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Pesquisa dá um importante passo para explicar por que o
cigarro deixa o cérebro mais bobo
por Ricardo Teixeira*
Já é bem sabido que o hábito de fumar aumenta o risco de demência,
mas os mecanismos para esse efeito nocivo do cigarro ainda não são
bem conhecidos. Um maior contingente de lesões vasculares sempre
foi o principal candidato para explicar essa associação, mas uma
pesquisa publicada na última edição do periódico inglês Brain aponta
que a questão envolve não só os vasos sanguíneos.
Pesquisadores holandeses estudaram mais de 500 voluntários e
demonstraram que o tabagismo está associado a alterações da
substância branca do cérebro, por meio de análise com uso de
técnicas de ressonância magnética sensíveis a alterações
microestruturais. Mais importante ainda foi o achado de que essas
alterações já não estavam mais presentes entre indivíduos que não
fumavam há 20 anos ou mais. Além disso, aqueles que ainda
mantinham o vício apresentavam pior desempenho cognitivo do que
os ex-fumantes.
Outro recente estudo acompanhou mais de dez mil indivíduos na
cidade de Londres, por mais de uma década, e mostrou que
tabagistas, já na meia idade, apresentam menor desempenho em
testes de memória e de raciocínio quando comparados à população
não fumante. Os ex-fumantes já no início do estudo, quando tinham
entre 35 e 55 anos de idade, apresentaram 30% menos risco de
perdas cognitivas com o tempo.
Uma em cada cinco pessoas ao redor do mundo fuma e já sabemos
que o cigarro diminui a expectativa de vida em sete a dez anos e
ainda representa a principal causa de morte evitável em muitos
países. O que as pesquisas têm demonstrado é que os não fumantes
e ex-fumantes, além de viverem uma década a mais, vivem esses
anos “extras” com maior qualidade de vida e com um cérebro mais
afiado.
O burrinho fumando parece politicamente incorreto? É uma
brincadeira de mau gosto com aqueles que sofrem com a dificuldade
de largar o vício do cigarro?
Há o outro lado da moeda. Já é bem demonstrado o impacto positivo
que têm as imagens associando o tabagismo a problemas da saúde,
sejam nos maços de cigarro ou em peças publicitárias como cartazes.
Cerca de um quarto dos ex-fumantes declara que essas imagens
ajudaram na decisão de largar o vício e a não voltar a fumar. Além
disso, as imagens ajudam a reduzir a incidência de novos fumantes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório esta
semana chamando a atenção para o fato de que mais países
precisam incorporar a estratégia de imagens e que 70% da população
mundial não tem contato com esse material antitabagismo, e que,
mesmo nos países em que a prática já foi instituída, as campanhas
ainda são muito tímidas. Para fazer efeito, elas precisam ter
regularidade e serem mantidas no longo prazo.
A OMS calcula que o tabaco provocará seis milhões de mortes este
ano no mundo todo, sendo que 10% dessas pessoas são aquelas que
respiram a fumaça dos outros.
* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do
Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do
Cérebro de Brasília.
** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-aDia.
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