CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSIENTE Condições variam com o tempo problema transiente ocorre quando as condições de contorno variam. 1°) Temperatura na superfície de um sólido é alterada e a temperatura no interior do sólido começa a variar 2°) Passa-se algum tempo antes que seja atingida a distribuição de temperatura estacionária O comportamento da temperatura dependente do tempo e da posição no sólido ocorre em muitos processos industriais de aquecimento e resfriamento A energia é transferida por convecção e radiação na superfície do sistema e condução no interior do sistema O problema transiente pode ser resolvido através de duas análises considerando: 1. A variação de temperatura no interior do sólido desprezível (variação com a posição) e somente há variação com o tempo: T(t) 2.A variação da temperatura do sólido com a posição e o tempo: T(x,t) Exemplos de aplicação: - tratamento térmico - lingote de metal quente removido de um forno e exposto a uma corrente de ar frio - produção de novos materiais com propriedades melhoradas - congelamento de alimentos 1) MÉTODO DA CAPACITÂNCIA GLOBAL - T(t) (sólido com resistência interna desprezível) Sólido submetido a uma variação térmica repentina. Ex: - Em t=0 uma peça metálica aquecida e na temperatura Ti é imersa em um banho líquido na temperatura T (Ti>T) - Para t>0 a temperatura do metal diminui até alcançar T. Isto se deve à convecção na interface sólido-líquido Considerando que: 1) a temperatura do sólido é espacialmente uniforme em qualquer instante durante o processo, o que implica que o gradiente de temperatura dentro do sólido é desprezível 2) da Lei de Fourier um gradiente desprezível implica a existência de uma condutividade térmica, k, infinita. Admite-se que a resistência interna à transferência de calor por condução dentro do sólido é muito pequena comparada à resistência externa entre a superfície e o meio (convecção) Esta aproximação é mais exata quanto maior for a relação entre a área superficial e o volume, ex: placas finas e fios. Desprezando os gradientes de temperatura no interior d sólido a análise não pode ser feita com a equação do calor. A resposta transiente da temperatura é determinada por: Balanço global de energia no sólido Taxa de perda de calor do sólido = Taxa de variação da energia interna E sai E ac hA( T ( t ) T ) Vc dT ( t ) dt Por conveniência se define: ( t ) T ( t ) T Substituindo resulta: Vc i ln t hA Esta equação é usada para determinar o tempo em que um sólido leva para atingir a temperatura T. Também pode ser usada para calcular a temperatura do sólido no tempo t. T ( t ) T hA exp t i Ti T Vc 1 O termo hA Vc onde é denominada de constante de tempo térmica, em s. E representa o tempo que levará um objeto à responder a qualquer variação no seu conteúdo térmico T ( t ) T 1 exp t i Ti T Por analogia: 1 R hA Resistência à T.C. por convecção ρVc = mc = C Capacitância térmica do sólido e então =RC Qualquer aumento de R ou C causará uma resposta mais lenta do sólido às mudanças no ambiente térmico e aumentará o tempo para alcançar o equilíbrio térmico. - A temperatura cai exponencialmente com o tempo, até alcançar T∞. - Quanto maior a massa do corpo e seu calor específico, menor e, por tanto, mais tempo leva para aquecer ou resfriar. A energia total transferida Q é: Q 0t qdt hA0t dt substituindo Q hA0t i exp( hA t )dt Vc hA Q Vc i 1 exp t (J) Vc ou –Q=Eac Q é + se o sólido experimenta um decréscimo na energia interna Q é – se a energia interna aumenta (sólido é aquecido) Validade do método – para que condições o método pode ser aplicado Para uma placa com uma superfície mantida à T1 e de temperatura T2 outra exposta a um fluido com T. Fazendo um balanço na superfície: kA ( T1 T2 ) hA( T2 T ) L T1 T2 L / kA Rcond hL Bi T2 T 1 / hA Rconv k Número de Biot – Bi: Razão entre as resistências interna e externa. Dá a medida do decréscimo de temperatura no sólido relativo à diferença de temperatura entre a superfície e o fluido. Bi=hL/k Se - Bi<<1 é razoável assumir uma distribuição de temperatura uniforme no sólido em qualquer tempo durante o processo transiente. (T(x,t)T(t)) - Aumentando o Bi o gradiente de temperatura dentro do sólido é significativo T(x,t). - Bi>>1 o gradiente de temperatura no sólido é muito maior que entre a superfície e o fluido. Para aplicá-lo testar se: Bi = hLcond/k < 0,1 onde Lcond é o “comprimento da condução”, que é definido para considerar outras formas geométricas, Lcond=V/A Geometrias unidimensionais: todas com característica de simetria geométrica e térmica - Parede plana Lcond=L (espessura 2L): - Cilindro longo Lcond=r/2 - Esfera Lcond=r/3 Número adimensional de Fourier – Fo Denominado tempo relativo Fo Difusividade térmica k c p t Lc 2 (m²/s) Assim a equação pode ser escrita em função de Bi e Fo: T ( t ) T exp Bi.Fo i Ti T A equação escrita com estes dois números generaliza a equação para diversos tipos geométricos. Os números de Bi e Fo caracterizam a análise transiente. Exemplo: Em um processo de fabricação esferas de bronze de 50 mm de diâmetro estão inicialmente a 120ºC e são submetidas a um processo de têmpera, que consiste em fazêlas passar através de um banho de água a 50ºC por um período de 2 min a uma taxa de 110 esferas por minuto. Se o coeficiente de transferência de calor convectivo é de 240 W/m²K, determine: a) A temperatura das esferas após o processo. b) A taxa de calor que deve ser removida do banho de água para manter sua temperatura em 50ºC. Esferas 120ºC Banho de água 50ºC c) A temperatura na superfície das esferas é diferente da temperatura no centro? Análise geral do MCG Outros processos induzem a condição térmica transiente no interior do sólido: - sólido pode estar separado da vizinhança por um gás ou pelo vácuo se a temperatura do sólido e da vizinhança forem diferentes a radiação pode causar variação da energia interna no sólido e na sua temperatura - fluxo térmico na superfície - início de um processo de geração de calor no interior do sólido (passagem de corrente elétrica por exemplo) Vizinhança Tv q" s As( a ) + q g - ( q" conv +q" rad ) As( c ,r ) = ρVc q" s As( a ) + q g - [ h( T - T∞ ) + εσ( T 4 - dT dt Tviz 4 )] As( c ,r ) = ρVc dT dt Solução: 1) ou por diferenças finitas 2) ou solução exata para condições simplificadas: Exemplo 1: sem q”, sem qg, sem convecção ( T 4 Tviz 4 ) As( c ,r ) Vc dT dt T As ,r t dT dt 4 4 Vc 0 Ti ( T Tviz ) t Vc 4As ,rT 3 viz Tviz T 1 T Tviz Ti ln ln 2 tan _ _ T T T Ti viz Tviz viz Exemplo 2: sem q” e sem qg, mas com convecção e radiação - [ h( T - T∞ ) + εσ( T 4 - Tviz4 )] As = ρVc Bi = Rcond Rconv + Rrad τ = ( Rconv + Rrad )C dT dt Ti tan 1 Tviz Gradientes de temperatura no interior do meio não são desprezíveis - Determinação da distribuição de temperatura no interior do sólido como uma função do tempo e da posição Parede exposta a um meio a T∞<Ti em t=0 Transferência de calor da parede para o meio Gradiente de temperatura na parede Problema da condução transiente unidimensional adimensionalizado Equação diferencial cuja solução envolve séries infinitas e equações transcendentais. Parede plana de espessura 2L: unidimensional, k constante e sem geração Equação diferencial 2T x 2 1 T ( x ,t ) t -L x +L Simetria em x = 0 basta analisar: 0 x L Condições inicial e de contorno Condição inicial t=0 Condições de contorno x=0 x=L T(x,0)=Ti T 0 (simetria) x dT k h [ T ( L , t ) T ] dx T=T(x,t,Ti,T,L,k,,h) Adimensionalizar as equações e condições permite: - diminuir a dependência da temperatura - arranjar as variáveis em grupos * Temperatura adimensional T T i Ti T 0 θ* 1 Coordenada espacial ou posição adimensional x* x L 0 x* 1 L = semi-espessura da parede plana t* Fo Tempo adimensional: nº de Fourier, Fo t L2 Equação diferencial torna-se: 2 * * x* 2 Fo Condição inicial: * ( x* ,0 ) 1 Condições de contorno: * ( 0 , Fo ) * x 0 * ( 1, Fo ) * x Bi * ( 1, Fo ) * f ( x* , Fo , Bi ) Para uma dada geometria a distribuição transiente de temperatura é uma função de x*, Fo e Bi. A solução não depende de valores particulares. A resolução envolve várias técnicas analíticas e numéricas, incluindo a transformada de Laplace e outras, método de separação de variáveis, método das diferenças finitas e dos elementos finitos. 1) Soluções analíticas aproximadas: parede plana, cilindro longo e esfera 2 * * x* 2 Fo Método de separação de variáveis: consiste em expandir a função arbitrária da série de Fourier. A variável dependente é o produto de uma série de funções, cada uma sendo função de uma única variável independente reduz a equação diferencial parcial em uma série de equações diferenciais ordinárias. *(x*,Fo) = F(x*)G(Fo) função de x* e outra de Fo equações diferencias ordinárias uma A solução na forma de uma série infinita. ∞ θ = ∑ Cn exp( - ξ12 Fo ) cos( ξ1 x* ) * n =1 Cn = 4 senξ n 2ξ n + sen( 2ξ n ) onde n são os valores discretos (autovalores) (raízes da equação característica ou auto função). Solução aproximada: para Fo > 0,2 a solução pode ser aproximada pelo primeiro termo da série (erro menor que 2%) Considerando o comprimento característico: Lc=V/A - Parede Plana de espessura 2L: semi-espessura L - Cilindro longo: raio externo, re - Esfera: raio externo, re Bi hLc k Fo t Lc 2 A) Parede plana - Temperatura * C1 exp( 12 Fo ) cos( 1x* ) ou * o* cos( 1x* ) onde To T o* C1 exp( 12 Fo ) Ti T C1 e 1 (em rad) são constantes tabeladas para cada geometria em função de Bi - Quantidade total de energia que deixou a parede até um dado instante de tempo t sen1 * Q 1 Qo 1 o Qo - Energia interna inicial da parede em relação à temperatura do fluido ou quantidade máxima de transferência de calor para tempo infinito. Qo cV ( Ti T ) B) Cilindro infinito – raio re Idealização que permite utilizar a hipótese de condução unidimensional na direção radial. Razoável para L/re 10 * C1 exp( 12 Fo )Jo( 1r* ) Jo= função de Bessel tabelada ou e r* r re To T * o* Jo( 1r* ) onde o* C1 exp( 12 Fo ) Ti T 2 o* Q 1 J ( ) Qo 1 1 1 J1= função de Bessel tabelada C) Esfera – raio re * C1 exp( 12 Fo ) ou * o* r* r re 1 1r* sen( 1r* ) To T sen( 1r* ) onde o* C1 exp( 12 Fo ) Ti T 1r* 1 3 o* Q sen( 1 ) 1 cos( 1 ) 1 Qo 13 Coeficientes usados nas soluções aproximadas (um termo das soluções em série) para condução transiente unidimensional Parede plana Cilindro longo Esfera Bi = hL/k para parede plana e Bi=hre/k para cilindro e esfera Funções de Bessel de primeiro tipo Exemplos: 1. No estágio de reaquecimento do processo de têmpera uma placa de aço de 100 mm de espessura que está inicialmente a 200ºC deve ser aquecida até a temperatura máxima de 550ºC. O aquecimento é efetuado em um forno de fogo direto, onde os produtos de combustão a 800ºC e mantêm um coeficiente de transferência de calor de 250 W/m²K em ambas as superfícies da placa. a) Quanto tempo a placa deve ser deixada no forno? b) Qual a energia total transferida, por unidade de área? 2. Um eixo cilíndrico longo de 30 mm de diâmetro inicialmente a 1000 K, é subitamente resfriado pela imersão em um grande banho de óleo que se encontra a uma temperatura constante de 350 K. k=1,7 W/mK, c=1600 J/kgK e =400 kg/m³. O coeficiente de transferência de calor convectivo é de 50 W/m²K. a) Qual o tempo necessário para que a superfície do cilindro atinja 400 K? E no centro qual seria a temperatura neste tempo? b) Represente a variação de temperatura da superfície do cilindro no intervalo de tempo 0 <=t<= 300 s. Se o óleo fosse agitado, fornecendo um coeficiente convectivo de 200 W/m²K como ficaria a variação de temperatura no cilindro com o tempo de resfriamento? Sólido semi-infinito - Idealização útil para muitos problemas práticos - Pode ser usado para determinar a resposta transiente perto da superfície do solo ou a resposta transiente aproximada de um sólido finito onde nos instantes iniciais a temperatura no interior do sólido ainda não foi afetada pelas alterações superficiais 2T x 2 Condição inicial t=0 1 T ( x ,t ) t T(x,0)=Ti Condições de contorno Caso 1 - Temperatura constante na superfície: T(0,t)=Ts e T(,t)=Ti Temperatura aumenta gradualmente dentro do sólido a medida que o calor penetra mais fundo no sólido dT e T(,t)=Ti dx Calor é continuamente fornecido ao sólido aumentando a Ts e do interior do mesmo Caso 2 – Fluxo de calor constante na superfície: q k Caso 3 – Convecção na superfície: k dT h( T T ( 0,t )) e T(,t)=Ti dx Soluções analíticas aproximadas: resposta dentro do sólido diferente para cada situação: Caso 1 T ( x ,t ) Ts x erf Ti Ts 2 t t em segundos e x em metros erf é função erro de Gauss e q k ( Ts Ti ) t Caso 2 x 2 qx 2q t / erfc x T ( x ,t ) Ti exp 4t k k 2 t Sendo erfc(w)=1-erf(w) função erro complementar de erf (w) Caso3- Convecção 2 x T ( x ,t ) Ti h T x hx h t erfc exp 2 erfc T Ti k k 2 t 2 t k Exemplo: Na instalação de adutoras deve haver a preocupação com a possibilidade de ocorrer congelamento durante períodos de baixa temperatura ambiente, em locais de clima frio. Considerando a temperatura da superfície constante ao longo de um período prolongado de tempo frio, qual é a profundidade mínima que seria recomendado para evitar o congelamento em condições nas quais o solo está a uma temperatura inicial uniforme de 20ºC e é submetido a uma temperatura constante na superfície de -15ºC por 60 dias? -15ºC solo 20ºC