdos do primeiro bimestre, onde propomos que conceitos de mecânica sejam trabalhados dentro do tema estruturador “astronomia e astronáutica”. O tema estruturador “astronomia e astronáutica” é dividido em duas unidades temáticas, descritas a seguir. V. 2. 1. 1 Unidade Temática 1 – Qual é o Tamanho do Universo? [12] Nessa unidade temática, deve ser apresentado um “mapa do universo”, de forma a situar os alunos em qualquer discussão subsequente sobre astronomia e astronáutica. Devem ser apresentadas as escalas astronômicas de tamanhos, distâncias e quantidades de corpos celestes no universo. Além disso, a localização da Terra deve ser situada no universo como fazendo parte de um sistema planetário como outros existentes, orbitando uma estrela como outras que vemos à noite, e pertencente a uma das muitas de galáxias existentes no universo. Essa unidade pode ser relacionada com os conteúdos tradicionais conhecidos como “introdução à física” e deve ser usada como um “pré-requisito” para a unidade temática 2 (entretanto, a unidade temática 2 também pode ser usada de foram independente). Entre os conceitos físicos trabalhados nesta unidade temática, podemos citar: escalas de tamanho e distancia; unidades de medida (quilômetros e anos luz); ordens de grandeza. V. 2. 1. 2 Unidade Temática 2 – Os Corpos Celestes se Movimentam? Nessa unidade temática, os corpos celestes vistos na unidade temática 1 são revisados com foco em uma característica comum a todos: o movimento. Em especial, são trabalhados os corpos celestes do Sistema Solar, já que muitos podem ser observados a olho nu e a [12] Apesar do nome provocativo desta unidade, nosso objetivo não é responder à pergunta “qual é o tamanho do universo?”, mas apenas dar uma noção ao aluno da imensidão do universo. Mesmo se quiséssemos responder a essa pergunta, essa não seria uma tarefa simples, pois, além de só termos acesso ao “universo visível”, em escala cosmológica existem diferentes definições de distância (POWELL, 2000). 50 mecânica newtoniana pode ser aplicada a eles sem muitas exceções. Nesse ponto, é deixado claro que os princípios que regem os movimentos de tais corpos celestes são os mesmos que regem os movimentos vistos na Terra, além de movimentos de satélites artificiais, de foguetes espaciais etc., fazendo uma ponte para a astronáutica. Entre os conceitos físicos trabalhados nesta unidade temática, podemos citar: conceito de movimento; trajetória; conceito de velocidade e algumas unidades; referenciais; conceito de lei da natureza; leis de Newton do movimento; Lei da Gravitação Universal; movimento orbital. V. 2. 2 Proposta Curricular para o Segundo, Terceiro e Quarto Bimestres A partir do segundo bimestre, propomos o retorno à estrutura tradicional presente na orientação curricular do estado do Rio de Janeiro. Entretanto, muitos dos assuntos tratados já aparecem no primeiro bimestre, de forma qualitativa e contextualizada com a mecânica. Isso é intencional, pois os conteúdos do primeiro bimestre devem ser usados como exemplos e elementos motivadores para os conteúdos do restante do ano letivo. Essa abordagem não deve ser esquecida por professores ao aplicarem nossas propostas, pois, de outra forma, seria criada uma “descontinuidade” entre os conteúdos do primeiro bimestre e os do restante do ano. Pode-se ver que nossa proposta inclui algo em torno de 70% dos conteúdos “oficiais”, além de apresentar um conteúdo opcional (gravitação universal), a ser trabalhado de forma qualitativa. Obviamente, a aplicação dos conteúdos “não oficiais” do primeiro bimestre dificulta a aplicação de 100% dos conteúdos “oficiais”. Entretanto, acreditamos que os conteúdos do primeiro bimestre podem trazer ganhos ao ensino, em especial em relação à motivação para a aprendizagem dos conceitos físicos [13]. [13] Pela experiência profissional do autor do presente trabalho (professor da rede estadual nos períodos diurno e noturno e ex- aluno dessa rede), constatamos que muitos professores de física da rede estadual passam um ano letivo inteiro trabalhando apenas conceitos de cinemática, com grande parte do tempo destinado às “equações do movimento”. Isso significa que, mesmo sem a aplicação de 100% dos conteúdos oficiais, nossa proposta ainda apresenta mais conteúdos do que aquilo que é aplicado por muitos professores de física. 51 Acreditamos que os conteúdos propostos a partir do segundo bimestre são bem conhecidos por professores de física, sem a necessidade de descrições detalhadas. Iremos apenas fazer alguns comentários, que achamos mais relevantes: Seguindo a orientação curricular “oficial”, não inserimos as equações de movimento à nossa proposta. Propomos que a aceleração seja apresentada dentro do contexto do Princípio Fundamental da Dinâmica. Apesar de considerarmos a representação gráfica dos movimentos como um item importante para o aluno, resolvemos não incluí-los em nossa proposta apenas para termos mais tempo para uma ênfase maior na dinâmica. As leis de Newton são apresentadas, em um primeiro momento, enfatizando a relação entre a força aplicada e tipos de movimentos. Apenas no quarto bimestre é que são apresentados problemas envolvendo somas vetoriais. A soma vetorial se limita a forças com sentidos iguais. Supomos não haver tempo hábil para um desenvolvimento quantitativo da conservação da energia mecânica. Por isso propomos uma discussão qualitativa, através de exemplos cotidianos. V.3 Metodologia de Avaliação do Projeto Toda a nossa proposta curricular foi aplicada em sala de aula, como será descrito no capítulo a seguir. O primeiro objetivo dessa aplicação foi a avaliação da viabilidade de nossas propostas, em especial em relação ao tempo disponível em sala de aula. As outras formas de avaliação do projeto utilizaram dados obtidos durante sua aplicação em sala de aula. O principal método utilizado como avaliação do projeto foi a pesquisa qualitativa, com o professor/pesquisador fazendo anotações, durante e após as aulas, das reações dos alunos e de seus comportamentos de uma forma geral. Para que a compreensão e a receptividade dos alunos em relação aos temas abordados ficassem mais evidentes, uma das estratégias utilizada pelo professor foi o constante questionamento dos alunos durante as aulas. Apesar da opção pela avaliação qualitativa, também foram tiradas algumas conclusões com dados quantitativos. Para tanto, foram comparados resultados de algumas questões aplicadas no questionário de conhecimentos prévios (pré-teste) e na prova do primeiro bimestre (pós-teste). Também foram analisadas as notas das provas do primeiro bimestre em função da freqüência às aulas. 52 V.4 O Produto Educacional Como produto educacional, os conteúdos aplicados no primeiro bimestre foram desenvolvidos em formato de hipermídia, disponível no CD-ROM em anexo (anexo VI) e no site www.hugo.pro.br/astronomia.htm. Vale ressaltar que os conteúdos da hipermídia não seguem fielmente às aulas aplicadas. Houve algumas adaptações recorrentes da avaliação da aplicação do projeto, conforme descrito na seção VII.7. Entre as fontes técnicas consultadas para o desenvolvimento da hipermídia os principais foram os tutoriais de HTML E CSS disponíveis em http://pt-br.html.net/tutorials/html/ e em http://www.maujor.com/index.php (acesso em 25 fev. 2012). Em especial, utilizamos o modelo de página da internet disponível em http://www.maujor.com/tutorial/layout-css-passo-apasso.php (acesso em 25 fev. 2012). A hipermídia possui dois objetivos principais: Servir como suporte a professores que queiram aplicar nossa proposta curricular, apresentando os conteúdos do primeiro bimestre e dando sugestões aos professores; Servir como material didático para alunos, durante a aplicação do projeto. Também produzimos um Guia dos Professores, descrevendo de forma mais detalhada os conteúdos da hipermídia, mostrando sua relação com os conteúdos tradicionais aplicados na disciplina de física e apresentando os recursos didáticos da hipermídia. Nesse guia, também existem sugestões de aplicações da hipermídia mais flexíveis do que as apresentadas nesta dissertação. O texto presente na hipermídia, intitulado “A Física e o Universo”, se encontra no apêndice III, O Guia de Orientação aos Professores está disponível no apêndice VI e o CDROM com a hipermídia se encontra no apêndice V. 53 Capítulo VI - Aplicação do Projeto A proposta curricular presente na seção V.2 foi aplicada pelo autor do presente trabalho, em uma turma de segundo ano do ensino médio noturno, ao longo de todo o ano letivo de 2010. Esta turma pertencia ao Colégio Estadual Capitão de Fragata Didier Barbosa Vianna, situado no bairro do Tauá – Ilha do Governador, na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro (seção IV.2.1). A aplicação do projeto foi facilitada pelo fato de o autor desta dissertação ser professor efetivo desse colégio. Na rede estadual do Rio de Janeiro, a carga horária de física, no ano letivo de 2010, era de uma aula de 80 minutos por semana (composta por dois “tempos” de 40 minutos) [14]. As aulas do projeto foram aplicadas na disciplina de física, que ocorriam todas as sextas-feiras. Supomos que o horário da sexta-feira a noite tenha contribuído para uma menor frequência às aulas, já que esse dia da semana costuma ser o de menor frequência de alunos no colégio. A partir do terceiro bimestre, as aulas passaram a ocorrer no horário entre 18h 10min e 19h 30min. Esse horário reduziu o tempo útil das aulas, pois a maioria dos alunos passou a chegar atrasada às aulas, em geral utilizando como justificativas o horário de trabalho e o trajeto entre o trabalho e a escola. Devido à evasão escolar presente do ensino médio noturno, a quantidade de alunos da turma de aplicação do projeto se mostrou variável. Na verdade, essa turma se originou de duas, que a partir do terceiro bimestre se “transformou” em uma. Uma das turmas foi iniciada com 25 alunos matriculados e a outra com 26 alunos, ou seja, um total de 51 alunos matriculados. Apesar dessa quantidade de alunos matriculados, no primeiro bimestre apenas 31 alunos foram avaliados na disciplina de física (e apenas 15 alunos responderam ao questionário de conhecimentos prévios). Já no segundo bimestre, 24 alunos foram avaliados (considerando as duas turmas). A partir do terceiro bimestre, uma das turmas foi fechada pela Secretaria de Educação, e os alunos remanescentes das duas turmas foram agrupados em apenas uma turma. Nessa “nova” turma, 18 alunos foram avaliados na disciplina de física no terceiro bimestre, 17 alunos foram avaliados no quarto bimestre e 15 foram aprovados no ano letivo (2 alunos foram reprovados). A seguir, faremos um resumo das atividades desenvolvidas em sala de aula, durante todo o ano letivo de 2010. [14] Os alunos da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro possuem seis “tempos” diários de aula. Em 2010, a duração de um “tempo” de aula no período noturno era de 40 minutos. Em 2012, o “tempo” do período noturno passou a ser de 45 minutos. Até o presente momento (fevereiro de 2012) ainda não sabemos as implicação desse aumento no tempo de aula no turno noturno, já que isso irá implicar em aulas até as 22 h e 50 min, em bairros muitas vezes violentos. 54 VI.1 Aplicação do Questionário de Conhecimentos Prévios No ano de 2010, o feriado do Carnaval ocorreu na terceira semana de 2010. Devido a isso, efetivamente, as aulas só começaram após o Carnaval: a primeira semana de fevereiro foi reservada a planejamentos e na segunda semana e terceira semanas não houve alunos presentes. Finalmente, no dia 26 de fevereiro de 2010 houve a primeira aula de física, que foi reservada para uma apresentação do projeto e a aplicação o questionário de conhecimentos prévios. Nesse dia, os alunos da turma tiveram alguns “tempos vagos” antes da chegada do professor/pesquisador ao colégio. Devido a isso, muitos alunos foram embora do colégio (sem a autorização da direção) antes da aula de física. Isso resultou em 9 alunos presentes na aula, que responderam ao questionário. Outros 6 alunos adquiriram o questionário em outros dias e o responderam em casa, entregando-o ao professor no início da aula seguinte, antes da aplicação de qualquer conteúdo. VI. 2 Aulas do Primeiro Bimestre Entre os dias 5 de março e 2 de abril de 2010 foram aplicadas 5 aulas relativas ao tema estruturador “astronomia e astronáutica”. As duas primeiras aulas foram reservadas à “Unidade temática 1: qual é o tamanho do universo?” e as três ultimas foram reservadas à “Unidade temática 2: os corpos celestes se movimentam?”. Nas duas últimas aulas do bimestre, foram feitas as avaliação escolares: um pequeno seminário sobre a história da mecânica e da astronomia e uma prova escrita. Nas aulas do primeiro bimestre, houve ampla utilização de imagens, animações e simulações computacionais. Por isso, todas as aulas foram desenvolvidas mediante apresentações em formato PPT, projetadas por datashow. Vale destacar que todos os colégios da rede estadual do Rio de Janeiro estão recebendo aparelhos de datashow e seus professores estão recebendo laptops. As apresentações em PPT utilizadas em aula estão disponíveis no CD-ROM em anexo e na página www.hugo.pro.br/astronomia_downloads.htm. A seguir, descreveremos, de forma sucinta, as atividades desenvolvidas e as observações referentes a cada uma das cinco aulas aplicadas. VI. 2. 1 Primeira Aula Na primeira aula de aplicação do projeto, houve 18 alunos presentes, sendo que três deles não haviam respondido ao questionário de conhecimentos prévios. Nessa aula, iniciamos a apresentação da “unidade temática 1 - qual é o tamanho do universo?”. 55 Começamos a aula com uma rápida introdução histórica, citando a noção de “tamanho do universo” na antiguidade, com o sistema geocêntrico, passando pela transição ao sistema heliocêntrico, na idade moderna, até chegar ao modelo de Sistema Solar atual. Nesse ponto, foi apresentada uma imagem provavelmente familiar pelos alunos: planetas orbitando o Sol fora de suas escalas reais de tamanho e distância (figura VI.1). Figura VI.1 - Representação do Sistema Solar fora de escala de tamanho e distância (fonte: http://aprenderbrincando.no.sapo.pt/sistema_solar.htm. Acesso: 30 jan. 2012.) Lançamos a seguinte questão aos alunos: “está tudo certo com essa figura (figura VI.1)?”. Alguns alunos disseram que Plutão não deveria estar na figura, por não ser mais um planeta. Explicamos que, apesar de Plutão não ser mais classificado como planeta, ele continuava existindo. Por outro lado, esclarecemos que as escalas de tamanho e distância nessa figura não estavam sendo respeitadas. Começamos a melhorar o modelo de Sistema Solar, apresentando imagens em escala de tamanho, como a da figura VI.2 (página seguinte), deixando claro que as escalas de distância ainda não estavam sendo respeitadas. Houve manifestações de espanto por parte dos alunos, principalmente ao compararem a Terra com os planetas gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) e o Sol. Figura VI.2 - Representação do Sistema Solar em escala de tamanho. (Fonte: http://arcageografica.blogspot.com/2009/06/aprendendo-fazer-maquetes-do-sistema.html. Acesso: 30 jan. 2012.). 56 A partir desse ponto, apresentamos a seguinte questão aos alunos: “qual é o nome da estrela mais próxima da Terra?”. Verificando dificuldades apresentadas pelos alunos para responderem à questão, apresentamos a resposta: “o Sol”. Depois dessa resposta, alguns alunos se manifestaram, como se não tivessem respondido apenas por terem esquecido que o Sol era uma estrela. Em seguida, lançamos mais uma questão: “O Sol é a maior estrela que existe?”. Os alunos se mostraram inseguros para responder a essa questão. Entre os que tentaram responder, houve mais ou menos a mesma quantidade de “sim” e “não” [15] . Uma aluna afirmou que o Sol era a maior estrela por ser o “astro rei” e o professor explicou que o Sol poderia ser considerado como o astro rei do Sistema Solar, mas não de todo o universo. A resposta apresentada pelo professor foi: “não”. Para justificar essa resposta, utilizamos mais imagens para ilustrar escalas de tamanho, dessa vez entre estrelas. Verificamos reações de espanto e admiração dos alunos diante das imagens, mesmo daqueles que já aceitavam a existência de estrelas maiores que o Sol. Figura VI.3 - Algumas estrelas e o planeta Júpiter em escalas de tamanho. (Fonte: http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/. Acesso: 30 jan. 2012.). Usando as escalas de tamanho das estrelas como gancho, lançamos mais uma questão: “se as estrelas são tão grandes, por que elas parecem tão pequenas?”. Entre os alunos que se manifestaram, não houve dificuldades em associar o tamanho aparente das estrelas à sua grande distância de nós. Essa questão levou a discussão sobre as escalas de distância astronômicas. Foi apresentada para os alunos uma figura com as escalas de distâncias entre o Sol, os planetas do Sistema Solar e Plutão (figura VI.4), como sugere CANALLE (1994). Acrescentamos Plutão [15] Pela distribuição de respostas da questão 5 do questionário de conhecimentos prévios (seção V.1.1), supomos que havia mais alunos achando que existiam estrelas maiores que o Sol, mas que ficaram com receio de responder perante o restante da turma. 57 nessa escala pelo fato de muitos alunos ainda considerarem esse planeta anão como uma referência de “objeto distante de nós”, conforme vimos no questionário de conhecimentos prévios (seção V.1.1). Figura VI.4 – Astros do Sistema Solar em escala de distância. Ainda usando a figura acima, perguntamos aos alunos onde a estrela Proxima Centauri (a estrela mais próxima do Sol) se encontraria nessa mesma escala (considerando a distância entre o Sol e Plutão da ordem de 1 metro, projetando a figura por datashow). Respondemos que Proxima Centauri, nessa escala, se encontraria a quilômetros de distância do Sol. Isso serviu para mostrar que a única estrela pertencente ao Sistema Solar é o próprio Sol. A discussão sobre escalas de distância astronômicas levou à necessidade de se medir as grandes distâncias estelares em uma unidade diferente dos quilômetros. Com isso, introduzimos o conceito de ano-luz, e também o de minuto-luz. Usamos como exemplos a distância do Sol a Terra (aproximadamente 8 minutos-luz) e a distância do Sol ao sistema estelar Alpha Centauri [16] (aproximadamente 4 anos-luz). Dessa forma, exemplificamos o conceito físico de unidades de medida, e mostramos a necessidade da existência de várias unidades para um mesmo tipo de medida. Propomos mais uma questão para os alunos: “se as outras estrelas são como o Sol, será que existem planetas orbitando-as?”. Verificamos que os alunos ficaram divididos em relação a essa questão. Alguns responderam que “achavam que sim”, devido a uma conclusão lógica. Entretanto, nenhum aluno demonstrou um conhecimento sólido sobre o assunto, baseados nas últimas descobertas da astronomia. A resposta dada pelo professor foi: “sim”. Como justificativa, apresentamos uma notícia real de descoberta de planeta extra-solar e citamos a existência de pelo menos 400 planetas extra-solares já descobertos [17] . Também aproveitamos a notícia para reforçar o conceito de ano-luz, ao falarmos da distância entre nós e o planeta descoberto e da possibilidade de [16] Alpha Centauri é o sistema estelar mais próximo do Sol, composto por três estrelas gravitacionalmente ligadas (sistema triplo). Duas delas (Alpha Centauri A e B), quando observadas a olho nu, aparentam ser apenas uma estrela, devido à pequena separação visual. Uma terceira (Próxima Centauri) é mais separada das outras duas outras (visualmente e fisicamente), mas é invisível a olho nu. Na verdade, a estrela mais próxima do Sol é Proxima Centauri, ligeiramente mais próxima que as outras duas. Por questões de simplicidade, durante a aula tratamos o sistema estelar Alpha Centauri como apenas uma estrela. Entretanto, no produto educacional trabalhamos esse sistema estelar com mais detalhes. [17] Essa informação se refere a março de 2010. Em 22 de fevereiro de 2011 tínhamos 760 planetas extra solares catalogados (fonte: http://exoplanet.eu/). 58 viagens espaciais entre a Terra e o planeta citado. Os alunos, ao serem questionados, demonstraram domínio sobre o conceito de ano-luz. Ao trabalharmos como uma notícia real, buscamos o desenvolvimento de competências relacionadas à interpretação de notícias de caráter científico e tecnológico. Finalizamos a aula lançando algumas questões provocativas, sobre a possibilidade de vida em outros planetas. Alguns alunos perguntaram no que “o professor acreditava”; outros negaram a existência de vida fora da Terra com base em argumentos religiosos. Obviamente, apresentamos a posição científica atual sobre o tema, deixando isso claro. VI. 2. 2 Segunda Aula Na segunda aula, havia 16 alunos presentes. Entre esses, 4 alunos não haviam assistido à primeira aula. Podemos ver que uma grande quantidade de conteúdos foi apresentada na primeira aula. Devido a isso, resolvemos dedicar boa parte do tempo da segunda aula para uma revisão dos conteúdos da primeira aula. Em especial, verificamos a assimilação do conceito de ano-luz, com questões do tipo: “quanto tempo a luz da estrela Alpha Centauri leva para chegar até nós?”, “se a estrela Alpha Centauri explodisse, quanto tempo levaríamos para ver a explosão”. Obtivemos respostas satisfatórias de alunos que haviam assistido a aula anterior. Também revisamos a possibilidade de viagens a outros sistemas planetários, citando a impossibilidade de uma nave atingir a velocidade da luz, estabelecida pela Teoria da Relatividade. Essa aula também serviu como um fechamento da primeira, tratando das ordens de grandezas de quantidades de corpos celestes do universo. Apresentamos o Sol como apenas uma estrela entre centenas de bilhões de outras da nossa Galáxia - Via-Láctea. Também citamos a existência de bilhões de outras grandes galáxias no universo (CASAS, 1999). Citamos a galáxia de Andrômeda como a “grande galáxia” mais próxima da Via Láctea, a 3 milhões de anos-luz de distância (OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2004, p. 448). Nessa etapa, trabalhamos os conceitos físicos de estimativa e ordem de grandeza. No final da aula, para dar uma noção mais visual acerca dos conteúdos trabalhados, apresentamos um vídeo com alguns minutos de duração [18] , simulando uma viagem da planeta Terra até o espaço intergaláctico. Os alunos apresentaram expressões de espanto com o vídeo, em especial em relação aos aglomerados de estrelas apresentados a aproximadamente 1 minuto de vídeo, além das muitas galáxias apresentadas aos 3 minutos. [18] Vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=b06ZBg-U670&NR=1. Acesso em 6 mar. 2012. 59 VI. 2. 3 Terceira Aula Na terceira aula, iniciamos a apresentação da “unidade temática 2 – os corpos celestes se movimentam?”. Estavam presentes 17 alunos, com 2 deles assistindo aula de física pela primeira vez no ano. Esta aula partiu dos movimentos dos corpos celestes observados a olho nu. Fizemos uma discussão geral sobre os movimentos das estrelas, do Sol, da Lua e dos planetas do Sistema Solar, observados a olho nu por observadores na Terra, com ampla utilização de imagens astronômicas. No questionário de conhecimentos prévios, foi pedido para os alunos representarem os movimentos dos corpos celestes observados da Terra, e muitos não representaram nenhum movimento, nem mesmo do Sol. Durante a aula, os questionamentos de alguns alunos demonstraram que, como os movimentos dos corpos celestes como o Sol e a Lua vistos da Terra não são perceptíveis com uma observação de alguns segundos, muitos alunos não consideram esta “lenta” mudança de posição como um movimento. Isso levou a uma discussão muito construtiva sobre o próprio conceito de movimento. Alguns dos movimentos apresentados foram representados por curvas, como na figura VI.5, exemplificando o conceito de trajetória. Figura VI.5 - Trajetória de estrelas no céu, obtida com fotografia de longa exposição. (Fonte: Curso de aperfeiçoamento de professores da Fundação Planetário do Rio de Janeiro – 2009.). Utilizamos as observações como gancho para o questionamento sobre como poderíamos explicar tais movimentos observados. Como forma de verificar os conceitos apresentados na unidade 1, perguntamos aos alunos se a Terra se movimenta. A maioria 60 respondeu que sim, conforme o esperado. Em seguida, lançamos outras perguntas: “como vocês sabem que a Terra se movimenta?”, “vocês sentem os movimentos da Terra?”. Alguns alunos responderam que não sentiam os movimentos da Terra. A partir desse ponto, iniciamos uma discussão histórica, bem sucinta, sobre os “sistemas de mundo”. Citamos o fato de o céu ser observado desde a Antiguidade e utilizado como calendário. Também citamos o sistema geocêntrico, aceito por séculos, e a transição para o sistema heliocêntrico. Mostramos que a aceitação do sistema heliocêntrico não foi óbvia, pois os dois “sistemas de mundo” explicavam os mesmos fenômenos, a partir de referenciais diferentes. Por fim, apresentamos alguns argumentos defendidos por Galileu Galilei em defesa do sistema heliocêntrico. Durante a discussão histórica, notamos certa dispersão dos alunos. Alguns alunos também declararam que a aula estava “ficando chata”. Conforme veremos no capítulo seguinte, não consideramos esse desinteresse como um consequência do assunto abordado, mas sim à forma de abordagem. Depois da discussão histórica, apresentamos o modelo aceito atualmente, de forma um pouco mais detalhada que na unidade temática 1. Também revisamos o fato de o Sistema Solar ser apenas um entre muitos sistemas planetários conhecidos. O sistema Sol-Terra-Lua foi trabalhado por meio de uma animação mostrando o movimento da Terra em torno do Sol e da Lua em torno da Terra [19] . Depois de algumas perguntas sobre os movimentos da Terra e da Lua, os alunos se mostraram surpresos ao observarem esses movimentos na animação, dispensando maiores explicações teóricas. Fizemos também uma breve discussão sobre a origem astronômica dos calendários (SILVEIRA, 2001), verificando, na animação, que a Lua dá mais ou menos doze voltas em torno da Terra em um ano, equivalentes aos doze meses de nosso calendário. Foi possível inclusive simular a ocorrência de eclipses, mesmo não sendo o assunto em foco. Ao serem questionados, os alunos indicaram um entendimento claro dos conceitos apresentados através da simulação. A partir da simulação, citamos as velocidades aproximadas de rotação e translação da Terra, além da velocidade aproximada do movimento da Lua em torno da Terra. Mostramos que as velocidades da Terra e da Lua são grandes, quando comparadas às velocidades presentes em nosso cotidiano, ao contrário do que diz nosso censo comum. Dessa forma, introduzimos o conceito de velocidade, além de darmos alguns exemplos de unidades de velocidade, como os km/h e km/s. Utilizamos um globo terrestre inflável com um pequeno boneco de papel colado na [19] Animação disponível em http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html. Acesso em: 23 fev. 2012. 61 posição do Rio de Janeiro e uma lanterna grande, para simular o movimento de rotação da Terra e os dias e as noites (figura VI.5). Colocamos boneco em várias posições, girando o globo terrestre, e perguntou aos alunos o horário aproximado (manhã, tarde ou noite), obtendo respostas satisfatórias Figura VI.5 – Representação dos dias e das noites com globo terrestre. O “boneco” representa uma pessoa no Rio de Janeiro. Aproveitando a colagem do boneco de papel no Rio de Janeiro “de cabeça para baixo”, em relação ao chão da sala, perguntamos aos alunos por que uma pessoa no Rio de Janeiro não se sente de “cabeça para baixo” e como ela consegue se manter “presa” ao solo terrestre. Essas perguntas geraram tantos questionamentos por parte dos alunos que só foi possível terminar a aula com a promessa de respondê-las de forma satisfatória na aula seguinte. VI. 2. 4 Quarta Aula Na quarta aula havia 17 alunos presentes, com 3 deles assistindo aula de física pela primeira vez no ano. No início da aula, foi exibido um vídeo por uma pessoa dentro de um brinquedo de parque de diversão em movimento [20] . Este vídeo serviu de analogia para explicar as observações dos corpos celestes a olho nu, apresentadas no início da aula anterior. Explicamos que, devido ao brinquedo se encontrar em movimento, a pessoa dentro dele vê todo o todo o parque de diversão girar. De forma análoga, devido à Terra se encontrar em movimento, uma pessoa na Terra vê todo o céu girar. Assim, introduzimos o conceito de [20] O vídeo utilizado não se encontra mais disponível na internet. Como alternativa, existe outro vídeo, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=I6QT-aBeCCQ&feature=related (acesso em 7 mar. 2012). 62 referencial, explicando que os movimentos observados dependem do referencial adotado. Ao serem questionados em sala, os alunos acenaram para a compreensão do conceito trabalhado. O vídeo também ajudou na compreensão da noção de “em cima” e “embaixo” como conceitos dependentes de um referencial, já que em alguns momentos a pessoa filmava a si mesma de “cabeça para baixo” em relação ao parque. Nesses casos, a pessoa aparecia na filmagem “de cabeça para cima” em relação aos espectadores (os alunos). Explicamos aos alunos que, em relação a eles, a pessoa no brinquedo estava de “cabeça para cima” e todo o parque estava de “cabeça para baixo”. Já em relação à outra pessoa observando do solo do parque, a situação seria contrária: a pessoa no brinquedo estaria de “cabeça para baixo” e o parque estaria de “cabeça para cima”. Dessa forma, respondemos aos questionamentos sobre o “boneco do globo terrestre”, da aula anterior, e os alunos se mostraram satisfeitos. Para reforçar a ideia de “em cima” e “embaixo” dependentes do referencial, mostramos aos alunos a imagem a seguir, sob dois pontos de vista diferentes: Figura VI.6 – Astronauta no espaço com Terra ao fundo, sob pontos de vista diferentes. O astronauta está de “cabeça para baixo” ou de “cabeça para cima”? Mostramos as duas fotos aos alunos e perguntamos se o astronauta estava “de cabeça para baixo” ou de “cabeça para cima”. Alguns alunos demonstraram domínio do conceito de referencial, dizendo que o astronauta estava de “cabeça para baixo” em relação à Terra. Explicamos que, na Terra, “embaixo” significa “no sentido do solo”, e “em cima” significa “no sentido do céu”, que depende do local da Terra onde a pessoa se encontra. Explicamos também que não existe chance de uma pessoa no hemisfério sul da Terra “cair no espaço”, pois a gravidade da Terra atrai tudo em sua superfície em direção ao seu centro. Em seguida, lançamos a questão “por que não sentimos o movimento da Terra?”. Alguns afirmaram que a Terra possuía um movimento muito lento, onde lembramos que a Terra possui grande velocidade, para os nossos padrões. A resposta foi dada através de uma analogia entre a Terra a um ônibus se movendo em linha reta com velocidade constante e com janela com cortinas fechadas. No caso do ônibus, 63 tudo o que está dentro do ônibus permanece com a velocidade do ônibus, e por isso, em relação aos passageiros, o ônibus se encontra em repouso (as pessoas podem inclusive dormir, como acontece em ônibus de viagem). Da mesma forma, tudo o que está na Terra permanece com a velocidade da Terra, e por isso em relação à gente a Terra se também encontra em repouso. Deixamos claro que isso só ocorre em movimentos retilíneos com velocidade constante, pois nesse caso existe uma “tendência” aos corpos permanecerem com suas velocidades (dessa forma, introduzimos, de forma indireta, o conceito de inércia). Apesar de sabermos que o movimento da Terra não é retilíneo, apresentamos a Terra possuindo, em relação à gente, um movimento aproximadamente retilíneo. Sabíamos que o ônibus não era o melhor exemplo a ser dado sobre movimento retilíneo uniforme, já que em geral, em uma viagem de ônibus, existem curvas e irregularidades na pista, mas apresentamos esse exemplo supondo-o mais familiar aos alunos. Entretanto, durante a aula, os próprios alunos apresentaram exemplos melhores, como uma viagem de metrô, no meio do caminho entre duas estações. Dessa forma, resolvemos citar também o exemplo da viagem de avião, mesmo não sendo tão familiar à maioria dos alunos. Depois de tudo isso, questionamos os alunos sobre o porquê de os corpos celestes se movimentarem da forma apresentada. Fizemos perguntas do tipo “será que os corpos celestes possuem vontade própria?”, “será que algum dia a Terra irá parar”? Para responder a essas perguntas, apresentamos a Mecânica Newtoniana como uma teoria capaz de explicar a maioria dos movimentos do nosso cotidiano e dos corpos celestes do Sistema Solar, sendo usada até hoje na Astronáutica. Mostramos que, segundo Isaac Newton, os movimentos sempre obedecem a certas leis, e tentamos dar uma noção básica do significado de uma lei física. Mostramos também que as leis de Newton se baseiam no conceito físico de força, que pode ser de contato ou atuar à distância. Percebemos uma certa dispersão da turma nessa etapa, o que nos levou a avançar rapidamente na discussão, mostrando as leis de Newton através de exemplos. Para exemplificar a aplicação das leis de Newton, propusemos a análise de uma viagem de um ônibus espacial, passo a passo [21] . Iniciamos a análise com o momento do lançamento do ônibus espacial, com a grande explosão do combustível. Retomamos à pergunta do questionário de conhecimentos prévios, sobre se seria possível um lançamento sem aquela explosão e, assim como no questionário, a turma se mostrou dividida. Usamos a explosão do combustível como exemplo da Lei da Ação e Reação, mostrando que, de acordo com o que conhecíamos atualmente, essa lei não poderia ser violada no caso do ônibus espacial. [21] Apesar da aposentadoria do projeto dos ônibus espaciais (http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/fisica-sem-misterio/o-ultimo-voo- da-aguia, acesso em 30 jan. 2012) usamos esse exemplo por acreditarmos que os ônibus espaciais ainda representam os veículos espaciais mais familiares à maioria dos brasileiros. Talvez no futuro seja necessária uma atualização do material produzido. 64 Em seguida, citamos o esvaziamento do tanque externo de combustível de dos foguetes propulsores, e suas subsequentes ejeções, com o foguete continuando seu movimento sem a necessidade de forças de propulsão. Esse fato foi usado como um exemplo da Lei da Inércia. Essa descrição gerou alguns questionamentos por parte dos alunos, que perguntaram onde o tanque de combustível e os foguetes caiam. Mostramos que o ônibus espacial se mantém em órbita no espaço mesmo com os motores desligados, o que gerou reações de surpresa por parte dos alunos. Ao citarmos a Lei da Inércia, também relacionamos o exemplo do ônibus espacial com exemplos na Terra. Citamos o fato de os objetos só pararam na Terra devido a forças contrárias ao movimento, como o atrito. Lembramos também que, em uma superfície com sabão, o atrito é reduzido, fazendo com os objetos deslizando demorem mais para parar. Nesse ponto, um aluno comentou, em tom de brincadeira: “é como se tivesse sabão no espaço”. Figura VI.7 – Ônibus espacial ejetando seus foguetes propulsores. (Fonte: http://profclaudenir.blogspot.com/2011/04/onibus-espacial.html. Acesso em 26 fev. 2012) Todo esse processo de lançamento de um ônibus espacial foi descrito com fotos e com a apresentação de um vídeo [22]. VI. 2. 5 Quinta Aula Poucos dias antes dessa aula, houve uma grande precipitação de chuva na Ilha do Governador, com enchentes em várias ruas, o que impossibilitou a ocorrência de aulas durante alguns dias. No dia de aula, apesar de ainda chover, a situação já estava normalizada, mas essa situação gerou uma quantidade maior de alunos faltosos. Como resultado, houve 6 alunos presentes. Iniciamos essa aula com um experimento simulando o lançamento de um foguete, com [22] Vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=IJNw7HH-9fY. Acesso em 26 fev. 2012. 65 a inflamação de álcool esguichado dentro de uma garrafa PET [23] . Esse experimento serviu para retomar de forma estimulante a aula anterior e foi utilizado para revisar a Lei da Ação e Reação e a Lei da Inércia. O estimulo dos alunos foi evidenciado na medida em que eles pediaram para repetir o experimento mais de uma vez. Figura VI.8 – Professor realizando experimento do “foguete de garrafa pet”, em sala de aula. Outros exemplos da Lei da Inércia foram citados, como as sondas espaciais que viajam pelo espaço por décadas com velocidade constante. Também citamos a necessidade de os astronautas permanecerem ligados as suas naves, devido ao risco de “se perderem” no espaço, em movimento retilíneo com velocidade constante para sempre. A partir daí, lançamos a seguinte questão aos alunos: “se uma nave espacial é capaz de se mover sem combustível, para que serve a força do combustível?”. Nesse ponto, introduzimos o Principio Fundamental da Dinâmica, colocando a força do combustível como necessária para mudar o estado de movimento da nave. Mostramos que a mudança de movimento em uma nave espacial pode ocorrer em vários momentos, como em seu lançamento, nas manobras de retorno a Terra e durante o seu pouso. Para fazer a ligação entre a Física “terrestre” e “celeste”, foram lançados dois questionamentos: “por que objetos que são soltos caem na Terra?” e “por que um satélite artificial não cai na Terra?”. Sobre a primeira questão, os alunos responderam sem muitas dificuldades, com respostas do tipo “por causa da gravidade” ou “por causa da força da gravidade”. Sobra a segunda questão, os alunos se mostraram mais inseguros, mas alguns alunos apontaram para a ausência de gravidade no local do satélite. Para responder à primeira questão, foi explicada de forma qualitativa a Lei da Gravitação Universal Newtoniana. Para responder à segunda questão, em primeiro lugar [23] Detalhes deste experimento pode ser obtido em http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento=121 (acesso em 7 mar. 2012). Os alunos devem ser orientados a NÃO repetirem este experimento em casa, devido à presença de material inflamável. 66 deixamos claro que a gravidade nos locais onde os satélites se encontram é significativa, e que os satélites permanecem em movimento em torno da Terra. Depois disso, usamos um programa desenvolvido com o aplicativo Modellus [24] , que simulava os movimentos de um satélite artificial com várias velocidades. O programa citado foi desenvolvido pelo autor do projeto, e permitia variar a velocidade do satélite e a atração gravitacional da Terra, simulando o movimento do satélite com as condições dadas. Iniciamos a simulação atribuindo velocidade zero ao satélite e perguntando aos alunos o que aconteceria. Inicialmente, os alunos se mostraram inseguros para dar qualquer palpite. Mostramos que com velocidade zero o satélite cairia na Terra, e fomos aumentando a velocidade do satélite, mostrando que alcançava locais cada vez mais distantes da Terra antes de se chocar com o solo. Em determinado momento, alguns alunos começaram a deduzir que, com velocidade suficientemente alta, o satélite daria uma volta em torno da Terra, o que foi confirmado através do programa. Mostramos que, após uma volta completa, o satélite não pararia mais, devido à ausência de forças de resistência ao movimento. Mostramos também que, com velocidades muito altas, o satélite escaparia da gravidade da Terra e se perderia no espaço. Por último, simulamos o fato de que, se não houvesse a gravidade da Terra, um satélite lançado com certa velocidade se afastaria da Terra com velocidade constante. Figura VI.9 – Órbitas de satélites: (a) Satélite lançado com velocidade abaixo da orbital; (b) satélite lançado com a velocidade orbital; (c) Satélite lançado com velocidade acima da orbital. (Imagem produzida com o programa Modellus.). O programa também simulava o movimento orbital da Lua em torno da Terra e da Terra em torno do Sol, de forma análoga ao do movimento do satélite artificial. Como forma de avaliar os alunos, atribuímos certas condições iniciais aos corpos celestes e perguntamos aos alunos quais seriam seus movimentos. Verificamos que alguns alunos tentaram responder às perguntas como desafios: eles acertaram a maior parte das perguntas mas erraram algumas. [24] Programa disponível em www.hugo.pro.br. Uma versão simular deste programa, em applet, pode ser obtida em http://galileoandeinstein.physics.virginia.edu/more_stuff/flashlets/NewtMtn/NewtMtn.html (acesso em 7 mar. 2012). 67 A partir dessa discussão, recordamos as velocidades orbitais da Terra e da Lua, mostrando a necessidade de tais corpos celestes se moverem a grandes velocidades. Explicamos também que os satélites artificiais precisavam ser lançados a velocidades de milhares de quilômetros por hora, o que geralmente é feito através de foguetes espaciais. Para encerra a aula, citamos rapidamente o fato de que, devido à Lei da Gravitação Universal, todos os corpos celestes se movem, como planetas, estrelas e até mesmo galáxias (considerando como referencial o universo como um todo). VI. 3 Aulas do Segundo Bimestre Conforme já foi dito, a partir do segundo bimestre do ano letivo a organização dos conteúdos deixou de ser temática e voltou a ter uma estrutura tradicional. No segundo bimestre de 2010, devido à Copa do Mundo, feriados e outros imprevistos, não foi possível apresentar todo o conteúdo proposto na seção V.2. Entretanto foi possível verificar algumas contribuições dos temas do primeiro bimestre dentro da estrutura tradicional dos conteúdos. No segundo bimestre, foram trabalhados os conceitos de referencial, trajetória e velocidade escalar. O conceito de referencial foi associado aos movimentos dos corpos celestes vistos da Terra e de fora da Terra, à percepção dos movimentos da própria Terra e ao conceito relativo de “em cima” e “embaixo”. O conceito de “trajetória” foi associado às trajetórias dos corpos celestes vistos da Terra. O conceito de velocidade foi exemplificado com as incríveis velocidades da Terra em relação ao Sol e da Lua em relação à Terra, com a velocidade da luz e com o conceito de ano-luz. Apesar de os conteúdos do segundo bimestre terem sido exemplificados com os temas do primeiro, a mecânica “terrestre” também foi trabalhada, com os tradicionais problemas envolvendo automóveis e pessoas se deslocando a pé. Dessa forma, mostramos, de forma indireta, não haver diferença entre a física “terrestre” e “celeste”. VI. 4 Aulas do Terceiro Bimestre No terceiro bimestre os principais conceitos trabalhados nas aulas foram a Lei da Inércia e o Princípio Fundamental da Dinâmica. Ambos os conceitos foram exemplificados através dos movimentos dos ônibus espaciais, discutidos no primeiro bimestre. A Lei da Inércia também foi exemplificada através das sondas espaciais e dos movimentos dos astronautas no espaço, também trabalhados no primeiro bimestre. Apesar de utilizarmos exemplos do primeiro bimestre, as leis de Newton foram apresentadas no terceiro bimestre com um grau de formalismo um pouco maior. A formulação do Principio Fundamental da Dinâmica em sua forma matemática, “F = m . a”, foi trabalhada, 68 ainda sem a utilização de somas vetoriais, mas deixando claro que “F” representava uma “força resultante”. O objetivo principal desse bimestre foi apresentar a força resultante como responsável por mudanças de movimento. VI. 5 Aulas do Quarto Bimestre Os principais conceitos trabalhados no quarto bimestre foram: Lei da Ação e Reação, Lei da Gravitação Universal (qualitativo), massa e força peso, queda livre (qualitativo), força normal, força de atrito e força resultante (forças na mesma direção). Nesse bimestre, o experimento do “foguete de garrafa PET” e o “programa sobre gravitação”, aplicados no primeiro bimestre, foram repetidos, considerando-se a baixa frequência na aula em que esses recursos foram aplicados (seção VI.2.5) e o caráter motivador de tais recursos. Dessa forma, utilizando os temas do primeiro bimestre, a Lei da Ação e Reação foi exemplificada através do lançamento de foguete e a Lei da Gravitação foi exemplificada através de movimentos orbitais. Com o conceito de força resultante, mesmo restringindo a discussão apenas a forças com a mesma direção, foi possível trabalharmos alguns problemas um pouco mais elaborados, envolvendo as leis de Newton, como, por exemplo, objetos sendo empurrados sob a ação da força de atrito. Também foi possível trabalhar de forma quantitativa o problema do lançamento do ônibus espacial, usando um modelo simplificado. Como exemplo, podemos citar a questão abaixo, presente na prova do quarto bimestre: “No lançamento de um foguete espacial com massa de 2 000 000 kg agem duas forças, seu peso (P) e a força de empuxo (E) produzida pela explosão do combustível, conforme a figura. Figura VI.10 – Prova do quarto bimestre. Considere que, no lançamento, o peso do foguete vale P = 20 000 000 N e o empuxo vale E = 60 000 000 N. Determine a aceleração do foguete no momento do seu lançamento.” Podemos ver que, apesar de a questão acima ser matematicamente simples, ela envolve uma grande quantidade de conceitos físicos, discutidos de forma qualitativa ao longo do primeiro bimestre. Consideramos que as aulas do primeiro bimestre contribuíram para evitar a interpretação de problemas físicos como simples manipulações matemáticas. 69 Capítulo VII – Avaliação do Projeto Nesta seção, buscaremos evidências da aprendizagem significativa dos conteúdos do primeiro bimestre e da contribuição de tais conteúdos como elementos motivadores para o restante do ano letivo. Usaremos como dados qualitativos os registros das aulas dadas (descritos no capítulo anterior) e como dados quantitativos os registros de presença dos alunos no diário de classe, as respostas dos questionários de conhecimentos prévios e as respostas das provas do primeiro bimestre. Devemos deixar claro que nenhuma discussão quantitativa feita aqui será conclusiva, já que foi feita apenas uma aplicação do projeto. Dessa forma, consideramos como principal método avaliativo deste trabalho a análise qualitativa, baseada nos registros do professor/pesquisador em sala de aula. VII. 1 A Compatibilidade com o Público Alvo e o Tempo Disponível Comparando a proposta curricular (seção V.2) com a aplicação do projeto (capítulo VI) podemos verificar que não foram aplicados todos os conteúdos propostos. Em especial, o conceito de energia mecânica, presente na proposta curricular, não foi trabalhado em sala de aula. Atribuímos esse fato a vários fatores presentes no ano letivo e na turma de aplicação, como a turma com alunos excepcionalmente faltosos (mesmo para os padrões do ensino médio noturno), as aulas ocorrendo nas sextas-feiras à noite (dia da semana como menor frequência de alunos no colégio) e os jogos da Copa do Mundo. Desse modo, ainda consideramos nossas propostas compatíveis com o público presente no ensino médio noturno, supondo “condições normais” de tempo disponível e presença de alunos. VII. 2 A Função Didática do Questionário de Conhecimentos Prévios Em um primeiro momento, o questionário de conhecimentos prévios foi aplicado com o objetivo de fazer uma avaliação prévia dos alunos. Entretanto, ao longo da aplicação do projeto no primeiro bimestre, também verificamos uma função didática do questionário, contribuindo para a aprendizagem dos conteúdos aplicados no primeiro bimestre. Durante a aplicação do questionário, muitos alunos mostraram curiosidade em saber as respostas certas imediatamente após sua entrega, apresentando inclusive certa insistência. 70 Em vez de disponibilizarmos um gabarito do questionário, muitas das questões foram revisadas nos momentos de aplicação dos conteúdos relacionados. Verificamos nesses casos uma maior participação dos alunos, que já haviam pensado sobre as questões e, portanto, possuíam opiniões já formadas sobre os assuntos. Verificamos, portanto, que o questionário de conhecimentos prévios teve a função de manter a curiosidade dos alunos sobre o tema até o final da aplicação dos conteúdos do primeiro bimestre. Esse não foi o objetivo inicial da utilização do questionário (ver capítulo V), mas foi um resultado positivo e inesperado, que deve ser aproveitado em outras aplicações do projeto. VII. 3 Análise das Reações dos Alunos no Primeiro Bimestre De um modo geral, a análise das observações em sala de aula no primeiro bimestre, presentes no capítulo anterior, evidenciam um interesse da turma pelos temas trabalhados, demonstrado pela resposta aos questionamentos do professor e por manifestações espontâneas. Entretanto, a participação sempre era limitada a uma parcela da turma, enquanto outros alunos assumiam uma atitude mais passiva. Podemos atribuir essa passividade a vários fatores, como timidez e insegurança, mas um fator que consideramos ter pesado mais para essa característica foi a frequência irregular de muitos alunos. Em geral, verificamos que os alunos menos faltosos eram os mais participativos. Em especial, alunos que assistiam a duas aulas seguidas mostravam mais participação na segunda aula. Em um primeiro momento, poderíamos considerar as faltas como um desinteresse dos alunos em relação aos conteúdos. Entretanto, como foi descrito no capítulo anterior, até a penúltima aula de aplicação do projeto surgiram alunos que não haviam assistido a nenhuma das aulas anteriores. Não faz sentido atribuirmos desinteresse em relação aos conteúdos por parte de alunos que não tiveram nenhum contato com os conteúdos. Na verdade, podemos supor que esses alunos já iniciaram o ano letivo desinteressados em relação aos estudos (por motivos diversos) e não tiveram a oportunidade de “serem motivados” pelos professores. Na unidade 1, verificamos menos questionamentos do que esperávamos. Por exemplo, ao apresentarmos as escalas de tamanho das estrelas, não houve muitos questionamentos, apesar das informações contra-intuitivas. Por outro lado, verificamos reações de espanto e admiração. Atribuímos o pouco questionamento à grande quantidade de informações novas apresentada, de forma relativamente rápida e com um caráter mais informativo. Entre as atividades desenvolvidas no primeiro bimestre onde verificamos um maior interesse em relação aos alunos, podemos citar: 71 a apresentação das escalas de tamanho de planetas e estrelas (seção VI.2.1); as discussões sobre a possibilidade de vida no universo e a possibilidade de sermos visitados por seres extraterrestres (seção VI.2.1); a exibição do vídeo sobre o “tamanho do universo” (seção VI.2.2); a definição das mudanças de posição dos corpos celestes no céu como tipos de movimento (seção VI.2.3); a utilização da animação sobre o Sistema Sol-Terra-Lua (seção VI.2.3); a utilização de um boneco colado no hemisfério sul de um globo terrestre (seção VI.2.3); a utilização do vídeo do parque de diversão como analogia às observações do céu no referencial da Terra (seção VI.2.4); o exemplo do ônibus espacial se movendo sem combustível e a ejeção do tanque de combustível (seção VI.2.4); o experimento do “foguete de garrafa pet” (seção VI.2.5); o programa sobre a Gravitação Universal (seção VI.2.5). Entre as atividade onde verificamos menos interesse dos alunos (menos participação em aula ou declarações de insatisfação), podemos citar: As discussões históricas presentes no início da unidade 1 (seção VI.2.1) e na primeira aula da unidade 2 (seção VI.2.3); A discussão geral sobre as o significado das leis de Newton (seção VI.2.4). Apesar de as causas para um maior ou menor interesse em relação a determinados conteúdos fugir do escopo do presente trabalho, não consideramos o desinteresse relacionado às discussões históricas como algo inerente aos conteúdos, mas sim à forma como os conteúdos foram apresentados, já que a discussão histórica não era o foco metodológico do trabalho. 72 VII. 4 Análise das Notas das Provas do Primeiro Bimestre Como forma de avaliar de forma quantitativa a contribuição das aulas do primeiro bimestre para a aprendizagem, construímos um gráfico com as notas dos alunos na prova final do quarto bimestre em função da presença dos alunos no mesmo bimestre (não utilizamos notas de provas de segunda chamada, por terem um nível de dificuldade maior). Consideramos um total de 6 aulas: as cinco aulas do primeiro bimestre apresentadas no capítulo V e a aula de aplicação do questionário de conhecimentos prévios (não incluímos no gráfico a presença no dia da prova). Também traçamos uma reta que melhor se aproximada dos dados obtidos, através de um recurso do Microsoft Excel. O gráfico obtido é apresentado a seguir: Gráfico das notas na prova final x frequência às aulas (primeiro bimestre) 10 9 Notas (de 0 a 10) 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 Frequência (de 0 a 6 aulas) Figura VII.1 – Notas na prova do primeiro bimestre em função da frequência às aulas. Chamando as notas na prova de n e a frequência dos alunos de f, a reta traçada pode ser escrita na forma f = a . n + b, onde a e b são constantes. Usando um applet de aproximação de retas pelo método dos mínimos quadrados [25], obtivemos: a = 0,24 ± 1,7. Isso significa um ganho médio de 0,24 pontos na prova do primeiro bimestre para cada aula frequentada pelos alunos. Entretanto, verificamos uma margem de erro de 70% [25] Disponível em http://omnis.if.ufrj.br/~carlos/applets/reta/reta.html. Acesso em 6 mar. 2012. 73 Podemos compreender essa margem de erro considerando que existem vários fatores além da presença em aula que influencia nas notas dos alunos. No gráfico anterior podemos verificar, por exemplo, a existência alunos com boa frequência, mas com notas baixas nas provas. Podemos considerar que apenas a presença física em aula não garante a aprendizagem, dependendo também da predisposição do aluno à aprendizagem significativa (seção III.1). Partindo dessa hipótese, podemos considerar as maiores notas nas provas, para cada valor de frequência, como representativo do máximo esforço na aprendizagem de forma significativa, durante as aulas. Construindo um gráfico apenas com as maiores notas para cada valor de frequência, obtemos o seguinte resultado: Gráfico das maiores notas da prova final x frequência às aulas (primeiro bimestre) 10 9 Notas (de 0 a 10) 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 Frequência (de 0 a 6 aulas) Figura VII.2 – Notas mais altas na prova do primeiro bimestre em função da frequência às aulas. Com esse gráfico, obtemos uma reta de equação n = a . f + b (usando o mesmo applet que no gráfico anterior), onde: a = 0,62 ± 0,08 Verificamos agora um ganho médio de 0,62 nas notas do primeiro bimestre (apenas as maiores notas) para cada aula frequentada pelos alunos. Verificamos também uma margem de erro de 12%, bem menor que a anterior. 74 A primeira característica evidente nesses gráficos, em especial no primeiro (figura VII.1), é a baixa frequência dos alunos, já comentada no capítulo anterior. Podemos reparar, por exemplo, que três alunos fizeram a prova sem frequentar nenhuma aula. Dentro do contexto escolar considerado, de “alunos trabalhadores”, podemos considerar que os alunos possuem pouco ou nenhum tempo para estudos em casa. Dessa forma, a maior parte da aprendizagem dos alunos é desenvolvida durante as aulas. Consideramos nossos resultados como evidências da contribuição da metodologia desenvolvida em sala de aula para a aprendizagem dos conteúdos. VII. 5 Questionário de Conhecimentos Prévios x Provas do Primeiro Bimestre Como já vimos, no início do primeiro bimestre aplicamos um questionário de conhecimentos prévios (apêndice I) aos alunos e no final do bimestre aplicamos a prova bimestral (apêndice II). Com o objetivo de evitar a resolução da prova por simples memorização, optamos por elaborar uma prova com a maior parte das questões diferentes do questionário de conhecimentos prévios. Entretanto, algumas questões do questionário foram incluídas na prova, todas objetivas (de múltipla escolha), com numeração diferente e opções de respostas invertidas. Acreditamos que essa atitude tenha contribuído para reduzir as chances de respostas por memorização. Para facilitar nossa análise, optamos por comparar apenas as questões idênticas no questionário de conhecimentos prévios e na prova (um total de 4 questões). Como as ordens das opções das questões foram invertidas, apresentaremos as versões presentes na prova. Em cada questão, o termo “pré-teste” se refere ao questionário de conhecimentos prévios e o termo “pós-teste” se refere à prova. A seguir, apresentaremos as questões presentes no pré-teste e no pós-teste, compararemos as porcentagens de respostas dadas pelos alunos para cada opção e faremos uma breve análise de cada resultado. 75 Questão - A partir do que nós conhecemos sobre o Sistema Solar, por que ocorrem os dias e as noites? a) Por causa do movimento da Terra em torno do Sol. b) Por causa do movimento da Terra em torno de si mesma. c) Por causa do movimento do Sol em torno da Terra. d) Nenhuma das opções anteriores. Pré-teste: questão 4. Pós-teste: questão 5. Gabarito: letra b. Respostas dos alunos: Porcentagem (%) Pré-teste: questão 4 Pós-teste: questão 5 80% 60% 67% 45% 41% Pré-teste Pós-teste 40% 20% 13% 7% 13% 9% 5% 0% 0% 0% a b c Respostas d Não responderam Figura VII.3 – Distribuição de respostas dos alunos (questão 4 x questão 5). A maiores incidências de respostas se concentraram entre a opção a (dias e noites causadas pela movimento da Terra em torno do Sol) e a opção b (dias e noites causas pelo movimento da Terra em torno de si mesma). No pré-teste, vemos que a maioria dos alunos (67%) escolheu a opção a, enquanto que apenas uma minoria (7%) escolheu a opção b. No pós-teste, a incidência de respostas com a opção b aumentou significativamente (41%), entretanto, como resultado final, os alunos ainda se mostraram divididos entre as opções a e b. Ou seja, apesar de termos evidência de um ganho em relação à aprendizagem, ainda não foi atingido o nível de aprendizagem esperado. Ao analisar esse resultado, devemos considerar o fato de a questão tratar de um conhecimento astronômico de nível fundamental, e que, portanto, os alunos já deveriam chegar ao colégio com tal conhecimento. Como nosso foco era a motivação para o ensino de física, consideramos que qualquer ganho de aprendizagem em relação a conceitos astronômicos de nível fundamental, mesmo que pequeno, já é um resultado satisfatório. 76 Questão - Dos corpos celestes abaixo, qual deles se encontra mais distante de nós? a) O planeta Marte. b) O Sol. c) Plutão. d) As estrelas vistas no céu à noite. Pré-teste: questão 6. Pós-teste: questão 2. Gabarito: letra d. Respostas dos alunos: Porcentagem (%) Pré-teste: questão 6 Pós-teste: questão 2 60% 53% 43% 38% 40% Pré-teste 27% Pós-teste 19% 20% 13% 7% 5% 0% a b c d Respostas Figura VII.4 – Distribuição de respostas dos alunos (questão 6 x questão 2). Nessa questão, a maior incidência de respostas ficou entre a opção c (Plutão como o corpo celeste mais distante de nós) e a opção d (as estrelas vistas no céu a noite como os corpos celestes mais distantes de nós). No pré-teste, a maioria dos alunos (53%) escolheu a opção c, com uma parcela menor (27%) escolhendo a opção d. No pós-teste, uma quantidade significativa de alunos (43%) passou a marcar a opção d, entretanto, como resultado final, os alunos ainda ficaram divididos entre as opções c e d. Encontramos um resultado similar à questão anterior: existem evidências de um ganho na aprendizagem, mas um resultado final abaixo do esperado. Devemos considerar, entretanto, que trata-se de um tema muito pouco trabalhado no ensino básico, o que significa que qualquer ganho de aprendizagem também é satisfatório. 77 Questão - A figura mostra um foguete sendo lançado para o espaço. Repare que durante o lançamento, o combustível é atirado violentamente para fora do foguete. Figura VII.5 - Pré-teste (questão 10), pós-teste (questão 8). Com os conhecimentos que possuímos hoje sobre as leis da física, seria possível a construção de um foguete que utilizasse o mesmo tipo de combustível que o da foto, e que fosse lançado sem que o combustível fosse atirado para fora do foguete? a) Sim. b) Não. Pré-teste: questão 10. Pós-teste: questão 8. Gabarito: letra b. Porcentagem (%) Pré-teste: questão 10 Pós-teste: questão 8 100% 77% 80% 60% 60% Pré-teste Pós-teste 40% 40% 23% 20% 0% a b Respostas Figura VII.6 – Distribuição de respostas dos alunos (questão 10 x questão 8). Verificamos nessa questão que os alunos se mostraram divididos tanto no pré-teste como no pós-teste, como um pequeno aumento de respostas corretas no pós-teste (aumento de 17%), de acordo com o gabarito (letra b). Apesar de termos uma evidência de ganho de aprendizagem, necessitaríamos de mais resultados para estabelecermos margens de erro nas respostas e resultados mais conclusivo. 78 Questão - Imagine uma nave espacial em uma viagem rumo à Lua. Quando esta nave já está bem longe da Terra, mas ainda distante da Lua, acaba seu combustível. O que aconteceria com a nave ao acabar o combustível? a) Pararia. b) Diminuiria sua velocidade. c) Mudaria o sentido do movimento (daria “ré”). d) Continuaria com a velocidade que tinha. Pré-teste: questão 11. Pós-teste: questão 10. Gabarito: letra d. Pré-teste: questão 11 Pós-teste: questão 10 Porcentagem (%) 80% 67% 60% 50% Pré-teste 40% 27% 20% 20% Pós-teste 14% 9% 7% 7% 0% a b c d Respostas Figura VII.7 – Distribuição de respostas dos alunos (questão 11 x questão 10). Nessa questão, verificamos uma maior incidência de respostas entre a opção b (a nave diminuiria a velocidade) e a questão d (a nave continuaria com a velocidade que tinha). Enquanto que no pré-teste a maioria dos alunos (67%) escolheu a opção b, no pós-teste metade dos alunos escolheu a opção d. Nesse caso, temos uma evidência clara de ganho de aprendizagem. 79 VII. 6 Discussão dos Resultados Sem dúvida, a principal dificuldade durante a aplicação do projeto foi a baixa frequência dos alunos. Como já foi discutida, essa baixa frequência não pode ser justificada pela metodologia de aplicação do projeto, já que na maioria das aulas do primeiro bimestre surgiram alunos que não haviam assistido a nenhuma das aulas anteriores (inclusive no dia da prova). Uma das consequências mais evidentes da baixa frequência, aliada a imprevistos como a “Copa do Mundo de 2010”, foi a impossibilidade de aplicação da totalidade dos conteúdos planejados. Elaboramos uma metodologia em que os conteúdos do primeiro bimestre são revisados ao longo do ano letivo. Apesar de essa metodologia ter reduzido o tempo de aplicação dos conteúdos curriculares, em um contexto de alunos faltosos as revisões são justificáveis. No ensino noturno, considerando alunos trabalhadores, sabemos que eles possuem pouco ou nenhum tempo para estudos em casa. Portanto, nesse contexto, torna-se fundamental o desenvolvimento de metodologias que promovam a aprendizagem em sala de aula, independentemente de estudos paralelos. Pela análise dos gráficos da seção VII.2, consideramos que possa proposta metodológica possui essa característica. Pelos gráficos da seção VII.2, verificamos uma relação quase direta entre a frequencia às aulas e as maiores notas obtidas nas provas. Entretanto, também verificamos alunos com poucas faltas e com notas na prova abaixo do esperado. Podemos interpretar esse fato considerando que, apesar de as aulas terem sido potencialmente significativas, também era necessária a pré-disposição do aluno em aprender de forma significativa (seção III.1). Isso não significa que estamos atribuindo ao aluno toda a responsabilidade em relação ao seu rendimento. Consideramos o trabalho de motivação do aluno para a aprendizagem significativa como um dos principais desafios do professor, que dificilmente é atingido em relação a todos os alunos de uma turma. Obviamente, devemos considerar que as faltas dos alunos limitaram as possibilidades de aprendizagem significativa. Devemos considerar também que a grande deficiência dos alunos em relação a conceitos científicos de nível fundamental (seção V.1.1) exigia um grande ganho de aprendizagem para atingirmos o nível de conhecimentos esperado para alunos na segunda série do ensino médio. Apesar de todo esse contexto, as quatro questões apresentadas na seção VII.3 demonstraram ganhos de aprendizagem. Esses ganhos, em geral, não foram suficientes para se atingir o nível de conhecimentos desejado em alunos de ensino médio. Entretanto, devemos consideramos todo ganho de aprendizagem como positivo, independentemente do nível final atingido, em especial considerando todas as dificuldades apresentadas. 80 Devemos lembrar também que os conteúdos do primeiro bimestre tinham como um dos principais objetivos a motivação para a aprendizagem dos conteúdos curriculares de física. De uma forma geral, a reação dos alunos demonstrou interesse pelos temas apresentados. O interesse ficou evidenciado já no primeiro momento de aplicação do projeto, ou seja, durante a aplicação do questionário de conhecimentos prévios. Além disso, a utilização dos temas do primeiro bimestre como exemplos para todo o restante do ano letivo mostrou a possibilidade de aproveitamento do interesse dos alunos pela astronomia e astronáutica como contribuição aos conteúdos curriculares. Novamente, a baixa frequência em sala de aula foi um fator de limitação para o desenvolvimento do interesse dos alunos. VII. 7 A Avaliação do Projeto e o Desenvolvimento do Produto Educacional A versão final do produto educacional (disponível no CD-ROM do apêndice V e em www.hugo.pro.br/astronomia.htm) foi desenvolvida após a aplicação do projeto em sala de aula. Com isso, em vez de simplesmente produzirmos um produto com os conteúdos das aulas do primeiro bimestre, fizemos adaptações de forma a desenvolvermos um material mais de acordo com o perfil dos alunos trabalhados. Os principais resultados levados em consideração durante a adaptação do produto educacional foram as reações dos alunos em sala de aula (seção VII.3). Entre as diferenças entre as aulas aplicadas e o produto educacional desenvolvido, podemos citar: O início da unidade 1, onde na aula foi feita uma pequena introdução histórica e no produto educacional existe um convite aos alunos para observarem o céu. A discussões histórica da unidade 2, que foi resumida no produto educacional; a discussão sobre o significado das leis de Newton, que também foi resumida no produto educacional; A discussão sobre o Sistema Alpha Centauri, incluída no produto com forma de reforçar a ideia de tamanho aparente, usando como exemplo um sistema estelar triplo. A discussão sobre a paralaxe, incluída no produto, como forma de exemplificar os métodos utilizados na investigação do universo. 81 Capítulo VIII – Considerações finais Neste trabalho, desenvolvemos e aplicamos uma proposta curricular de ensino de física de nível médio onde, no primeiro bimestre, conceitos de mecânica foram trabalhados dentro do tema estruturador “astronomia e astronáutica”. Nosso principal objetivo foi a motivação para a aprendizagem dos conteúdos curriculares de mecânica. Para atingir tal objetivos, os conteúdos curriculares do primeiro bimestre foram utilizados como exemplos e elementos motivadores ao longo de todo o restante do ano letivo. Como resultados quantitativos, encontramos evidências de ganhos na aprendizagem significativa dos conteúdos do primeiro bimestre. Já como resultados qualitativos, consideramos as reações dos alunos em sala de aula como evidência do interesse pelos conteúdos apresentados. Mostramos também que os resultados se mostraram melhores em função da maior frequência dos alunos às aulas, e vice-e-versa. Independentemente de resultados quantitativos ou qualitativos, consideramos que somente a aplicação de uma metodologia mais próxima das propostas dos PCNs, dentro do ensino médio regular, já é um resultado positivo, mostrando a viabilidade de tais propostas, pelo menos em uma parcela do ano letivo (no nosso caso, em um bimestre). Consideramos nossa proposta viável até mesmo em redes de ensino com estrutura curricular mais tradicional, como a rede estadual do Rio de Janeiro, por exemplo, por fazermos a relação entre o tema estruturador (astronomia e astronáutica) e os conteúdos tradicionais (mecânica). Também consideramos como um resultado positivo a elaboração do material didático relativo aos conteúdos aplicados, pois, conforme vimos (seção IV.1), a falta de material didático nos moldes dos PCNs é uma das principais dificuldades de sua implementação em sala de aula. Uma das principais razões que nos levaram a produzir um material motivador para o estudo de física foi o contexto escolar do ensino médio noturno, em especial em relação à evasão escolar e baixa frequência dos alunos. Apesar disso, não tivemos a pretensão de reduzirmos tais índices de forma drástica. A própria aplicação do projeto mostrou que muitos alunos já iniciaram o ano letivo com baixa frequência, e muitos desistiram dos estudos antes do término do primeiro bimestre, não dando nem ao menos a oportunidade para os professores de motivá-los. Mesmo considerando a possibilidade de a escola desenvolver estratégias para motivar o aluno, o ensino é um trabalho coletivo e contínuo, ou seja, fruto do trabalho de todos os professores ao longo de toda a vida escolar do aluno. Apenas um projeto aplicado em uma 82 disciplina e em apenas um ano letivo não seria suficiente para a redução do fracasso escolar de forma significativa. Obviamente, é possível que nossa metodologia tenha contribuído para evitar a evasão de alguns alunos. Entretanto, é difícil medir esse tipo de resultado, pois os motivos que levam cada aluno em particular a desistir dos estudos são muito pessoais. Não podemos prever, por exemplo, qual teria sido a reação de determinado aluno com a aplicação de outro tipo de metodologia. Consideramos que, para termos resultados visíveis no ensino noturno, em relação à redução do fracasso escolar, seria necessário um trabalho em equipe de médio e longo prazo. A generalização desse tipo de trabalho em uma rede tão grande como a do ensino estadual do Rio de Janeiro só seria possível com políticas públicas voltadas para isso. Para a motivação do aluno, em primeiro lugar são necessários professores motivados. E para professores motivados, são necessários salários dignos e condições de trabalho adequadas. Toda metodologia diferenciada exige trabalho extra por parte de professores. E trabalho extra exige tempo extra. Sabemos que muitos professores da rede estadual do Rio de Janeiro possuem cargas horárias de trabalho excessivas, não possuindo tempo suficiente para produzirem inovações no ensino. Esse contexto nos motivou a produzir um material pronto para a utilização dos professores e de fácil acesso (na internet). Apesar disso, mesmo a aplicação de um material já pronto exige tempo extra, pois o professor precisa estudar o material e adaptá-lo de acordo com o contexto de suas turmas. Professores valorizados enquanto profissionais terão muito mais disposição para aplicarem propostas como as nossas, ou mesmo desenvolverem suas próprias metodologias. Mesmo sem a pretensão de resolvermos os problemas escolares do colégio de aplicação do projeto, estivemos constantemente preocupados com a motivação do aluno. Algumas atividades, como a do “foguete de garrafa pet” e a do “programa sobre a gravitação” foram muito mais motivadores do que demonstrativas. Como projetos futuros, pretendemos fazer outras aplicações das propostas deste trabalho, no mesmo colégio ou em outros. Pretendemos também aperfeiçoar os métodos de avaliação, com aulas gravadas e questionários com as opiniões dos alunos sobre os conteúdos apresentados. Atualmente (início de 2012), a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro elaborou uma outra estrutura curricular para o ensino de física, chamado de “Currículo Mínimo de Física” (disponível em http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/, acesso em 6 mar. 2012). Essa estrutura curricular está mais de acordo com os PCNs que a anterior, apresentando inclusive muitos conteúdos de física moderna (cosmologia, relatividade, física nuclear etc.). 83 Apesar das orientações curriculares, os professores do Estado não possuem nenhum tipo de material didático à disposição para a implementação de tais orientações. Consideramos que nosso produto educacional possa contribuir para a implementação dos conteúdos de “cosmologia” em sala de aula. Consideramos também que cada um dos tópicos presentes no Currículo Mínimo de Física representa um projeto em potencial, em especial àqueles relacionados à física moderna. 84 Referências Bibliográficas AGUIAR, C. E.; BARONI, D.; FARINA, C. “A órbita da Lua vista do Sol”. Revista Brasileira de Ensino de Física. v. 31, n. 4, 4301, 2009. AGUIAR; GAMA; COSTA. Física no ensino médio, In: Reorientação curricular – segunda versão – ciências da natureza e matemática. Rio de Janeiro: SEEDUC, 2005. Disponível em: < http://omnis.if.ufrj.br/~curriculo/>. Acesso em: 25 fev. 2012. ALBAGLI, S. “Divulgação científica: informação científica para a cidadania?”. Ciência e Informação. Brasília, v. 25, n. 3, pp. 396-404, set./dez. 1996. BARBIERI, F. et al. “Jovens estudantes trabalhadores”. In: Anais do V Educere: 2005. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2005/anaisEvento/documentos/com/TCCI067.pdf> . Acesso em 18 fev. 2012. BERNARDES, T. 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Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 24, n. 3, pp. 353-359, dez. 2007. 88 SILVEIRA, F. L.; BRAUN, F. L. M.; BRAUN, T. “Colisão com o efeito estilingue”. Revista Brasileira de Ensino de Física. v. 32, n. 3, 3305, 2010. SILVEIRA, F. L.; MEDEIROS, A. “A ilusão sobre o tamanho da lua no horizonte”. A Física na Escola, v. 7, n. 2, 2006. SILVEIRA, F. L.; SARAIVA, M. F. O. A. “As cores da lua cheia”. A Física na Escola, v. 9, n. 2, 2008 a. ______. “O “encolhimento” das sombras”. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 25, n. 2, pp. 228246, ago. 2008 b. SOUZA, J. A. “Um foguete de garrafas pet”. A Física na Escola, v. 8, n. 2, 2007. TOGNI, A. C.; CARVALHO, M. J. S. “A escola noturna de ensino médio no Brasil”. Revista Hiberoamericana de Educación, n. 44, pp. 61-76, 2007. VILELA, C. X.; AMARAL, E. M. R.; BARBOSA, R. M. N. “O uso de situações-problema no ensino noturno de química”. In: Anais do VI ENPEC, ABRAPEC, 2007. ZIBAS, D. M. L. “Ensino noturno de 2º grau: a voz do corpo docente”. Cadernos de Pesquisa, São Paulo (78), pp. 41-50, ago. 1991. 89 APÊNDICE I – Questionário de Conhecimentos Prévios 1. Faça um desenho (em uma folha separada) representando a posição da Terra, do Sol e da Lua no Sistema Solar. Indique os movimentos dos corpos celestes (se houver) por linhas pontilhadas. 2. Imagine que você passe um dia, do amanhecer até o fim da tarde, observando o céu sem nuvens. Faça um desenho (em uma folha separada) representando os corpos celestes que você poderia ver. Indique os movimentos observados (se houver) por linhas pontilhadas. 3. Imagine que você passe uma noite inteira observando o céu sem nuvens, com lua cheia. Faça um desenho (em uma folha separada) representando os corpos celestes que você poderia ver. Indique os movimentos observados (se houver) por linhas pontilhadas. 4. A partir do que nós conhecemos sobre o Sistema Solar, por que ocorrem os dias e as noites? a) Por causa do movimento da Terra em torno do Sol. b) Por causa do movimento da Terra em torno de si mesma. c) Por causa do movimento do Sol em torno da Terra. d) Nenhuma das opções anteriores. 5. Existem estrelas maiores que o planeta Terra? 8. Leia a notícia a seguir: Planeta descoberto é o "mais similar à Terra", diz astrônomo Santiago do Chile, 21 de abril de 2009.- O menor planeta conhecido até o momento (fora do sistema solar), batizado como Gliese 581e e cuja descoberta foi anunciada hoje, é o "mais similar à Terra até hoje", afirmou Gaspare lo Curto, astrônomo do Observatório Europeu Austral (ESO, em inglês) no Chile. O novo planeta orbita ao redor da diminuta estrela Gliese 581, na constelação de Libra, localizada a 20,5 anos luz da Terra e em cuja órbita já foram descobertos outros três planetas. (notícia retirada de http://oglobo.globo.com, publicada em 23/4/2009, texto adaptado) O planeta citado na notícia se encontra: a) girando em volta do Sol, antes de Plutão; b) girando em volta do Sol, depois de Plutão; c) girando em volta de uma estrela que pode ser vista no céu a noite; d) em algum lugar do espaço, distante de todos os corpos celestes conhecidos. 9. A figura abaixo representa o planeta Terra. Desenhe quatro pessoas na Terra: uma no Pólo Norte, uma no pólo Sul, uma a leste e uma a oeste da direção da linha do equador. Pólo Norte a) Sim b) Não 6. Dos corpos celestes abaixo, qual deles se encontra mais distante de nós? a) b) c) d) O Sol. O planeta Marte. Plutão. As estrelas vistas no céu à noite. 7. Sirius é a estrela que vemos com maior brilho no céu à noite. Qual é a distância aproximada entre a estrela Sirius e a Terra? a) b) c) d) Dez quilômetros. Mil quilômetros. Um milhão de quilômetros. Tão grande que é difícil medir em quilômetros. e) Infinita. Oeste Linha do Equador Pólo Sul Leste 90 10. A figura mostra um foguete sendo lançado para o espaço. Repare que durante o lançamento, o combustível é atirado violentamente para fora do foguete. O que aconteceu com a pena e o martelo ao serem soltos? Com os conhecimentos que possuímos hoje sobre as leis da física, seria possível a construção de um foguete que utilizasse o mesmo tipo de combustível que o da foto, e que fosse lançado sem que o combustível fosse atirado para fora do foguete? a) Sim b) Não 11. Imagine uma nave espacial em uma viagem rumo à Lua. Quando esta nave já está bem longe da Terra, mas ainda distante da Lua, acaba seu combustível. O que aconteceria com a nave ao acabar o combustível? a) b) c) d) a) Os dois ficaram flutuando. b) A pena ficou flutuando e o martelo caiu em direção ao solo. c) A pena e o martelo caíram, e os dois atingiram o solo ao mesmo tempo. d) A pena e o martelo caíram, e o martelo atingiu o solo antes que a pena. 13. Por que os objetos que são soltos caem na Terra? _________________________ _________________________ _________________________ _________________________ 14. A figura mostra um satélite em órbita na Terra. Continuaria com a velocidade que tinha. Diminuiria sua velocidade. Pararia. Mudaria o sentido do movimento (daria “ré”). 12. O astronauta Dave Scott, da missão Apolo 15 na Lua, realizou um experimento para comprovar as teorias de Galileu Galilei, utilizando uma pena e um martelo. O astronauta, na Lua, levantou a pena em uma mão e o martelo na outra, na mesma altura, e soltou os dois ao mesmo tempo, conforme a figura (a pena e o martelo estão destacados na figura): Por que o satélite não cai na Terra? _________________________ _________________________ _________________________ _________________________ _________________________ 91 APÊNDICE II – Prova do Primeiro Bimestre 1. (1 ponto) A estrela Alfa Centauri é uma das estrelas mais próximas da Terra, a uma distância de aproximadamente 4 anosluz de nós. Imagine que uma nave espacial fizesse uma viagem da Terra até a estrela Alfa Centauri, viajando com a velocidade da luz. Sabendo que a velocidade da luz vale aproximadamente 300 mil quilômetros por segundo, quanto tempo a nave levaria pra chegar à estrela Alfa Centauri? a) b) c) d) 12 dia. 3 meses. 4 anos. 10 milhões de anos. O planeta Marte. O Sol. Plutão. As estrelas vistas no céu à noite. 3. (1 ponto) Leia a notícia a seguir: Primeiro exoplaneta "normal" é descoberto por satélite com participação brasileira Cientistas anunciaram a descoberta de um exoplaneta com características similares às dos planetas do Sistema Solar, chamado de CoRot-9b. O planeta, que está fora de nosso Sistema Solar, está bem próximo de uma estrela como o Sol, na constelação Serpens Cauda, distante cerca de 1.500 anos-luz da Terra. O planeta foi visto pelo satélite CoRoT, que é uma parceria internacional com participação de laboratórios franceses e de mais seis países europeus e do Brasil. De acordo com o professor Sylvio FerrazMello, do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, os cálculos realizados até o momento apontam que a temperatura do CoRot-9b varia de 20 graus negativos a 150 graus positivos. “Nessas temperaturas pode até existir água no estado líquido”, avalia o pesquisador, que integra a equipe de mais de 60 cientistas que atuam no satélite. (Notícia retirada de http://noticias.bol.uol.com.br, 27/03/2010) a) girando em volta do Sol, antes de Plutão; b) girando em volta do Sol, depois de Plutão; c) girando em volta de uma estrela que pode ser vista no céu a noite; d) em algum lugar do espaço, distante de todos os corpos celestes conhecidos. 4. (0,5 ponto) Imagine que você passe alguns dias observando o céu sem nuvens. Marque os corpos celestes que você poderia observar mudando de posição no céu (pode marcar mais de uma opção). 2. (1 ponto) Dos corpos celestes abaixo, qual deles se encontra mais distante de nós? a) b) c) d) O planeta citado na notícia se encontra: Bol Notícias: publicada em ( ( ( ) O Sol ) A Lua ) As estrelas vistas no céu a noite 5. (1 ponto) A partir do que nós conhecemos sobre o Sistema Solar, por que ocorrem os dias e as noites? a) Por causa do movimento da Terra em torno do Sol. b) Por causa do movimento da Terra em torno de si mesma. c) Por causa do movimento do Sol em torno da Terra. d) Nenhuma das opções anteriores. 92 6. (0,5 ponto) O livro “O Pequeno Príncipe” conta a história de um menino que vive em um minúsculo planeta (impossível no mundo real), tão pequeno que ele pode dar uma volta completa com apenas alguns passos. A figura abaixo mostra o Pequeno Príncipe admirando uma flor. O que aconteceria com o homem indicado na figura no momento em que a Terra parasse? a) Pararia junto com a Terra e nada sentiria. b) Pararia junto com a Terra e começaria a flutuar. c) Continuaria em movimento e, para alguém vendo da Terra, ele seria jogado para frente. d) Continuaria em movimento e, para alguém vendo da Terra, ele seria jogado para trás. O enunciado a seguir se refere às questões 8e9 A figura mostra um foguete sendo lançado para o espaço. Repare que durante o lançamento, o combustível é atirado violentamente para fora do foguete. No caso da figura, como o Pequeno Príncipe estaria vendo a flor? a) b) 8. 7. (1 ponto) Desde a Antiguidade, a maioria das pessoas acreditava que a Terra se encontrava parada no universo. Hoje sabemos que, dentro do nosso modelo de Sistema Solar, a Terra se movimenta com uma velocidade de aproximadamente 30 quilômetros por segundo. Imagine que a Terra está se movimentando na direção indicada pela seta da figura, e de repente ela pára. (0,5 ponto) Com os conhecimentos que possuímos hoje sobre as leis da física, seria possível a construção de um foguete que utilizasse o mesmo tipo de combustível que o da foto, e que fosse lançado sem que o combustível fosse atirado para fora do foguete? a) Sim b) Não 9. (0,5 ponto) Qual é a lei física que justifica a resposta da questão anterior (se não lembrar do nome, explique a lei). _____________________ _____________________ 93 10. (1 ponto) Imagine uma nave espacial em uma viagem rumo à Lua. Quando esta nave já está bem longe da Terra, mas ainda distante da Lua, acaba seu combustível. O que aconteceria com a nave ao acabar o combustível? a) Pararia. b) Diminuiria sua velocidade. c) Mudaria o sentido do movimento (daria “ré”). d) Continuaria com a velocidade que tinha. O enunciado a seguir se refere às questões 11, 12, 13 e 14: Em astronomia, chamamos de satélite qualquer objeto que gira (orbita) em volta de um corpo celeste. Por exemplo, dizemos que a Lua é o satélite natural da Terra por que ela gira em volta da Terra com uma velocidade de aproximadamente 1 quilômetro por segundo. Além disso, os satélites utilizados nas telecomunicações são chamados de satélites artificiais da Terra por que também giram ao redor da Terra a grandes velocidades. 11. (0,5 ponto) O que aconteceria se houvesse uma grande redução na velocidade da Lua? a) Ela continuaria a girar em volta da Terra, mais lentamente. b) Ela passaria a se mover em linha reta, para longe da Terra. c) Ela cairia na Terra. d) Nenhuma das opções anteriores. 12. (0,5 ponto) O que aconteceria se houvesse uma grande redução na velocidade de um satélite artificial da Terra? a) Ele continuaria a girar em volta da Terra, mais lentamente. b) Ele passaria a se mover em linha reta, para longe da Terra. c) Ele cairia na Terra. d) Nenhuma das opções anteriores. 13. (0,5 ponto) O que aconteceria com a Lua se não existisse a gravidade da Terra? a) Ela teria o mesmo movimento, independente da gravidade da Terra. b) Ela se moveria em linha reta para longe da Terra. c) Ela cairia na Terra. d) Nenhuma das opções anteriores. 14. (0,5 ponto) O que aconteceria com um satélite artificial da Terra caso não existisse a gravidade da Terra? a) Ele teria o mesmo movimento, independente da gravidade da Terra. b) Ele se moveria em linha reta para longe da Terra. c) Ele cairia na Terra. d) Nenhuma das opções anteriores. 94 APÊNDICE III - Produto Educacional - Texto Todos os conteúdos apresentados neste apêndice se encontram disponíveis em www.hugo.pro.br/astronomia.htm, com pequenas adaptações para se adequar ao formato de hipertexto e com recursos adicionais. A FÍSICA E O UNIVERSO Sumário Apresentação 96 Aos alunos (e a todos os interessados em conhecer o universo) 96 Aos professores de física do ensino médio 98 Unidade 1 – Qual é o tamanho do universo? 100 1. Olhando para o céu 100 2. O Sistema Solar – noções básicas 102 3. O Sistema Solar – comparando tamanhos 103 4. As estrelas - comparando tamanhos 106 5. Tamanhos reais e aparentes 109 6. Distâncias astronômicas 112 7. Como conhecemos as distâncias astronômicas? 115 8. Sistemas planetários 117 9. Vida fora da Terra 119 10. A Via Láctea 122 11. O universo 124 12. Referências e créditos 126 13. Respostas das questões 128 95 Unidade 2 – Os corpos celestes se movimentam? 129 1. Os movimentos vistos no céu 129 2. O lugar da Terra no universo 134 3. Movimentos no Sistema Solar 135 4. Movimentos da Terra e da Lua 138 5. Entendendo os movimentos no céu 141 6. Por que não sentimos os movimentos da Terra? 144 7. “Em cima” e “embaixo” no espaço 146 8. As leis dos movimentos 149 9. A Lei da Ação e Reação e os ônibus espaciais 151 10. A Lei da Inércia e os ônibus espaciais 154 11. A Lei da Inércia no espaço e na Terra 157 12. O Princípio Fundamental da Dinâmica e os ônibus espaciais 159 13. A Lei da Gravitação Universal 162 14. O que é um satélite 165 15. Por que os satélites não caem na Terra? 166 16. Tudo no universo se movimenta 170 17. Referências e créditos 173 18. Respostas das questões 176 96 Apresentação Aos alunos (e a todos os interessados em conhecer o universo) A física é uma ciência que estuda os mais diversos fenômenos observados em nosso dia-a-dia, como a queda de uma maçã de uma árvore, a ebulição da água em uma chaleira, um raio em um dia chuvoso etc. A física também se propõe a responder a perguntas que despertam nossa curiosidade, como por exemplo, “como os aviões e pássaros permanecem no ar?”, “por que o céu é azul?”, “como funcionam os vários tipos de televisões?”. Nos textos a seguir, a física é apresentada de uma forma um pouco diferente da que costumamos encontrar em livros didáticos. A física é utilizada como uma espécie de FERRAMENTA, para nos ajudar a responder a questões do nosso interesse. Uma das atividades que mais fascinaram o homem ao longo de toda a sua história foi a observação do céu. E a partir dessas observações surgiram muitas questões: “por que ocorrem eclipses?”, “do que são formadas as estrelas?”, “de onde surgiu o universo?”, “existe vida fora da Terra?”. Apesar de essas questões atualmente serem estudadas com mais profundidade por astrônomos, através da ciência conhecida como astronomia, suas respostas também exigem muitos conhecimentos de física. A Terra fotografada da superfície da Lua, a 384 000 km de distância, em 1969. Até hoje, esse foi o local mais distante da Terra que um ser humano já pisou. Entretanto isso nunca impediu o ser humano de se perguntar sobre o que existe além. (Imagem obtida em http://educar.sc.usp.br/licenciatura/1999/missao.htm.) 97 Nos textos a seguir, veremos como a física e a astronomia se unem para nos revelar o que existe no universo e explicar o seu funcionamento. Veremos também como o homem se utiliza desses conhecimentos para desenvolver tecnologia, colocando satélites em órbita, mandando robôs para Marte etc. A quantidade de temas sobre o universo é quase tão grande quanto o próprio universo. Por isso, pelo menos por enquanto, vamos estudar apenas dois temas principais, divididos em dias unidades: Unidade 1 – Qual é o tamanho do universo? Nessa unidade, teremos uma visão geral de nosso “endereço” dentro do universo como um todo. Veremos que nosso Sistema Solar, tão estudado nas aulas de ciências, é apenas um pequeno cantinho de nosso universo. Unidade 2 – Os corpos celestes se movimentam? Nesta unidade, vamos entender como ocorrem e porque ocorrem os movimentos no universo, desde o movimento do nascer e pôr do Sol até movimentos de foguetes espaciais. Vamos entender, por exemplo, que nem todos os movimentos que vemos é o que achamos que vemos, e que nem tudo o que sobe desce. Ao longo da leitura, você verá muitos conceitos que estudou ou irá estudar em suas aulas de física, como velocidade, referenciais, forças, leis de Newton etc. Espero que este material contribua para despertar um maior interesse por esta disciplina tão incompreendida... Rio de Janeiro, janeiro de 2012. Hugo Henrique 98 Aos professores de física do ensino médio Este material é produto de uma dissertação de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática do CEFET/RJ, realizado por mim com orientação do professor Sérgio Duarte. A ideia do projeto é disponibilizar um material motivador para os alunos, apresentando conceitos de física dentro do contexto da astronomia e astronáutica, que possa enriquecer as aulas de física de acordo com a realidade de cada rede de ensino, sem que para isso sejam necessárias grandes mudanças curriculares. O material é dividido em duas unidades, descritos sucintamente na apresentação aos alunos. Vamos descrevê-las novamente, focando agora na contribuição de cada unidade ao ensino de física. Unidade 1 – Qual é o tamanho do universo? O objetivo desta unidade é apresentar uma espécie de “mapa do universo”, desde a Terra até os aglomerados de galáxias. Essa unidade inclui conceitos de física tradicionalmente conhecidos como “introdução à física”, como unidades de medida, escalas de tamanho e distância etc. Ela pode ser utilizada como uma introdução ao estudo de física ou apenas como uma introdução à Unidade 2. Unidade 2 – Os corpos celestes se movimentam? Nesta unidade, discute-se questões sobre movimentos de corpos celestes, desde os movimentos vistos a olho nu no céu até os movimentos de galáxias. Também discute-se exemplos de movimentos dentro da astronáutica, como as órbitas de satélites e lançamentos de foguetes espaciais. Os movimentos discutidos são trabalhados tanto do ponto de vista da cinemática (referenciais, velocidade, trajetória etc), quanto da dinâmica (forças e leis de Newton), utilizando quase que exclusivamente a Mecânica Clássica. É, portanto, uma unidade apropriada para ser inserida em cursos de mecânica do ensino médio. Estas unidades foram aplicadas por mim em uma turma de física de segundo ano do ensino médio noturno, da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, ao longo de todo o primeiro bimestre do ano letivo de 2010. Nessa ocasião, foram necessárias 5 aulas de 80 minutos para a aplicação de todo o conteúdo. Considerando que o texto possui um total de 27 seções, isso nos dá uma média de 5 ou 6 seções por aula. 99 Apesar de, a princípio, o material possa parecer muito grande para 5 aulas, o texto se estende apenas para se tornar mais preciso. Não devemos nos esquecer que o objetivo não é o ensino de astronomia, mas sim a motivação para a aprendizagem de física. Apesar de minha escolha em aplicar todo o conteúdo no primeiro bimestre, nada impede que outros professores acrescentem apenas os temas que achem mais relevantes, em qualquer etapa do ano letivo. Os textos foram produzidos para servir como material didático para os alunos e também como material instrucional para os professores. Em especial, para os professores, existem alguns quadros com sugestões, com o título “para o professor”. Existem ainda os quadros intitulados “saiba mais”, que servem de aprofundamento para professores e alunos. Além disso, a maioria das referências foi tirada da internet, facilitando a consulta como forma de aprofundar os conhecimentos do docente. Na versão eletrônica do texto, os links para as referências foram espalhados ao longo das páginas. Os quadros com as “questões” também podem ser aproveitados para discussões em sala de aula. Estão disponíveis para download as apresentações em Power Point utilizadas na aplicação do projeto, um artigo descrevendo a aplicação do projeto e o texto completo da dissertação de mestrado, em www.hugo.pro.br/astronomia_downloads.htm. Recomendo a apresentação de todos os conteúdos em Power Point, projetada por datashow, para que se possa aproveitar todo o potencial didático das imagens. Espero que esse trabalho contribua para tornar suas aulas ainda mais atrativas. Rio de Janeiro, janeiro de 2012. Hugo Henrique 100 Unidade 1 - Qual é o tamanho do universo? 1. Olhando para o céu Tente lembrar do que você pode ver ao olhar para o céu em um dia com poucas nuvens. Se for possível, olhe para o céu agora. De dia, o que mais nos chama a atenção no céu é o Sol, como na foto abaixo. Figura 1 - O Nascer do Sol na praia de Tibal - RN (Foto de Izabela Morais). Durante o dia, a luz do Sol é tão intensa que ofusca a luz dos outros astros no céu. Apesar disso, mesmo com a luz do dia é possível ver a Lua no céu, dependendo apenas do horário e da fase da Lua, como nas fotos a seguir (se você nunca reparou na Lua de dia, procure-a no céu quando tiver oportunidade, especialmente no início das manhãs e no final das tardes). Figura 2 - Lua de dia. Figura 3 - Lua de dia. 101 À noite, com a ausência da luz do Sol, podemos ver outros astros com muito mais facilidade. Em especial, podemos ver a Lua e os pontinhos brilhantes conhecidos como “estrelas”, como na imagem abaixo. Figura 4 - Céu do Rio de Janeiro, no dia 20/07/2011, às 22h40min (imagem produzida com o programa Stellarium). SAIBA MAIS: Na verdade, nem todos os pontos brilhantes vistos no céu a noite são estrelas. Alguns desses pontos são planetas, outros são satélites artificiais, e outros são conjuntos de estrelas tão próximas que, observadas sem a ajuda de instrumentos, aparentam ser apenas uma. Em apenas um ponto luminoso visto no céu podem estar concentradas milhões de estrelas [1]. Ao observar o céu, principalmente à noite, temos a sensação de um grande espaço. Mas, será que só o que vemos a olho nu (ou seja, sem a ajuda de instrumentos como binóculos e telescópios) é capaz de nos dar uma noção do tamanho do universo e da quantidade de coisas que existem fora da Terra? Ao longo desse texto, você verá que o planeta Terra, quando comparado a todo o universo conhecido pela ciência atualmente, não passa de um pequeno grão de poeira em um cantinho escondido do universo. 102 NÃO ESQUEÇA! Ao longo do texto, sempre que falarmos sobre observação a olho nu estaremos nos referindo a observação apenas com nossos olhos, ou seja, sem a ajuda de nenhum tipo de instrumento, como binóculos e telescópios. Em astronomia, são comuns os termos “astro” e “corpo celeste”. Um astro, ou um corpo celeste, é qualquer objeto no espaço que não foi criado pelo homem, como os planetas, as estrelas, os satélites naturais, os cometas etc. PARA O PROFESSOR: Para apresentar essa seção em aula, sugerimos a utilização do programa Stellarium, projetada por datashow. Este programa mostra um céu realista em três dimensões, igual ao que se vê a olho nu, com binóculos ou telescópio. O programa pode ser baixado gratuitamente em http://www.stellarium.org/pt/. Nesse site também existe um manual do usuário, mas a utilização do programa é muito intuitiva (obs.: use a barra de rolagem do mouse para aproximar as imagens, simulando observações por telescópio). 2. O Sistema Solar – noções básicas Para termos uma noção do “tamanho do universo”, vamos começar com aquilo que você provavelmente já estudou em suas aulas de ciências ou geografia. Se você lembra alguma coisa sobre o Sistema Solar, certamente deve se lembrar de uma figura desse tipo: Figura 5 - O Sistema Solar. 103 Primeiro, vamos relembrar o que representa essa figura. Ela mostra a Terra e os outros planetas do Sistema Solar girando em volta do Sol: A Terra leva aproximadamente 365 dias (1 ano) para dar uma volta completa em torno do Sol. Cada um dos outros planetas leva um tempo diferente para completar uma volta em torno do Sol. A Terra também gira em volta de si mesma, dando uma volta completa em aproximadamente 24 horas (1 dia). Cada um dos outros planetas também gira em volta de si mesmo, levando tempos diferentes pra completar uma volta. SAIBA MAIS: Os dias e as noites existem por causa do movimento da Terra em torno de si mesma. Como a Terra não possui luz própria, um lado da Terra é iluminado pelo Sol e o outro lado permanece no escuro. No lado iluminado é dia e no lado escuro é noite. A medida em que a Terra gira em volta de si mesma, passamos do lado iluminado da Terra (dia) para o lado escuro (noite), e vice-e-versa. Veremos mais detalhes sobre isso na “Unidade 2 – os corpos celestes se movimentam?” Essas coisas você já deve ter estudado. Vamos então tentar ir um pouco além. Olhe a figura da página anterior atentamente e se pergunte: será que está tudo certo com essa figura??? (pense primeiro, e depois continue a ler.) PARA O PROFESSOR: Questione os alunos e use a discussão como gancho para a próxima seção. 3. O Sistema Solar – comparando tamanhos Figura 6 - O Sistema Solar. 104 Existem vários aspectos da figura da página anterior que não correspondem à realidade. Vamos citar alguns deles: Plutão deixou de ser chamado de planeta, logo, ele não deveria aparecer com os outros planetas do Sistema Solar. Isso não significa que Plutão não existe mais. Ele apenas passou a ser conhecido como um “planeta anão” [2]. As distâncias entre o Sol e os planetas não está correta. Pela figura, parece que dá pra “pular” de um planeta a outro, de tão próximos. Dizemos que a figura não está em escala de distância Os tamanhos entre o Sol e os planetas não está correta. Dizemos que a figura não está em escala de tamanho. Uma figura que mostra melhor a comparação entre os tamanhos do Sol e dos planetas é esta: Figura 7 – O Sol e os planetas do Sistema Solar em escala de tamanho. Não se esqueça que nessa figura as distâncias entre o Sol e os planetas ainda está incorreta (se essas fossem as distâncias reais, Mercúrio já teria sido “torrado”). Dizemos que a figura está em escala de tamanho, mas não está em escala de distância. Vamos ver mais algumas figuras de objetos do Sistema Solar, em escala de tamanho: 105 Figura 8 – Alguns planetas e satélites naturais do Sistema Solar, em escala de tamanho. Figura 9 – O Sol, os planetas e alguns satélites naturais do Sistema Solar, em escala de tamanho. 106 Figura 10 – Alguns astros do Sistema Solar, em escala de tamanho. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de escala de tamanho, importante não só para a disciplina de física, como para outras disciplinas escolares, como a geografia, por exemplo. 4. As estrelas – comparando tamanhos As figuras da seção anterior nos deram uma noção dos tamanhos reais dos planetas do Sistema Solar. Mas e em relação às estrelas vistas à noite, qual será seus tamanhos reais? Será que todas as estrelas possuem o mesmo tamanho? Antes de falarmos sobre isso, tente responder à seguinte questão: QUESTÃO 1 - Qual é o nome da estrela mais próxima de nós? (resposta na página 128) Você já deve ter aprendido em suas aulas de ciências que o Sol é uma estrela. Nas aulas de ciências, aprendemos que uma das diferenças entre as estrelas e os planetas está no fato de as estrelas gerarem sua própria luz, diferente dos planetas. O Sol, além de ser uma estrela, é a estrela mais próxima de nós. 107 Apesar de aprendermos que o Sol é uma estrela, ao olharmos para o céu, ele nos parece muito diferente dos pontinhos luminosos que vemos no céu à noite. Então pense na seguinte questão: QUESTÃO 2 - O Sol é a maior estrela que existe? (resposta na página 128) O Sol é só mais uma estrela com as outras que vemos à noite, existindo, portanto, estrelas menores que o Sol e estrelas maiores também. As figuras a seguir dão uma ideia dos tamanhos de algumas estrelas, incluindo o Sol. A maioria dessas estrelas podem ser observadas no céu a olho nu. Figura 11 – Estrelas em escala de tamanho (e também o planeta Júpiter). 108 Figura 12 – Estrelas em escala de tamanho (e as órbitas de alguns planetas). Compare a estrela Arcturus nessa figura e na figura anterior. Figura 13 – Estrelas em escala de tamanho (e as órbitas de alguns planetas). Compare a estrela Gama Cruxis (uma das estrelas do Cruzeiro do Sul) nessa figura e na figura anterior. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, continua-se a trabalhar o conceito físico de escala de tamanho, iniciado na seção anterior. 109 5. Tamanhos reais e aparentes As figuras anteriores certamente não se parecem com o que nós observamos todos os dias no céu. Ao observarmos o céu, as estrelas vistas à noite aparentam ser muito menores do que o Sol, mas pela figura vemos que existem muitas estrelas maiores que o Sol. Como podemos explicar essa diferença entre a realidade e o que nós vemos? O tamanho com que vemos um objeto qualquer depende de duas coisas: de seu TAMANHO REAL e de sua DISTÂNCIA em relação ao observador. É fácil entendermos isso ao observarmos a foto abaixo. Repare que na foto existem dois aviões, um bem perto do fotógrafo e outro bem distante, no céu. Os dois aviões possuem mais ou menos o mesmo tamanho, mas o avião mais distante aparenta ser bem menor que o avião mais próximo do fotógrafo. Figura 14 – Aviões com tamanhos aparentes. O mesmo acontece com todos os corpos celestes observados no céu. O tamanho dos objetos vistos por nós é apenas um TAMANHO APARENTE. Será que só com esse exemplo você já é capaz de responder à questão do início da seção: QUESTÃO 3 – Se existem estrelas maiores que o Sol, por que todas as estrelas vistas a noite aparentam ser muito menores que o Sol? (resposta na página 128) Para entendermos a resposta da questão anterior, vamos usar como exemplo a estrela visível a olho nu mais próxima de nós, depois do Sol: a estrela Alpha Centauri. Essa estrela pode ser observada facilmente no céu noturno, pois, quando vista da Terra, é uma das estrelas mais brilhantes no céu e está localizada perto da constelação do Cruzeiro do Sul (figura 15). 110 Apesar de a estrela Alpha Centauri aparentar ser apenas um único pontinho luminoso, uma observação com um telescópio simples mostra que na verdade ela é um conjunto de DUAS estrelas, Alpha Centauri A e B, tão próximas entre si que a olho nu aparentam ser uma só (figura 16). As estrelas Alpha Centauri A e B são um pouco MAIORES que o Sol (figura 17), entretanto, vistas da Terra, elas aparentam ser BEM MENORES, por se encontrarem 273 MIL vezes mais distantes de nós do que o Sol! [3] Figura 15 - Simulação do céu do Rio de Janeiro em 6/6/2011, às 22h, produzida com o programa Stellarium. Figura 16 - Alpha Centauri A e B vistas por um telescópio. (Autor: Dario Pires.) Figura 17 – Comparação entre os tamanhos reais das estrelas do Sistema Alpha Centauri e o Sol. Existe uma estrela um pouco mais próxima de nós do que Alpha Centauri, que se chama Proxima Centauri (ou Alpha Centauri C), mas, por ser muito pequena (figura 17), essa estrela não pode ser vista a olho nu. Depois do Sol, Proxima Centauri é a estrela mais próxima da Terra (daí vem o nome “Próxima). 111 SAIBA MAIS: Próxima Centauri se encontra a uma distância 270 MIL vezes maior de nós do que o Sol. Além dessa enorme distância, essa estrela é cerca de 20 vezes menor do que o Sol (figura 17), e por isso só conseguimos observá-la com a ajuda de telescópios potentes [3]. Só para verificar se você realmente entendeu a ideia de tamanho aparente, tente responder a mais uma questão: QUESTÃO 4 – Se o Sol é muito maior do que a Lua, por que os dois aparentam ter o mesmo tamanho no céu? (resposta na página 128) Tente agora responder a uma última questão: QUESTÃO 5 - Será que as estrelas vistas a noite fazem parte do Sistema Solar? (resposta na página 128) Para entendermos a resposta da questão acima, devemos saber o que é o Sistema Solar. De uma forma bem simplificada, o Sistema Solar é o conjunto de objetos astronômicos (planetas, satélites, planetas anões etc.) que se movimentam ao redor do Sol. Plutão, mesmo não sendo mais chamado de planeta, continua sendo um dos objetos do Sistema Solar mais distantes do Sol. A estrela mais próxima do Sol (Proxima Centauri) se encontra 7 MIL vezes mais distante do Sol do que Plutão! [4] As outras estrelas vistas no céu à noite se encontram ainda mais distantes. SAIBA MAIS: Fazendo uma comparação, se todo o universo fosse reduzido até o planeta anão Plutão ficar a uma distância de 1 metro do Sol, a estrela Próxima Centauri ainda ficaria a uma distância de 7 quilômetros do Sol! Com essas enormes distâncias entre o Sol e as outras estrelas, você deve imaginar que as estrela vistas a noite NÃO fazem parte do Sistema Solar, por se encontrarem MUITO mais distante do que qualquer objeto astronômico que se movimenta ao redor do Sol. Isso significa que a única estrela pertencente ao Sistema Solar é o próprio Sol. 112 SAIBA MAIS: Veremos, na “Unidade 2 – os corpos celestes se movimentam?” que o Sol mantém todos os astros do Sistema Solar girando ao seu redor devido à sua atração gravitacional. As outras estrelas estão tão distantes de nós que sua força gravitacional sobre os astros do Sistema Solar é desprezível. PARA O PROFESSOR Nesta seção trabalha-se o conceito físico de escala de distância, importante não apenas para a física, mas também para outras disciplinas escolares, como a geografia, por exemplo. Os valores numéricos e detalhes do sistema Alpha Centauri só devem ser usados em aula se houver tempo disponível e interesse por parte da turma. O mais importante nessa etapa é a compreensão do conceito de “tamanho aparente” e o entendimento de que o Sol é a única estrela do Sistema Solar. Antes da aula, você pode verificar no programa Stellarium como estará a visualização de Alpha Centauri a noite. Caso a época esteja apropriada para sua visualização e o tempo não esteja nublado, você pode propor que os alunos observem essa estrela em suas casas. Existe ainda a possibilidade de observação do céu na própria escola, em especial se for um colégio noturno. Você pode usar distâncias conhecidas dos alunos para comparar a distância do Sol até Plutão e até Alpha Centauri (último “Saiba Mais” da seção). Por exemplo, para uma órbita de Plutão de 1 metro de raio, procure no Google Maps um local conhecido a aproximadamente 7 quilômetros do colégio, e diga que, nessa escala de distâncias, Próxima Centauri deveria se encontrar nesse local. 6. Distâncias astronômicas Você já deve ter reparado que, ao falarmos em distâncias entre objetos astronômicos sempre temos que usar números enormes. Só para servir de exemplo, podemos citar a distância da Terra ao Sol [4], e a distância da Terra à estrela Alpha Centauri [3]. Astros Distância em quilômetros (aproximado) Da Terra ao Sol. 150 000 000 km Da Terra à Alpha Centauri. 41 000 000 000 000 km Figura 18 – A Terra se encontra a uma distância do Sol de aproximadamente 150 000 000 km (150 milhões de quilômetros). Figura 19 – A Terra se encontra a uma distância da estrela Alpha Centauri de aproximadamente 41 000 000 000 000 km (41 trilhões de quilômetros). 113 Você deve imaginar que não é muito prático trabalhar com esses números. Imagine você tendo que fazer contas com eles em uma prova! Em geral, a distância entre estrelas é tão grande que é difícil medir em quilômetros. Por isso, foi criada uma outra forma de medidas de distâncias: o ano-luz. O ANO-LUZ É A DISTÂNCIA PERCORRIDA PELA LUZ EM 1 ANO. Imagine que você ligue uma lanterna, aponte para o céu, e a luz dessa lanterna viaje pelo espaço por 1 ano. Nesse tempo, a luz da lanterna percorreria a distância de 1 ano-luz. Isso significa que o ano-luz é uma MEDIDA DE DISTÂNCIA, e não de tempo, como alguns costumam achar. Para verificar se você realmente entendeu o conceito de ano-luz, tente responder às seguintes questões: QUESTÃO 6 - Imagine que uma estrela está a 10 anos-luz de nós. Quanto tempo a luz da estrela leva para chegar até nós? (resposta na página 128) QUESTÃO 7 - Se a estrela da questão anterior explodisse, quanto tempo levaríamos para ver a luz da explosão? (resposta na página 128) DESAFIO – Sabendo que a luz percorre 300 000 km a cada segundo, faça os cálculos e mostre que em 1 ano a luz percorre aproximadamente 9 800 000 000 000km (essa é a medida do ano-luz em quilômetros). (resposta na página 128) Trabalhando com a ideia de ano-luz, fica muito mais fácil escrevermos as distâncias astronômicas. Nos exemplos que demos no início da seção, temos: Distância em quilômetros Distância em anos-luz (aproximado) (aproximado) Da Terra ao Sol 150 000 000 km 8 minitos-luz De Alfa Centauri ao Sol 40 000 000 000 km 4 anos-luz Astros 114 Figura 20 – O Sol se encontra a uma distância da Terra de aproximadamente 8 minutos-luz. Figura 21 – A estrela Alpha Centauri se encontra a uma distância da Terra de aproximadamente 4 anos-luz. No caso da distância entre Alpha Centauri e o Sol, surge também o minuto-luz. A ideia do minuto-luz é a mesma do ano-luz: O MINUTO-LUZ É A DISTÂNCIA PERCORRIDA PELA LUZ EM 1 MINUTO. QUESTÃO 8 – O que é o segundo-luz? (resposta na página 128) Isso significa que a luz do Sol leva 8 minutos para chegar até nós e a luz da estrela Alfa Centauri leva 4 anos para chegar até nós. Ou seja, se o Sol explodisse, levaríamos 8 minutos para ver a explosão; por outro lado, se Alfa Centauri explodisse, levaríamos 4 anos para ver a explosão. Existem objetos astronômicos que podem ser observadas a olho nu no céu noturno e que se encontram a MILHÕES de anos-luz da Terra [5]. De certa forma, ao olharmos para o céu vemos o passado, já que o que estamos vendo agora é a luz que levou certo tempo para chegar nossos olhos. Como vimos, o tempo que a luz leva para chegar até nós pode durar de alguns minutos (como a luz do Sol) até milhões de anos (como as galáxias distantes). Podemos ver coisas no céu noturno que nem existem mais... SAIBA MAIS: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de unidade de distância, usando como exemplo o quilômetro e o ano-luz. Também é dado um exemplo do motivo da existência de unidades diferentes para um mesmo tipo de medida. 115 7. Como conhecemos as distâncias astronômicas? Na seção anterior, falamos de distâncias entre estrelas, mas nenhum ser humano viajou até uma estrela (nem mesmo até o Sol) e também nunca mandou naves, sondas ou robôs até lá (como já foi feito com Marte, por exemplo). Podemos então nos perguntar: Se não conseguimos viajar até as estrelas, como conhecemos as distâncias que as separam de nós? Existem muitos métodos para determinarmos distâncias entre objetos sem precisarmos ir até eles. Vamos descrever apenas um deles, chamado método da paralaxe. Para entendermos o que é a paralaxe, se imagine olhando a paisagem pela janela de um automóvel em movimento. Sabemos que, à medida que o automóvel se movimenta, vemos toda a paisagem ficando para trás, como árvores, postes etc. A paralaxe é essa mudança aparente de posição de um objeto, produzida por uma mudança de posição do observador [6]. Você já deve ter notado que, ao observarmos uma paisagem em um automóvel em movimento, os objetos mais próximos vão ficando para trás mais rapidamente que os objetos mais distantes. Por exemplo, postes e árvores na beira da estrada ficam para trás rapidamente, enquanto morros e montanhas vão ficando para trás mais lentamente, e nuvens e corpos celestes como a Lua praticamente não ficam para trás. Isso significa que, quanto MAIS DISTANTE um objeto se encontra de nós, MENOR é o efeito da paralaxe, conforme as imagens a seguir: Figura 22 – Vídeo gravado pela janela de um ônibus em movimento, em três momentos consecutivos. Repare que o poste possui um movimento aparente mais rápido que o orelhão atrás dele, e ainda mais rápido que a árvore mais atrás. 116 ATIVIDADE – 1 Assista ao vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=LihvAZhkUhQ, filmado da janela de um ônibus em movimento. Repare que os objetos mais próximos do ônibus vão ficando para trás mais rapidamente que os objetos mais distantes (a figura acima é uma sequencia de imagens desse vídeo). Conhecendo o efeito da paralaxe, temos um método para saber se um objeto se encontra mais distante do que outro: se estivermos observando dois objetos e mudarmos de posição, aquele que tiver MAIS DISTANTE terá a MENOR mudança de posição aparente. Se medíssemos a mudança de posição aparente dos objetos, poderíamos inclusive calcular as distâncias entre nós e os objetos. Ao observarmos corpos celestes em posições diferentes, eles também sofrem deslocamentos aparentes, devido à paralaxe: quanto MENOS eles se deslocam, MAIOR é a distância de nós. Medindo esse deslocamento aparente, é possível calcular as distâncias entre nós e os corpos celestes. No caso das estrelas, também existe um deslocamento aparente, devido à paralaxe, mas, como as estrelas estão muito distantes de nós, esse deslocamento é bem pequeno, e não é possível observá-lo dando apenas alguns passos. Na prática, o que os astrônomos fazem é medir a posição de uma estrela em um determinado dia e local e medir a posição da mesma estrela no mesmo local, mas alguns meses depois. Depois de alguns meses, a Terra irá se encontrar em uma posição diferente da que se encontrava anteriormente, e nós teremos mudado de posição junto com a Terra. Dessa forma, o deslocamento aparente das estrelas será muito maior do que o que vemos dando apenas alguns passos (figura 23). Medindo o deslocamento aparente da estrela, os astrônomos calculam sua distância [6]. Figura 23 – Deslocamento aparente de uma estrela (paralaxe) em diferentes dias do ano. 117 SAIBA MAIS: Na verdade, esse método só é usado para as estrelas mais próximas de nós, pois para as estrelas mais distantes, a paralaxe é tão pequena que não pode ser medida nem mesmo com instrumentos poderosos [6]. Nesse caso, existem outros métodos para medir a distância das estrelas, mas todos os métodos são feitos de forma indireta, através de instrumentos de observação e cálculos. Depois que a distância de uma estrela é conhecida, através da luz emitida por ela podemos calcular seu tamanho, sua composição química e até mesmo a velocidade de seu deslocamento. PARA O PROFESSOR: A discussão sobre o método da paralaxe em sala de aula pode servir como um exemplo do método científico, que geralmente é discutido como uma introdução à física. Nesta seção, ao invés de apenas passarmos informações baseadas em estudos científicos, exemplificamos os métodos utilizados pelos cientistas para chegarem em suas conclusões. Esta seção não foi apresentada durante a aplicação do projeto, mas foi incluída aqui devido aos frequentes questionamentos por parte dos alunos. Na apresentação das seções anteriores, é comum ouvirmos perguntas do tipo: “Como a gente conhece a distância entre as estrelas? Alguém já foi lá?”. Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=LihvAZhkUhQ (o vídeo da atividade 1) em sala de aula. 8. Sistemas planetários Nas seções anteriores, vimos que o Sol é apenas uma estrela como as outras que vemos no céu noturno. Entretanto, para nós, o Sol possui uma importância especial, pois todos os planetas do Sistema Solar giram em volta dele. Agora pense na seguinte questão: QUESTÃO 9 - Será que o Sol é a única estrela que possui planetas girando ao seu redor? (resposta na página 128) Atualmente, novos planetas são descobertos frequentemente, orbitando OUTRAS estrelas diferentes do Sol. Para servir de exemplo, leia a notícia a seguir, publicada em 23/4/2009: Planeta descoberto é o "mais similar à Terra", diz astrônomo Santiago do Chile, 21 de abril de 2009 - O menor planeta conhecido até o momento (fora do sistema solar), batizado como Gliese 581e e cuja descoberta foi anunciada hoje, é o "mais similar à Terra até hoje", afirmou Gaspare lo Curto, astrônomo do Observatório Europeu Austral (ESO, em inglês) no Chile. O novo planeta orbita ao redor da diminuta estrela Gliese 581, na constelação de Libra, localizada a 20,5 anos-luz da Terra e em cuja órbita já foram descobertos outros três planetas. (notícia retirada de http://oglobo.globo.com, publicada em 23/4/2009, texto adaptado) 118 Vamos entender a notícia acima. Ela fala sobre a descoberta de um planeta orbitando (ou seja, girando em volta) de uma estrela diferente do Sol, chamada de Gliese 581. Esse não é o único planeta que gira em volta dessa estrela, já que a notícia informa que já haviam sido descobertos três outros planetas orbitando essa estrela. Essa estrela, junto com seus planetas, se encontra a uma distância de 20,5 anos-luz de distância de nós. QUESTÃO 10 – Quanto tempo a luz da estrela Gliese 581 leva desde o momento em que é emitida pela estrela até chegar em nossos olhos? (resposta na página 128) QUESTÀO 11 – Se a estrela Gliese 581 explodisse, quanto tempo depois veríamos o brilho da explosão? (resposta na página 128) Como já vimos, a distância de 20,5 anos-luz significa que a luz leva 20,5 anos para percorrer essa distância. A figura a seguir é uma representação simplificada do significado da notícia, para facilitar a visualização: Figura 24 – Descoberta do planeta Gliese 581e, orbitando a estrela Gliese 581. (as escalas de tamanho e distância não estão sendo respeitadas). 119 Esse é só um exemplo de planeta descoberto fora do nosso Sistema Solar, ou seja, orbitando outra estrela diferente do Sol. Atualmente, já foram descobertos mais de 600 planetas girando em volta de outras estrelas, e esse número continua aumentando [7]. Esses novos planetas são conhecidos como planetas extra-solares, ou exoplanetas (“exo” significa “de fora”, ou seja, “exoplaneta” significa “planeta de fora”). O conjunto formado por uma estrela com planetas girando em volta é chamado de “sistema estelar” ou “sistema planetário”, sendo o nosso Sistema Solar apenas um exemplo de sistema estelar ou planetário. Figura 25 – Representação artística de planeta um planeta extra-solar. Figura 26 – Representação artística de um planeta extra-solar. Depois de sabermos tudo isso, podemos nos perguntar: com tantos planetas descobertos e outros ainda não descobertos, será que o nosso planeta é o único a possuir vida? Continue a ler para entender um pouco mais sobre essa questão. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se a competência relacionada à interpretação de notícias de caráter científico. Apesar de nem todas as estruturas curriculares abordarem a questão do desenvolvimento de competências, sabemos que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) seguem essa linha. . 9. Vida fora da Terra A notícia da seção anterior diz que Gliese 581e foi o planeta descoberto (fora do Sistema Solar), “mais similar à Terra até hoje (no dia 21 de abril de 2009)”. Essa informação é importante, pois os astrônomos acreditam que quanto mais parecidos com a Terra forem os planetas descobertos, maiores serão as chances de esses planetas possuírem vida parecida com a da Terra. Nos planetas do Sistema Solar diferentes da Terra, os cientistas já descartaram a possibilidade de existência de vida inteligente. O que se procura hoje no Sistema Solar são formas de vida microscópicas que poderiam existir nos planetas mais parecidos com a Terra, 120 como Marte, por exemplo. Entretanto, fora do Sistema Solar, existem planetas ainda totalmente desconhecidos, girando em volta de outras estrelas, que poderiam possuir qualquer tipo de vida, inclusive vida inteligente, como os seres humanos [8]. Isso significa que a procura por planetas fora do nosso Sistema Solar também é a procura por vida fora da Terra, em especial a procura por vida inteligente. No momento em que você admira uma estrela à noite, como um pontinho luminoso no céu, é possível que existam seres inteligentes como nós, vivendo em um planeta girando em volta dessa estrela, vendo o Sol de seu planeta como mais um pontinho luminoso no céu. Figura 27 – Cena do filme “E.T., O Extraterrestre” (1982). Você já deve ter ouvido falar em seres extraterrestres visitando o nosso planeta em discos voadores. Inclusive, existem pessoas que juram já ter visto objetos estranhos sobrevoando os céus e até mesmo pessoas que afirmam ter tido contato direto com os visitantes extraterrestres. Será que existe alguma base científica que torne possível a visita de tais seres à Terra? QUESTÃO 12 – Imagine uma nave espacial fazendo uma viagem de 3 anos-luz de distância. Quanto tempo a nave levaria na viagem? (resposta na página 128) QUESTÃO 13 – Na questão anterior, se a nave espacial fizesse a viagem de 3 anos-luz viajando com a metade da velocidade da luz, quanto tempo levaria na viagem? (resposta na página 128) 121 Em primeiro lugar, se existirem seres inteligentes o suficiente para construírem naves espaciais, provavelmente eles serão originários de uma estrela diferente do Sol. Vamos então imaginar a existência de seres extraterrestres vivendo em um planeta orbitando a estrela mais próxima do Sol, ou seja, Proxima Centauri. Como já vimos, essa estrela se encontra a mais ou menos 4 anos luz de distância do Sol. Isso significa que, mesmo que os seres extraterrestres construíssem uma nave espacial que viajasse na velocidade da luz, eles ainda levariam 4 anos durante a viagem. Na verdade, construir uma nave espacial que viaje na velocidade da luz é uma tarefa impossível, de acordo com o que conhecemos hoje sobre a Teoria da Relatividade. Então, por mais que essa civilização fosse tecnologicamente avançada, eles ainda levariam MAIS de 4 anos para chegar até nós, o que tornaria tal viagem muito difícil. Obviamente, podemos imaginar uma civilização extraterrestre com conhecimentos físicos mais evoluídos que o nosso, capazes de desenvolver formas de viagem espacial mais rápidas que a luz. Vemos isso com muita frequência dentro da ficção científica, em filmes como “Guerra nas Estrelas”, ou “Jornada nas Estrelas”. Entretanto, com nossos conhecimentos científicos ATUAIS, não existem evidências da possibilidade de viagens espaciais mais rápidas que a luz e nem provas definitivas de visitas extraterrestres a nosso planeta [8]. É claro que isso é o que a ciência acredita HOJE... o que não significa que será assim no futuro... Figura 28 – Nave Enterprise, da série “Jornada nas Estrelas”. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, reforça-se o conceito de ano-luz, já trabalhado na seção 6. Também é feita uma citação à Teoria da Relatividade. Apesar de a Teoria da Relatividade estar pouco presente na estrutura curricular de física do ensino médio, sabemos que existe uma tendência à inclusão de tópicos de física moderna no ensino médio. Entre as referências sobre a inserção da Teoria da Relatividade no ensino médio, podemos citar: BRAGA, M.; GUERRA, A.; FREITAS, J.; REIS, J. C. Einstein e o universo relativístico. Atual Editora, 5ª ed., 2005. GUERRA, A.; BRAGA, M.; REIS, J. C. Teoria da Relatividade Restrita e Geral no programa de mecânica do ensino médio: uma possível abordagem. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 29, n. 4, p. 575-583, 2007. 122 10. A Via Láctea Como já vimos, da mesma forma que o Sol é uma estrela que possui planetas se movendo ao seu redor, cada uma das estrelas que vemos no céu a noite também pode possuir planetas, e cada um desses planetas pode possuir vida, inclusive vida inteligente como nós mesmos. Isso significa que quanto maior for o número de estrelas que existem no universo, maiores são as chances de existir vida inteligente fora da Terra. Isso então nos leva a seguinte questão: Qual é a quantidade de estrelas que existe no universo? Não é possível sabermos exatamente qual é a quantidade de estrelas que existe no universo, mas podemos chegar a um valor aproximado. Para respondermos a essa pergunta, a primeira coisa que temos que entender é que as estrelas costumam se manter agrupadas, em conjuntos de milhões ou bilhões de estrelas chamadas de galáxias [5]. O nosso Sol, por exemplo, faz parte de uma galáxia chamada de Via Láctea. A Via Láctea possui pelo menos 200 BILHÕES de estrelas, e o Sol é só uma entre essas bilhões de estrelas [5]. Em nossa galáxia, essas estrelas são agrupadas de tal forma que possuem um formato achatado (como um enorme disco), além de braços em forma de espiral [9] como mostram as figuras a seguir. Figura 29 – A Via Láctea. (concepção artística). Figura 30 – Visão lateral da Via Láctea. (fotografia em infravermelho). 123 Nas figuras acima, não é possível diferenciarmos umas estrelas das outras, vemos apenas a luz emitida pelas bilhões de estrelas ao mesmo tempo. A figura abaixo mostra a Via Láctea “vista de cima” e a posição do Sol dentro da Via Láctea: o Sol é apenas um pontinho imperceptível no meio das outras bilhões de estrelas. Figura 31 – O Sol dentro da Via Láctea (concepção artística). Quando observamos o céu em uma noite sem nuvens podemos observar milhares de estrelas, mas elas representam apenas uma pequena parte do total de estrelas da Via Láctea. O restante da Via Láctea também pode ser visto a olho nu (pelo menos parte dela), como uma tênue faixa brilhante no céu, em noites bem sem lua e longe da iluminação e poluição atmosférica das grandes cidades [5], como na figura a seguir. Figura 32 – A Via Láctea observada a olho nu. 124 11. O universo Você deve achar que a quantidade de estrelas na nossa galáxia é muito grande, mas a Via Láctea é apenas uma entre bilhões de outras galáxias que existem no universo visível [10]. Existem algumas pequenas galáxias “próximas” da Via Láctea, mas a GRANDE GALÁXIA mais próxima da Via Láctea se chama Galáxia de Andrômeda, a uma distância de aproximadamente 3 MILHÕES de anos luz [11]. Isso significa e a luz dessa galáxia, usada para obter a imagem abaixo, levou 3 milhões de anos para chegar até nós! (só conseguimos ver a galáxia de Andrômeda com um atraso de 3 milhões de anos!). A galáxia de Andrômeda se encontra tão distante de nós que conseguimos observá-las apenas como um leve borrão no céu, em locais com pouca poluição e iluminação [5]. Figura 33 – Galáxia de Andrômeda. A foto a seguir foi obtida pelo telescópio espacial Hubble em dezembro de 1995. Cada mancha na foto representa uma galáxia: Figura 34 – Foto de galáxias, obtida com o telescópio Hubble. 125 ATIVIDADE 2 - Assista ao vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=b06ZBgU670, que simula uma viagem pelo universo, desde a Terra até o espaço intergaláctico. No total, existe mais de 1 TRILHÃO de grandes galáxias no universo visível (além de um número ainda maior de pequenas galáxias) [10]. Considerando que cada galáxia possui em média pelo menos 100 BILHÕES de estrelas, isso da uma quantidade total de estrelas no universo de pelo menos: 100 000 000 000 000 000 000 000 de estrelas. Esse é um número difícil de imaginar. Só para você ter um pouco mais de noção do que esse número significa, estima-se o número de estrelas no universo visível seja maior que a quantidade de grãos de areia de todas as praias do mundo! O número de estrelas no universo pode ser ainda maior, até mesmo infinito, já que nesse cálculo só consideramos o UNIVERSO OBSERVÁVEL, ou seja, a parte do universo ao alcance dos equipamentos de observação [12]. Só pra ficar claro, cada uma dessas estrelas pode possuir planetas, e cada um dos planetas pode ter vida, inclusive vida inteligente como nós mesmos. Depois de ler isso tudo, pergunte a si mesmo: Será que nessa imensidão, nosso planeta é o único a possuir vida? Muitos acham que a ciência possui respostas para tudo, mas existem muitas questões que até hoje a ciência não consegue responder. Na verdade, é possível que muitas questões NUNCA sejam solucionadas pela ciência. A questão acima é um exemplo de pergunta que a ciência ainda não conseguiu responder. Apesar disso, com a procura de novos planetas em ritmo acelerado e com as pesquisas em nosso Sistema Solar, essa resposta pode estar muito próxima... PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de ordem de grandeza. Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=b06ZBg-U670 (o vídeo da atividade 2) em sala de aula. 126 12. Referências e créditos REFERÊNCIAS: [1]http://eternosaprendizes.com/2010/04/03/10-milhoes-de-estrelas-no-aglomerado-globular-alienigenaomega-centauri/ [2] http://astro.if.ufrgs.br/comast/index.htm [3] http://www.uranometrianova.pro.br/astronomia/AA002/alphacen.htm [4] http://www.zenite.nu?astro-escala [5] http://www.observatorio.ufmg.br/dicas06.htm [6] http://astro.if.ufrgs.br/dist/dist.htm [7] http://astro.if.ufrgs.br/esp.htm [8] http://astro.if.ufrgs.br/vida/index.htm [9] http://atlas.zevallos.com.br/galaxy.html [10] http://www.observatorio.ufmg.br/pas08.htm [11] http://atlas.zevallos.com.br/sattelit.html [12] http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,6752,OI122931-EI302,00.html CRÉDITOS: Figura 1 - http://vilamulher.terra.com.br/izabellamorays/o-nascer-do-sol-na-praia-de-tibaurn-10-9033477579-pf.php Figura 2 - http://www.panoramio.com/photo/54365824 Figura 3 - http://www.milouskablog.com/2009/03/tarde-de-lua.html Figura 4 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 5 - http://aprenderbrincando.no.sapo.pt/sistema_solar.htm Figura 6 - http://aprenderbrincando.no.sapo.pt/sistema_solar.htm Figura 7 - http://arcageografica.blogspot.com/2009/06/aprendendo-fazer-maquetes-do-sistema.html Figura 8 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 9 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 10 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 11 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 12 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 13 - http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/ Figura 14 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Avi%C3%A3o_Presidencial_Brasileiro Figura 15 - Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 16– http://www.techs.com.br/users/dariopires/duplas.htm Figura 17 – http://www.uranometrianova.pro.br/astronomia/AA002/alphacen.htm Figura 18 – http://graciabarradas.blogspot.com/2009/08/ceu-e-sol.html Figura 19 - Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 20 – http://graciabarradas.blogspot.com/2009/08/ceu-e-sol.html 127 Figura 21 - Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 22 – Montagem com imagens obtidas em http://www.youtube.com/watch?v=LihvAZhkUhQ Figura 23 - http://www.geocities.ws/saladefisica5/leituras/paralaxe.html Figura 24 – Imagem produzida pelos autores do projeto. Figura 25 – http://pt.wikinoticia.com/cultura%20cient%C3%ADfica/Ci%C3%AAncia/10541-exoplanetas Figura 26 – http://elorodelosdioses.blogspot.com/2010/05/mundos-extraterrestres-exoplanetas.html Figura 27 - http://blig.ig.com.br/distaks/2010/04/26/afinal-et-existe-ou-nao/ Figura 28 - http://royalcomqueijo.wordpress.com/tag/j-j-abrams/ Figura 29 - http://buscandoaverdade2808.blogspot.com/2010/01/era-de-aquario-o-que-e-isso.html Figura 30 - http://atlas.zevallos.com.br/galaxy.html Figura 31 - http://teatrodaverdade.blogspot.com/2009_09_01_archive.html Figura 32 - http://taminogruber.com/serra/observacoes.htm Figura 33 - http://www.observatorio.ufmg.br/dicas06.htm Figura 34 - http://atlas.zevallos.com.br/universe.html 128 13. Respostas das questões Questão 1 - O Sol. Questão 2 - Não, existem estrelas maiores e menores que o Sol. Questão 3 – por que elas se encontram muito mais distantes de nós do que o Sol. Questão 4 – Por que o Sol está mais distante da Terra do que a Lua (o Sol é 400 vezes maior do que a Lua, mas em compensação se encontra 400 vezes mais distante de nós) [3]. Questão 5 - Não. A única estrela que faz parte do Sistema Solar é o Sol. Questão 6 – 10 anos, já que a luz leva o tempo de 1 ano para percorrer a distância de 1 ano-luz. Q uestão 7 – 10 anos, já que a luz da explosão precisa viajar da estrela até nossos olhos para podermos vê-la. Questão 8 – O segundo luz é a distância percorrida pela luz em 1 segundo. Questão 9 – Não. Existem outras estrelas com planetas girando ao seu redor. Q uestão 10 – 20,5 anos, já que a luz leva o tempo de 1 ano para percorrer a distância de 1 ano-luz. Questão 11 – 20,5 anos, já que a luz da explosão precisa viajar da estrela até nossos olhos para podermos vê-la. Questão 12 – 3 anos, já que uma nave na velocidade da luz percorre 1 ano-luz a cada ano. Questão 13 – 6 anos, pois com a metade da velocidade da questão anterior, a nave levaria o dobro de tempo. Desafio Primeiro, vamos descobrir quantos segundos 1 ano possui: 1 ano = 365 dias x 24 horas x 60 minutos x 60 segundos = 32536000 segundos A distância percorrida pela luz em uma ano é igual a distância que ela percorre em 1 segundo, vezes a quantidade de segundos em 1 ano: 1 ano-luz = 300 000 km/s x 32536000 segundos = 97 608 000 000 000 km 129 Unidade 2 - Os corpos celestes se movimentam? 1. Os movimentos observados no céu Ao olharmos rapidamente para o céu a olho nu (ou seja, sem a ajuda de instrumentos como binóculos e telescópios), vemos o Sol, a Lua e as estrelas como em uma fotografia, ou seja, os vemos aparentemente parados. Tente então se imaginar observando o céu durante alguns minutos, ou mesmo durante horas. Será que à medida que o tempo passa, as posições dos corpos celestes no céu não se alteram? ATIVIDADE 1 – Em uma noite com Lua, tente decorar a posição aproximada da Lua no céu em uma certa hora da noite. Depois de uma hora ou mais, procure a Lua novamente no céu. Verifique se, ao longo desse tempo, a Lua permaneceu ou não em sua posição. As figuras a seguir representam o céu da cidade do Rio de Janeiro entre às seis horas da manhã do dia 6/6/2011 e às seis horas da manhã do dia 7/6/2011. Repare como as posições de TODOS os corpos celestes visíveis mudam ao longo do tempo. Figura 1 – dia 6/6/2011, 6 horas da manhã O Sol está nascendo. Alguns planetas podem ser vistos a olho nu (parecidos com estrelas). 130 Figura 2 – dia 6/6/2011, 10 e meia da manhã. O Sol subiu no céu e a Lua está nascendo (os planetas não são mais visíveis devido à luz do sol). Figura 3 – dia 6/6/2011, 4 horas da tarde. A Lua subiu no céu e o Sol desceu. 131 Figura 4 – dia 6/6/2011, 8 e meia da noite. A Lua está se pondo. A estrela Arcturos se encontra na direção Norte (N). Figura 5 – dia 7/6/2011, 1 e meia da manhã. A estrela Arcturos está se pondo. 132 Figura 6 – dia 7/6/2011, às 6h. O Sol nasce novamente. Como todos os corpos celestes mudam de posição no céu ao longo do tempo, isso significa que todos eles SE MOVIMENTAM no céu. Não conseguirmos perceber esses movimentos diretamente, apenas pelo fato de esses movimentos serem mais lentos do que o que estamos habituados, mas sabemos que existem movimentos, pois toda MUDANÇA DE POSIÇÃO é produzida por um MOVIMENTO. Isso significa que, se pudéssemos “acelerar o tempo”, perceberíamos todos os corpos celestes fazendo curvas no céu. ATIVIDADE 2 – Todas as imagens acima foram obtidas com um programa chamado Stellarium, que simula uma observação do céu, em qualquer hora ou local. Caso você tenha computador com acesso à internet em casa, acesse http://www.stellarium.org/ e instale esse programa em seu computador. Em seguida, simule algumas observações do céu, avançando o tempo para facilitar a visualização dos movimentos. Repare na parte de baixo das figuras como existem botões de controle de tempo, como os de controles de aparelhos de DVD. Uma forma de estudar movimentos é através de suas trajetórias, ou seja, as curvas mostrando todas as posições de um determinado objeto em movimento. As figuras a seguir mostram as trajetórias do Sol e das estrelas no céu ao longo de um dia (a Lua e os planetas seguem trajetórias parecidas com a do Sol ao longo de 24 horas, mas com horários diferentes para nascer e se pôr). 133 Figura 7 – Trajetória do Sol na cidade do Rio de Janeiro, no primeiro dia da primavera e de outono. Figura 8 – Trajetória das estrelas no céu, ao longo de uma noite inteira, obtida mantendo o filme fotográfico exposto ao céu durante toda a noite (fotografia de longa exposição). NÃO ESQUEÇA! Conforme já foi dito na Unidade 1, existem alguns termos que aparecem com freqüência em astronomia. Vamos recordá-los: Observação a olho nu: observação apenas com nossos olhos, sem a ajuda nenhum tipo de instrumento, como binóculos e telescópios. Astro ou corpos celeste: qualquer objeto no espaço que não foi criado pelo homem, como os planetas, as estrelas, os cometas etc, incluindo o planeta Terra. 134 PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se os conceitos físicos de movimento e trajetória. Em especial, trabalhase a ideia de que qualquer mudança de posição representa um movimento, por mais lenta que seja essa mudança. Para apresentar essa seção em aula, sugerimos a utilização do programa Stellarium, projetada por datashow. Este programa mostra um céu realista em três dimensões igual ao que se vê a olho nu, com binóculos ou telescópio. O programa pode ser baixado gratuitamente em http://www.stellarium.org/pt/. Nesse site também existe um manual do usuário, mas a utilização do programa é muito intuitiva. Nesta aula em específico, sugerimos afastar a imagem até mostrar os pontos cardeais norte e sul (com a barra de rolagem) e acelerar o tempo para mostrar a passagem de um dia e uma noite (com um controle na parte inferior da tela semelhante ao de um aparelho de DVD). 2. O lugar da Terra no universo Durante toda a Antiguidade e Idade Média, a maioria das pessoas acreditava que a Terra se encontrava parada no centro do universo, com todos os outros corpos celestes se movendo em torno da Terra [1]. Galileu Galilei foi um dos pensadores da época do Renascimento (aproximadamente entre os séculos XV e XVII) que defendeu uma ideia diferente: ele afirmou que Terra se encontrava em movimento. Figura 9 – Galileu Galilei mostrando seu telescópio e suas observações para membros da Igreja. Ao construir um telescópio simples, em 1609, Galileu Galilei conseguiu ver além do que conseguimos ver apenas com nossos olhos. Ele viu, por exemplo, quatro luas girando em volta do planeta Júpiter. Sua observação foi aproximadamente a da figura da página seguinte: 135 Figura 10 – Nesta fotografia, obtida com o auxilio de telescópio, o disco central é o planeta Júpiter e os quatro “pontinhos” são suas maiores luas (fotografia de João Clérigo). As luas girando em volta de Júpiter mostraram que nem todos os corpos celestes giravam em volta da Terra. Essa e outras observações levaram Galileu a afirmar que a Terra não se encontrava no centro do universo, mas que na verdade a Terra e todos os outros planetas conhecidos SE MOVIAM EM VOLTA DO SOL [2]. PARA O PROFESSOR: Sugerimos a inscrição do seu colégio na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica – OBA (http://www.oba.org.br/site/index.php). Com essa inscrição, além de os alunos terem a oportunidade participar da olimpíada, o colégio recebe um pequeno telescópio da comissão organizadora (geralmente no ano seguinte à inscrição), conhecido como Galileoscópio (http://www.astronomy2009.org/globalprojects/cornerstones/galileoscope/). Com esse telescópio, é possível fazer as mesmas observações de Galileu, com qualidade de imagem melhor que a de sua época. As quatro luas de Júpiter observadas por Galileu, por exemplo, são facilmente observáveis com o Galileoscópio. Dessa forma, existe a possibilidade de organização de seções de observação do céu com os alunos, em especial se o colégio for noturno. 3. Movimentos no Sistema Solar Atualmente, sabemos que o Sistema Solar é formado por 8 planetas (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), além das luas desses planetas (os satélites naturais), de planetas anões (como Plutão, por exemplo), entre outros corpos celestes [3], e que TODOS ESSES CORPOS CELESTES SE MOVIMENTAM AO REDOR DO SOL, como nas figuras da página seguinte: 136 Figura 11 – As trajetórias dos quatro planetas mais próximos do Sol (curvas azuis) e de vários asteróides e planetas anões (linhas vermelhas), todos girando em volta do Sol. (As figuras estão fora de escala de tamanhos.) Figura 12 – As trajetórias dos oito planetas do Sistema Solar (os mais próximos do Sol com curvas azuis e os mais distantes com curvas verdes), e as trajetórias de vários outros asteróides e planetas anões (linhas vermelhas), todos girando em volta do Sol (As figuras estão fora de escala de tamanhos). Além de se moverem ao redor do Sol, os planetas do Sistema Solar também giram em volta de si mesmos, ou seja, giram em torno de seus eixos. Alguns planetas possuem luas (satélites naturais), como a Terra, que possui uma lua, e Júpiter, com mais de 60 luas [4]. Todas as luas giram em volta de seus planetas, conforme as figuras da página seguinte: 137 Figura 13 – Planeta Terra com seu único satélite natural – a Lua – girando ao seu redor (a curva em azul representa o movimento da Terra ao redor do Sol, e a curva em verde o movimento da Lua ao redor da Terra). Figura 14 – Planeta Júpiter com 5 luas girando a sua volta (a curva em azul representa o movimento de Júpiter ao redor do Sol, e as curvas em verde representam os movimentos das luas de Júpiter ao seu redor). Atualmente, sabemos também que existem muitos outros “sistemas solares”, onde outros planetas giram ao redor de outras estrelas. PARA O PROFESSOR: Para apresentar essa seção em aula, sugerimos a utilização do programa Celestia, projetada por datashow. Este programa simula uma viagem espacial entre planetas, estrelas e até mesmo galáxias, com imagens muito realistas em 3D. O programa pode ser baixado gratuitamente em http://www.shatters.net/celestia/. Com o programa Celestia é possível produzir animações equivalentes as figuras desta seção, com a vantagem do movimento dos astros e a visualização em vários ângulos. Em espacial, as imagens 13 e 14 foram produzidas com esse programa. Apesar de a utilização do programa não ser complicada, todos os comandos podem ser consultados em ajuda comandos, na parte superior da tela do programa. 138 4. Movimentos da Terra e da Lua Nas seções anteriores, vimos que a Terra se movimenta continuamente no espaço. A Terra realiza vários movimentos, mas dois deles se destacam: a rotação e a translação (também chamado de revolução). A rotação é o movimento da Terra em torno de si mesma, ou seja, em torno de seu próprio eixo. Já a translação é o movimento da Terra em torno do Sol [5]. Apesar de estudarmos esses dois movimentos de forma separada, eles ocorrem simultaneamente, como mostra a figura a seguir: Figura 15 – Movimento de rotação da Terra (setas encurvadas), e de translação (linha pontilhada). SAIBA MAIS: Na verdade, a Terra possui apenas um ÚNICO movimento que, por ser muito complicado, é dividido em vários movimentos simultâneos, como a rotação, a translação, entre outros [5]. ATIVIDADE 3 – Se você tiver dificuldade em imaginar os movimentos de rotação e translação ocorrendo simultaneamente, assista a um vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=qc1rzryczdw. Como já vimos, a Lua se movimenta em torno da Terra, da mesma forma que outros satélites naturais se movimentam em torno de seus planetas. Além disso, como a Lua acompanha a Terra, ela também realiza um movimento em torno do Sol [6], como mostra a figura a seguir: Figura 16 – Ao mesmo tempo em que a Terra (esfera azul) gira em volta do Sol (esfera amarela), a Lua (esfera cinza) gira em volta da Terra. (a figura está fora de escala de tamanho e distância). 139 ATIVIDADE 4 – Acesse http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html e veja a imagem anterior (figura 16) em movimento. Conte quantas voltas a Lua dá ao redor da Terra ao longo de 1 ano. Todos esses movimentos ocorrem simultaneamente, mas, para facilitar, vamos estudálos separadamente, de forma um pouco mais detalhada. Rotação da Terra A Terra completa uma volta em torno de si mesma (movimento de rotação) em 23 horas, 56 minutos e 4 segundos [5]. A velocidade de rotação da Terra, na linha do equador, é de aproximadamente 1700 km/h, ou seja, um objeto fixo no equador da Terra (por exemplo, uma árvore plantada na cidade de Macapá) se desloca 1700 km a cada hora! [7] O movimento da Terra em torno de si mesma dá origem aos dias e as noites. A figura a seguir representa o Sol iluminando a Terra. No lado iluminado da Terra é dia, enquanto do outro lado é noite. À medida que a Terra gira em volta de si mesma, uma pessoa no lado iluminado (dia) passa para o lado escuro (noite), e vice-e-versa. Por isso, a duração de um dia completo (24 horas), corresponde aproximadamente ao tempo que a Terra leva para dar uma volta completa em torno de si mesma. Figura 17 – Nesta figura, a lanterna representa o Sol. O lado esquerdo do globo terrestre representa o dia, pois é iluminado pela lanterna (Sol), e o lado direito representa a noite, pois não é iluminado pela lanterna (Sol). Nesta representação, o bonequinho de papel se encontra no lado da Terra iluminado pelo Sol (dia). SAIBA MAIS: A duração de um dia completo possui exatamente 24 horas, enquanto que o período de rotação da Terra é um pouco mais curto que isso (3 minutos e 56 segundos mais curto). Essa pequena diferença existe porque, em parte, a alternância entre os dias e as noites também é produzida pelo movimento de translação da Terra [8]. 140 Translação da Terra A Terra completa uma volta em torno do Sol em 365, 6 horas, 9 minutos e 10 segundos [5]. Esse período corresponde, de forma aproximada, aos anos de 365 dias dos nossos calendários. SAIBA MAIS: Na verdade o ano dos nossos calendários é igual ao tempo de repetição das estações do ano (ano tropical), que ocorre em um período de tempo ligeiramente menor que o período de translação da Terra: 356 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Como o ano oficial possui 365 dias, para incluir o tempo do ano tropical que fica de fora do calendário (5 horas, 48 minutos e 46 segundos), alguns anos possuem 366 dias, e são chamados de anos bissextos [9]. A velocidade de translação da Terra é de aproximadamente 30 km/s, ou seja, a cada segundo a Terra se desloca 30 km ao redor do Sol! [7]. Movimentos da Lua A Lua completa uma volta em torno da Terra em 27 dias, 7 horas, 43 minutos e 12 segundos. A velocidade da Lua em torno da Terra é de aproximadamente 1 km/s, ou seja, a cada segundo a Lua se desloca 1 km em torno da Terra! [10]. Como a Lua é um astro que não gera sua própria luz, vemos apenas as partes de Lua iluminadas pelo Sol (figura 18). À medida que a Lua se movimenta, vemos diferentes partes iluminadas pelo Sol, ou seja, vemos diferentes fases da Lua. A cada 29 dias e meio, a Lua repete a mesma fase [11]. A observação das repetições das fases da Lua deu origem, de forma aproximada, aos meses de 30 dias dos nossos calendários (figura 19) [12]. Figura 18 – Lua em fase crescente. Figura 19 – Fases da Lua em março de 2010. 141 SAIBA MAIS: A Lua leva 27 dias, 7 horas, 43 minutos e 12 segundos para completar uma volta em torno da Terra, mas as fases se repetem a cada 29 dias e meio. Essa pequena diferença é explicada porque, em parte, as alterações nas fases da Lua também são produzidas pelo seu movimento em torno do Sol. ATIVIDADE 5 - Acesse http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html e verifique que à medida que a Lua se movimenta vemos partes diferentes da Lua iluminadas pelo Sol. PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de velocidade, além de alguns exemplos de unidades de velocidade, como o km/h e ou km/s. Os períodos de tempo exatos apresentados nesta seção foram colocados apenas para tornar o texto mais preciso. O principal nessa parte é fazer uma revisão de conceitos básicos sobre o Sistema Solar, que muitas vezes os alunos já esqueceram ou nunca aprenderam de forma significativa. Caso os conhecimentos prévios dos seus alunos sejam mais sólidos, pode valer a pena entrar em mais detalhes. Apesar disso, achamos interessante trabalhar com as velocidades da Terra e da Lua, para servir de exemplo de unidades de velocidade de para servir de gancho para a seção 7. Sugerimos a utilização da animação disponível em http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html (atividade 5) em sala de aula, projetada por datashow. Sugerimos também que o professor faça a demonstração dos dias e das noites de acordo com a figura 17. Caso não haja disponível um globo terrestre no colégio, existem globos terrestres infláveis disponíveis em papelarias e outras lojas de variedades. A desvantagem do globo terrestre inflável é um contraste menor entre o lado iluminado e o lado escuro, pois a luz da lanterna penetra pelo plástico do globo. 5. Entendendo os movimentos no céu A partir do que estudamos até agora, podemos nos fazer algumas perguntas: Se é a Terra que se move em torno do Sol, por que vemos o Sol se deslocando no céu? As estrelas vistas a noite giram em volta da Terra? Se a Lua leva cerca de 27 dias para completar uma volta em torno da Terra, por que ela nasce e se põe no céu em menos de 24 horas? Só podemos responder a essas perguntas se entendermos que qualquer tipo de movimento observado DEPENDE DE QUEM VÊ, ou seja, DEPENDE DO REFERENCIAL. Em outras palavras, observadores diferentes podem ver movimentos diferentes. Inclusive, o que se encontra em MOVIMENTO para um observador pode se encontrar em REPOUSO para outro. 142 NÃO ESQUEÇA! O termo repouso, em física, significa ausência de movimento. Não confunda repouso, dentro da física, com “descanso”, ou “ato de dormir”. Para entender melhor o que a afirmação acima significa, se imagine em um brinquedo de parque de diversões como o da figura a seguir, que pode fazê-lo girar em várias direções (para cima e para baixo, de “cabeça para baixo” etc). Figura 20 – Brinquedo Evolution, no Londri Park (Paraguaçu Paulista - SP). ATIVIDADE 6 – acesse http://www.youtube.com/watch?v=I6QT-aBeCCQ&feature=related e assista a um vídeo filmado por uma pessoa dentro de um brinquedo de parque de diversão. Repare como, no vídeo, todo o parque de diversão gira. Em um brinquedo desse tipo, à medida que o brinquedo gira as pessoas dentro dele, elas vêem todo o parque de diversão girar. Em nosso cotidiano, diríamos que o movimento do parque de diversão é apenas um movimento aparente, já que são as pessoas dentro do brinquedo que se movimentam, e não o parque. Entretanto, fisicamente, dizemos que o parque de diversão está girando EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS QUE ESTÃO DENTRO DO BRINQUEDO, por que a definição de movimento e repouso depende de quem está observando, ou seja, depende do REFERENCIAL. Da mesma forma que as pessoas em um brinquedo de parque de diversão, nós vivemos em um planeta que gira constantemente em torno de si mesmo e em torno do Sol. Isso significa que, do mesmo jeito que as pessoas no brinquedo do parque de diversão vêem o parque girar, nós, que estamos na Terra, vemos todos os astros no céu girarem. Fisicamente, 143 podemos dizer que os astros no céu se movimentam EM RELAÇÃO AOS OBSERVADORES DA TERRA. O movimento do Sol visto no céu, desde o momento que nasce até o momento em que se põe, é uma consequência do movimento da Terra em torno de si mesma. Se fosse possível vermos a Terra em um local próximo ao Sol (no referencial do Sol), veríamos a Terra dar uma volta em torno de si mesma em aproximadamente 24 horas. Entretanto, como estamos na Terra, vemos o contrário, ou seja, vemos o Sol dar uma volta em torno da Terra em 24 horas. Em outras palavras, EM RELAÇÃO AO SOL, a Terra se move, mas EM RELAÇÃO À TERRA, é o Sol que se move. Todos os movimentos dos corpos celestes observados ao longo de 24 horas, como o nascer e o pôr do Sol, o nascer e o pôr da Lua, o nascer e o pôr das estrelas etc., são conseqüências do movimento de rotação da Terra. Ao longo dos meses, também podemos observar o céu se alterar, como as constelações que vão mudando de posição a cada noite, devido ao movimento de translação da Terra. Todos esses movimentos são conhecidos como “movimentos aparentes” para lembrar que são consequências do movimento da Terra [13]. SAIBA MAIS: Em parte, o nascer e pôr do Sol, da Lua e das estrelas também são explicados pelo movimento de translação da Terra, pois, em 24 horas, a Terra realiza um movimento de aproximadamente 1 grau em torno do Sol. Além de “movimentos aparentes”, a Lua e os planetas também possuem “movimentos próprios”, mas esses movimentos são melhor observados apenas ao longo de semanas ou meses [13]. É o “movimento próprio” da Lua que produz, por exemplo, suas mudanças de fase ao longo de um mês. SAIBA MAIS: Fisicamente, todo movimento depende do referencial, mas existe um referencial especial, que é o referencial das estrelas distantes. Quando um objeto está em movimento em relação às estrelas distantes, como a Terra, a Lua e os outros planetas do Sistema Solar, dizemos que esses objetos possuem um “movimento próprio”; caso contrário, dizemos que eles possuem de um “movimento aparente” [14]. Agora você já deve estar em condições responder às questões do início da seção: QUESTÃO 1 – Se é a Terra que se move em torno do Sol, por que vemos o Sol se movendo em torno da Terra? (resposta na página 176) QUESTÃO 2 – As estrelas vistas a noite giram em volta da Terra? 144 (resposta na página 176) QUESTÃO 3 - Se a Lua leva cerca de 27 dias para completar uma volta em torno da Terra, por que ela nasce e se põe no céu ao longo em menos de 24 horas? (resposta na página 176) Resumindo, O MOVIMENTO E REPOUSO SEMPRE DEPENDEM DO REFERENCIAL!!! PARA O PROFESSOR: Nesta seção, trabalha-se o conceito físico de referencial. Esse conceito é reforçado na seção 6 e na seção 7. O objetivo nesta seção é trabalhar o conceito de referencial, ou seja, a ideia de que não existe movimento absoluto. Entretanto, o termo “movimento próprio”, para quem não entende o conceito de referencial, pode ser entendido como “movimento absoluto”. Recomendamos que este termo seja utilizado o mínimo possível em aula. Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=I6QTaBeCCQ&feature=related (atividade 6) em sala de aula. 6. Por que não sentimos os movimentos da Terra? Já vimos que a Terra se movimenta pelo espaço a grande velocidade. Agora faça uma pergunta a si mesmo: você consegue sentir os movimentos da Terra? Se formos pensar apenas em nossa experiência de vida, nós não sentimos nenhum tipo de movimento da Terra. Existem alguns experimentos que mostram que a Terra possui movimentos [15], mas em nosso cotidiano, vemos quase tudo ocorrer como se a Terra estivesse em repouso. Poderíamos então nos perguntar: Por que não sentimos os movimentos da Terra? Para responder a essa pergunta, vamos pensar em outros exemplos em que não sentimos movimentos. Imagine que você está em um ônibus de viagem bem confortável, com as janelas fechadas com cortinas, mantendo a mesma velocidade durante a viagem e em uma estrada reta e sem buracos. Imagine então que você pega no sono nesse ônibus e de repente acorda. Você acha que seria capaz ter ideia da velocidade do ônibus sem olhar pela janela? Nós costumamos “sentir” o movimento de um ônibus por causa das constantes mudanças de velocidade, das irregularidades nas pistas etc., mas se viajássemos em um veículo mantendo a mesma velocidade e em linha reta, nós não sentiríamos esse movimento. 145 Se as janelas estivessem fechadas com cortinas, como na imagem abaixo, não teríamos nem ao menos como saber se o ônibus estaria em movimento ou em repouso. Figura 21 – Pessoa dormindo dentro de ônibus. O ônibus está em movimento ou em repouso? Podemos pensar em exemplos melhores que o do ônibus em que não sentimos o movimento. Em um vagão de metrô, no meio entre duas estações, a viagem se dá em linha reta e a velocidade praticamente não muda, por isso, podemos até deixar nossas mãos soltas sem cairmos. Em aviões comerciais, entre a decolagem e a aterrissagem, a velocidade se mantém praticamente constante e o movimento é feito em sua maior parte em linha reta, por isso os passageiros podem tirar os cintos de segurança e andar pela cabine sem sentir a grande velocidade do avião, que pode chegar a 900 km/h em aviões a jato [16]. Figura 22 – Mesmo dentro de um avião em movimento, a comissária de bordo não precisa se apoiar em nada para ficar em pé, e o lanche não cai de sua bandeja. Quando viajamos em um veículo mantendo a mesma velocidade e em linha reta, tudo dentro dele permanece com a mesma velocidade (essa tendência recebe o nome de lei da inércia – ver seção 10). Isso significa que os objetos dentro de em veículo nessas condições, como as poltronas, o motorista etc., não se movimentam uns em relação aos outros, ou seja, eles permanecem parados EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS DENTRO DO VEÍCULO. 146 Da mesma forma, podemos considerar que a Terra viaja sempre com a mesma velocidade e, para nós, com trajetória aproximadamente reta. Desse modo, nós viajamos no “veículo Terra” sem sentirmos seu movimento. SAIBA MAIS: Quando estamos em um carro mantendo a mesma velocidade e em LINHA RETA, não sentimos seu movimento. Entretanto, quando o veículo FAZ UMA CURVA, nos sentimos empurrados no sentido oposto ao da curva. Sabemos que a Terra realiza um movimento circular (movimento de rotação), ou seja, podemos considerar a Terra como um “veículo” fazendo uma curva. Então podemos nos perguntar: porque não sentimos os efeitos do movimento circular da Terra, como em um carro? Na verdade, nós SENTIMOS os efeitos do movimento circular da Terra, mas são efeitos tão pequenos que não percebemos. Podemos considerar que, para nós, a Terra realiza curvas “muito abertas”, ou seja, o movimento da Terra é aproximadamente retilíneo. Apesar disso, o movimento circular da Terra tem influência em grandes movimentos e movimentos com grandes velocidades, como os movimentos das correntes de ar e de aviões. No caso das correntes de ar, por exemplo, o movimento circular da Terra pode produzir uma circulação do ar, gerando aquilo que chamamos de ciclones [17]. 7. “Em cima” e “embaixo” no espaço A imagem abaixo representa o planeta Terra (globo terrestre), com uma pessoa em pé no Rio de Janeiro (boneco de papel colado no globo). Essa imagem já foi usada na seção anterior, ao falarmos dos dias e das noites, mas repare agora que a pessoa no Rio de Janeiro está “de cabeça para baixo” na imagem, ou seja, a cabeça do boneco está voltada para a mesa onde o globo terrestre se apóia. Figura 23 – Representação do planeta Terra (globo terrestre) com pessoa em pé no Rio de Janeiro (boneco de papel colado no globo). 147 Apesar do que está representado na imagem acima, uma pessoa no Rio de Janeiro não se sente de forma alguma de “cabeça para baixo”. Podemos então nos perguntar: Por que não sentimos quando estamos “em cima” e “embaixo” na Terra? De uma forma resumida, podemos dizer que os conceitos de “em cima” e “embaixo” dependem de quem está vendo, ou seja, DEPENDEM DO REFERENCIAL. Para entender melhor essa afirmação, observe as imagens a seguir: Figura 24 – Astronauta nas proximidades da Terra. Figura 25 – Astronauta nas proximidades da Terra. Como você deve ter percebido, na verdade não temos duas imagens, apenas uma, observada de ângulos diferentes (a segunda imagem foi girada em um ângulo de 1800 em relação à primeira). Nessa situação, o astronauta está de cabeça para cima ou de cabeça para baixo? É claro que, EM RELAÇÃO AO LEITOR, o astronauta está de cabeça para cima na primeira imagem e de cabeça para baixo na segunda, mas isso não corresponde à situação real do astronauta no momento da fotografia, pois o que o leitor está vendo depende apenas do ângulo de observação da imagem. Se considerássemos o solo da Terra (ao fundo na foto) como “embaixo”, poderíamos dizer que em ambas as fotos o astronauta está de cabeça para baixo, já que sua cabeça está voltada para o solo terrestre. Ou seja, EM RELAÇÃO À TERRA, o astronauta está de cabeça para baixo. Nas fotos anteriores, se não existisse a Terra ao fundo para servir como referencial, não seria possível afirmar se o astronauta estaria de cabeça para cima ou de cabeça para baixo. Isso significa que nossa percepção de “em cima” e “embaixo” depende do referencial. Como vivemos no planeta Terra, costumamos usar a Terra como referencial. Nesse caso, consideramos o solo terrestre como “embaixo” e o céu como “em cima”. Para uma pessoa que está no hemisfério norte da Terra, por exemplo, o que está “em cima” e o que está “embaixo” é 148 diferente do que está “em cima” e “embaixo” para uma pessoa no hemisfério sul, como mostra a imagem abaixo: Figura 26 – Em relação à Terra, o que está “em cima” e o que está “embaixo” depende do local de observação. E em relação ao espaço, o que está “em cima” e o que está “embaixo”? Algumas pessoas, ao observarem a imagem acima, poderiam imaginar a pessoa no hemisfério sul caindo para o espaço vazio na parte de baixo da imagem. Não existe risco de isso acontecer, pois a Terra atrai tudo o que está em suas proximidades para o seu centro, devido a sua gravidade (ver seção 10). Na verdade, não faz sentido dizermos que alguém pode cair na parte de baixo do espaço vazio, pois no espaço vazio NÃO EXISTE “parte de baixo” e nem “parte de cima”. Só podemos definir “em cima” e “embaixo” se tivermos um REFERENCIAL para isso. ATIVIDADE 7 – Acesse http://www.youtube.com/watch?v=I6QT-aBeCCQ&feature=related e assista novamente ao vídeo filmado por uma pessoa dentro de um brinquedo de parque de diversão (seção 5). Repare que, no final do vídeo (aproximadamente no instante 3:17 do vídeo), os dois garotos filmados se encontram de “cabeça para baixo” em relação ao parque, mas só é possível perceber isso porque o cordão de um dos garotos é atraído pela gravidade da Terra. SAIBA MAIS: No caso de uma pessoa de cabeça para baixo em um brinquedo de parque de diversões, a pessoa “sente” que está de cabeça para baixo apenas porque a gravidade a atrai para o solo. Já no caso de um astronauta no meio do espaço, não existiria gravidade para atraí-lo para lugar nenhum, e portanto ele não teria nenhum referencial de “em cima” e “embaixo”. 149 PARA O PROFESSOR: Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=I6QTaBeCCQ&feature=related em sala de aula, o mesmo vídeo da seção 5, mas agora dando ênfase ao garoto de “cabeça para baixo”, no instante 3:17 do filme (atividade 7). 8. As leis dos movimentos Até agora, você já conheceu alguns movimentos dos corpos celestes e entendeu que esses movimentos também dependem de quem está vendo. Alguns desses movimentos, como os movimentos dos planetas observados da Terra, foram observados desde a Antiguidade, muito antes da invenção dos telescópios. Ao observarem esses movimentos, muitos pensadores se perguntaram o porquê desses movimentos acontecerem [18]. Atualmente, sabemos que a Terra, a Lua e os outros planetas do Sistema Solar se movem, mas por que eles se movem? Será que os corpos celestes se movem por vontade própria? Será que algum dia eles irão parar de se movimentar ou alterar seus movimentos? Um dos grandes pensadores que contribuiu para entendermos por que os corpos celestes se movimentam foi Isaac Newton, através de sua principal obra, os “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, publicados no ano de 1687. Nessa obra, Newton propôs que todo movimento obedece a certas regras, conhecidas atualmente como as três leis de Newton do movimento e a Lei da Gravitação Universal [19]. Essas leis da natureza [20] são os fundamentos de uma teoria que atualmente é conhecida como Mecânica de Newton (mecânica significa estudo do movimento). Atualmente, sabemos que nem tudo o que se movimenta obedece às leis da Mecânica de Newton, mas a maioria dos objetos que observamos em nosso cotidiano se movimenta obedecendo a essas leis. SAIBA MAIS: Pelos conhecimentos científicos atuais, sabemos que os movimentos que não obedecem às leis da Mecânica de Newton obedecem a outras leis, que estão incluídas dentro da Teoria da Relatividade de Albert Einstein. 150 Figura 27 – Isaac Newton. Através da compreensão dessas leis, associada a outros conhecimentos, cientistas e engenheiros conseguem, por exemplo, calcular trajetórias de objetos do Sistema Solar, lançar foguetes no espaço, colocar satélites em órbita etc. Para entendermos a Mecânica de Newton, vamos estudar suas leis separadamente. Vamos começar com as três leis de Newton do movimento, usando como exemplo o movimento de foguetes espaciais. As três leis de Newton do movimento estão listadas abaixo: Lei da Ação e Reação; Lei da Inércia; Principio Fundamental da Dinâmica; Em seguida, vamos estudar a Lei da Gravitação Universal, vendo como ela consegue explicar os movimentos de planetas, satélites naturais e artificiais. Todas as leis da Mecânica de Newton usam o conceito físico de força. Para Newton, os tipos de movimentos realizados pelos corpos dependem da força total aplicada no corpo. SAIBA MAIS: A força total aplicada em um corpo, mais conhecida como força resultante, depende da direção e do sentido de cada uma das forças aplicadas no corpo. Por exemplo, para um corpo sofrendo a ação de duas forças de mesmo sentido, como no caso de duas pessoas empurrando um carro, a intensidade da força total será a soma das duas. Entretanto, se um corpo sofrer a ação de duas forças opostas, como em um cabo de guerra, a intensidade da força total será a diferença entre as duas. 151 Ao pensarmos em forças, é mais comum pensarmos em algum tipo de contato entre corpos, como um empurrão, um puxão, um soco etc. (figura 28), mas também existem forças mesmo sem a existência de contato físico, como as forças magnéticas (figura 29) e gravitacionais (figura 30). Figura 28 – Exemplo de força de contato. Figura 29 – Força magnética. 9. Figura 30 – força gravitacional. A Lei da Ação e Reação e os ônibus espaciais A figura a seguir mostra um ônibus espacial sendo lançado para o espaço. Repare que durante o lançamento, o combustível é atirado violentamente para fora. Figura 31 – Lançamento de ônibus espacial. 152 SAIBA MAIS: Na verdade, no lançamento de um foguete espacial, o que é atirado para fora não é o seu combustível, mas sim os gases produzidos pela queima do combustível. Como o volume desses gases é muito maior que o volume do combustível inicial, os gases são expelidos do foguete, como na figura anterior. ATIVIDADE 8 – Acesse http://www.youtube.com/watch?v=IJNw7HH-9fY e veja um vídeo sobre uma missão do ônibus espacial Discovery. A partir da imagem acima, pense na seguinte questão: QUESTÃO 4 - Com os conhecimentos que possuímos hoje sobre as leis da física, seria possível a construção de um foguete que utilizasse o mesmo tipo de combustível que o da foto, e que fosse lançado sem que o combustível fosse atirado para fora do foguete? (resposta na página 175) Para entendermos a resposta da pergunta anterior, vamos usar como exemplo os ônibus espaciais. Um ônibus espacial é um veículo espacial projetado para levar pessoas ao espaço e retornar com elas em períodos entre uma e duas semanas. O nome ÔNIBUS espacial é uma comparação com os ônibus da Terra, que também fazem viagens de ida e volta com passageiros. Na figura da página seguinte, vemos que a maior parte do volume de um ônibus espacial se deve ao tanque de combustível externo (de cor avermelhada na figura), ou seja, o local onde fica armazenado a maior parte do combustível do veículo. Ainda existem os foguetes propulsores a combustível sólido, nas laterais do tanque principal, que também armazenam uma grande quantidade de combustível [21]. Figura 32 – Partes de um ônibus espacial. 153 No lançamento de um ônibus espacial, o fato de o combustível ser jogado para baixo ocorre devido a uma das leis de Newton, chamada de Lei da Ação e Reação. Você já deve ter ouvido algumas pessoas citarem essa lei, dizendo que “toda ação possui uma reação” para falar dos mais diversos fatos da vida. Entretanto, a Lei da Ação e Reação é uma lei FÍSICA, e fisicamente falando, “ação” e “reação” referem-se a forças aplicadas em corpos. De forma simplificada, a lei da ação e reação diz o seguinte: LEI DA AÇÃO E REAÇÃO: Sempre que um corpo produz uma força (ação), ele também sente uma força com a mesma intensidade e sentido oposto (reação). [22] SAIBA MAIS: Vamos enunciar a Lei da Ação e Reação de uma forma mais precisa. Imagine dois corpos quaisquer interagindo. Vamos chamar esses corpos de A e B, como na figura abaixo: Figura 33 – Esferas A e B colidindo. Cada uma das esferas exerce uma força na outra. As duas forças são conhecidas como par ação-reação. Nessa situação, a Lei da Ação e Reação diz que: Se um corpo A exerce uma força em um corpo B, então o corpo B exerce uma força em um corpo A com a mesma intensidade, mesma direção e sentido oposto. Só para servir de exemplo, imagine um carro batendo em um poste: durante a batida, o carro exerce uma força no poste (ação), mas, como reação, o poste também exerce uma força no carro (reação), com a mesma intensidade e sentido oposto. Como resultado final, os dois corpos (o carro e o poste), sofrem a ação de forças e se danificam. No caso do lançamento do ônibus espacial, o combustível é constituído de material altamente inflamável, que entra em combustão e explode. Com a explosão, o combustível faz uma força no foguete para cima (ação). Como reação, o foguete faz uma força no combustível com a mesma intensidade, mas com sentido oposto, ou seja, para baixo (reação), conforme a figura a seguir. 154 Figura 34 – Forças de ação e reação no lançamento de um ônibus espacial. SAIBA MAIS: Na Lei da Ação e Reação, na verdade não faz diferença sabermos qual das forças é a ação e qual é a reação. Por exemplo, no caso do lançamento do ônibus espacial, o importante é entendermos que existe uma “troca de forças” entre o foguete e o combustível, onde as forças ocorrem simultaneamente. PARA O PROFESSOR: Nesta seção trabalha-se a Lei da Ação e Reação. Sugerimos a exibição do vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=I6QTaBeCCQ&feature=related (atividade 8) em sala de aula. Sugerimos também a realização do experimento do “foguete de garrafa pet”, descrito em detalhes no site do Ponto Ciência: http://www.pontociencia.org.br/experimentosinterna.php?experimento=121#top. 10. A Lei da Inércia e os ônibus espaciais Na seção anterior, estudamos o lançamento de uma nave espacial. Pense agora em uma nave já no espaço e tente responder à questão a seguir: QUESTÃO 5 - Imagine uma nave espacial em uma viagem rumo à Marte. Quando esta nave já está bem longe da Terra, mas ainda distante de Marte, acaba seu combustível. O que aconteceria com a nave ao acabar o combustível? (resposta na página 176) 155 Mesmo sem combustível, é possível um foguete (ou qualquer outro veículo) continuar seu movimento. Isso ocorre devido a uma lei da natureza chamada de Lei da Inércia, que, de forma simplificada, diz o seguinte: LEI DA INÉRCIA: Na ausência de forças, um corpo em repouso continua em repouso e um corpo em movimento move-se em linha reta mantendo a mesma velocidade. [22] Em outras palavras, existe uma tendência de qualquer corpo em PERMANECER com o mesmo ESTADO DE MOVIMENTO, ou seja, existe uma RESISTÊNCIA a qualquer MUDANÇA DE MOVIMENTO. Essa resistência à mudança de movimento, dentro da física, é chamada de inércia. Só é possível ir contra a inércia de um corpo através da ação de forças. No caso das naves espaciais, devido ao efeito da inércia, existe uma tendência a continuarem em movimento, mesmo sem combustível. Para servir de exemplo, vamos ver com um pouco mais de detalhes o que ocorre com os ônibus espaciais após seu lançamento. Na seção anterior, vimos que durante o lançamento de um ônibus espacial, uma grande quantidade de combustível entra em combustão e é expelido. Na figura a seguir podemos ver que o combustível continua a ser atirado para fora, em combustão, mesmo após seu lançamento. Figura 35 – Ônibus espacial logo após seu lançamento. Figura 36 – Ônibus espacial logo após seu lançamento. Nove minutos após o lançamento do ônibus espacial, todo o combustível do tanque externo e dos foguetes propulsores é consumido, e eles se esvaziam. Após esse tempo, o tanque externo e os foguetes propulsores se tornam um grande peso desnecessário para a nave espacial, e por isso eles são descartados. Os foguetes caem de pára-quedas no mar, 156 para serem reutilizados, enquanto que o tanque externo queima na atmosfera, como mostram as figuras a seguir [23]. Figura 37 – Separação do tanque de combustível externo e dos foguetes propulsores. Figura 38 – Separação dos foguetes propulsores. Mesmo sem tanque de combustível externo e foguetes propulsores, o ônibus espacial permanece em movimento, sem a ação de nenhuma força na direção de seu movimento, como na figura a seguir. Isso só é possível por que o ônibus espacial obedece à lei da inércia, ou seja, ele permanece com a mesma velocidade, já que no espaço não existe nenhuma força para alterar sua velocidade. Figura 39 – Ônibus espacial Discovery com os motores desligados, sobrevoando a região da China. 157 SAIBA MAIS: Nesta seção trabalha-se a lei da inércia. No caso da figura acima, existe a força da gravidade da Terra atuando no foguete, apontando para o centro da Terra. Essa força não é a responsável por manter a velocidade do foguete, pois ela não atua na direção de seu movimento. Na verdade, a força da gravidade está mantendo o foguete em um movimento circular em torno da Terra, pois, segundo a lei da inércia, se não tivesse NENHUMA força atuando no foguete, ele se moveria EM LINHA RETA, e acabaria se afastando da Terra. 11. A Lei da Inércia no espaço e na Terra Temos muitos outros exemplos de objetos se movendo sem ação de nenhuma força, o que é explicado pela Lei da Inércia. Existem, por exemplo, sondas espaciais lançadas para o estudo dos planetas, que já passaram pelas proximidades de vários planetas do Sistema Solar praticamente sem a utilização de combustível, mantendo sua velocidade apenas pela ação da inércia. Nesses casos, uma pequena quantidade de combustível é utilizada apenas para a realização de manobras. Dois exemplos de sondas espaciais em funcionamento são as sondas Voyager 1 e Voyager 2, lançadas ao espaço em 1977 e que já ultrapassaram todos os planetas do Sistema Solar, mandando informações para a Terra até hoje. As duas sondas estão prestes a atravessar a fronteira do Sistema Solar, rumo a outras estrelas. Estima-se que todo seu combustível e energia se esgotem por volta de 2020, mas mesmo assim essas sondas permanecendo em movimento com velocidades acima de 48 000 km/h, para sempre, devido apenas à ação da inércia [24]. Figura 40 – Sonda espacial Voyager 1. Astronautas livres no espaço também se movimentam sem a ação de nenhuma força, apenas pela ação da inércia. Por isso, os astronautas devem tomar muito cuidado ao saírem de suas naves, pois eles não podem alterar seus movimentos sozinhos. Não é possível, por exemplo, “nadar” no espaço, pois para nadarmos precisamos de água, o que obviamente não existe no espaço. Na maioria das operações fora das naves, os astronautas se mantêm ligados a nave através de cabos, mas alguns trajes espaciais também possuem pequenos foguetes a 158 gás para permitir que os astronautas realizem manobras. Se um astronauta se soltasse de sua nave a certa velocidade, e não tivesse nenhum tipo de foguete para fazer a manobra de retorno, ele permaneceria com a mesma velocidade para sempre, sem poder retornar à nave [25]. Figura 41 – Astronauta flutuando no espaço separado de sua nave. Nesse caso, sua grande mochila possui foguetes de gás para permitir sua manobra de retorno (foto cedida pela Nasa). Figura 42 – Um astronauta sem cabos para prendê-lo à nave e sem foguetes a gás poderia se perder no espaço. Na Terra, costumamos pensar que os objetos param naturalmente, quando não existe nenhuma força para manter o movimento, mas na verdade, os objetos só param QUANDO EXISTEM FORÇAS CONTRÁRIAS AO MOVIMENTO. Por exemplo, achamos que, ao desligarmos o motor de um carro em movimento, ele é capaz de parar “sozinho”, mas na verdade o carro para devido à força de resistência que o solo produz em suas rodas, chamada de força de atrito. Se houver óleo na pista, por exemplo, mesmo acionando o freio do carro ele pode derrapar, ou seja, ele pode continuar em movimento em linha reta com a mesma velocidade. Isso pode ocorrer porque o óleo elimina a força de atrito na pista, não havendo mais nenhuma força contrária ao movimento para fazê-lo parar. Figura 43 – Óleo em uma pista é capaz de eliminar a força de atrito nas rodas de um carro. Com isso, o carro não é capaz de alterar seu movimento, permanecendo com a mesma velocidade e em linha reta, pela ação de sua inércia. 159 SAIBA MAIS: Na verdade, é impossível eliminarmos totalmente o atrito entre superfícies na Terra, mas se existisse na Terra uma superfície plana e horizontal totalmente sem atrito, um objeto deslizando nela não pararia enquanto permanecesse na superfície. Em praticamente todo o local da Terra existem forças de resistência ao movimento. Um objeto deslizando no solo possui a força de atrito que o faz parar; um objeto em queda enfrenta a resistência do ar, que o faz cair mais lentamente; um objeto em movimento dentro da água enfrenta a resistência da água. Por outro lado, no espaço não existe nada que se oponha ao movimento, e por isso, no espaço temos tantos exemplos objetos se mantendo em movimento sem a ação de forças, devido à ação da inércia. QUESTÃO 6 – Sabemos que uma pessoa, ao viajar em um automóvel sem cinto de segurança, no momento de uma freada brusca vai em direção ao vidro do carro. Nesse caso, fisicamente, existe alguma força que joga a pessoa em direção ao vidro? (resposta na página 176) QUESTÃO 7 – Já sabemos que a Terra se movimenta ao redor do Sol com velocidade de aproximadamente 30 km/s. Se a Terra parasse de repente, o que aconteceria conosco? (resposta na página 176) PARA O PROFESSOR: Esta seção foi incluída aqui para que não fique a falsa impressão, por parte do aluno, de que as leis de Newton só funcionam no espaço. 12. O Princípio Fundamental da Dinâmica e os ônibus espaciais Na seção anterior, vimos que, quando NÃO EXISTE nenhuma força atuando em um corpo, NÃO EXISTE mudança de movimento. Por outro lado, o princípio fundamental da dinâmica diz que, quando EXISTEM forças atuando no corpo, EXISTE mudança de movimento. De forma simplificada, o Princípio Fundamental da Dinâmica pode ser descrito da seguinte maneira: PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DINÂMICA: As forças alteram o movimento dos corpos. Quanto maior é a intensidade da força total aplicada em um corpo, maior é a mudança em seu movimento. [22] 160 SAIBA MAIS: O Princípio Fundamental da Dinâmica é mais conhecido por sua fórmula matemática: F m a . Nesta fórmula, F é a força total aplicada no corpo, m é a massa do corpo e a é a sua aceleração. A aceleração a representa a mudança na velocidade do corpo. A massa m aparece na fórmula para indicar que, quanto maior é a massa do corpo, maior é a força necessária para produzir sua aceleração. As “setas” em cima das letras, na fórmula, indicam que a força e a aceleração possuem a mesma direção e sentido, ou seja, a mudança de velocidade possui a mesma direção e sentido da força. A MUDANÇA de estado de movimento, produzida pela ação de forças, pode ocorrer de formas diferentes. Os exemplos mais simples são os seguintes: se a força total for a favor do movimento, ocorre aumento no valor da velocidade; se a força total for contrária ao movimento, ocorre redução no valor da velocidade (freagem); se a força total apontar para a direita ou esquerda da direção movimento, ou seja, se a força for perpendicular ao movimento, ocorre mudança na direção da velocidade, ou seja, o objeto faz uma curva. No caso dos ônibus espaciais, precisamos de força total diferente de zero para ele: ganhar velocidade no momento do lançamento; alterar sua trajetória para voltar para a Terra; frear no momento da aterrissagem. Para entendermos o Princípio Fundamental da Dinâmica, devemos primeiro saber que o que produz a mudança de movimento é a força TOTAL aplicada no corpo. Considere, por exemplo, as forças aplicadas em um ônibus espacial no momento de seu lançamento: Figura 44 – Principais forças aplicadas em um ônibus espacial durante seu lançamento. Nesse caso, a força TOTAL no ônibus espacial é a força que o combustível exerce nele MENOS a força da gravidade e da resistência do ar, pois são forças com sentidos opostos. Isso significa que a força produzida pelo combustível precisa ser maior que a força de resistência do ar e a força da gravidade juntas, para que exista uma força TOTAL apontando 161 para cima. Essa força TOTAL tem a função de AUMENTAR A VELOCIDADE do ônibus espacial o suficiente para tirá-lo da atmosfera terrestre. SAIBA MAIS: Estamos usando o termo FORÇA TOTAL para indicar a composição de todas as forças aplicadas em um corpo. Entretanto, o termo “força total” NÃO deve ser confundido com “soma algébrica de forças”, pois, como vimos, a composição das forças aplicadas em um corpo nem sempre é uma soma algébrica. Para evitar essa confusão, muitos livros didáticos substituem o termo “força total” por FORÇA RESULTANTE ( FRES ). No espaço, o ônibus espacial ainda precisa guardar uma pequena quantidade de combustível, mas apenas para realizar as manobras necessárias, como se posicionar corretamente para voltar para a Terra [26]. Figura 45 – O módulo do ônibus espacial precisa guardar algum combustível apenas para realizar manobras. No caso da aterrissagem, como o ônibus espacial precisa perder velocidade, são necessárias forças contrárias ao movimento. Uma dessas forças é o atrito que o solo produz nas rodas da nave (o trem de pouso) que são baixadas momentos antes da aterrissagem (figura 45), como em um avião, mas a velocidade é tão grande que também são necessários paraquedas, para aproveitar a força de resistência do ar (figura 46) [26]. 162 Figura 46 – Ônibus espacial pousando (imagem cedida pela Nasa). Figura 47 – Paraquedas aberto para ajudar o ônibus espacial a parar (imagem cedida pela Nasa). PARA O PROFESSOR: Nesta seção trabalha-se o princípio fundamental da dinâmica. 13. A Lei da Gravitação Universal As imagens a seguir representam a Terra e alguns de seus satélites. A primeira imagem mostra a Terra e seu único satélite natural: a Lua; a segunda imagem mostra um dos muitos satélites artificiais da Terra. Figura 48 – Terra à esquerda e Lua (seu único satélite natural) à direita. Figura 49 – A Terra e um satélite de GPS (foto cortesia do Exército dos Estados Unidos). Sabemos que os objetos na Terra caem ao serem soltos por serem atraídos pala força da gravidade da Terra. Se soltássemos um objeto qualquer no espaço, distante de quaisquer corpos celestes, este objeto permaneceria “flutuando”, pois nesse caso a atração gravitacional no objeto poderia ser considerada igual a zero. A Lua se encontra a uma distância da Terra de aproximadamente 384 000 km [10], enquanto que os satélites artificiais se encontram a distâncias da Terra que variam, de forma aproximada, entre 500 km e 35 800 km [27]. Pense então nas seguintes questões: 163 QUESTÃO 8 – A Terra exerce atração gravitacional na Lua? (resposta na página 176) QUESTÃO 9 – A Terra exerce atração gravitacional em seus satélites naturais? (resposta na página 176) Para entendermos as respostas acima, temos que conhecer a lei da gravitação universal, que, de forma simplificada diz o seguinte: LEI DA GRAVITAÇÃO UNIVERSAL: Toda matéria atrai matéria. Quanto maior é a massa dos corpos, maior é a atração. Quanto maior é a distância entre os corpos, menor é a atração. [22] A palavra massa, que aparece na lei, representa a quantidade de matéria dos corpos, usualmente medida em quilogramas (kg). SAIBA MAIS: A intensidade da atração gravitacional pode ser calculada pela fórmula: F G. m1 m2 , onde F d2 é a força, m1 e m2 são as massas dos corpos que se atraem, d é a distância entre eles e G é uma constante universal. Na Lei da Gravitação Universal, não devemos confundir massa com peso. Enquanto a massa representa uma medida da quantidade de matéria do corpo, o peso é a força da gravidade que um objeto sente em um planeta ou satélite natural. Por exemplo, imagine um saco de açúcar de 1 kg no meio do espaço, em um local sem gravidade. Neste local, sua massa continuaria sendo igual a 1 kg, pois a quantidade de açúcar não mudaria, mas seu peso cairia a zero e ele flutuaria, devido à ausência de gravidade. Quando falamos que toda matéria atrai matéria, não estamos falando apenas de planetas e satélites naturais. Uma cadeira e uma mesa, por exemplo, possuem matéria, logo elas possuem atração gravitacional; todas as pessoas possuem matéria, logo todas as pessoas se atraem gravitacionalmente. É claro que nós não vemos mesas, cadeiras, pessoas etc. se atraindo como acontecem com ímãs com polaridades opostas, mas isso não significa que a atração não exista. Não conseguimos perceber essa atração apenas por ela ser muito pequena. Segundo a lei da gravitação universal, quanto MAIOR é a massa (quantidade de matéria) de um corpo, maior é a atração gravitacional, e por isso, só conseguimos perceber a atração gravitacional em objetos com muita massa (muita matéria), como planetas, estrelas e grandes satélites naturais. 164 Figura 50 – Existe atração gravitacional entre uma mesa e uma cadeira, mas ela é tão pequena que não percebemos. SAIBA MAIS: Fisicamente, a atração gravitacional é uma FORÇA que um objeto exerce em uma direção, que produz MUDANÇA DE MOVIMENTO. Não devemos confundir atração no SENTIDO FÍSICO com a atração no SENTIDO FIGURADO, como a atração de um casal de namorados ou a suposta atração de coisas boas pelo “pensamento positivo”. A lei da atração gravitacional é chamada de lei da gravitação UNIVERSAL, pois ela diz que todos os corpos com matéria do UNIVERSO atraem-se mutuamente. Apesar disso, como a atração gravitacional diminui com a distância, dependendo da distância entre determinados objetos, essa atração pode se tornar muito pequena. Por exemplo, sentimos a atração gravitacional da Terra, mas não percebemos a atração do planeta Marte, devido à distância que ele se encontra de nós. No caso da Lua e dos satélites artificiais da Terra, devido à distância que eles se encontram da Terra, eles sentem uma atração gravitacional menor do que se estivessem na superfície da Terra, mas mesmo assim a atração continua sendo considerável (veja a resposta das questões 8 e 9). Podemos agora nos fazer a seguinte pergunta: Se os satélites (naturais e artificiais) são atraídos pela Terra, por que eles não caem na Terra? Antes de respondermos a essa pergunta, vamos entender melhor O QUE É um satélite. PARA O PROFESSOR: Nesta seção trabalha-se a Lei da Gravitação Universal. 165 14. O que é um satélite? De um modo geral, um satélite é um objeto que se move em volta de outro. Por exemplo, podemos considerar todos os planetas do Sistema Solar como satélites do Sol, já que todos se movimentam em volta do Sol em seus movimentos da translação. Consideramos a Lua como um satélite natural da Terra, pois, além de ela se mover em volta da Terra, ela não foi criada pelo homem. Isso significa que um satélite artificial da Terra é QUALQUER OBJETO CRIADO PELO HOMEM que se movimenta ao redor da Terra [28]. SAIBA MAIS: Geralmente, chamamos de satélites artificiais somente aqueles objetos se movem ao redor da Terra com alguma utilidade prática. Já os satélites artificiais que não possuem utilidade prática (satélites de comunicação desativados, pedaços de estações espaciais etc.) costumam ser conhecidos como “lixo espacial”, e existem muitos deles movendo ao redor da Terra [27]. Existem vários tipos de satélites artificiais, com diferentes utilidades. Os satélites de comunicação, por exemplo, são aqueles que enviam sinais de TV, internet e celular via satélite; o sistema de posicionamento GPS só existe graças e um conjunto de satélites em volta do globo terrestre; existem satélites de observação que tiram fotos da Terra, como as que podem ser vistas no Google Maps; existem satélites que ajudam na previsão do tempo; existem até mesmo satélites que funcionam como telescópio, como o telescópio espacial Hubble [27]. Como veremos, todas essas tecnologias só existem graças à compreensão da Lei da Gravitação Universal. Figura 51 – Típica antena de TV via satélite. Já vimos que a Lua gira em torno da Terra a uma grande velocidade (aproximadamente 1 km/s, o que corresponde a 3 600 km/h). Todos os satélites artificiais também giram em volta da Terra a grandes velocidades, que variam, aproximadamente, entre 11 000 km/h e 27 000 km/h [29]. 166 A figura a seguir representa alguns objetos atraídos pela Terra, com algumas trajetórias representadas com linhas pontilhadas. A figura também mostra a trajetória da Terra ao redor do Sol. Figura 52 – Objetos sendo atraídos pela gravidade da Terra. As setas representam a direção e o sentido da atração gravitacional da Terra (a figura está fora de escala de tamanhos e distâncias). Podemos agora reformular a pergunta da seção anterior: Se os satélites são atraídos pela Terra, por que eles permanecem girando em volta dela, em vez de caírem em direção ao solo? Vamos responder a essa pergunta na próxima seção. 15. Por que os satélites não caem na Terra? Para explicar o movimento da Lua em volta da Terra, Isaac Newton usou o exemplo a seguir: Imagine um canhão muito poderoso disparando projéteis na vertical, do alto de uma montanha. Sabemos que os projéteis irão atingir o solo após percorrerem uma certa distância, e quanto maior for a velocidade inicial do projétil, maior será a distância atingida. A figura abaixo mostra três projéteis lançados pelo canhão: no tiro A o projétil possui uma certa velocidade inicial; já no tiro B a velocidade inicial é maior. Tente imaginar então o que aconteceria se a velocidade inicial do projétil fosse ainda maior que a do tiro B. 167 Figura 53 – Tiros de um canhão “superpoderoso” (que não existe no mundo real), no alto de uma montanha. Newton imaginou que, se um projétil fosse atirado com uma velocidade inicial muito grande, ele iria dar uma volta na Terra antes de atingir o solo, como é mostrado no tiro C. Se isso acontecesse em um local onde não houvesse nenhum tipo de resistência ao movimento, como por exemplo, em um local sem resistência do ar, o projétil não pararia nunca, devido à Lei da Inércia, ou seja, ficaria dando voltas pela Terra eternamente. O projétil continuaria caindo, mas sua velocidade seria tão grande que ele daria uma volta em torno da Terra antes de atingir o solo [30]. Se não existisse resistência à esse movimento, o projétil continuaria dando voltas em torno da Terra, sem nunca parar. ATIVIDADE 9 – Acesse http://galileoandeinstein.physics.virginia.edu/more_stuff/flashlets/NewtMtn/NewtMtn.html. e realize o experimento imaginado por Isaac Newton (figura 53) através de uma simulação computacional. Na barra de rolagem da parte inferior da simulação, escolha uma velocidade (em metros por hora). Em seguida, aperte o botão Fire para lançar o projétil. Faça vários lançamentos, começando com pequenas velocidades e aumentando a velocidade aos poucos. Para um canhão dar um tiro que conseguisse dar uma volta na Terra, como no tiro C da figura acima, a velocidade inicial da bala teria que ser de aproximadamente 28 000 km/h! Com essa velocidade, a bala conseguiria dar uma volta completa em torno da Terra em aproximadamente 1 hora e 25 minutos! Obviamente, nenhum canhão no mundo conseguiria lançar um projétil com essa velocidade. Além disso, a resistência do ar reduziria a velocidade da bala até ela atingir o solo, e também poderia aquecer uma bala até ela queimar, como acontece com os meteoritos que chegam à Terra. Entretanto, um foguete espacial é capaz de lançar objetos a enormes velocidades, fora da atmosfera da Terra. Quando um objeto é 168 lançado com velocidade suficiente para dar uma volta em torno da Terra, dizemos que esse objeto foi colocado em órbita. A velocidade necessária para colocar um objeto em órbita depende da altitude desse objeto: quanto mais próximo da Terra estiver o objeto, maior será a velocidade. No caso de satélites artificiais, o que geralmente é feito é lançar um foguete com o satélite dentro, até a altitude desejada, e programar o foguete para lançar o satélite com a velocidade necessária para ele entrar em órbita [31], como nas figuras a seguir: Figura 54 – Lançamento de foguete carregando o satélite CBERS 2, realizado com uma parceria entre a China e o Brasil. Figura 55 – Sequência de lançamento do satélite CBERS – 2. Como vimos na seção anterior, os satélites permanecem em órbita com velocidade de milhares de quilômetros por hora (variando, de forma aproximada, entre 11 000 km/h e 27 000 km/h). Caso um satélite fosse lançado com velocidade menor que a mínima necessária para entrar em órbita, ele cairia na Terra e poderia provocar acidentes. Se ele fosse lançado com velocidade muito maior, escaparia da gravidade da Terra e se perderia no espaço. Figura 56 – a) Satélite lançado com velocidade abaixo da orbital; b) satélite lançado com a velocidade orbital; c) Satélite lançado com velocidade acima da orbital. 169 A Lua também permanece em órbita em torno da Terra devido à sua grande velocidade (aproximadamente 1 km/s, que corresponde a 3 600 km/h). Se a velocidade da Lua fosse muito mais baixa que a atual, ela cairia na Terra; se sua velocidade fosse muito mais alta, ela escaparia da gravidade da Terra e se perderia no espaço. Figura 57 - a) Lua com velocidade muito abaixo da atual; b) Lua com a velocidade atual (órbita quase circular); c) Lua com velocidade muito acima da atual. SAIBA MAIS: Diferente dos satélites naturais, obviamente nenhum ser humano colocou a Lua em órbita. Na verdade, a velocidade atual da Lua tem relação com a sua formação, mas essa formação ainda não é totalmente conhecida. Segundo a teoria mais aceita atualmente, a Lua se originou a 50 milhões de anos atrás, com um impacto entre a Terra e outro objeto do tamanho de Marte. Esse impacto arrancou um pedaço da Terra, que posteriormente se transformou na Lua. Isso significa que a velocidade inicial da Lua teria se originado desse grande impacto [32]. A atração gravitacional do Sol é sentida por todos os astros do Sistema Solar, em especial os planetas. A Terra permanece em órbita em torno do Sol devido à sua grande velocidade de translação (aproximadamente 30 km/s, que corresponde a 108 000 km/h). Se a velocidade da Terra fosse muito mais baixa, ela cairia no Sol; se a velocidade da Terra fosse muito mais alta, ela escaparia da gravidade do Sol e se perderia no espaço. O mesmo é válido para todos os outros planetas do Sistema Solar. Figura 58 - a) Terra com velocidade muito abaixo da atual; b) Terra com a velocidade atual (órbita quase circular); c) Terra com velocidade muito acima da atual. 170 QUESTÃO 10 – Se a Lua e os satélites artificiais da Terra não fossem atraída pela Terra, que tipo de movimento eles Teriam? (resposta na página 176) QUESTÃO 11 – Se a Terra não fosse atraída pelo Sol, que tipo de movimento ela teria? (resposta na página 176) Se os satélites da Terra, como a Lua e os satélites artificiais, não sentissem a atração gravitacional da Terra, não teria nenhuma força atuando nesses objetos e, pela Lei da Inércia, eles permaneceriam com movimento EM LINHA RETA e com a mesma velocidade. Isso significa que esses objetos se perderiam no espaço. O mesmo vale para os planetas do sistema solar: se eles não sentissem a atração gravitacional do Sol, todos eles se moveriam EM LINHA RETA com a mesma velocidade e se perderiam no espaço. SAIBA MAIS: Nesta seção, usamos o exemplo do canhão para explicarmos o movimento orbital, mas também podemos explicar esse movimento apenas lembrando das leis de Newton. De acordo com as leis de Newton, com a ausência de forças, todo corpo permanece em movimento retilíneo com velocidade constante, e o efeito das forças é ALTERAR esse estado de movimento. Quando uma força atua em uma direção diferente da trajetória de um corpo, ela ALTERA A TRAJETÓRIA do corpo, produzindo um movimento curvo no sentido da força. No caso de objetos orbitando um planeta, a força gravitacional aponta para o centro do planeta (figura 52), produzindo um movimento curvo em direção ao centro desse planeta (figuras 56 e 57). Dependendo da velocidade do objeto, esse desvio pode se transformar em um movimento circular. O mesmo vale para objetos orbitando uma estrela, como o Sol (figura 58). PARA O PROFESSOR: Nesta seção trabalha-se o conceito físico de movimento orbital. Para a explicação relativa à figura 52, recomendamos a utilização da animação disponível em http://galileoandeinstein.physics.virginia.edu/more_stuff/flashlets/NewtMtn/NewtMtn.html (atividade 9). Em vez de fazer uma longa explanação sobre o experimento mental de Newton, faça lançamentos de projéteis com a animação, com diferentes velocidades, começando das menores e aumentando aos poucos. Antes de cada lançamento, pergunte aos alunos o que eles acham que vai acontecer. Faça isso até o projétil dar a volta na Terra, e depois use esse exemplo para explicar as órbitas de satélites e planetas. 16. Tudo no universo se movimenta Como vimos, a Lei da Gravitação é uma lei UNIVERSAL, ou seja, tudo o que possui matéria no universo se atrai mutuamente. Isso significa que TODA a matéria do universo se encontra em movimento! Como já vimos, os movimentos dependem de quem está vendo (dependem do referencial), por isso, alguns corpos celestes se encontram parados em relação 171 a alguns observadores (por exemplo, a Terra está parada em relação às pessoas que vivem nela, e o Sol está aproximadamente parado em relação ao Sistema Solar). Entretanto, quando usamos O UNIVERSO COMO UM TODO como referencial, vemos que toda matéria que existe no universo se movimenta. As estrelas vistas à noite estão tão distantes de nós que não percebemos seus movimentos “próprios”, vemos apenas seus “movimentos aparentes”, devido à rotação e translação da Terra. Entretanto, todas as estrelas da Via-Láctea se movimentam ao redor do núcleo da galáxia. Como o Sol é uma estrela, ele também executa um movimento ao redor do núcleo da Via-Láctea, com velocidade de 225 km/s, dando uma volta completa a cada duzentos milhões de anos! Não percebemos esse movimento por que o Sol, em seu movimento, carrega todos os objetos do Sistema Solar com ele, ou seja, em relação a todos os astros do Sistema Solar, o Sol se encontra aproximadamente parado [33]. Figura 59 – Movimento do Sol na Via-Láctea. A própria Via-Láctea se movimenta, como todas as outras galáxias. Devido à atração gravitacional, existem, por exemplo, galáxias se encontrando e “se misturando”, como nas imagens a seguir: Figura 60 – Colisão entre duas galáxias espirais. Figura 61 – Penetração mútua de duas galáxias. 172 Segundo algumas teorias, a Via-Láctea e a galáxia de Andrômeda estão se atraindo com uma velocidade de aproximadamente 130 km/s e podem vir a se encontrar daqui a 3 bilhões de anos! [34] Na figura a seguir temos uma concepção artística do que você poderia ver no céu enquanto a galáxia de Andrômeda estivesse se misturando à Via-Láctea, se pudesse viver o suficiente para isso... Figura 62 – Concepção artística da colisão entre a galáxia de Andrômeda e a Via-Láctea, vista da Terra, daqui a 3 bilhões de anos. Em resumo, podemos dizer que: Tudo o que existe no universo se movimenta! 173 17. 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Figura 2 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 3 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 4 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 5 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 6 – Imagem produzida com o programa Stellarium. Figura 7 – Curso de aperfeiçoamento de professores da Fundação Planetário do Rio de Janeiro – 2009. Figura 8 – Curso de aperfeiçoamento de professores da Fundação Planetário do Rio de Janeiro – 2009. Figura 9 - http://fisikanarede.blogspot.com/2010_07_01_archive.html Figura 10 – http://fotografia.clerigo.net/2005/06/16/jupiter-e-as-suas-luas/ Figura 11 – http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/sistemasolar.html Figura 12 – http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/sistemasolar.html Figura 13 – Imagem produzida com o programa Celestia. Figura 14 - Imagem produzida com o programa Celestia. Figura 15 – http://www.vaztolentino.com.br/pages/92 Figura 16 – http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/TerraLuaSol.html Figura 19 – http://astro.if.ufrgs.br/lua/lua.htm Figura 20 - http://www.eparaguacu.sp.gov.br/noticias_listar.asp?cod_not=929 Figura 21 – http://blig.ig.com.br/marisa_monte/ Figura 22 - http://gordiceaholic.com/tag/servico-de-bordo/ Figura 24 – http://opiofagia.blogspot.com/2008/05/astronauta.html Figura 25 – http://opiofagia.blogspot.com/2008/05/astronauta.html (imagem editada) Figura 26 – http://blogdobanu.blogspot.com/2010/03/terra-planeta-agua.html (imagem editada) Figura 27 – http://curiosity.discovery.com/topic/physics-concepts-and-definitions/famous-physicistspictures1.htm Figura 28 – http://efisica.if.usp.br/mecanica/ensinomedio/2_lei_de_newton/experimento/ (imagem editada) Figura 29 – http://todaoferta.uol.com.br/comprar/imas-neodimio-neodimeo-neodimio-mais-forte-imaferrite-IEPQEVZX65#rmcl (imagem editada) Figura 30 - http://cursinhopreenem.com.br/fisica/acao-gravidade-queda-livre/ (imagem editada) Figura 31 – http://downloads.open4group.com/download/wallpapers/lancamento-do-foguete-9957.html Figura 32 – http://ciencia.hsw.uol.com.br/onibus-espaciais.htm (imagem editada) Figura 33 - http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/leis-de-newton/terceira-lei-de-newton-3.php Figura 34 - http://downloads.open4group.com/download/wallpapers/lancamento-do-foguete-9957.html (imagem editada) Figura 35 – http://profclaudenir.blogspot.com/2011/04/onibus-espacial.html Figura 36 - http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/lancamento-do-onibus-espacial-atlantis14.html Figura 37 – http://profclaudenir.blogspot.com/2011/04/onibus-espacial.html 175 Figura 38 – http://profclaudenir.blogspot.com/2011/04/onibus-espacial.html Figura 39 - http://noticias.uol.com.br/album/100407_album.jhtm#fotoNav=1 Figura 40 - http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/05/a-um-passo-das-estrelas Figura 41 – http://gaea-araujo.blogspot.com/2010_09_01_archive.html Figura 42 - http://ciencia.hsw.uol.com.br/trajes-espaciais1.htm Figura 43 – http://ratinhodaweb.blogspot.com/2011/11/primeira-lei-de-newton.html Figura 44 – http://downloads.open4group.com/download/wallpapers/lancamento-do-foguete-9957.html (imagem editada) Figura 45 – http://www.vigilia.com.br/vforum/viewtopic.php?t=598&sid=8f312b66f0ea3a842c754e85e3a7ed7 6 Figura 46 - http://ciencia.hsw.uol.com.br/onibus-espaciais4.htm Figura 47 - http://ciencia.hsw.uol.com.br/onibus-espaciais4.htm (imagem editada) Figura 48 http://www.apolo11.com/spacenews.php?titulo=Nasa_capta_cena_inedita_de_avalanche_em_M arte&posic=dat_20080304-103724.inc Figura 49 - http://informatica.hsw.uol.com.br/receptores-gps1.htm Figura 50 - http://decorabrasil.com.br/blog/index.php/tag/mesa-de-centro/ (imagem editada) Figura 51 - http://www.blogdomarcelo.com.br/v2/2011/02/ Figura 53 - http://www.fichariodematematica.com/2011/07/isaac-newton-o-triunfo-da-razao-parte.html (imagem editada) Figura 54 – http://tecgeoweb.blogspot.com/2007_09_01_archive.html Figura 55 http://www.apolo11.com/espaco_brasil.php?titulo=Tudo_pronto_para_o_lancamento_do_satelite _CBERS-2B&posic=dat_20070918-100426.inc Figura 59 – http://buscandoaverdade2808.blogspot.com/2010/01/era-de-aquario-o-que-e-isso.html (imagem editada) Figura 60 - http://canais.sol.pt/blogs/jmfc/archive/2008/05/14/A-colis_E300_o-de-gal_E100_xias.aspx Figura 61 - http://canais.sol.pt/blogs/jmfc/archive/2008/05/14/A-colis_E300_o-de-gal_E100_xias.aspx Figura 62 - http://caminhandoparaaluz.blogspot.com/2010/07/setima-dimensao-as-estradasgalacticas.html 176 18. Respostas das questões Questão 1 - EM RELAÇÃO AO SISTEMA SOLAR, o Sol se encontra aproximadamente parado, mas, devido ao movimento de rotação da Terra, EM RELAÇÃO AOS OBSERVADORES DA TERRA, o Sol realiza uma curva no céu (chamamos esse movimento de “movimento aparente”). Questão 2 – EM RELAÇÃO AO SISTEMA SOLAR, as estrelas NÃO giram em volta da Terra, mas, devido ao movimento de rotação da Terra, EM RELAÇÃO AOS OBSERVADORES DA TERRA as estrelas realizam curvas no céu (chamamos esse movimento de “movimento aparente”). Questão 3 – O nascer e o pôr da Lua só existem EM RELAÇÃO AOS OBSERVADORES DA TERRA, devido à rotação da Terra (chamamos esse movimento de “movimento aparente”). Questão 4 – Não. Para o combustível não ser atirado para fora, o foguete teria que desobedecer a lei da ação e reação. Questão 5 – Continuaria com a velocidade que tinha antes do combustível acabar! (considerando que entre a Terra e Marte a gravidade é praticamente igual a zero). Questão 6 – Não. Ao frear, o carro reduz sua velocidade até parar, devido à força de atrito na pista. No caso de uma pessoa sem cinto, não existe nenhuma força para fazê-la parar, e por isso, devido a sua inércia, ela CONTINUA COM O MOVIMENTO QUE O CARRO TINHA, em direção ao vidro. Se a pessoa estivesse com o cinto de segurança, ele exerceria uma força na pessoa contrária ao movimento, para fazê-la parar junto com o carro. Questão 7 – Nós continuaríamos em movimento com a velocidade que a Terra tinha. Da mesma forma que em uma freada de automóvel, se a terra “freasse” de repente, um observador na Terra veria todos os objetos soltos na Terra se moverem com a velocidade que a Terra tinha, ou seja, daria a impressão de que os objetos estariam sendo “empurrados” na direção do movimento da Terra. Questão 8 – Sim. Devido à distância entre a Terra e a Lua, a atração gravitacional entre elas é menor do que elas teriam se estivessem mais próximas, mas essa atração ainda é considerável. Questão 9 – Sim. Para servir de exemplo, a atração gravitacional que a Terra exerce em um satélite a 500 km de altitude é apenas 7% menor do que na superfície da Terra. Questão 10 - Eles se moveriam em LINHA RETA, com velocidade constante, e consequentemente iriam se afastar da Terra. Questão 11 - Ela se moveria em LINHA RETA, com velocidade constante, e consequentemente iria se afastar do Sol 177 APÊNDICE IV - Produto Educacional – Guia dos Professores I. Introdução No endereço eletrônico www.hugo.pro.br/astronomia.htm se encontra disponível a hipermídia “A Física e o Universo”, onde a física presente no ensino médio é utilizada como uma ferramenta para a compreensão de questões relacionadas com a astronomia e a astronáutica. Essa hipermídia foi desenvolvida como produto educacional de uma dissertação de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática do CEFET/RJ, e também se encontra disponível em um CD-ROM, anexado à dissertação de mestrado “Uma Proposta de Ensino de Física Contextualizado com a Astronomia e a Astronáutica”, de autoria de Hugo Henrique de Abreu Pinto, com orientação de Sergio Eduardo Silva Duarte. O objetivo do produto educacional é disponibilizar um material que possa servir de suporte a professores de física interessados em enriquecer suas aulas com temas relacionados à astronomia e à astronáutica, além de servir como material didático aos alunos. Neste Guia dos Professores, apresentaremos: os conteúdos do hipertexto e suas relações com a física do ensino médio (seção II); os recursos didáticos do hipertexto (seção III); algumas sugestões de aplicação em sala de aula (seção IV). II. Os conteúdos da Hipermídia A figura abaixo mostra a página inicial da hipermídia, com uma apresentação aos alunos: Figura 1 - Página inicial da hipermídia. 178 Os conteúdos foram divididos em duas unidades: “Unidade 1 – qual é o tamanho do universo” e “Unidade 2 – os corpos celestes se movimentam?”, que podem ser acessados pelos menus da hipermídia (abaixo do cabeçalho da página e do lado esquerdo dos conteúdos). A seguir, descreveremos os conteúdos de cada uma das unidades, e as relações entre esses conteúdos e os conteúdos tradicionais da física do ensino médio. II.1 Unidade 1 – Qual é o Tamanho do Universo? Nesta unidade, é apresentado um “mapa do universo”, de forma a situar o leitor em qualquer discussão subsequente sobre astronomia e astronáutica. São discutidas as escalas astronômicas de tamanhos e distâncias, além de estimativas de quantidades de corpos celestes no universo. A Terra é situada no universo como fazendo parte de um sistema planetário como outros existentes, orbitando uma estrela como outras que vemos à noite, e pertencente a uma das muitas de galáxias existentes no universo. A unidade se inicia com um convite ao leitor para prestar atenção no céu [26] , citando alguns corpos celestes que podem ser observados olho nu. Essa apresentação inicial pretende fazer um gancho entre aquilo que o leitor provavelmente já sabe e aquilo que se pretende apresentar. Em seguida, inicia-se a discussão da Terra inserida no modelo do Sistema Solar [27] . Para começar essa discussão, apresenta-se uma imagem provavelmente conhecida pelo leitor: o modelo de planetas orbitando em torno do Sol, fora de suas escalas reais de tamanho e distância (figura 2). Figura 2 – Representação do Sistema Solar fora de escala de tamanho e distância (fonte: http://aprenderbrincando.no.sapo.pt/sistema_solar.htm. Acesso: 30/01/2012.). [26] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.1.htm. .[27] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.2.htm. 179 Na página seguinte, o modelo do Sistema Solar começa a ser melhorado, apresentando-se escalas de tamanho entre astros do Sistema Solar [28] (figura 3). Figura 3 – Representação do Sistema Solar em escala de tamanho. (Fonte: http://arcageografica.blogspot.com/2009/06/aprendendo-fazer-maquetes-do-sistema.html. Acesso: 30/01/2012.). Ainda dentro da discussão sobre o Sistema Solar, recorda-se o fato de o Sol ser uma estrela, servindo de gancho para a discussão sobre as escalas de tamanho entre as estrelas [29] (figura 4). Mostra-se a existência de estrelas menores e maiores que o Sol, servindo como uma primeira evidência de que o Sol não possui nenhuma característica especial em relação a outras estrelas observadas a noite. Figura 4 – Algumas estrelas e o planeta Júpiter em escalas de tamanho. (Fonte: http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/. Acesso: 30/01/2012.) Nesta etapa, já foi trabalhado o conceito de escala de tamanho, importante não só para a física como para outras disciplinas escolares, como a geografia, por exemplo. Para fazer uma relação entre aquilo que o leitor costuma observar a noite e os tamanhos reais apresentados, trabalha-se a relação entre os tamanhos observados e as [28] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.3.htm. [29] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.4.htm. 180 distâncias [30]. Com isso, fica claro que as estrelas observadas a noite se encontram muito mais distantes de nós do que o Sol e que, consequentemente, a única estrela pertencente ao Sistema Solar é o Sol. Nessa discussão, trabalha-se também o conceito de escala de distância. A discussão anterior serve de gancho para se trabalhar com distâncias astronômicas [31] . Nessa parte, desenvolve-se com o conceito físico de unidade de distância, como os quilômetros e os anos-luz, e é dado um exemplo do motivo de existirem várias unidades. Também apresenta-se o método da paralaxe como um exemplo da forma como as distâncias astronômicas são conhecidas [32] . Mas do que isso, o método da paralaxe dá um exemplo do método científico, que geralmente é discutido como uma introdução à física. Depois de se demonstrar que o Sol é uma estrela semelhante a outras (pelo menos em relação à tamanho) também é discutido o fato de o Sol não ser a única estrela a ser orbitada por planetas [33] . Uma notícia de descoberta de planeta fora do Sistema Solar é mostrada e interpretada, buscando o desenvolvimento de competências relacionadas à interpretação de notícias de caráter científico. Também faz-se uma breve discussão sobre a possibilidade de existência de vida fora da Terra e a possibilidade de viagens espaciais [34] . Nesta etapa, o conceito de ano-luz é reforçado e faz-se uma citação à Teoria da Relatividade, sobre a impossibilidade de viagens acima da velocidade da luz. Por último, a discussão sobre a possibilidade de vida fora da Terra serve de gancho para uma discussão sobre a quantidade de estrelas no universo. Para isso, discute-se o conceito de galáxia, e, em especial, a Via-Láctea [35] . Em seguida, apresenta-se a nossa galáxia como uma entre bilhões de outras. Com isso, realiza-se uma estimativa de quantidade de estrelas no universo observável [36] . Nesta discussão, deixa-se claro que as quantidades apresentadas são aproximações, exemplificando o conceito físico de ordem de grandeza. Como pode ser verificado, esta unidade apresenta conteúdos tradicionais conhecidos como “introdução à física”. Entre os conceitos físicos trabalhados na unidade, podemos listar: escalas de tamanho e distancia; unidades de medida (quilômetros e anos luz); método científico; ordens de grandeza. [30] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.5.htm. [31] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.6.htm. [32] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.7.htm. [33] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.8.htm. [34] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.9.htm. [35] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.10.htm. [36] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_1.11.htm. 181 I.2. Unidade 2 – Os corpos celestes se movimentam? Nessa unidade, os corpos celestes estudados na Unidade 1 são revisados com foco em uma característica comum a todos: o movimento. Em especial, são discutidos os movimentos dos corpos celestes do Sistema Solar, já que muitos desses astros podem ser observados a olho nu e a Mecânica Newtoniana pode ser aplicada a eles sem muitas exceções. Nesse ponto, é deixado claro que os princípios que regem os movimentos dos corpos celestes são os mesmos que regem os movimentos observados na Terra, além de movimentos de satélites artificiais, de foguetes espaciais etc., fazendo uma ponte para a Astronáutica. Assim como na Unidade 1, a Unidade 2 é iniciada citando alguns corpos celestes observados a olho nu. Entretanto, agora a ênfase é dada nas mudanças de posições dos corpos celestes observadas ao longo do tempo. Deixa-se claro que qualquer mudança de posição representa um movimento, por mais lenta que seja essa mudança. Dessa forma, apresenta-se uma definição de movimento. Alguns desses movimentos são representados por curvas (figura 5), exemplificando o conceito físico de trajetória. Figura 5 – Trajetória de estrelas no céu, obtida com fotografia de longa exposição. (Fonte: Curso de aperfeiçoamento de professores da Fundação Planetário do Rio de Janeiro – 2009.) Em seguida, faz-se uma breve discussão histórica sobre a transição do geocentrismo para o heliocentrismo [37] , como forma de introdução aos movimentos dos astros do Sistema Solar. Faz-se uma revisão sobre os movimentos dos planetas e satélites do Sistema Solar (figura 6) e, de forma mais específica, sobre os movimentos da Terra e da Lua [38] [39] . Em especial, cita-se as velocidades dos movimentos da Terra e da Lua, e em km/h e em km/s. Dessa forma, introduz-se o conceito físico de velocidade e diferentes unidades de velocidade. [37] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.2.htm. [38] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.3.htm. [39] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2,4.htm. 182 Figura 6 – Planeta Júpiter e órbitas de cinco de seus satélites naturais. (Imagem produzida com o programa Celestia.) A discussão até esse ponto apresenta uma aparente contradição: enquanto que a olho nu vemos os astros em movimento, dentro do nosso modelo de Sistema Solar é a Terra quem se move. Para explicar essa aparente contradição, apresenta-se o conceito físico de referencial. Ou seja, mostra-se que os movimentos observados na Terra usam a Terra como referencial, enquanto que os movimentos do modelo de Sistema Solar usam o Sol como referencial [40] . Isso é feito através de uma analogia com os movimentos observados dentro de um brinquedo de parque de diversão. Através do conceito de referencial, explica-se também por que não sentimos os movimentos da Terra [41] , fazendo uma analogia com a viagem em veículos em movimento retilíneo com velocidade constante [42]. Nossa noção de “embaixo” e “em cima” também é trabalhada como uma questão de referencial [43] . Mostra-se que, no meio do espaço, longe de corpos celestes, não existe um referencial como o solo terrestre, e por isso a noção de “embaixo” e “em cima” é perdida. Com isso, explica-se porque uma pessoa no hemisfério sul da Terra não se sente de “cabeça para baixo”. Também cita-se o fato de a gravidade da Terra atrair tudo nas proximidades de sua superfície em direção ao solo, sem que exista a possibilidade de uma pessoa no hemisfério sul “cair em direção ao espaço vazio”. Depois de descritos os movimentos no Sistema Solar, começa-se a discussão sobre as causas desses movimentos [44]. Para isso, faz-se uma breve introdução sobre o conceito de lei da natureza e cita-se a as leis de Newton dos movimentos e a Lei da Gravitação Universal. [40] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.5.htm. [41] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.6.htm. [42] Nessa etapa, deixa-se claro que, apesar de a Terra não apresentar uma trajetória retilínea, podemos considerar sua trajetória, para nós, como aproximadamente retilínea. [43] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.7.htm. [44] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.8.htm. 183 As três leis de Newton são trabalhadas usando como exemplo os movimentos dos ônibus espaciais espacial [45] . A Lei da Ação e Reação é exemplificada pelo lançamento do ônibus [46] ; a Lei da Inércia é demonstrada pelo movimento do ônibus espacial, mesmo após a ejeção do tanque externo de combustível e dos foguetes propulsores [47] (figura 7); o Principio Fundamental da Dinâmica aparece através das mudanças de movimento do veículo espacial, como o posicionamento para a reentrada na atmosfera terrestre e a freagem no solo [48]. Figura 7 – Ônibus espacial ejetando seus foguetes propulsores. (Fonte: http://profclaudenir.blogspot.com/2011/04/onibus-espacial.html. Acesso: 30/01/2012.) Durante a apresentação das leis de Newton do movimento, também são feitos paralelos com os movimentos observados na superfície da Terra, em especial em relação à Lei da Inércia [49]. A Lei da Gravitação Universal também é descrita [50] , lançando-se em seguida a seguinte questão: por que os satélites (naturais e artificiais) não caem na Terra? Após uma breve descrição sobre “o que é um satélite” [51] , suas órbitas são explicada usando-se o exemplo da “montanha de Newton”, de forma qualitativa [52] (figura 8). Deixa-se claro que, sem a força gravitacional, as órbitas de satélites naturais e artificiais não existiriam, assim como as órbitas dos planetas. [45] Apesar da aposentadoria do projeto dos ônibus espaciais (http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/fisica-sem-misterio/o-ultimo-voo- da-aguia, acesso em 30 jan. 2012) usamos esse exemplo por acreditarmos que os ônibus espaciais ainda representam os veículos espaciais mais familiares à maioria dos brasileiros. Talvez no futuro seja necessária uma atualização do material produzido. [46] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.9.htm. [47] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.10.htm. [48] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.12.htm. [49] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.11.htm. [50] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.13.htm. [51] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.14.htm. [52] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.15.htm. 184 Figura 8 – a) Satélite lançado com velocidade abaixo da orbital; b) satélite lançado com a velocidade orbital; c) Satélite lançado com velocidade acima da orbital. (Imagem produzida com o programa Modellus.) Para finalizar, explica-se que, devido à Lei da Gravitação Universal, tudo no universo que possui matéria se movimenta [53] . Mostra-se que, em relação à Via-Láctea, o Sol possui movimento de translação, e as galáxias possuem movimentos umas em relação às outras. Em resumo, esta unidade apresenta conceitos tradicionalmente trabalhados dentro área da mecânica, na física do ensino médio. Entre os conceitos trabalhados, podemos listar: conceito de movimento; trajetória; conceito de velocidade e algumas unidades; referenciais; conceito de lei da natureza; leis de Newton do movimento; Lei da Gravitação Universal; movimento orbital. III. Recursos Didáticos da Hipermídia A hipermídia descrita aqui foi pensada para servir de material para alunos e como suporte a professores. O texto da hipermídia foi escrito em linguagem acessível aos alunos, mas também pode ser usada por professores como orientação, em relação aos conteúdos e abordagens a serem trabalhados em sala de aula. Além do texto em si, existem recursos didáticos adicionais. A maior parte desses recursos só existe graças ao formato de hipermídia. A seguir, vamos listar e descrever esses recursos: Links ao longo do texto: frequentemente, uma parte do texto cita outras partes. Nesses casos, existem links que levam para as páginas citadas. Os menus da [53] Disponível em www.hugo.pro.br/astronomia_2.16.htm. 185 hipermídia, na parte superior abaixo do cabeçalho da página e no lado esquerdo dos conteúdos (figura 1), também permitem a navegação a qualquer página do texto de forma simples. Para navegação seqüencial, existe a barra de navegação no final dos conteúdos (figura 9). Figura 9 – Página inicial da hipermídia. Quadros de “atividades”: são atividades propostas para alunos, como observações do céu, instalação e utilização de programas em suas casas, observação de vídeos etc. Questões: são perguntas para serem pensadas pelos alunos, onde as respostas aparecem e desaparecem clicando no link “resposta” (figura 10). Também podem ser utilizadas por professores para gerar discussões em aula ou como questões avaliativas. Figura 10 – Questão com resposta acessada com clique. Quadros “para o professor”: contêm sugestões e informações adicionais para os professores. Possuem, por exemplo, os conteúdos tradicionais de física presentes em cada página. Por interessar apenas aos professores, esse quadro abre e fecha ao se clicar no link “para o professor”. 186 Quadros “saiba mais”: contêm informações mais aprofundadas sobre o texto. Não são de leitura obrigatória para o entendimento do texto, por isso abrem e fecham ao se clicar no link “saiba mais” (figura 11). Servem para alunos mais interessados e são especialmente úteis para professores. Figura 11 – Quadros “saiba mais” e “para o professor”, acessados com cliques. Links para referências: todas as referências do texto foram obtidas pela internet, para facilitar o acesso. As referências são numeradas e entre chaves, listadas no final de cada unidade. Ao longo do texto, cada numeração de referencia é um link para a página da referência. As referências são especialmente úteis para professores, já que a maioria delas se encontra em um nível de profundidade acima do que seria recomendado para um aluno de ensino médio. Vídeos: ao longo do texto, existem vídeos que podem ser assistido diretamente da página (figura 12). 187 Figura 12 – Atividade com vídeo. Appet: o texto também possui um applet, simulando o experimento mental da montanha de Newton. Esse applet pode ser operado direto da página, mas também está disponível para download livre em (http://galileo.phys.virginia.edu/classes/109N/more_stuff/Applets/newt/newtmtn.html). Página de download: nos menus da hipermídia, existe um link para a página “downloads” (figura 1), onde podem ser baixados textos em pdf e apresentações em ppt relativos aos conteúdos das duas unidades. Nessa página também pode ser baixado um trabalho apresentado no XIX SNEF, descrevendo uma aplicação dos conteúdos da hipermídia. As apresentações em ppt são especialmente úteis para professores, para serem usados durante suas aulas. O texto em pdf é útil para ser impresso por alunos sem acesso a computadores, apesar da ausência de alguns recursos didáticos. O trabalho do SNEF também é útil na orientação de professores. IV. Propostas de Aplicação Sabendo das várias realidades que existem no contexto educacional, pensamos em um material que fosse flexível para sua utilização. Apesar disso, podemos estabelecer algumas “regras” e fazer algumas propostas. Durante a aplicação em sala de aula, o hipertexto poderia servir como material de estudos aos alunos, em casa, e as aulas deveriam ser apresentadas em ppt, projetadas por datashow. Isso significa que, para o professor, o hipertexto deveria servir com orientação para o desenvolvimento das aulas. 188 Alguns tópicos podem ser trabalhados em aula sem a utilização de multimídias, apesar de isso tirar o potencial didático das imagens. Os vídeos presentes na hipermídia e o applet citado na seção III se encontrem anexados no PPT, disponível na página de download [54] , mas também podem ser acessadas de seus sites de origem (endereços ao longo da hipermídia), caso haja computador com acessa a internet em aula. Conforme já vimos, a Unidade 1 possui conceitos associados à “introdução à física”. Isso significa que ela poderia ser aplicada nas primeiras aulas de um curso de física de ensino médio, especialmente para turmas de primeiro ano. A Unidade 2 possui conceitos de mecânica, o que significa que ela é especialmente útil ao ser aplicada em cursos de mecânica de ensino médio. A Unidade 1 pode ser apresentada antes da Unidade 2, como uma introdução, mas a Unidade 2 também foi desenvolvida para ser trabalhada de forma independente. Durante uma aplicação dos conteúdos da hipermídia por um dos autores do projeto, optou-se por discutir todo o seu conteúdo sequencialmente, ao longo de todo o primeiro bimestre do ano letivo de 2010, em uma turma de ensino noturno da rede estadual do Rio de Janeiro. Nessa aplicação, foram necessárias duas aulas de 80 minutos cada para a aplicação da unidade 1 e mais três aulas de 80 minutos para a aplicação da unidade 2. Esse tempo pode parecer pouco, mas muitos detalhes da hipermídia foram colocados apenas para tornar o texto mais preciso. Não devemos nos esquecer que o objetivo principal do material produzido não é o ensino de astronomia, mas sim a motivação para a aprendizagem de física. Apesar da aplicação testada em sala de aula, nada impede que a hipermídia seja utilizada de forma mais flexível. Os conteúdos da Unidade 2 poderiam ser aplicados, por exemplo, em um curso de mecânica seguindo uma organização tradicional de conteúdos, com seus tópicos sendo apresentados ao longo do ano como exemplos para os conteúdos tradicionais. Por exemplo, o tópico “por que não sentimos os movimentos da Terra” (www.hugo.pro.br/astronomia_2.6.htm) poderia ser aplicado durante a abordagem tradicional de referenciais; ou o tópico sobre o lançamento do ônibus especiais (www.hugo.pro.br/astronomia_2.9.htm) poderia ser aplicado durante a abordagem tradicional da Lei da Ação e Reação. [54] Downloads disponíveis em www.hugo.pro.br/astronomia_2.17.htm. 189 APÊNDICE V – CD-ROM com o Produto Educacional