Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA EM UM CONTEXTO DE MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL Kalina Gondim de Oliveira Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza - SME RESUMO Este trabalho objetiva analisar a política educacional brasileira em um contexto de mundialização do capital, onde se desenha uma nova geopolítica calcada nos processos de reterritorialização e desterritorialização da produção. Para tanto, foi realizada uma pesquisa documental e bibliográfica com base nos pensamentos de AKKARI (2011), OLIVEIRA (2003) e SCAFF (2012). Nesse cenário emerge o fenômeno da globalização onde esta ensaia aglutinar o global e o local, o transnacional e comunitarismo. É, pois a partir desta totalidade social que as políticas educacionais contemporâneas são concebidas e implementadas e fatores estruturais da sociedade brasileira unem-se as contingências contemporâneas refletindo em um determinado modelo de política educacional que por sua vez é resultado de escolhas, prioridades contradições e visão de educação, de homem e de sociedade que se quer formar. Concluímos que os empresários tem uma visão de educação é consoante com a do Banco Mundial em muitos pontos, ambas defendem a prioridade no Ensino Fundamental e uma política abertamente antiuniversitária na qual os indivíduos devem arcar com os custos do Ensino Superior, a visão economicista de educação e a defesa de um currículo mais instrumental onde são substituídos conteúdos por competências. Esse modelo de educação é hoje o modelo hegemônico e é responsável por uma visão de ensino estreita e reducionista PALAVRAS-CHAVE: Política Educacional. Internacionalização. Globalização. EdUECE - Livro 3 04100 Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA EM UM CONTEXTO DE MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL E GLOBALIZAÇÃO Kalina Gondim de Oliveira Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza - SME Quando refletimos acerca das políticas educacionais contemporâneas não devemos percebê-las tomando apenas a figura do estado como instância que empreende as políticas para o setor da educação. É observado que atualmente vivenciamos um amplo processo de internacionalização das políticas educacionais e esse dado reflete a atual configuração, a nova estrutura, de poder, onde o estado é questionado em sua forma e estrutura, assim como é posto em xeque sua governabilidade, ou seja sua capacidade de produzir resultados. Nesse mesmo cenário a noção de governo é cada vez mais substituída pelo conceito de governança, para Abdeljalil Akkari o conceito de governança: “É utilizado para destacar a multiplicidade dos atores públicos e privados presentes nos serviços públicos e a reconfiguração de papeis” (2011, p. 89). Portanto, para refletirmos acerca das políticas em educação no momento atual é necessário capta-las para além das estruturas do estado onde este cada vez mais perde sua forma piramidal e monopratica, dando feições a novas estruturas de poder cada vez mais pluricentradas e muitas vezes dotadas de um certo ocultamento o que dificulta a sua captação é percepção. O fato do poder hoje ser cada vez mais pluricentrado e cada vez menos monocráticos não significa que esteja havendo uma maior democratização do poder, ao contrário estes continua concentrado e verticalizado, e os mecânicos ideológicos que usam discurso da participação nada mais são que controle social pautados em uma autonomia controlada. Dos múltiplos atores sociais que atualmente pressionam o governo para implementar sua visão de educação, são destacados os empresários e suas entidades e os organismos internacionais. Esses dois segmentos possuem uma visão de educação, de ensino e de aprendizagem bastante similar, dado que tanto os empresários como os organismo internacionais entendem que a missão precípua da educação é formar capital humano dotado os indivíduos das competências e habilidades necessárias e inserção daqueles na sociedade do conhecimento e do mundo globalizado, este modelo de educação além de EdUECE - Livro 3 04101 Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade revelar-se economista, instrumental e pragmático é extremamente ideológico dado que faz uso de uma linguagem extremamente sedutora e manipulatória. Próprio discurso de que vivemos em uma sociedade do conhecimento e não em uma sociedade capitalista de classes é extremamente mistificador pois, além de ocultar as relações de dominação cerne da sociedade capitalista, dissemina a ideia de que atualmente o conhecimento está acessível a todos os países e indivíduos quando sabemos que os saberes, principalmente os saberes convertidos em tecnologia e inovação são cada vez mais concentrados em poucos países. A ideologia da globalização por seu turno advoga a ideia de que hoje vivemos uma plena integração e homogeneização dos espaços e tempos quando um olhar mais atento revela profundas diferenciações e hierarquizações entre os países. Porém os discursos da sociedade do conhecimento e da globalização foram os eixos que sustentaram novo eixo educacional importado do ethos empresarial, entre os conceitos centrais temos: produtividade, competitividade, eficiência, eficácia, entre outros. De acordo com OLIVEIRA (2013), o documento intitulado Ensino Fundamental e Competitividade Empresarial (Instituto Hebert Levy, 1992) é sintomático da nova visão e missão que se tem da educação diga-se uma educação reducionista. É notório também nos documentos empresarias a visão messiânica e salvacionista de educação, como está impressa na fala do presidente da federação das industrias do estado de São Paulo (FIESP): “Em primeiro lugar está a educação.Evidentemente, ela cada vez toma mais lugar em tudo que se faz. Sem educação, sem instrução, você não tem trabalhador, não tem dirigente, não tem empresa, não tem políticos, não tem imprensa. Então a educação é a alavanca e o motor de tudo, ainda mais numa época de competição cada vez mais acirrada, de luta por espaço. Enfim a educação realmente é o capital humano, não apenas da indústria, mas de uma nação que queira ser séria. Por ela é que vamos poder eliminar as desigualdades, diminuir a fome, a miséria, vamos poder participar dos benefícios da sociedade, do capitalismo e da democracia.” (OLIVEIRA, apud FERREIRA 2003, p. 52). De meados da década de 90 para cá, as entidades empresarias publicaram inúmeros documentos que abordavam a temática educacional nestes é patente a visão instrumental de educação e a intenção de pressionar o governo. Para que este EdUECE - Livro 3 04102 Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade implemente o modelo de educação consoante com a visão empresarial. O mundo empresarial dando mostras de um protagonismo cada vez mais intenso lançou o movimento “compromisso todos pela a educação” lançado em 2006, apresentando-se como uma iniciativa da sociedade civil, se constitui do fato, como um bloco que reúne os maiores grupos empresarias tais como : grupo Pão de Açúcar, Fundação Itaú Social, Fundação Bradesco, grupo Gerdau, Fundação Roberto Marinho, entre outros. Este movimento influenciou sobremaneira a política educacional brasileira que o governo lançou o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) que atrelou as medidas adotadas pelo ministério da educação (MEC) à agenda do movimento empresarial. Em consonância com a visão de educação dos empresários e também com o grande poder junto ao governo, encontra-se os organismo internacionais que exerce uma grande influencia, sobre desenho das políticas educacionais, destes organismos se sobressai o protagonismo do banco mundial notadamente, após a conferencia mundial sobre educação para todos em Jomtien na Tailândia, esta conferência foi emblemática do processo de internacionalização das políticas educacionais, na ocasião desta conferência foi construída uma agenda global onde estavam impressas as metas consensuadas externamente sob consenso construído de educação para todos (EPT). O Brasil foi signatário dos documentos advindos da conferência após a realização o Brasil reestruturou todo o seu sistema educacional atingindo todos os níveis e modalidades, assim como foi ressignificado o currículo, avaliação, financiamento e formação de professores. Nesse cenário e visível que o papel e os princípios da educação foram substancialmente alterados, os novos princípios são antagônicos aos princípios, que defendem uma educação publica, gratuita e de qualidade: A visão privatista une-se ao princípio da descentralização que se traduz em desmonte e atomização das escolas, estas cada vez mais são responsabilidade pelo sucesso ou fracasso dos alunos nas inúmeras avaliações externas cada vez mais amplas e refinadas. Reflexão de um estado avaliador que constroe um amplo sistema de controle e monitoramento das políticas educacionais que desencadeia uma pedagogia dos resultados nas instituições escolares. A formação de professores também induzida externamente revela-se aligeirada e empobrecida. Na visão do Banco Mundial outros insumos tem um maior impacto na aprendizagem dos alunos que o trabalho desenvolvido por professores como esclarece Elisângela Scaff: As informações apresentadas revelaram que as bibliotecas constituíam-se num insumo mais relevante para a aprendizagem, aparecendo em quase 90% dos estudos realizados. Em segundo lugar estava o tempo de instrução, como EdUECE - Livro 3 04103 Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade percentual de efetividade pouco abaixo do primeiro. As tarefas apareceram em pouco mais de 80% dos estudos sobre a efetividade na aprendizagem. Na quarta colocação estavam os livros didáticos, os quais faziam parte de pouco mais de 70% das pesquisas realizadas. Os conhecimentos do professor, segundo os dados apresentados pelo Banco Mundial, ficaram em quinto lugar.” (2013, p. 113). Diante do exposto, concluímos que os empresários tem de educação é consoante com a visão do Banco Mundial em muitos pontos, ambas defendem a prioridade no Ensino Fundamental e uma política abertamente antiuniversitária na qual os indivíduos devem arcar com os custos do Ensino Superior, a visão economicista de educação e a defesa de um currículo mais instrumental onde são substituídos conteúdos por competências também são consoantes. É oportuno revelar que esse modelo de educação é hoje o modelo hegemônico e é responsável por uma visão de ensino estreita e reducionista que redunda em uma aprendizagem centrada apenas na leitura, escrita e cálculo, distanciando-se da concepção de trabalho educativo. Essa educação em voga ao negar o acesso aos conhecimentos historicamente construídos colaborando para a alienação dos indivíduos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKKARI, Abdeljalil. Internacionalização das políticas educacionais: transformações e desafios. Petrópolis: Vozes, 2011. OLIVEIRA, Ramon de. O empresariado industrial e a educação brasileira. Jan/Fev/Mar/Abr, 2003, Nº 22. Disponível em: www.scielo.br/pdf/rbedu/n22/n22a06 . Acessado em: 25/05/ 2014. SCAFF, Elisângela Alves da Silva. Diretrizes do Banco Mundial para a inserção da lógica capitalista nas escolas brasileiras. In: A teoria do valor em Marx e a educação. Vitor Henrique Paro (org.) 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 2013. EdUECE - Livro 3 04104