Fumar a Vida Quem me dera poder fumar a vida, Comer a felicidade com fome de manteiga, Curar de uma vez esta minha ferida Que me corrói e corrompe o corpo, Uma chama de calor se ateia Inundando o meu ser. Tudo à minha volta parece não ter A grande mola da adaptação, Dando azo à corrupção. Enrolo a vida na palma de minha mão, Procuro afastar-me da solidão, Mas quanto mais acompanhada, Mais enclausurada Me sinto. Estou cansada, não minto... Sonho era poder pular, voar Numa lágrima de sal Até o sol alcançar, Poder o céu abraçar E por entre as nuvens navegar. Os naufrágios da vida abandonar, Furar por entre as estrelas, Fundir sol e lua, Poder dizer "Sou tua". Olho para as ruas, Pessoas de pensamentos nuas, Crueldades tão cruas, Mentiras abafadas Por entre vidas agarradas A uma vida não existente, Um projecto pendente, Olhos de mágoa e ironia. Não sei o que realmente faria, Se pudesse fazer O que quero fazer. A vida é um cigarro: Esgota-se sem esforço; Grande velocidade de carro, Algo em que me contorço. Paro, cansada, Procuro um sítio onde me deitar, Mas tudo me enfada, Não quero neste mundo continuar. Gostava de pensar Sem usar o pensamento, Falar Apenas para dentro, Alguém encontrar Que tivesse a mola para me adaptar. Raquel Ribeiro Olá a todos os meus alunos, formandos, amigos e colegas. Já tentei mandar esta mensagem há algum tempo, mas, não sei por que motivo, deu erro. É com imensa mágoa que vos deixo a todos. Temos de fazer opções ao longo da nossa vida, optei por estar mais perto da minha pequena Inês, por poder acompanhá-la à escola, por ver o seu sorriso a deslizar pelo seu olhar sempre que me vê atrás das grades da escola dela à sua espera. Todos os dias o meu coração se enche de agonia por já não ver os rostos fantásticos e maravilhosos de todos vós. No entanto, essa dor desaparece quando a minha filha me diz que sou a mulher e mãe mais bondosa e corajosa do mundo! Tal como diz o meu poema, "A vida é um cigarro: esgota-se sem esforço". Esta metáfora alerta para o facto de que há coisas fantásticas à nossa volta, mas que não as aproveitamos. Quando, finalmente, nos apercebemos da magia da vida, Ela acaba por se extinguir e já não temos tempo para fazer o que deveríamos ter feito. A diferença entre a vida e o cigarro, é que podemos acender outro cigarro e voltar a deixá-lo esgotar-se como bem nos apetecer, fumando-o rapidamente, calmamente ou simplesmente deixá-lo esgotar-se sem o fumar. Mas a vida, essa é só uma, não temos o poder de voltar a acender outra vida e vivê-la de uma outra maneira diferente. Por esse motivo, desejo-vos toda a felicidade do mundo, lutem sempre pelo vosso objectivo, mas com dignidade, se for necessário levar algumas bofetadas da "vida", aceitem-nas, não criem raivas sem razões ou com razões. Aguardem pela hora da recompensa e da felicidade, pois elas chegarão. Termino o meu texto com um poema de um grande aluno meu. A comunidade educativa tem de saber que existem inúmeros talentos na nossa escola! É triste! É triste! Quando a mágoa Já não magoa Abafados pelo medo De uma saudade duradora Tempestade verbal Desafio à força mental Sentimento manifesto Que desperta o pecado carnal Expressão literária Sentimento unilateral Se amar é pecado Então Deus ensinou-nos mal Na definição de Platão Não existia a punição, Ancestral é a palavra Que não entende o coração O amor era platónico Jamais haveria traição Porque o amor era belo E não passava de atracção Era palavra proibida Nunca divagada em vão Era pura e sincera Inspirada em Eva e Adão. Carlos Alves-01-02-2010