a feira livre de alfenas-mg enquanto espaço produtivo e - Unifal-MG

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A FEIRA LIVRE DE ALFENAS-MG ENQUANTO ESPAÇO PRODUTIVO
E PARTE DO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA
Gabriel Mikael Rodrigues Alves1
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Pedro Henrique Gomes De Souza2
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Thales Santos Do Nascimento3
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Thiago Silva Forte4
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Welder Junho Batista5
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Introdução
As atividades econômicas de uma nação são convenientemente subdivididas
em três setores: agricultor, industrial e comercial, sendo o comércio o maior gerador
de renda bruta para a nação brasileira, posteriormente seguido da indústria e da
agricultura. O município de Alfenas-MG segue esse padrão nacional e tem seu setor
comercial marcado pelos pontos de maior fluxo de pessoas e, portanto, mercadorias e
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bens, notando-se uma rede comercial formal composta entre determinadas localidades
normalmente associadas ao centro da cidade onde se instalam lojas, bancos e os
tipos formais de estabelecimentos do setor superior da economia.
O presente trabalho 6justifica-se pela grande importância econômica, referindose ao circuito inferior da economia que a (FLQF) apresenta no contexto tanto urbano
quanto rural tendo como objetivo retratar um estudo feito a partir de um trabalho de
campo realizado na FLQF do município de Alfenas MG, pois as redes notadas e
mapeadas através dos estudos de campo mostraram que os produtos provêm não
somente da região sul mineira como de outros estados da nação.
Estudando-se a feira livre do município de Alfenas, é possível ver como a
economia global está conectada e como diferentes localidades participam de um
determinado processo produtivo e, portanto, repercutem as espacialidades afastadas
de seu local de origem.
A metodologia abordada foi através de trabalho de campo e de aplicação de
questionários, além de uma decorrente revisão bibliográfica tendo como pilar a obra de
Milton Santos Espaço dividido. Para a coleta de dados e consequentemente a
comparação com os estudos teóricos previamente feitos, foram selecionadas
aleatoriamente 20% do total de feirantes da FLQF, totalizando 15 entrevistados do
total de 70 barracas visualizadas em campo, que responderam acerca de taxas, mão
de obra utilizada, utilização de crédito entre outros aspectos. Os dados foram
agrupados para análise e construção dos gráficos.
A FLQF acontece na Praça Rachid B. Saliba, no centro da cidade, local
definido pela Prefeitura juntamente com a secretaria de meio ambiente, onde o seu
desenvolvimento não afetaria o fluxo e mobilidade urbana. Esta acontece dentre um
período de cinquenta anos, sendo fundada para atender os produtores agrícolas da
região de Alfenas. Somente em um período mais tardio os chamados atravessadores,
feirantes que compram de CEASAS ou de outros intermediários para revenderem na
feira começaram suas atividades de comércio nesta.
Os produtos ofertados na feira são diversificados, destacando-se as categorias
de hortifrutigranjeiros, grãos, granja, laticínios, doces artesanais e industrializados,
salgados, mudas de plantas e quitandas artesanais. A feira estabelece uma rede com
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Artigo produzido a partir do trabalho de campo realizado na disciplina de Geografia
Econômica ministrada pelo professor Dr. Gil Silveira Porto
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as cidades do entorno, podendo observar a presença de feirantes advindos de cidades
como Campos Gerais, Paraguaçu e Machado, além dos residentes na própria cidade.
As feiras livres constituem-se de uma intrincada teia de relações que
configuram um diversificado conjunto de ocupações, fluxos, mercadorias e relações
sociais, caracterizando-os, primordialmente como uma atividade de trabalho informal
essencialmente familiar, sendo capaz de provocar mudanças e reconversão no setor
de pequenos e médios produtores agrícolas.
Os dois circuitos da economia:
Para Santos (2004, pág. 39-40), as cidades dos países em desenvolvimento
não funcionam como um aparelho maciço ou como um bloco; dentro do sistema
urbano, pode-se reconhecer a existência de dois subsistemas mesmo dependentes de
outros sistemas de níveis superiores, dois circuitos da economia, o “circuito superior” e
o “circuito inferior”. O que distingue os dois circuitos da economia são essencialmente
sua forma de organização e de comportamento. No que tange ao circuito inferior que
está em um constante processo de transformação e dinamismo, uma parte do seu
abastecimento vem, direta ou indiretamente dos setores ditos modernos da economia,
estabelecendo uma relação de dependência do circuito inferior ao circuito superior,
ressaltando que não há uma homogeneização das atividades econômicas ditas
modernas, pois o próprio sistema se alimenta das diferenciações.
Para compreender o fenômeno da feira livre, vamos nos ater ao circuito inferior,
tratando a feira como uma atividade incomum e dinâmica, dado como exemplo
dialético os mercados que já são estabelecidos e unifuncionais. Na chamada “era
Moderna”, com o capitalismo abrupto, os espaços de comercialização ganham
notoriedade e as cidades passam a ser lugares propícios a esta atividade, desta forma
também se entende que o circuito inferior é um produto desta “modernização”.
Segundo SANTOS (2004, pág. 197):
As condições de evolução da economia moderna e o enorme peso de
uma população urbana com baixo nível de vida, que não para de
aumentar com a chegada maciça de migrantes vindos do campo,
acarretam a existência, ao lado do circuito moderno, de um circuito
econômico não moderno, que compreende a pequena produção
manufatureira, frequentemente artesanal, o pequeno comércio de
uma multiplicidade de serviços de toda espécie. As unidades de
produção e de comercio, de dimensões reduzidas trabalham com
pequenas quantidades.
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G.Lasserre (1958) apud. Santos (2004, pág. 197) descreve o pequeno
comércio de Libreville, instalado nas aldeias africanas do Gabão como “... Lojas de
mal aspecto [...] as empresas familiares e autônomos são numerosos, o capital é muito
pequeno, a tecnologia, obsoleta ou tradicional e a organização deficiente. A procura do
dinheiro líquido é desenfreada. As despesas de publicidade são quase inexistentes.
Poucos comerciantes se preocupam em arrumar as vitrines.
Estes aspectos se confundem com alguns encontrados nas feiras livres, onde pode
ser caracterizada a ausência de fiscalização sanitária por parte de autoridades
especificas do setor. Na FLQF constatou-se através da pesquisa que o investimento é
relativamente baixo com relação a grandes empreendimentos como, e que a busca
por financiamentos e linhas de créditos são quase nulas como, salientando a busca
pelo dinheiro liquido, e na maioria das vezes os entrevistados tinham dificuldades de
estabelecer um controle financeiro sobre sua atividade, chegando a investir quase
todo o seu montante adquirido para próxima data que haverá a feira.
Boa parte dos entrevistados são de agricultores familiares, agricultura esta de
subsistência, onde estes produtores comercializam seus excedentes na feira. Com as
decorrentes transformações ocorridas no espaço rural, a agricultura tradicional não se
modernizou culminando em fatores como o desemprego, na desapropriação das
terras, na diminuição dos postos de trabalho provocada pelo avanço tecnológico e
apropriação industrial desta atividade tornando possível o aparecimento de atividades
de pequenas dimensões. No caso da feira de Alfenas a prefeitura cobra de quem não
é produtor rural local uma taxa de sete reais por metro quadrado de barraca, sendo
que nem todos utilizam-se de barracas, alguns de carrinhos e bancas onde alocam
seus produtos. Verificou-se na feira um total de 70 unidades de comércio, sendo que
em dados oficiais da prefeitura local são 74 cadastros de bancas continuas e 28 que
fazem rodizio conforme a sua capacidade de produção, os que utilizam barracas o
fazem de forma rudimentar.
Observamos certa equivalência e divisão entre os dados de impostos, pois um
pouco mais da metade dos entrevistados paga os impostos a prefeitura, que é
equivalente a R$ 7,00 o m², este são mercadores de outras cidades. Já os nativos de
Alfenas são isentos desta taxa. Com base destas informações já podemos notar que
quase metade dos integrantes da feira não é de Alfenas, a isenção dessa taxa se da
pelo fato de que os produtos de alfenas são produtores rurais associados algum órgão
governamental. Em relação ao emprego, o circuito inferior compõe-se de diversos
comerciantes desprovidos de capital e qualificação profissional. Esses quesitos são
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dispensáveis na FLQF, pois com uma pequena quantidade de capital investido é
possível montar sua barraca e vender seus produtos. A baixa qualificação profissional
também descartável, pois nem sempre é necessário ter frequentado uma escola para
trabalhar na FLQF, levando-se em conta que o fator essencial no circuito inferior não é
o capital, mas sim a força de trabalho exercida por cada indivíduo. A margem de lucro
dos comerciantes varia de acordo com o tipo de produto, o tamanho de seu comércio
e a rotação de seus estoques, além de ser adquirida aos poucos, tendo em vista que a
venda é feita em pequenas quantidades. O lucro é o que se espera ao final de cada
manhã de quarta-feira nessa atividade, mas antes dele, a maior preocupação dos
comerciantes é a sobrevivência.
Conclusão
Portanto, conclui-se que o presente trabalho elucida diversas questões
abordadas, como os fluxos e redes de transporte de mercadorias, a relação entre as
áreas produtoras e as consumidoras, a forma como uma pequena economia informal
de uma cidade sul mineira pode estar correlacionada com a maior metrópole do país,
através dos centros de distribuição de alimentos (CEASAS). Foi possível ver como as
atividades agrícolas localizam-se nas áreas periféricas do município e que isso se dá
como forma de um cinturão de produção de alimentos, além da constatação do grande
número de agricultores regionais que buscam em Alfenas um espaço de
comercialização de seus bens, mostrando a importância regional da cidade. Todo esse
conjunto de fatores une-se de maneira que é possível notar que a cidade é um polo
regional, centralizando em si, indústrias de importância nacional, um comércio formal
bem desenvolvido e crescente, uma agricultura com viés exportador muito bem
desenvolvida e com suas redes bem distribuídas pelo globo e é claro um circuito
informal da economia atuante junto aos setores formais, formando-se uma rede de
trocas e fluxos bem estruturada no cenário sul mineiro.
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