Reconstrução levará Japão a novo ciclo de crescimento Próximos 2

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IG Notícias - SP
14/03/2011
Economia
Online
Reconstrução levará Japão a novo ciclo de crescimento
Olívia Alonso
Próximos 2 anos serão de retomada da produção; em seguida, país
deixará para trás a estagnação que dura 20 anos, dizem economistas
A economia japonesa, depois de cerca de 20 anos de estagnação,
deverá engatar a marcha do crescimento. A tragédia natural que destruiu
parte do país na última semana traz perdas humanas imensuráveis. O
perigo nuclear traz preocupação. Mas, quando a situação japonesa é
avaliada apenas do ponto de vista macroeconômico, o país terá uma
oportunidade de crescimento, segundo economistas. Eles acreditam que
passado um momento inicial de retomada de atividade produtiva, que
deve durar de um a dois anos, a economia japonesa deverá ter um
avanço expressivo.
“Em menor proporção, o Japão deverá ter um revival do avanço que
aconteceu no país após a 2ª Guerra Mundial”, diz Reinaldo Gonçalves,
professor titular de Economia Internacional do Instituto de
Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nas
décadas de 1950 e 1960, a economia do país deslanchou. No ano de
1968, por exemplo, cresceu mais de 12%.
No entanto, nas duas décadas seguintes, os japoneses avançaram 4,5%,
em média. A partir de 1990, foram raras as vezes que superaram 3% de
avanço anual. “O país está estagnado há 20 anos, desde 1991, quando
terminou o fluxo de investimentos para lá. Agora, poderá voltar a
crescer.”
Foto: Reuters
Após dois anos difíceis, de reconstrução, economistas dizem que a
economia japonesa deverá apresentar um crescimento forte
Mas o mesmo não aconteceria em outros países, segundo os
especialistas, pois poucas economias têm a mesma capacidade de
recuperação da japonesa. “O Japão tem um colchão de segurança”, diz
Lia Valls Pereira, coordenadora do Centro de Comércio Exterior do
Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getulio Vargas. O
país asiático possui grandes reservas de capitais e a população tem
como característica cultural a formação de poupança.
“A situação é totalmente diferente do que houve no Haiti, que é um país
carente. O Japão tem uma economia estabilizada e, apesar de perder
uns anos se reconstruindo, tem todas as condições de se recuperar”,
afirma Daniel Motta, professor de Economia do Insper. Assim, da mesma
forma que conseguiu se levantar após o terremoto de Kobe, em 1995,
desta vez o país não deverá ter problemas para financiar sua
reconstrução e retomar o consumo.
A estimativa de perdas nas regiões afetadas pelo terremoto e pelo
tsunami é de cerca de 15 trilhões de ienes (aproximadamente R$ 284,5
bilhões a R$ 305 bilhões), diz o Credit Suisse em relatório. Mas o Japão
possui reservas sete vezes superiores a este valor, de aproximadamente
US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 2,2 trilhões), lembra Gonçalves. “Só em
ouro, os japoneses têm US$ 35 bilhões (R$ 58 bilhões), que é
exatamente o montante estimado para os prejuízos das seguradoras com
a tragédia”, diz o professor da UFRJ. "Com esses recursos, o Japão vai
tirar de letra a reconstrução", diz Gonçalves.
Reconstrução
Na opinião dos economistas, serão necessários dois anos, no máximo,
para a economia japonesa entrar em uma trajetória de crescimento.
Neste período, pode ser que os japoneses percam o posto de terceira
maior economia do mundo para a Alemanha, depois de já terem sido
ultrapassados pelos chineses no ano passado. Mas a aposta é que
devem recuperar a posição nos anos seguintes.
“O PIB deverá ter sofrer impactos no curto prazo, sobretudo em função
dos efeitos negativos da catástrofe natural sobre o setor de alta
tecnologia. Mas acredito que os japoneses levarão dois anos para se
recompor”, afirma Celso Grisi, professor de Economia da Universidade
de São Paulo (USP) e diretor do instituto de pesquisas Fractal.
Neste primeiro ano, o Japão será palco de dois movimentos:
investimentos fortes em infraestrutura e aumento do consumo das
famílias. "Não será um ano de crescimento econômico, mas sim de
“retomada de atividade”, diz Motta, do Insper.
Os setores de telecomunicações, de portos, industrial e comercial, que
foram destruídos, receberão uma injeção de recursos para serem
refeitos. Também serão destinados capitais para a compra de máquinas
e equipamentos. Ao mesmo tempo, os japoneses que perderam suas
casas e carros vão colocar a mão na poupança e voltar a comprar esses
ativos.
"A demanda por investimentos para a reativação de todas as cadeias
produtivas, como de telefonia, automóveis e informática, por exemplo,
deve manter a economia e movimento", acrescenta Grisi. A partir daí,
será como um ciclo virtuoso. “Automaticamente, surgirão novos
empregos e a renda vai crescer e continuar a puxar o consumo”, diz o
professor.
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