Curso de Enfermagem Artigo Original PERFIL DA CLIENTELA COM FERIDAS CRÔNICAS: EM UM HOSPITAL PRIVADO DO DF. PROFILE CUSTOMERS WITH CHRONIC WOUNDS IN CONNECTION WITH MANAGEMENT COSTS: IN A PRIVATE HOSPITAL OF DF Douglas Wendell Carvalho da Silva 1, Fernando Rodrigues Melo da Silva2, Judith A. Trevisan3 1 Acadêmicos de Enfermagem do ICESP. 2 Acadêmicos de Enfermagem do ICESP. 3 Enfermeira.Professora ICESP - Doutoranda na UCB -DF Área Educação 2014. Mestre em Gestão de serviços de saúde – ISTCPortugal - UnB Resumo Objetivo: Caracterizar o perfil da clientela com lesões tissulares crônicas atendidas no Ambulatório de lesões cutâneas do Hospital Anchieta, segundo as variáveis: idade, sexo, doença de base, tipo de ferida, localização e tempo desde seu surgimento. Materiais e Métodos: Estudo de caráter quantitativo de natureza descritiva, exploratória, e análise de prontuários, a população do estudo foi constituída por 60 prontuários de pacientes, atendidos pelo enfermeiro no ambulatório, durante Agosto de 2015 a outubro de 2015. Resultado: Constatou-se que no serviço de saúde em questão, o perfil identificado caracteriza por indivíduos do sexo feminino (56,7%), com faixa etária entre 70 e 79 anos de idade (46,7%). Em relação aos aspectos clínicos, 36,7% deles apresentavam diabetes mellitus, 26,7% dos pacientes possui diabetes mellitus associado à hipertensão arterial sistêmica, 15,0% deles apresentavam alguma cardiopatia e 10,0% hipertensão arterial; 87% com lesão nos membros inferiores, sendo que 42% eram de úlceras diabéticas e 34% de úlceras venosas; com um tempo de evolução superior a um ano e inferior a três anos, em 35% dos casos. Conclusão: A assistência continua do paciente com lesão é indispensável para que se estabeleça não só o tratamento da ferida, mas o controle das doenças de base. Percebeu-se um interesse crescente da enfermagem no que concerne às feridas crônicas, entretanto os registros referentes ao perfil são escassos. Recomenda - se estudos para se obter um perfil mais representativo desta população. Palavras-Chave: ferida crônica; perfil de cliente; gestão de custos. Abstract Objective: To characterize the profile of clients with chronic tissue injuries treated at the Clinic of skin lesions Anchieta Hospital, according to the variables: age, sex, underlying disease, type of wound, location and time since its inception. Materials and Methods: Quantitative character study of descriptive and exploratory nature, and analysis of records, the study population consisted of 60 charts of patients seen by the nurse at the clinic, during August 2015 to October 2015. Results: Constatou- that the health service in question, identified profile characterized by females (56.7%), aged between 70 and 79 years old (46.7%). With regard to clinical, 36.7% had diabetes mellitus, 26.7% of patients have diabetes mellitus associated with hypertension, 15.0% had some disease and 10.0% hypertension, 87% with injury in the lower limbs, and 42% were diabetic ulcers and 34% of venous ulcers, with a time of evolution over one year and less than three years, in 35% of cases. Conclusion: The service continues with the patient injury is essential for not only providing for the treatment of the wound, but the control of underlying diseases. It was noticed a growing interest of nursing in relation to chronic wounds, however the records relating to the profile are scarce. Studies are recommended to obtain a more representative profile of that population. Keywords: chronic wound; customer profile; cost management. Contato: [email protected] Introdução Cuidar de feridas é um processo dinâmico, complexo e que requer uma atenção especial principalmente quando se refere a uma lesão crônica. Deve-se levar em consideração que as feridas crônicas evoluem rapidamente, são refratárias a diversos tipos de tratamentos e decorrem de condições predisponentes que impossibilitam a normal cicatrização. (BRITO et al.,2013) Consideram-se feridas crônicas aquelas que não cicatrizam seguindo uma série de etapas ordenadas e previsíveis, no limite de tempo expectável. Habitualmente as feridas que não cicatrizam num período de três meses são consideradas crônicas. Estas feridas podem nunca cicatrizar ou demorar anos para o fazer. Não obstante os enormes avanços na compreensão dos processos e fenômenos envolvidos nas diversas fases da reparação tissular e o constante desenvolvimento de recursos e tecnologias com o objetivo de favorecer esses processos, a incidência e prevalência de úlceras crônicas é ainda extremamente alta, repercutindo-se em elevados custos financeiros e profundas conseqüências sociais para os doentes (BORGES et al., 2010). Entre essas lesões, que denominaremos de úlceras, destacamos as que acometem os membros inferiores. Essas úlceras são recorrentes e incapacitantes e repercutem de forma severa na deambulação dos portadores. Demandam tratamento duradouro e complexo, são causa de lesões prolongadas e, muitas vezes, responsáveis por significativos índices de morbidade e mortalidade (MORAIS, et al,2008) As condições crônicas são responsáveis por 60% de todo o ônus financeiro decorrente de doenças do mundo com significativo crescimento. Cerca de 80% da carga de doença dos países em desenvolvimento deve advir de problemas crônicos, em 2020. Contudo, até hoje, em todo o mundo, os sistemas de saúde não possuem um plano de gerenciamento das condições crônicas; simplesmente tratam os sintomas quando aparecem. (OMS, 2005) No Brasil, as feridas acometem a população de forma geral, porém, são escassos registros estatísticos sobre a prevalência ou incidência das feridas na população brasileira, principalmente de feridas crônicas. Estudos comprovam que a qualidade de vida em pacientes portadores de feridas crônicas em membros inferiores (MMII), afetam seu estilo de vida devido à dor, dificuldade de mobilidade, depressão, perda da autoestima, isolamento social, inabilidade para o trabalho e frequentemente altera a imagem corporal, proporcionando uma diminuição na qualidade de vida. (MORAIS, et al,2008) O elevado número de pessoas com úlceras contribui para onerar o gasto na saúde pública, além de interferir na qualidade de vida da população. Para evitar que isso ocorra, a equipe multiprofissional deve propiciar uma assistência global, atendendo as necessidades biopsicossociais, para melhorar as condições de vida. (BRASIL, 2002). As úlceras crônicas, atualmente chamadas de feridas complexas, são consideradas um problema de saúde pública. Elas contribuem para o aumento do número de aposentadorias precoces, fazendo com que haja perda de mão-de-obra ativa. (DEALEY, 2008) Uma enfermidade crônica interfere nas adaptações da vida em andamento, ao fazer com que a realização de tarefas rotineiras se torne mais desafiadora. O meio social e o ambiente físico no qual o indivíduo vive podem afetar as capacidades, a motivação e a manutenção física da pessoa (POTTER, 2008; SILVA, 2007). A ferida pode representar uma agressão à integridade, produzindo um desequilíbrio psíquico; também podem gerar frequentemente, momentos de depressão que dificultam a realização de ações de autocuidado (PEREIRA, 2011). Nesse contexto, sabe-se que o profissional de enfermagem possui um papel fundamental no que se refere ao cuidado holístico ao paciente, e desempenha um relevante trabalho ao tratar feridas, pois é responsável por acompanhar a evolução da lesão, orientar e executar o curativo de forma eficiente e humanizada. Como este profissional está diretamente relacionado ao tratamento de feridas, seja em serviços de atenção primária, secundária ou terciária, deve-se ressaltar a responsabilidade de manter a observação intensiva com relação aos fatores locais, sistêmicos, psicossociais e externos que condicionem o surgimento da ferida ou interfiram no processo de cicatrização. Portanto, é necessária uma visão clínica que relacione alguns pontos importantes que influenciam neste processo, como o controle de patologia de base presente (hipertensão arterial, diabetes mellitus), aspectos nutricionais, infecciosos, medicamentosos e, sobretudo, abordar o lado emocional de se possuir uma ferida crônica (SILVA LUCAS, et al.,2008). Ciente da importância do levantamento de dados que possam dar aporte às intervenções e prática profissional do enfermeiro, este estudo tem como objetivo caracterizar o perfil da clientela com feridas crônicas relacionado ao tempo de tratamento e á gestão de custos, atendidos no Ambulatório de lesões cutâneas do Hospital Anchieta, segundo as variáveis: idade, sexo, doença de base, tipo de ferida, localização da ferida e tempo desde o surgimento. Materiais e Métodos Caracterização do Estudo: Trata-se de um estudo de caráter quantitativo de natureza descritiva e exploratória através de uma revisão de literatura, e análise de prontuários, realizado após autorização dos enfermeiros responsáveis pelas respectivas unidades do hospital (coordenação de assistência, pelo Instituto Anchieta de Ensino e Pesquisa - IAEP e pela gestão do pronto socorro). A população do estudo foi constituída por 60 prontuários de pacientes, com feridas tissulares crônicas, atendidos pela equipe de enfermagem no ambulatório de lesões cutâneas do Hospital Anchieta, Taguatinga - DF, durante o período de Agosto de 2015 á outubro de 2015. Após autorização formal da instituição para a realização do estudo, foi encaminhado o projeto ao Comitê de Ética da ICESP (Instituto cientifico de ensino superior e pesquisa - ICESP) para apreciação. Foi aprovado em Julho de 2015 pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade com o CEP/ICESP nº40537815.70005141.Uma vez aprovado o projeto pelo Comitê de Ética, foi agendada com o enfermeiro do ambulatório a data para a coleta dos dados. Critérios Éticos: Foi garantido a todos os pacientes seu anonimato e a inexistência de qualquer ônus financeiro ao paciente e a instituição. Por se tratar de um estudo através de levantamento de dados de prontuários e evolução de enfermagem, os riscos referentes ao trabalho são mínimos. Não está sendo confeccionando o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), por se tratar de um estudo retrospectivo de análise de prontuários, pois o estudo tem enfoque nos dados como um todo e não individualmente, sendo solicitada a dispensa do termo de consentimento livre e esclarecido. Além disso, garantiu-se o sigilo acerca de qualquer informação coletada que pudesse identificar os pacientes e foram assegurados os aspectos éticos conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 196 de 1996. Ressaltando ainda que todos os resultados obtidos serão utilizados para fins de pesquisa. Procedimentos do estudo: A coleta de dados foi realizada pelos próprios pesquisadores, baseada na leitura de prontuários médicos, evolução de enfermagem, na interpretação de exames complementares. Excetuando-se a observação direta, e todas as outras técnicas utilizadas foram trabalhadas por meio do auxílio de impresso (protocolo de prevenção e tratamento de lesões cutâneas e escala de Braden) A Escala de Braden integra seis subescalas: percepção sensorial, atividade, mobilidade, umidade, nutrição, fricção ou cisalhamento. Essas escalas são pontuadas de um a quatro, exceto fricção ou cisalhamento, cuja medida varia de um a três. O escore total pode variar de 6 a 23 pontos, sendo os pacientes classificados da seguinte forma: risco muito alto (escores ≤ 9), risco alto (escores de 15 a 18 pontos) e sem risco (escores ≥ 19). (SERPA LF et al.,2011). Segundo ROGENSKI e KURCGANT e SILVA et al,2010) recomenda-se o uso da escala para auxiliar o profissional a identificar os pacientes de risco já na admissão, norteando a adoção das medidas preventivas no cuidado. A mensuração tem como objetivo apresentar o risco do paciente de desenvolver ulcera por pressão UP e fornece subsídios para a elaboração do diagnóstico de enfermagem de risco da integridade da pele, o que pode reduzir a incidência dessas lesões em até 50% dos casos. O instrumento de coleta de dados era preenchido e atualizado após o enfermeiro realizar a revisão do prontuário do paciente. Este instrumento, contendo itens relativos ao perfil epidemiológico, clínico e à ferida (presença de patologias, aspectos clínicos, características da lesão e tratamento), foi baseado em um instrumento validado, utilizado por (MACIEL, 2008) em sua pesquisa e adequando á realidade da instituição estudada. A clientela é encaminhada para ambulatório de lesões cutâneas, através do serviço de triagem do pronto socorro, e realizada uma consulta pela equipe médica (Clínica e Cirúrgica), caso haja necessidade de curativos, é solicitado um parecer para o enfermeiro especialista em curativos. Os pacientes são acompanhados pelo enfermeiro do ambulatório, a cada cinco curativos, devem retornar ao pronto socorro para reavaliação medica e liberação dos demais. Neste ambulatório, são realizadas em média 120 marcações de consultas de enfermagem mensais. Este se destina a realizar avaliação e procedimentos de curativos seriados, em lesões pós-cirúrgicas, traumáticas, queimaduras e feridas crônicas, que apresentem complicações ou resistências ao processo de cicatrização. O hospital foi escolhido por ser considerado referência em gestão de saúde. A consulta de enfermagem neste setor tem por objetivo trazer ao indivíduo o restabelecimento de sua condição de saúde, o conhecimento sobre sua doença, orientações para o autocuidado e o apoio emocional e informativo à família, buscando ainda a melhoria da qualidade de vida do mesmo. Critérios de Inclusão: Os critérios para a seleção da amostra foram: a) ter idade igual ou superior a 18 anos; b) ser portador de ferida tissular crônica; c) não possuir doença psiquiátrica ou amnésia senil, que dificultem a compreensão da prescrição de enfermagem para realização do curativo. Análise Estatística: Os dados coletados foram organizados em tabelas, analisados através do software Excel 2007 para Windows. Também foram confeccionados tabelas e gráficos para a evidência dos resultados. Resultados Para a realização desta pesquisa foram utilizados os prontuários dos pacientes admitidos no ambulatório de Lesões cutâneas entre o período de agosto à outubro do ano de 2015. Todos estes clientes foram atendidos por algum dos membros da equipe de enfermeiros que trabalha no ambulatório. A Tabela 1 mostra os dados obtidos em relação às variáveis sexos e idade. O estudo mostrou que apesar de pequena, houve predominância do sexo feminino (56,7%). Em relação à idade o ambulatório atendeu no período estimado para o estudo pessoas com idade entre 40 e 99 anos de idade, tendo uma média de 74,5. A Tabela 2 nos mostra os dados obtidos em relação às variáveis doenças de base e tipo de tecido. Com relação à doença de base houve um grande número (36,7%), de pessoas com diabetes tipo ll e cardiopatias (15,0%), e houve 6,7% de doenças de base não especificadas. Quanto à variável tipo de tecido foi verificado que a maioria tem apresentado tecido de epitelização (33,3%), e houve 13,3 com tecido necrótico. Tabela 1 – Caracterização dos portadores de lesões crônicas segundo características sóciodemográficas. DF, 2015. Sexo Idade (anos) Variáveis Masculino Feminino Total 40- 59 60-69 70-79 80-99 Total N 26 34 60 8 15 28 9 60 % 43,3 56,7 100,0 13,3 25,0 46,7 15,0 100,0 Dos dados obtidos referentes à variável doença de base, 16 (26,7) pacientes apresentaram associadas duas patologias (hipertensão e diabetes tipo ll), sendo que não houve incidência de HIV como doença de base. Vale ressaltar que apenas dois pacientes atendidos no ambulatório no período estipulado para a realização do estudo apresentaram tecidos com fibrina, o que corresponde a 3,3% dos pacientes. Tabela 2 - Distribuição das características clínicas de portadores de feridas crônicas. DF, 2015. Figura 1: Localização das lesões crônicas segundo as regiões do corpo. DF, 2015. 8% 5% 0% 0% Membro Superior 87% N 6 9 3 22 4 0 16 % 10,0 15,0 5,0 36,7 6,7 0,0 26,7 Tecido (Leito da ferida) Granulação Necrótico Fibrina Epitelização Esfacelo Granulação + Esfacelo N 9 8 2 20 15 6 % 15 13,3 3,3 33,3 25 10,0 A figura 1 trata-se da localização das lesões crônicas de acordo com as regiões do corpo. A maioria (87%) dos indivíduos possui a lesão nos membros inferiores. Ainda referentes aos dados observa-se que não houve superveniência de lesões cutâneas nas regiões cabeça e pescoço. A figura 2 nos mostra a classificação das lesões segundo a sua etiologia Tronco Cabeça Quanto à etiologia das lesões, conforme apresentado na figura 2, 42%, é de úlceras diabéticas. Neste estudo, o segundo maior valor é atribuído à úlcera venosa (34%). Verifica-se que na variável tipo de úlcera 93% dos pacientes portadores de feridas tiveram o tipo de úlcera especificado e 7% não tiveram o tipo de úlcera especificado. Figura 2: Classificação das lesões segundo a sua etiologia. DF, 2015. Lesão Traumática 7% 1% Doenças de Base Hipertensão Cardiopatia Câncer Diabetes Tipo ll Não especificada HIV Hipertensão + Diabetes ll Membro Inferior 34% 42% Ulcera diabética Ulcera isquêmica 7% 2% 7% Ulcera Neuropática Quanto aos sintomas referidos pelos entrevistados, consoante apresentado a figura 3, a dor foi o mais prevalente, caracterizada pelo uso da escala numérica (EN) (0 a 10 pontos). De acordo com a pontuação atribuída pelo paciente, a dor foi classificada em dor intensa (33%), e leve (17%). Figura 3 - Características da intensidade da dor (EN de 0 a 10 pontos), de portadores de feridas crônicas. DF, 2015. Discussão O ambulatório onde foi realizado o estudo é destinado a realizar avaliação e procedimentos de curativos seriados, em lesões pós-cirúrgicas, traumáticas, queimaduras e feridas crônicas, isso é, portadores de algum tipo de ferida. O estudo revelou que no ambulatório de lesões cutâneas a mediana da idade dos pacientes que foram admitidos no período em que foi realizado o estudo é de 72 e a média é de 74,5. Estudos realizados demonstraram que a idade dos clientes atendidos em ambulatórios tem uma média de idade de 70,5 (SANTOS, 2005). Houve uma preponderância, do sexo feminino embora a diferença não tenha sido muito grande. Assim fica claro que as lesões cutâneas crônicas acometem pessoas de ambos os sexos e, são por isso um problema de saúde pública que exige medidas que cingem tanto os homens quanto as mulheres.Os resultados encontrados não se diferenciam dos de outros estudos, onde também houve uma prevalência do sexo feminino (DIAS, 2006). Um maior número de indivíduos com úlcera crônica possui uma idade avançada, pode estar associado ao fato de que alterações provenientes da idade e de complicações de doenças crônicas serem os principais responsáveis pelo seu surgimento e agravamento de lesões na pele. (BORGES, 2007). Dentre estas alterações estão à redução da espessura da epiderme, redução da elasticidade dérmica pela diminuição do número de fibroblastos, o que modifica as fibras de colágeno e elastina, redução dos vasos sanguíneos e fibras nervosas (BRANDÃO, 2006). Já que muitas destas feridas possuem como fator iniciante doenças de base crônicas, esta também foi um perfil abordado. Neste sentido, 26,7% da clientela possui Diabetes Mellitus associado à Hipertensão Arterial Sistêmica, portanto, há clientes que tem mais de uma doença base, 36,7% deles apresentavam Diabetes Mellitus, um dado que contraria a literatura, pois algumas fontes falam que a maioria dos pacientes eram hipertensos (DIAS, F.M.;et al,2007). Sendo que 15,0% associado á alguma cardiopatia. 6,7 % da amostra estudada apresentavam com a doença de base sem classificação, é porque não havia nada escrito no prontuário destes clientes. A associação entre a doença crônica, agravamento da ferida e do estado geral do paciente pode culminar em danos maiores como a amputação de um membro ou até mesmo a morte. Junto a isso, a gravidade das lesões, a ausência dos dois pulsos distais e as idades superiores a 60 anos são consideradas fatores predisponentes para a realização de amputações em doentes com pés diabéticos, sendo esta, uma das principais conseqüências do diabetes mellitus e das ulcerações nos pés (NUNES et al., 2006) Aproximadamente 85% dos diabéticos que apresentam feridas crônicas nos pés evoluem para amputação e, des- tes, metade sofrerá nova amputação em dois a três anos (OLIVEIRA,2008). Em referência ao tempo volvido, desde o surgimento da lesão, observou se que o maior número de feridas já tinha um tempo de evolução superior a 1 ano e inferior a 3 anos, com 35% dos casos; passando posteriormente entre os 4 meses. Um longo tempo decorrido desde o surgimento da ferida é de se pressupor, já que as lesões crônicas ocorrem num tempo prolongado e demoram mais tempo que o habitual para cicatrizar, devido às condições preexistentes como pressão, diabetes, má circulação, estado nutricional precário imunodeficiência ou infecção. Além dos fatores mencionados, a evasão e a freqüente interrupção da terapêutica acarretam no aumento de permanência, além do mais, eleva os custos como tratamento. Segundo a tabela de honorários sugeridos pelo do Conselho Federal de Enfermagem – COFEN, o custo direto total do curativo constituiu se de dois componentes: custo dos materiais utilizados durante o procedimento e o valor de mão de obra por procedimento, independentemente ao tempo empregado em sua execução, onde o custo médio total do curativo limpo foi de R$32,50 e o custo médio total do curativo infectado foi de R$45,54 (MATA PORTO, & FIRMINO, 2011). Estes curativos, também conhecidos como coberturas, requerem gerenciamento de custos pelos enfermeiros responsáveis pelo cuidado das feridas, sejam estes de instituições de saúde públicas, privadas e/ou ensino. Este gerenciamento envolve gastos com recursos humanos qualificados e gastos com recursos materiais (BAPTISTA 2006). A fase de reconstrução se caracteriza pelo desenvolvimento de tecido de granulação, com deposição da matriz extracelular, composto de fibrina, colágeno e glicosaminoglicanos (MARTINS, 2008) Na Tabela 2, observa-se que 33,3 % possuem tecido de epitelização, 15% de granulação, sendo que somente 3,3 % apresentaram tecido em fibrina. Um aspecto relevante é apresentado na localização das lesões crônicas de acordo com as regiões do corpo (figura 1). Preponderância (87%) dos indivíduos possui a lesão nos membros inferiores. Do ponto de vista diagnóstico, a úlcera venosa faz parte do diagnóstico diferencial das úlceras crônicas dos membros inferiores, assim consideradas quando não cicatrizam dentro do período de seis semanas. As demais causas de úlceras crônicas nos membros inferiores são a insuficiência arterial, neuropatia, linfedema, artrite reumatóide, traumas, osteomielite crônica, anemia falciforme, vasculites, tumores cutâneos (carcinoma basocelulares e espinocelulares), doenças infecciosas crônicas (leishmaniose, tuberculose, etc). (ABBADE, 2006). Em relação à etiologia das lesões, em acordo com a (figura 2), 42% é de úlceras diabéticas. Neste estudo, o segundo maior valor é atribuído à úlcera venosa (34%), adverso a literatura, pois em estudos revisados fala que as maiorias das úlceras crônicas são classificadas como úlcera venosa, justificado pelo grande número de pacientes hipertensos existentes no ambulatório (SANTOS, 2005; LASSALA; MENEZES, 2005). A grande maioria dos clientes hipertensos são também diabéticos. Em alguns prontuários há relatos de que pessoas diabéticas adquiriram a ferida após uma lesão superficial que ao invés de melhorar, somente piorou; o que é comum acontecer com pessoas diabéticas, pois esta doença causa além de alterações metabólicas, complicações vasculares e neuropáticas. (FIUSA; et al,2005). A dor é uma das principais queixas de quem tem uma lesão de continuidade na pele. Assim, é comum que as pessoas que têm úlceras e freqüentam o ambulatório de feridas mencionem a dor física. Isso, devido às modificações que ocorrem no organismo e são decorrentes de variações das condições do estado da ferida e da vida de cada pessoa durante o período entre uma visita e outra ao ambulatório. (WAIDMAN., 2011) Quanto às características da intensidade da dor, o dado mais prevalente, e referido a 50% de dor moderada, ante 17 % de dor leve, segundo (figura 03). Neste estudo, a classificação da dor, sendo considerada a mais forte, chamada de dor intensa (33%). Em uma pesquisa realizada com 40 idosos de uma comunidade de Goiânia (GO), foi identificada dor crônica em 25 idosos (62,5%), sendo a intensidade da dor relatada como insuportável (36%), leve (28%), moderada (20%) e intensa (16%). (STIVAL, et al., 2012). Em outro estudo, com 50 pacientes com UV atendidos no ambulatório de angiologia, 88,0% dos pesquisados queixavam dor e em 62,0% era intensa (NOBREGA, 2009). Conclusão: A realização deste estudo permitiu que fosse traçado o perfil da população atendida no ambulatório de lesões cutâneas, segundo variáveis preestabelecidas, relacionadas ao indivíduo que apresenta lesão de etiologia crônica. A pesquisa mostrou que no serviço de saúde em questão, o retrato identificado caracterizou se por indivíduos em sua maioria, do sexo feminino (56,7%), com faixa etária entre 70 e 79 anos de idade (46,7%). Quanto às características clínicas, referente às doenças de base presentes nestes indivíduos, 36,7% deles possuem diabetes mellitus, 26,7% diabetes associado à hipertensão arterial sistêmica, e 15,0% cardiopatia; 87% com lesão nos membros inferiores, sendo que 42% eram de úlceras diabéticas e 34% de úlceras venosas; com um tempo de evolução superior a um ano e inferior a três anos, em 35% dos casos. Em relação à variável tecidos constatou predominância de 33,3 % epitelização, 15% de granulação, sendo que somente 3,3% de fibrina. Dos clientes atendidos, 50% caracterizavam a intensidade da dor em moderado, enquanto 33% classificavam em dor intensa. É de suma importância que o profissional que lida diretamente com o tratamento de lesões cutâneas estejam embasados em conhecimentos e técnicas que envolvem a realização do curativo, ao processo de cicatrização e aos produtos utilizados, assim como suas funções terapêuticas. O levantamento do perfil dos pacientes deste estudo foi importante para se fazer identificar as informações existentes nos prontuários dos clientes atendidos no ambulatório, que servem como registro e fonte de consulta para subsequentes pesquisas. O registro do histórico de enfermagem permite obter uma percepção de todos os aspectos do cliente (social, sistêmico, clínico, espiritual, crenças...) o que auxilia para a inserção de ações mais direcionadas e precisas ao autocuidado e ao tratamento do cliente repercutindo na melhora do seu estado geral e assim diminuindo o tempo de cicatrização da lesão, garantindo assim uma melhor qualidade de vida aos usuários do serviço. O enfermeiro em especial deve estar atento para identificar a historia da ferida desses clientes, pois é imprescindível conhecer todo processo de cicatrização. Neste entendimento, o enfermeiro pode concorrer na viabilização de políticas de saúde direcionadas à prevenção e ao combate dos agravos relacionados ao surgimento de feridas crônicas; ajudando assim, na melhora da qualidade de vida destes indivíduos, família e comunidade. Diante dos dados apresentados e todo o conteúdo abordado sobre feridas crônicas, é de suma importância que a equipe de enfermagem esteja empenhada em realizar uma assistência de qualidade em prol da melhoria do quadro dessas feridas, assim como atentando para o gasto, que dependendo do procedimento, técnica e conhecimento do profissional envolvido, poderá ser elevado ou coerente para cada tipo de ferida. Parte daí a importância de um profissional qualificado e com visão clínica que possua um papel indispensável no cuidado ao paciente com ferida crônica. Com a amplitude desse tema, acredita se que esta pesquisa possa trazer subsídios para o desenvolvimento de novos estudos em âmbito nacional com o aumento da clientela estudada, permitindo assim obter maior representatividade do perfil desta população. Agradecimentos: Nossos agradecimentos ao Hospital Anchieta e ao Instituto Anchieta de Ensino e Pesquisa - IAEP, pelas facilidades oferecidas na coleta de dados, e em especial ao Enfermeiro Guilherme Alves,pela colaboração e disponibilidade no ambulatorio de lesões cutâneas.À nossa orientadora Judith Trevisan por todo apoio, paciência e acolhimento durante a elaboração desse artigo.Aos pacientes com feridas crônicas, instrumento vital deste estudo não teria conseguido sem vocês. Referências: 1. ABBADE, Luciana Patrícia Fernandes and LASTORIA, Sidnei. Abordagem de pacientes com úlcera da perna de etiologia venosa.An. Bras. Dermatol. [online]. 2006, vol.81, n.6, pp. 509-522. ISSN 1806-4841. Acessado em 10 de junho de 2015. 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