29 C APÍTULO 4 D INÂMICA DA P ARTÍCULA : I MPULSO E Q UANTIDADE DE M OVIMENTO Neste capítulo será analisada a lei de Newton na forma de integral no domínio do tempo, aplicada ao movimento de partículas. Define-se o conceito de impulso e quantidade de movimento e através da integração da lei de Newton ao longo do tempo podemos relacionar as forças aplicadas num intervalo de tempo com a variação da velocidade vetorial. 4.1 PRINCÍPIO DO I MPULSO E DA Q UANTIDADE DE M OVIMENTO L INEAR Vamos partir da formulação diferencial da lei de Newton F ma m dv dt (4.1) Tomando a diferencial de (4.1) e integrando entre os instantes de tempo t 1 e t 2 , sendo v 1 e v 2 as velocidades da massa m nestes instantes, obtemos t2 t1 F dt v2 m dv (4.2) mv 2 mv1 (4.3) v1 ou t2 t1 F dt Vamos definir o impulso de uma força num intervalo de tempo como 30 I1 t2 2 t1 (4.4) F dt Esta grandeza é vetorial e a sua intensidade corresponde à área da curva mostrada na Figura 4.1, entre os instantes t 1 e t 2 . F A t1 t2 t Figura 4.1 - Impulso de uma força F. A quantidade de movimento linear de uma partícula, ou simplesmente quantidade de movimento, é definida por L mv (4.5) onde v é a velocidade da partícula de massa m. A partir dessas definições o princípio do impulso e da quantidade de movimento (4.3) pode ser escrito como L1 I1 2 L2 (4.6) Em palavras, o quantidade de movimento linear num instante t 2 é igual à quantidade de movimento linear num instante t 1 mais a soma dos impulsos de todas as forças aplicadas à partícula entre estes instantes. Este princípio está escrito na sua forma vetorial. Em componentes retangulares, a forma (4.3) é dada por 31 t2 m vx1 t1 t2 m v y1 t1 t2 m vz 1 4.2 t1 Fx dt m vx 2 Fy dt m vy2 Fz dt m vz 2 (4.7) PRINCÍPIO DO I MPULSO E DA Q UANTIDADE DE M OVIMENTO L INEAR S ISTEMA DE PARTÍCULAS Seja um sistema de partículas, mostrado na Figura 4.2, onde F i é a resultante externa na partícula i e f i representa uma força interna. y fi G Fi rG ri x z Figura 4.2 - Sistemas de partículas. O princípio do impulso de da quantidade de movimento aplicado à i-ésima partícula do sistema é dado mi v1i t2 t1 t2 Fi dt t1 f i dt mi v 2 i (4.8) Somando para todas a i partículas do sistema resulta: mi v1i t2 t1 Fi dt t2 t1 f i dt mi v 2 i (4.9) Sabendo que a soma de todos os impulsos das forças internas f i é nula, obtemos 32 t2 mi v1i t1 Fi dt mi v 2i (4.10) Lembrando a definição do centro de massa G de um sistema de partículas, m rG (4.10) mi ri onde m mi é a massa total do sistema r G é a posição do centro de massa do sistema r i é a posição da i-ésima massa do sistema Através da derivação no tempo de (4.10) obtemos m vG (4.11) mi vi onde v G é a velocidade do centro de massa do sistema v i é a velocidade da i-ésima massa do sistema Portanto o princípio do impulso e da quantidade de movimento (4.10) pode ser escrito como t2 m vG 1 4.3 t1 Fi dt m vG 2 (4.12) C ONSERVAÇÃO DA Q UANTIDADE DE M OVIMENTO L INEAR Se a resultante de todas as forças externas que atuam numa partícula de massa m for nula, então a quantidade de movimento se conserva, ou seja mv1 mv2 C (4.13) 33 e, portanto, a velocidade da partícula é constante. Por outro lado, se num sistema de partículas não há forças externas atuantes, ou a soma dos impulsos das forças externas é nula, podemos escrever: m vG 1 m vG 2 (4.14) C e, portanto, a velocidade do centro de massa G do sistema se mantém constante. 4.4 I MPACTO Vamos inicialmente definir, para duas partículas que se colidem, impacto central e impacto oblíquo. Conforme mostra a figura 4.3 no impacto central as direções das velocidades das partículas, antes do impacto, coincidem com a linha de impacto. Por outro lado, no impacto oblíquo pelo menos uma das direções das velocidades antes do impacto não coincide com a linha de impacto. Plano de contato Plano de contato vA A B A B vB Linha de impacto vA a - central vB b - oblíquo Figura 4.3 - Impacto entre duas partículas A e B. Impacto Central Vamos inicialmente considerar apenas os impactos centrais. Consideremos a Figura 4.4 que mostra cinco situações que correspondem ao instante de tempo antes do impacto, intervalo de tempo durante o impacto na fase de deformação, instante de tempo de deformação máxima, intervalo de tempo durante o impacto na fase de restauração e instante de tempo após o impacto. 34 A B vA1 vB1 a - antes do impacto: v A1 > v B1 v - Rdt Rdt - Pdt Pdt AB A B A B b - durante o impacto A vA2 B vB2 c - após o impacto: v B2 > v A2 Figura 4.4 - Fases do impacto entre duas partículas A e B. Em muitos problemas as velocidades iniciais v A1 e v B1 antes do impacto são conhecidas e desejamos calcular as velocidades após o impacto v A2 e v B2 . Durante a colisão entre A e B, as ações entre ambas são internas ao sistema e, portanto, de impulso resultante nulo. Logo, podemos escrever para o sistema: mAv A1 mBvB1 mAv A2 mBvB 2 (4.15) Como temos duas incógnitas, é necessária outra equação para se calcular as velocidades após o impacto. Vamos aplicar o princípio do impulso e da quantidade de movimento a cada uma das partícula. Para a partícula A, na fase de deformação, até alcançar a máxima deformação, onde as velocidades de ambas as partículas são iguais a v, obtemos 35 mAv A1 P dt m Av (4.16) m Av A 2 (4.17) e na fase de restituição m Av R dt De (4.16) e (4.17) obtemos: R dt P dt m Av m Av A2 m A v A1 m A v v v A2 v A1 v (4.18) Para a partícula B, na fase de deformação, até alcançar a máxima deformação, onde as velocidades de ambas as partículas são iguais a v, obtemos mB v B 1 P dt mB v (4.19) mB vB 2 (4.20) e na fase de restituição mB v R dt De (4.19) e (4.20) obtemos: R dt P dt mB v B 2 mB v mB v mB v B 1 vB 2 v v vB 1 (4.21) Define-se coeficiente de restituição e ao quociente entre os impulsos da força de restituição R e da força de deformação P e R dt P dt (4.22) 36 Assim, podemos escrever a equação (4.18) e a (4.21), respectivamente, como e v v A2 v A1 v (4.23) e vB 2 v v vB 1 (4.24) e Eliminando v em (4.23) e substituindo em (4.24) obtemos finalmente e vB 2 v A 2 v A1 vB1 (4.25) ou e (v A1 v B1 ) vB 2 (4.26) v A2 Assim temos um sistema de duas equações, (4.15) e (4.25) ou (4.26), que permite calcular as velocidades das partículas A e B após o impacto, dadas as respectivas velocidades antes do impacto e o coeficiente de restituição e. São considerados dois casos limites para este coeficiente. Impacto elástico: não há perda de energia e os impulsos de deformação e de restauração são iguais. R dt P dt e=1 Impacto plástico: não há impulso de restituição e as partículas se movem juntas após o impacto. Neste caso basta usar a equação (4.15) fazendo v B2 = v A2 . R dt 0 e=0 Em situações reais, ocorre freqüentemente que apenas parte da energia se perde em deformação. Nestes casos tem-se um impacto parcialmente elástico. R dt P dt 0<e<1 37 Impacto Oblíquo Para o caso de impacto oblíquo, vamos adotar o eixo x na direção da linha de impacto entre as partículas A e B, conforme mostra a Figura 4.5. y A B vB vA x Figura 4.5 - Impacto oblíquo entre duas partículas A e B. Como as forças de deformação e restauração durante o impacto atuam apenas na direção x, podemos escrever para esta direção: mAv A1x mB v B1x e (v A1 x vB1 x ) mAv A 2 x (4.27) mB v B 2 x e vB 2 x (4.28) v A2 x Para a direção y, a conservação da quantidade de movimento do sistema é dada por mAv A1 y mB v B1 y m Av A 2 y mB v B 2 y (4.29) Como durante o impacto não há forças impulsivas em cada partícula na direção y, a quantidade de movimento de cada uma se conserva e m Av A1 y Logo v A 2 y m Av A 2 y v A1 y e vB 2 y e mB v B 1 y mB v B 2 y (4.30) vB 1 y . Assim, no caso do impacto oblíquo apenas as componentes na direção x das velocidades após o impacto necessitam ser calculadas através das equações (4.27) e (4.28), uma vez que na direção y as componentes das velocidades não se alteram com a colisão segundo (4.30). 38 4.5 Q UANTIDADE DE M OVIMENTO A NGULAR A quantidade de movimento angular de uma partícula em relação a u m ponto O é o momento da quantidade de movimento em relação a este ponto. A partir desta definição escreve-se HO (4.31) r mv y mv P HO r x O z Figura 4.6 - Quantidade de movimento angular H O . A partir da definição (4.31), o vetor quantidade de movimento angular H O tem direção perpendicular ao plano que contém os vetores posição r e velocidade v e o seu sentido é dado pela regra da mão direita. Em componentes retangulares pode ser calculado através de HO i j k rx ry rz mvx mvy mvz (4.32) onde H Ox m ( ry vz rz v y ) H Oy m ( rz v x rx vz ) H Oz m ( rx v y ry v x ) (4.33) Observe que no caso do movimento no plano xy, r z = 0 e v z = 0. Portanto obtemos H Ox = 0 e H Oy = 0. Assim temos no caso plano 39 HO H Oz m ( rx v y (4.34) ry v x ) Para interpretação geométrica, vamos considerar o caso de um movimento no plano xy, conforme mostrado na Figura 4.7. y x mv d HO O P x z Figura 4.7 - Quantidade de movimento angular no movimento plano. Podemos observar que o módulo de H O pode ser obtido por HO 4.6 r mv sen (d )( mv) (4.35) Q UANTIDADE DE M OVIMENTO A NGULAR E M OMENTO DE UMA F ORÇA Vamos escrever o momento resultante de todas as forças que atuam numa partícula em relação a um ponto O. Da definição de estática MO r F (4.36) Pela segunda lei de Newton MO r ma (4.37) Agora vamos derivar no tempo a quantidade de movimento angular desta partícula em relação ao ponto O. Derivando (4.31), obtemos dH O dt dr dv mv r m dt dt (4.38) 40 A primeira parcela de (4.38) é igual a zero , pois os vetores v e mv são paralelos. Portanto (4.38) é igual a dH O dt (4.39) r ma Comparando (4.37) e (4.39), resulta que dH O dt MO 4.7 (4.37) PRINCÍPIO DO I MPULSO E DA Q UANTIDADE DE M OVIMENTO A NGULAR A partir de (4.37) podemos escrever M O dt (4.38) dH O Integrando (4.38) entre os instantes de tempo t 1 e t 2 t2 t1 M O dt t2 t1 dH O HO2 H O1 (4.39) Portanto, o princípio do impulso e da quantidade de movimento angular para uma partícula é dado por t2 H O1 t1 M O dt HO2 (4.40) Definindo o impulso angular A O de uma força F em relação a um ponto O, entre os instantes de tempo t 1 e t 2 , como AO 1 t2 2 t1 ( r F ) dt podemos escrever (4.40) como t2 t1 MO dt (4.41) 41 HO1 AO 1 (4.42) HO 2 2 Quando a soma de todos os impulsos angulares atuantes numa partícula é nula, temos H O1 (4.43) HO2 que é a equação da conservação da quantidade de movimento angular. Seja definido um sistema de partículas. Para cada uma dessas partículas podemos aplicar a equação (4.40). A soma de todas estas equações é igual a t2 H O1 t1 M O dt HO2 (4.44) onde HO (ri mvi ) é a soma das quantidades de movimento angular de todas as partículas em determinado instante, aplicada nos instante t 1 e t 2 , e t2 t1 MO dt t2 t1 ( ri FEi ) dt é a soma dos impulsos angulares de todas as forças externas aplicadas às partículas, uma vez que o impulso angular resultante de todas as forças internas é nulo. Quando a soma de todos os impulsos angulares atuantes neste sistema é nula, temos que H O1 HO 2 (4.45) que é a equação da conservação da quantidade de movimento angular de um sistema de partículas.