modelo evolutivo do sistema de dunas eólicas do setor

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MODELO EVOLUTIVO DO CAMPO DE DUNAS DO PARQUE NACIONAL DOS
LENÇÓIS MARANHENSES – MA/ BRASIL
Jorge Hamilton Souza dos Santos1; João Wagner Alencar Castro²; Ronaldo Antonio Gonçalves³;
Nádja Furtado Bessa dos Santos4;
1
Depto. Geografia, UFMA/UFRJ ([email protected]); ²LAGECOST/ Depto. Geologia e
Paleontologia/ Museu Nacional - UFRJ; 3Depto.Geologia, UFRJ; 4Depto. GeografiaUEMA/UFRJ.
Abstract.
This work presents a preliminary proposal on the morphological evolution of the East sector of
the dune field of Lençóis Maranhenses National Park - PNLM, located in Barreirinhas, State of
Maranhão. By means of field data, satellite aerial pictures and images analysis, having Castro
studies (2001) as a theoretical base, 4 (four) eolic sub-systems were individualized from the
existing natural characteristics: Source, Entrance, Retention and Exit Zones. In each subenvironment, the main geological, geomorphological and sedimentological aspects are described,
and explanatory arguments are presented, in an attempt to show how specific environments
evolved in the east sector of the coastal plain of Lençóis Maranhenses. In this way, the proposed
model also seeks to subsidize and provide information for the purpose of collaborating in the
identification of dunes migration areas over hydric resources, agriculturist areas, constructions
and roads, which are so common in this section of the maranhense littoral.
Palavras-chave: modelo evolutivo, dunas, Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses-MA.
1. Introdução
O Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses – PNLM, situado na planície
costeira oriental do Estado do Maranhão,
com uma área de 155.00ha, é conhecido
como um dos maiores registros de campo de
dunas costeiras do Quaternário.
Na região o ciclo anual de chuvas
caracteriza-se por apresentar índices
pluviométricos entre 1600 e 1800 mm,
ventos com direção predominantemente de
NE, com velocidades variando de regular a
moderada, podendo ocasionalmente ocorrer
rajadas superiores aos 45 m/s no período de
estiagem (Santos e Perreira, 2001). Os
sedimentos predominantes são de origem
marinha e fluvial. Estes se caracterizam por
apresentar textura arenosa fina à média com
baixa capacidade de retenção de umidade e
baixíssima fertilidade natural.
A cobertura vegetal é representada por
formações vegetais diferenciadas como
floresta pluvial, cerrado, caatinga e
vegetação de restinga (halofitas e
psamófitas), indicando ser esta região de
transição entre as formações amazônicas e
nordestinas.
A dinâmica atual do referido sistema
sedimentar eólico encontra-se caracterizada
de acordo com Gonçalves (1997), pela interrelação dos seguintes agentes: clima (ventos,
pluviosidade); regime de ondas e correntes
longitudinais, marés e sistema de drenagem.
Tendo em vista as características
geológicas e geomorfológicas da área de
estudo serem similares a outros campos de
dunas do litoral setentrional do nordeste
brasileiro será utilizado nesse trabalho o
modelo de evolução proposto por Castro
(2001) subsidiado por informações contidas
em trabalhos desenvolvidos por Gonçalves
(1997). Desta forma, foram definidos para a
área de estudo quatro sistemas encadeantes
representados pelas: Zona de Alimentação,
Zona de Entrada, Zona de Retenção e Zona
de Saída (Figura 1).
2. Métodos e Técnicas
Os dados e informações apresentados no
decorrer do texto foram obtidos a partir da
interpretação das imagens de satélites
LANDSAT - 7 (2002) e CBERS (2004),
fotografias aéreas de 1976 (1:70. 000) e
1999 (1:30.000), análises granulométricas
dos sedimentos, trabalho de campo em
períodos alternados (período chuvoso e de
estiagem) e pela utilização de técnicas de
sensoriamento remoto e geoprocessamento
(SAGA/UFRJ).
3. Resultados e Discussões
3.1. Zona de Alimentação.
Este subsistema na área em tela,
caracteriza-se
por
apresentar
praias
dissipativas de baixa declividade com
múltiplas arrebentações de ondas (Foto 1). A
largura da praia varia entre 200 a 400m. Os
sedimentos são constituídos por areias
médias (0,354 a 0,250mm) a finas (0,177 a
0,125mm) bem selecionadas.
A significativa área praial é receptora de
material
proveniente
da
plataforma
continental interna e do sistema de drenagem
representado pelos rios Parnaíba e Preguiças.
Assim, os sedimentos arenosos depositados
sobre a face praial, a qual fica exposta
diariamente durante os ciclos de mesomarés
(intervalos de 12 horas), são remobilizados
em direção ao interior da planície costeira
pelos ventos unidirecionais do quadrante
nordeste.
Foto 1: Praia dos Lençóis Maranhenses –
Zona de Alimentação do Campo de dunas.
3.2. Zona de Entrada.
Acima
do
ambiente
praial,
especificamente no setor norte, tem-se a
presença de uma extensa planície de
deflação eólica com largura variando entre
1,0 a 2,5km, por onde o material oriundo da
praia é transportado. Durante o período
chuvoso (janeiro a julho) a referida planície
caracteriza-se por maior densidade de lagos
e lagunas temporárias, e cursos d’água
intermitentes, reduzindo significativamente
o transporte eólico sobre a citada feição
morfológica. No período de estiagem
(agosto a dezembro), com o rebaixamento do
lençol freático (menor capacidade de
umidade dos sedimentos), verifica-se a
ocorrência de areias soltas, dando origem
aos lençóis de areia (Gonçalves et al (2003).
No setor leste do PNLM a planície de
deflação eólica caracteriza-se pela presença
de vegetação herbácea (gramíneas) e menor
área de ocorrência dessas feições
mantiformes (sand sheets) devido ao
acúmulo de sedimentos na desembocadura
do rio Preguiças. Através da interpretação
das fotografias aéreas de 1999, (escala
1:30.000) observou-se nitidamente sobre a
planície de deflação as esteiras de dunas
(pistas de deslocamentos pretéritos), as quais
indicam o local de passagem das atuais
dunas móveis. Desta forma, a presença das
esteiras, permitem inferir que grande parte
do volume de areia presente nas atuais dunas
livres foram transportadas na forma de dunas
barcanas, que por sua vez sofreram
deformações em sua morfologia original
para barcanóides, oblíquas e/ou parabólicas.
3.3. Zona de Retenção.
Este subsistema com
26 km e uma área de
250km² caracteriza-se
representativo de todos
estudados (Foto 2).
uma extensão de
aproximadamente
como o mais
os sub-sistemas
Foto 2: Vista parcial da Zona de Retenção
do campo de dunas com lagoas interdunares.
A referida zona de retenção é limitada
ao norte e a leste pela planície de deflação,
ao sul pelas dunas fixas preservadas e/ou
deformadas e a oeste pelo rio Negro.
Quanto ao campo de dunas fixas,
também denominadas de inativas ou fósseis
(Thomas & Shaw, 1991), este se encontra
estabilizado pela vegetação de estrato
arbustivo-arbóreo,
podendo
apresentar
formas
bem
preservadas
ou
não,
caracterizando-se como o maior campo de
dunas da zona costeira do Estado do
Maranhão. Dessa maneira, o campo de
dunas fósseis representa uma zona de
retenção pretérita originada por possíveis
transgressões, ou seja, em condições do
nível médio do mar acima do atual. Outra
característica existente no citado campo de
dunas diz respeito à brusca variação
altimétrica
em
determinadas
áreas.
Conforme observações realizadas através de
cartas planialtimétricas (escala 1:100.000)
verificou-se que os diferentes padrões de
drenagens com direcionamentos opostos
sugerem ter ocorrido reativações de falhas
caracterizadas por processos neotectônicos.
Em relação à zona de retenção atual
constituída por dunas móveis, a topografia é
moderadamente ondulada podendo atingir
cotas de até 61m. Os sedimentos são
predominantemente
finos
(0,177
a
0,125mm), bem selecionados demarcando
alinhamento
nordeste-sudoeste.
Neste
sistema registra-se a presença de inúmeras
lagoas
interdunares
(temporárias
e
permanentes) e alguns canais de drenagens
de 1ª e 2ª ordem.
Observou-se através de imagens
orbitais, sub-orbitais e visitas de campo, que
as dunas à medida que avançam para o
interior da planície costeira, vão em geral
aumentando de altura e volume. O processo
de variação do regime de vento através do
mesmo quadrante faz com que as dunas se
deformem dando origem as cadeias
barcanóides. Vale destacar, que durante o
período chuvoso tem-se o aumento do fluxo
dos pequenos canais (interdunares) no
interior do campo de dunas, os quais são
responsáveis pelo surgimento da cadeia de
dunas oblíquas a partir de transformações
ocorridas nas cadeias barcanóides, conforme
descrito por Gonçalves et al (2003).
A partir da observação “in situ” pode-se
constatar que o aumento da quantidade de
areia disponível nesse subsistema é
inversamente proporcional à distância da
fonte, ou seja, quanto mais distante da zona
de alimentação maior é a altura das dunas,
fato este, também constatado nos campos de
dunas de Paracuru - CE e Peró - RJ por
Castro (2001) e Ramos et al. (2003)
respectivamente.
A partir da comparação das fotografias
aéreas de diferentes épocas, observou-se que
as dunas mais interiorizadas próximas ao
campo de dunas fixas apresentam uma
menor taxa de migração devido a uma série
de fatores ambientais, dentre os quais se
destacam: o maior volume e tamanho das
dunas; a maior densidade de lagoas
interdunares; a presença de canais de
drenagens que bordejam o campo de dunas
livres; a significativa distância em relação à
área fonte.
Entre as principais formas eólicas
existentes na zona de retenção em análise,
em termos de ocorrência, registram-se as
cadeias barcanóides, as barcanas, as cadeias
de dunas oblíquas, às parabólicas e as dunas
longitudinais. Essas últimas situam-se
próxima ao contato com as dunas
estabilizadas, podendo indicar antigo
registro do nível médio do mar mais alto em
relação ao atual.
sistema eólico. Embora, tenha sido
considerado nesse trabalho o referido
subsistema a partir do modelo utilizado no
Ceará e no Rio de Janeiro, não se descarta a
necessidade de maiores informações para
sabermos se este modelo, apresenta-se como
o mais adequado à realidade da área em
questão.
3.4. Zona de Saída
Foto 3: Vista parcial da Zona de Saída do
PNLM, observando-se a foz do rio Negro.
O termo, “zona de saída” foi utilizado
por Castro (2001) para designar ambientes
soterrados por sedimentos eólicos (dunas),
submetidos posteriormente a transporte
fluvial em direção ao mar.
No PNLM foi facilmente constatado, a
partir da interpretação de imagens de
satélites e fotografias aéreas pretéritas, que
os sedimentos eólicos encontram-se, em sua
maioria, aprisionados no interior do campo
de dunas. Contudo, no limite oeste da área
de pesquisa, o rio Negro destaca-se como o
principal responsável por pequena parcela do
material eólico transportado em direção ao
mar, principalmente no período chuvoso
quando a vazão torna-se mais elevada (Foto
3). Devido a este fato, inicialmente
considerou-se o referido rio como a zona de
saída do campo de dunas em questão (Figura
1). Todavia, considerando-se a pequena
dimensão do rio em relação a grande área do
campo de dunas e consequentemente o
pequeno fluxo de sedimentos em direção ao
mar (no período de estiagem), faz-se
necessário, à aquisição de novos dados para
se confirmar ou não, se o rio Negro constitui
realmente a zona de saída do referido
4. Conclusões
Através desse trabalho, identificou-se a
priori que os subsistemas presentes na área
de estudo, repetem-se em outras regiões
situadas ao longo do litoral setentrional
brasileiro. Assim, o modelo de evolução
preliminar estabelecido para o setor leste do
campo de dunas do PNLM poderá ser
aplicado em projetos de planejamento e
gestão
ambiental,
subsidiando
a
identificação de áreas de risco, evitando
dessa forma que novas áreas agrícolas,
estradas e vegetação nativa sejam atingidas
por
migração
eólica
(soterramento).
Ressalta-se, no entanto que a vegetação
nativa e os recursos hídricos localizados nas
áreas de pós dunas têm uma importância
fundamental no controle da movimentação
eólica (contenção). Com isso, o modelo
proposto visa subsidiar e fornecer
informações no intuito de colaborar para
solução dos problemas decorrentes da
migração de dunas que se processa nesse
trecho do litoral. Finalmente, considera-se
este trabalho, como um ponto inicial para
explicação dos processos de sedimentação
eólica no Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses. Neste sentido, objetivando
uma maior discussão e o aperfeiçoamento do
referido modelo, estão sendo providenciados
maiores informações sobre estimativas de
taxas de transporte eólico na citada área.
6. Referências
CASTRO, J.W.A. 2001. Geomorfologia do
Sistema Sedimentar Eólico de Paracuru –
Ceará. Rio de Janeiro, 200p. (tese de
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Geografia, UFRJ).
GONÇALVES, R.A. 1997. Contribuição ao
Mapeamento Geológico e Geomorfológico
dos Depósitos eólicos da Planície Costeira
do Maranhão: Região de Barreirinhas e Rio
Novo – Lençóis Maranhenses –MA – Brasil.
Porto Alegre, 235p. (Tese de Doutorado,
Programa
de
Pós-Graduação
em
Geociências, UFRGS).
GONÇALVES, R.A.; LEHUGEUR, L.G.O.;
CASTRO, J.W.A.; PEDROTO, A.E.S. 2003.
Classificação das Feições Eólicas dos
Lençóis Maranhenses – Maranhão – Brasil.
Mercator. 3: 99-113.
RAMOS, R.R.C.; CASSAR, J.C.M.;
GUSMÃO, L.A.B. 2003. Modelo Evolutivo
do Campo de Dunas do Peró (Município de
Cabo Frio/RJ) e Cálculo de transporte
eólico. Anais ABEQUA. 1: 6p.
SANTOS, J. H .S. dos. e PEREIRA, E. D.
(2001).
Caracterização
geológica
e
geomorfológica do Parque Nacional dos
Lençóis Maranhenses. Maranhão Brasil.
Anais IX SBGFA. p.196.
THOMAS, D.S.G. and SHAW, P.A. 1991.
‘Relict” Desert Systems: interpretations and
problems. Journal of Arid Environments 14.
Figura 1:Modelo Evolutivo do Campo de Dunas referente ao setor leste do Parque
Nacional dos Lençóis Maranhenses-MA
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