Acção Sísmica sobre os Edifícios

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Acção Sísmica
sobre os Edifícios
Porque razão alguns edifícios caem?
Monitora: Catarina Pereira
Turma 4 Grupo 2:
José Silva
Mariana Magalhães
Henrique Amaral
Ana Rita Silva
Bruno Guimarães
Sebastião Leite
Outubro 2014
Agradecimentos
Introdução
Os sismos, ou tremores de terra, são catástrofes naturais que não podem ser
impedidas e que, conforme a sua intensidade, provocam destruição no local onde
acontecem. Estes são causadores de ferimentos, mortes, desalojamentos e danos
materiais. Por essa razão, os homens sentiram cada vez mais a necessidade de
prevenir, isto é, arranjar forma de, caso surja um sismo, minimizar estragos.
Um sismo é, portanto, um fenómeno natural que consiste na oscilação da superfície
terrestre, a qual é provocada pela libertação de uma grande quantidade de energia e
pela propagação de vibrações transmitidas a uma imensa área. Quanto maior a sua
intensidade, maior é a quantidade e a gravidade de consequências provocadas. Estas
são diversas, sendo que uma delas é o desabamento de edifícios, o qual causa as suas
próprias consequências. Com base nisso, foram sendo idealizadas maneiras de impedir
que os edifícios caíssem. É algo que é cada vez mais urgente, principalmente nas zonas
nas quais os sismos são mais frequentes. Neste trabalho pretende-se fazer uma breve
abordagem às consequências que pequenos erros na realização das estruturas dos
edifícios podem acarretar. Para isso, é importante conhecer o conceito de sismo e
entender com este movimento vibratório atua na superfície terrestre, perceber a
morfologia de um edifício e como cada uma das suas partes estruturais se comporta e,
por último, associar a essas características, problemas físicos que nelas podem atuar.
O que são sismos?
Os sismos, ou tremores de terra, de cujo estudo se ocupa a sismologia, são
movimentos vibratórios com origem nas camadas superiores da Terra, provocados
pela libertação de energia. A energia sísmica dispensa-se, a partir de foco, em todas as
direções e sentidos segundo vibrações que se propagam sucessivamente entre as
partículas; originando ondas sísmicas que fazem tremer a Terra. É de notar que,
durante um sismo, o terreno vibra na vertical e na horizontal e a superfície terrestre
pode ondular tal como o mar.
No estudo das ondas sísmicas, podemos destacar dois grandes géneros: as ondas
inteiras (designadas por ondas primárias (P) e secundárias (S) e as ondas superficiais
(que se dividem nas ondas de Love e de Rayleigh).
Em primeiro lugar as ondas P são ondas de maior velocidade de propagação e
caraterizam-se por comprimir e distender a matéria. As partículas também vibram na
mesma direção da onda sendo, por isso, designadas por ondas longitudinais. Estas
ondas incidem verticalmente nas estruturas sendo a sua ação atenuado pela massa
destas últimas.
Por outro lado, as ondas tipo S deformam os materiais a sua passagem sem alteração
do seu volume, isto é, são ondas de corte. Neste caso, as partículas do meio vibram
perpendicularmente à direção de propagação da onda, sendo, por isso, designadas
ondas transversais. Como incidem transversalmente nos edifícios, a sua ação sobre
estes é mais distribuidora.
No caso das ondas superficiais, daremos atenção exclusiva às ondas de Love. Estas
ondas são muito próximas da caracterização atribuída às ondas tipo S, no entanto,
atuam ao nível da superfície. As ondas de Love “varrem” a superfície terrestre,
horizontalmente, da direita para a esquerda, segundo movimentos de torsão,
atacando, preferencialmente, os alicerces dos prédios.
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Projeto FEUP – Ação Sísmica Sobre os Edifícios
Zonas de construção não adequadas
Para a construção de um novo edifício é necessário ter em conta a zona onde este vai
ser construído. Uma escolha inadequada do local poderá causar danos futuros, tanto
estruturais, como monetários.
A escolha da localização deve, primordialmente, respeitar um conjunto de fatores
relacionados com o que é suposto construir. Assim, devemos respeitar fatores:
1. Geológicos - onde se deverá ter em conta: a estabilidade e a inclinação do
terreno, a capacidade de carga do subsolo e a tendência a inundações,
terramotos e derrocadas;
2. Climáticos – em que se deverá ter em consideração o risco de danos
provocados pela chuva, queda de neve granizo, vento excessivo e a humidade.
Neste caso, é de apontar que as chuvas intensas e prolongadas que saturaram
os terrenos de água proporcionam a ocorrência de instabilidades de vertente
(essencialmente deslizamentos ou escorregamentos de terras) e de escarpas
(desabamentos e quedas de blocos).
A construção de edifícios em zonas de risco tem consequências graves chegando
mesmo a ser possível o seu desabamento. É de apontar que os sismos atuam de forma
mais percetível em zonas debilitadas como as que foram apontadas acima.
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Risco sísmico
Por interesses políticos e económicos, a construção de edifícios com capacidade de
suportar a ocorrência de sismos tem recebido menos atenção. Razão pela qual
continuamos a assistir à construção de edifícios e infraestruturas em locais onde é
frequente a ocorrência de sismos, sem as técnicas adequadas para a redução dos
riscos.
Nas grandes cidades, cuja densidade populacional é bastante grande, situadas em
zonas de elevado risco sísmico é fundamental a existência de edifícios resistentes a tais
catástrofes naturais.
Portugal, no contexto da tectónica de placas, situa-se na placa Euro-Asiática, limitada a
sul pela falha Açores-Gibraltar (FAG) – que corresponde à fronteira entre as placas
euro-asiática e africana – e a oeste pela falha dorsal do oceano Atlântico (como
conseguimos entender na figura seguinte). O movimento das placas caracteriza-se pelo
deslocamento para Norte da Placa Africana e pelo movimento divergente de direção EW na dorsal atlântica.
http://www-ext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/tectonica.html
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Devido a este contexto tectónico, o território português constitui uma zona de
sismicidade importante. “A sismicidade observada mostra que a atividade sísmica do
território português resulta de fenómenos interplacas e de fenómenos localizados no
interior da placa (sismicidade intraplacas). Aqui, ao contrário da sismicidade
interplacas que se caracteriza por sismos de magnitude elevada e grande
profundidade, a sismicidade é baixa a moderada e mais difusa, sendo difícil a relação
direta entre as falhas existentes e os epicentros dos sismos.” (http://wwwext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/tectonica.html)
No contexto intraplacas podem salientar-se como zonas sísmicas mais importantes de
vido ao histórico de episódios sísmicos que apresentam. São elas: o vale inferior do
Tejo, a região do Algarve, o vale submarino do Sado e a região de Moncorvo.
Para obtermos uma apreciação geral acerca da sismicidade em Portugal continental,
recorremos à carta das isossistas (linhas fechadas que unem pontos de igual
intensidade sísmica) máximas observadas até à atualidade, permitindo-nos concluir
que o risco sísmico no continente é elevado: as maiores concentrações demográficas
situam-se no seu litoral, precisamente nas áreas de maiores intensidades sísmicas
observadas:
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http://www.meteo.pt/sismologia/sismologia.html
Sismo de 1 de Novembro de 1755
O sismo de 1 de Novembro de 1755 foi um dos mais destruidores em Portugal, com
uma magnitude aproximada de 8.75 da escala de Richter, e foi o resultado dos
movimentos interplacas que resultou na destruição quase completa da cidade de
Lisboa, especialmente na Zona da Baixa, e atingindo ainda grande parte do litoral do
Algarve e Setúbal.
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Estrutura de um edifício
A construção de um edifício é realizada por um conjunto de fases de um projecto de
estruturas da obra em questão, desde a sua concepção inicial até à fase final de
dimensionamento, sendo percorridas, ao longo do processo, as fases de Concepção da
Solução Estrutural, Pré-Dimensionamento, Análise Sísmica e Dimensionamento.
Centremo-nos na questão do Pré-Dimensionamento onde, por uma questão de
simplicidade, destacamos três elementos para serem estudados: os pilares, e as lajes.
O que são Pilares?
Um pilar é um elemento estrutural vertical usado normalmente para receber os
esforços verticais de uma construção e transferi-los para outros elementos.
Na engenharia estrutural os pilares, em betão armado, são dimensionados para resistir
à compressão e à flexão. O betão apesar de praticamente não resistir a esforços de
tração, resiste bem a compressão, sendo que em edifícios pequenas dimensões, os
pilares são armados com a armadura mínima exigida pelas normas. Os pilares de betão
também devem receber uma armadura transversal que serva de apoio à armadura
longitudinal para a betonagem e que evite a encurvadura do pilar, quando este estiver
em carga.
O que são lajes?
Uma laje é um elemento de grandes dimensões de superfície plana. É uma peça
laminar de betão armado maciço ou aligeirado que faz parte da estrutura de uma
construção. Ela serve de divisória e de base aos vários níveis (pisos) da construção.
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Edificação em alvenaria VS Edificação em betão
armado
O que é uma construção em alvenaria?
Geralmente usada em edifícios de pequena dimensão, a alvenaria trata se de um
processo de construção de estruturas no qual são usados blocos (podem ser de betão,
tijolos, entre outros) ligados entre si por argamassa, gesso ou cimento.
O que é o Betão Armado?
Mais utilizado nos edifícios de tamanhos médios/grandes, o betão armado diferencia
se do betão (junção de cimento, areia, pedra e água) pelo facto de ser reforçado com
varões de aço, grelhas, fibras ou outros materiais inorgânicos.
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Edificação em Alvenaria
Edificação em Betão
Armado
-Pouco tempo de construção;
-Fácil manutenção e
execução;
-Materiais mais baratos;
-Simplicidade da construção;
Vantagens
-Económico.
-Fácil adaptação a outros
edifícios;
-Elevada resistência a
abalos (como os sismos);
-Durabilidade (aumenta ao
longo do tempo).
-Os materiais degradam se
rapidamente e a sua
manutenção é difícil e
dispendiosa;
Desvantagens
-Difícil adaptação a edifícios já
construídos;
-Elevada vulnerabilidade
sísmica.
Porquê que estes
edifícios caem na
ocorrência de um
sismo?
-Construção lenta;
-Se necessária, a demolição
do edifício é muito difícil;
-Elevado peso;
-Mais dispendioso que o
método de alvenaria.
-Existência de ligações
deficientes;
-Não reparação de danos
anteriores;
-Utilização de blocos de baixa
qualidade;
-Interação da estrutura
com paredes não
estruturais;
-Falta de manutenção da
estrutura;
-Alterações inadequadas da
estrutura.
-Irregularidades na
construção, que provocam
acumulação de esforços.
Tabela 1 – Alvenaria VS Betão Armado
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Eurocódigo 8
Os eurocódigos são um conjunto de normas europeias que visam unificar critérios e
normativas
de
cálculo
e
dimensionamento
de
estruturas
(http://www.futureng.pt/eurocodigos). “Os Eurocódigos têm como principal objetivo a
harmonização de um conjunto de regras técnicas para o projeto estrutural de edifícios
e de outras obras de engenharia civil na Europa, podendo ser também aplicados no
resto
do
mundo.”
(http://www1.ipq.pt/PT/Site/Noticias/Documents/eurocodigos_estruturais_201311.p
df).
Com base no tema deste trabalho, o Eurocódigo 8 é o mais pertinente de todos, visto
que se baseia na ação sísmica e construção de edifícios. Este eurocódigo consiste em
projetar estruturas sismo-resistentes, sendo que se divide em várias partes:
* Parte 1: Regras gerais, ações sísmicas e regras para edifícios (EN1998-1)
* Parte 2: Pontes (EN1998-2)
* Parte 3: Avaliação e reforço de edifícios (EN1998-3)
* Parte 4: Silos, reservatórios e condutas enterradas (EN1998-4)
* Parte 5: Fundações, estruturas de contenção e aspetos geotécnicos (EN1998-5)
* Parte 6: Torres, mastros e chaminés (EN1998-6)
As suas principais finalidades são a proteção da vida dos seres humanos, a diminuição
das perdas económicas e a certificação da manutenção das instalações de proteção
civil
importantes.
(http://www.lnec.pt/qpe/eurocodigos/seminario_lisboa/EC8_Parte1_LNEC2010_CC.pd
f).
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“O EC8 apresenta uma série de princípios orientadores para a concepção de edifícios
tendo em conta o risco sísmico, de forma a dotá-los de resistência a estas acções:
* Simplicidade estrutural;
* Uniformidade, simetria e redundância;
* Resistência e rigidez bidirecional;
* Resistência e rigidez de torção;
* Comportamento de diafragma ao nível do piso;
* Fundações adequadas.”
(https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/395137410625/TESE.pdf)
“Dada a natureza aleatória dos sismos e a limitação dos recursos disponíveis para fazer
face aos seus efeitos, a concretização destes objetivos só é parcialmente possível e
apenas mensurável em termos probabilísticos. O nível de proteção que pode ser
assegurada às diferentes categorias de edifícios, unicamente mensurável em termos
probabilísticos, constitui um problema de otimização da distribuição de recursos e, por
conseguinte, variável de país para país, dependendo da importância relativa do risco
sísmico em relação a riscos
de
outra
origem
assim
como
dos
recursos
económicos
globais.”
(http://www2.dec.fct.unl.pt/seccoes/S_Estruturas/Dinamica/mine/EC8_1_Portugues.p
df).
Uma vez transposto em Portugal, o Eurocódigo 8 exigiu uma atualização da
regulamentação portuguesa na área dos edifícios e pontes. Esta norma é aplicável nos
vários países da Europa, pelo que cada um tem de adaptar e fortalecer os seus planos
no que toca ao reforço, conforme as caraterísticas do país e a atividade sísmica nesse
mesmo.
(http://www.construir.pt/2007/10/19/eurocdigo-8-exige-esforo-de-
actualizao/).
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Inércia
“A inércia é uma propriedade física da matéria (e segundo a Relatividade, também da
energia). Considere um corpo não submetido à ação de forças ou submetido a um
conjunto de forças de resultante nula; nesta condição, esse corpo não sofre variação
de velocidade. Isto significa que, se está parado, permanece parado, e se está em
movimento, permanece em movimento em linha reta e a sua velocidade mantém-se
constante. Tal princípio, formulado pela primeira vez por Galileu e, posteriormente,
confirmado por Newton, é conhecido como primeiro princípio da Dinâmica (1ª lei de
Newton) ou princípio da Inércia”.
É ainda de notar que a inércia é característica de todos os corpos dotados de massa.
Desta forma, é fácil de entendermos que a força de inércia atua nos edifícios e que
tem enorme importância quando estes últimos são atingidos por um sismo. Ora, na
prática, se um edifício se encontra em repouso, quando atingido por um sismo, tende
– segundo a lei da Inércia – a permanecer em repouso. No entanto, se a intensidade da
força que lhe é imposta superar a intensidade da força de Inércia (mesma direção e
sentido oposto da primeira força), a estrutura cede e movimenta-se segundo a
vibração que lhe foi imposta.
Em termos práticos, aquando a construção de um determinado edifício “pretende-se
que [este] tenha a capacidade de acumular os movimentos transmitidos pla superfície
terrestre”.
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1. Deformação de um corpo
A deformação de um corpo contínuo (ou de uma estrutura) é qualquer mudança da
configuração geométrica do mesmo que leve a uma variação da sua forma ou das suas
dimensões após a aplicação de uma ação externa (como uma tensão ou variação
térmica que altere a forma de um corpo).
As formas de aplicação das tensões que causam deformações no corpo ou estrutura
em questão podem ocorrer por tração, compressão, cisalhamento, flexão e torção.
a. Tração é a solicitação que tende a alongar o corpo e ocorre no sentido
inverso ao apoio ou inércia resultante do sistema de forças.
Basicamente, a tração trata-se de utilizar um corpo e exercer sobre ele
esforços com sentidos opostos, tracionando-o. Na resistência dos
materiais, o objetivo é não permitir que isso aconteça, trabalhando
sempre no regime elástico do material. Neste regime, a peça trabalha
sem deformar-se permanentemente, pois ao ser encerrada a ação da
força, retorna à sua conformação original. Para isso, são feitos cálculos
utilizando o limite entre as duas deformações com um coeficiente de
segurança para que não haja risco de acidentes, sendo projetada assim
uma peça que suporte uma força maior que a mínima.
b. Compressão é a solicitação que tende a encurtar o corpo (reduzindo o
seu volume) e ocorre no mesmo sentido da reação de apoio ou inércia
resultante do sistema de forças. Um exemplo característico de objeto
submetido a esforços de compressão são as colunas dos prédios, que
recebem, com a mesma direção de seu eixo, as cargas acima delas.
c. Cisalhamento ou corte é a solicitação que tende a cortar o corpo e
ocorre com o deslocamento paralelo em sentido oposto de duas
secções contíguas.
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d. Torção é a deformação de um sólido em que os planos vizinhos
(transversais a um eixo comum) sofrem, cada um deles, um
deslocamento angular relativo aos outros planos, ou seja, é a
deformação que um objeto sofre quando se lhe imprime um
movimento de rotação, fazendo-se girar em sentido contrário as suas
partes constituintes.
e. Em engenharia denomina-se flexão ao tipo de deformação que
apresenta
um
elemento
estrutural
alongado
numa
direção
perpendicular a seu eixo longitudinal. O termo "alongado" aplica-se
quando uma dimensão é dominante frente às outras. Ou seja, trata-se
de é um esforço físico onde a deformação ocorre perpendicularmente
ao eixo do corpo, paralelamente à força atuante. Um caso típico são as
vigas, que estão projetadas para trabalhar, principalmente, por flexão.
Igualmente, o conceito de flexão estende-se a elementos estruturais
superficiais como placas ou lâminas.
2. Fendilhação
A consideração da fendilhação num determinado projeto está relacionada ao tipo de
obra e à sua finalidade. Assim, no caso de reservatórios, por exemplo, a formação de
fendas de grandes aberturas pode comprometer seriamente a estanqueidade exigida
para este tipo de estrutura. Para edifícios correntes, a fissuração excessiva do betão
pode acarretar, além de problemas estéticos, problemas de deterioração da estrutura
devido à corrosão da armadura.
A ocorrência de fendas ao nível do betão armado é inevitável porque tornar-se-ia
muito dispendioso. Desta forma, aquando da sua ocorrência, a solução será remendar
o estrago para que não se alastrem consequências indesejadas.
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Diversas são as circunstâncias que podem acarretar a formação de fendas, podendo-se
destacar entre elas:
a. Fendas causadas por solicitações devidas ao carregamento, causadas
por ações diretas de tração, flexão ou corte, ocorrendo sempre na zona
tracionada;
b. Fendas causadas por deformações impostas (ações indiretas), tais como
retração, variação de temperatura e assentamentos diferenciais.
Um caso prático de fendas causadas devido ao carregamento acontece quando um
edifício é projetado para um determinado fim (uma habitação, por exemplo) e acaba
por adquirir outra finalidade (como a utilização dessa estrutura para escritórios). Ou
seja, a resistência dos materiais para o segundo caso teria de ser maior do que para o
primeiro. Como essa resistência não é garantida, então podem formar-se fendas no
material que constitui o edifício.
É ainda de notar que, aquando a abertura de fendas, a parte armada do betão é sujeita
a uma exposição ambiental. O limite de abertura de fendas admissível depende da
agressividade do ambiente e/ou do tipo de utilização da estrutura e da sensibilidade
das armaduras. No que diz respeito à agressividade do ambiente, são destacados três
diferentes tipos de ambientes:

Ambientes pouco agressivos – ambientes onde a humidade relativa é
geralmente baixa e onde os agentes corrosivos são escassos (interior de
edifícios);

Ambientes moderadamente agressivos – correspondem a ambientes interiores
onde a presença de agentes corrosivos seja expectável ou a humidade relativa
seja habitualmente elevada, ambiente exteriores sem concentrações especiais
de agentes corrosivos, ou ainda águas e solos pouco agressivos;

Ambientes muito agressivos – ambientes com presença elevada de agentes
corrosivos, líquidos agressivos (caso de uma ETAR), ou solos especialmente
agressivos.
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Em função do tipo de ambiente será então definido a abertura máxima de fendas
admissível. Atingindo este valor máximo especificado, a durabilidade e bom
funcionamento da peça de betão fica em causa.
3. Relação com os sismos – então porquê que os edifícios
caem?
a. Inércia dos blocos de elevadores
É fácil entendermos que os abalos causados pelos sismos vão causar
estragos nos edifícios. Os movimentos horizontais provocados pelas ondas
sísmicas internas S e pelas ondas sísmicas superficiais de Love ao atingirem
um edifício podem provocar as deformações descritas anteriormente. Para
explicar a situação, imaginemos uma situação hipotética de um edifício de
quatro pisos que é atingido por um sismo de elevada intensidade. Por
questões de segurança definiu-se que blocos com elevadores se encontram
no centro da estrutura e que estes últimos são construídos em betão
armando e nunca em alvenaria. Desta forma, caracterizam-se por ser uma
zona mais inerte, ou seja, estes blocos têm tendência a resistir ao abalo
sísmico, suportando o balanço do restante edifício. Este comportamento
torna estas zonas mais sensíveis a deformações caracterizadas pela torção.
Quando os materiais que as constituem não são suficientemente
resistentes a estes movimentos bruscos, então a estabilidade do edifício
fica comprometida e este pode mesmo acabar por cair.
b. Compressão dos pilares
Neste casos, damos atenção às ondas internas P por serem ondas
longitudinais que se caracterizam por comprimir e distender a matéria. Ou
seja, ao nível dos edifícios elas atingem-nos verticalmente e os abalos que
provocam são atenuados pela massa do corpo em questão. No entanto,
pilares com dimensões desfavoráveis ou em condições inadequadas não
resistem à compressão que lhes é imposta. Nestes casos, o edifício pode
entrar em colapso.
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c. Tração das estruturas
Aquando um abalo sísmico, se a intensidade da força de inércia for inferior
à intensidade da força sísmica, então o edifício vai abalar de acordo com
essa vibração. Quando a estrutura, nessa resposta, admite uma inclinação
para a direita, nota-se os pilares mais à direita da estrutura sofrem pela
ação da compressão, porque a massa que vão suportar é maior do que
aquela que estavam projetados para aguentar. Pelo contrário, a parte
esquerda do edifício vai sofrer a ação de duas forças contrárias: a força de
inércia (sentido: de cima para baixo) que tende a manter o edifício em
repouso e uma outra força de sentido contrário provocada pela
movimentação do edifício para a direita. Desta forma, a parte esquerda da
estrutura vai ser alongada verticalmente, ou seja, vai ser tracionada.
Quando a resistência dos matérias envolvidos na tração não permite que,
após o abalo, estes regressem à sua forma original, então a estrutura perde
a estabilidade e pode cair.
d. Consequências da fendilhação aquando um sismo
É frequente ocorrerem fendas nas paredes dos edifícios provocadas pela
retração do betão devido à variação de temperatura. Consequências destas
são inevitáveis porque seria economicamente dispendioso impedir estas
reações, como abordamos em tópicos anteriores. Desta forma, se um
edifício apresenta fendas, estas vão ter enorme importância durante a
ocorrência de um sismo, porque a força que é imposta à estrutura
juntamente com a força de inércia que atua em sentido contrário ao da
primeira podem provocar a expansão das fendas associada a movimentos
de tração e torção dos materiais anteriormente danificados. Se a dimensão
das fendas ultrapassar o seu limite de abertura, então o edifício pode entrar
colapso.
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Conclusão
A partir da abordagem realizada nas páginas anteriores, conclui-se que erros na
concretização das estruturas ou falta de manutenção das mesmas trazem
consequências que podem chegar mesmo à cada do edifício em questão. À fendilhação
atribui-segurando destaque porque o betão, quando abre fendas, possibilita à
armadura o contacto com o meio ambiente de tal modo que possam ocorrer reações
químicas responsáveis pela degradação do material em questão. Também as
deformações adquirem um papel primordial neste contexto. Corpos que sofrem
deformações exageradas podem comprometer a uniformidade e – por consequência –
a estabilidade de um edifício, como os exemplos apresentados em tópicos anteriores.
Em suma, é de máxima importância o trabalho pormenorizado e calculista antes da
construção de uma determinada estrutura, bem como da sua constante manutenção.
É necessária a constante engenharia em todo esse processo, porque enquanto um
arquiteto procura a beleza, um Engenheiro calcula a essência.
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