CADMO Revista de Historia Antiga Centro de História da Universidade de Lisboa 16 Versão integral disponível em digitalis.uc.pt ECONOMIA E SOCIEDADE DA BABILÓNIA SEGUNDO OS AUTORES GRECO-LATINOS II - O PERÍODO IMPERIAL NUNO SIMÕES RODRIGUES Universidade de Lisboa Depois de estudados os autores do período clássico(1), passamos a analisar 0 que referem os escritores do período imperial acerca da organização sócio-económica do mundo babilónico. O corpus é agora constituído pela produção literária de Diodoro Siculo, Estrabão, Josefo, Arriano e Quinto Cúrcio, essencialmente historiadores e geógrafos e que, por isso mesmo, focam a sua atenção na região mesopotâmica com um interesse intencionalmente descritivo e interpretativo das categorias de tempo e de espaço. Vejamos 0 que é possível recolher das suas informações. As informações de Diodoro Siculo Contemporâneo de Júlio César e de Augusto, Diodoro conheceu parte da Ásia e da Europa, vivendo a maior parte do tempo na cidade de Roma. Aí, gastou mais de trinta anos compilando material para a sua grande história universal, a que chamou Biblioteca Histórica. Esta obra em quarenta tomos foi dividida em três partes estruturais: a primeira (seis livros) contém um relato da história mítica de todas as civilizações por si conhecidas até à guerra de Tróia; a segunda (livros 7 a 17) compreende 0 período que vai da guerra de Tróia até à morte de Alexandre; a terceira (livros 18 a 20), estende-se de Alexandre às guerras de César na Gália. Os livros 21 a 40 sobreviveram apenas em extractos e citações de outros autores. 237 Versão integral disponível em digitalis.uc.pt NUNO SIMÕES RODRIGUES Como historiador, nota-se em Diodoro a falta de sentido crítico, agravado pelo excesso de matéria que pretende incluir numa obra demasiado ambiciosa. O seu trabalho, megalómano, vale sobretudo pelas preciosas informações que fornece acerca da geografia, pelos dados históricos, etnológicos e mitológicos, embora nem sempre seja seguro. Nesta sequência, encontramos uma série de elementos sobre a Mesopotâmia que nos permitem enriquecer 0 nosso estudo sobre a economia e a sociedade da região. Tais dados, contudo, dizem mais respeito à área geográfica do que propriamente à cidade em si. Diodoro Siculo contextualiza a informação enquanto parte de um espaço alargado, limitado pela Síria e pela Arábia. Sobre a primeira região, diz que o território era habitado por uma série de animais selvagens, como leões e leopardos, maiores do que os tigres de Babilónia (o que indica a existência destes na zona). Sobre a segunda, afirma que aí existia um ouro não metalífero, que era cavado directamente do chão(2). Provavelmente refere-se a ouro em pó. Segundo o historiador, a zona de fronteira entre a Arábia e a Síria, que influenciava a região de Babilónia, era habitada por uma quantidade considerável de lavradores e mercadores de todo 0 tipo, que, através de trocas sazonais, ultrapassavam a falta de bens que caracterizava ambos os territórios. Os agentes comercializavam os produtos que possuíam em abundância, mas que 0 autor não particulariza. Era inevitável que Babilónia fosse influenciada por esta rede comercial, que criava uma actividade de êxito económico. Para tal sucesso contribuiu o facto de 0 território ter a vantagem de ser irrigado pelos grandes rios da região, 0 que lhe permitia conseguir duas colheitas anuais, e mais cedo do que outros espaços. Junte-se a estas facilidades a natureza das regiões, ricas em animais domésticos, em especial em gado, que Diodoro particulariza nas ovelhas com longas e gordas caudas e nos camelos de diferentes tipos, cabeludos e pelados, dromedários e de duas bossas. Sobre os camelos, o siciliano conta que destes animais se aproveitava 0 leite e até a mesmo a carne. Estes eram ainda usados e treinados para a carga, transportando trigo e suportando um peso que, por vezes, atingia 0 de cinco homens. Tratava-se de um meio de transporte indispensável para 0 território, porque os dromedários aguentavam viagens de maior distância, especialmente por regiões do deserto, onde a água rareava. Diodoro Siculo refere ainda a existência de manadas de elefantes e outros animais selvagens que ali abundavam. Talvez se trate de um exagero literário, derivado das fontes indirectas ou da tradição orientalizante. Mas a hipótese não é inviável. A valorização dos elementos geo-etnográficos confirma-se 238 Versão integral disponível em digitalis.uc.pt