Artigos e Estudos Comentados Baixo Peso ao Nascer como Marcador de Alterações na Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial Este estudo publicado no Arq Bras Cardiol 2009;92 (2):113-121 avaliou as possíveis alterações na monitorização em ambulatório da pressão arterial (MAPA) em crianças com baixo peso ao nascer (BPN). Sabe-se que o BPN está associado a um aumento da pressão arterial (PA) e das doenças cardiovasculares em adulto. Os autores avaliaram o peso ao nascer (PN) de 1.049 crianças, entre os 8 e os 11 anos, em escolas de Goiânia, Brasil. As crianças com BPN (Peso à nascença ≤ 2.500 g) foram comparadas com crianças com PN normal (≥ 3.000 g). O PN foi obtido através do Boletim de Nascimento da criança. Foi efectuada a avaliação da PA e MAPA, índice de massa corporal (IMC) e estádio de maturação sexual segundo os critérios de Tanner. Foram excluídas deste estudo as crianças com estádio de Tanner ≥2. Entraram no estudo 34 crianças com BPN e 34 com PN normal. As características dos dois grupos foram sobreponíveis no que respeita a idade, sexo, raça, peso, estatura, IMC e história familiar de hipertensão. As crianças com BPN apresentaram maior pressão sistólica (PS) pontual (p = 0,007). Na MAPA, apresentaram maior pressão diastólica (PD) nas 24 horas (p = 0,009), maior PD de vigília (p = 0,002), PS e PD mais elevadas durante o sono (p = 0,005 e p = 0,001) e menor descida nocturna da PS e PD (p = 0,001) comparativamente às crianças com PN norma (Figura 1)l. Observou-se uma correlação positiva do PN com a descida nocturna da PS (p = 0,022) e negativa com a PS no sono (p = 0,032). Helena Fonseca Chefe de Serviço de Pediatria do Departamento da Criança e da Família do CHLN-HSM. Coordenadora da Consulta de Adolescentes e da Consulta de Obesidade Pediátrica. Mestre em Saúde Pública pela Universidade de Minnesota, EUA. Doutorada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Baixo Peso ao Nascer como Marcador de Alterações na Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial Cláudia Maria Salgado, Paulo César Brandão Veiga Jardim, Flávio Bittencourt Gonçalves Teles, Mariana Cabral Nunes. Liga de Hipertensão Arterial - Universidade Federal de Goiás; Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Goiás; Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO – Brasil. Arq Bras Cardiol 2009;92 (2):113-121 Figura 1 Descenso da pressão sistólica em crianças escolares com BPN e PNN. 100 Recebido para publicação: Julho de 2009 Aceite para publicação: Julho de 2009 100-101 Revista Factores de Risco, Nº15 OUT-DEZ 2009 Pág.1 O risco cardiovascular para recém-nascidos que nasceram pequenos como resultado da prematuridade é controverso. No presente estudo, a prematuridade não foi o factor responsável pelas diferenças encontradas na PA, dado que a análise por regressão logística revelou que o facto de a criança ser termo ou pré-termo não influenciou o valor da PA. Há ainda a realçar o cuidado metodológico dos autores em garantir que os grupos em estudo fossem semelhantes quanto à história familiar de hipertensão arterial e na não inclusão de crianças que já tivessem iniciado a puberdade, para não introduzir um potencial viés na amostra. Em conclusão, os resultados encontrados indicam que crianças escolares com BPN apresentam PA mais elevada e uma menor descida nocturna da pressão arterial em relação às crianças com PN normal. Esses achados podem representar um risco aumentado para hipertensão arterial e doença cardiovascular no adulto. “A restrição de crescimento intra-uterino afecta muitos milhões de nascimentos por ano, sobretudo em países pobres e em desenvolvimento, nas várias regiões do mundo.” Os autores concluem que as crianças com BPN apresentaram PA mais elevada e alteração do ritmo circadiano da pressão arterial, com atenuação da descida nocturna, o que pode representar um risco aumentado para a hipertensão arterial e doença cardiovascular em adulto. “…crianças escolares com baixo peso ao nascer apresentam pressão arterial mais elevada e uma menor descida nocturna da pressão arterial em relação às crianças com peso ao nascer normal. Esses achados podem representar um risco aumentado para hipertensão arterial e doença cardiovascular no adulto.” Para a prevenção da doença cardiovascular e hipertensão arterial na idade adulta, importa portanto prevenir o BPN. Em particular nos países pobres e em desenvolvimento, são necessárias políticas públicas que dêem prioridade aos cuidados com a saúde materna durante a gravidez, através de um suporte nutricional e cuidados pré-natais correctos, visando uma promoção adequado do desenvolvimento do feto. Parece-nos um estudo extremamente interessante que alerta para o risco cardiovascular aumentado que está associado ao BPN. Tudo indica que factores presentes na vida pré-natal geram alterações metabólicas persistentes, predispondo a doença da vida adulta. Há evidência de que o baixo peso ao nascer seja um determinante importante no desenvolvimento de hipertensão arterial, doença cardíaca isquemica e diabetes tipo 2. A restrição de crescimento intra-uterino afecta muitos milhões de nascimentos por ano, sobretudo em países pobres e em desenvolvimento, nas várias regiões do mundo. Várias hipóteses foram propostas, tentando explicar as possíveis causas que correlacionam o BPN ao aumento da PA, entre as quais: alteração na sensibilidade à insulina nas crianças com BPN (Veening, Yajnik e col.), alteração na curva PA - natriurese (Lurbe e col. observaram que crianças com BPN tendem a excretar menos sódio durante a noite do que as que tiveram PN normal). Helena Fonseca 101