A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Título: A ética docente no Ensino Superior: Um respaldo para a qualidade das IES em Angola Autor: Filipe João Kose ISBN: 978-989--8440-01-X 2016 1.ª edição Todos os direitos reservados pelo autor Apoio: Escola Superior Politécnica de Malanje 2 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose A ÉTICA DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR: UM RESPALDO PARA A QUALIDADE DAS IES EM ANGOLA Filipe João Kose 3 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 4 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose A ÉTICA DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR: UM RESPALDO PARA A QUALIDADE DAS IES EM ANGOLA Filipe João Kose 5 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose ÍDICE PREFÁCIO…...………………………………………………..9 INTRODUÇÃO………………………………………………17 1. Contextualização do Ensino Superior em Angola………….21 1.1. Definição do Problema…………………………………25 2. Compreender a Ética……………………………………….27 3. Docente, Ética e Deontologia Profissional…………………29 4. Ética no Ensino Superior…………………………………...33 4.1. Importancia da Ética no Ensino Superior……………...34 4.2. Relação DocenteDiscente…………………………….256 5. Ética Deontológica de Kant……………………………….39 6. Distinção entre Ética e Moral……………………...……….42 7. Deontologia Profissional…………………………………...46 8. Ensino dos Valores Éticos e Atitude Profissional………….48 9. Relacionamento com os Colegas…………………………...50 10. Relacionamento Extrapedagógico……………………...…52 6 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 11. Quadrinómio da Ética……………………………….…….53 11.1. Conceito de Felicidade……………………………….53 11.2. Conceito de Virtude………………………………….57 11.2.1. Divisão da Virtude……………………………59 11.3. Conceito de Justiça…………………………………...63 11.4. Conceito de Consciência Moral………………………66 11.4.1. Classificação da Consciência Moral…………..67 11.4.2. A Próposito do Conceito Moral……………….68 12. Tipos de Ética……………………………………………..53 12.1. Ética Profissional…………………………………..53 12.2. Ética da Virtude…………………………………...75 12.3. Ética do Cuidado…………………………………..78 13. Caracteristicas do Bom Profissional………………………82 14. Apresentação dos Resultados……………………………..85 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS………….…92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………..97 7 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 8 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Prefácio: As lágrimas vertidas durante o tempo desta elaboração, ser-me-ão gratificantes quando esta obra for lida pelos milhares de docentes, a cuja classe pertenço. Mais um desafio académicocientífico me é colocado nas mãos e, acredito, esmerar-me para dignificar a confiança que FILIPE KOSE depositou em mim para prefaciar a sua obra com o título “Ética Docente no Ensino Superior: Um respaldo para a qualidade das IES em Angola”. Organizo, inicialmente, as minhas ideias com uma descrição resumida de FILIPE KOSE, considerando-o um jovem lançado ao saber e dedicando-se ao processo de aprendizagem, como caminho para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. A dissertação de mestrado, da qual nasce a presente obra, cuja defesa tive o privilégio de “apadrinhar” configura-se numa elaboração que 9 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose premeia os esforços almejantes a uma coerente preparação científica de Kose, conducente a um adequado exercício profissional. Como quadro dirigente de uma Instituição de Ensino Superior, Kose tem procurado ser um elemento exigente, organizado e cumpridor das suas tarefas como responsável. Tais qualidades permitem a Kose desenvolver as suas actividades organizativas e docentes com um carácter forte de que é portador, granjeando confiança e reconhecimento no seio da sua colectividade funcional. Quanto à obra, em si, apresenta uma estrutura adequada e na discussão dos conteúdos o autor dá a conhecer sustentar as os suas argumentos ideias. pertinentes Manifestando para a sua modéstia, Kose reconhece que vivemos «Novos tempos, com novas visões, impõem uma ou várias reflexões sobre a ética da mudança»1 respeitando assim a complexidade e transversalidade do assunto 1 KOSE, Filipe João. Obra em análise. P. 17 10 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose de que se propôs discutir e trazer opiniões válidas para qualquer docente. A obra em apreço organizada em pontos e sub-pontos mostra um profundo percurso sobre a matéria nas distintas vertentes passíveis de facilitar uma abordagem científica, por um lado, e por outro, uma compreensão fenomenológica mais coerente. O tratamento filosófico e teórico inicia com uma apresentação do percurso e estado actual do subsistema do ensino superior em Angola cujas transformações sustentadas nas Linhas Mestras ainda transcorrem com a implementação das regiões académicas desde 2009. Uma aproximação inevitavelmente, um à recurso ética ao implica, pensamento aristotélico, reconhecendo deste modo a existência e importância das suas impressões sobre a matéria. O autor da obra em apreciação não se colocou à margem deste procedimento, de tal modo que retomou a explicação aristotélica, assumindo como 11 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose ponto de partida a sua epistemologia. No prosseguimento da sua abordagem, posso afirmar que Kose lançou-se para um campo de acção muito movediço, tendo em conta a complexidade existencial do assunto, assim como a classe submetida à avaliação (o docente). Verifico que o autor considera relevante o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem, por isso tem em conta que: Em toda sua actividade profissional, o professor deve colocar em primeiro lugar o brilhantismo, a ética e a deontologia profissional. Quando procede desta maneira, o professor estará em condições de responder e de corresponder com a dimensão funcional da sua tarefa.2 Retomo o posicionamento analítico de Kant sobre a ética de que Kose soube aproveitar para, referindo como ponto de partida a afirmação de que «[…] neste mundo e também fora dele, nada é 2 KOSE, Filipe João. Obra em análise. P. 29 12 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação, a não ser uma só coisa: uma boa vontade.»3 Neste sentido, o professor deve possuir a boa vontade para transmitir claramente os conhecimentos, as experiências e os valores culturais aos seus alunos, assim como adquirir as experiências dos mesmos que sempre têm alguma coisa para transmitir e aprender. Numa perspectiva filosófica, psicológica, sociológica e, até mesmo antropológica, Kose estabelece o “quadrinómio da ética” definindo os elementos de felicidade, virtude, justiça e moral. O autor explora, profundamente, as particularidades de cada um desses elementos para servir de pilar de sustentação da funcionalidade do conceito de ética na sua plenitude. O autor termina a sua obra com os resultados obtidos durante a sua pesquisa sobre o assunto. Disto 3 Idem. P. 39 13 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose se responsabiliza cada leitor, de analisar e conferir a importância que considerar pertinente, pois se constatam dados importantes para sustentar a necessidade deste estudo por parte do autor. Corroborando com Kose, sustento que: […] a acção educativa só pode ser desempenhada por quem acredite que não se limita a transmitir um conteúdo programático, mas que contribui para a formação integral de pessoas imbuídas de um sentido de estar na sociedade, que é o mesmo que dizer, de cidadãos. Ensinar é ter esperança numa sociedade mais justa e solidária, livre e democrática que saiba evoluir no claro e oneroso respeito pela tradição e pela identidade individual que a todos convém no usufruto colectivo.4 Assim sendo, recomendo honestamente a leitura desta obra, porque transporta consigo profundidade, responsabilidade e criatividade de FILIPE JOÃO KOSE. Carlos Yoba 4 Idem. P. 95 14 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Professor Titular Reitor da Universidade Lueji A’Nkonde Carlos Pedro Cláver Yoba, Magnífico Reitor da Universidade Lueji A’Nkonde (ULAN), na IV Região Académica de Angola, desde 2015, foi anteriormente Pró-Reitor desta mesma Instituição Universitária, desde 2009. Licenciado em Psicologia, pelo Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED); Mestre em Educação, pelo Instituto Superior Pedagógico “Enrique Jose Varona”, de Cuba; Doutorado em Ciências Pedagógicas, pelo Instituto Central de Ciências Pedagógicas, também de Cuba. É autor de diversas publicações e artigos científicos. Da sua extensa bibliografia faz parte, por exemplo, o livro intitulado: «Exercício da profissão vs formação universitária», o qual escreveu em coautoria com o Prof. Doutor Francisco Chocolate, actual Vice-Reitor para a Extensão e Cooperação da Universidade 11 de 15 Novembro (III Região A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Académica de Angola). 16 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose ITRODUÇÃO A presente obra pretende reflectir sobre a questão da ética docente no Ensino Superior em Angola e, em particular, na Universidade Lueji A’Nkonde (ULAN), afecta à IV Região Académica. Vive-se, na República de Angola, o momento em que a Universidade Agostinho Neto (UAN) já deixou de ser a única instituição pública de Ensino Superior, abrindo lugar à criação de mais sete novas Universidades públicas, nas actuais VIII Regiões Académicas do País. Os primeiros licenciados, por estas Universidades e suas respectivas Unidades Orgânicas, iniciaram os estudos universitários em 2009 e estão agora, como licenciados, no mercado de trabalho. Mas surgem algumas dúvidas; desde logo: que licenciados são estes? Que docentes os terão formado? Novos tempos, com novas visões, impõem uma ou várias reflexões sobre a ética da mudança. 17 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose As mudanças, sempre que ocorrem, não surgem de forma linear e, principalmente, quando se escreve sobre elas, nunca se sabe muito bem distinguir o que é essencial, do que é acessório. As contribuições provenientes de pesquisas científicas farão parte, certamente, do essencial e vêm permitindo a construção de novas abordagens para o conjunto de problemas educacionais evidentes na contemporaneidade e, talvez, um dos parâmetros a ser prioritariamente considerado nas análises possa ser o da valorização da ética profissional docente. A intenção deste trabalho não será a de se extinguir por si só, tudo abarcando e nada deixando para outras considerações. Pretende-se sim, portanto, tecer alguns pensamentos, suficientemente aprofundados e necessariamente críticos, com a esperança de que sejam tomados por verdades, pela comunidade académica, em torno da importância da ética docente e da moral da angolanidade, desafiando reflexões simplistas, quando o tema é tão complexo. Deste modo, alinhavaram-se contribuições bibliográficas, baseadas em definições e conceitos de ética e, o que ela (a ética), contribui para a educação, educadores e educandos. Far-se-á, ainda, um paralelo, entre mitos e realidades, para que possam emergir amplos debates que tragam 18 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose como resultado um compromisso ético maior, por parte dos docentes do Ensino Superior no exercício da sua profissão. A ética está, mais do que nunca, presente nas conversas e na vida quotidiana das pessoas, a respeito do comportamento do ser humano e o seu estudo é imprescindível num quadro de desempenho profissional que se pretende da mais elevada qualidade na formação dos homens e mulheres da Nação, decorrente da correspondência com a nova ordem social. Porém, num primeiro momento, abordar-se-á, apenas, a ética docente universitária, onde se analisará se será mito ou realidade encontrar-se em défice na universidade angolana. Delinear-se-á, pois, o assunto de maneira a focar a ética profissional, fazendo distinção sobre a do docente e a de outros profissionais. Não se pretendeu, como já se disse, explorar demasiadamente os vários significados do termo “ética”, mas sim levar à guisa de discussão os enunciados: ética como sendo aquilo que o Homem traz dentro de si, como diferença única entre o Bem e o Mal; como atitude psíquica deste mesmo Homem perante um problema; atitude moral ou estado de espírito; carácter ou modo de ser; ou seja, entroncando naquilo 19 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose que Aristóteles designava como sendo o perfil de valores de uma sociedade. Ao escolher-se o tema, foi com intenção deliberada de o reactualizar, trazendo-lhe novos conhecimentos, entretanto adquiridos durante a formação académica do autor e, a partir das pesquisas bibliográficas documentais, retirando-se ilações relevantes para a possível aplicação à realidade angolana, no que concerne à formação dos docentes e à aplicação de um código de ética. Para a execução da presente obra, optou-se pelo método quantitativo e a utilização da metodologia de projecto que consiste numa forma de trabalho baseada na resolução de problemas que surgem da necessidade de se corresponder a um desejo; isto é, o de resolver ou de enfrentar um desafio, superando-o. A investigação-acção, como projecto da acção transformadora, está alinhada com a concepção de força inovadora, tendo como finalidade última a melhoria da acção educativa aliada a um desenvolvimento profissional sustentado em valores e sustentável na sua práxis mais ampla. 20 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 1- COTEXTUALIZAÇÃO DO ESIO SUPERIOR EM AGOLA A criação de sete Regiões Académicas, com base no Decreto n.º 5/09, de 7 de Abril, do Conselho de Ministros, visou a expansão e reorganização da rede de Ensino Superior na República de Angola, sua adequação às necessidades de crescimento do país e melhoria da sua qualidade, a todos os níveis. Este aspecto concreto, constituiu um marco na política educativa do sub-sistema de Ensino Superior, estabelecendo a reorganização da rede de instituições do Ensino Superior Público e o redimensionamento da vetusta, no contexto nacional, Universidade Agostinho Neto (UAN). Esta nova metodologia de gestão do Ensino Superior Público tem como finalidade a expansão, ordenada e adequada, aos grandes objectivos estratégicos de desenvolvimento económico, social, tecnológico e comunitário da sua área de inserção, em conformidade com os programas governamentais. Promover um maior equilíbrio no aparecimento de 21 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose instituições de nível superior e diferentes cursos em todo o país são outros dois objectivos preconizados pelo projecto governamental, cuja meta é a implantação, de forma faseada, do estabelecimento público de ensino superior em cada uma das 18 províncias. O aumento da oferta vai favorecer a sedentarização de quadros nas regiões de origem, assim como a recepção de jovens oriundos de outras províncias, ao mesmo tempo que se alcança um maior equilíbrio na distribuição de recursos humanos qualificados. Contudo, a dinâmica de desenvolvimento de Angola leva a constantes adequações administrativas e, mormente, académicas. Para o efeito, no decurso do ano de 2014 foi criada uma nova Região Académica, a VIII (Decreto Presidencial n.º 188/14 de 4 de Agosto), como consequência da divisão da VI Região, tendo agora a seguinte distribuição: I Região Académica (províncias de Luanda e Bengo) – Universidade Agostinho Neto; II Região Académica (províncias de Benguela e Kwanza Sul) – Universidade Katyavala Bwila; III Região Académica (províncias de Cabinda e Zaire) – Universidade 11 de Novembro; IV Região Académica (províncias da Lunda Norte, Lunda Sul e Malanje) – 22 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Universidade Lueji A’Nkonde; V Região Académica (províncias do Huambo, Bié e Moxico) – Universidade José Eduardo dos Santos; VI Região Académica (províncias da Huíla e Namibe) – Universidade Mandume Ya Ndemufayo; VII Região Académica (províncias do Uíge e Kwanza Norte) – Universidade Kimpa Vita e, finalmente, VIII Região Académica (províncias do Cuando Cubango e Cunene) – Universidade Cuito Cuanavale. Fruto do redimensionamento da UAN que foi, durante mais de 30 anos, a única instituição de ensino superior pública, as suas acções ficam restringidas à província-capital e ao Bengo. Outra conquista alcançada pelo sector, com a descentralização, foi a autonomia das diversas instituições que será exercida nos domínios científico, pedagógico, cultural, disciplinar, administrativo e financeiro. A liberdade académica, gestão democrática, qualidade de serviços, o papel do colégio reitoral, como equilíbrio da rede de instituições de Ensino Superior, constituem os quatro principais pontos deste subsistema. Para atender às expectativas 23 e demandas da A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose comunidade académica angolana, a qual vem crescendo significativamente, desde o fim da guerra civil (2002), os reitores empossados têm-se comprometido em trabalhar para a dignificação das instituições que dirigem, através da melhoria da qualidade do corpo docente e discente, em prol da promoção da investigação científica, num triângulo virtuoso assente nos vértices de ensino, investigação e extensão. Comprometeram-se, igualmente, a trabalhar para uma gestão transparente e responsável das verbas públicas atribuídas, bem como para a abertura de novas áreas de formação, no sentido de melhor servirem a sociedade, tendo em conta o tecido socioeconómico e industrial de cada região em que estão enquadradas, na sua especificidade. O ano de 2009 terá sido, mesmo, dos mais importantes neste desígnio, até pela entrada em funcionamento de novas instituições de ensino superior público, como foram os casos dos Institutos Superiores do Bengo, Cunene e Cuando Cubango, o ISCED de Buco Zau (Cabinda) e a Faculdade Medicina (Malanje), por exemplo. Para a concretização deste projecto ambicioso que visa aumentar, gradualmente, a oferta educativa e diversificação das 24 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose áreas de formação, não só a nível de graduação (bacharelato e licenciatura), mas também de pós-graduação académica (mestrado e doutoramento), as unidades deverão apostar nos quadros estrangeiros para suprir a carência de docentes internos, bem como no recrutamento de novos quadros no mercado nacional que se forem entretanto formando, através de bolsas de estudos no exterior. 1.1. Definição do Problema Tendo em conta as políticas do governo angolano, no que diz respeito à qualidade do Ensino Superior em Angola, verificou-se atentamente a relação docente – aluno, como um dos factores mais importantes para colmatar algumas dificuldades que se têm verificado no subsistema de Ensino Superior. Este é, pois, um dos grandes desafios vividos nas Instituições de Ensino. Pode-se notar a existência de más práticas ou conduta dos docentes, no relacionamento com os alunos, assim como no cumprimento das normas que enferma o Ensino, retirando-lhe a qualidade, conforme é desejo expresso do executivo angolano? 25 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Perante o exposto e pelas observações do dia-a-dia, até pelas conversas tidas com colegas sobre este tema, considera-se que o problema que se depara é o seguinte: Há falta de ética de alguns docentes no processo de ensino e aprendizagem na Universidade Lueji A’konde (ULA). Uma vez identificado o problema inicial do presente estudo, algumas questões podem ser colocadas; a saber: ● Será que a falta de ética dos docentes tem influência sobre o seu desempenho profissional? ●● Se sim, de que modo a falta de ética dos docentes influencia o desempenho dos alunos? ●●● Se sim, como a falta de ética dos docentes prejudica a relação docente-aluno? Contudo, para se verificar e poder confirmar o problema anteriormente descrito, considera-se importante fazer uma avaliação da situação, relativamente ao tema em estudo, para que se possa definir futuramente um plano de intervenção, com vista a contribuir para a resolução ou, pelo menos, mitigação do problema que a todos aflige. 26 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 2. COMPREEDER A ÉTICA A “ética” é uma palavra que foi introduzida nas ciências, a partir dos estudos filosófico-científicos de Aristóteles. Desde logo, a palavra tem uma origem grega, a partir do termo “ethos” que quer dizer “carácter ou modo de ser”, traduzido mais tarde, pelo próprio Aristóteles, como hábito ou costume, ligando-se então umbilicalmente à “moral”. A ÉTICA é uma ciência prático-normativa que estuda as acções humanas, os princípios mais abstractos da vida moral do Homem; já a MORAL estuda os costumes temporais e regionais dos povos (Lau, 2005). Os problemas éticos, ao contrário dos prático-morais, são caracterizados pela sua generalidade. Por exemplo, se um indivíduo está diante de uma determinada situação, deverá resolvê-la por si mesmo, com a ajuda de uma norma que reconheça e aceita intimamente, pois o problema do que fazer nessa dada situação é um problema prático-moral e não teóricoético? Em princípio, sim. Mas, quando se está diante de um 27 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose momento em que, por exemplo, seja necessário definir o conceito de Bem para se poder avançar, então já se ultrapassam os limites dos problemas morais e está-se perante um problema mais geral, de carácter teórico, no campo de investigação da ética. Tanto assim é que diversas teorias éticas organizaram-se em torno da definição do Bem. Muitos filósofos acreditaram e crêem ainda que, uma vez entendido o que é o Bem, então descobrir-se-á imediatamente o que fazer diante das situações apresentadas pela vida. No entanto, existem diversas escalas do Bem, podendo equacionar-se sempre um Bem Maior. Apologisticamente, o aluno que não vai à escola, porque está a chover, está num grau de Bem menor, do que aquele que vai, uma vez que este terá o Bem Maior de aprovar. Deduz-se, pois, que as respostas encontradas não podem ser unânimes e, como tal, generalizáveis e que as definições de Bem variam muito de filósofo para filósofo. Para uns, Bem é o prazer (faltar à escola), enquanto que, para outros, é a utilidade (aprovação escolar) e assim por diante. 28 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 3. DOCETE, ÉTICA E DEOTOLOGIA PROFISSIOAL Enunciada aquela abordagem, para o processo de ensino e aprendizagem, defende-se agora que o docente universitário também é um “escultor” de mentalidades, sendo consequentemente um “pastor” que conduz o seu “rebanho” (alunos) pelos campos da vida. Ele prepara, forma e transforma com a sua influência as mentalidades e as consciências dos Homens. Desenvolve na sua actividade profissional uma tarefa fundamentalmente pastoral, de equilíbrio, de certeza e de razão (Yoba, 2010). Em toda sua actividade profissional, o docente deve colocar em primeiro lugar o brilhantismo, a ética e a deontologia profissional. Quando procede desta maneira, o docente estará em condições de responder e de corresponder com a dimensão funcional da sua tarefa. Neste sentido, tem como dever fundamental, inalienável e que só a ele lhe pertence de transmitir claramente os conhecimentos, as experiências e os valores culturais aos seus alunos, assim como adquirir as experiências 29 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose dos mesmos que sempre têm alguma coisa para transmitir e aprender, numa troca de saberes. Por isso, na modesta opinião do autor, existe a necessidade imperiosa de se motivar e estimular o discípulo para que ele possa realmente “carregar a sua cruz”, pois que o caminho do conhecimento pode ser solitário e é deveras árduo e cheio de tormentos e sofrimentos, seguindo as pegadas pastorais. Esta profética posição, digerida ainda que de forma simplista, torna o discípulo num elemento passivo, simplesmente cumpridor das orientações do seu mestre, sem ter espaço para opinião investigativa, integradora de novas aprendizagens e própria de uma postura activa. Para satisfazer este desiderato é, assim, inevitável que o docente universitário cumpra com isenção, modéstia, honra, brio e um elevado sentido de responsabilidade esta espinhosa, contudo honrosa tarefa de ensinar e educar. Nos meandros desta discussão, considera-se que a tarefa do docente universitário não é fácil de ser desempenhada e que está sujeita a inúmeras tentações. O poder sempre foi alvo das mais vis tentações (assédio, abuso de autoridade, discriminação negativa, etc.) e o docente tem, desde logo, o 30 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose poder de fazer aprovar ou, pelo contrário, reter o aluno; quase como que um poder divino entre vida (aprovação escolar) e morte (retenção escolar). Como refere Jennings (2006: 116): «A vida é um banquete e a maior parte de nós está esfomeada.» Neste entretanto, a fragilidade humana pode interferir negativamente no seu labor, criando situações inusitadas para a sua profissão. Em conformidade, o docente universitário deve, em primeiro lugar, lutar por todos os meios ao seu alcance contra todas as influências perniciosas, capazes de ferir a sua ética e deontologia profissionais. A principal responsabilidade da formação de quadros nos mais variados níveis de ensino, é, sem dúvida, do docente. O futuro de um país depende primordialmente da quantidade e qualidade de quadros que formar, numa estreita relação entre as necessidades do país e as do indivíduo, enquanto sujeito das transformações endógenas e exógenas da sociedade (Yoba, 2010). Frei João Domingos (2003), citado por Yoba (2010), defendeu que o docente universitário tem a árdua missão de formar os verdadeiros agentes e defensores da identidade cultural de um povo. Veja-se a magnitude da missão! O Povo 31 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose que não se identifica com a sua Universidade, do mesmo modo que a Universidade que não se identifica com o seu Povo, não têm razão de existir, nem coexistência possível. Seria preferível uma cisão entre ambos e, naturalmente, todos perderiam. Se se pretende construir uma Universidade séria, responsável e transformadora, então deve-se travar um amplo combate, acérrimo e sem tréguas, às tendências de incubação do “vírus” da corrupção, do individualismo exacerbado, do egoísmo taoista (no pior sentido, de auto-contemplação narcisista), do egocentrismo destruidor, da preguiça que amolece o espírito, da violação do sigilo profissional e da simples luta pelo alcançar do “canudo”, porque estes males interferem grandemente na ética e na deontologia profissionais de todos os trabalhadores da Universidade. 32 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 4. ÉTICA O ESIO SUPERIOR A didáctica no Ensino Superior não pode tratar exclusivamente dos procedimentos voltados à facilitação da aprendizagem dos estudantes. Na verdade, as principais dificuldades com que se deparam os docentes deste nível de ensino não se referem propriamente à formulação de objectivos, ou à selecção de conteúdos ou, ainda, à determinação das estratégias de ensino e procedimentos a serem adoptados na avaliação do ensino. As principais questões referem-se à maneira como os docentes se relacionam com os estudantes, com os seus colegas, com a instituição e, até, com a própria cadeira que ministram. Questões dessa natureza não podem ser facilmente respondidas, pois que envolvem considerações acerca do é “bom” ou “mau”, do que é “justo” ou “injusto” ou do que “vale” ou “não vale” a pena. Referem-se, portanto, à questão magna dos valores. 33 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose As dificuldades que envolvem a abordagem destas questões não podem, no entanto, conduzir ao encerramento de uma obra sem que as questões éticas subjacentes à didáctica no ensino superior sejam olvidadas. Nos últimos anos, muito tem sido escrito e debatido acerca de questões éticas no ensino superior, em decorrência principalmente das estratégias adoptadas por muitas instituições para cooptar e, assim manter, os seus alunos. Em Angola, tal má prática recebe o nome de “pedido”, mas o mesmo recurso em Portugal chama-se “cunha” e, no Brasil, assume a dualidade de “QI” (significando o sujeito Que Indica o outro para a vaga) e “QE” (o sujeito Que Empurra o outro para a vaga, ainda que a mesma não exista), os quais assemelham-se, pelo menos no acrónimo, ao “QI” (Quociente de Inteligência) e “QE” (Quociente Emocional) que são abordados, com propriedade, na Psicologia, o que não deixa de ser interessante. Conforme se pode verificar, o “mal” não é, então, estritamente angolano, mas sim transversal à diversidade geográfica. 4.1. Importância da Ética Docente no Ensino Superior A ética está presente em discussões a respeito do comportamento humano e, nos seus estudos, é sempre 34 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose necessário aquilatar das necessidades das pessoas orientarem os seus comportamentos, de acordo com a nova realidade social. Deste modo, a ética é um daqueles temas que passou a figurar como um dos grandes eixos de preocupação e discussão entre as pessoas, surgindo de reflexões sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto, enquanto a moral retrata as nossas acções e condutas no mundo em que habitamos (Vasquez, 2003). Pode assim, em teoria, algo ser eticamente reprovável (prostituição, por exemplo), porém moralmente aceite (a mesma prostituição na Holanda, por exemplo). O estudo sobre a ética docente é, apesar disso, um outro estudo, cuja importância será tanto maior, quanto as teorias que postulam a existência axiológica do estabelecido pela própria sociedade e, já agora, pela realidade; portanto traduz-se válida em qualquer lugar. A expressão “ética”, numa determinada sociedade, permite-se ser usada, por vezes, para criticar os comportamentos desviantes numa determinada instituição colectiva ou singular, encontrando-se presente em todas as profissões, pois cada trabalho tem suas normas de conduta a serem cumpridas. É através dela, da ética, que os valores morais devem ser pensados, reflectidos e não impostos, antes 35 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose desenvolvidos pelos educandos na arte do diálogo construtivo socrático, de busca e resposta. Ela exige uma postura de acção com responsabilidade, habilidades de oferecer respostas mais adequadas à comunidade académica, neste caso. A sua importância é de tal ordem, na busca de atitudes criativas, como no resgate dos valores, que ela procura incessantemente complementar o trabalho formativo que se realiza no quotidiano, através de actividades práticas, porque a ética pratica-se e ensina-se, ainda que Jennings (2006: 152) considere que «[…] não é possível ensinar ética a estudantes universitários. […]. […] mas é possível ensinar medo. O medo de ser apanhado é uma forte motivação […].» 4.2. Relação Docente-Discente A relação docente-discente é invariavelmente complexa, porque abarca diferentes aspectos, desde logo a questão da atitude (de ambos os lados), mas também o próprio carácter pessoal, referente aos êxitos ou inêxitos dos alunos, reforçando ou, pelo contrário, enfraquecendo a autoconfiança de ambos e a aprendizagem. Portanto, é necessário primar-se pela vertente ética, a 36 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose fim de que possa existir uma tão eficaz, quanto eficiente relação didáctica e, porque não dizê-lo, empática com os alunos. De acordo com Rogers (1986) a boa relação entre docente e aluno facilita a aprendizagem deste último. De igual modo, quando a relação entre ambos não é sadia, isto parte através da violação de princípios éticos, o aluno acaba odiando até a própria cadeira, porque docente e aluno tenderão a fixar-se unicamente nos seus aspectos formais, esquecendo totalmente a grande beleza da aprendizagem. A este respeito, Jennings (2006: 157) afirma que, «A beleza da ética está no facto de ser uma estratégia ao alcance de todos. A maioria das pessoas rejeita-a imediatamente e perde as grandes recompensas que ela oferece.» De que adiantará, então, o docente determinar objectivos, seleccionar conteúdos, definir estratégias de ensino, buscar recursos e proceder a meios de avaliação, se depois não valoriza os princípios éticos, deformando toda a relação que deve estabelecer com o aluno? Logo, pode inferir-se que a ausência de ética, entre docentes e alunos, prejudica a relação de ensino-aprendizagem. Contudo, a falta de ética dos docentes influencia no 37 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose desempenho dos alunos? O aluno é considerado um dos actores dentro do processo de ensino e aprendizagem; isto significa que ele tem um espaço por direito a ser gerido por si (aluno), mas orientado pelo docente. A falta de cumprimento de regras e directrizes éticas por parte do docente pode causar um comportamento desviante por parte do aluno atingido, inquestionavelmente levando-o a um desempenho negativo. E a falta de ética dos docentes tem influência no seu desempenho profissional? O desempenho profissional traz consigo um conjunto de elementos importantes na sua funcionalidade profissional. O bom profissional, cimeiramente, deve ser portador de uma consciência profissional e, ainda que secundariamente, tem por obrigação assumir a sua responsabilidade no desempenho das suas actividades como profissional. Deve, no entanto, ficar claro que esta assumpção, ainda que posterior, não é (de modo algum) inferior àquela. A influência no desempenho profissional encontra-se em duas linhas fundamentais: 38 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 1.ª – Desempenho positivo, quando o sujeito em causa é capaz de responder com as demandas da sua actividade com responsabilidade, dedicação, zelo, cumprimento e competência; 2.ª – Desempenho negativo, quando o sujeito não está habilitado a responder e, consequentemente, corresponder às exigências da sua profissão (Yoba, 2010). 5. ÉTICA DEOTOLÓGICA DE KAT Kant (1995: 25) apresenta a ética como sendo a «[…] teoria dos costumes, a ciência que se ocupa das leis da liberdade. Procura descobrir os fundamentos das normas do agir moral, como por exemplo não deves mentir.» No tocante à mentira, ou falta de verdade, Jennings (2006: 153), parafraseando o célebre escritor Mark Twain refere: «Diz sempre a verdade. Dessa maneira não tens que te lembrar de nada.» Para o cumprimento deste desejo, Kant (1724-1804) toma como ponto de partida a afirmação de que, neste mundo e também fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação, a não ser uma só coisa: uma boa vontade. 39 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose O conceito de “Dever” não é de natureza empírica. A ideia de uma acção por “dever” é absolutamente e a priori uma vontade determinada pelas leis da razão mais racional de se estar ou fazer parte de um mesmo grupo ou sociedade e, este mesmo “dever” é o alicerce do “direito”, sendo ambos gumes de uma mesma navalha. Assim sendo, a determinação da vontade pelas leis objectivas da razão constitui uma obrigação. Kant conduz a sua axiomática desta forma, até à distinção entre imperativos hipotéticos e categóricos: Os hipotéticos representam a necessidade prática de uma ação possível como meio de alcançar qualquer outra coisa que se quer (ou que é possível que se queira). O imperativo categórico seria aquele que nos representasse uma ação como objetivamente necessária por si mesma sem relação com qualquer outra finalidade. (Kant, 1995: 52) Torna-se, portanto, evidente que apenas os imperativos categóricos se constituem em imperativos de moralidade e, por isso, é tarefa essencial de uma filosofia moral pura estabelecer como são possíveis tais imperativos. O imperativo categórico, porque não pode apoiar-se em 40 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose nenhum pressuposto empírico é absoluto, não podendo ser demonstrado através da experiência. Contudo, este imperativo deve conter uma máxima que expresse o carácter necessariamente universal da lei prática, agindo apenas segundo uma premissa tal que possa, ao mesmo tempo, querer que se torne lei universal e particular. Esta é a formulação básica e mais célebre do imperativo categórico. No entanto, para além desta existem outras: Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar pela tua vontade, em lei universal. Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio. A vontade não está pois, simplesmente submetida a lei, mas sim submetida de tal maneira que tem de ser considerada também como legisladora ela mesma. (Kant, 1995: 68) 41 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 6. DISTIÇÃO ETRE ÉTICA E MORAL Savater (2005: 51) debruça-se, grandemente, sobre as diferenças entre Ética e Moral: Moral: é o conjunto de condutas e normas que tu, eu e alguns dos que nos rodeiam costumamos aceitar como válidas; ética é reflexão sobre o porquê de as consideramos válidas, bem como a sua comparação com outras morais, assumidas por pessoas diferentes. A ética também estuda a responsabilidade do acto moral; ou seja, a decisão de agir numa situação concreta é um problema prático-moral, mas investigar se a pessoa pôde escolher entre duas ou mais alternativas de acção e agir de acordo com sua decisão já é um problema teórico-ético, pois verifica a liberdade ou o determinismo ao qual os nossos actos estão sujeitos. Se o determinismo é total, então não há mais 42 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose lugar ou espaço para a ética, pois se ela se refere às acções humanas e se essas mesmas acções estão totalmente determinadas de fora para dentro, então não haverá qualquer margem para a liberdade individual, para a autodeterminação e, consequentemente, para a ética. A ética trata do bem e do mal, já se disse, das normas morais, dos juízos de valor (morais) e que faz uma reflexão sobre todo este conjunto, o qual não é hegemónico. Indo no mesmo sentido, Nunes (2009: 02), citando Ricoeur, afirma que é «procurar uma vida boa, com e para com os outros, em instituições justas.» A ética tem igualmente por objecto a «[…] determinação do fim (objectivo) da vida humana e também dos meios a alcançar.» (Russ, 2000: 107). A ética pode, também, contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral. Assim, se a ética revela uma relação entre o comportamento moral e as necessidades e os interesses sociais, ela ajudar-nos-á a situar no devido lugar a moral efectiva, real, do grupo social a que pertençamos. Por outro lado, ela permite-nos exercitar uma forma de questionamento, onde nos colocamos diante do dilema entre “o que é” e o “que deveria ser”, tal como o Dilema de 43 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Kohlberg permite enfatizar, imunizando-nos contra a simplória assimilação dos valores e normas vigentes na sociedade e abrindo no Ser Humano a possibilidade da desconfiança de que os valores morais vigentes possam estar encobrindo interesses que não correspondam às próprias causas geradoras da moral. É complexo, mas pode ser verdadeiro. A reflexão ética também permite a identificação de valores petrificados que já não satisfazem mais os interesses da sociedade a que servem, tendo caducado ou evoluído. A um outro nível, o pensamento de Gilian (1982) opõe-se ao de Kohlberg (1982), na medida em que aquela preconiza uma ética do cuidado, da responsabilidade e do envolvimento, enquanto este advoga uma ética da imparcialidade, da autonomia e da independência; mas de uma independência extrema, de não “sujar as mãos”, sob que pretexto for. Teixeira (2010) procura levar a ética para o campo do desempenho nas organizações, referindo-se a que: Ética é a disciplina do conhecimento acerca do que é bom e mau, certo e errado, dever moral ou obrigado. No plano empresarial, a ética tem que ver com os comportamentos e a tomada de decisões, ou seja, as escolhas efectuadas face a uma pluralidade de hipóteses, tendo como pano 44 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose de fundo o conceito de moralidade aplicado aos negócios. Seja como resposta às decisões de indivíduos que usam as suas posições institucionais (gestores, nomeadamente) em proveito próprio, ou aos prejuízos que algumas organizações provocam no nosso ambiente social e natural, ou aos sofrimentos que impõem […]. (Teixeira, 2010: 212) 45 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 7. DEOTOLOGIA PROFISSIOAL A docência é considerada, por todos os participantes no estudo do autor relativa à sua tese de mestrado (Kose, 2015), como uma actividade essencialmente ética, quer pelas finalidades da acção educativa, quer pela exigência de rigor profissional e moral no seu juízo de desempenho. A dimensão ética da docência reside na contribuição prestada para a formação da personalidade do aluno. O docente tem o dever de ajudar o aluno através da transmissão cultural para a construção da sua personalidade, facilitando a sua afirmação própria, isto segundo Durkheim (2001). É ao docente, pela sua prática pedagógica e pela sua atitude profissional, que é suscitado o quadro ético-moral do aluno, ao possibilitar-lhe os meios necessários à sua própria construção, fazendo surgir e desenvolvendo o “sujeito ético”; espécie de Hommo ethos, capaz de responsavelmente se integrar 46 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose e reconhecer no todo social, como único, mas também fazendo parte de todos os demais. Deste modo, percebe-se que a educação é realizada em função de determinados princípios éticos e de um determinado quadro de valores que condicionam o exercício da profissão e expressam a sua concepção, circunscrevendo claramente um código deontológico. Menezes (2000) não se opõe à formalização de um código desta natureza para a profissão, mas obstaculiza a sua aceitação à condição da existência de inúmeras reservas. A consciência da existência de quebras deontológicas confirma a assumpção, interiorizada nos docentes, de normas profissionais que permitem distinguir o correcto do incorrecto, o justo do prepotente. 47 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 8. ESIO DOS VALORES ÉTICOS E ATITUDE PROFISSIOAL Devido à importância dos valores, aspectos éticos e atitude profissional devida aos estudantes, à medida que os mesmos vão adquirindo um conhecimento maior de outros temas, seria vantajoso e, quiçá, até apropriado integrar o ensino da ética em distintas matérias. Os estudantes necessitam de entender que os valores e atitudes profissionais estão invocados no processo de ensino, como a mão pede o tacto, o nariz o olfacto, o ouvido a audição ou a vista a visão. Docentes e estudantes devem valorizar e analisar de forma crítica e reflexiva as suas práticas e, se tal for mesmo necessário, enquadrá-las em códigos de ética ou de conduta. A este respeito, Luís (2013) refere que um ou outro instrumento (código de ética ou de conduta) traduzem, em princípio, uma preocupação relativa aos padrões de desempenho interno e externo. No sector empresarial, é muito corrente existirem este tipo de códigos, como declarações de princípios ou ideários que, 48 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose muitas vezes, mais não passam, do que boas intenções criadas pelo marketing e colocadas pomposamente pelas chefias nas paredes onde laboram os funcionários. Ainda assim, sugere-se que, devem considerar-se todos os pronunciamentos nesta matéria como mais um esforço positivo para criar confiança nos profissionais e no seu desempenho, tendo porém de examinar-se as normas éticas de outras profissões e discutir outras possibilidades. Resumindo, é certo que os valores e os aspectos éticos afectam o trabalho docente e o seu comportamento ético é tão importante, quanto a sua capacidade técnica. Por isto, os candidatos à docência, antes da sua admissão, devem poder frequentar um período probatório de capacitação, a fim de se observar a aplicação de valores e da ética. 49 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 9. RELACIOAMETO COM OS COLEGAS As obrigações no meio académico não são apenas para com os estudantes, mas também com os colegas e demais agentes educativos, já que estes são membros da mesma comunidade. Cabe, pois, aos docentes um tratamento deferente e respeitoso, para com todos, na estrita defesa não apenas da sua integridade, como da própria classe que representam, tanto do ponto de vista individual como colectivo. Amiúde são conhecidos casos que mancham o bom nome e a honra a que qualquer ser humano tem direito, divulgados por vezes cobardemente em boatos e, muitas mais vezes, amplificados pelas redes sociais, em julgamentos sumários na praça pública, pelo que se adverte o docente para se abstrair deste tipo de comportamentos que a todos lesa, preservando-se e preservando os seus colegas, porque como expõe Jennings (2006: 151) «Uma reputação, boa ou má, tanto pode ajudá-lo como persegui-lo. A boa significa apenas que acaba a corrida em primeiro lugar.» 50 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Por outro lado, há ainda a considerar neste ponto a questão do plágio, a que muitos ainda recorrem, como foi noticiado recentemente o caso de um ex-ministro alemão a quem viu ser-lhe retirado o grau de Doutor por este tão famigerado costume. Dentro deste contexto há, também, a considerar más práticas como as perpetuadas por certo tipo de docentes que, a pretexto dos seus múltiplos afazeres encarregam outros para os seus trabalhos, conforme refere Singer (1990: 24): O Rabi não tinha tempo, nem paciência para estudar ou escrever […], referia-se ao que Herman lhe fazia como investigação. Na realidade, Herman era um fantasma nos livros do Rabi, nos seus artigos, nas suas palestras. Ou ainda este outro tipo de comportamento nada abonatório para quem o pratica: Especializei-me em biologia, trabalhei com o Professor Wolkowski e ajudei-o numa descoberta importante. Na realidade eu fiz a descoberta, embora ele (tivesse) recebido o crédito. […]. As pessoas que pensam que os ladrões só se encontram na rua […]. Há ladrões entre professores, artistas, […]. Os ladrões comuns geralmente não se roubam, mas muitos cientistas vivem literalmente do roubo. Sabe que Einstein roubou a sua teoria a um matemático que o estava a ajudar e ninguém, na verdade, 51 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose sabe o seu nome? (Singer, 1990: 128). 10. RELACIOAMETO EXTRAPEDAGÓGICO Uma ocorrência relativamente comum no ensino superior é o relacionamento romântico, por vezes até extraconjugal, entre docentes e estudantes. Embora possa ser considerado como algo muito natural nos dias de hoje e pertencente ao domínio da esfera privada de cada qual, tais relacionamentos podem conduzir a situações muito constrangedoras para uns e outros, podendo facilmente perder-se os valores da isenção, da justiça, da equidade, etc. Também por isto, é melhor que o(a) docente evite qualquer tipo de interesse pessoal por um(a) estudante que possa ser mal interpretado e levar a caminhos menos éticos. Conforme refere Lowman (2004), mesmo que um(a) docente acredite que o relacionamento estabelecido com um(a) estudante possa evoluir para uma situação mais duradoura, a pior hora para a iniciar é aquela em que o(a) estudante esteja matriculado(a) na sua cadeira. É, portanto, preferível deixar 52 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose correr o tempo e, se algo tiver de suceder, que ocorra num tempo posterior, não envolvendo já a relação docente-discente. 11. QUADRIÓMIO DA ÉTICA Não é possível falar-se em ética sem se focarem quatro elementos-chave: Felicidade, Virtude, Justiça e Consciência moral. 11.1. Conceito de Felicidade A felicidade, para Aristóteles, consistia na plena realização das próprias capacidades. É o «conjunto das acções dos fins particulares para os quais elas tendem a subordinaremse a um fim último que é o bem supremo.» (Kury, 1985: 56) A felicidade humana, termo tão em voga nestes tempos de globalização, tem proveniência na Grécia antiga, onde Tales de Mileto julgava por feliz quem tivesse corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada. Quanto a Aristóteles insistiu no carácter contemplativo da felicidade e, no seu grau superior, a bem-aventurança, mas apresentou uma noção mais ampla de 53 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose felicidade, identificando-a com certa actividade da alma, realizada em conformidade com a virtude. Este termo também tem proveniência latina, felicitas; cujo significado tem estado de satisfação, devido à situação no mundo. Cada Homem julga correctamente os assuntos que conhece e é bom juiz de tais assuntos. Assim, alinhando por este diapasão, o Homem instruído a respeito de um assunto é um juiz em relação ao mesmo, de semelhante modo que o Homem que recebeu uma instrução global é um bom juiz em geral. Em palavras, o acordo quanto a este ponto é quase geral; tanto a maioria dos Homens, quanto as pessoas mais qualificadas dizem que este bem supremo é a felicidade e consideram que viver bem e ir bem equivale o mesmo que a ser feliz; quanto ao que é realmente a felicidade, a maioria das pessoas não sustenta opinião idêntica à dos sábios. A maioria pensa tratar-se de algo simples e óbvio, como o prazer, a riqueza material ou as honrarias, mas até pessoas componentes da maioria da população diverge entre si e, bastas vezes, as mesmas pessoas identificam o bem com coisas diferentes, dependendo das circunstâncias em que se encontrem. Por exemplo, se não tiverem saúde irão querer tê-la, sendo esta a sua maior (e por 54 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose vezes única) felicidade. Se, por outro lado, forem ignorantes em alguma matéria, elas vão admirar aqueles que propõem alguma coisa grandiosa e acima da sua compreensão, sendo esta a sua felicidade. Todavia, seria talvez fastidioso e, porventura, infrutífero, de certo modo, examinar todas as opiniões sustentadas a este respeito; bastará examinar as mais difundidas ou as, aparentemente, mais razoáveis para se ficar com uma ideia correcta. Para Aristóteles, a felicidade humana ou então o seu bem, deviam fundamentar-se no princípio da racionalidade (actuação da razão), pois, o Homem é essencialmente racional: pensa desde que acorda, até que dorme. No entanto, esta consideração (actuação da razão como fundamento da felicidade humana), não é de tipo determinista, já que o filósofo considera também outros aspectos no Homem, não menos importantes, que o conduzem à felicidade: a realização das próprias actividades (cada um é feliz, enquanto exerce bem a sua tarefa); a satisfação ou realização das faculdades dos sentidos (prazer). Dai que, a felicidade aristotélica implique o prazer e a contemplação. Também quem, ao contrário, evita os prazeres torna-se 55 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose insensível. As riquezas materiais não são indispensáveis à felicidade, embora o acumular de certas quantidades de bens sejam nefastas ao ser humano, por se tratarem não já do necessário, mas do opulento, entregando-se o Homem ao despudor e à lascívia, sendo Deus de si mesmo e entregando-se a uma contemplação espúria de sentidos, sem ser mais perturbado por outras preocupações. Como se vê, o ideal aristotélico de felicidade é semelhante ao ideal descrito por Platão no “Filebo”: é uma mistura doseada de prazer e de razão. É um ideal bem menos ascético do que o descrito por Platão na “República” e do que foi seguido por Sócrates. Aristóteles não crê que o justo seja propriamente feliz no meio dos sofrimentos. O meio para se conseguir a felicidade é a virtude. Por virtude, Aristóteles entendia o hábito de escolher o justo meio. Quem o estabelece é o sábio. A definição completa soa assim: a virtude é uma disposição para escolher, consistindo ela na escolha do justo meio, não se sabendo muito bem onde começava e onde terminava, sendo no entanto relativo à nossa natureza humana, efectuada segundo um princípio racional e fixado pelo Homem prudente. 56 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Por outras palavras, a virtude consistia no hábito de praticar acções que estivessem no meio, entre dois extremos ou excessos. Daí o dito popular e bem conhecido: “in medio stat virtus” (no meio está a virtude). Portanto, segundo Aristóteles os excessos quer da moderação quer da intemperança não ajudam o Homem a ser virtuoso. Entre as várias virtudes apontadas pelo filósofo, importa sublinhar a justiça que, segundo o próprio, era a principal entre as virtudes morais. Impelia o Homem ao respeito pelas leis, disse-se. Regia o comportamento do homem em relação aos outros, escreveu-se. 11.2. Conceito de Virtude A Virtude é uma disposição intencional, consistindo em um meio-termo (meson), determinado por um princípio racional, um meio-termo entre dois tipos de vícios, um por excesso e outro de escassez (Cooper, 2000). Virtude, em latim virtus ou vertude. Este termo designa uma capacidade qualquer ou excelência, seja qual for a coisa ou o ser a que pertença. Esta noção de virtude exprime primeiro que todo o 57 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose poder e, de um modo mais geral, toda a força advém da vontade. Neste sentido, as concepções que reduzem as virtudes ao domínio de si, ligam-se ao mérito e «[…] estão mais próximas da etimologia do que a tese epicurista que associa a uma procura da felicidade.» (Duroszoi, 1997: 386). O caminho ideal para se alcançar a felicidade é, segundo Aristóteles, a virtude. E esta, depende imediatamente da escolha do bem que se pretende para nos guiar no caminho do bem, na busca do seu fim último, sabendo sempre que fim é infinito, pelo que ao ser humano apenas estarão reservados certos “fogachos” de felicidade, durante toda a sua vida. Tratase, pois, de escolher o justo meio ou a justa medida, consistindo ela em praticar acções que se localizam na média entre dois extremos ou excessos, num percurso linear onde estão proibidos, em certa medida, os “atalhos”. Assim sendo, o Homem é chamado ao virtuosismo (moderado, corajoso, …), em função da sua plena realização e felicidade, pois que aquele que foge ou teme todas as coisas, por precaução desmedida e inusitada, não enfrentando coisa alguma, não passará de um tímido incapaz de lidar com a coisa real que se afigure como estando no seu horizonte. No entanto, aquele que também não teme nada e 58 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose enfrenta tudo, torna-se temerário e perderá igualmente os “gozos” da vida, pois quem goza todo o tipo de prazer, indiscriminadamente, não renunciando a nenhum, torna-se intemperante. A virtude designa também, e por extensão, a eficácia ou aptidão real para agir que pertence com propriedade a um objecto. Luís (2013), apoiando-se na definição da Direcção Geral da Administração Pública Portuguesa (DGAP) para eficácia define a mesma como sendo «a relação entre o objectivo definido e o impacto ou resultado alcançado» e por eficiência «a relação entre os produtos/serviços obtidos e os recursos consumidos para o efeito.» A virtude moral é uma disposição adquirida ou, pelo contrário, inata habitual para realizar o bem, distinguindo-se em virtudes particulares que consistem em realizar certo tipo de actos moralmente bons (lealdade, prudência, humildade, bondade, etc.). 11.2.1. Divisão da Virtude Aristóteles divide a virtude em dois grupos principais: virtudes do intelecto ou dianoéticas e virtudes morais. 59 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Para Mondin (2003), as virtudes dianoéticas são as que concorrem para o desenvolvimento e o funcionamento das faculdades intelectivas. Para ele, as virtudes dianoéticas são cinco: ciência intuitiva (nous), ciência intelectiva (episteme), sabedoria (sophia), arte (téchne) e ciência prática (phrónesis). A sabedoria é uma síntese de ciência indutiva e intelectiva. O seu objecto é o fim, ao passo que o objecto das ciências práticas são os meios. Desde o ponto de vista da psicologia e, fundamentalmente de Mesquita (1997), as virtudes morais são as que presidem ao controlo das paixões e a escolha dos meios aptos para a consecução dos fins. As virtudes morais mais importantes são as quatro virtudes chamadas de cardeais, nomeadamente duas: a prudência e a coragem. A prudência corrige o intelecto; isto é, torna-o capaz de avaliar com exactidão a bondade ou a malícia. Por outras palavras, o carácter moral de uma acção que é a «[…] temperança corrige o apetite (concupiscível) e a fortaleza, o apetite (irascível) justiça rege o comportamento do homem em relação aos outros homens.» (Mesquita, 1997: 10) 60 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Já a coragem, por exemplo, é uma virtude, desde que esteja no meio entre a temeridade e a covardia ou, como Aristóteles teria dito, cautela exagerada. As virtudes são divididas em duas classes – as “intelectuais”, discutidas apenas no final do livro e as “éticas”. Uma lista dessas virtudes “éticas” (ethikai aretei) parece a muitos leitores um conjunto muito peculiar – o trio platónico de coragem, temperança e justiça, mas também amizade, ambição nobre, indignação justa, espirituosidade e muitas outras. Mas isso acontece apenas, porque os leitores, enganados pela tradução habitual de “ virtudes morais”, esperam encontrar uma lista do que agora se julga obter sob esse rótulo. Em termos gerais, trata-se da disposição em cumprir com as nossas obrigações ou com as nossas promessas, quantas vezes adiadas ad eternum (até à eternidade). Chegados a este ponto, não deixará de ser estimulante proceder a um paralelismo com as antigas divindades gregas, designadamente que «Há, na tradição grega, nove musas, filhas de Zeus e Mnemósina (associadas a nove virtudes: eloquência, persuasão, sageza, conhecimento, matemática, astronomia poesia, música e dança).» (Fiolhais & Marçal, 2013: 48) 61 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Alguns concluem que não se fazem esforços, na via do “melhoramento” humano, porque qualquer tentativa de vincular os dois tipos de virtudes (intelectuais e éticas) seria contraproducente. Se dedicar-se à contemplação é de facto o ideal, então simplesmente não há lugar para um “intruso” interesse ético. Conforme explica Brito (2007), para o ser contemplativo, as exigências de amizade, bondade, magnanimidade, justiça e outras coisas do mesmo género só atrapalham e complicam. Aristóteles distingue os seres humanos, das demais criaturas, pelo uso da mente ou intelecto e a capacidade de raciocinar a ele associada. Assim, a função do Homem é essencialmente uma actividade da alma, em concordância estrita com um princípio mais racional de viver a vida. Esta definição leva, facilmente, ao conceito de “eudaimonia” apresentado por Aristóteles, como uma actividade da alma, em concordância plena com a virtude perfeita, pois a virtude é, precisamente, a excelência das actividades racionais bem conduzidas e o ser que professa o eudemonismo será aquele que busca a existência de uma vida feliz, singular e colectivamente; isto é, no indivíduo e, simultaneamente, no grupo a que pertence, através de acções 62 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose (julgadas) eticamente positivas. 11.3. Conceito de Justiça O termo justiça tem proveniência latina justia que significa a ordem das relações humanas ou a conduta de quem se ajusta a essa ordem. Podem distinguir-se dois significados principais de justiça: Um: A justiça como conformidade da conduta a uma norma; Dois: A justiça como eficiência de uma norma (ou de um sistema de normas). O primeiro significado é utilizado para julgar o comportamento ou a pessoa humana. O segundo é utilizado para julgar as normas que regulam o próprio comportamento. Aristóteles dá-nos a ideia de justiça, afirmando que, uma vez que o transgressor da lei é justo enquanto é justo quem se conforma à mesma lei, é evidente que tudo aquilo que se conforma a ela (lei) é, de alguma forma, justo. De facto, as coisas estabelecidas pelo poder legislativo conformam-se às leis 63 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose e dizemos que têm de ser justas, uma vez que são iguais para todos, sem a abertura discricionária de excepções à sua letra (da lei). Neste sentido, segundo ainda Aristóteles, a justiça é a virtude integral e perfeita; integral, porque compreende todas as outras e perfeita, porque quem a possui pode utilizá-la não só em relação a si mesmo, mas também em relação aos outros. (Guimarães, 2001) A justiça é a disposição da alma, muito graças à qual ela se dispõe a fazer o que é justo, a agir justamente e a desejar o que é justo de maneira idêntica. Diz-se que a injustiça é a disposição da alma graças ao qual elas agem injustamente. Determinamos, portanto, enquanto sentido o que se diz de uma pessoa ser injusta. O termo “injusto” aplica-se tanto às pessoas que infringem a lei, quanto aos indivíduos ambiciosos (no sentido de quererem mais do que aquilo a que têm direito, segundo a lei), enquanto o justo será aquele que, conforme a lei, é correcto, sendo o injusto o ilegal e o iníquo. Então, a justiça neste sentido é a essência da virtude perfeita, mas em relação ao próximo. Concluindo que a justiça é, frequentemente, considerada a mais elevada forma de relacionamento com outrem. 64 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Com efeito, é pela razão que se considera a justiça como um bem ou uma bênção, em relação aos outros; de facto, ela relaciona-se com o próximo, pois faz o que é vantajoso aos outros, quer se tratando de um governante ou de um governado, pois que a justiça é uma companheira de todas as horas da própria comunidade. O pior dos Homens é, pois, aquele que põe em prática a deficiência da moral, quanto em relação a si mesmo, quanto em relação aos outros. E o melhor dos Homens não é aquele que põe em prática a sua moral efectiva em relação a si mesmo, mas sim em relação aos outros, pois esta é uma tarefa difícil de ser executada. Também por isto, Hunter (2013) enfatiza tanto o papel do líder não como o de um chefe autoritário que manda de cima para baixo (top down), esperando ser obedecido, mas sim como um humilde servidor de todos os outros, pois que «[…] o papel da liderança é servir, isto é, identificar e satisfazer as necessidades legítimas. É esse o processo de satisfazer necessidades a quem servimos.» (Hunter, 2013: 108). Ainda que o mesmo acrescente, certamente em jeito de recado, que «Intenções menos ações é igual a nada. Todas as boas intenções do mundo não significam nada se não forem acompanhadas 65 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose pelas nossas ações.» (Hunter, 2013: 110). Neste sentido, a justiça não é uma parte da essência da moral, mas a sua dimensão inteira; nem o seu contrário, a injustiça, é uma parte da deficiência da moral inteira. A existência da injustiça é indicada pelo facto de que, enquanto as pessoas que mostram em acção as outras formas de deficiência moral, agem realmente de maneira errada. 11.4. Conceito de Consciência Moral A consciência moral é a dimensão ética e crítica que avalia racionalmente as acções ou actos humanos como bons ou maus. É a dimensão ética que avalia racionalmente as acções ou actos humanos, adequando-os à virtude ou ao vício. Um acto moral pressupõe um sujeito dotado de uma consciência moral; ou seja, uma pessoa cuja consciência é capaz de discernir o bem do mal, por possuir um aparelho cognitivo suficientemente desenvolvido, e de orientar os seus actos, julgando-os segundo o seu valor. Pode ainda ser definida como sendo a faculdade que permite ao Homem avaliar o bem e o mal no seu comportamento interno. 66 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 11.4.1. Classificação da Consciência Moral A natureza da consciência moral classifica-se em: interna e externa. Interna, porque há comportamentos normativos da consciência pessoal do sujeito que são diferentes dos do colectivo – que o sujeito leva para o grupo. Externa, porque há normas de valor colectivo que não dependem do interior do sujeito e os quais deverão ser aceites e interiorizados para harmonia da sociedade (entre o individuo e a sociedade) (Lau, 2005). Lau (2005) entende a natureza da consciência moral, como pressupondo dizer que todo o acto moralmente humano se apresenta como sentimento de uma pessoa ou de um povo; raciocínios de um povo ou normativos definidos por um povo para a sua regência. A consciência moral está estruturada da seguinte forma: a) Complexidade, porque a sua própria natureza complexa, interna e externa, não facilita a compreensão exacta dos diferentes modos de actuação das pessoas; b) Evolutiva, porque os actos estão em constante evolução, o que não permite ter uma conduta única em todos os tempos e em todos os momentos da vida em comunidade; c) Dialéctica, porque os elementos 67 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose interagem uns com os outros, por exemplo, a partir das normas pode-se identificar a maneira de sentir de um povo e do seu pensamento (Lau, 2005). 11.4.2. A propósito do Conceito de Moral Moral é uma palavra latina que surge do termo moris, que significa conduta costumeira do povo. A moral estuda os hábitos e costumes de um povo, um sistema público informal aplicável a todas as pessoas racionais que rege o comportamento que afecta os outros e tem como objectivo a diminuição do mal ou dano e inclui o que comummente se reconhece como regras morais, ideais morais e virtudes morais. Dizer que é um sistema público significa que todos aqueles aos quais se aplica devem entendê-lo não como deve ser irracional para ser usado ao decidir o que se fazer e no julgamento dos outros aos quais o sistema se aplica, mas para o próprio bem da communis (comunidade que a todos pertence). Embora haja uma concordância predominante quanto à maioria dos assuntos morais, certas questões controversas devem ser resolvidas de maneira ad hoc ou, simplesmente, ficar sem solução, sendo que esta última opção pressupõe (ainda 68 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose assim) uma escolha. Por exemplo, a questão muito pungente do aborto. É aceitável? Trata-se de uma questão moral insolúvel, mas cada sociedade e religião pode adoptar a sua própria posição, no tempo em que vive, o que significa que a mesma poderá ser alterada no futuro, pela mesma sociedade ou religião, servindo então para “apaziguar” certos espíritos mais frenéticos. O facto de a moral não ter ninguém em posição de autoridade é um dos aspectos mais importantes em que ela difere da lei e da religião. De facto, ninguém no seu juízo perfeito poderá arvorarse como o arauto da moral. Ainda que a moral deva incluir as regras morais comummente aceites, tais como as que proíbem matar e enganar, sociedades diferentes podem interpretar essas regras de maneira também diferente. Podem, inclusivamente, diferir as suas ideias sobre o âmbito da moral; isto é, sobre se a moral protege neonatos, fetos ou, no entanto, poderão ter “morais” um pouco diferentes, embora essa diferença possa ter limites. Do mesmo modo que: Como pai, por exemplo, se permitisse que os meus filhos fizessem tudo o que queriam, acho que nenhum de vós iria querer passar um dia em 69 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose minha casa, porque as crianças iriam estar a correr sempre de um lado para o outro, a gritar, e teríamos uma “anarquia” […]. Dando o que as crianças querem, estou seguro de não estar a dar aquilo de que precisam. As crianças e os adultos necessitam de um ambiente com limites, de um lugar onde haja padrões estabelecidos e onde as pessoas sejam responsáveis. Elas podem não querer limites nem responsabilidade, mas elas precisam de limites e de responsabilidade. Não fazemos nenhum favor a ninguém ao dirigir lares ou departamentos indisciplinados. […] as pessoas têm a necessidade de receber estímulos para se tornarem o melhor que puderem ser. Talvez isto não seja aquilo que querem, mas o líder deve estar sempre mais preocupado com as necessidades do que com as vontades. (Hunter, 2013: 90-91) Assim, dentro de cada sociedade, também uma pessoa pode ter a sua própria posição, sobre quando ou se se justifica violar ou não uma das normas, ainda que haja quem assegure que aquele que violar uma das regras não estará apenas violando uma, mas todas, quebrando deste modo o seu contrato com a sociedade. Por exemplo, sobre quando se justifica violar uma das normas para enganar alguém, com as tais mentiras “piedosas”. Portanto, a moral de uma pessoa pode diferir, em certa medida, da moral de outra, mas ambas concordarão num número 70 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose esmagador de casos não controversos. Uma teoria moral é uma tentativa de descrever, explicar e, se possível, justificar a moral. Infelizmente, a maior parte das teorias morais tentam gerar algum código moral simplificado, em vez de descrever o complexo sistema moral que já está em uso. A moral não resolve todas as disputas. A moral não exige que alguém opere sempre de modo a produzir as melhores consequências ou que ajamos unicamente da mesma maneira como queremos que cada um actue connosco. Inclui, ao contrário, tanto as regras morais que ninguém deve transgredir, como os ideais morais que todos são encorajados a seguir, ainda que muitas acções que pratiquemos não sejam regidas pela moral, mas pelo instinto óbvio da sobrevivência (Frias, 2010). 71 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 72 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 12. TIPOS DE ÉTICA 12.1. Ética Profissional Muitos autores definem a ética profissional, como sendo um conjunto de normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. Seria a acção “reguladora” da ética, agindo no desempenho profissional, fazendo com que o mesmo respeite o seu semelhante, aquando do exercício da sua profissão. A ética docente estudaria e regularia o relacionamento do profissional com os estudantes e outros agentes educativos, visando a dignificação humana e a construção do bem-estar no contexto sociocultural onde se exerce a profissão. Ela atinge todas as profissões e, quando se fala de ética docente, estamos nos referindo ao carácter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão, a partir de estatutos e códigos específicos. Assim, tem-se a ética docente, médica, do advogado, do biólogo, do bibliotecário, etc. Acontece que, em geral, as profissões apresentam a 73 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose ética firmada em questões muito relevantes que ultrapassam o campo profissional em si. Questões como a corrupção, assédios, maus tratos, relacionamentos indesejáveis e outros são questões morais que se apresentam como problemas éticos, porque pedem uma reflexão profunda e, um profissional, ao se debruçar sobre elas, não o faz apenas como tal, mas como um pensador; ou seja, como um “filósofo” da sua ciência ou da profissão que exerça. Desta forma, a reflexão ética entra na moralidade de qualquer actividade profissional humana. Sendo a ética inerente à vida humana, a sua importância é bastante evidenciada na vida laboral, pois que cada profissional tem responsabilidades individuais e responsabilidades sociais ou corporativas, envolvendo pessoas que dela beneficiam ou são partes interessadas da organização (stakeholders). A ética é, ainda, indispensável ao profissional, porque na acção humana “o fazer” e “o agir” estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. Já o agir referese à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho da sua profissão. 74 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose A ética baseia-se numa filosofia de valores compatíveis com a natureza e o fim de todo ser humano, por isto mesmo, “o agir” da pessoa humana está condicionado a duas premissas consideradas tanto básicas, quanto essenciais pela ética: “O que é o Homem” e "Para que vive o Homem”; isto é, qual a sua missão no planeta Terra. Logo, toda a capacitação científica ou técnica precisa de estar em conexão ou consonância, com os princípios essenciais da Ética. Constata-se, então, o forte conteúdo ético presente no exercício profissional e a sua desmesurada importância na formação dos recursos humanos, sendo que é difícil alguém chamar “recurso humano” a um pai, uma mãe ou a um filho; contudo, fazemo-lo à desdita de melhor terminologia, já que “capital humano” também não se apresenta como alternativa melhor. 12.2. Ética da Virtude Também chamada de ética baseada na virtude ou ética baseada no agente assume concepções ou teorias de moral, nas quais as virtudes exercem um papel principal ou independente. Assim, é mais do que simplesmente a descrição das virtudes 75 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose oferecidas por determinada teoria. Alguns consideram que a principal exigência é a respeito do teórico moral – e que ao planejar pormenorizadamente a estrutura do nosso pensamento moral, ele deveria concentrar-se nas virtudes. Neste tipo de ética as virtudes são independentes de outros conceitos morais; nestas exigências, a respeito do que são o carácter ou a acção moralmente virtuosos, na sua maior parte, nem são redutíveis a estas exigências subjacentes a respeito da obrigação ou dos direitos morais ou a respeito daquilo que é impessoalmente valioso, como nem justificadas com base nelas. Ela pode ser também firmemente interpretada, como sustentando que as virtudes morais são mais fundamentais do que os outros conceitos morais. Numa ética como esta da virtude, as virtudes são fundamentais; isto é, exigem a respeito de outros conceitos morais que sejam redutíveis às exigências subjacentes a respeito das virtudes morais ou que sejam justificados com base nelas. Para Aristóteles, a relação entre realização e virtude parece conceptual. (Ele concebia as virtudes morais como disposições para optar sob a guia apropriada da razão e definiu a vida realizada como vida vivida de acordo com essas virtudes). 76 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Enquanto a maioria das descrições das virtudes se relacionam à realização da pessoa virtuosa, existem outras possibilidades. Em principio a realização à qual a virtude está ligada (quer causal, quer conceptualmente) pode ser aquela da própria pessoa virtuosa ou, então, aquela de algum sujeito dependente que é o recipiente (receptáculo) do seu comportamento virtuoso ou, ainda, de algum grupo mais amplo por ela afectada – a comunidade do agente, talvez ou toda a humanidade ou mesmo toda vida sensitiva em geral. 12.3. Ética do Cuidado Segundo uma visão predominantemente feminina, serão justamente qualidades como generosidade e consideração pelo(a) outro(a) que darão forma à capacidade de descentramento do sujeito, relativamente a si mesmo, para se colocar no lugar do outro; e esta sua atitude constitui a primeira condição do que Noddings (1986) denomina como Ética do Cuidado. Ética do Cuidado é apreender a realidade do outro, empaticamente, sentir o que ele sente, tão fielmente quanto possível, do ponto de vista daquele que cuida: do cuidador. E 77 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose isto, porque se eu torno a realidade do outro como possibilidade minha, começando a senti-la como real, então sinto também que devo agir em conformidade; isto é, sou impelido a agir, como se em meu próprio benefício, só que em benefício do outro. Pode não ser, para muitos, uma forma de virtude, mas ao contrário das virtudes aristotélicas, uma virtude fundada menos na razão, do que no sentimento, menos em regras e princípios, do que na fé e no compromisso pessoal para com o outro. Ser moral significa, nesta perspectiva, alimentar uma relação de cuidado e servidão, desenvolvendo o ideal de si mesmo, como aquele ou aquela que cuida. Noddings rejeita a noção de universalização que, na sua óptica, significa que uma acção moralmente justificável se torna, por isso, obrigatória para qualquer pessoa em circunstâncias semelhantes, como se a individualidade e a circunstancialidade do sujeito-agente fossem irrelevantes para a tomada de decisão moral. Esta forma de pensar vem na senda de Gillian (1982), para quem a Ética do Cuidado é não só distinta duma ética centrada na justiça como também, em certa medida, rivaliza com ela (Sorell, 2000), como se de uma voz diferente se tratasse; espécie de “Grilo Falante”, no livro inspirador de Carlo Collodi 78 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose “Pinóquio”, na sua versão em português. Tal concepção assenta no pressuposto de que existe um contraste entre as respostas masculinas e femininas aos problemas que envolvem a decisão moral, como terão revelado os testes ou dilemas morais realizados por Kholberg, junto de adolescentes. Na óptica de Kholberg, as respostas masculinas seriam conformes a um modelo de raciocínio moral fundamentado em princípios abstractos, mais ou menos explícitos, o que é interpretado como sendo um estádio de desenvolvimento moral avançado; já as respostas femininas, vistas à mesma luz, seriam reveladoras dum menor desenvolvimento moral, por manifestamente revelarem uma maior preocupação com aspectos relacionais e afectivos. Estas respostas, na perspectiva de Gillian, são antes vistas como um sinal de maturidade moral e mostram que raparigas e rapazes desenvolvem, por força da educação a que são sujeitos, formas distintas de moralidade, se bem que complementares. Noddings (1986) afirma, ainda, que o primordial objectivo da educação deveria consistir em preservar e desenvolver uma atitude de cuidado, tanto no educador, como 79 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose no educando. Assim, a racionalidade em vez de ser o fio condutor da educação, deveria antes ser colocada ao serviço de qualquer coisa mais elevada, que seria exactamente o cuidado de servir o(a) outro(a). Daí que rejeite a visão de que a educação escolar deve ser dirigida para o desenvolvimento da racionalidade, enquanto a formação axiológica e emocional caberiam à Família ou à Igreja, como instituições-charneira da sociedade Então, o professor deveria ser (antes de mais) alguém que cuida, servindo altruisticamente, querendo isto significar como alguém que está mais atento às pessoas dos seus alunos, às suas carências, disposições e tempos próprios, do que aos conteúdos a ensinar, ainda que estes não devam ser descurados. Esta atitude de cuidado significa também dirigir o aluno, persuadi-lo no caminho da aprendizagem e da descoberta dos seus próprios interesses e projectos que irão determinar, afinal, aquilo que ele vai aprender. Neste sentido caberiam ao professor duas grandes tarefas: 1.ª Servir de mediador entre o aluno e o mundo, aumentando-lhe as perspectivas e multiplicando-lhe os ângulos de visão e 2.ª trabalhar em cooperação com o aluno, no seu reforço de se tornar apto para 80 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose viver bem nesse mundo. Nesta ordem de conformidades, a primeira de todas as tarefas do professor, no âmbito duma ética do cuidado, deveria ser a de alimentar o ideal ético do aluno e, por isso, a sua responsabilidade é aumentada. Pelo diálogo e pelo modo como se relaciona com os alunos, o professor é sempre modelo, porque uma ética do cuidado não deve ser ditada ou escrita, mas sim vivida e encorajada, o que quer dizer que, para o professor tornar os alunos pessoas mais atentas aos outros, deve ter com e para eles a mesma atitude, continuadamente e sem excepções que teria consigo mesmo ou com seus familiares próximos. 81 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 13- CARACTERÍSTICAS DO BOM PROFISSIOAL A todo o bom profissional são devidos créditos, quer pelas chefias, quer pelos colegas, sociedade ou outros, cabendolhe um conjunto muito alargado de predicados, os quais qualquer pessoa identifica com os seguintes: • Iniciativa; • Respeito; • Solidariedade; • Honestidade; • Lealdade; • Obediência; • Pontualidade; • Assiduidade; • Responsabilidade; • Humildade; • Optimismo; • Valorização profissional; • Sigilo; • Organização; • Competência; 82 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose • Auto-estima; • Respeito pelas convicções dos outros (políticas, religiosas, sexuais, associativas, étnicas, desportivas, etc.); • Encarar a mudança e a diversidade de tarefas como uma oportunidade de evolução e desenvolvimento profissional. Do exposto, facilmente se concordará haver (então) muito poucos bons profissionais. Contudo, não é do cumprimento estrito de todos os itens da lista que se trata, mas sim da observância do sentido da mesma. De que adiantará alguém cumprir, cabalmente, todos aqueles requisitos, se depois “enferma” na falta de ética? Será importante, ainda, fazer lembrar que as pessoas que mais se munem de informação, visitando assiduamente bibliotecas e outros espaços culturais, que lêem com frequência, participam de cursos, seminários, palestras e outros eventos sociais, estão mais actualizadas, do que aquelas que permaneçam estáticas, como que paradas na sua “redoma” profissional, estanques no tempo e no espaço sem se darem conta que tudo neste mundo globalizado acontece rápido de mais e o bom profissional tem que viver da curiosidade contínua 83 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose da sua profissão, nos desafios que a mesma o surpreende e na disposição incessante para aprender sempre coisas novas, tendo então mais possibilidades de progredir na sua carreira profissional, porque a ética é uma práxis diária e é “ciumenta” do profissional de excepção. 84 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 14. APRESETAÇÃO DOS RESULTADOS De acordo com os objectivos que se pretenderam atingir com este trabalho, cujo tema versou a ética docente, mormente no Ensino Superior, apresentam-se agora os dados, os quais foram obtidos através de inquérito por questionário realizado aos docentes de três instituições de ensino superior. A abordagem abrange a análise e explicação detalhada dos resultados realizados, durante a investigação feita no terreno. Assim sendo, segue-se a apresentação dos mesmos: Tabela 1: úmero de docentes que responderam ao questionário/Instituição Estabelecimento de Ensino em que lecciona Frequência Percentagem Esc. Sup. Politécnica de Malanje 20 60,6 Esc. Sup. Politécnica de Saurimo 7 21,2 Esc. Sup. Politécnica do Cuango 6 18,2 Total 33 100,0 (Fonte: Da pesquisa) O questionário foi respondido por 33 docentes angolanos, correspondendo estes a uma amostra aleatória do total da população docente da IV Região Académica, sendo 85 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose maioritariamente da Escola Superior Politécnica de Malanje (60,6%, n=20). Da Escola Superior Politécnica da Lunda Sul (vulgo Saurimo) participaram no estudo 7 docentes (21,2%, n=7) e 6 docentes da Escola Superior da Lunda Norte (Cuango) (18,2%, n=6). Este número, reduzido de docentes, a responderem ao questionário deve-se ao facto de grande parte dos docentes que aí leccionam serem estrangeiros, pelos motivos referidos no ponto 1 deste texto, aquando da contextualização. Como foi referido anteriormente, este estudo cingiu-se unicamente à prática ética do docente nacional, pelo que foi dirigido apenas a docentes angolanos. Tabela 2: Distribuição dos docentes inquiridos por género Masculino Feminino Total Género Frequência 27 6 33 Percentagem 81,8 18,2 100,0 (Fonte: Da pesquisa) Dos 33 docentes inquiridos, obteve-se um total de 27 86 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose docentes do género masculino, perfazendo o género dominante com 81,8% e apenas 6 do feminino com uma representatividade de 18,2%. Tabela 3: Distribuição dos docentes inquiridos por faixa etária 20 - 25 26 - 30 31 - 35 36 - 40 41 - 45 46 - 50 51 - 55 + 55 Anos Total Idade Frequência 2 4 9 7 5 3 2 1 33 Percentagem 6,1 12,1 27,3 21,2 15,2 9,1 6,1 3,0 100,0 (Fonte: Da pesquisa) A faixa etária com maior representação é a dos 31 a 35 anos com 27%; ou seja, pouco mais de ¼ do total, seguida pelo grupo etário de 36 a 40 anos com 21,2%. Trata-se, deste modo, de uma população bastante jovem para a docência universitária. 87 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Tabela 4: Experiência como docente no Ensino Superior/Universitário Frequência Percentagem Anos 0-5 23 69,7 6 - 10 5 15,2 11 - 15 1 3,0 16 - 20 1 3,0 21 - 25 2 6,1 + 25 Anos 1 3,0 Total 33 100,0 (Fonte: Da pesquisa) A maioria dos inquiridos, conforme seria de esperar, aliás, atendendo à sua pouca idade, tem menos de 5 anos de experiencia, o que perfaz 69,7% (quase ¾), equivalente a 23 docentes e 15,2% são docentes com menos de 10 anos de experiência num total de 5 docentes. Com mais de 11 anos de experiência, como docente no Ensino Superior/Universitário, foi inquirido apenas 1 docente, correspondendo a 3,0% do total dos docentes que aceitaram participar no estudo, o mesmo número daqueles que afirmaram ter mais de 25 anos de experiência docente universitária, o que levanta algumas dúvidas, atendendo ao contexto nacional, pouco favorável pela história do país. 88 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose Tabela 5: Grau académico dos docentes no Ensino Superior/Universitário Licenciado Mestre Doutor Total Frequência 17 15 1 33 Percentagem 51,5 45,5 3,0 100,0 (Fonte: Da pesquisa) Dos 33 docentes inquiridos, 17 são licenciados que corresponde a um pouco mais de metade da amostra (51,5%), 15 são docentes com o grau de mestre (45,5%) e 1 com o grau de doutor que corresponde a 3,0%. Tabela 6: Importância que atribuem à ética profissional docente Pouca importância Importância moderada Importante Muito Importante Total Frequência 2 8 5 17 32 Percentagem 6,3 25,0 15,6 53,1 100,0 (Fonte: Da pesquisa) Dos inquiridos, 2 docentes (6,3%) afirmam que os docentes universitários atribuem pouca importância à ética 89 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose profissional docente, 8 respondentes (25,0%) atribuem moderada importância ao assunto, outros 5 inquiridos (15,6%) atribuem importância à ética profissional, enquanto a grande maioria, 17 (53,1%) afirmam ser muito importante o assunto acima referido. Tabela 7: Grau de importância com que avalia a ética profissional docente no seu exercício profissional Pouca importância Importância moderada Importante Muito Importante Total Frequência 2 1 9 21 33 Percentagem 6,1 3,0 27,3 63,6 100,0 (Fonte: Da pesquisa) Dos 33 respondentes, 21 (63,6%) atribuem muita importância à ética profissional docente no seu exercício, sendo que 9 (27,3%) atribuem importância à ética profissional no exercício laboral, 1 dos inquiridos (3,0%) alega importância moderada e 2 (6,1%) afirmam ter pouca importância no seu desempenho. Estes valores estão em consonância com os da tabela anterior. 90 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose 91 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose COCLUSÕES E COSIDERAÇÕES FIAIS Em jeito de conclusão ou à guisa de conclusões, poderse-á dizer que, ao longo das pesquisas realizadas sobre o tema em questão, verificou-se mais do que uma vez a oportunidade de apreciar a grandeza dos diversos pensadores sobre o aspecto ético. A investigação realizada demonstra que os docentes suscitam apreço pela essência da ética na docência e o seu exercício como resposta à vocação sentida, a um gosto pessoal, não descurando elementos essenciais desta, tais como virtude, justiça, consciência moral e felicidade no seu exercício que, com estes, o ser humano diante da sociedade é submetido a atingir os valores éticos. De um modo geral, considera-se pertinente, na formação contínua dos docentes do ensino superior, a ética docente, sobretudo aos docentes da nova geração, isto para não colocar em causa o bom nome dos docentes universitários. Resulta ainda da investigação, o interesse dos participantes na formalização de um código deontológico que salvaguarde a qualidade do 92 serviço prestado e o A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose profissionalismo de quem o desempenha. A constituição de um corpo de deveres e direitos, procedimentos e práticas, condutas e juízos é apontado como um meio para salvaguardar os jovens de comportamentos inadequados e lesivos da sua formação quer como alunos e quer, ainda, como pessoas para a correcta autonomia da profissão. O código é entendido como um instrumento vivo que configure a prática docente actual, com todas as suas vicissitudes e constrangimentos decorrentes do uso exacerbado das novas tecnologias de informação e comunicação e que a elas vai buscar constantemente, a sua actualização e legitimidade ética, caracterizada como um conjunto de regras a orientar o relacionamento comunidade humano social. no seio Poder-se-á, de uma ainda, determinada admitir a conceptualização de uma ética deontológica, uma ética voltada para a orientação da actividade profissional docente especificamente, uma vez que ser docente não é o mesmo que ser bancário, médico, arquivista ou qualquer outra profissão. A Deontologia enquadrar-se-ia num quadro de valores e de regras, no sentido de orientar, disciplinar e regular a actividade do Homem, visando implicitamente estabelecer um 93 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose quadro normativo que possa padronizar positivamente essa vivência do humana em sociedade, diga-se vivência profissional, na medida em que procura estabelecer directórios à actividade profissional, sob o signo da rectidão moral, ética e honesta. Deste modo, a Deontologia parte do pressuposto de que a vida profissional não é alheia à ética, uma vez que a ética encerra em si mesma a ideia pertinente de valor, de rectidão, do agir segundo um determinado quadro de valores; valores estes fundamentais quer do ponto de vista interno – da moral, da sua própria concepção enquanto Homem –, quer externo, na relação social e do bem-estar da colectividade. Assim sendo, garantindo esses princípios de boa fé, de que a vida profissional se enquadra, também, nas normas éticas e morais, a Deontologia profissional elaborou um conjunto de normas no sentido de orientar essa mesma actividade profissional. Por fim, e em última análise, dir-se-á que Ética e Deontologia são da mesma essência, como faces de uma mesma moeda (cara e coroa), na medida em que, de forma mais abrangente, a Ética elabora os princípios morais, subjacentes a 94 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose todo o quadro comportamental humano em sociedade, enquanto a Deontologia, num círculo mais restrito, seria o da dimensão ética de uma profissão ou de uma actividade profissional. Do modo presente, a acção educativa só pode ser desempenhada por quem acredite que não se limita a transmitir um conteúdo programático, mas que contribui para a formação integral de pessoas imbuídas de um sentido de estar na sociedade, que é o mesmo que dizer, de cidadãos. Ensinar é ter esperança numa sociedade mais justa e solidária, livre e democrática que saiba evoluir no claro e oneroso respeito pela tradição e pela identidade individual que a todos convém no usufruto colectivo. Navegando no mesmo itinerário, o autor tem ainda por realçar que denotou-se a importância na elaboração de um código de ética para ser aplicado em todas as instituições de ensino superior em Angola, para facilitar a relação entre docentes e alunos, procurando desenvolver habilidades no docente, competências não apenas técnicas para fazer face sempre e referentemente a questões éticas durante as diferentes aulas que o docente ministra. Por este motivo, a Escola Superior Politécnica de Malanje foi pioneira na elaboração de um Código 95 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose de Conduta Docente, o qual entrou em vigor no Ano Académico de 2014. Infelizmente, por divergências várias com a Associação de Estudantes da ESPM, no outro pólo da relação docente-discente, não foi possível fazer aprovar idêntico instrumento regulador que pusesse termo ou “travão” a más práticas, como fraude (uso de cábula), plágio ou corrupção, assédio (material, moral ou sexual) a docente, por exemplo, só para citar as práticas mais gravosas ou indecorosas. 96 A ética docente no Ensino Superior/Filipe João Kose REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brito, A. (2007). Projetos e práticas de formação de docentes. São Paulo: Unesp – Universidade Estadual Paulista. Collodi, C. (1983). Las aventuras de Pinocho, Madrid: Anaya. Durkheim, E. (2001). Educação e Sociologia. Porto: Edições 70. Duroszoi, A. (1997). Dicionário de Filosofia. Paris: Editions Nathan. Fiolhais, C. & Marçal, D. (2013). Pipocas com telemóvel e outras histórias de falsa ciência. Lisboa: Gradiva. Frias, L. (2010). A ética do uso e da seleção de embriões. 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