PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS LGN 5799 – Seminários em Genética e Melhoramento de Plantas Departamento de Genética Avenida Pádua Dias, 11 - Caixa Postal 83, CEP: 13400-970 - Piracicaba - SP http://www.genetica.esalq.usp.br/semina.php QUORUM SENSING NA INTERAÇÃO BACTÉRIA-PLANTA Aluna: Viviane Colombari Pedrazzini dos Santos Orientador: Prof. Dr. João Lúcio de Azevedo Co-orientador: Prof. Dr. Welington Luiz de Araújo O conhecimento de que as bactérias podem estabelecer entre si uma comunicação célula-célula é relativamente recente. Esse mecanismo foi denominado quorum sensing (QS) e é caracterizado por um processo densidade-dependente que envolve a produção de moléculas auto-indutoras extracelulares que direcionam a expressão gênica relacionada a diferentes processos biológicos como, por exemplo, motilidade, simbiose, nodulação, conjugação, produção de metabólitos secundários, maturação de biofilmes, virulência entres outros. As duas famílias mais estudadas de moléculas auto-indutoras são as N–acil homoserinas lactonas usualmente presentes em bactérias Gram negativas pertencentes ao Filo Proteobacteria; e os peptídeos auto-indutores que são comuns em bactérias Gram positivas. Evidências têm revelado, entretanto que a sinalização via QS não está restrita a comunicação bacteriana célulacélula, mas também permite a comunicação entre bactéria e seu hospedeiro, como por exemplo, as plantas. Na prática todas as plantas possuem uma íntima associação com bactérias que podem estabelecer uma colonização epifítica (superfície) ou endofítica, ocupando os tecidos internos da planta. Atualmente, existe um progresso significativo no entendimento dos microambientes que são ocupados pelas bactérias dentro da rizosfera ou da filosfera. O balanço das interações bacterianas com as plantas é muito importante e precisa ser considerado. Os microrganismos que interagem com as plantas podem estabelecer associações mutualísticas, onde ambos os lados da interação são beneficiadas, e patogênicas quando há prejuízo ao hospedeiro. As moléculas QS na interação patógeno-planta atuam como fatores de virulência per se, dessa forma confundem a sensibilidade da planta impedindo que a resposta de defesa esteja presente durante os primeiros estágios de multiplicação bacteriana. Entretanto, quando o número de bactérias se torna substancial os genes de virulência são ativados e a bactéria se torna um patógeno agressivo. Os traços regulados por QS incluem a produção de polissacarídeos, enzimas degradadoras, antibióticos, sideróforos, pigmentos, bem como a secreção de proteínas Hrp, transferência de plasmídeo Ti, motilidade, formação de biofilmes e adaptabilidade epifítica. O mecanismo QS na patogenicidade tem sido pesquisado, por exemplo, em Agrobacterium tumefaciens, Pectobacterium carotovora, Ralstonia solanacearum, Pseudomonas syringae, Xanthomonas campestris, Xylella fastidiosa entre outras. Embora seja comum considerar somente as bactérias com efeito prejudicial para os organismos superiores, normalmente o contrário é o que ocorre. As associações simbióticas reguladas via QS tem sido mais estudadas nos simbiontes fixadores de nitrogênio, membros da família Rhizobiaceae e coletivamente chamados de rizóbios. A formação do nódulo é um processo complexo que requer troca contínua e adequada de sinais entre a planta e a bactéria, que leva a uma diferenciação gradual e coordenada além de ajustes fisiológicos e metabólicos em ambos os lados da interação. Visto que uma diversidade de comunidades bacterianas coordena suas atividades biológicas via QS com o objetivo de aumentar as vantagens adaptativas, é esperado que seus competidores e hospedeiros possam ter desenvolvido certos mecanismos para desarmar os sistemas QS. Diversas enzimas e inibidores têm sido identificados em plantas modelo que podem interferir positiva ou negativamente, mimetizando, degradando ou bloqueando os componentes do QS. Esse mecanismo de interferência é denominado quorum quenching. Portanto existe uma expectativa de que o melhor entendimento dos processos regulados via QS venha oferecer novas oportunidades para o combate de fitopatógenos, mas também na melhoria de mecanismos benéficos para as plantas como, por exemplo, a nodulação. Outra importante constatação com relação ao mecanismo QS é que embora as moléculas auto-indutoras sejam semelhantes entre alguns grupos bacterianos, a percepção e função são moduladas para se adaptarem às necessidades específicas para a colonização de diferentes plantas-hospedeiras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bassler, B.L. How bacteria talk to each other: regulation of gene expression by quorum sensing. Current Opinion in Microbiology. v. 2, p.582–587, 1999. Gao, M.; Teplitski, M.; Robinson, J.B.; Bauer, W.D. Production of Substances by Medicago truncatula that Affect Bacterial Quorum sensing. MPMI, v. 16, n. 9, p. 827–834, 2003. Pierson, L. S., III, and Pierson, E. A. Roles of diffusible signals in communication among plant-associated bacteria. Phytopathology, v.97, p.227-232, 2007. Von Bodman, S. B.; Bauer, W.D.; Coplin, D.L. Quorum sensing in plant pathogenic bacteria, Annual Review of Phytopathology, v. 41, p. 455 - 482, 2003. Wisniewski-Dyé, F.; Downie, J.A. Quorum-sensing in Rhizobium. Antonie van Leeuwenhoek v. 81, p. 397–407, 2002. _______________________________________________ Prof. Dr. Welington Luiz de Araújo