[Recensão a] José Nunes Carreira - Filosofia antes dos Gregos Autor(es): Gonçalves, Joaquim Cerqueira Publicado por: Instituto Oriental da Universidade de Lisboa URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24473 Accessed : 15-Jun-2017 00:52:17 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. 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José Augusto Ramos JOSÉ NUNES CARREIRA, Filosofía antes dos Gregos, Publicações Europa-América, Mem-Martins, 1994, 282 pp. ISBN 972-1-03890-3 O título desta obra é já de per si interpelador, sem contudo ser, hoje, provocatorio, passados que foram alguns entusiasmos racionalistas, os quais, na discussão, à volta da possibilidade, ou não, duma filosofia cristã, propendiam para a negação desta, identificando filosofia e filosofia grega, onde situavam, por assim dizer, o berço cultural da humanidade. Não se trata, porém, agora, de recuperar a instância do mito, após, 0 seu extermínio, por superação, pela logos filosófico, como em tempos, também em nome da razão, se proclamou. O que este texto mostra é a existência de uma sabedoria que precedeu as grandes formulações gregas, as quais, em muitos aspectos, tiveram nela a sua primeira tematização, ainda quando, por vezes, à mistura com esquemas míticos, aliás nunca ausentes da própria filosofia de estirpe grega. O antes do título é, porém, mais abrangente, não se restringindo ao caso dos pensadores gregos, remetendo para uma proto-sabedoria, da qual a própria Biblia não poderá dissociar-se. A matéria desta obra não é inédita, nem 0 autor se arroga essa pretensão, mas é certamente nova entre nós, pelo menos em formulação tão sistemática. É, com efeito, enorme 0 lastro bibliográfico, em línguas não portuguesas, sobre que se apoia, jogando com a vantagem do manejo de uma diversidade de idiomas. A riqueza da unidade deste texto deve muito à formação polimorfa do autor, bem se podendo até afirmar que é a dinâmica das diferenças que 0 arrasta para essa necessária atracção da unidade. 199 RECENSÕES Um dos índices mais significativos do dominio interno, por parte do autor, dos diferentes temas aí referenciados é a capacidade linguistica de os expressar em portugués cuidado e versátil, não cedendo, como é frequente em empresas deste género, à solução preguiçosa de simples adaptações artificiais de vocábulos estrangeiros. José Nunes Carreira, porque domina os grandes temas - filosofemas - da cultura ocidental, soube surpreendê-los nos textos dessa sabedoria remota, levantando, talvez, em alguns espíritos, o protesto, embora injustificado, de anacronismo: O Ser e o Tempo, Natura e Cultura, Teorização da Moral, Ensaios de Teodiceia. Filosofia da Condição Humana. Não são estas categorias do pensamento ocidental? Contudo, 0 recurso a longos textos, em versão portuguesa, onde essa sabedoria está consignada, acaba por convencer, até os mais relutantes. No entanto, 0 significado desta obra, tal como porventura os protestos acima referidos, adensar-se-ia ainda mais, se tivesse sido elaborado um índice Analítico diferente daquele que aí figura, afinal muito pouco analítico. A leitura deste texto não preenche apenas um grande campo virgem da formação cultural comum, ainda que de nível universitário. Ela induz também algumas conclusões, mais em jeito de alargamento de horizonte do que de resultados de premissas aí lançadas: a unidade cultural da humanidade; 0 esforço cultural de epopeia presente em todos os povos, esbatendo a ideia de “povos eleitos”; a valorização e, ao mesmo tempo, a relativização das diferenças etnocêntricas e provincianas. Trata-se de um texto que regista mais núcleos estruturais do que descreve história, não assumindo directamente o campo desta, dada a consciência das dificuldades com que se depararia, se tentasse uma incursão desse género. Por idênticas razões, não se pede ao autor uma obra complementar, respondendo às muitas interrogações que assaltam inevitavelmente os leitores, sobre encadeamentos, prioridades e laços históricos de todas as expressões de sabedoria abordadas. Já seria, no entanto, mais viável pedir-lhe que, depois de assinalar a unidade delas, a aprofunde, não certamente para estabelecer nivelamentos uniformizantes ou simplesmente inventariar nichos de estruturações míticas colectivas, mas para tocar as grandes categorias ontológicas que alimentam a sabedoria e a vida da humanidade. 200 RECENSÕES A filosofia grega deixa, assim, de representar um momento originário, como aliás desde há muito se pensa, embora sem grandes consequências na mudança da mentalidade que enforma o ensino nas nossas escolas. Não se trata, porém e apenas, de uma relativização da filosofia grega, mas ainda da necessidade de rever muitas das noções de filosofia com que temos operado, muitas vezes contrastadas com fontes, de que afinal ela se tem alimentado. Temos, assim, nesta obra, boas sugestões para 0 debate que se vai travando á volta do iluminismo e do pós-modernismo, onde está em jogo a grande questão da racionalidade, sobre a qual têm pairado os mais esconsos preconceitos, embora alimentados em nome dela. Joaquim Cerqueira Gonçalves 201