Encontro formativo 2

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RUMO a
ENCONTRO FORMATIVO
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FELIZES OS POBRES
1. Introdução
Em hebraico, o pobre (ânâw, pl. anawim) é aquele que se encontra
curvado sob o peso da sua condição, aquele a quem falta algo para
poder viver. Mateus acrescenta “pobre em espírito”, apontando para
uma escolha. Feliz é o que reconhece, aceita e assume a sua
condição de pobre, a sua condição de falta, de não plenitude. O que,
na profundidade do seu coração, reconhece a sua insuficiência.
Fazê-lo em verdade significa também reconhecer que não são os
bens, as tentações do ter ou de domínio e poder que podem
satisfazer este sentido de incompletude. Os pobres de coração tomam
consciência da ineficácia dos substitutos: dinheiro, bens, sexo, querer
sempre mais, não levam a nada.
A
pobreza
é
o
contrário
da
glória:
é
o
despojamento,
o
reconhecimento da minha insuficiência, de que eu não sou a medida
de todas as coisas. O pobre percebe que precisa dos outros e que
precisa de Deus. O pobre reconhece a sua condição como um apelo à
comunhão, ao acolhimento dos dons do outro e à partilha generosa
do seu próprio dom. É nesta dádiva de si e de acolhimento do Outro e
dos outros que ele encontra o caminho da riqueza. Em Mateus, o
pobre é o contrário do fariseu, do arrogante, do cheio de si, que não
precisa dos outros nem de Deus.
O pobre tudo partilha e tudo dispõe, trabalha para o bem comum,
não impõe nem se impõe, não se ilude com as falsas riquezas. O seu
caminho denuncia a falsa segurança do dinheiro, dos bens, do poder,
que asfixiam o ser (Quem importa ao homem ganhar o mundo
inteiro, se se perder a si mesmo?). Só os pobres procuram o Reino e
reconhecem a sua presença no meio do mundo.
Mas Lucas torna bem claro que esta pobreza é uma opção decorrente
do seguir Jesus. Assim fica claro no encontro com o jovem rico: é
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preciso saber onde está o verdadeiro tesouro, onde colocar o coração.
O pobre tudo dá: o que conta não é o que se tem mas a largueza, a
generosidade com que se dá. A riqueza, o poder, podem ser um
obstáculo bem real.
Não se trata de ascetismo estéril ou de rigorismo que seca. Jesus não
segue a via de João Baptista e sem problemas come e bebe com os
pecadores. Jesus não condena o quotidiano da vida, os salários e as
alegrias. Ele condena a posse pela posse, que impede de usufruir, de
saborear a vida, que prende à necessidade imperiosa de ter e ganhar
cada vez mais sem ter tempo para nada nem para ninguém.
A pobreza é o caminho da liberdade, do jogo do “quem perde,
ganha”. Assim fez Jesus, que se deu até ao fim. Assim percebemos o
mistério do Natal, desse despojamento de um Deus que se faz pobre
para nos enriquecer, para nos dar o verdadeiro tesouro. Para nos
libertar para o tempo do dom e do encontro, longe da escravatura do
ter e do poder.
2. Objectivos

Reconhecer, no caminho e na vida de cada um, as nossas
tentações e ilusões de autossuficiência;

Identificar a insuficiência do ter e do poder como respostas ao
nosso sentido de incompletude;

Assumir a pobreza de coração como um caminho de liberdade e
de abertura à relação e ao acolhimento de Deus e dos outros;

Viver o Natal na dinâmica do despojamento de Deus e do seu
acolhimento pelos mais pobres (como Maria e José, os
pastores, os magos que não pertencem ao povo eleito…);
3. Dinâmica
Propor aos jovens o tema desta sessão, felizes os pobres. De seguida
ler a leitura do jovem rico:
“E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre,
que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que
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me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres,
porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele:
Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não
furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e
amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo
isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?
Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e
dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o
jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas
propriedades.” (Mateus 19, 16-22)
Discutir/refletir
com
o
grupo
em
torno
das
seguintes
questões:

Porque será que associam o jovem rico com felizes os pobres?

É possível ser pobre e feliz?

Qual o desejo mais profundo do coração de cada jovem?

Será que a sociedade de hoje e os seus jovens estão no melhor
caminho para encontrarem a felicidade? Porquê?

Quais as principais riquezas dos jovens de hoje?
Preparar antecipadamente uma cartolina, com o título: “Riquezas dos
jovens de hoje”, na qual a partir do diálogo do grupo se escrevam
quais as principais riquezas que identifiquem na partilha. Lembrar
que a definição de riquezas a utilizar para esta dinâmica refere-se a
aspetos que na vida dos jovens têm uma importância excessiva, que
faz com que não se apercebam das maravilhas que os rodeiam.
Depois, propor um momento de reflexão orientado através do
PowerPoint em anexo denominado “jovem rico”. Prever que cada
jovem tenha à uma caneta e papel de forma a poder fazer a sua
reflexão por escrito (dando algum tempo de silêncio nos slides que
contém questões). Prever ainda a existência de música de fundo, que
deve ser calma de forma a promover a reflexão.
No final da reunião, se for considerado oportuno, pode entregar-se a
cada jovem uma cópia do texto de São João Paulo II.
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4. Oração
Bem-aventurados os pobres em espírito…
Ó Deus bondoso,
através do teu Jesus,
na proclamação das bem-aventuranças,
nos convidas e incitas a uma vida feliz.
Eu te louvo, hoje, pelo apelo a uma vida pobre.
Abre o nosso coração
para a simplicidade exigida
pela atitude evangélica da pobreza.
Quero depender só de Ti,
ser livre de outras posses sedutoras
que tomam posse de mim
e impedem a novidade do teu Reino.
Quero estar contigo do lado
dos deserdados da vida,
dos débeis e privados do essencial.
Orienta as minhas escolhas deste dia
para que o uso são dos bens da terra
em nada ofenda os infelizes,
desprovidos de meios para uma vida mais digna.
Que os bens não sejam para mim valor absoluto,
ó Senhor, meu único bem.
(Carlos A. Moreira Azevedo, Ao Deus de todas as manhãs, Lisboa,
Paulinas, 2006, p. 13)
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