O PODER DA HIERARQUIA É quase um contrassenso falar do poder da hierarquia quando, cada vez mais, gurus e teóricos afirmam que a hierarquia tem sido um dos pontos de estrangulamento na velocidade de mudanças nas organizações. Acostumou-se a chamar de hierarquia os modelos de estruturas organizacionais que empilham caixinhas umas sobre as outras conferindo às de cima poder e controle sobre as de baixo. Isto não é hierarquia e sim burocracia, e quanto mais burocrática for uma organização maior dificuldade ela terá para fazer as mudanças. Os gurus não estão errados, apenas usando incorretamente o significado de hierarquia. A hierarquia representa a ordem de prioridade entre elementos de um conjunto ou sobre relações de responsabilidades entre membros de um grupo, indicando que sem a influência do primeiro sobre o segundo e deste para os demais, não há movimento que gere resultado ou solução. O movimento aqui significa ação para a realização de algo. É importante considerar que todo movimento é provocado por uma força que deriva de uma fonte de energia. Deste ponto de vista, é interessante notar certas semelhanças entre a força geradora do movimento e o modelo de liderança que o acompanha. Quanto mais próximo o movimento estiver da força física maior será o atrito do líder possuidor da força em relação aos liderados. Em sua época, o carvão e o vapor foram usados como fontes de energia para movimentarem simples conjuntos de engrenagem mecânica, que por sua vez, eram manuseados por pessoas sem instruções. O modelo de hierarquia seguia uma lógica muito similar ao de fabricação, onde o capataz era a fonte de movimento dos empregados, exercendo sobre eles uma força de fricção, da mesma forma com que se dava o atrito entre as engrenagens. A hierarquia não é uma disciplina formal, mas uma cooperação racional. O seu uso inteligente está na conscientização de que é necessário que haja um gerador de força que faça todas as peças funcionar. Isto vale tanto para a organização de pessoas, conjunto de engrenagens ou sistemas orgânicos. É um engano entender que a hierarquia seja um direito individual e que qualquer pessoa pode exercer um papel fundamental como o de impulsionar, impelir e colocar em movimento toda uma engrenagem ou organização. Para uma tarefa desta envergadura é necessário contar com alguém que tenha uma percepção integral do mundo, que intensifique em si mesmo as melhores aspirações e que proclame que a consciência unida leva a decisões harmônicas. Um líder que tenha energia pessoal suficiente para movimentar outros líderes para juntos movimentarem todo um sistema. Já foi o tempo em que víamos o mundo de forma mecanicista feito de bloquinhos empilhados com certa dependência entre si. Muitas organizações basearam suas estruturas usando essa figura como referência e a chamaram erroneamente de hierarquia. Quanto mais avançamos neste mundo globalizado mais percebemos a convergência de temas abrangentes, repletos de complexidade e incertezas, que exigem a presença de pessoas bem preparadas para lidar com tamanha grandeza de possibilidades. Nesse novo contexto, a força que gera o movimento não está próxima da força física, ao contrário, está muito distante. A força que gera o movimento está na energia pessoal de quem pode compreender a complexidade do mundo e saber como traçar os possíveis caminhos em busca de respostas. O modelo de liderança, então, será o de líderes conduzindo líderes, formando redes interdependentes, mas com propósitos convergentes, onde a conjugação de forças cria uma teia de cooperação que une os seus centros com o fio condutor da potente energia.