O INSTITUTO DO ROCK - II Congresso Internacional de Estudos do

Propaganda
O INSTITUTO DO ROCK:
A POSSIBILIDADE DE MUSICALIZAÇÃO ATRAVÉS DO ROCK’N’ROLL
Rafael Arcanjo
(IFPR/ Campus Telêmaco Borba)
[email protected]
Rafael Augusto Michelato
(IFPR/ Campus Telêmaco Borba)
[email protected]
INTRODUÇÃO:
Desde o ano de 2012 a música é, ou deveria ser, uma realidade nas escolas brasileiras,
com a aprovação da lei 11.769/2008 que versa sobre a obrigatoriedade do ensino de música na
escola os professores de música tem buscado ocupar espaços nos currículos escolares de
maneira a devolver a música um status de disciplina e campo de conhecimento.
Vários autores tratam das potencialidades de musicalizar com o rock dentre eles
destacamos: Souza et al. (2003), França (2012), Azevedo (2009), Mosca (2010) Michelato e
Silva (2013) entre outros. Estas pesquisas demonstram que dentre os estilos musicais, o Rock
possui grande aceitação dentre os jovens. Esta aceitação pode servir para a efetivação da
educação musical escolar, comprometida com a sistematização e ampliação dos
conhecimentos musicais do educando inserido em sua realidade musical.
É consenso entre os educadores musicais que devemos
conhecer a realidade dos nossos alunos e compreender como eles se
relacionam com a música fora da escola – em quais situações, sob que
formas, por quais processos e procedimentos, com que objetivos, com quais
expectativas e interesses -, para qual sejam possível construir práticas
pedagógicos-musicais significativas dentro das salas de aula, práticas essas
que, ao incorporar as experiências musicas extraescolares dos alunos,
possam ser ampliadas e aprofundadas (HENTSCHKE e DEL BEN 2003).
Portanto, conhecer a realidade musical dos educandos, auxilia a compreensão das
maneiras com que eles se relacionam com a música, seus interesses, permitindo que dentro do
possível sejam contempladas estas vivências e práticas, que foram adquiridas em seus
convívios sociais, para favorecer o ensino, o interesse, e o aprendizado significativo.
1
Buscar diferentes possibilidades para o ensino é uma constante no Instituto Federal do
Paraná, o objetivo deste trabalho é apresentar um relato de experiência dos projetos
desenvolvidos com estudantes do ensino médio em busca da musicalização através do Rock.
Apresentamos a Banda estudantil Cabeças Voadoras, a criação e execução de arranjos para
Orff Instrumentarium de clássicos do rock tendo como base no Orff Schulwerk, e atividades
de composição a partir de poemas.
O INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ - IFPR:
O IFPR é uma instituição pública de ensino técnico e tecnológico vinculada ao
Ministério da Educação (MEC) pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
(SETEC), oferta educação profissional de forma exclusivamente gratuita em diferentes níveis
de ensino.
Criado pela Lei 11.892/2008 a partir da Escola Técnica da Universidade Federal do
Paraná, o IFPR tem como finalidade primeira a oferta de educação profissional e tecnológica
nos mais diversos níveis e modalidades, com vistas a formar e qualificar cidadãos para a
atuação profissional em diversos setores econômicos, observando os arranjos produtivos
locais promovendo um desenvolvimento socioeconômico nas cidades em que está inserido,
em sua região e nacionalmente. Pacheco e Silva (2009) ao tratar sobre a lei de criação dos
institutos compreende que “Com os Institutos Federais, o governo brasileiro, [...] ousa criar
uma institucionalidade absolutamente nova e inovadora, capaz de revolucionar a educação
profissional e tecnológica de nosso país” (ibd, p.11).esta inovação diz respeito à logística de
oferta de cursos, interiorização da educação profissional, identidade institucional entre outros.
Atualmente o IFPR possui 30 unidades de ensino entre campus e unidades avançadas e
possui mais de 23 mil estudantes em 39 cursos técnicos, 18 cursos superiores e três cursos de
especialização na modalidade presencial além de 11 cursos técnicos e um curso de
especialização na modalidade à distância.
A preocupação com a promoção da inclusão social é uma característica do IFPR, pois,
70% das vagas de ingresso nos cursos são para alunos cotistas. Além das cotas, as próreitorias possuem recursos para ofertar auxílios aos estudantes (transporte, alimentação e
moradia), também bolsas de inclusão social e para alunos esportistas. Ampliando as
2
possibilidades da oferta de bolsas e incentivos, o IFPR também oferta bolsas de projetos de
pesquisas e extensão, com recursos próprios e em parcerias com o CNPq e a Fundação
Araucária. Bolsas e auxílios tem o papel de manter os alunos no campus por mais tempo, e
que neste tempo ele participe de projetos e/ou programas que venha complementar sua
formação, visando à formação integral do educando.
A formação integral do educando não perde de vista a formação humanística, para que
o ensino técnico venha a se desvencilhar da ideia retrograda do tecnicismo, ou o “paradigma
do apertador de parafuso1”.
Atualmente está em processo de implementação a “Bolsa de Arte e Cultura” onde o
educando será inserido em um projeto de criação, produção ou difusão das artes nos campi do
IFPR, e tem por objetivo valorizar a arte e a cultura enquanto atividades curriculares
indispensáveis à formação integral do educando.
O Campus Telêmaco Borba, foi inaugurado no ano de 2010, atualmente possui oito
cursos regulares. Os Superiores em Automação Industrial e Análise e Desenvolvimento de
Sistemas na modalidade Tecnólogo e Física na modalidade Licenciatura; os cursos de
Florestas, Mecânica, Automação Industrial e Informática para Internet, na modalidade ensino
médio integrado ao técnico; e Confecção de Instrumentos Musicais na modalidade de
formação inicial e continuada.
A escolha de Telêmaco Borba para a implantação do campus foi estratégica, pois a
cidade é circundada por cidades de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) o maior
conglomerado de cidades com esta característica em território paranaense.
Mais uma vez se faz presente à missão de qualificação de profissionais que durante
anos foram deixados à margem do processo educativo formal. A educação inclusiva,
apregoada, devolve o direito ao conhecimento e à formação de cidadãos. Privilegiando
aqueles marginalizados historicamente. Desta forma poderemos dar início a processo que
forme trabalhadores conscientes, críticos e livres, que sejam os sujeitos das transformações
almejadas.
1
O paradigma do “apertador de parafusos” onde o aluno aprende a repetir uma tarefa sem pensar em
possibilidades ou ter uma concepção do todo do que está produzindo, é uma peça de reprodução que pode ser
substituída a qualquer momento sem prejuízo ao modelo a qual está inserido.
3
A EDUCAÇÃO MUSICAL COMO DISCIPLINA:
Desde o ano de 2012 a música voltou a fazer parte do currículo escolar por força da
Lei 11.769/2008, sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a referida lei
modifica a LDB 9394/1996 e torna os conteúdos musicais obrigatórios na educação básica. É
importante ressaltar que ela nunca foi excluída oficialmente das escolas, porém, questões
legais relegaram a música uma função acessória ao ensino de outros conteúdos ou
passatempo.
Diferentemente do que se possa pensar, a obrigatoriedade do ensino de música nas
escolas não implica necessariamente na criação de uma disciplina específica para este
conteúdo. Há vários casos em que a música é ministrada como conteúdo da disciplina de arte
ou de outras disciplinas.
O Campus Telêmaco Borba é o único campus do IFPR que tem em sua grade a
disciplina de Música, para o ensino médio integrado ao técnico tendo o único professor
licenciado em música a atuar na disciplina de música e não na disciplina de arte.
A Disciplina de música, no IFPR, tem por objetivo musicalizar o educando.
Musicalizar, em sua acepção mais pura é “tornar um indivíduo sensível e receptivo ao
fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical”
(GAINZA, 1988, p. 101), também
Desenvolver os instrumentos de percepção para que o indivíduo possa ser
sensível à música, apreende-la, recebendo o material sonoro/musical como
significativo – pois nada é significativo no vazio, mas apenas quanto
relacionado e articulado no quadro das experiências acumuladas, quando
compatível com os esquemas de percepção desenvolvidos. (PENNA, 1990, p.
22)
E ainda
Concebemos a musicalização como um processo educacional orientado que,
visando promover uma participação mais ampla na cultura socialmente
produzida, efetua o desenvolvimento dos instrumentos e de percepção,
expressão e pensamento necessários à apreensão da linguagem musical, de
modo que o indivíduo se torne capaz de apropriar-se criticamente das várias
manifestações musicais disponíveis em seu ambiente – o que vale dizer:
inserir-se em seu meio sociocultural de modo crítico e participante.
(PENNA, 2008, p. 47)
4
Nestas perspectivas, musicalizar é desenvolver as potencialidades musicais inerentes a
todos os seres humanos. A Música está presente nas escolas brasileiras de várias maneiras,
jogos, passatempo, atividades de doutrinação (musica do lanche, musica da fila, música do
recreio etc.), paródias para fixação de conteúdos etc., porém, a grande maioria não está
vinculada diretamente à objetivos musicais. É importante ressaltar que a Educação Musical
não visa formar músicos profissionais, ela “Objetiva, entre outras coisas, auxiliar crianças,
adolescentes e jovens no processo de apropriação, transmissão, e criação de práticas músicoculturais como parte de construção de sua cidadania.” (HENTSCHKE e DEL BEN 2003, p.
181). Portanto a educação musical mantém sua preocupação no estudante, para que ele possa
ampliar seus conhecimentos, e tomar parte da cultura em que está inserido.
Observando os usos e funções da educação musical, sua importância e desafios,
criamos o Laboratório de Educação Musical que atualmente é um dos mais equipados do
Paraná.
Figura 1 - Foto Panorâmica do Laboratório de Educação Musical em 2013. Fonte: do autor
Atualmente conta com instrumentos de cordas (violões, baixos elétricos, guitarras,
violinos, piano), metais (trompetes, flugeis, tubas, trombones) percussão (bateria, conjunto de
percussão básico), instrumentos eletrônicos (teclados e pianos eletrônicos), Instrumental Orff
(Xilofones, metalofones, glockenspiel) amplificadores e mesa de som, sistema de P.A. Caixas
amplificadas para instrumentos elétricos, microfones, etc. esta infraestrutura é rara na maior
parte de instituições de ensino brasileira.
AS POSSIBILIDADES DE MUSICALIZAÇÃO ATRAVÉS DO ROCK
O Educador musical deve compreender e utilizar as potencialidades do Rock para a
musicalização de adolescentes. Não se trata de abdicar do estudo de temas importantes e
preciosos à educação musical, mas sim, aproveitar-se deste gênero, para alcança-los.
5
Green (2008) apresenta possibilidades de incorporar práticas informais em espaços
formais, para tanto se deve adotar a aprendizagem colaborativa. Nesta abordagem, devemos
dialogar com os estudantes para que a partir de seus conhecimentos e utilizando-se de sua
linguagem, possamos promover atividades de composição, improvisação, audição, execução
de maneira ativa e atraente para o estudante.
Advogando a abordagem ativa de educação musical escolar, o compositor Keith Swanwick,
criou o modelo T.E.C.L.A2. O autor propõe o ensinar música musicalmente, pois
o propósito da música não é, simplesmente, criar produtos para a
sociedade. É uma experiência de vida em si mesma, que devemos tornar
compreensível e agradável. É uma experiência do presente. Essas crianças
estão vivendo hoje, e não aprendendo a viver para o amanhã. Devemos
ajudar cada criança a vivenciar a música agora. (SWANWICK; JARVIS,
1990, p.40 apud SWANWICK, 2003, p.72).
Nesta concepção, a música deve ser vivida ativamente, e deve-se levar em conta todas
suas potencialidades: criação, execução, apreciação, etc., e não ser encarada como um há de
vir, sem sentido para quem a faz.
O Rock é o gênero mais citado como preferido dentre os jovens, de acordo com a
pesquisa de Sebben (2008). Dentre todos os estilos, populares e eruditos os estudantes que
cursavam a época a oitava série o Rock foi o mais citado como sendo o gênero de predileção,
e consequentemente o mais consumido por eles. Outros autores como Quadros Júnior (2005)
Arroyo (2004, 2005 e 2005b) apresentam o rock como o gênero de maior aceitação dentre os
jovens.
Sabendo das potencialidades do Rock, da importância da aprendizagem colaborativa,
da necessidade de partir dos conhecimentos dos educandos em busca de um conhecimento
sistematizado, e da importância de abordagens ativas para a educação musical, criamos uma
série de atividades que partem destes pressupostos em busca da musicalização de jovens e
adolescentes.
2
T – Técnica (manipulação de instrumentos, notação simbólica, audição).
E – Execução (cantar, tocar).
C – Composição (criação e improvisação).
L – Literatura (história da música e teoria).
A – Apreciação (reconhecimento de estilos / forma / tonalidade / graus).
6
Descreveremos as experiências de musicalização com a Banda estudantil Cabeças
Voadoras, a criação e execução de arranjos para Orff Instrumentarium de clássicos do rock no
Orff Schulwerk, e atividades de composição a partir de poemas.
A Banda estudantil Cabeças Voadoras
A Banda Cabeças Voadoras, foi criada e por motivação de uma apresentação no
seminário de pesquisa e extensão do IFPR a pedido da direção do campus, porém com o
decorrer dos ensaios percebemos nela uma grande possibilidade de ampliação dos
conhecimentos dos estudantes nela inseridos.
Tendo consciência de que o conhecimento em bandas de rock são construídos, quase
que unanimemente, de forma auto-didata ou informal (SOUZA et al. 2003), criamos um
repertório que contava a história do Rock desde seus primórdios até a atualidade, tendo o foco
no aprimoramento da técnica instrumental dos estudantes, mas também na criação do show
que apresentaria este percurso para a plateia.
Feito o processo de seleção para as vagas disponíveis, tínhamos dois guitarristas um
para a guitarra base e outro para a guitarra solo, um casal de vocalistas, um baterista e um
baixista. A vaga de pianista/tecladista não fora preenchida por falta de inscritos. Neste
primeiro momento mantemos o foco na ampliação dos conhecimentos dos participantes.
Utilizamos gravações para que os mesmos reconhecessem auditivamente a diferença dos
diferentes períodos da história do rock.
Buscamos um aprimoramento na técnica de execução instrumental e vocal, para que
fossem ampliados os saberes sociais dos participantes. Principalmente no que tange a fraseado
musical, sobreposição de notas, inversão de acordes, ritmo e fidelidade aos arranjos originais.
Um breve roteiro para o show foi urdido para que os espectadores conseguissem
compreender qual a razão e como fluía aquele repertório que iniciava com Folson prision
Blues (1957) de Johnny Cash e finalizava com Take me out (2004) de Franz Ferdinand,
passando por Rita Lee, Raul Seixas, Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones, The Clash, Queen,
Os Mutantes, Barão Vermelho, Nirvana, Etc.
A experiência foi gratificante para os educandos instrumentistas e para os
expectadores, gerando grande repercussão entre as outras bandas estudantis presentes no
7
evento, os professores, diretores e pró-reitores do IFPR. Fomos convidados para que neste ano
tenhamos uma noite exclusiva da banda, fora do circuito de bandas estudantis no Se²pin de
2015. Este reconhecimento impulsionou os participantes a cada vez buscarem ampliar ainda
mais seus conhecimentos e melhorarem suas performances.
O Orff Schulwerk e arranjos de Rock
A possibilidade de executar instrumentos musicais não pode se restringir a aqueles que
já possuíam conhecimentos prévios anteriores ao ingresso no IFPR, nem sequer se limitarem
às possibilidades socialmente conhecidas como padrão de instrumentação para se fazer rock
(baixo, guitarra e bateria). Conhecendo a proposta de Carl Orff, criamos uma série de arranjos
baseados no Orff Schulwerk de músicas dos Beatles.
O Orff Schulwerk, popularmente conhecido como método Orff, se tratam de
concepções pedagógico-musicais para o ensino de música de forma ativa e deriva da obra
Musik für Kinder (música para crianças) de Carl Orff e Gunild Keetmann. Ele é dividido em
cinco volumes com dificuldade progressiva, iniciando com rimas e parlendas no volume um e
chegando às dominantes do modo menor no quinto e ultimo volume. A pedagogia Orff para
musicalização é baseada na experimentação ativa do educando, onde o aluno desde o
principio produz música.
Métodos Ativos em Educação Musical priorizam a vivência musical direta e
imediata, a manipulação/experimentação sonora, a prática musical coletiva e a
vivência corporal da música como base inicial do processo de ensino-aprendizagem
musical (BENEDETTI e KERR, 2009, p.86).
O foco principal do processo é o entendimento integrado, nenhum dos eventos é
independente ao outro, eles acontecem de forma concomitante e tem a mesma importância. O
equilíbrio e a integração não quer dizer que todas as atividades devem estar contempladas em
todas as aulas, elas podem ser distribuídas dentro de um módulo.
Mas como fazer música com alunos sem experiência ou contato com instrumentos
musicais? Preocupado com a experiência ativa, e conhecedor da importância de manipular
instrumentos musicais, Orff pesquisou instrumentos de percussão primitivos africanos e
asiáticos, instrumentos estes que não exigiam muita técnica para serem executados. E cria o
8
que hoje é conhecido como Orff Instrumentarium ou Instrumental Orff. Que é composto por
instrumentos de Plaqueta (com altura definida) e Percussão (com altura não definida).
Os instrumentos de Plaqueta são os Xilofones (soprano, contralto e baixo) os
Metalofones (soprano, contralto e baixo), os Bordões e o Glockenspiel. Os instrumentos de
percussão são bumbos, pandeiros, triângulos, reco-reco, pratos, címbalos, clavas, castanholas,
maracás entre outros.
Figura 2 - Instrumental Orff – Fonte: disponível em <http://goo.gl/TC9GW6>
Utilizamos os preceitos pedagógicos de Carl Orff e o Instrumental criado por ele para
criar arranjos de músicas dos Beatles para a inserção dos alunos que não possuíam
conhecimentos em execução de instrumentos musicais em práticas de educação musical. Para
que se efetivasse a educação musical e a experiência ativa com a música. No ano de 2014
foram criados arranjos das músicas : It Won't Be Long (1963), I've Just Seen A Face (1965),
Hey Jude (1968) Let it Be (1970).
Composição em sala de Aula
Progressivamente a composição musical tem tomado espaço junto as atividades de
educação musical escolar, e não somente ser encarada como um devir, onde as outras fases
eram contempladas e esta era
relegada e aplicada somente ao fim de processos. A
composição musical, e todas as composições artísticas, estão ligadas diretamente ao processo
criativo do educando.
9
Beineke (2008) defende a importância da composição em sala de aula e coloca que a
composição deve ser avaliada e compreendida, de acordo com as aprendizagens obtidas no
processo de composição. Portanto não devemos compreender a composição como um laissezfaire3, onde o que importa é a “livre-expressão”, independentemente de resultados técnicas ou
conteúdos.
A este respeito Swanwick (2003) considera a composição uma atividade que
oportuniza ao educando uma liberdade artística que auxilia o educando em seu processo
educacional.
A composição é, portanto, uma necessidade educacional, não uma atividade
opcional para ser desenvolvida quando o tempo permite. Ela dá ao aluno
uma oportunidade para trazer suas próprias ideias à microcultura da sala de
aula, fundindo a educação formal com a “música de fora”. Os professores,
então, tornam-se conscientes não somente das tendências musicais dos
alunos, mas também, até certo ponto, de seus mundos social e pessoal.
(SWANWICK, 2003, p. 68).
Portando educandos e educadores tomam consciência das suas influências, gostos,
etc., pois, o ponto que dá inicio à composição é a experiência social do educando. Esta
experiência deve ser levada em consideração e ampliada durante as atividades que culminam
na composição, onde são discutidos conceitos de harmonia, melodia, ritmo, arranjo etc.
Conhecedores da importância da composição em sala de aula, para o desenvolvimento
musical e criativo dos estudantes, apresentamos à eles a possibilidade de compor músicas de
acordo com a sua preferência musical. Tendo como base sua experiência e gostos, os
estudantes escolheram ritmos e formas de composição, grande parte deles escolheram compor
em vertentes do Rock, desde o Rock Clássico até o Punk Rock.
Para que seus conhecimentos fossem progressivamente sendo ampliados propusemos
discussões para que em grupo conceituássemos os elementos formativos da música: Melodia,
Ritmo e Harmonia, sempre de forma prática e com abordagem ativa.
Separadas as vertentes do Rock os estudantes produziram seminários para apresentar
aos colegas e ao professor as informações que julgavam necessárias para o entendimento da
3
Do francês: deixar fazer ou ainda “qualquer coisa” também conhecida como “vale-tudismo” artístico
10
vertente específica que o grupo havia escolhido. Nestes seminários eles deveriam apresentar
historicamente a vertente, os principais expoentes, características musicais e de poesia.
Como letra da música que comporiam eles deveriam escolher um poema já escrito
dentre os livros disponíveis na biblioteca e criar uma melodia, harmonia e arranjo para ele. O
desafio ainda é maior com uma poesia já escrita, pois, deve-se preocupar além dos sentidos
das frases musicais, com a prosódia do poema.
A atividade foi rica nas possibilidades de ampliação dos conhecimentos dos
educandos. As expectativas iniciais foram superadas, e estuda-se a gravação de um CD demo
com as composições dos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os caminhos para a musicalização são variados, não há uma única forma de se
alcançar o objetivo de tornar o estudante sensível ao estímulo sonoro, nem mesmo fazer com
que ele compreenda a música de sua sociedade, para que possa frui-la com mais consciência e
se assim desejar modifica-la. No IFPR, com as turmas de segundo ano do ensino médio
integrado ao técnico do ano de 2014 e 2015, o Rock tem se apresentado um grande auxiliador
para alcançarmos os objetivos, não só, da disciplina de educação musical, mas também em
geral nos espaços musicais disponíveis no campus.
As pedagogias ativas de educação musical colocam o educando no centro da
aprendizagem, fazendo com que eles mantenham o interesse e participem mais e com maior
qualidade das atividades propostas.
A banda cabeças voadoras, além de um espaço de ampliação de conhecimento dos
alunos músicos tem se demonstrado um espaço de aprendizado musical para os espectadores,
pois conseguimos criar um transito entre os conhecimentos formais e não formais para todos
os que participam desta proposta, seja como ouvintes ou executantes.
A experiência apreender um instrumento musical quando não se tem experiências
prévias é árdua, mas com a pedagogia proposta por Carl Orff podemos inseri-lo em uma
prática de música em grupo que além de fornecer inúmeros conhecimentos musicais como
sensibilização auditiva, e de ritmo, melodia, tempo, propriedades do som, harmonia etc.
11
termos como benefício ainda uma maior sociabilidade, e cooperação entre os estudantes para
resolução de problemas de natureza prática etc.
Apresentar suas ideias, concepções, criar melodias vocais e instrumentais, exige um
processo de construção e reconstrução por parte dos educandos. Compor não é um exercício
banal, mas demonstra o quanto a educação musical tem sido proveitosa e modificadora para
os educandos envolvidos. Ao finalizar a atividade de composição a sensação de orgulho é
manifesta na expressão dos educandos ante ao produto que criaram.
O Rock tem sido um agente facilitador para as atividades de educação musical, porém
é importante ressaltar que o educador musical deve manter seu foco na ampliação e
sistematização dos conhecimentos musicais, as atividades relatadas obtiveram sucesso, pois,
levaram em consideração o lócus em que estavam inseridas, o perfil dos educandos, seus
gostos e pretensões musicais. Advogamos o uso do Rock em sala de aula para fins de
musicalização, desde que esta escolha seja consciente, e de comum acordo com os maiores
beneficiados pelo uso deste ou daquele gênero musical: os educandos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, R. O ensino da música nas séries iniciais das escolas municipais de Curitiba,
2001. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de estudos Pós-graduados, Faculdade
de ciências humanas, Letras e Artes, Universidade Tuiuti, Paraná, 2001
ARROYO, M. Adolescente e música popular: recorde de uma revisão bibliográfica. In:
ENCONTRO ANUAL DA ABEM, 13, 2004, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABEM,
2004.
__________. Música na Floresta do Lobo. Revista da ABEM, Porto Alegre, v.13, p.17 - 28,
set. 2005ª
__________. Adolescentes e música popular: qual modelo de escola abrigaria essa relação de
conhecimento e auto-conhecimento: In: ENCONTRO ANUAL DA ABEM, Belo Horizonte.
Anais... Belo Horizonte: ABEM, 2005b.
AZEVEDO, M. C. Educação Musical e Cultura Musical: Diálogo entre o Filme Escola de
Rock e Bernard Charlot. Disponível em: <
http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/12538/1/ARTIGO_EducacaoMusicalCultura.pdf>
Acesso em 03/07/2014.
BEINEKE, V. A Composição no ensino de música: perspectivas de pesquisa e tendências
atuais. Revista da ABEM, Porto Alegre, V.20, 19-32, set. 2008.
12
BENEDETTI, K. S.; KERR D. M. A psicopedagogia de Vigótski e a educação musical:
uma aproximação IN: MARCELINA. Revista do Mestrado em Artes Visuais da Faculdade
Santa Marcelina. - Ano 3, v.3 (2. sem. 2009). São Paulo: FASM, 2009
BRASIL. Lei 11.769/08 (2008). Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da
música na educação básica: promulgada em 18 de agosto de 2008. 2008a. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htm>. Acesso em
3 de maio de 2014
FRANÇA, C. C. Riffs forever: o rock na sala de aula. Música na Educação Básica, v. 4, p.
70-85, 2012.
GAINZA, V. H. de. Estudos de Ppsicopedagogia musical. São Paulo: Summus Editorial,
1988.
GREEN, L. Music, informal learning and the School: a new classroom approach. Burlington: Ashgate Publishing, 2008
HENTSCHKE, L.; DEL BEN, L. Aulas de música: do planejamento e avaliação à prática
educativa. In___. (Orgs.). Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de
aula. São Paulo: Moderna, 2003.
MICHELATO, R. A. e SILVA, J. A. da. Cinema, Música e História: Imagens, símbolos e
paisagem sonora no filme Pink Floyd The Wall. IN: I Congresso Internacional de estudos
do Rock. Cascavel: UNIOESTE, 2013.
PENNA, M. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo: Loyola, 1990.
PENNA, Maura. Musicalização: tema e reavaliações. In: Musica(s) e seu Ensino. Porto
Alegre, Sulina, 2008, p.27-47.
QUADROS JÚNIOR, J. F. S. de. O impacto da mídia na formação musical de
adolescentes: um estudo realizado com alunos do 1º ano do ensino médio do colégio Indyu Montes Claros _ MG. In: ENCONTRO ANUAL DA ABEM, 16, 2005, Belo Horizonte.
Anais... Belo Horizonte: ABEM, 2005.
SEBBEN, E. E. Concepções e práticas de música na escola na visão de alunos de 8ª série
do Ensino Fundamental: as contradições entre o legal e o real. 2009, 167f. Dissertação
(Mestrado em Educação) Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR. 2009
SOUZA, J. et al. Práticas de aprendizagem musical em três bandas de rock. Per Musi. Belo
Horizonte, v. 7, p. 68-75, 2003.
SWANWICK, K. Ensinando música musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina
Tourinho. São Paulo: Editora Moderna, 2003.
13
Download