21 de julho de 2014 ver sus

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21 de julho de 2014
Hoje o dia foi muito produtivo. Primeiramente fomos encontrar a
secretária da saúde, Ana Cristina, na secretaria municipal de saúde. Lá estava um
pouco movimentado e pude repara que existiam muitas caixas grandes de
madeira, um colega meu disse que poderiam ser materiais, instrumentos e
equipamentos para hospitais, mas ele não tem certeza. Não perguntei nada sobre
isso para a Ana Cristina pois ainda não estava me sentindo a vontade e achei que
poderia soar invasiva a pergunta. Ela comentou que era responsável por fazer as
transferências dos pacientes que precisavam ser atendidos em outras cidades e
também por toda organização da saúde de Ivinhema; isso me deixou ainda mais
interessada no que ela iria nos passar na reunião, pois agora eu sabia a quem
recorrer caso eu não compreendesse alguma regulamentação ou identificasse
algo e soubesse de uma solução.
Depois disso, nos dirigimos até a ESF Piravevê onde iniciamos uma
conversa com a secretária da saúde, algumas enfermeiras, ACSs, a equipe dos
“Vetores”, o responsável pelo faturamento, farmacêutica, auxiliar de
enfermagem, dentista, psicólogas e membros do NASF. A secretária da saúde
introduziu o debate falando sobre o SUS e como ele funcionava em Ivinhema. Em
seguida nós nos apresentamos e falamos sobre o que pensávamos sobre o SUS, e
assim também fizeram a maioria dos presentes. Eu comentei que meu maior
desejo é que as pessoas parem de olhar a situação do SUS com descrença, por em
alguns lugares ele não funcionar como deveria. Comentamos sobre a mídia e suas
máscaras para chocar e gerar repercussão. E essa mesma não busca mostrar as
conquistas dos profissionais e usuários que trabalham nesse sistema. As
enfermeiras e ACSs mencionaram sobre persistência e organização como
possíveis soluções para alguns dos obstáculos encontrados ao instaurar a saúde
pública no Brasil. Pude ver como um profissional ,que faz seu trabalho com amor,
consegue superar vários dos impasses impostos pela falta de estrutura e repasse
de verbas para os hospitais, UBS, UPAs. Conversamos também sobre um tema
que considero muito relevante: a maneira de transmitir informação e sensibilizar
a população sobre a importância de cada profissional e das consultas para gerar
a prevenção. Acho que palestras muitas vezes distanciam os moradores dos
profissionais da saúde, por ser cansativo ou envolver muitos termos técnicos, e
também alguns, mesmo após as palestras ainda tinham dúvidas e não entendiam,
por exemplo, o que é a Diabetes. Eu curso o segundo período de Medicina na
Uniderp, e por frequentar semanalmente uma UBSF eu tenho algumas ideias que
podem ajudar os profissionais daqui por funcionarem em Campo Grande. A ACS
Lúcia comentou sobre o ascendente índice de alcoolistas e usuários de drogas no
município, e levantou o CAPS como uma alternativa resolutiva para isso.
Concordo com ela, porém penso que tais moradores tornam se pacientes de
risco, e deveriam ser visitados e orientados pelos ACSs mais vezes mensais, para
garantir que eles mantenham o tratamento e também para averiguar se a família
está dando apoio e suporte para sua recuperação. Já enviaram o pedido para
elaboração de um projeto de construção de um CAPS, e todos aguardam a
aprovação. A Lúcia também falou muito sobre os usuários não saberem os meios
corretos para conseguir seus direitos; e muitos não sabem quais são eles. Esse é
um ponto que precisa ser tratado em oficinas para transmitir tais informações
para eles.
Como eu disse anteriormente, nós elaboramos uma lista de perguntas que
gostaríamos de fazer para as pessoas na reunião. Outro ponto que fomos
orientados a perguntar foi sobre o programa “Mais Médicos”. No município de
Ivinhema, existem duas médicas cubanas nas unidades do Trignã e Itapuã, elas
foram muito elogiadas por todos devido a seu comprometimento e dedicação
durante as consultas e na elaboração dos relatórios. Elogiaram a maneira com
que elas se expressam e fazem a anamnese, com consultas de até 20 minutos,
sempre demonstrando atenção a tudo que o paciente diz. Valorizam os costumes
de cada paciente e respeitam isso, pois conseguem vê-los como um todo,
integralmente. Fiquei muito feliz me ouvir tais relatos, eu tinha uma péssima
visão sobre os médicos vindos de outros países, e isso me fez pensar que não
importam as raízes, mas sim, o caráter e amor que o profissional deposita em
cada gesto de cuidado com o seu paciente. Existem médicos bons e ruins, sejam
cubanos ou brasileiros, a diferença esta na maneira que procedem diante da
realidade da saúde publica brasileira.
Debatemos também sobre a participação social nos mais variados
aspectos. Eu queria saber se quando elaboravam oficinais ou dias como o “HiperDia” as pessoas vão. Eles disseram que a adesão não é muito grande, assunto que
me incomoda muito, pois os moradores veem tais ações das UBSs como uma
obrigação a ser cumprida, ao invés de enxergar com gratidão todos os benefícios
e procedimentos oferecidos gratuitamente pelo governo e que são direitos de
todo o brasileiro. Penso que ajudaria muito na adesão da população a tais
programas de prevenção uma explicação mais profunda sobre o básico de cada
doença e o porque dos procedimentos. Vejo pessoas sendo vacinadas sem saber
quais são os vetores das doenças ou os sintomas. Pessoas que não compreendem
qual a relação entre as feriadas nos pés e a Diabetes, ou a relação entre o sal e a
hipertensão. Eu imagino que a partir do momento que tais mudanças de hábitos
fizerem sentido para os moradores eles cumprirão com menos rejeição as
técnicas de prevenção. Muitas das pessoas reunidas mencionaram a importância
da saída do médico da Unidade e acompanhamento domiciliar, para gerar
vínculo e prevenir doenças, pois as informações serão repassadas para se
adaptarem a realidade de cada morador. Deram dicas de maior uso do Cras para
doação de alimentos e orientações para que aproveitem melhor dos legumes e
verduras, pois há muito desperdício.
Fiquei um pouco chocada quando as enfermeiras e ACSs nos contaram
que o índice de Aidéticos, os alcoolistas e os dependentes químicos estavam com
seus índices em crescimento devido a, principalmente, a usina que funciona
próxima a cidade. Esta também fez crescer a quantidade de assassinatos e
feridos por causa do aumento da violência. Isso nos remete a ideia ja mencionada
da necessidade de criar um CAPS, e além disso capacitar os ACSs para que
saibam lidar com os dependentes químicos e suas famílias, muitas vezes
desestruturadas.
Em Campo Grande, a minha Universidade, a Anhanguera Uniderp, possui
como grade curricular o cenário chamado PINESC, onde todas as quartas
acompanhamos ativamente das atividades de um Unidade Básica de Saúde da
Família. Nesse cenário, pude acompanhar inúmeras visitas domiciliares e
também participar da Estratégia de Saúde do Escolar, e esta envolve palestras
sobre prevenção como a vacina anti HPV, ou sobre drogas e alcoolismo. Por
sermos acadêmicos, sabemos das melhores maneiras de atingir sensibilizando os
estudantes. Penso que isso facilitaria a adesão da população jovem às campanhas
de vacinação, pois muitos entenderiam e compreenderiam a importância e
gravidade da não utilização dos meios preventivos oferecidos pelo SUS.
No período da tarde, fomos até o posto de saúde da Vila Cristina, que
localiza se na área rural. Lá era possível a coleta de preventivos, consultório
odontológico, uma farmácia, o local para triagem, e o consultório do médico. O
médico trabalha apenas duas vezes por semana, porém, um paciente estava
aguardando o médico chegar, então nos relatou que havia três semanas que o
médico não aparecia. Conversamos com a enfermeira Deise, que foi nossa
preceptora no local, e com as ACSs, elas nos informaram que a quantidade de
hipertensos é bastante grande, porém, há pouca adesão da população no “HiperDia”. Eles tem dificuldade em transmitir as informações referentes às doenças,
pois eles não costumam consultar se mais vezes para acompanhar o uso dos
medicamentos. Uma paciente que aguardava o médico conversou com uma
colega de grupo minha sobre o motivo de sua ida. Ela apenas precisava aferir sua
pressão, porém não tinha o esfigmomanômetro no posto. Isso a deixou irritada e
por isso não foi muito receptiva com minha colega, e logo depois ela foi embora
sem conseguir o que precisava.
Acompanhamos a enfermeira Deise em algumas visitas domiciliares,
acompanhadas das ACSs. A primeira visita foi à casa da senhora Orides, e esta se
encontrava acamada devido a um dedo do pé em estágio avançado de uma
necrose. Eu pude observar enquanto a enfermeira conversava e aferia a pressão
da senhora, seu braço era muito fino e ela estava subnutrida. Seu marido
conversou conosco, porém notamos que ele não tirava a mão de sua boca, e
vimos que ele fazia isso para esconder sua dentição incompleta da arcada
superior. isso denunciou mais um problema que um morador tem e que o posto
pode resolver. A segunda visita foi muito tranquila pois a paciente estava
saudável, apesar dos três anos com Alzheimer. Ela se chama Carmem e sua
pressão estava normal, e a enfermeira elogiou seus hábitos alimentares, pois seu
peso estava bom. A última visita foi à casa da dona Maria, uma senhora muito
simpática e animada. É hipertensa e esta se recuperando de uma fratura na bacia
e osteoporose. A ACS e a enfermeira demonstraram sempre que conheciam e
tinham vinculo com os moradores, o que ficou claro que facilita o atendimento.
Uma coisa que me deixou preocupada foi o não acompanhamento de um
fisioterapeuta para essas três pacientes, pois todas estavam sem poder andar, e
duas apenas ficavam sentadas, e isso é critério básico para a contratação de
fisioterapeutas que façam seu trabalho quase diariamente.
Fomos também até a UBS Vitoria, onde a recepcionista nos apresentou o
local. Dois médico gerais trabalham lá, porém sempre existe a reclamação de
que eles faltam muitas vezes. Os médicos atendem dezesseis pacientes por
manhã, o que incomoda alguns pacientes que aguardam por muito tempo na fila
e não podem ser atendidos devido a esse “limite”. A psicóloga, psicopedagoga e
fonoaudióloga estão trabalhando nesse local pois o CEM esta sem espaço físico
para elas. A UBS possui um projeto que já foi aprovado de ampliação e reforma,
porém há muito tempo que isso não saiu do papel. A estrutura aparenta ser nova,
porém minha colega que faz engenharia civil e esta no meu grupo reparou que é
apenas uma máscara, pois na verdade ele realmente precisa de reforma. E esse
foi nosso dia.
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