[Recensão a] José Nunes Carreira

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[Recensão a] José Nunes Carreira - Filosofia antes dos Gregos
Autor(es):
Gonçalves, Joaquim Cerqueira
Publicado por:
Instituto Oriental da Universidade de Lisboa
URL
persistente:
URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24473
Accessed :
15-Jun-2017 00:52:17
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CADMO
Revista do Instituto Oriental
Universidade de Lisboa
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RECENSÕES
questão menor de espiritualidade, este tema insere-se, pelo contrário,
no essencial dos paradigmas da teologia judaico-cristã da história.
Para o final (pp. 126-136), Ulrich Dahmen, da Universidade de Bona, preparou uma bibliografia sobre os Hodayot, indo desde 1948 até
1989.
José Augusto Ramos
JOSÉ NUNES CARREIRA, Filosofía antes dos Gregos, Publicações
Europa-América, Mem-Martins, 1994, 282 pp.
ISBN 972-1-03890-3
O título desta obra é já de per si interpelador, sem contudo ser,
hoje, provocatorio, passados que foram alguns entusiasmos racionalistas, os quais, na discussão, à volta da possibilidade, ou não, duma
filosofia cristã, propendiam para a negação desta, identificando filosofia e filosofia grega, onde situavam, por assim dizer, o berço cultural
da humanidade.
Não se trata, porém, agora, de recuperar a instância do mito, após,
0 seu extermínio, por superação, pela logos filosófico, como em tempos, também em nome da razão, se proclamou. O que este texto
mostra é a existência de uma sabedoria que precedeu as grandes
formulações gregas, as quais, em muitos aspectos, tiveram nela a sua
primeira tematização, ainda quando, por vezes, à mistura com esquemas míticos, aliás nunca ausentes da própria filosofia de estirpe grega.
O antes do título é, porém, mais abrangente, não se restringindo
ao caso dos pensadores gregos, remetendo para uma proto-sabedoria, da qual a própria Biblia não poderá dissociar-se.
A matéria desta obra não é inédita, nem 0 autor se arroga essa
pretensão, mas é certamente nova entre nós, pelo menos em formulação tão sistemática. É, com efeito, enorme 0 lastro bibliográfico, em
línguas não portuguesas, sobre que se apoia, jogando com a vantagem do manejo de uma diversidade de idiomas.
A riqueza da unidade deste texto deve muito à formação polimorfa do autor, bem se podendo até afirmar que é a dinâmica das
diferenças que 0 arrasta para essa necessária atracção da unidade.
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RECENSÕES
Um dos índices mais significativos do dominio interno, por parte do
autor, dos diferentes temas aí referenciados é a capacidade linguistica de os expressar em portugués cuidado e versátil, não cedendo,
como é frequente em empresas deste género, à solução preguiçosa
de simples adaptações artificiais de vocábulos estrangeiros.
José Nunes Carreira, porque domina os grandes temas - filosofemas - da cultura ocidental, soube surpreendê-los nos textos dessa
sabedoria remota, levantando, talvez, em alguns espíritos, o protesto,
embora injustificado, de anacronismo: O Ser e o Tempo, Natura e
Cultura, Teorização da Moral, Ensaios de Teodiceia. Filosofia da
Condição Humana. Não são estas categorias do pensamento ocidental? Contudo, 0 recurso a longos textos, em versão portuguesa,
onde essa sabedoria está consignada, acaba por convencer, até os
mais relutantes. No entanto, 0 significado desta obra, tal como porventura os protestos acima referidos, adensar-se-ia ainda mais, se
tivesse sido elaborado um índice Analítico diferente daquele que aí
figura, afinal muito pouco analítico.
A leitura deste texto não preenche apenas um grande campo
virgem da formação cultural comum, ainda que de nível universitário.
Ela induz também algumas conclusões, mais em jeito de alargamento de horizonte do que de resultados de premissas aí lançadas:
a unidade cultural da humanidade; 0 esforço cultural de epopeia
presente em todos os povos, esbatendo a ideia de “povos eleitos”;
a valorização e, ao mesmo tempo, a relativização das diferenças
etnocêntricas e provincianas.
Trata-se de um texto que regista mais núcleos estruturais do que
descreve história, não assumindo directamente o campo desta, dada
a consciência das dificuldades com que se depararia, se tentasse
uma incursão desse género. Por idênticas razões, não se pede ao
autor uma obra complementar, respondendo às muitas interrogações
que assaltam inevitavelmente os leitores, sobre encadeamentos,
prioridades e laços históricos de todas as expressões de sabedoria
abordadas. Já seria, no entanto, mais viável pedir-lhe que, depois de
assinalar a unidade delas, a aprofunde, não certamente para estabelecer nivelamentos uniformizantes ou simplesmente inventariar
nichos de estruturações míticas colectivas, mas para tocar as grandes categorias ontológicas que alimentam a sabedoria e a vida da
humanidade.
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RECENSÕES
A filosofia grega deixa, assim, de representar um momento originário, como aliás desde há muito se pensa, embora sem grandes
consequências na mudança da mentalidade que enforma o ensino
nas nossas escolas. Não se trata, porém e apenas, de uma relativização da filosofia grega, mas ainda da necessidade de rever muitas
das noções de filosofia com que temos operado, muitas vezes contrastadas com fontes, de que afinal ela se tem alimentado. Temos,
assim, nesta obra, boas sugestões para 0 debate que se vai travando á volta do iluminismo e do pós-modernismo, onde está em jogo a
grande questão da racionalidade, sobre a qual têm pairado os mais
esconsos preconceitos, embora alimentados em nome dela.
Joaquim Cerqueira Gonçalves
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