A OCUPAÇÃO DO ENTORNO DA RODOVIA BELÉM-BRASÍLIA NO PERÍMETRO URBANO DE ARAGUAÍNA-TO. Reges Sodré da Luz Silva Dias¹ Eliseu Pereira de Brito² Aluno do curso de geografia campus universitário de Araguaína – [email protected]¹ (PIBIC/UFT). Orientador do curso de Geografia do campus universitário de Araguaína – [email protected]². Resumo Esta pesquisa teve por objetivo identificar a organização territorial ao longo da rodovia Belém-Brasília na cidade de Araguaína-TO. Assim, buscamos investigar qual a importância desta formação territorial para que a cidade mencionada se estruture na rede urbana a partir do comércio e serviço. Neste contexto verificamos que no entorno da rodovia Belém-Brasília se concentra um nicho de grande expressividade no segmento de prestação de serviços e comércio voltado para os setores automobilísticos e do agronegócio. Estes serviços são especializados, os quais não são encontrados nas cidades pequenas circunvizinhas à Araguaína. Estão localizados nesta área bandeiras de empresas multinacionais que controlam um grande mercado em escala mundial conseguindo deste modo, promover a gestão do território nas cidades e regiões onde se instalam. Toda essa logística de prestação de serviços que observamos na área em estudo está estruturada no território-rede. A um constante fluxo de pessoas que se dirigem para comprar e usufruir dos serviços disponíveis no entorno da Belém-Brasília, tornando a circulação do capital efetiva. Palavras-chaves: Território-rede, Araguaína, Belém-Brasília. Introdução O Norte Goiano no período anterior a construção da rodovia Belém-Brasília (1960), permanecia com uma circulação precária, suas relações comerciais e culturais com as outras regiões do Brasil se encontravam limitada, a única via de transporte que possibilitava a permuta de mercadoria era a hidrovia Araguaia/Tocantins ou rudimentares caminhos tropeiros. Estes não estavam estruturados em uma rede técnica que lograsse uma mobilidade segura e efetiva. Assim, o Norte Goiano vivia em profunda pobreza, uma das causas era a impossibilidade de importar/exportar produtos por falta de itinerários de qualidade. Após a década de 60 o panorama se reconfigurou, a região passou a apresentar um maior crescimento econômico, e produtos industrializados vindos do Centro-Sul passaram a circular nesta, e a mesma a exportar matéria prima para o Sul/Sudeste, e para Belém-PA com maior frequência. De acordo com Sousa (2002), a Belém-Brasília se constituiu na principal artéria do desenvolvimento desta região. A cidade de Araguaína não diferia dessa conjuntura de pobreza. Era um lugarejo sem perspectiva de crescimento, com um pequeno comércio, (GONÇALVES, 2009). Isso se deve em grande parte ao fato dela não possuir rio que oferecesse navegação comercial, as únicas trocas comerciais eram reduzidas a caminhos tropeiros. Com abertura da rodovia Belém-Brasília essa cidade passou a apresentar um vertiginoso crescimento econômico, se estruturando como a principal do Estado do Tocantins no século XXI. Material e método Baseamos nosso trabalho na leitura de autores clássicos quando se refere à rodovia Belém-Brasília e ao Estado do Tocantins como Aquino (2002) e (2006), Valverde e Dias (1967), Brito (2009) e (2010), Gaspar (2002) e Parente (1996). No que tange a respaldo conceitual trabalhamos com Haesbaert (2006), Santos e Silveira (2008), e Corrêa (1989). Concomitante às leituras, realizamos trabalhos empíricos ao longo da rodovia no perímetro urbano de Araguaína e, em cidades locais vizinhas a esta, para podermos entender melhor como está sendo organizada a sua polaridade a partir da estruturação de serviços especializados as margens da Belém-Brasília. Resultado e discussões De acordo com Moreirai quando a rodovia foi construída, no seu entorno no perímetro urbano de Araguaína o que existia era floresta. O processo de ocupação desse setor começou no momento da construção da obra, com a implantação de fazendas, de pessoas que buscavam construir suas moradias, e de pequenos comércios já nos anos 80. Assim, durante 30 anos se deu um processo de formação de múltiplos territórios nessa área com funcionalidades diferentes. Nós identificamos na atualidade as seguintes formações territoriais nesta área: fazendas; o Bairro de Fátima das classes “excluídas”; o centro de comunicação da cidade, com o conjunto das emissoras de televisões; o centro de produção DAIARA - Distrito Agro-Industrial de Araguaína; e empresas regionais, nacionais e multinacionais. Cada formação territorial acima referida está estruturada dentro de uma lógica com predominância hora mais zonal ou areal. Todas são oriundas do processo de produção do espaço no mundo atual, respaldado na desigualdade de acesso ao meio técnicocientífico-informacional. Averiguamos que dentro deste recorte espacial existem territórios que absorvem técnica em sentido lato (empresas multinacionais), e territórios que vivem uma precarização de recursos técnicos (Bairro de Fátima). Constatamos deste modo, que a formação territorial da margem da rodovia Belém-Brasília vem sendo construída com base na inclusão/exclusão de pessoas da dinâmica capitalista do presente período, a qual é fundamentada no consumo e na mobilidade segura. Os sujeitos do Bairro de Fátima ficam presos na maioria das vezes ao território restrito do seu bairro, pois eles não logram de condições econômicas para viajarem se quer ao próprio centro da cidade com frequência, para, por exemplo, irem a hospitais e laboratórios particulares, ou sair finais de semana da cidade para chácaras. Essa situação se deve ao fato de que esse grupo social não possui acesso ao capital. De acordo com Harvey (1976), apud Villaça (2001), os ricos conseguem comandar o espaço, enquanto os pobres são prisioneiros dele. Nesse sentido percebemos o quão as redes técnicas estão a serviços dos macroatores da economia, em escala mundial e local. Raffestin (1993) afirma que as redes devem ser analisadas segundo estruturas reveladoras das ações de poder. Para ele a rede faz e desfaz as prisões do espaço, tornado território: tanto libera como aprisiona. É o porquê de ela ser o instrumento por excelência do poder. A imponência para as atuais funções que Araguaína exerce na rede urbana está relacionada ao território das empresas regionais, nacionais e multinacionais. Esta formação territorial é uma das bases para que esta cidade consiga centralizar produção, investimentos, consumo e comercialização de produtos na rede urbana. Hoje, verificamos no setor referido um forte comércio, ali estão situadas várias concessionárias de caminhões, de tratores, veículos de alto luxo, etc. Empresas que trabalham com transporte, diversas lojas e oficinas de manutenção de tratores e caminhões. Os serviços que estas oferecem não são serviços comuns, encontrados nas cidades pequenas da hinterlândia, se trata de serviços especializados, caros, exigente de mão-de-obra qualificada e de grandes investimentos em tecnologia. Por isso o seu alcance espacial atingir amplo espaço. É nítido nessa parte o grande fluxo de pessoas (fazendo compras e usando dos serviços disponíveis), e de mercadorias. Essa materialização de eventos no território nos ajuda a explicar as razões que levam Araguaína a ser um centro econômico no Estado do Tocantins. Igualmente, evidencia o papel ainda vital que a BR em estudo tem para esta cidade, fazendo com que os fluxos populacionais e de cargas se mantenham ativos. Essa logística proporcionada pela Belém-Brasília vem de encontro com a tese de Arroyo (2005, p. 76), segundo a qual “as condições de circulação são tão importantes quanto às condições de produção” para uma cidade. Estas empresas só conseguem se estruturar e permanecer em Araguaína, oferecendo estes serviços e comercializando produtos informacionais, porque usufruem de uma condição territorial favorável – baseado na mobilidade segura e na mecanização territorial –, podendo consequentemente atender pessoas de todo o entorno do município e também está ligada a suas matrizes situadas em territórios distantes. Essa nova estrutura de organização das empresas é uma nova característica da manifestação do seu poder no período atual. Nesse sentido Haesbaert (2006), nos lembra de que os territórios no final do século XX são sempre, em diferentes níveis, “territórios-rede”, porque estão associados, em menor ou maior grau, a fluxos externos a suas áreas hierárquica ou completamente articuladas. É importante esclarecer que não há dicotomia entre rede e território, verificamos isso nas análises teóricas e no empírico no estudo de caso do entorno da Belém-Brasília. A rede é um elemento do território, e no mundo atual ela é sua “parte” fundamental, uma vez que os processos de territorialização estão respaldados na descontinuidade, fragmentação e sobreposição territorial. Ou mais ainda, no domínio de fluxos e ritmos. Costa e Ueda (2007) defendem que a fluidez é um imperativo do presente período, e toda a organização do território e o processo de acumulação do capital passam a funcionar de acordo com essa lógica. A cidade em estudo ao longo de sua história espaço-temporal foi se transformando em um território cada vez mais fluído e dinâmico e, na entrada do século XXI constatamos que ela consolida uma nova dinâmica no setor produtivo, de consumo e de circulação no Estado do Tocantins. i Entrevista realizada no dia 22 de abril de 2012 com Moreira operário que trabalhou na construção da rodovia Belém-Brasília. Referências bibliográficas AQUINO, N. A. . A construção da Belém-Brasília e suas implicações no processo de urbanização do estado do Tocantins. In: Odair Giraldin. (Org.). A (trans)formação histórica do Tocantins. 1ª ed. Goiânia: Ed. UFG, 2002, v. Único, p. 315-350. ___________ . Tocantins: Cidades e Urbanismo em Três Modelos Históricos. In: III Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedades. Brasília, 2006. ANPPAS III Encontro- Brasília - maio de 2006, 2006. v. Único, p. 1-13. ARROYO, M. M. Territorial, Circulação Dinâmica e cidades médias. In: Eliseu Savério Sposito; Maria Encarnação Beltrão Sposito e Oscar Sobarzo. (Org.). Cidades médias: produção do espaço urbano e regional. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2006, v. 1, p. 71-85. COSTA, Jodival Maurício e UEDA, Vanda. Redes Técnicas e Território: notas sobre a reticulação espacial. Boletim Gaucho de Geografia, n. 32, p. 131-145, 2007. GONÇALVES, Camila. O progresso em discussão: a construção imaginaria da BR-153 no discurso dos pioneiros de Araguaína. Araguaína: UFT, 2009. Trabalho de Conclusão de Curso TCC. HAESBAERT, Rogério: O mito da desterritorialização: do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. PEREIRA, Mirlei Fachini Vicente. Redes, Sistemas de Transportes e as Novas Dinâmicas do Território no Período Atual: notas sobre o caso brasileiro. Sociedade & Natureza, V, 21, n. 1, p.121-129, abr. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sn/v21n1/v21n1a08.pdf >. Acesso em: 20 out. 2011. RAFFESTIN, Claude. Por Uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993. SOUSA, Sônia Maria de. Belém-Brasília: Abrindo fronteiras no Norte Goiano (atual Tocantins) – 1958- 1975. In: Odair Giraldin. (Org.). A (trans)formação histórica do Tocantins. 1ª ed. Goiânia: Ed. UFG, 2002, v. Único, p. 351-394. VALVERDE, Orlando e DIAS, Catarina Vergolino. A rodovia Belém-Brasília: estudo de Geografia Regional. Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia, 1967. VILLAÇA, Flavio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 2001. Agradecimentos O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT.