52 A FEIRA LIVRE DE ALFENAS-MG ENQUANTO ESPAÇO PRODUTIVO E PARTE DO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA Gabriel Mikael Rodrigues Alves1 [email protected] Pedro Henrique Gomes De Souza2 [email protected] Thales Santos Do Nascimento3 [email protected] Thiago Silva Forte4 [email protected] Welder Junho Batista5 [email protected] Introdução As atividades econômicas de uma nação são convenientemente subdivididas em três setores: agricultor, industrial e comercial, sendo o comércio o maior gerador de renda bruta para a nação brasileira, posteriormente seguido da indústria e da agricultura. O município de Alfenas-MG segue esse padrão nacional e tem seu setor comercial marcado pelos pontos de maior fluxo de pessoas e, portanto, mercadorias e Estudante de Graduação do curso de Geografia – Universidade Federal de Alfenas. E-mail de contato: [email protected] 1 Estudante de Graduação do curso de Geografia – Universidade Federal de Alfenas. E-mail de contato: [email protected] 2 Estudante de Graduação do curso de Geografia – Universidade Federal de Alfenas. E-mail de contato: [email protected] 3 Estudante de Graduação do curso de Geografia – Universidade Federal de Alfenas. E-mail de contato: [email protected] 4 Estudante de Graduação do curso de Geografia – Universidade Federal de Alfenas. E-mail de contato: [email protected] 5 Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo bens, notando-se uma rede comercial formal composta entre determinadas localidades normalmente associadas ao centro da cidade onde se instalam lojas, bancos e os tipos formais de estabelecimentos do setor superior da economia. O presente trabalho 6justifica-se pela grande importância econômica, referindose ao circuito inferior da economia que a (FLQF) apresenta no contexto tanto urbano quanto rural tendo como objetivo retratar um estudo feito a partir de um trabalho de campo realizado na FLQF do município de Alfenas MG, pois as redes notadas e mapeadas através dos estudos de campo mostraram que os produtos provêm não somente da região sul mineira como de outros estados da nação. Estudando-se a feira livre do município de Alfenas, é possível ver como a economia global está conectada e como diferentes localidades participam de um determinado processo produtivo e, portanto, repercutem as espacialidades afastadas de seu local de origem. A metodologia abordada foi através de trabalho de campo e de aplicação de questionários, além de uma decorrente revisão bibliográfica tendo como pilar a obra de Milton Santos Espaço dividido. Para a coleta de dados e consequentemente a comparação com os estudos teóricos previamente feitos, foram selecionadas aleatoriamente 20% do total de feirantes da FLQF, totalizando 15 entrevistados do total de 70 barracas visualizadas em campo, que responderam acerca de taxas, mão de obra utilizada, utilização de crédito entre outros aspectos. Os dados foram agrupados para análise e construção dos gráficos. A FLQF acontece na Praça Rachid B. Saliba, no centro da cidade, local definido pela Prefeitura juntamente com a secretaria de meio ambiente, onde o seu desenvolvimento não afetaria o fluxo e mobilidade urbana. Esta acontece dentre um período de cinquenta anos, sendo fundada para atender os produtores agrícolas da região de Alfenas. Somente em um período mais tardio os chamados atravessadores, feirantes que compram de CEASAS ou de outros intermediários para revenderem na feira começaram suas atividades de comércio nesta. Os produtos ofertados na feira são diversificados, destacando-se as categorias de hortifrutigranjeiros, grãos, granja, laticínios, doces artesanais e industrializados, salgados, mudas de plantas e quitandas artesanais. A feira estabelece uma rede com 6 Artigo produzido a partir do trabalho de campo realizado na disciplina de Geografia Econômica ministrada pelo professor Dr. Gil Silveira Porto Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 53 as cidades do entorno, podendo observar a presença de feirantes advindos de cidades como Campos Gerais, Paraguaçu e Machado, além dos residentes na própria cidade. As feiras livres constituem-se de uma intrincada teia de relações que configuram um diversificado conjunto de ocupações, fluxos, mercadorias e relações sociais, caracterizando-os, primordialmente como uma atividade de trabalho informal essencialmente familiar, sendo capaz de provocar mudanças e reconversão no setor de pequenos e médios produtores agrícolas. Os dois circuitos da economia: Para Santos (2004, pág. 39-40), as cidades dos países em desenvolvimento não funcionam como um aparelho maciço ou como um bloco; dentro do sistema urbano, pode-se reconhecer a existência de dois subsistemas mesmo dependentes de outros sistemas de níveis superiores, dois circuitos da economia, o “circuito superior” e o “circuito inferior”. O que distingue os dois circuitos da economia são essencialmente sua forma de organização e de comportamento. No que tange ao circuito inferior que está em um constante processo de transformação e dinamismo, uma parte do seu abastecimento vem, direta ou indiretamente dos setores ditos modernos da economia, estabelecendo uma relação de dependência do circuito inferior ao circuito superior, ressaltando que não há uma homogeneização das atividades econômicas ditas modernas, pois o próprio sistema se alimenta das diferenciações. Para compreender o fenômeno da feira livre, vamos nos ater ao circuito inferior, tratando a feira como uma atividade incomum e dinâmica, dado como exemplo dialético os mercados que já são estabelecidos e unifuncionais. Na chamada “era Moderna”, com o capitalismo abrupto, os espaços de comercialização ganham notoriedade e as cidades passam a ser lugares propícios a esta atividade, desta forma também se entende que o circuito inferior é um produto desta “modernização”. Segundo SANTOS (2004, pág. 197): As condições de evolução da economia moderna e o enorme peso de uma população urbana com baixo nível de vida, que não para de aumentar com a chegada maciça de migrantes vindos do campo, acarretam a existência, ao lado do circuito moderno, de um circuito econômico não moderno, que compreende a pequena produção manufatureira, frequentemente artesanal, o pequeno comércio de uma multiplicidade de serviços de toda espécie. As unidades de produção e de comercio, de dimensões reduzidas trabalham com pequenas quantidades. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 54 G.Lasserre (1958) apud. Santos (2004, pág. 197) descreve o pequeno comércio de Libreville, instalado nas aldeias africanas do Gabão como “... Lojas de mal aspecto [...] as empresas familiares e autônomos são numerosos, o capital é muito pequeno, a tecnologia, obsoleta ou tradicional e a organização deficiente. A procura do dinheiro líquido é desenfreada. As despesas de publicidade são quase inexistentes. Poucos comerciantes se preocupam em arrumar as vitrines. Estes aspectos se confundem com alguns encontrados nas feiras livres, onde pode ser caracterizada a ausência de fiscalização sanitária por parte de autoridades especificas do setor. Na FLQF constatou-se através da pesquisa que o investimento é relativamente baixo com relação a grandes empreendimentos como, e que a busca por financiamentos e linhas de créditos são quase nulas como, salientando a busca pelo dinheiro liquido, e na maioria das vezes os entrevistados tinham dificuldades de estabelecer um controle financeiro sobre sua atividade, chegando a investir quase todo o seu montante adquirido para próxima data que haverá a feira. Boa parte dos entrevistados são de agricultores familiares, agricultura esta de subsistência, onde estes produtores comercializam seus excedentes na feira. Com as decorrentes transformações ocorridas no espaço rural, a agricultura tradicional não se modernizou culminando em fatores como o desemprego, na desapropriação das terras, na diminuição dos postos de trabalho provocada pelo avanço tecnológico e apropriação industrial desta atividade tornando possível o aparecimento de atividades de pequenas dimensões. No caso da feira de Alfenas a prefeitura cobra de quem não é produtor rural local uma taxa de sete reais por metro quadrado de barraca, sendo que nem todos utilizam-se de barracas, alguns de carrinhos e bancas onde alocam seus produtos. Verificou-se na feira um total de 70 unidades de comércio, sendo que em dados oficiais da prefeitura local são 74 cadastros de bancas continuas e 28 que fazem rodizio conforme a sua capacidade de produção, os que utilizam barracas o fazem de forma rudimentar. Observamos certa equivalência e divisão entre os dados de impostos, pois um pouco mais da metade dos entrevistados paga os impostos a prefeitura, que é equivalente a R$ 7,00 o m², este são mercadores de outras cidades. Já os nativos de Alfenas são isentos desta taxa. Com base destas informações já podemos notar que quase metade dos integrantes da feira não é de Alfenas, a isenção dessa taxa se da pelo fato de que os produtos de alfenas são produtores rurais associados algum órgão governamental. Em relação ao emprego, o circuito inferior compõe-se de diversos comerciantes desprovidos de capital e qualificação profissional. Esses quesitos são Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 55 dispensáveis na FLQF, pois com uma pequena quantidade de capital investido é possível montar sua barraca e vender seus produtos. A baixa qualificação profissional também descartável, pois nem sempre é necessário ter frequentado uma escola para trabalhar na FLQF, levando-se em conta que o fator essencial no circuito inferior não é o capital, mas sim a força de trabalho exercida por cada indivíduo. A margem de lucro dos comerciantes varia de acordo com o tipo de produto, o tamanho de seu comércio e a rotação de seus estoques, além de ser adquirida aos poucos, tendo em vista que a venda é feita em pequenas quantidades. O lucro é o que se espera ao final de cada manhã de quarta-feira nessa atividade, mas antes dele, a maior preocupação dos comerciantes é a sobrevivência. Conclusão Portanto, conclui-se que o presente trabalho elucida diversas questões abordadas, como os fluxos e redes de transporte de mercadorias, a relação entre as áreas produtoras e as consumidoras, a forma como uma pequena economia informal de uma cidade sul mineira pode estar correlacionada com a maior metrópole do país, através dos centros de distribuição de alimentos (CEASAS). Foi possível ver como as atividades agrícolas localizam-se nas áreas periféricas do município e que isso se dá como forma de um cinturão de produção de alimentos, além da constatação do grande número de agricultores regionais que buscam em Alfenas um espaço de comercialização de seus bens, mostrando a importância regional da cidade. Todo esse conjunto de fatores une-se de maneira que é possível notar que a cidade é um polo regional, centralizando em si, indústrias de importância nacional, um comércio formal bem desenvolvido e crescente, uma agricultura com viés exportador muito bem desenvolvida e com suas redes bem distribuídas pelo globo e é claro um circuito informal da economia atuante junto aos setores formais, formando-se uma rede de trocas e fluxos bem estruturada no cenário sul mineiro. Referências bibliográficas: BENKO, GEORGES. A ciência regional. Oeiras, Celta 1999. BRAGA, H. F. Consequências da pós-modernidade ou Pós Turismo? V Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL– UCS, Caxias do Sul: 2008. CAMPBELL, C. The sociology of consumption. London, Routledge 1995 FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 56 HARVEY, DAVID. 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