O USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR UMA COMUNIDADE ESCOLAR EM SANTA CRUZ, RIO DE JANEIRO Ana Luiza de Moraes Schayder, Marcelly Mendes da Silva, Ana Beatriz Oliveira da Silva Orientador: Daniel dos Santos Silva E.M Princesa Isabel - SME\10ªCRE Tv. Boa Vista-291-SANTA CRUZ - CEP-20550-012 [email protected] Resumo: Em países subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil, o uso de plantas com finalidades terapêuticas tem uma grande relevância como lenitivo frente a deficiência no sistema de saúde e os altos preços de remédios manufaturados. Porém, as novas gerações parecem conhecer pouco sobre o valor terapêutico de várias espécies de plantas, mesmo as mais consagradas. Este projeto tem o objetivo de verificar junto à comunidade se há o conhecimento e quais as plantas medicinais são utilizadas, e criar um álbum botânico como mecanismo de divulgação de algumas destas espécies de grande valor. Palavras chave: Plantas medicinais, medicina alternativa, álbum botânico. Introdução: Plantas medicinais são todas as plantas que contenham substâncias terapêuticas. De acordo com Arnous (2005), as plantas medicinais tem sido pesquisadas e seu valor terapêutico muitas vezes confirmado pela ciência (ARNOUS, SANTOS, & BEINNER, 2005). São utilizadas como medicina alternativa por muitas pessoas , devido ao baixo acesso à saúde ou alto custo dos medicamentos (___,___) ou também como uma forma de manter hábitos e um modo de vida mais saudável (PEREIRA & CARDOSO, 2012). Atualmente, muitas destas plantas são também estudadas em laboratórios a fim de isolar as substâncias que lhes conferem propriedades medicinais para produzir novos fármacos, e a OMS (Organização Mundial de Saúde) já reconhece o seu valor, em especial em países subdesenvolvidos como o Brasil, onde o custo de fármacos industrializados pode ser um obstáculo (REZENDE & MONTEIROCOCCO, 2002). Devemos também ter um pouco de cuidado pois muitas plantas são levemente tóxicas, por este motivo têm de ser usadas com cuidado e em doses pequenas para obter o efeito desejado. As substâncias de interesse medicinal, normalmente, são os metabólitos secundários (PEREIRA & CARDOSO, 2012). Os metabólitos primários são moléculas que são essenciais para a vida da planta. Alguns metabólicos primários são os açúcares simples, as proteínas, os aminoácidos e os ácidos nucléicos. Os metabólitos secundários são restritos em sua distribuição, tanto dentro da planta quanto entre diferentes espécies de planta, produzidos como parte de sua defesa contra microrganismos ou outros fatores ambientais; como sinais químicos e para contribuir na polinização e dispersão de sementes (RAVEN, EVERT, & EICHHORN, 2001). Com tudo isto, surge a questão: O quanto nós, moradores de cidades grandes, costumamos utilizar esta via de baixo custo? O quanto os moradores do bairro de Santa Cruz, bairro que possui um dos mais baixos IDH da cidade do Rio de Janeiro (0,742, segundo o censo de 2010- site Instituto Rio), fazemos uso deste tipo de recurso de tão fácil acesso? O quanto temos conhecimento disto? Objetivo: O objetivo do projeto é investigar se e o quanto os membros da comunidade escolar da EM Princesa Isabel conhecem as plantas com propriedades medicinais, para promover a construção de um catálogo (no caso, o nosso álbum botânico) e apresentar estes vegetais, para que possam ser conhecidos e aproveitados pela comunidade, em especial pelo corpo discente de nossa escola, já que hoje em dia aparentemente é difícil de encontrar pessoas que utilizam as plantas medicinais como remédios na metrópole. Materiais e métodos: A pesquisa foi feita com entrevistas aos membros da comunidade escolar por meio de formulário fechado, com perguntas relacionadas a forma de uso e as doenças que possivelmente podem ser tratadas com essas plantas, como se poderá ver a seguir. As plantas citadas na entrevista foram coletadas, prensadas e secas para construir um álbum botânico que serão armazenadas no laboratório de ciências da escola, mas acessíveis a toda a comunidade via laboratório ou sala de leitura. Os dados da entrevista serão tabulados com as plantas usadas mais frequentemente e dando destaque ao espécime raro ou de uso pouco divulgado. A eficácia de tais remédios caseiros não será alvo, neste momento, da pesquisa, sendo abordada com a continuidade do projeto no próximo ano letivo. A entrevista foi feita em um formulário com perguntas discursivas, a saber: 1- Quando você ou algum parente ficam doentes, fazem o uso de plantas medicinais como remédio? Se sim, quais?; 2- De que forma você usa estas plantas?; 3- O que acha das plantas medicinais?; 4- Desde quando você usa as plantas medicinais como remédio?; 5- Você prefere tratar suas doenças com medicamentos tradicionais ou com plantas medicinais?; 6- Você indica algum tipo de planta? Quais?; 7- Hoje em dia é difícil encontrar pessoas que utilizam as plantas como medicamento. Você conhece muitas pessoas que utilizam?; 8- Como você conheceu as plantas medicinais?; 9- Você compra as plantas ou as cultiva?; 10 – Para você, qual a finalidade das plantas medicinais? As entrevistas foram realizadas entre março e julho do ano de 2016, com membros da comunidade escolar da Escola Municipal Princesa Isabel. Resultados e Discussão: Com os dados das entrevistas, observamos que muitos dos membros da comunidade escolar fazem uso de plantas com finalidades terapêuticas. Entre os vinte e três entrevistados estavam pais e mães de aluno, professores (residentes de Santa Cruz ou não) e os funcionários da COMLURB (Limpeza e APA – cozinha). Apenas 3 entrevistados afirmaram não ter o hábito de utilizar ervas medicinais e não ter conhecimento sobre o assunto. Entre os vinte entrevistados, apenas dois não residem em Santa Cruz. Você faz uso de plantas medicinais? 3 20 Sim Não Gráfico I – Entrevistados que fazem uso de ervas medicinais Entre os vinte entrevistados que afirmaram conhecer plantas medicinais, 30% cultivam suas ervas, em pequenas hortas em casa ou apartamento, 20% compram, e 40% compram algumas e cultivam outras; 10% pegam com vizinhos quando necessitam. Como você obtém as ervas que utiliza? 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Cultiva Compra Ambos Pegam com vizinhos Gráfico II – Forma de obter as plantas medicinais A planta mais utilizada pelos entrevistados foi o Boldo, utilizado por 90% dos entrevistados, seguido de erva cidreira (85%) e capim limão (70%). Estas ervas já são de uso consagrado entre as pessoas. Além destas, temos ainda as plantas amor do campo, parietária, pouco conhecidas entre os entrevistados (apenas 10% conheciam tais plantas) e o uso terapêutico de plantas conhecidas mais por suas propriedades culinárias (coentro e canela, por exemplo, utilizada como chá para finalidade terapêutica por apenas 1 dos entrevistados). Boa parte relata ter aprendido as receitas com familiares mais velhos ou por meio de ritos religiosos, mostrando o valor de tradições culturais normalmente desprezadas pela cultura dominante. Em 90% dos casos, temos o uso em forma de chá, e apenas 30% usam como inalação ou emplastro. O álbum botânico, em construção contínua, está depositado no laboratório de ciências da Escola Municipal Princesa Isabel, contando com a amostra das seguintes espécimes: Monocotiledôneas: Capim limão (Cymbopogon citratus); Dicotiledôneas: Erva cidreira (Melissa officinalis); Falso Boldo (Plectranthus barbatus). O principal objetivo da construção do álbum botânico era promover o uso de plantas medicinais entre o corpo discente, e apesar de ainda estar em construção, este já promoveu maior valorização do uso de plantas medicinais. Conclusões: Com esta pesquisa, percebemos que, ao contrário do que se acreditava a princípio, as plantas medicinais continuam sendo utilizadas por muitas pessoas, tendo suas propriedades curativas usadas por muitos. Passadas de geração a geração, o uso de plantas com finalidades terapêuticas se mantém vivo. No entanto, poucas são as espécimes que são conhecidas amplamente, como o Boldo e a Erva cidreira. Faz-se necessário uma ampla divulgação e campanha de incentivo ao uso das plantas medicinais, promovendo cada vez mais hábitos saudáveis. A construção do álbum botânico promoveu entre os alunos maior valorização do uso de plantas medicinais, antes vistas como “coisa de gente de idade”. Agradecimentos: Agradecemos aos Professores: Wilton, Raquel, Luciana, Sônia e Jorge por terem nos ajudados e colaborado com o nosso projeto. Referências: RUEDA, Mª M. M.; Conhecendo Nosso Jardim: roteiro básico. 3ª edição, Rio de Janeiro ARNOUS, A., SANTOS, A., & BEINNER, R. (junho de 2005). PLANTAS MEDICINAIS DE USO CASEIRO - CONHECIMENTO POPULAR E INTERESSE POR CULTIVO COMUNITÁRIO. Revista Espaço para a Saúde, pp. p.1-6. Instituto Rio. (s.d.). Sobre a Zona Oeste. Acesso em 10 de 09 de 2016, disponível em http://www.institutorio.org.br/sobre_a_zona_oeste PEREIRA, R., & CARDOSO, M. (Novembro de 2012). Metabólitos secundários vegetais e benefícios antioxidantes. Journal of Biotechnology and Biodiversity, 3(4), pp. pg. 146-152. RAVEN, P., EVERT, R., & EICHHORN, S. (2001). Biologia Vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. REZENDE, H., & MONTEIROCOCCO, M. (2002). A UTILIZAÇÃO DE FITOTERAPIA NO COTIDIANO DE UMA POPULAÇÃO RURAL. Rev Esc Enferm USP, pp. 282-288.