VI Encuentro de Economía Política y Derechos Humanos: Argentina y América Latina – Dilemas de una nueva etapa económica, política y social. La economía al servicio de los pueblos – 4 – 6 de Octubre 2012 – Buenos Aires - Argentina Eje 4: Economía social y solidaria: La necesidad de trabajo, educación y vivienda digna. El rol de losmovimientos populares. Porque o mercado não é suficiente: brigar por Politicas Sociais e criar Economia Solidária Laura Moisa e Rita Petra Kallabis *1 Resumo: Há três fontes legais de acesso à renda monetária: a propriedade, o trabalho ea política social, sendo o trabalho de longe a fonte mais importante para a população. O trabalho tem que ser duplamente livre: de donos para celebrar contratos de compra e venda desta força, e de posses, para não ter alternativas a esta venda. O capital humano ‘educação’ é tido como a variável chave para ter sucesso neste sistema. Mas, o sistema em si mostra-se disfuncional: a renda da população é muito baixa, a cobertura da proteção social é muito restrita e o aumento generalizado do nível de escolaridade não elevou o nível de bem estar social. O mercado de trabalho insuficiente obriga a população a encontrar alternativas de sobrevivência e a pressionar por melhorias no amplo campo da política social, o que é muito mais eficiente quandoa população se organiza. Eis a dupla função dos movimentos sociais. Mostra-se esta discussão com dados relativos ao Brasil e à Argentina e na história recente dos dois países. Palavras chaves: Economia solidária. Renda. Proteção Social. Argentina. Brasil. Pede-se o uso do data-show na hora da apresentação. As autoras declaram expressamente sua autorização da publicação do presente artigo pelo(a)s o(a)sorganizadore(a)s do supracitado evento. *1Laura Moisa: [email protected],Rua Manoel de Sousa Filho, 250, Barão Geraldo, 13084-170 Campinas/SP Brasil, (19) 9816 8853; (Docente da Universidad Nacional de Colombia sede Medellin) Doutoranda em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, IE/ Centro de Estudos Sindicais e da Economia do Trabalho - CESIT Rita Petra Kallabis: [email protected] Manoel de Sousa Filho, 250, Barão Geraldo, 13084-170 Campinas/SP Brasil, (19) 8165 6303 (bolsista CNPq) Doutoranda em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, IE/Centro de Estudos Sindicais e da Economia do Trabalho CESIT. 2 Economia + Solidária2 Se função da economia for produzir e distribuir os bens e serviços necessários à sobrevivência e vivência da sociedade, a economia capitalistacumpre com esta função de maneira muito falha, pois existem grandes contingentes de pessoas privados do que necessitam para viver e se desenvolver. Por exemplo, na média da década passada, um terço da população brasileira e argentina viveu abaixo da linha de pobreza e, na média da década, metade dos trabalhadores brasileirose 40% da população ocupada argentina não tiveram acesso à proteção social (IGBE, 2010, REPETTO, dalMasetto, 2011). No Brasil e na Argentina, esta situação melhorou significativamente no último quartil da década, acompanhando a maioria dos países em desenvolvimento, com diminuição dos índices nacionais de pobreza, sobretudo em países que adotaram políticas sociais significativas. Enquanto isso, observa-se nos países desenvolvidos a deterioração dos mercados de trabalho e uma tendência ao aumento da pobreza. As conquistas sociais são reversíveis e instáveis. A baixa renda generalizada e a amplitude da falta de proteção social contra o risco inerente à sociedade capitalista de não poder auferir uma renda suficiente ao longo da vida são sinais claros de não-solidariedade, da não-funcionalidade do sistema. A Economia Solidária não é um conceito bonito, mas, antes, uma bandeira de lutaque denuncia a dinâmica excludente da organização capitalista da economia e constrói solidariedade em duas frentes. Uma frente pressiona pela construção da solidariedade na economia, via ordenamento público dela em prol do objetivo da criação de condições decentes de vida para as populações. Outra frente não só cria alternativas de acesso a condições de vida dignas, via empreendimentos solidários, mas, num sentido mais amplo, cria condições alternativas para construir outra economia. Neste artigo procura se mostrar o terreno desta luta por uma economia solidária no sentido da conquista de politicas sociais amplas, instituídas como direitos. Como exemplo tem-se a realidade no Brasil e na Argentina. O artigo se divide em cinco seções, incluindo esta. A seção seguinte prepara o terreno, abordando conceitos básicos sobre economia e mercado. A terceira seção discute a relação entre economia, trabalho, renda e proteção social. O tema da quarta secção é a criação e consolidação das políticas sociais na Argentina e no Brasil.Encerra-se com uma breve conclusão. 2 Os primeiros esboços deste texto nasceram das discussões em torno das Oficinas de Economia Solidária para Jovens, promovidas pela Casa da Juventude Pe. Burnier, de Goiânia-Goiás – Brasil (confira em http://www.casadajuventude.org.br/index.php?option=content&task=view&id=3437) 3 A função da economia A definição de que a função da economiaé produzir e distribuir os bens e serviços necessários à sobrevivência e vivência da sociedade aponta para constantesescolhas e, com isso, constantes conflitos de interesses. Fazer a economia cumprir esta função não é algo dado e depende da própria organização da sociedade. Quem define o que é produzido, em qual quantidade? Quantas casas, escolas, panelas de pressão? E o processo produtivo, como é definido? Como se faz uso da água, do solo? Quais as regras para usar a força humana? Quais tecnologias são permitidas? Quais conhecimentos valem? Quem determina sobre o usodo capital financeiro? Como os produtos e serviços são distribuídos? Quem tem acessoa estes, sob quais condições? O que é adquirido via mercado? Quem determina o preço? O que é distribuído pro outras vias? Como ocorre a apropriação do excedente? As decisões de o que produzir,como produzir e para quem produzir ocorrem num contexto da contínua arbitragem entre usos alternativos de recursos produtivos existentes, com processos decisórios mediados pelo mercado e intermediados pelo dinheiro,o que levará a economia a cumprir com sua função social somente se ela for orientada para este fim.Simplificando pode se dizer, uma economia é solidária quando ela cumpre com sua função quando garante condições de vida descentes, entendidos como atendimento básico aos quesitos alimentação, vestuário, habitação, saúde, educação, transporte, lazer, cultura e participação política. O grau de solidariedade de uma economia mede-se, em outras palavras, pelo grau de bem-estar social da sociedade. Agora, economias complexas são economias de mercado, com trocas intermediadas pelo dinheiro3. O mercado em si é o lugar de troca, decompra e venda; o que é produzidoo é para o mercado, tudo se transforma em mercadorias. Isto tem duas implicações importantes: o acesso a uma renda monetária é imperativo para viver em sociedades de mercado e a forma de participação nestas trocas mediadas pelo mercado determina a parcela do excedente auferido no processo de produção e distribuição. Em economias capitalistas, o princípio norteador da atividade econômica é o da acumulação do capital. Portanto, o conjunto da economia -o processo produtivo, distributivo e de apropriação - é comandado pelo cálculo econômico da otimização da capacidade de acumulaçãodo Capital. Este mecanismo básico da economia capitalista,por definição, é profundamente concorrencial e não solidário. Mas, os mercados livres, organizados pelo jogo da oferta e procura, “são criaturas do 3 No restrito espaço deste artigo não tem como abordar a questão da moeda na economia, mas, vale apontar, a economia será tanto mais solidária – voltada ao atendimento coletivo de necessidades- quanto mais a moeda ficar restrita a função somente de intermediária de troca e se restringe suas funções de reserva de valor. 4 poder do Estado e só subsistem enquanto o Estado tiver a capacidade de evitar que as necessidades humanas de segurança e do controle do risco econômico encontrem expressão política” (Polanyi, 1980: 249). Estes mercados dependem da firme defesa do direito de propriedade privada, se for, até contra o direito de as pessoas terem suas necessidades atendidas, o que aponta para outra indicação das caraterísticas de empreendimentos solidários: o princípio jurídico que os ordena deve ser a propriedade coletiva, com a propriedade privada existente, mas subordinada ao interesse comum. Isto somenteserá possível na medida em que a chamada sociedade civil organizada for capaz de se organizar para articular seus interesses e lutar por eles. Para tal intento, a formação dos movimentos sociais é muito importante, sobretudo em respeito aos fundamentos básicos do funcionamento da sociedade. Cada sociedade, para seu bom funcionamento e para interagir com outras sociedades, precisa da interação dinâmica entre o Estado (Governo), a Economia (Mercado) e os grupos que formam a sociedade (sociedade civil, comunidade). A arte de uma sociedade civilizada consiste na capacidade de fazer estes interesses dialogarem e não resolver conflitos de interesses na força (pela violência). Os grupos sociais podem criar empreendimentos solidários, no entanto, uma sociedade solidária depende da força política na própria sociedade para forjar um Estado pautado por valores solidários, pois, sem oordenamento público não há como limitar e cultivar as forças do “livre” mercado, da economia capitalista. Economia – Mercado – Trabalho - Renda Nas economias capitalistasnão é mais possível que cada pessoa, ou clã familiar, produza seu próprio sustento, por um lado, e por outro, para viver, cada pessoa precisa de uma renda monetária. A princípio, esta renda pode prover de três fontes: rendas geradas pela posse de bens, renda geradas pela venda da força de trabalho, e rendas oriundas de ‘partilhas’, isto é de doações4 ou políticas sociais. Somente as famílias com os mais altos rendimentos têm como investir em “variação patrimonial” e, com isto, auferir rendas pela propriedade 5. Por outro lado, a distribuição funcional da renda mostra o peso da renda oriunda da propriedade. Do excedente bruto gerado pelas empresas, somente metade é absorvido como rendas do trabalho, e a outra, como rendas do capital. O trabalho assalariado é o segundopilar da economia capitalista e este tem que ser duplamente livre:livre de donos, para poder celebrar contratos de compra e venda (de trabalho) elivre de qualquer posse (sobretudo dos meios de produção), pois se tivesse posses, 4 5 Doações são atos voluntários individuais, incertos e não asseguram um fluxo regular mínimo de renda. Verifique os dados referente ao Brasil em IBGE 2010b, Tabela 8. 5 teria um meio alternativo para auferir uma renda e não precisava vender sua força de trabalho. Ilustra-se esta afirmação no exemplo do Brasil: na média do país, em 2009, 76% da renda per capita domiciliar se originou diretamente no mercado de trabalho, e 19% de aposentadorias e pensões, isto é, indiretamente da renda do trabalho. Somente 5% não vieram desta fonte e quando desmembrados por faixas de renda observa-se que a predominância de transferências públicas de renda neste quesito(IBGE 2010a, p. 101). Uma maneira de medir o “grau de solidariedade” em uma economia é verificar o nível de renda da população, em dado momento. Mas, como as necessidades humanas são contínuas, a renda também o há de ser e precisa ser qualificadapelas garantias de continuidade, expressas nas variáveis formalização e proteção social. O trabalho como meio principal para atender ao imperativo do acesso a uma renda monetária está sujeito ao risco sistêmico de não poder trabalhar ou de auferir com o trabalho uma renda insuficiente. As diversas formas de proteção socialsão uma reposta coletiva a este risco 6. Agora, na Argentina, somente60% da população economicamente ativa trabalha em relações formalizadas de trabalho, diretamente ligadas ao acesso à proteção social, na média da década passada. No Brasil este valor mal supera os 50%. Tanto a necessidade de renda quanto a de vender sua força de trabalho (dos não proprietários de capital) são imperativos sistêmicos e não dependem, ou em grau mínimo, da decisão do indivíduo. Reconhecer estes imperativos leva a criar mecanismos de proteção frente ao riscosistêmico de não poder trabalhar ou de ter uma renda insuficiente. Estes riscos estão ligados a vários fatores. O fator mais eminente está embutido na expressão ‘força de trabalho’, isto é, o risco de ver sua capacidade física ou intelectual debilitada, por doença, idade, falta ou desatualização de conhecimentos, por exemplo. Visto de outro ângulo trata se da falta de postos de trabalho adequados às caraterísticas da população. Outro risco está ligado a condições sociais como ser responsável por pessoas dependentes, o que reduz a flexibilidade para se dispor no mercado de trabalho. O terceiro risco provém da falta de postos de trabalho a serem ocupados, expressa no desemprego. Tem muitas maneiras para responder a cada um destes riscos e o conjunto das soluções formao sistema de seguridade social. Portanto, um sistema de seguridade social funcional faz parte do cerne de uma economia solidária. Umaeconomia solidáriapode ser 6 compreendida como economia de mercado Aliás, também os detentores de propriedade correm este risco e as sociedades capitalistas os protegem via políticas públicas de inúmeras maneiras. 6 cuidadosamente cultivadapela sociedade, pois, e. Em si, por si, tende a economia capitalista a ter uma dinâmica excludente. Que os mercados não são eficientes mostra o enorme desperdício que se traduz na destruição do meio ambiente e na exclusão de grandes contingentes de pessoas, na forma de desempregados, subempregados ou marginalmente incluídos. Excluídos são também terras, meios de produção, conhecimentos que não atendem ao ditado da maximização do retorno do capital. Os mercados também não são efetivos, pois não provem todos os membros da sociedade com renda suficiente e lugar na sociedade. Sem este cultivo pelas regras dadas pela sociedade, por causa da dinâmica inerente a elas, tendem as economias de mercado a se transformar em “moinhos satânicos” (Polanyi, 1980. Trabalho, Renda e Proteção Social O mercado de trabalho é o elo central, para a classe que vive do trabalho, do esforço para conseguir a renda da qual necessita e de um lugar satisfatório na sociedade. Quem faz ativamente parte deste mercado, trabalhando ou procurando emprego, e quem não, bem como a qualidade desta ligação, se é forte ou marginal, isto é, se há outros meios ou a procura por outros meios de conseguir renda e espaço social, depende relativamente pouco do indivíduo. Leis estabelecem as regras quanto a uso, alocação e remuneração do trabalho humano, por exemplo, quanto a idade de ingressar no mercado de trabalho ou de sair dele, o uso da mão de obra feminina, exigências de qualificação, e assim por diante. Os lugares ocupáveis na estrutura produtiva e social vão dizer quantas alternativas tem que existir para aqueles que não conseguem se inserir no mercado de trabalho. Estas alternativas, por sua vez, podem assumir inúmeras formas. Uma forma são transferências de renda, outras estão ligadas ao autoemprego, à economia de subsistência, ou ainda, por assim dizer, ao mercado de trabalho criminal. Há uma estreita ligação entre a inserção no mercado formal de trabalho e acesso à proteção social. Este acesso é, também, um indicador de acesso à cidadania, pois a cobertura de proteção social ‘mede’ o reconhecimento do trabalho,ou seja, reconhece o imperativo de trabalhar para ter acesso a renda e a um lugar ocupável na sociedade e os riscos sociais intrínsecos a este status. O mercado de trabalho no Brasil tem uma história bem peculiar que se estende desde a sua gênese. O mercado de trabalho brasileiro nasceu com um alto peso de subsistência e trabalho informal, um fato reproduzido até os dias atuais (DELGADO, 2004). A configuração da relação salarial e do mercado de trabalho na Argentina teve um processo diferente do Brasil pelo peso reduzido da escravidão na economia da Republica Argentina. A massa de trabalhadores argentinos se formou pelas migrações europeias em sua 7 maioria, e em menor escala pela migração dos países vizinhos. Diferente do Brasil, a o excedente de mão de obra e a informalidade não eram grandes problemas no processo de industrialização desenvolvido durante ás décadas de 1930 até 1970. O nível de renda gerada no mercado de trabalho é suficiente? Em 2009, 16,27 milhões de brasileiros eram contadas entre os extremamente pobres, ou 8,5% da população brasileira. Segundo a classificação do Programa Brasil sem Miséria, quem têm uma renda domiciliar per capitainferior a um quarto de salário mínimovive em condições miseráveis; a condição de pobreza é constatada com uma renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo; já uma renda individual de até um salário mínimo é tido como situação de vulnerabilidade. Naquele ano, 58% das famílias brasileiras tiveram uma renda mensal média de até um salário mínimo por membro, ou seja 107 milhões de pessoas(IPEA, 2011).As rendas em si são bastante achatadas;a renda é baixa para a base da pirâmide social (até 60%) e, na verdade, também para os estratos seguintes. O que pesa é a extrema desigualdade na distribuição desta renda, concentrada nos estratos superiores da distribuição. Além do mais há de se levar em conta que os dados da PNAD não conseguem averiguar as rendas oriundas da propriedade, que deve formar uma parcela significativa destes estratos. Após um longo período de deterioração das rendas familiares tanto no Brasil quanto na Argentina, ao longo das décadas de 1970 a 1990, viveram ambos os países uma fase de recuperação do poder de compra da população e da redução dos indicadores de desigualdade. No entanto, a desigualdade continua ser muito grande, muito mais acentuado no Brasil do que na Argentina. Qual o grau de acesso á proteção social? A proteção social tem várias esferas. Uma esfera diz respeito ao risco de perder o emprego, via leis de proteção ao posto de trabalho, ou, na perda dele, de uma renda durante a busca por outro emprego (seguro desemprego). No Brasil,o seguro desemprego está limitado aos empregos formais: pessoas ocupadas com carteira de trabalho (CLTistas), como funcionários públicos (estatutários) ou ainda como militares e semelhantes, atualmente, 54% da População Economicamente ativa. Na Argentina os formalizados são as pessoas que estão registradas, ou em termos gerais quem faz aportes a seguridade social, 60% dos inseridos no mercado de trabalho. A segunda esfera da proteção social está ligada a situações em que o indivíduo perde a capacidade de trabalhar, pelos motivos de risco abordados acima. Os sistemas públicos de previdência social estão desenhados para garantir uma renda em caso de doença, invalidez e para a idade avançada, sobretudo. Nos dados abaixo abordam esta esfera. A terceira esfera 8 abrange as condições no qual o indivíduo é incapacitado de buscar no mercado (de trabalho) seu sustento e se refere à proteção social via politicas assistenciais, um tema retomado um pouco adiante. A Tabela 1 traz duas informações a respeito da primeira e segunda esfera, da formalização do trabalho e da cobertura com previdência social, para o caso do Brasil. A taxa de proteção social varia da taxa de formalização, já que o individuo pode optar contribuir voluntariamente com a previdência. Há uma crescente pressão que os indivíduos obtenham sua segurança social pelo mercado, ou parcialmente pelo mercado, com planos complementares. Tabela 1: Brasil - População Ocupada por Condição de Formalização e Proteção – 2008 Agregado das Unidades da Federação Formalizada Não formalizada TOTAL UF- mediana UF - Máximo UF - Mínimo (a) 0,51 0,46 0,63 0,27 0,49 0,54 0,73 0,37 Condição de Formalização Cobertura de Previdência Social sim não (b) 0,58 0,53 0,72 0,32 0,42 0,47 0,68 0,28 Cobertura /Formalização (b)/(a) 1,14 1,15 1,27 1,08 FONTE: IBGE - PNAD 2008 – apud Kallabis (2011) Dada a importância da renda do trabalho eda renda derivada do trabalho (previdência social) há de se julgar a cobertura da população ocupada muito falha, como mostram os dados da tabela. Na média, metade da população ocupada trabalha de forma ilegal (sem registro em carteira ou semelhante), tendo estados da federação onde este valor fica abaixo de um terço (UF-mínimo. As diferenças regionais são muito marcantes: o Estado com maior índice de formalização chega a 0,63 (de 1), e o com o menor índice, a 0,27. O acesso à cobertura com proteção social é somente levemente superior à taxa de formalização, quer dizer, as rendas não são suficientes para completar a previdência pública com uma previdência privada. Nos Estados com maior cobertura de previdência social, esta alcança 72% da população ocupada, nos piores casos, somente 28%. O padrão é retratado pela mediana: menos da metade da população ocupada tem relações de trabalho formalizadas (46%) e um pouco mais está inserida na previdência social pública ou privada 7. A situação da cobertura de proteção social na Argentinamostra a necessidade de fazer políticas além do mercado de trabalho. A precariedade do trabalho resultante das crises das décadas 1980, 1990 e 2000 deixou grande parte da população com alto grau de vulnerabilidade social. Assim, o sistema contributivo vinculado à formalidade do trabalho não 7 A diferença entre cobertura pública e privada é igual entre a diferença entre formalização e cobertura total. 9 dá conta do total da população. Segundo os dados da Encuesta Permanente de Hogares (EPH) de 2005 que incluiu um modulo de informalidade, 45% dos ocupados eram informais, em outras palavras, não tinham proteção social. Em termos de unidades produtivas 20% eram informais e 8% eram domicílios. Juntando as duas situações de informalidade (ocupados e unidades) tem-se: Tabela 2: Trabajadores ocupados según informalidad del trabajo y de la unidad productiva para el Gran Buenos Aires - 2005 (%) Unidades formales Unidades informales Hogares Sin especificar Total Ocupados formales 52,1 ... 0,3 0,9 53,3 Ocupados informales 13,7 19,9 7,9 3,6 45,1 Sin especificar ... ... ... 1,6 1,6 Total 65,8 19,9 8,2 6,1 100 Fuente: EPH modulo de informalidade, IV trimestre 2005. Tomado de Ministerio de Trabajo Assim, para 2005, 19,9% da população ocupada ou trabalhava sem registro ou em unidade produtiva informal, sendo última a pior das situações. A construção de políticas sociais no Brasil e na Argentina Para entender aimportância das Politicas Sociais deste tema na luta por uma economia solidária faz se mister discutir brevemente o conceito de cidadania.A cidadania, conceito já desenvolvido antes do século XIXé uma espécie de igualdade humana básica, ou desigualdade social legitimada, assegurado por três direitos: o direito civil é necessário à liberdade individual; o direito político refere-se ao direto de participar no exercício do poder politico; e o direito social abrange desde o direito a um mínimo de bem estar econômico e segurança até ao direito de participar, por completo, na ‘herança social’ (Marshall, 1967, pg 62s). Estes direitos, coletivos, cívicos, ordenaram a maneira como os estados lidaram com a situação altamente complexa e conflitiva da consolidação do capitalismo industrial até meados do século XX. Os direitos ligados à cidadania mudaram o papel do Estado na economia e legitimaram a intervenção do Estado no mercado para responder à ‘questão social’ e devem ser analisados em três grandes esferas: o acesso ao estoque de riquezas (patrimônio), ao fluxo de riquezas (renda) e a politicas assistenciais (suficiência de renda), no sentido do direito social de Marshall(saúde, habitação, educação, cultura, ...). Seguindo as ideias deste pensador definemse políticas sociais amplas como poder político para substituir, complementar ou modificar operações do sistema econômico a fim de alcançar resultados aos que este sistema não poderia chegar sozinho. Atribui-se ao Estado a função de corrigir os efeitos nocivos da ‘livre’ 10 ação dos mercados. As Políticas Sociais não prescindem o mercado, ao contrário, seu êxito depende do empenho macroeconômico da nação. A ideia principal é: pelo constrangimento do direito individual, fundamento da economia de mercado,e do fortalecimento do direito coletivo, âncora dos sistemas públicos de proteção social, obtém-se, no longo prazo, resultados melhores para todos, tanto para o coletivo quanto para o indivíduo. Do reconhecimento do status do trabalho originaram-se direitos sociais elaborados ao longo da construção dos Estados de Bem Estar social; a “solidariedade social” se desenvolveu juntamente com as sociedades de mercado e salienta sua crescente complexidade. Como fica visível na Carta Magna Brasileira de 1988, são direito sociais que geram políticas sociais: os direitos à proteção derivam da vulnerabilidade dos vendedores de trabalho no ‘jogo’ do mercado e são direitos coletivos, outorgados ao conjunto das pessoas nesta situação, individualmente acessíveis. Na década de 1930, dizem Sonia Draibe e Aureliano (1989, pg. 171) houve uma metamorfose do Estado brasileiro, guiada por um projeto de modernização da nação baseado na maior intervenção nos rumos da economia nacional e pela proteção social associada ao exercício do trabalho. No entanto,a forma como a proteção social se efetivou não equacionou o grave problema da vulnerabilidade social gerada pela imensa desigualdade econômica e social historicamente existente no Brasil. A discussão é controversa se até meados dos anos 1980 houve ou não a implantação de um Estado de Bem Estar social, ficando os argumentos entre uma recusa por não houver um sistema de proteção social comparável aos dos países europeus e a ponderação, mais elaborada, de que ele seja existente, no entanto fragmentado e seletivo, advogado por Draibe e Aureliano (op.cit.,pg.139). As autoras classificam o sistema gerado ao longo do processo de industrialização como meritocrático - particularista: a posição ocupacional e de renda adquirida no nível da estrutura produtiva constitui a base sob as quais se ergue o sistema brasileiro de política social. Por um lado, até os anos 1980, a metade da população ficou fora do projeto de modernização expresso na construção “cidadania industrial” da Seguridade Social ligada ao trabalho formal, urbano e a pobreza se instalou em patamares absurdos. Mas, por outro lado projeto de industrialização nacional estava construindo a base do desenvolvimento de uma sociedade salarial e houve expressivo crescimento do emprego formal, acima das taxas de crescimento geral da população economicamente ativa. Mas, como na Argentina, a crise dos 11 anos 1980 expôs todas suas fragilidades estruturais e as questões não resolvidas e profundos problemas de emprego e renda. O estancamento econômico e a aguda questão social não só marcaram a ruptura do padrão de desenvolvimento, mas levaram também à ruptura com o padrão político autoritário. Só assim há como entender os anos 1980 tão controversos, no qual Brasil logrou encaminhar um projeto de redemocratização em níveis muito elevados que se materializaria na Constituição de 1988. Uma parte do projeto de redemocratização foi a consolidação do embrionário Estado de Bem estar social, como desenho de uma política redistributiva global, com um conjunto articulado de politicas sociais (reforma agrária, reforma urbana, saúde e previdência, politica trabalhista, educação etc.) e novos esquemas mais progressivos de financiamento. Assim, na Constituição Federal de 1988 uma cidadania substantiva que contemplava as três dimensões (patrimônio, renda e assistência social) começou a se delinear. Mas, a continuidade da crise política nos anos 1990 e a adoção da agenda liberal, transformaram o projeto numa proposta vaga de uma política social compensatória aos efeitos regressivos decorrentes das políticas de ajuste à globalização. No entanto, houve mudanças na institucionalidade brasileira. Como mostra Draibe (1998), um dos elementos novos e inovadores na questão social foi ancorar a assistência social como direitona Constituição de 1988, o direito à cidadania, integrada (como a previdência social e a politica de Saúde) à política de Seguridade Social cujo amadurecimento se completou em 1996/7. Os programas tiveram dificuldades de se efetivar, pela herança estrutural anterior e o profundamente enraizado clientelismo, mas criou se um, ainda, embrionário, esforço governamental de combater a pobreza segundo uma estratégia explicita e adequada. Cumpre ao Estado resolver necessidades vitais dos cidadãos e de suas famílias, dentro de uma concepção (universalista) de um patamar fixado de mínimos sociais. Houve avanços após a Constituição de 1988, mas até 2003, a maioria dos avanços arduamente conquistados no campo social foi sistematicamente contrarrestada pelas politicas e decisões tomadas pela área econômica no governo federal, que ocorreram de maneira bastante contraditória. Por um lado, o Estado brasileiroprocurou atender às legitimas demandas sociais, por outro ele concorreu de varias formas conter os gastos sociais gastos a fim de manter um orçamento equilibrado, capaz de controlar a divida pública (FAGNANI, 2011). Na avaliação de Fagnani (op. cit.) dividem-se as décadas de 1990 e 2000, em respeito às politicas sociais, em três grandes fases. Até os anos de 2002 teria tido extrema tensão entre 12 os defensores de um Estado Mínimo e os da consolidação do projeto desenhado na Constituição de 1988, o do Estado de Bem Estar Social. O novo regime político a partir de 2002, com o primeiro Governo Lula teria, inicialmente, incorporado esta tensão no bojo do seu próprio governo. A retomada do crescimento econômico e a estabilização macroeconômica teriam permitido um fôlego financeiro com o qual fosse possível redirecionar parte do gasto público, para, entre 2006 e 2010, terminar a institucionalização das politicas sociais idealizadas em 1988, em condições macroeconômicas favoráveis a este intento. O projeto de reformas que levaria a redemocratização na segunda metade dos anos 1980 continha três núcleos centrais dos quais os primeiros dois foram ancorados na Carta Magna e o terceiro ganhou força a partir de 2006: 1. restauração do Estado Democrático de Direito, 2. a construção de um sistema de proteção sociale 3. a concepção de uma nova estratégia macroeconômica, direcionada para o crescimento econômico com distribuição de renda (FAGNANI 2012, pg. 28). Hoje, o sistema de proteção amplo do Brasil apresenta as seguintes feições (op. cit. pg. 28 – 39) a) O Sistema Único de Saúde (SUS) se pauta pelosprincípios de universalidade, integralidade, equidade e democracia, representando uma política pública promotora de cidadania. b) A Previdência Social oferece as principais modalidades de benefícios, acordados naConvenção n. 102 da OIT; destacam se a aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por invalidez, aposentadoria especial, auxíliodoença, salário-família, salário-maternidade, pensão por morte, auxílio-reclusão, auxílioacidente, e reabilitação profissional. Além dos benefícios obtidos via contribuição precisam-se destacar os não ligados a contribuição prévia. a. Previdência Rural que “reparou uma das injustiças históricas mais gritantes do sistema brasileiro de proteção social” (op.cit., pg. 32). b. O programa “Benefício de Prestação Continuada” (BPC), uma inovação da Constituição de 1988, que garante um pagamento de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso (mais de 65 anos) com renda mensal familiar per capita inferior à linha de miséria (um quarto do salário mínimo). 13 c. Seguro-Desemprego, instituído em 1986, recebeu uma base financeira sustentável somente em 1988 O alcance da Seguridade Social fica visível com estes dados: ela concedeu em meados de 2011 34,8 milhões de benefícios diretos8;conta se que para cada beneficiário há dois beneficiários indiretos, membros da família. Dessaforma, a Seguridade Social beneficia, então, direta e indiretamente ela é um apoio à metade da população do País. Mais de dois terços desses benefícios valem um salário mínimoe a valorização deste, por questões políticas e pelo desempenho do mercado, levou a uma elevação real nos últimos anos. Quanto a cobertura da Previdência Social no Brasil,ela provê 80% dos idosos com uma aposentadoria. Estima-se, sem a previdência socicial,a pobreza no Brasil atingiria 45% da população (hoje são 20%); e 70% dos idosos (hoje, são 10%) (op. cit., pg. 33) c) A Educação é um campo de destaque em todas as discussões sociais. Desde 2009, a escolaridade obrigatória se estende do 4 aos 17 anos. A educação infantil (crianças 0 a 5 anos de idade)tem hoje uma cobertura de 38% das crianças nesta faixa de idade. O ensino fundamental (crianças de 6 a 14 anos) no país foi universalizado, com uma cobertura de 98%. O desafio é, sobretudo, melhorar a qualidade da educação e elevar o nível geral de escolaridade da população, que atualmente apresenta uma média é de 7,4 anos de estudo. Também a melhora da educação profissional está na pauta governamental, além dos tradicionais programas S (SENAI, SESC, SESI, SENAC)por vários programas. Junta-se a isto os esforços para ampliar as vagas no ensino superior, especialmente pelo Programa de Expansão das Universidades Federais (Reuni) epelo Programa Universidade para Todos (Prouni) d) A Reforma Agrária, um campo de resistências políticas de difícil superação na verdade, não avançou. E transformou-se em mera política de assentamentos rurais, insuficiente também frente à demanda potencial por reforma agrária. e) No campo dasPolíticas Urbanas persistem as deficiências crônicas na infraestrutura urbana e a ausência depolíticas nacionais nesses setores. Um exemplo disso são as existentes ações públicas de habitação popular, inacessíveis 80% das famílias brasileiras estão nessa faixa. Há investimentos urbanos ligados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No entanto, mais uma vez, parte reduzida desses recursos chega asfamílias de baixa renda. 8 PrevidênciaUrbana (16,6 milhões); Previdência Rural (8,4 milhões); Proteção aos idosos pobres e pessoas com deficiência (3,8 milhões); e Seguro-Desemprego (6 milhões). 14 f) Mundialmente conhecidas são as políticas brasileiras de Combate à Pobreza, sobretudo o Programa Bolsa Família. Menos conhecido é que não se trata de simples transferências monetárias, mas de programas que combinam políticas universais e focalizadas de maneira complementar. O Programa Bolsa-Família, política de transferência direta de renda com condicionalidades para as famílias pobres e miseráveis, chegou em 2009 a 12,4 milhões de famílias. Em 2011, este programa foi aperfeiçoado pelo Plano Brasil Sem Miséria, visando atender os brasileiros que vivemem lares cuja renda familiar é de 1/4 de salário mínimo comuma renda monetária e ações articuladas de governo para aumentar as chances dos beneficiadas de ingressar com sucesso no mercado de trabalho e de aumentar sua qualidade de vida e de saúde. Uma parte do programa Brasil sem miséria é voltada à área rural, que articula ações para aumentar o número de agricultores familiares com medidas para garantir o êxito das atividades deles e outras, para aumentar a qualidade de vida nas zonas rurais, comprogramas voltadas ao suprimento de água e energia elétrica, e saúde, por exemplo.Existem também programas de transferência de renda diretamente voltadas a apoiar famílias na zona rural que promovem a conservação ambiental. g) Em 2005 foi reintroduzido medidas de Segurança Alimentar, com destaque, o que pode ser desprendido do fato de o Ministério da Assistência Social passou a ser denominado Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e instituiu-se o Sistema Único da Segurança Alimentar e Nutricional. Seu desenvolvimento institucional está ainda em curso, pois somente em 2010 instalou-se a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. h) Entra as politicas especiais destacam se a. As Políticas para a Juventude ganharam destaque em 2005 quando foi criada a Secretaria Nacional da Juventude, para realizar o Programa Nacional de Inclusãode Jovens voltado para o desenvolvimento integral do jovem brasileiro, b. O apoio às Comunidades Tradicionais, pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos eComunidades Tradicionais, lançada em 2007. i) Entre as políticas sócias houve notáveisprogressos na promoção e proteção dos Direitos Humanos, expressos na criação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) em 1997, elevado a status de ministério em 2003. j) O Sistema Nacional do Emprego (Sine), que articula Políticas Ativas de Emprego e Renda, já foi instituído em 1976, com o objetivo de melhorar o funcionamento do 15 mercado de trabalho, via melhor .intermediação de mão de obra e programas de qualificação profissional. A criação do FAT, 1989, deu a base financeira para a efetivação do Seguro Desemprego e para programas de financiamento a formas alternativas de acesso à emprego e renda pelo microcrédito para empreendedores individuais de baixa renda. Aqui se enquadra, também o programa Economia Solidária em Desenvolvimento. Na avaliação de Fagnani (2012, pg. 39),o sistema de proteção social brasileiro é complexo e muito abrangente e suas bases financeiras, institucionais e de controle social se consolidara e a boa conjuntura econômica desde 2006 ajudou a criar reforços positivos entre o mercado de trabalho e as políticas sociais amplas. Uma importante inovação ocorreu também pela institucionalização de Fóruns democráticos de participação e controle social, previstos já na Constituição de 1988, como instrumentos importantes de participação da sociedade civil organizada em todas as esferas governamentais. Nos anos recentes ampliou-se estes fóruns para a área dos direitos humanos, especialmente para grupos sociais minoritários (por exemplo, de pessoas com orientação sexual diversa ou pessoas com deficiências). “Esses fóruns em conjunto com outras entidades do movimento social, exercem pressão no governo e no parlamento na direção de que se atendam novas demandas sociais e rejeitem-se iniciativas que visem a fazer retroceder conquistas sociais, fruto de lutas políticas históricas” (FAGNANI, 2012, pg. 40), num processo de consolidação da democracia no país. Políticas Sociais na Argentina A história da proteção social na Argentina tem diferentes etapas. Com a crise do sistema agroexportador ao inicios do século XX definiu a necessidade de um sistema de proteção para os trabalhadores nos momentos de crise, mas o sistema de proteção social só foi generalizado depois da década dos 1940 com um sistema institucional que protegia os trabalhadores e criava a seguridade social contributiva. Essa institucionalidade entrou numa profunda crise nas décadas de 1980 e 1990. Com os processos de privatização o conceito individual prevaleceu sobre a possibilidade de acesso a seguridade e previdência social. Mas,devido ao aumento da pobreza e vulnerabilidade de grande parte da população voltou na mesa de discussão o caráter coletivo e universal da seguridade social. Sem embargo, além de existir uma institucionalidade vinculada à proteção social, este conceito ainda não é reconhecido formalmente (CEPAL 2011, pg. 5). 16 A partir da crise dos anos 1980 e das reformas e das privatizações dos anos 1990 e da crise dos 2000, apresenta a Argentina uma deterioração das condições laborais (elevado aumento da informalidade) e da desigualdade. Especialmente na década 1990,a mudança da regulação laboral com o intuito da flexibilização, contribuiu a desmontar a institucionalidade que assegurava a proteção dos trabalhadores (Danani y Lindenboim, 2003 pg. 265) A situação hoje esta mudando pelo projeto de vincular a maioria da população ao sistema de proteção social. Isto se pode medir pelo aumento do gasto social como porcentagem do PIB,que representava no inicio dos 1980 onze por centos do PIB, dez anos depois 20% e em 2000 já é 24% (REPETTO, POTENZA, 2011). A história da proteção social na Argentina tem diferentes etapas, com a crise do sistema agroexportador ao inicios do século XX definiu a necessidade de um sistema de proteção para os trabalhadores nos momentos de crise, mas o sistema de proteção social só foi generalizado depois da década de 1940, com um sistema institucional que protegia aos trabalhadores e criava a seguridade social contributiva. Essa institucionalidade entrou numa profunda crise nas décadas de 1980 e 1990. Com os processos de privatização tentou-se individualizar o acesso à seguridade e previdência social. Mas, devido ao aumento da pobreza e vulnerabilidade de grande parte da população, volta seu caráter coletivo e universal à discussão. Sem embargo, além de existir uma institucionalidade vinculada à proteção social, este conceito ainda não é reconhecido formalmente (REPETTO, POTENZA 2011, pg. 5). A partir da crise dos anos 1980 e das reformas e privatizações dos anos 1990 e da crise dos anos 2000, deterioraram-se na Argentina as condições laborais (aumento elevado da informalidade e da desigualdade). Especialmente nos anos 1990, a mudança da regulação laboral com o intuito da flexibilização, contribuiu para desmontar a institucionalidade que assegurava a proteção dos trabalhadores (Danani y Lindenboim, 2003:265). Hoje, a situação hoje está mudando, pelo projeto de vincular a maioria da população ao sistema de proteção social. Isto se pode medir pelo aumento do gasto social como porcentagem do PIB, que representavano inicio dos anos 1980 onze por centos do PIB, 20% nos anos 1990 e chegou em 2000 já a 24% (REPETTO, POTENZA, 2011). A previdência social é o gasto mais relevante dentro da composição do gasto social do governo nacional, basicamente pelas aposentadorias(aposentadorias e pensiones), e da Asignación Universal por Hijo -AUH- (Renda Universal por Filho). O terceiro maior gasto são as aposentadorias não contributivas. O sistema de proteção social em Argentina é composto por três grandes componentes: 17 o componente contributivo que engloba aposentadorias e pensões; as rendas universais familiais; e o seguro de desemprego.As aposentadorias e pensões cobriram em 2010 (Bertranou 2010, pg. 20-21) três milhões de pessoas na modalidade contributiva tradicional. A estes se agregou 2,4 milhões de argentinos por meio da “moratória da previdência”. Este programa tem por intuito a população afastadas do mercado de trabalho pela precarização e que não tinham contribuição suficiente para receber a aposentadoria. Assim se flexibilizaram os requisitos e os cobriram, em um esquema “semi-contributivo”. Com isto a Argentina tem em 2012 a taxa de cobertura mais alta de aposentadorias na América Latina, com 9 de 10 idosos com algum beneficio (PNUD – CNCPS, 2010). As rendas familiares universais existem desde os anos 1950 e são transferências para famílias com filhos menores de 18 anos, com pais vinculados ao mercado de trabalho formal. No caso de desemprego, o seguro de desemprego cobre uma despesa económica, serviço de saúde, a renda universal familiar e contribuições proporcionais para a aposentadoria. No componente não contributivo se destacam as aposentadorias não contributivas e oprograma a partir do 2009 da AsignaciónUniversdal por Hijo –AUH- (renda familiar universal por filho). As aposentadorias não contributivas estão dirigidas a diferentes grupos de pessoas (em particularmaiores de 70 anos, famílias com mais de sete filhos e pessoas deficientes) que estão em situação de vulnerabilidade social e não tem aportes contributivos. Estas pessoas podem ter acesso a uma aposentadoria e atendimento médico, para eles e seu grupo familiar. A AUH atende os menores de grupos familiais que não tenham amparo de algum regime já instituído para trabalhadores formais. Cobre aos filhos em idade escolar dos trabalhadores desempregados, dos informais e dos em regime tributário simplificado (“monotributistas” ou trabalhadores do Regímen Especial de Seguridade Social para empregados domésticos) com um salario menor ao salário mínimo. Isto inclui também as pessoas deficientes, sem limite de idade. Segundo o Ministério de Trabalho (2009), 51% das famílias cobertas pela AUH com filhos de 0 até 18 anos nunca tinham recebido alguma ajuda social em forma de transferência de renda. Hoje a cobertura é de 86% (PNUD-CNCPS, 2010). Em total, as crianças beneficiadas pela AUH somam 8,7% da população total do país. Aproximadamente 79% das crianças e dos adolescentes que recebem AUH são do grupo das famílias com as mais baixas rendas domiciliares per capitae 60% são pobres(Bertranou, 2010). Este programa tem tido um impacto positivo na redução da indigência em crianças e adolescentes(REPETTO, 18 POTENZA, 2011, pag. 28) A seguridade social é o gasto mais relevante dentro da composição do gasto social do governo nacional, basicamente pelas aposentadorias(aposentadorias e pensiones). Em segundo lugar vem a AUH- (Renda Mínima Universal por Filho) e, finalmente,o terceiro maior gasto é com aposentadorias não contributivas. O sistema de proteção social na Argentina está composto por três grandes componentes: pelo componentecontributivo (aposentadorias e pensões), pela renda mínima universal para as familiais e pelo seguro desemprego.As aposentadorias e pensões cobriram, em 2010 (Bertranou 2010, pg20-21) três milhões de pessoas na modalidade contributiva tradicional. Agregaram-se 2,4 milhões de pessoas por meio da “moratória da previdência”. Este programa inclui a população afastadas do mercado de trabalho pela precarização e que não tinha contribuído o suficiente para receber a aposentadoria. Flexibilizaram-se os requisitos e cobriu-se este grupo, em um esquema “semi-contributivo”. Com isto segundo a, Argentina apresenta em 2012 a taxa de cobertura mais alta comaposentadorias na América Latina, com 9 de 10 idosos com algum beneficio(PNUD – CNCPS, 2010) . As rendas familiares mínimas existem desde os anos 1950 e são aquelas transferênciaspara filhos menores de 18 anos de pais vinculados ao mercado de trabalho formal.Ao fim, o seguro de desemprego cobre uma despesa económica, serviço de saúde, rendas familiares mínimas e parcelas proporcionais para a aposentadoria para quem ficar desempregados. No componente não contributivo se destacam as aposentadorias não contributivas e o programa, a partir do 2009, da AsignaciónUniversdal por Hijo –AUH. As aposentadorias não contributiva são dirigidas a diferentes grupos de pessoas (em particularmaiores de 70 anos, famílias com mais de sete filhos e pessoas deficientes) que estão em situação de vulnerabilidade social e não tem aportes contributivos. Estas pessoas podem ter acesso a uma aposentadoria e atendimento médico para eles e seu grupo familiar. A AUH atende os menores de grupos familiais sem amparo algum e cobre gastos comfilhos em idade escolar de trabalhadores desempregados, informais ou empregados domésticos com salario inferior ao salário mínimo vigente, bem como pessoas deficientes, estes sem limite de idade. Conclusão Este artigo focou na questão como tornar a economia como um todo mais solidária. Constatou-se que a economia capitalistacumpre de maneira muito falha com sua função de 19 produzir e distribuir os bens e serviços necessários à sobrevivência e vivência da sociedade, em vista dos elevados contingentes de pessoas privados de uma renda suficiente e da proteção social. Como em sociedades capitalistas o acesso a uma renda monetária é imperativa para viver e este acesso ocorre, para os não detentores de propriedade-capital, em primeiro lugar pelo mercado de trabalho, analisaram-se rapidamente os dados referentes à renda gerada neste mercado. No entanto, o risco de não poder auferir esta renda ou não em magnitude suficiente é igualmente inerente às sociedades capitalistas. A maneira como a sociedade lida com este risco é, de longe, a principal variável para averiguar o grau de sua solidariedade. Há três vias para isto: a regulação do acesso à propriedade e ao trabalho, e a terceira, a cobertura em situações quando as primeiras vias são inacessíveis pelos indivíduos. As políticas sociais no sentido amplo abarcam todas as três vias, sendo as primeiras duas reguladoras dos mercados. A terceira via, também conhecida como políticas assistenciais, amplia as políticas sociais para além mercado, em solidariedade com aqueles excluídos pelo próprio mercado. Neste quadro discutiram-se os sistemas de proteção social no Brasil e na Argentina, com atenção para as modificações nos anos recentes. Aqui se percebeu com clareza como o processo de tornar a economia mais social, mais solidária, o que realmente ocorreu na última década nos dois países, é fruto de uma longa luta histórica, num intenso campo de conflitos de interesses, vivido na arena da dinâmica capitalista, baseada na acumulação de capital, e não de bem-estar social. Para que a economia seja solidária no sentido de produzir condições descentes de vida para a população,ela há de ser norteada para este fim, pela ação decidida do Estado, ele mesmo orientado por valores coletivos e solidários. No Brasil e na Argentina, esta situação social, após décadas de deterioração, melhorou significativamente no último quartil da década passada, porque estes países souberam aproveitar a boa conjuntura econômica para este fim, adotando políticas sociais significativas.Mostrou-se na última parte do artigo o que foi feito, com institucionalidades e programas bem diversos nos dois países, no entanto, com resultados semelhantes. Mas, ainda há elevados contingentes de argentinos e brasileiros sem acesso à renda suficiente e vivendo em condições de vulnerabilidade social pela falta de formalização no mercado de trabalho (que dá acesso à previdência social) e pela falta de programas assistenciais. Os programas de politicas assistenciais recentes, tanto do Brasil quanto da Argentina, datam dos últimos anos da década passada e precisa-se ver seus efeitos e sua permanência agora, que a crise financeira internacional alcançou também estes países. Pela magnitude é impossível que empreendimentos solidários – como a economia solidária é comumente conhecida – absorvam todas estas populações. Os números são impressionantes 20 daqueles que precisam da solidariedade sistêmica, coletiva. Só dois exemplos, na Argentina, as crianças beneficiadas pela AHU somam quase nove por centos da população. E no Brasil vivem ainda 20% da população abaixo da linha da pobreza. Mas nem por isso desvalidam se os esforços dos empreendimentos solidários. Imediatamente, eles criam alternativas de sustento e trabalho em um sistema excludente. E, num sentido mais amplo, organizar unidades produtivas em moldes solidários significa construir alternativas a este sistema, tentar treinar o aparentemente impossível, criam-se experiências que transcendem o hoje. O papel dos movimentos sociais é lutar por políticas sociais, humanizar um sistema econômico desumano e inventar o novo. Para isto o presente artigo procurou contribuir. Referências Bibliográficas BERTRANPU, F. (coord.) (2010) Aportes para laconstrucción de un piso de protección social en Argentina: El caso de lasasignaciones familiares. Buenos Aires: Oficina de la OIT DANANI, C.; LINDEMBOIN, J. (2003) Trabajo, política y políticas sociales en los 90: ¿hay algo de particular en el caso argentino? IN: DANANI, C.; LINDEMBOIN, J (comps.) Entre el trabajo y la política. 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