1 UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Tatiane Figueiredo de Morais Papini VARIAÇÕES NA NUCLEOTIDASES TEMPERATURA E SUAS E AÇÕES CONSEQUÊNCIAS DE INIBIDORES DE NA HIDRÓLISE DE NUCLEOTÍDEOS POR PROMASTIGOTAS Leishmania infantum chagasi. Governador Valadares 2011 2 TATIANE FIGUEIREDO DE MORAIS PAPINI VARIAÇÕES NA NUCLEOTIDASES TEMPERATURA E SUAS E AÇÕES CONSEQUÊNCIAS DE INIBIDORES DE NA HIDRÓLISE DE NUCLEOTÍDEOS POR PROMASTIGOTAS Leishmania infantum chagasi Dissertação Programa de de mestrado apresentada Pós-Graduação em ao Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Saúde da Univale, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas. Área de Concentração: Imunopatologia das doenças infectocontagiosas. Linha de Pesquisa: Protozoologia de Parasitos. Orientadora: Drª. Gulnara Patrícia Borja Cabrera Co-orientador: Dr. Luís Carlos Crocco Afonso Co-orientador: Dr. Eduardo de Almeida Marques-da-Silva Governador Valadares 2011 3 Ficha catalográfica elaborada pela “Biblioteca Dr. Geraldo Vianna Cruz” UNIVALE Papini, Tatiane Figueiredo de Morais Variações na temperatura e ações de inibidores de nucleotidases e suas conseqüências na hidrólise de nucleotídeos por promastigotas Leishmania infantum chagasi / Tatiane Figueiredo de Morais Papini. -- 2011. 53 f. Dissertação (mestrado) -- Universidade Vale do Rio Doce, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Biológicas, Governador Valadares, MG, 2011. Orientadora: Gulnara Patrícia Borja Cabrera 1. Leishmaniose. 2. Epidemiologia. 3. Ectonucleotidases. I. Borja-Cabrera, Gulnara Patrícia. II. Universidade Vale do Rio Doce. III. Título. CDD 614.534 4 TATIANE FIGUEIREDO DE MORAIS PAPINI VARIAÇÕES NA NUCLEOTIDASES TEMPERATURA E SUAS E AÇÕES CONSEQUÊNCIAS DE INIBIDORES DE NA HIDRÓLISE DE NUCLEOTÍDEOS POR PROMASTIGOTAS Leishmania infantum chagasi Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Saúde da Univale, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas. Área Imunopatologia infectocontagiosas. de Concentração: das doenças Linha de Protozoologia de Parasitos. Governador Valadares, ___ de ____________ de _____. Banca Examinadora: ______________________________________________________ Nilton Barnabé Rodrigues __________________________________________ Ricardo Gonçalves _______________________________________ Orientadora: Drª: Gulnara Patrícia Borja Cabrera _________________________________________ Co-orientador: Dr. Luis Carlos Crocco Afonso Pesquisa: 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por não ter me deixado desistir perante as dificuldades encontradas no caminho. Agradeço a minha linda família, meu filhote Davi, meu esposo Helinho, que compreenderam minha ausência. A minha mãe que abriu mão de sua vida para que eu pudesse terminar a pesquisa, e ao meu irmão, pelo apoio. Agradeço a Marlucy, pelo apoio, dedicação e companhia nesta difícil batalha, pois sem ela, seria impossível vencê-la; a professora Lucinha, por ter acreditado no meu trabalho, já que para muitos, ele já estava perdido; ao Eduardo, que mostrou que eu estava no caminho certo; ao Luis, pelos seus conhecimentos, e pela disponibilidade. À querida Gulnara, agradeço pela orientação, amizade, que mesmo naqueles momentos difíceis, estampa no rosto um lindo sorriso, mostrando que a minha dificuldade em executar o trabalho, não é nada frente aos outros problemas da vida. Aos técnicos do laboratório de Imunologia da Univale, Lilia, Wallace e Fátima, pela ajuda técnica e, principalmente, pelas palavras de apoio. Aos alunos de Iniciação Científica do Nupeb, da Universidade Federal de Ouro Preto, que foram decisivos na etapa inicial da minha aprendizagem. E por último, mas não menos importante, à minha amiga Vanessa, companheira de estrada, de república, e principalmente, por estar do meu lado, não me deixando fraquejar, quando minha vontade era dizer o que muitos queriam escutar: eu desisto! 6 RESUMO Parasitos do gênero Leishmania possuem na sua superfície enzimas denominadas ectonucleotidases que são importantes para o metabolismo de nucleotídeos purínicos e pirimidínicos. Nesta família de enzimas destaca-se a NTPDase, importante para a hidrólise do ATP a ADP e deste a AMP e a 5’-nucleotidase responsável pela etapa final da degradação do ATP, ou seja, a formação adenosina. Estas enzimas são prováveis fatores de virulência destes parasitos já que com a hidrólise do ATP, e conseqüente formação da adenosina, ocorre modulação da reposta inflamatória. Além do mais, Leishmania não realiza a síntese de novo de purinas, necessitando captá-la do meio extracelular. Visto isto, o presente trabalho teve como objetivo determinar a atividade enzimática em Leishmania infantum chagasi nas temperaturas de 30ºC ou 34ºC e sob influência da suramina e/ou molibdato de amônio, sendo o primeiro inibidor da NTPDase, e o segundo, da 5’nucleotidase e fosfatoases ácidas. A determinação da atividade enzimática foi mensurada pela dosagem de fosfato inorgânico liberado. Os resultados obtidos mostraram que a hidrólise do ATP, ADP ou AMP foi maior na temperatura de 34ºC e que a cepa do parasito utilizada, hidrolisa, preferencialmente, o ADP. A suramina não foi capaz de inibir a hidrólise de ATP em ambas as temperaturas. Já o molibdato de amônio inibiu a hidrólise do ADP e AMP na temperatura de 30ºC e apenas do AMP na temperatura de 34ºC. Estes dados sugerem que em L.infantum chagasi a apirase, possívelmente, é uma isoforma diferente das encontradas em outras espécies ou que a hidrólise de nucleotídeos seja devido a fosfatases ácidas. Palavras-chave: Fatores de virulência. Ectonucleotidases 7 ABSTRACT Parasites of the genus Leishmania have on their surface enzymes called ectonucleotidases that are important for the metabolism of purine nucleotides and pyrimidine. In this family of enzymes there is the NTPDase, important for the hydrolysis of ATP and ADP of AMP and 5'-nucleotidase responsible for the final stage of degradation of ATP, or adenosine formation. These enzymes are probable virulence factors such as parasites with the ATP hydrolysis, and consequently the formation of adenosine is the modulation of inflammatory response. Moreover, Leishmania doesn’t perform de novo synthesis of purines, needing to capture it from the extracellular medium. Given this, the present study aimed to determine the enzyme in Leishmania infantum chagasi in temperatures of 30ºC or 34°C and under the influence of suramin and/ or ammonium molybdate, the first inhibitor of NTPDase, and second, the 5'-nucleotidase fosfatoases and acidic. The determination of enzyme activity was measured by measuring inorganic phosphate released. The results showed that the hydrolysis of ATP, ADP or AMP was higher at 34°C and the parasite strain used, hydrolyzes, preferably, the ADP. The suramin was not able to inhibit ATP hydrolysis at both temperatures. Since the ammonium molybdate inhibited the hydrolysis of ADP and AMP at 30ºC and only AMP in 34°C. These data suggest that in the apyrase L.infantum chagasi, arguably, is an isoform different from those found in other species or that nucleotide hydrolysis is due to acid phosphatase. Keywords: Virulence factors. Ectonucleotidases 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Ciclo Biológico da Leishmania infantum chagasi ...................................13 Figura 2- Topografia de membrana e propriedades catalíticas dos membros da Família das E-NTPDases .......................................................................18 Figura 3- Modelo molecular da 5’-nucleotidase e seus derivados solúveis..........19 Figura 4- Metabolismo dos nucleotídeos purínicos e pirimidínicos pelas Ectoenzimas ...........................................................................................20 Figura 5- Modelo topológico de receptores de vias de sinalização purinérgica ................................................................................................................22 Figura 6- Família de receptores P2X e P2Y com as respectivas vias de sinalização...............................................................................................22 Figura 7- Medida da atividade ectonucleotidásica da cepa M2682 de L. infantum chagasi realizada com promastigotas totais na temperatura de 30ºC ou 34ºC .......................................................................................................32 Figura 8- Relação entre a hidrólise de nucleotídeos tri, difosfatados em L. infantum chagasi ...................................................................................................33 Figura 9- Efeito da suramina na atividade enzimática de promastigotas totais de L. infantum chagasi na temperatura de 30ºC.........................................34 Figura 10- Efeito da suramina na atividade enzimática de promastigotas totais de L. infantum chagasi na temperatura de 34ºC .............................................34 Figura 11- Efeito da suramina na atividade enzimática de promastigotas totais de L. amazonensis cepa PH8 na temperatura de 30ºC .................................35 Figura 12- Efeito da suramina na atividade enzimática de promastigotas totais de L. amazonensis cepa PH8 na temperatura de 34ºC ..................................35 Figura 13- Efeito do bloqueio da 5’- nucleotidase na atividade enzimática de promastigotas totais de L. infantum chagasi a 30ºC.............................36 Figura 14- Efeito do bloqueio da 5’- nucleotidase na atividade enzimática de promastigotas totais de L. infantum chagasi a 34ºC...............................37 9 LISTA DE SIGLAS AMP- Monofosfato de adenosina A AMPc- AMP cíclico Ado- Adenosina ADP- Difosfato de adenosina ATP- Trifosfato de adenosina CD39- E-NTPDase CD73- 5’-nucleotidase DCs- Células dendríticas iNOS- Óxido nítrico sintase induzida NO- Óxido nítrico TCD4+- Linfócitos T que expressam a molécula CD4+ TCD8+- Linfócitos T que expressam a molécula CD8+ TNF-α- Fator de Necrose Tumoral Treg- Células t reguladoras 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11 2 REVISÃO LITERÁRIA............................................................................................13 3 OBJETIVOS ...........................................................................................................28 3.1OBJETIVO GERAL................................................................................................28 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................28 4 JUSTIFICATIVA......................................................................................................29 5 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................30 5.1 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL....................................................................30 5.1.1 Ensaio de atividade enzimática.....................................................................30 5.2 PREPARO DO PARASITO..................................................................................31 5.3 ENSAIO DE ATIVIDADE ENZIMÁTICA...............................................................31 5.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA......................................................................................32 6 RESULTADOS.......................................................................................................33 7 DISCUSSÃO...........................................................................................................39 8 CONCLUSÃO.........................................................................................................45 REFERÊNCIAS..........................................................................................................46 11 1 INTRODUÇÃO As leishmanioses são doenças que acometem milhares de pessoas no mundo, principalmente em países em desenvolvimento. Essas doenças apresentamse sob diversas formas clínicas, sendo a Leishmaniose visceral (LV), a forma mais grave, devido à elevada morbidade e mortalidade (AWASTHI et al., 2004). Entender a interação parasito/hospedeiro é de grande relevância, pois a compreensão dos mecanismos envolvidos pode estimular o desenvolvimento de novas drogas para o tratamento da doença, ou então prevenir, com o uso de vacinas. Os parasitos, para conseguirem escapar das defesas do hospedeiro, e consequentemente, sobreviverem, desenvolveram mecanismos de defesa que, muitas vezes, estão relacionados com moléculas presentes na superfície do parasito. Dentre essas moléculas, pode-se citar o lipofosglicano (LPG) e glicoproteína (gp63) (RITTIG; BOGDAN, 2000), que induzem a fagocitose e a sobrevivência das amastigotas no interior dos fagócitos (MOSSER et al.,1992). Outras moléculas que podem estar envolvidas na infecciosidade dos parasitos são as ectonucleotidases (MEYER-FERNANDES, 2002), uma família de enzimas responsáveis pela hidrólise de nucleotídeos purínicos e pirimidínicos (ZIMERMANN, 2002). Essas enzimas, ao agirem em nucleotídeos tri-, di- e monofosfatados, com diferentes afinidades, aumentam a concentração de adenosina (Ado) no meio extracelular, que exerce importante ação imunomoduladora, que é fundamental para a sobrevivência do parasito (BOURS, 2006). Protozoários como Toxoplasma gondii (BERMUDES et al., 1994), Trichomonas foetus (JESUS et al., 2002), Leishmania tropica (MEYER-FERNANDES et al., 1997) e Leishmania amazonensis (BERRÊDO-PINHO et al., 2001) possuem, na sua superfície, as ectoenzimas. Alguns membros da família das ectonucleotidases podem ser inibidos por substancias como a suramina, um bloqueador das E-ATPases, pertencentes à família das ectoenzimas e importantes para a hidrólise de ATP e ADP (BERREDO-PINHO e cols., 2001; LAMBRECHET, 2000) ou molibdato de amônio, um potente inibidor de ecto-5’-nucleotidase que age 12 em nucleotídeos monofosfatados 5’purínicos e pirimidínicos (DUTRA et al., 2000), e importantes para a etapa final da hidrólise de ATP, com formação de adenosina, que além da ação moduladora já referida, é importante para a Leishmania, já que ela não realiza a “síntese de novo de purinas” (GHOSH , MUKHERJEE, 2000; MARR et al., 1978) Perez-Sampaio et al., (2008) verificaram que a atividade ectonucleotidásica, de L. amazonensis, eleva-se com o aumento da expressão de proteínas denominadas Proteínas do Choque Térmico (Hsps), cuja atividade aumenta com a elevação da temperatura. Esta associação, ao que tudo indica, é benéfica para o parasito, já que as Hsps possuem propriedades imunomoduladoras (BORGES et al., 2010). Portanto, investigar os mecanismos de interação dos parasitos com os seus hospedeiros é de grande relevância para se desenvolverem alternativas terapêuticas para prevenir ou controlar a infecção. Como existem poucos estudos relacionados à atividade ectonucleotidásica em promastigotas de Leishmania infantum chagasi, o presente trabalho teve como objetivo verificar a ação da temperatura sobre a atividade dessas enzimas. Para tanto, foram utilizadas as temperaturas de 30°C ou 34°C, já que, durante o ciclo biológico, o protozoário sofre um choque térmico passando de uma temperatura mais baixa, cerca de 22°C, no invertebrado, a 35°C, no mamífero (ZILBERSTEIN & SHAPIRA, 1994). 13 2 REVISÃO LITERÁRIA As leishmanioses são um conjunto de doenças que afetam milhares de pessoas em todo mundo, principalmente em países subdesenvolvidos (SILVA et al., 2005). Tais doenças podem ser clinicamente divididas em leishmaniose cutânea, cutaneomucosa e visceral (kala azar), sendo que as manifestações variam de acordo com as características do hospedeiro e da espécie envolvida (AWASTHI et al., 2004 ; SAHA et al., 2006). O perfil epidemiológico das leishmanioses tem alterado nos últimos anos, pois esta zoonose tem acometido pessoas de áreas urbanas, que eram infectadas apenas quando penetravam em florestas, o que caracteriza um estado de urbanização das diferentes formas das doenças. Por outro lado, a maior incidência de casos graves, nas últimas décadas, pode ser explicada pelo fato das leishmanioses serem consideradas doenças oportunistas em indivíduos infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). No Brasil, a Leishmaniose Visceral (LV), considerada a forma mais grave da doença, atinge 19 estados, sendo a região nordeste a de maior incidência, mas as outras regiões (norte, centro-oeste e sudeste) também apresentam casos (BRASIL, 2002). A Leishmania donovani e a Leishmania infantum chagasi são agentes etiológicos da leishmaniose visceral, no Velho e no Novo Mundo, respectivamente (THALHOFER et al., 2010). Estes parasitos apresentam, no seu ciclo de vida, dois hospedeiros: o vetor, fêmea do inseto hematófago Lutzomyia longipalpis (Novo Mundo) e Phlebotomus (Velho Mundo), e os mamíferos, incluindo o homem (COURRET et al., 2002). Estes parasitos, unicelulares, pertencem à ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae e ao gênero Leishmania (RIBEIRO-DEJESUS et al.,1998; SAHA et al., 2006). Morfologicamente, a L. infantum chagasi pode ser classificada como forma promastigota flagelada, presente no trato gastrintestinal do inseto hematófago (vetor) e a forma amastigota, imóvel, que vive dentro dos fagolisossomos presentes no interior dos macrófagos dos hospedeiros mamíferos, onde vive e se multiplica, já que consegue resistir ao baixo pH (entre 4,5 e 6) presente no interior de tal estrutura (ANTOINE et al., 1990). 14 O vetor, durante o repasto sanguíneo (Figura 1), dilacera a pele do mamífero levando à formação de uma poça de sangue. Se o hospedeiro vertebrado estiver infectado com Leishmania, ocorrerá ingestão de formas amastigotas pelo vetor, dando início ao ciclo de vida destes parasitos. No intestino do inseto, as amastigotas transformam-se em formas alongadas, com mobilidade, denominadas promastigotas, que se multiplicam por fissão binária. No interior do hospedeiro invertebrado, as formas promastigotas procíclicas (não infectantes) se diferenciam em promastigotas metacíclicas (formas infectantes), que se localizam na porção anterior do intestino, onde ficam até serem regurgitadas pelo inseto durante nova tentativa de alimentação. Em um segundo repasto sanguíneo do vetor, este deposita os parasitos na poça de sangue, dando início à infecção no mamífero, que começa na pele e se dissemina pelo organismo por um mecanismo, até o momento, desconhecido. Os parasitos são inicialmente fagocitados por neutrófilos no sítio da inoculação (THALHOFER et al., 2010) e posteriormente fagocitados por macrófagos. No interior dos fagócitos, as formas promastigotas são convertidas em amastigotas, onde se reproduzem. Os macrófagos, repletos de amastigotas, podem se romper, liberando os parasitos que podem infectar novas células, principalmente os fagócitos presentes no baço, fígado e medula óssea e/ou serem capturadas pelo vetor, quando este for se alimentar novamente, dando continuidade ao ciclo de vida do parasito (AWASTHI et al., 2004; RITTIG; BOGDAN, 2006; SAHA et al., 2006). Figura 1: Ciclo Biológico da leishmaniose (SACKS & NOBEN-TRAUTH, 2002) 15 Na leishmaniose visceral, o período de incubação pode variar de dez dias a um ano, sendo que a infecção pode ser assintomática ou não. Inicialmente ocorre febre baixa e mal-estar e, independente da forma clínica, ocorre hiperplasia do sistema fagocítico mononuclear de órgãos acometidos como fígado, baço, intestino, medula óssea devido ao acúmulo de fagócitos mononucleares, linfócitos e células plasmáticas. A hematopoiese, inicialmente é normal, mas com o passar do tempo, ela se torna reduzida, causando granulocitopenia e anemia; ocorre também, diminuição da protrombina produzida pelo fígado, e esta, juntamente com a trombocitopenia, pode gerar quadros graves de hemorragia. Além do mais, pode ocorrer edema decorrente da hipoalbuminemia, diarréia devido ao aumento do parasitismo intestinal ou enterite (MALLA & MAHAJAN, 2006). Portanto, caso não receba tratamento adequado e em tempo hábil, o paciente pode vir a óbito decorrente da própria doença ou por infecções como pneumonia, tuberculose que são favorecidas pelo quadro imunodeprimido do indivíduo (BRASIL, 2006). Alguns indivíduos, especialmente aqueles infectados com L. donovani, apresentam leishmaniose dérmica pós-calazar (LPDK) após tratamento para leishmaniose visceral. Esta manifestação pode ocorrer de 6 meses a 5 anos após cura clínica do calazar, e caracteriza-se por aparecimento de lesões com áreas hipopigmentadas, pápulas ou nódulos principalmente na face, troncos e membros (AWASTHI et al., 2004; MALLA & MAHAJAN, 2006). Em relação ao tratamento da leishmaniose visceral, este pode ser dividido em tratamento específico e de suporte. O primeiro refere-se ao uso de fármacos como antimoniais pentavalentes (Sb5+), com comprovada eficácia terapêutica e fármaco de primeira escolha na maioria dos países. Porém, estes fármacos são responsáveis por graves reações adversas como artralgias, mialgias, dor abdominal, arritmias cardíacas graves, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade e pancreatite. Outro fármaco utilizado é a anfotericina B, considerado o melhor fármaco leishmanicida disponível na atualidade. Seu uso é indicado aos pacientes que não respondem ao tratamento convencional ou que apresentam alguma contra-indicação ao uso dos antimoniais, além de ser o único fármaco que pode ser usado pelas gestantes. A anfotericina B apresenta-se na forma de desoxicolato de anfotericina B e anfotericina B lipossomal, cuja vantagem da última em relação à primeira, deve-se a menor toxicidade. A anfotericina B lipossomal é o fármaco de primeira escolha em pacientes com 16 leishmaniose visceral grave (idade inferior a 6 meses de idade ou maior que 65 anos, desnutrição grave, co-morbidades como infecções bacterianas, icterícia, edema generalizado e sinais de toxemia como letargia, cianose, taquicardia ou bradicardia, hipoventilação ou hiperventilação e alterações hemodinâmicas). Já o tratamento de suporte, deve ser utilizado nos pacientes mais graves e hospitalizados, o qual inclui medidas de hidratação, dieta, antitérmicos, suporte hemoterápicos (concentrado de hemácias, plaquetas e plasma fresco congelado e antimicrobianos, se necessário (BRASIL, 2006). Compreender a interação parasita/ hospedeiro é de extrema importância na leishmaniose, já que essa influencia as manifestações clínicas e o controle da doença. Em camundongos C57BL/6, infectados com Leishmania major, observou-se que os camundongos são resistentes e que tal característica deve-se à indução de resposta imunológica do tipo Th1, com produção de citocinas como a interleucina 2 (IL-2), fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) e IFN-γ, que levam a eliminação do parasito, principalmente pelo aumento da produção do óxido nítrico e de radicais de oxigênio (ROS) pelos fagócitos. Em contrapartida, camundongos BALB/c são suscetíveis a infecção por L. major, já que desenvolvem uma resposta precoce do tipo Th2 com produção de interlerleucina-4 (IL-4) e interleucina-10 (IL-10) (AWASTHI et al., 2004; SACKS; NOBEN-TRAUTH, 2002). Porém, esta distinção clara, no perfil imunológico, não está bem definida em humanos, pois segundo Castelhano et al., (2009), em indivíduos com infecção ativa na leishmaniose cutânea, há uma mistura de resposta Th1/Th2 com produção de citocinas como TNF-α, IFN-γ, IL-4 e IL-10 e em indivíduos curados, altos níveis de IFN-γ, sugerindo, assim, que este predomínio de resposta Th1 é importante para o controle da infecção e cura das lesões, enquanto a presença concomitante de citocinas IL-4 e IL-10 é importante para a sobrevivência do parasita e persistência da lesão. Em infecções por L. infantum chagasi não existe uma distinção entre resposta Th1/Th2, ou seja, há uma mistura das duas. Em indivíduos com a doença ativa, observa-se que há uma redução na resposta Th1, com diminuição dos níveis de IFN-γ. Portanto, a diminuição da resposta imune celular está diretamente relacionada com a suscetibilidade à infecção e a progressão da imunopatologia da leishmaniose visceral. Tal redução deve-se a ação moduladora de IL-10, que provavelmente inibe a produção de IL-12, produzida por macrófagos e células dendríticas. Além do mais, linfócitos Th2 produzem citocinas, como a IL-4, que 17 inibem a ação dos macrófagos e a produção de óxido nítrico (substância microbicida) e ainda estimulam linfócitos B policlonais. Já na doença estabelecida, ocorre um quadro de anergia, que pode ser explicado pela deficiência na apresentação de antígenos aos linfócitos T, indução de IL-10 e IL-4 (MALLA & MAHAJAN, 2006). A IL-12, ao contrário da IL-10, é importante para a produção de IFN- γ por linfócitos T e células Natural Killer (NK). Em murinos, observou-se que o aumento da IL-12 é um importante indutor de resposta Th1, consequentemente, de IFN- γ. Esta citocina estimula a resposta imune inata e adaptativa potencializando as ações microbicidas dos macrófagos ativados, além de estar envolvida na produção de TNF-α e interleucina 1 (IL-1), que são importantes em infecções microbianas. Em indivíduos curados, ao contrário dos indivíduos doentes com LV, observou-se a produção de IL-12, reforçando a idéia de que a proteção do indivíduo está relacionada com a resposta Th1. Portanto, IL-10 e IL-12 desempenham importante papel na modulação da resposta Th1/Th2 (SAHA, 2006). Além das ações das células Th1, Pitta et al., (2009) demonstraram que, em indivíduos resistentes à infecção por L. donovani, há aumento da expressão das interleucinas IL-17 (IL-17) e IL-22, quando comparados com indivíduos que desenvolveram a doença. Essas citocinas são produzidas por células mononucleares do sangue periférico. A IL-17, uma citocina pró-inflamatória, produzida principalmente por células Th17, um subtipo de células TCD4+ e NK, estimula células epiteliais e monócitos a produzirem citocinas como IL-6 e TNF. Já a IL-22, produzida por células Th17, e, em menor quantidade por células Th1 e NK, está envolvida na imunidade do epitélio e mucosas. Acredita-se que citocinas como IL-6, IL-23, e IL-1β, produzidas durante a infecção por L. donovani, possam ser importantes para a indução de células Th17. Ambas citocinas, IL-17 e IL-22, aumentam a proteção da barreira epitelial e o recrutamento de células inflamatórias, aumentando o efeito da imunidade inata e o recrutamento das células Th1 para o tecido, o que é importante para a atividade microbicida dos macrófagos devido à produção de IFN-γ. Portanto, células Th17 e Th1 possuem propriedades complementares na proteção de indivíduos com leishmaniose visceral (PANZER et al., 2006). Em relação à suscetibilidade a infecção, estudos têm mostrado que a ação de citocinas imunossupressoras, como a IL-10, é benéfica para a sobrevivência do 18 parasito e para a evolução da doença, pois inibem a atividade microbicida de macrófagos dependentes de IFN-γ (RIBEIRO-DE-JESUS, 1998; SAHA et al., 2006). Além das ações inibitórias da IL-10, pode-se citar a participação das células T reguladoras (TReg), um subtipo de células TCD4+, que constitui cerca de 5 a 10% de células T presentes no sangue periférico, as quais pode exercer sua ação inibidora pelo contato celular ou pela liberação de citocinas como IL-10 e TGF-β (SAHA et al., 2006). Como foi dito anteriormente, a L. infantum chagasi, assim como outras espécies do gênero Leishmania, infectam macrófagos de mamíferos onde conseguem viver e se multiplicar. Esta interação parasito/hospedeiro é mediada por componentes presentes na membrana do parasito, denominados fatores de virulência, que contribuem para o sucesso da infecção, tais como lipofosglicano (LPG) e glicoproteína gp63 (RITTIG; BOGDAN, 2000), que induzem a fagocitose e a sobrevivência das amastigotas, no interior dos fagócitos (MOSSER et al.,1992). O LPG é um lipofosfoglicano ancorado na membrana plasmática por uma âncora de glicosil-fosfatidil-inositol, cuja estrutura é constituída por dissacarídeos fosfatados [Gal(β1,4)Man(α1-PO4→6). Esta molécula pode ser encontrada nas formas promastigotas e amastigotas de Leishmania, porém, sua concentração é maior nas primeiras, sugerindo importante papel do LPG no estabelecimento da infecção, ou seja, durante a conversão de promastigotas em amastigotas no interior dos fagócitos (DESJARDINS & DESCOTEAUX, 1997). No hospedeiro invertebrado, ela é importante para a conversão de formas promastigotas procíclicas (não infectivas) em promastigotas metacíclicas (forma infectante). O LPG e a glicoproteína gp63, uma metaloproteína presente tanto na superfície de promastigotas quanto de amastigotas, em proporções semelhantes, podem interagir com receptores de açúcares presentes na superfície de macrófagos, assim como receptores do complemento CR1 e CR3, através das respectivas opsoninas C3b e C3bi facilitando a fagocitose e o aumento da sobrevida das amastigotas. Além do mais, o LPG de formas promastigotas metacíclicas protege o parasito da ação do complemento por impedirem a formação do complexo de ataque a membrana (MAC). Ambos, o LPG e gp63, agem diminuindo a síntese de óxido nítrico (NO) por inibir a transcrição da enzima óxido nítrico sintase induzida (iNOS), uma enzima presente em macrófagos, neutrófilos, fibroblastos, e assim, regulando a ação “leishmanicida dos macrófagos”. O LPG inibe, também, a expressão de IL-12, que é 19 a principal citocina responsável pela indução da resposta Th1, com elevada produção de IFN-γ (LIEW et al., 1997) e age impedindo a fusão do fagossomo com o endossomo, protegendo, assim, o parasito das ações de enzimas hidrolíticas (DESJARDINS & DESCOTEAUX, 1997). Outras substâncias, que parecem estar envolvidas na infecciosidade do parasito, são as ectonucleotidases, enzimas presentes na superfície da célula. Esta família de enzimas é constituída pelas ATPase e a ADPase, responsáveis pelas respectivas hidrólises de ATP e ADP, pela ecto-nucleosídeo trifosfato difosfohidrolase (E-NTPDase) que pode hidrolisar ambos nucleotídeos 5’-tri e difosfatados com diferentes afinidades. As E-NTPDases, são constituídas por 7 membros (NTPDase 1 a 6 e NTPDase 8) nos quais estão incluídas as apirases. (BOURS et al., 2006; ZIMMERMANN, 2000). As apirases (CD39 em humanos) são importantes para a hidrólise do ATP em ADP e deste a AMP, sendo esta ação dependente de íons Ca++ e Mg++ (PLESNER, 1995; ZIMMERMANN, 2000). Todas estas enzimas apresentam uma sequência de 5 domínios altamente conservados (regiões conservadas da apirase), que provavelmente estão relacionados com a atividade catalítica (Figura 2). Figura 2: Topografia de membrana e propriedades catalíticas dos membros da Família das ENTPDases. A E-NTPDase 5 ocorre como enzima solúvel (seta). Da forma putativa (E-NTPDase 6) apenas a estrutura primária é conhecida. A nomenclatura anteriomente utilizada está entre parênteses (ZIMMERMANN, 2000). As 5’- nucleotidases são uma família de enzimas que já foram observadas em Trichomonas vaginalis (TASCA et al., 2003), Leishmania donovani (GOTTILEIB & DWYER, 1983) além dos vertebrados (ZIMMERMANN,1992). Estas enzimas diferem 20 na especificidade ao substrato, mas todas elas agem em nucleotídeos 5’purínicos e pirimidínicos monofosfatados, podendo também agir sobre nucleotídeos mais complexos como 5´-nucleotídeo difosfatados e trifosfatados, UDP- glicose ou dinucleotídeos de flavina adenina (FAD). Estas enzimas, de acordo com a sua localização celular e propriedades cinéticas, podem se apresentar como enzimas aderidas à membrana plasmática (ecto-5’-nucleotidase, e-N, CD73 em humanos) ou como forma solúvel (e-Ns), sendo que as primeiras são dímeros unidos por ligações dissulfeto e as últimas podem ser dímeros ou tetrâmeros (Figura 3). A forma solúvel é responsável pelo controle interno de nucleotídeos 5’-monofosfatados, e a forma aderida à membrana, pela etapa final da hidrólise do ATP a adenonina, portanto, é a principal responsável pela formação da adenosina no meio extracelular (ZIMMERMANN, 1992). Figura 3: Modelo molecular da 5’-nucleotidase e seus derivados solúveis (ZIMMERMANN, 2000). Além dos dois membros citados anteriormente, a família das ectonucleotidases é constituída pelas ectofosfodiesterase/pirofosfatases (E-NPP1, 2 e 3). A falta de especificidade enzimática, faz com que todos os membros, desta família de enzimas, sejam responsáveis pela hidrólise do AMP cíclico (AMPc) a AMP, ATP a AMP e ADP a AMP. Outro representante das ectonucleotidases é a família das fosfatases alcalina, que hidrolisam nucleotídeos tri, di e monofosfatados. 21 Estas enzimas podem ser encontradas ancoradas à membrana plasmática por um grupamento glicosilfostatidilinositol (GPI) ou no soro, livre (ZIMMERMANN, 2000). Além do mais, existem duas outras enzimas que são importantes para o controle de adenosina (Ado) extracelular: a adenosina deaminase (ADA) e a adenosina quinase. A ADA é uma enzima principalmente citosólica, mas que pode ser encontrada na membrana plasmática (Ecto ADA) de células do sistema imune ou não. Esta enzima é de grande importância para o metabolismo das purinas, já que é responsável pela conversão irreversível da adenosina em inosina. A adenosina quinase é responsável pela fosforilação da adenosina, com consequente formação de AMP no meio intracelular regulando a concentração da Ado no meio extracelular, já que este nucleosídeo é transportado através da membrana plasmática por diferença no gradiente de concentração (BOURS et al., 2006). Figura 4: Metabolismo dos nucleotídeos purínicos e pirimidínicos pelas Ectoenzimas (BOURS et al., 2006). Nucleotídeos extracelulares são importantes moléculas sinalizadoras que modulam uma variedade de ações dentro do organismo, dependendo do tipo de receptor envolvido. Dentre seus efeitos, pode-se citar a indução de agregação plaquetária, degranulação de mastócitos, eosinófilos e neutrófilos, da produção de 22 citocinas por macrófagos e linfócitos T e auxílio na ativação e diferenciação de linfócitos T por ação das células dendríticas (GOUNARIS & SELKIRK, 2005). O ATP extracelular e seus metabólitos, como ADP e adenosina, agem em receptores purinérgicos, divididos em receptores P1 e P2 (Figura 5) (BURNSTOCK, 2007). As ações da adenosina são mediadas pela sua ligação aos receptores P1, que de acordo com suas características bioquímicas e farmacológicas podem ser subdivididos em 4 subtipos : A1, A2a, A2b e A3. Os receptores A2a, A2b, de alta e baixa afinidade pela adenosina, respectivamente, são acoplados à proteína Gs e agem aumentando a concentração de cAMP no interior das células, já que estimulam a enzima adenilato ciclase. Este efeito é importante pois, através do aumento do cAMP, há modulação da resposta imune celular, o que evita a geração de uma resposta imunológica exagerada, que poderia causar danos ao organismo (JACOBSON ; GAO, 2006). O efeito modulador deve-se, principalmente, pela inibição da produção de citocinas como IL-12, IFN-γ e TNF-α (LAPPAS et al., 2005; HASKO et al.,2000; KRECKLER et al., 2006) e pelo estímulo à produção de IL-10 (PANTHER et al., 2003). Já os outros dois subtipos, A1 e A3, exercem efeito contrário, pois inibem a adenilato ciclase por estimular proteína Gi, impedindo que as células do sistema imune sejam inativadas prematuramente, o que facilitaria a sobrevivência dos parasitos (FREDHOLM et al., 1994). Os receptores P2 são divididos em receptores P2X e P2Y, sendo que o primeiro é acoplado a canais iônicos (ionotrópicos) e o segundo, é um exemplo de receptor ligado a proteína G (metabotrópicos) (Figura 5), que podem ativar a fosfolipase C ou inibir a adenilato ciclase com diminuição de cAMP (Figura 6) (ABBRACCHIO et al., 2006; NORTH, 2002; RALEVIC; BURNSTOCK, 1998). Os receptores P2X são divididos em sete subtipos (P2X1-7), sendo o ligante natural o ATP. Já os receptores P2Y são subdivididos em vários subtipos, sendo os P2Y1,2,4,6,11,14 bem caracterizados. Estes receptores podem se ligar a purinas e pirimidinas como ATP, ADP ou UDP com diferentes afinidades e preferência de ligação dependendo do subtipo (GOUNARIS & SELKIRK, 2005). Os receptores P2X estão distribuídos em várias células do organismo como plaquetas, neurônios e células musculares (LA SALA, 2003). Dentre os diferentes subtipos de receptores P2X, destaca-se o P2X7, presente em mastócitos, linfócitos, macrófagos e células de Langerhans (BURNSTOCK, 2007; SURPRENANT et al., 1996), importantes para a defesa do organismo e cujas ações, nestas células, serão detalhadas 23 posteriormente, além de promover poros na membrana do microrganismo, culminando com a lise celular (LA SALA, 2003). Figura 5: Modelo topológico de receptores de vias de sinalização purinérgica. Nucleotídeos mediam efeitos sinalizadores em uma série de receptores ionotrópicos P2X e metabotrópicos P2Y que são classificados de acordo com sua afinidade por ATP, ADP e outros nucleotídeos alternativos e outros nucleotídeos ligados a açúcares. A geração de adenosina age em quatro receptores específicos (YEGUTKIN, 2008). Figura 6: Família de receptores P2X e P2Y com as respectivas vias de sinalização (LAZAROWAKI et al., 2003). O ATP, no meio intracelular, exerce importante papel no metabolismo energético, sendo que sua concentração no citoplasma está na faixa de mM, ao passo que no espaço extracelular, em nM. O aumento da concentração extracelular do ATP devido a uma lesão celular ou à estimulação por patógenos e pelo fato dele ser rapidamente degrado após ser liberado, faz deste nucleotídeo um sinalizador endógeno (BOURS et al. , 2006). O ATP informa ao sistema imunológico que algo 24 está errado, o que desencadeia o processo inflamatório e a resposta imune (LA SALA et al., 2003; LANGSTON et al., 2003), com estímulo à liberação de lisozima, importante para a morte de bactérias e aumento da síntese de substâncias tóxicas pelos polimorfonucleares, como o óxido nítrico e radicais de oxigênio (Di VIRGILIO, 2007) . Monócitos e macrófagos são células importantes para a inflamação e resposta imunológica. Estas células possuem, em sua superfície, receptores P2X e P2Y, cujas expressões variam de acordo com o estágio de maturação celular e com o estímulo presente no ambiente celular. Por exemplo, quando os macrófagos sofrem ação do IFN-γ, lipopolissacarídeo (LPS) ou TNF-α ocorre aumento na expressão de receptores P2X7 que estimula a adesão celular ao endotélio vascular, etapa importante para a diapedese, e para a produção de quimiocinas para monócitos (provavelmente devido à ligação do ADP em receptores P2Y). Além do mais, o ATP extracelular em concentrações micromolares ao se ligar em receptores P2X7 é um importante estímulo para a produção de citocinas como IL-1α, IL-1β, IL-6, IL-18 e TNF-α. Outro mecanismo efetor dos macrófagos, na eliminação dos patógenos, relaciona-se à produção do óxido nítrico, que é formado a partir da ação da enzima óxido nítrico sintase induzida (iNOS). Porém, a ação de citocinas Th2 como IL-4, IL-10 diminui a expressão de receptores P2X7 em macrófagos alveolares de ratos. Este mecanismo modulador, na expressão de receptores purínicos, é importante para evitar que ocorra lesão celular por intenso processo inflamatório, já que o óxido nítrico pode provocar danos ao organismo. Além disso, os fagócitos possuem em sua superfície, ectoenzimas como a CD39 e CD73, que são importantes para o metabolismo dos nucleotídeos. O ATP extracelular, ao se ligar em receptores P2Y, provavelmente o subtipo P2Y11, estimula a resposta imune do organismo por promover a maturação das células dendríticas (DCs). Estas células exercem importante papel na resposta imune primária, já que são responsáveis pela apresentação dos antígenos aos linfócitos T “naive”. As DCs liberam citocinas que estimulam a diferenciação de linfócitos T helper em Th1 ou Th2, dependendo das citocinas produzidas. Por exemplo, a liberação de citocinas como IL-12 por células dendríticas maduras, estimula a diferenciação em linfócitos Th1, ao passo que, a produção de IL-10 com diminuição de IL-12 estimula uma resposta Th2 ou ação das células T supressoras (SCHNURR et al., 2000; WILKIN et al., 2001). 25 Os linfócitos exercem importante papel na resposta imune já que são essenciais tanto na resposta humoral (linfócito B) quanto celular (linfócito T). A imunidade humoral é importante para patógenos extracelulares e suas toxinas, e a celular, para intracelulares. Os linfócitos T podem ser divididos em TCD4+ e TCD8+ sendo que os primeiros exercem papel central no sistema imunológico, pois estimulam mecanismos da imunidade inata, contribuem para a produção de anticorpos através da estimulação de linfócitos B. Os segundos agem destruindo células infectadas (fagocitárias ou não) através da ação da perforina e granzimas, que são proteínas responsáveis pela formação de poros na superfície celular e indução da apoptose respectivamente. Estas células, assim como macrófagos e células dendríticas também sofrem ação dos nucleotídeos extracelulares, uma vez que estas possuem em sua superfície, receptores P2, principalmente o subtipo P2X7. Além destas ações, o ATP parece ser importante para a adesão dos linfócitos por estimular a produção de L-selectinas, migração destas células aos sítios de inflamação, proliferação celular, provavelmente por aumentar a transcrição de IL-2, além de estimular o processo de apoptose após eliminação do patógeno devido ao influxo de íons cálcio na célula. Todos os processos inflamatórios e imunológicos citados nos parágrafos anteriores podem causar danos às células saudáveis. Para evitar que isto ocorra, o organismo possui mecanismos como a liberação de moléculas reguladoras como o próprio ATP e adenosina, presença de ectoenzimas (CD39 e CD73) que levarão diminuição de nucleotídeos extracelulares e aumento dos nucleosídeos. Além do mais, a expressão de receptores P2Y contribui para a diminuição da produção de citocinas pró-inflamatórias pelos monócitos/macrófagos, diminui a capacidade de diferenciação de linfócitos T em Th1 pelas células dendríticas e diminui a ação efetora dos linfócitos. Portanto, dependendo da concentração extracelular dos nucleotídeos, assim como o tipo de receptor no qual estas moléculas se ligam, o efeito pode ser pró-inflamatório ou modulador. Além da importância das ectonucleotidases na resposta imune frente a diversos parasitos, elas são importantes também para o fornecimento de nucleotídeos purínicos para parasitos do gênero Leishmania, já que estes não possuem enzimas necessárias para a síntese de purinas, necessitando captar estas do meio extracelular através do transporte pela membrana plasmática. Portanto, captar purinas presentes no ambiente extracelular de seus hospedeiros é de 26 extrema importância para a sobrevivência destes parasitos (GHOSH , MUKHERJEE, 2000; MARR et al., 1978). Além do mais, a geração de adenosina no interior de macrófago é importante para a sobrevivência das amastigotas, já que esta purina inibe a produção de óxido nítrico e radical de oxigênio, produzidos pelos fagócitos (PINHEIRO, 2006). Como foi dito anteriormente, as ectonucleotidases estariam envolvidas na virulência do parasito, como foi verificado por Marques-da-Silva et al. (2008); pois, se constatou que a presença de ectonucleotidases na superfície de Leishmania amazonensis, L. braziliense, L. major, está relacionada com a infecciosidade. Neste estudo, camundongos C57BL/6 foram infectados com promastigotas metacíclicas das três espécies de Leishmania e observou-se que camundongos infectados com L. amazonensis apresentaram lesões crônicas que não regrediam espontaneamente e eram capazes de hidrolisar altos níveis de nucleotídeos (ATP, ADP e AMP) quando comparados com as outras duas espécies. A Leishmania, durante seu ciclo biológico, transita entre o hospedeiro invertebrado (vetor) e vertebrado (mamífero), movimento este, que faz com que o parasito passe por um estresse térmico proporcionado pela diferença de temperatura existente entre os dois hospedeiros. A elevação da temperatura estimula a expressão de proteínas, como a Proteínas do Choque Térmico (Hsps), que podem contribuir para a sobrevivência do parasito no hospedeiro, já que em formas amastigotas, a expressão das mesmas, foi maior do que em promastigotas. As duas principais proteínas produzidas, pela elevação da temperatura, são as Hsp70 e Hsp83, sugerindo a participação destas enzimas durante a invasão do parasito. Estas proteínas já foram descritas em parasitos do gênero Leishmania como nas espécies de Leishmania tropica, Leishmania donovani e Leishmania enrietti (LAWRENCE & ROBERT-GERO, 1985) em Trypanosoma, Giardia, Plasmodium, Schistosoma e alguns fungos como Candida (ALCINA et al., 1988; MARESCA & CARRATO, 1992). Em Leishmania mexicana, a elevação da temperatura promoveu a expressão das Hsps, assim como a conversão de promastigotas em amastigotas (LAWRENCE AND ROBERT GERO, 1985). PeresSampaio et al., (2008) mostraram que as Hsps produzem elevação da atividade ecto-ATPase em L.amazonensis, porém o mesmo efeito não foi verificado em outras ectoenzimas, reforçando a idéia de que as ecto-ATPase e as HSP estão 27 relacionadas com a superfamília de actin/Heat shock 70/sugar kinase, já que esta observação já havia sido feita anteriormente (SMITH & KIRLEY, 1999) Como existem poucos estudos relacionando a atividade ectonucleotidásica com infecciosidade em espécies de Leishmania, principalmente em L. infantum chagasi, agente responsável pela forma mais severa da doença, o presente trabalho tem como objetivo verificar a atividade ectonucleotidásica em L. infantum chagasi em diferentes temperaturas. 28 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Verificar, in vitro, o efeito de diferentes temperaturas e de inibidores de ectonucleotidases na atividade ectonucleotidásica de formas promastigotas totais de L. infantum chagasi. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Verificar se o efeito de diferentes temperaturas, 30ºC ou 34ºC, interfere na atividade ectonucleotidásica em L. infantum chagasi Verificar o uso de inibidores das ectonucleotidases como molibdato de amônio e suramina sobre a atividade ectonucleotidásica na temperatura de 30ºC ou 34ºC em L. infantum chagasi 29 4 JUSTIFICATIVA Parasitos do gênero Leishmania estão envolvidos em doenças que variam de acordo com a forma clínica e gravidade. Dentre as diferentes formas da doença, destaca-se a leishmaniose visceral, considerada a forma mais grave, pois pode levar o indivíduo à morte, caso ele não receba o tratamento adequado. Além do mais, os fármacos utilizados no tratamento desta enfermidade, causam graves reações adversas aos pacientes como arritmias cardíacas, hepatotoxicidade e nefrotoxicidade contribuindo para a morbidade e a mortalidade. Nos últimos anos, estudos têm tentado desvendar o metabolismo destes parasitos com o intuito de, futuramente, propiciar o desenvolvimento de novas “armas” que possam impedir ou controlar a infecção, já que existem poucas alternativas para o tratamento desta patologia. Além do mais, em algumas partes do mundo, já é possível observar resistência parasitária ao antimônio pentavalente, fármaco de primeira linha para o tratamento em muitos países. Estudos feitos com protozoários e, dentre eles, espécies de Leishmania, verificaram que enzimas envolvidas no metabolismo de nucleotídeos purínicos, como as apirases, que são responsáveis pela hidrólise do ATP, podem estar também envolvidas na virulência destes parasitos. Além do mais, o aumento da concentração de adenosina no meio é de extrema importância para a sobrevivência da Leishmania, pois esta não realiza a síntese de novo de nucleotídeos, além de exercer ação imunomoduladora. Portanto, determinar os fatores de virulência dos parasitos e como eles interferem na infecção, é de grande relevância para a ciência, pois através dessa compreensão poderão se desenvolver novas alternativas terapêuticas, como as vacinas já que estudos têm mostrado que as ectonucleotidases possuem ação imunogênica. Além do mais, o uso de inibidores das ectonucleotidases, citados anteriormente, podem ser utilizados no tratamento da leishmaniose, desde que sejam feitos testes de toxicidade sobre os seres humanos. 30 5 MATERIAL E MÉTODOS 5.1 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL 5.1.1 Ensaio de atividade enzimática L.infantum chagasi cepa M2682 25ºC / 5 dias de cultivo Lavagem 3 x com salina 0,9% / 1.540x g / 4ºC / 10 min Grupo 1: Parasitos sem inibidores Grupo 2: Parasitos com suramina 20µM Grupo 3: parasitos com molibdato de amônio 5 µM Incubação (banho-maria) a 30ºC ou 34ºC 1h Dosagem da hidrólise indireta dos nucleotídeos ATP, ADP e AMP 31 5.2 PREPARO DO PARASITO Cepa de Leishmania infantum chagasi M2682 e cepa PH8 de L. amazonensis, foram cultivadas em meio de Grace (GIBCO BRL, Grand Island, N.Y., USA), suplementado com 10% de soro fetal bovino inativado (SFB; Cripion, Andradina, SP, Brazil), L-glutamina 2 mM (GIBCO BRL) e penicilina G 100 U/mL (USB Corporation, Cleveland, OH, USA), pH 6,5, a 25 °C por 5 dias (final da fase logarítmica) já que segundo Pinheiro et al., (2006) a atividade ectonucleotidásica é maior, sendo as culturas iniciadas a partir de 1,0 x 105 parasitos/ mL. Para os ensaios de atividade enzimática, os parasitos foram lavados três vezes com salina 0,9% sendo este preparado centrifugado a 1.540 x g/ 4ºC/ 10min. O precipitado foi ressuspendido em tampão da reação. Para verificar a integridade e viabilidade celular foi azul de tripam, antes e após o ensaio de atividade enzimática. 5.3 ENSAIO DE ATIVIDADE ENZIMÁTICA As atividades de ATPase, ADPase e 5’-nucleotidásica foram medidas após a incubação dos parasitos (4,0x106 parasitos/reação), no tampão da reação constituído por 116,0 mM NaCl, 5,4 mM KCl, 5,5 mM D-glicose, 5,0 mM MgCl2, e 50,0 mM do tampão Hepes-Tris na presença de 5 mM ATP, ADP ou AMP (SIGMA) por uma hora nas temperaturas de 30ºC ou 34ºC. Para o bloqueio da atividade apirásica, aos parasitos foi adicionado suramina (SIGMA), no momento do ensaio de atividade enzimática, cuja concentração final no tampão da reação foi de 20,0µM e para o bloqueio da atividade 5’-nucleotidásica, foi adicionado molibdato de amônio, cuja concentração final foi de 5,0µM. A reação foi interrompida pela adição de HCl 0,2 mM gelado (FIETTO e cols., 2004). As suspensões foram centrifugadas e alíquotas dos sobrenadantes foram utilizadas para a quantificação do fosfato inorgânico(Pi) liberado, adicionando-se, na proporção de 1:1, uma mistura contendo FeSO4.7H2O 8,8%, H2SO4 163, O mM e 53,0% de uma solução de molibdato de amônio 2%/ H2SO4 5,55%, preparada imediatamente antes do uso. Foi feita uma curva padrão utilizando diferentes concentrações de soluções de Na 3PO4, reagindo com a mistura acima descrita. A quantificação de fosfato liberado foi feita por espectofotometria, sob comprimento de onda de 650nm (TAUSSKY & SHORR, 1953) e a atividade enzimática, indiretamente determinada pela quantidade de Pi 32 liberado. Como os nucleotídeos sofrem hidrólise espontânea, é de extrema relevância determinar a mesma. Para tanto, além de se determinar a concentração de fosfato nos tubos testes, tubos, denominados de brancos, que possuem todos os reagentes e as mesmas condições experimentais dos tubos testes, exceto pela ausência do parasito durante o ensaio de reação enzimática (1 hora à 30ºC ou 34ºC) são utilizados. Portanto, a concentração de Pi liberado é determinada pela diferença do Pi livre nos tubos testes pelo Pi livre nos tubos brancos e os valores ajustados para a concentração final de 1x108 parasitos/h. 5.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram submetidos à análise estatística por Teste t de Student, cujos valores de p < 0,05 foram considerados como significativo. 33 6 RESULTADOS O presente trabalho procurou verificar o efeito da temperatura sobre a atividade ectonucleotidásica de L. infantum chagasi. Como pode ser visto (Figura 7), na temperatura de 30ºC, a hidrólise dos nucleotídeos, em nmol de Pi liberado, foi de 384,33 (ATP), 677,67 (ADP) e 348,68 (AMP), valores estes, significativamente menores que a hidrólise dos nucleotídeos na temperatura de 34ºC, 541,07 (ATP), 825,83 (ADP) e 441,14 (AMP). Posteriormente, investigou-se a afinidade das enzimas envolvidas por nucleotídeos, e como pode ser visto na figura 8, as enzimas hidrolisam preferencialmente o ADP em relação ao ATP tanto na temperatura de 30ºC quanto na temperatura de 34ºC. * * Figura 7: Medida da atividade ectonucleotidásica da cepa M2682 de L. infantum chagasi realizada 6 com promastigotas totais sem tratamento. Os parasitos (4,0x10 parasitos/reação) foram incubados por 1 hora à temperatura de 30ºC ou 34ºC na presença de ATP, ADP ou AMP na concentração de 5,0 mM. As barras representam as médias + o desvio padrão das médias de 4 experimentos independentes. Símbolo *(p<0,05) significa diferença estatística do grupo na qual houve incubação a 34ºC em relação grupo a 30ºC. 34 * Figura 8: Relação entre a hidrólise de nucleotídeos tri e difosfatados em L. infantum chagasi cepa M2682 realizada com promastigotas totais sob temperatura de 30ºC ou 34ºC, na presença de ATP, ADP na concentração de 5,0 mM. As barras representam as médias + o desvio padrão das médias de 4 experimentos independentes. Símbolo *(p<0,05) significa diferença estatística. Para verificar se o aumento da hidrólise de nucleotídeos, provocada pela elevação da temperatura, foi devido à atividade apirásica, decidiu-se utilizar a suramina, bloqueador de algumas ectonucleotidases (BERREDO-PINHO e cols., 2001; LAMBRECHET, 2000). Figura 9: Efeito do bloqueio da apirase na atividade enzimática de promastigotas totais de L. infantum 6 chagasi. Os parasitos (4x10 parasitos/reação) foram incubados com suramina 20,0µM por 1 hora a 30ºC na presença de ATP ou ADP ou AMP na concentração de 5,0 mM. As barras representam as médias + o desvio padrão das médias de 4 experimentos independentes. 35 * Figura 10: Efeito do bloqueio da apirase na atividade enzimática de promastigotas totais de L. 6 infantum chagasi. Os parasitos (4x10 parasitos/reação) foram incubados com suramina 20,0µM por 1 hora a 34 ºC na presença de ATP ou ADP ou AMP na concentração de 5,0 mM. As barras representam as médias + o desvio padrão das médias de 4 experimentos independentes. Símbolo *(p<0,05) significa diferença estatística. De acordo com os dados apresentados nas figuras 9 e 10, não houve diferença na inibição da hidrólise do ATP e do ADP dos grupos nos quais foi adicionado suramina no momento da atividade enzimática em relação ao grupo controle (sem tratamento) sob temperatura de 30ºC ou 34ºC. Porém, a suramina foi capaz de inibir, parcialmente, a hidrólise do AMP na temperatura de 34ºC (Figura 10). Com o objetivo de verificar se a concentração de suramina (20µM) foi ideal, decidiu-se realizar o ensaio de atividade enzimática em Leishmania amazonensis cepa PH8, já que os efeitos da suramina sobre esta espécie de Leishmania já foram descritos. Como pode ser observado a suramina (20µM) inibiu a hidrólise do ATP, em relação ao grupo controle, na temperatura de 30ºC (Figura 11), porém o mesmo efeito não foi observado na temperatura de 34ºC (Figura 12). 36 Figura 11: Efeito do bloqueio da apirase na atividade enzimática de promastigotas totais de L. 6 amazonenses. Os parasitos (4x10 parasitos/reação) foram incubados com suramina 20,0µM, por 1 hora a 30ºC, na presença de ATP ou ADP ou AMP na concentração de 5,0 mM. As barras representam as médias + o desvio padrão das médias de 2 experimentos independentes. Símbolo *(p<0,05) significa diferença estatística. Figura 12: Efeito do bloqueio da apirase na atividade enzimática de promastigotas totais de L. 6 amazonensis. Os parasitos (4x10 parasitos/reação) foram incubados com suramina 20,0µM por 1 hora à 34ºC na presença de ATP ou ADP ou AMP na concentração de 5,0 mM. As barras representam as médias + o desvio padrão das médias de 2 experimentos independentes. Para verificar se o aumento da hidrólise dos nucleotídeos, observada a 34ºC em relação à temperatura de 30ºC, seria produzida por fosfatases ou outras NTPDases, utilizou-se o molibdato de amônio 5,0µM, um potente inibidor de fosfatases ácidas assim como da ecto-5’- nucleotidase (DUTRA et al., 1998). De acordo com os dados apresentados (Figura 13), pode-se observar que o molibdato de amônio, na temperatura de 30ºC, foi capaz de inibir estatisticamente e parcialmente, a hidrólise do AMP, além de inibir a hidrólise do ADP. Porém, quando 37 se observa a ação do molibdato de amônio 5,0µM a 34ºC (Figura 14) pode-se perceber que a inibição ocorreu apenas na hidrólise do AMP. Figura 13: Efeito do bloqueio da 5’- nucleotidase na atividade enzimática de promastigotas totais de L. 6 infantum chagasi. Os parasitos (4x10 parasitos/reação) foram incubados com molibdato de amônio 5,0µM por 1 hora a 30 ºC na presença de ATP ou ADP ou AMP na concentração de 5,0mM. As barras representam as médias + o desvio padrão das médias de 4 experimentos independentes. Símbolo * (p<0,05) significa diferença estatística do grupo tratado com o inibidor em relação ao grupo controle (sem tratamento). Figura 14: Efeito do bloqueio da 5’- nucleotidase na atividade enzimática de promastigotas totais de L. 6 infantum chagasi. Os parasitos (4x10 parasitos/reação) foram incubados com molibdato de amônio 5,0µM por 1 hora a 30 ºC na presença de ATP, ADP e AMP na concentração de 5,0 mM. As barras representam as médias + o desvio padrão das médias de 4 experimentos independentes. Símbolo * (p<0,05) significa diferença estatística do grupo tratado com o inibidor em relação ao grupo controle (sem tratamento) 38 DISCUSSÃO Dados na literatura mostram que diferentes protozoários como Toxoplasma gondii (ASAI et al., 1995), Trichomonas foetus (JESUS et al., 2002), Leishmania tropica (MEYER-FERNANDES et al., 1997) e L. amazonensis (BERRÊDO-PINHO et al., 2001) possuem, na sua superfície, as ectoenzimas. Estas são capazes de hidrolisar nucleotídeos purínicos e pirimidínicos, e, suas ações, podem estar relacionadas com a infecciosidade dos parasitos (MEYER-FERNANDES, 2002). A Leishmania, durante o tempo que permanece no hospedeiro invertebrado, está sujeita a temperaturas de 22ºC a 28ºC, porém, no hospedeiro vertebrado, esta temperatura é mais elevada, sendo na pele cerca de 33ºC, e nas vísceras, 37ºC. As elevações de temperaturas podem produzir danos celulares ao parasito (REVISADO POR ZILBERSTEIN & SHAPIRA, 1994) que para conseguir sobreviver, nos hospedeiros, possuem mecanismos termorreguladores que estão relacionados com a alteração da expressão de genes que são modulados por fatores ambientais como a temperatura e substâncias químicas como os metais (LAWRENCE & ROBERTGERO, 1985). Para verificar o efeito da temperatura sobre a atividade ectonucleotidásica de L. infantum chagasi, os parasitos foram incubados por uma hora sob temperatura de 30ºC ou 34ºC, e a atividade enzimática medida indiretamente, pela concentração de fosfato inorgânico liberado como descrito na metodologia. Como pode ser visto (Figura 7), houve aumento estatisticamente significativo na hidrólise dos nucleotídeos purínicos (ATP, ADP e AMP) sob temperatura de 34ºC em relação à temperatura de 30ºC. Estes dados sugerem que a elevação da temperatura possivelmente esteja interferindo na atividade de ecto-ATPDase como também em outras ectoenzimas como 5’-nucleotidase, ecto-fosfatases em Leishmania infantum chagasi ou estimulando a expressão de outras proteínas como as proteínas do choque térmico (HPSs) (LAWRENCE & ROBERT-GERO, 1985). Estudos têm mostrado que a elevação da temperatura interfere no aumento da atividade enzimática. Trabalho realizado por Peres-Sampaio et al., (2008) com L. amazonensis, mostra que a atividade ecto-ATPase é maior nos parasitos que foram cultivados a 28ºC em relação a 22ºC, e que a atividade de ecto-ATPase dos parasitos aumentou no grupo a 22ºC após sofrer estresse térmico (37ºC/ 2 horas) 39 antes de realizar o ensaio de atividade enzimática. Porém, outras enzimas como 3’ e 5’-nucleotidases e fosfatases ácidas não sofreram interferência da temperatura. Estes dados sugerem que espécies de Leishmania diferem na suscetibilidade à elevação da temperatura e isto pode ser refletido pela capacidade que as diferentes espécies possuem em causar doenças com formas clínicas variadas (ZILBERSTEIN & SHAPIRA, 1994). As ectonucleotidases, como as ecto-NTPDases, são enzimas responsáveis pela hidrólise do ATP a ADP e deste a AMP, e as ecto-5’-nucleotidases responsáveis pela conversão do último a adenosina (PLESNER, 1995; ZIMMERMANN, 2000). Parasitos, como a Leishmania, apresentam na sua superfície tais enzimas e estas parecem desempenhar importante papel na infecciosidade do parasito e para sua sobrevivência devido à ação antiinflamatória da adenosina. Além do mais, Leishmania não realizam a “síntese de novo” para a síntese de purinas necessitando de captar, do meio extracelular, este nucleosídeo (MEYERFERNANDES, 2002). As NTPDases, importantes para o metabolismo dos nucleotídeos, podem estar aderidas a membrana plasmática, como as NTPDases 1, 2, 3 e 8 ou podem estar ligadas à membrana de organelas citoplasmáticas como a NTPDase 4, 5, 6 e 7. Essas enzimas, quando analisadas individualmente, podem diferir quanto à “preferência por substratos” (MUNKONDA et al., 2007). Algumas podem agir sobre substratos 5’-trifosfatados e 5’-difosfatados de forma igual (NTPDase 1) e outras agem preferencialmente em um destes substratos, como a NTPDase 2 (trifosfatados). Fonseca et al., (2006) observou em T.rangeli preferência das ectoenzimas por nucleotídeos trifosfatados. Faria-Pinto et al., (2004), ao trabalhar com homogeneizados de ovos de Schistosoma mansoni observou que a hidrólise de ATP e ADP foram semelhantes. Porém, ao comparar a hidrólise de nucleotídeos di e tri fosfatados em antígenos solúveis do ovo, ele observou que estes hidrolisavam ATP, porém em menor proporção do que ADP, demonstrando, assim, a presença de isoformas diferentes de ATP difosfohidrolases no ovo do parasito. Já Fietto et al., (2004) verificou que em formas infectantes (tripomastigotas) de Trypanosoma cruzi em relação a formas não infectantes (epimastigotas), a hidrólise de ATP foi maior que a hidrólise de ADP. Santos et al., (2009), também verificou que diferentes cepas de T.cruzi metabolizam nucleotídeos purínicos de forma diferenciada. Marques-daSilva et al., (2008) verificou que L. amazonensis também apresenta hidrólise de 40 ATP, ADP, AMP, sendo que a hidrólise do primeiro foi maior em relação aos demais nucleotídeos. Já Asai et al., (1995), trabalhando com Toxoplasma gondii, verificou que a NTPAse é formada por duas isoenzimas, as NTPases I e II, sendo que a primeira hidrolisa quase que exclusivamente nucleotídeos trifosfatados e a segunda ambos nucleotídeos tri e difosfatados quase na mesma taxa. Ele, observou também, que a NTPase I está presente apenas nas cepas virulentas de T.gondii e a NTPase II, pode ser encontrada nas cepas virulentas e não virulentas. Ao analisar os dados do presente trabalho (Figura 8) pode-se verificar que em L. infantum chagasi, a hidrólise de nucleotídeos difosfatados em relação ao trifosfatados é maior sob temperatura de 30ºC ou 34ºC, ou seja, a cepa do parasito utilizada no desenvolvimento desta pesquisa hidrolisa, preferencialmente, o ADP. Adicionalmente, a elevação da temperatura aumenta a hidrólise do mesmo nucleotídeo, sugerindo que a elevação da temperatura possa estar interferindo de alguma forma na atividade da enzima ou estimulando outra proteína que possa estar potencializando a ação da apirase ou agindo de forma sinérgica. Como pode ser visto, diferentes protozoários patogênicos possuem diferentes afinidades por nucleotídeos, e as formas virulentas parecem possuir maior afinidade por nucleotídeos trifosfatados, sugerindo a participação das NTPAse na infecciosidade (MEYER-FERNANDES, 2002). Maioli et al., (2004), ao comparar a hidrólise de nucleotídeos purínicos de L. amazonensis e L. braziliensis, a 37ºC, verificou que a hidrólise de AMP , na primeira espécie foi bem maior que na segunda, sugerindo que aumento de adenosina estaria inibindo a produção de citocinas pró-inflamatórias como IFN-γ e TNF, o que justificaria a presença de lesões crônicas no camundongo infectado, reforçando a idéia de que o aumento da atividade enzimática estaria relacionado com a infecciosidade. Estudos complementares são necessários para poder caracterizar melhor a enzima ou enzimas envolvidas na hidrólise destes nucleotídeos em L. infantum chagasi, e uma alternativa seria o uso anticorpos antiapirase de batata, que já mostrou ser capaz de reconhecer apirase de protozoários como S.mansoni (FARIA-PINTO et al., 2004) e L.amazonensis (COIMBRA et al., 2008). Para verificar se o aumento da hidrólise de nucleotídeos, provocada pela elevação da temperatura, foi devido à atividade apirásica, decidiu-se utilizar a suramina, bloqueador de algumas ectonucleotidases (BERREDO-PINHO e cols., 2001; LAMBRECHET, 2000). Tal inibidor foi adicionado aos parasitos no momento 41 da incubação a 30ºC ou 34ºC por uma hora na concentração de 20µM, pois segundo Fonseca et al., (2006), em seu trabalho com Trypanossoma rangeli, esta concentração seria suficiente para produzir inibição de aproximadamente 40% da atividade apirásica, já que o efeito é dose dependente. De acordo com os dados apresentados (Figuras 9 e 10), não houve diferença estatística na inibição da hidrólise do ATP ou do ADP dos grupos nos quais foi adicionado suramina no momento da atividade enzimática em relação ao grupo controle (sem tratamento) na temperatura de 30ºC ou na temperatura de 34ºC. Porém, a suramina foi capaz de inibir a hidrólise do AMP na temperatura de 34ºC. Estes resultados podem ter ocorrido pelas seguintes hipóteses: 1- participação de outras enzimas, como fosfatases, E-NPP (família das pirofosfatases/fosfodiesterases) na hidrólise dos nucleotídeos, em L. infantum chagasi, e não a apirase; 2- a NTPDase, nesta cepa de L. infantum chagasi, poderia ser constituída por isoformas diferentes insensíveis a ação da suramina, segundo comunicação pessoal feita por Fietto. Segundo Munkonda et al.,(2007) em NTPDase humana, a suramina, cuja concentração variou entre 10 µM e 100 µM agiu de forma diferenciada, onde a inibição na NTPDase 3 foi maior que na NTPDase 1 e esta igual a NTPDase 2. Por último, observou-se que a NTPDase 8 foi a que menos sofreu ação da suramina; 3- uso do inibidor em baixas concentrações. Como pode ser visto muitas dúvidas precisam ser esclarecidas, e para isto é necessário o uso de outros inibidores das ectonucleotidases, já que em parasitos do gênero Leishmania tem sido descritas outras enzimas presentes na superfície da membrana plasmática além das ecto-ATPases como as fosfatases ácidas (HASSAN & COOMBS, 1983). Para excluir a possibilidade de que a hidrólise de ATP não estaria sendo produzida por nenhuma fosfatase, recomenda-se utilizar o NaF e vanadato (GLEW & CZUCZMAN, 1982) dois potentes inibidores para fosfatases ácidas, levamizole e tetramizole, inibidores de fosfatases alcalinas (VAN BELLE, 1972). Outros inibidores que devem ser testados para verificar a atividade ectoATPase, são os oligomicina e azida sódica, dois inibidores de Mg+2 ATPase mitocondrial. Segundo Meyer-Fernandes et al., (1997), uma ecto-ATPase pode ser caracterizada pela ausência de resposta aos inibidores acima, além de ser inibida por um inibidor de ecto-ATPase impermeável como 2’,2’-diisothiocyanostylbene disulfonic acid (DIDS). 42 Para testar a terceira hipótese, ou seja, uso de inibidor em baixas concentrações, utilizou-se a suramina na concentração de 20µM em Leishmania amazonenses cepa PH8. Como pode ser observado (Figura 11) a suramina 20µM inibiu parcialmente e de forma significativa a hidrólise do ATP em relação ao grupo controle na temperatura de 30ºC, porém o mesmo efeito não foi observado na temperatura de 34ºC (Figura 12). Estes dados excluem a possibilidade de que a ausência da inibição da suramina em L. infantum chagasi foi devida a baixas concentrações e reforçam a teoria de que o aumento da hidrólise dos nucleotídeos purínicos observados pela elevação da temperatura no parasito em estudo, provavelmente deve-se a ação de outras enzimas como fosfatases e não de apirases. A 5’-nucleotidase foi descrita em vários organismos como plantas, bactérias, tecidos de vertebrados (ZIMMERMANN, 1992) e protozoários como Trichomonas vaginalis (TASCA et al., 2003) e Trichomonas gallinae (BORGES et al., 2006). Esta enzima é responsável pela hidrólise de nucleotídeos monofosfatados, sendo o AMP considerado o principal substrato, e é expressa em vários tipos celulares em condições fisiológicas ou não (ZIMMERMANN, 1992, 1996). A ação da 5’nucleotidase é importante porque a hidrólise do AMP leva à formação de adenosina que se liga em receptores P1 modulando o processo inflamatório. Além do mais, Leishmania não realiza a “síntese de novo” de purinas, necessitando de utilizar a via de salvação. Portanto, a ação desta enzima pode ser relacionada com a infecciosidade do parasito. Para excluir a possibilidade de que a hidrólise de ATP seria produzida pela 5’-nucleotidase, outra Leishmania, enzima presente na superfície de decidiu-se utilizar o molibdato de amônio, um potente inibidor de fosfatases ácidas, assim como da ecto-5’-nucleotidase (DUTRA et al., 1998). De acordo com os dados apresentados (Figura 13), pode-se observar que o molibdato de amônio a 5µM, na temperatura de 30ºC, foi capaz de inibir estatisticamente e parcialmente, a hidrólise do AMP e não exerceu nenhum efeito na hidrólise do ATP. Estes resultados estão de acordo com Fietto et al., (2004) em Trypanosoma cruzi e em Schistosoma mansoni (FARIA-PINTO et al., 2004) sugere a participação da 5’nucleotidase na hidrólise do AMP e não sobre o ATP. A 30ºC pode-se observar, também, que o molibdato de amônio foi capaz de inibir, estatisticamente, a hidrólise do ADP, sugerindo a participação de ecto-fosfatases envolvidas na hidrólise de dinucleotídeos ou uma isoforma diferente da ecto-5’nucleotidase, pois segundo 43 Zimmermann (1992) esta enzima pode agir em substratos difosfatados. Outra hipótese levantada possa ser devido à presença, de uma isoforma diferente de apirase, sensível ao molibdato de amônio. Ao analisar a ação do molibdato de amônio 5µM na atividade ectonucleotidásica na temperatura de 34ºC (Figura 14) pode-se observar que a inibição estatística ocorreu apenas na hidrólise do AMP. Estes dados reforçam a participação da ecto-5’-nucleotidase hidrólise de nucleotídeos em L. infantum chagasi. A elevação da temperatura, além de poder interferir nas ectonucleotidases, pode estar relacionada com a indução da expressão de polipeptídeos denominados como Hsps (SCHLESINGER et al., 1982). Em Leishmania donovani e Leishmania major, a máxima produção de Hsps ocorre na temperatura de 34ºC e 37ºC (BRANDAU et al., 1995; FEHNIGER et al., 1990; SHAPIRA et al., 1988). As Hsps são proteínas altamente conservadas entre os microrganismos e mamíferos, sendo a mais conservada de todas as Hsp70. Estudos têm mostrado, que algumas destas proteínas, exibem propriedades imunomoduladoras, como os feitos com ratos com artrite e tratados com Hsp70 de Mycobacterium tuberculosis (TBHsp70). Os ratos, tratados com a (TBHsp70), tiveram melhora das manifestações clínicas quando comparado àqueles que não a receberam. Outro estudo observou-se aumento dos níveis de IL-10 e redução dos níveis de TGF-β e IFN-γ em monócitos e células sinoviais em pacientes com artrite (PRAKKEN et al., 2001). Borges et al., (2010) mostra que Hsp70 de Mycobacterium tuberculosis foi capaz de inibir a rejeição de aloenxertos em camundongos BALB-c, sendo este efeito depende de células Treg, com elevação dos níveis de IL-10 e inibição de TGF-β nos linfonodos. Estes resultados dão suporte à ação imunossupressora das Hsps70 de Mycobacterium tuberculosis. Além do mais, neste mesmo estudo, verificou-se que a atividade imunossupressora não é compartilhada por todas as Hsps, pois a Hsp90, não apresentou atividade imunossupressora. A interação entre o parasito e o hospedeiro é muito complexa e envolve várias moléculas, como já foi dito. Peres-Sampaio et al., (2008) correlacionou a atividade ecto-ATPase com as Hsps, e verificou que o aumento da atividade enzimática devese a ação das proteínas. Portanto, em Leishmania, as Hsps é um forte candidato a fator de virulência, seja por estimular a ação da Ecto-ATPse ou por modular a resposta imune. 44 Todas as constatações obtidas, no presente trabalho, são de grande relevância para a área científica, pois muitas questões precisam ser respondidas para que se determinem os mecanismos envolvidos na sobrevivência do parasito no hospedeiro, e consequentemente, se consiga desenvolver vacinas, diminuindo, assim, a morbimortalidade da leishmaniose visceral. 45 8 CONCLUSÃO O aumento da temperatura provocou elevação da atividade ecto- nucleotidásica na cepa M2682 de L. infantum chagasi; As ectoenzimas de L. infantum chagasi hidrolisam preferencialmente nucleotídeos purínicos difosfatados; A atividade da NTPDase não sofreu influência da suramina a 20µM, na temperatura de 30ºC ou 34ºC; A hidrólise do ADP foi parcialmente inibida, à 30ºC, por molibdato de amônio 5µM; A hidrólise do AMP foi parcialmente inibida, à 30ºC ou 34º C, por molibdato de amônio 5µM; A hidrólise do ATP não foi inibida na temperatura de 30ºC ou 34º C, por molibdato de amônio 5 µM; Experimentos complementares são necessários para confirmar as enzimas envolvidas no metabolismo de nucleotídeos purínicos em L. infantum chagasi. 46 REFERÊNCIAS ABBRANCHIO, M. P. et al. International Union of Pharmacology LVII: update on P2Y G protein coupled nucleotide receptors: from molecular mechanisms pathophysiology to therapy.Pharmacol. Rev. 58. p.281-341, 2006. ALCINA, A.; URZAINQUI, A.; CARRASCO, L. The heat-shock response in Trypanosoma cruzi. European Journal of Biochemistry, 1988 ANTOINE, J. et al. Parasitophorus vacuoles of Leishmania amazonensis-infected macrophages maintain an acidic pH. Infect. Immun. 58:779-87, 1990. ASAI, T. et al.Biochemical and molecular characterization of nucleoside triphosphate hydrolase isozymes from the parasitic protozoan Toxoplasma gondii. J.Biol.Chem.Vol. 270, p.11391-11397, 1995. AWASTHI, A.; MATHUR, R. K.; SAHA, B. Immune response to Leishmania infection. Indian J Med Res, nº 119, p. 238-258, 2004. BERREDO-PINHO, M. et al. A Mg-dependent ecto-ATPase in Leishmania amazonensis and its possible role in adenosine acquisition and virulence. Arch. Biochem.Biophys. 391, p.16-24, 2001 BORGES,T. J. et al. Prolonged Survival of Allografts Induced by Mycobacterial Hsp70 Is Dependent on CD4+CD25+ Regulatory T Cells. Neglected Tropical Disease, nº12, v.5, 2010. BORGES, F. P. et al. Characterization of an ecto-5’-nucleotidase (EC 3.1.3.5) activity in intact trophozoites of Trichomonas gallinae. Veterinary Parasitology. 2006 BOURS, M. J. L. et al. Adenosine 5′-triphosphate and adenosine as endogenous signaling molecules in immunity and inflammation. Pharmacology & Therapeutics, 112, p. 358-404, 2006. BRANDAU, S.; DRESEL, A.; AND CLOS, J. High constitutive levels of heat-shock proteins in human-pathogenic parasites of the genus Leishmania. Biochem J., Vol.310, p.225-232, 1995. 47 BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. Série A. Normas e Manuais Técnicos. 6 ed. – Brasília : Ministério da Saúde, p.816, 2005. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Fundação Nacional de Saúde. Boletin eletrônico epidemilógico. Nº 06. 2002. Disponível em < http:www.funasa.gov.br> Acessado em 02/02/2010. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Leishmaiose visceral grave: Normas e condutas. Disponível em <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lv_grave_nc.pdf> Acessado em 21/10/2010. BURNSTOCK, G. Purine and pyrimidine receptors. Cell Mol.Life Sci. Vol 64, p.1471-1483, 2007. CASTELHANO, L. R. et al. Th1/Th2 imune responses are associated with active cutaneus leishmaniasis and clinical cure is associated with strong interferon-γ production. Human Immunology, Vol.70, p.383-390, 2009. COIMBRA, E. S. et al. Leishmania (L.) amazonensis ATP diphosphohydrolaseisoform and potato apyrase share epitopes: antigenicityand correlation with disease progression. Parasitology, Vol. 135, p. 327-335, 2008. COURRET, N. et al. Biogenesis of Leishmania-harbouring parasitophorous vacuoles following phagocytosis of the metacyclic promastigote or amastigote stages of the parasites. Journal of Cell Science, nº 115, p. 2303-2316, 2002. DESJARDINS, M.; DESCOTEAUX, A. Inhibition of Phagolysosomal Biogenesis by the Leishmania Lipophosphoglycan. J. Exp.Med.Vol.185, nº12, p.2061-2068, 1997. DI VIRGILIO, F. Purinergic signalling in the immune system. A brief update. Purinergic Signalling 3, p.1-3, 2007. DUTRA, P. M. L. et al. A Novel Ecto-Phosphatase Activity of Herpetomonas muscarum muscarum Inhibited by Platelet-Activating Factor. Biochemical and Biophysical Research Communications 253, p.164–169, 1998. 48 FARIA-PINTO, P. et al. ATP diphosphohydrolase from Schistosoma mansoni egg:characterization and immunocytochemical localization of a new antigen. Parasitology , nº 129, p.51-57, 2004. FEHNIGER, T. et al. Changes in the antigenic profile of Leishmania parasites following shifts in temperature. Acta tropica, 47(4):227-36, 1990. FIETTO, J. L. R. et al. Characterization and immunolocalization of an NTP diphosphohydrolase of Trypanosoma cruzi. Biochemical and Biophysical Research Communications, nº316, p. 454–460, 2004. FONSECA, F. V. et al. Trypanosoma rangeli: Characterization of a Mg-dependent ecto ATP-diphosphohydrolase activity. Experimental Parasitology, Vol.112, p.7684, 2006. FREDHOLM, B. B. et al. Nomenclature and classification of purinoceptors. Pharmacol.Rev.Vol 46, p.143-156, 1994. GHOSH, M.; MUKHERJEE, T. Stage-specific development of a novel adenosine transporter in Leishmania donovani amastigotes. Molecular and Biochemical Parasitology. nº108, p.93-99, 2000. GOTTLIEB, M. & DWYER, D.M. Evidence for distinct 5'- and 3'-nucleotidase activities in the surface membrane fraction of Leishmania donovani promastigotes. Mol.Biochem.Parasitol. 7, p.303-317, 1983. GLEW, R. H. et al. Partial purification and characterization of particulate acid phosphatase of Leishmania donovani promastigotes.Comparative Biochemistry. Physiology. B 72, p.581–590, 1982 GOUNARIS , K., SELKIRK, M. E. Parasite nucleotide-metabolizing enzymes and host purinergic signalling. Trends in parasitology. Vol.21, nº1, 2005. HASKO, G. et al. Adenosine inhibits IL-12 and TNF-[alpha] production via adenosine A2a receptor-dependent andindependent mechanisms. FASEB J.Vol. 14, p.20652074, 2000. 49 HASSAN, H. F.; COOMBS, G. H. Phosphomonoesterases of Leishmania mexicana mexicana and other flagellates. Mol. Biochem. Parasitol. 23, p.285–296, 1987. JACOBSON, K. A. & GAO, Z.G. Adenosine receptors as therapeutic targets. Nat.Rev. Drug Discov.Vol 5, p.247-264, 2006. KRECKLER, L. M. et al. Adenosine inhibits tumor necrosis factor-alpha release from mouse peritoneal macrophages via A2A and A2B but not the A3 adenosine receptor. J.Pharmacol.Exp.Ther.Vol.317, p.172-180, 2006. LA SALA , A. et al. Alerting and tuning the immune response by extracellular nucleotides. J.Leukoc.Biol. Vol.73. p.339-343, 2003. LAMBRECHT, G. Agonists and antagonists acting at P2X receptors: selectivity profiles and functional implications. Naunyn Schmiedebergs Arch.Pharmacol. 362, p.340-350, 2000. LANGSTON H, P. et al. Secretion of IL-2 and IFN-gamma, but not IL-4, by antigen-specific Tcells requires extracellular ATP. J.Immunol.Vol. 170, p.29622970, 2003. LAPPAS, C. M.; RIEGER, J. M. & LINDEN, J. A2A adenosine receptor induction inhibits IFN-gamma production in murine CD4+ T cells. J.Immunol. Vol.174, p.10731080, 2005. LAZAROWSKI, E. R.; BOUCHER, R. C.; HARDEN, T. K. Mechanisms of release of nucleotides and integration of their action as P2X- and P2Yreceptor activating molecules. Mol Pharmacol. 64(4), p.785–795, 2003. LAWRENCE, F.; ROBERT-GERO, M. Induction of heat shock and stress proteins in promastigotes of three Leishmania species. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 82: p.441417, 1985. LIEW, F.Y.; WEI, X. Q.; PROUDFOOT, L. Cytokines and nitric oxide as e¡ector molecules against parasitic infections. The Royal society 352, p.1311-1315, 1997. MAIOLI, T. U. et al. Immune response induced by New World Leishmania species in C57BL/6 mice. Parasitol Res, nº94, p. 207–212, 2004. 50 MALLA, N. & MAHAJAN, R. C. Pathophysiology of visceral leishmaniasis - some recent concepts. Indian J Med Res 123, p.267-274, 2006. MARESCA, B., CARRATU, L.The biology of the heat shock response in parasites. Parasitology Today 8, p.260–266, 1992. MARQUES-DA-SILVA, E. A. et al. Extracellular nucleotide metabolism in Leishmania: influence of adenosine in the establishment of infection. Microbes and Infection, Vol. 10, p. 850-857, 2008. MARR, J. J.; BERENS, R.L. & NELSON, D. J. Purine metabolism in Leishmania donovani and Leishmania braziliensis. Biochim.Biophys.Acta 544, p.360-371, 1978. MARR, J.J.; BERENS, R.L. & NELSON, D.J. Purine metabolism in Leishmania donovani and Leishmania braziliensis. Biochim.Biophys. 544, p.360-371, 1978. MEYER-FERNANDES, J. R. et al. Mg-Dependent Ecto-ATPase Activity in Leishmania tropica. Archives of Biochemistry and Biophysics, Vol. 341, nº 1, p.40–46, 1997. MEYER-FERNANDES, J. R. Ecto-ATPases in protozoa parasites: looking for a function. Parasitology International, 51, p. 299–303, 2002. MOSSER, D. M.; SPRINGER, T. A.; DIAMOND, M. S. Leishmania Promastigotes Require Opsonic Complement to Bind to the Human Leukocyte Integrin Mac1(CD11b/CD18). The Journal of Cell Biology, Vol. 116, nº2, p. 511-520, 1992. MUNKONDA, M. N. et al. Inhibition of human and mouse plasma membrane bound NTPDases by P2 receptor Antagonists. Biochemical Pharmacology. Rev.74. p. 1524 – 1534, 2007. NORTH, R. A. Molecular physiology of P2X receptors. Physiol Rev. 82. p.10131067, 2002. PANZER, U. et al. Compartment-specific expression andfunction of the chemokine IP-10/CXCL10 in a model of renal endothelialmicrovascular injury. J.Am.Soc.Nephrol. Vol.17. p. 454-464, 2006. 51 PERES-SAMPAIO, C. E. et al. Leishmania amazonensis: effects of heat shock on ecto-ATPase activity. Experimental parasitology, 119. p.135-143, 2008. PINHEIRO, C. M. et al. Induction of IL-10 and inhibition of experimental arthritis are specific features of microbial heat shock proteins that are absent for other evolutionarily conserved immunodominant proteins. J. Immunol 167, p.4147–4153, 2001. PITTA, M. G. R. et al. The Journal of Clinical Investigation, Vol.119, nº8, p.23792387, 2009. PLESNER, L. Ecto-ATPases: identities and functions. Int.Rev.Cytol. Vol.158, p.141214, 1995. RALEVIC ,V. & BURNSTOCK, G. Receptors for purines and pyrimidines. Pharmacol. Rev. 50, 413-492. 1998. RIBEIRO-DE-JESUS, A. et al. Cytokine profile and pathology in human leishmaniasis. Brazilian Journal of Medicall and Biologicall Research, nº 31, p. 143-148, 1998. RITTIG, M.G.; BOGDAN, C. Leishmania–Host-cell Interaction: Complexities and Alternative Views. Parasitology Today, Vol. 16, nº 7, 2000. SACKS, D.; NOBEN-TRAUTH, N. The Immunology of Susceptibility and Resistance to Leishmania major in Mice. Nature Reviews, Vol. 2, p. 845-858, 2002. SAHA, A. K. et al. Inhibition of Human Seminal Fluid and Leishmania donovani Phosphatases by Molybdate Heteropolyanions. The Journal of Biological Chemistry, Vol. 266, nº 6, p. 3511-3517, 1981. SAHA, S. et al. Immune responses in kala-azar. Indian J Med Res, nº123, p. 245266, 2006. RAMON, F. et al. Influence of Ecto-Nucleoside Triphosphate Diphosphohydrolase Activity on Trypanosoma cruzi Infectivity and Virulence. Neglected Tropical Disease, Vol.3, n.3, 2009. 52 SCHNURR, M. et al. Extracellular ATP and TNF-alpha synergize in the activation and maturation of human dendritic cells. J.Immunol. 165. p.4704-4709, 2000. SCHLESINGER, M. J.; ASHBURNER, M. P. & TISSIERES, A. Heat-Shock from Bacteria to Man (Cold Spring HarborLaboratory, Cold Spring Harbor, NY), 1982 SILVA, F. et al. Inflammatory Cell Infiltration and High Antibody Production in Balb/C Mice Caused by Natural Exposure to Lutzomyia longipalpis Bites. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, Vol. 72, nº 1, p. 94–98, 2005. SURPRENANT, A. et al. The cytolytic P2Z receptor for extracellular ATP identified as a P2X receptor (P2X7). Science 272. p.735-738, 1996. TASCA, T. et al. Characterization of an ecto-5'-nucleotidase (EC 3.1.3.5) activity in intact cells of Trichomonas vaginalis. Exp.Parasitol. 105, 167-173, 2003. TAUSSKY, H. H. and SCHORR, E. A microcolorimetric method for the determination of inorganic phosphorus. J.Biol.Chem.202.675-685, 1953. THALHOFER, C. J. et al. Leukocytes Infiltrate the Skin and Draining Lymph Nodes in Response to the Protozoan Leishmania infantum chagasi. Infection and Immunity. Vol. 79, nº 1, p.108-117, 2011. VAN BELLE, H. Kinetics and inhibition of alkaline phosphatases from canine tissues. Biochimica et Biophysica Acta 289, p.158–168, 1972. YEGUTKIN, G.G. Nucleotide- and nucleoside-converting ectoenzimes: Important modulators of purinergic signaling cascade. Biochimica et Biophysica acta.1783, 673-694, 2008. ZIMMERMANN, H. 5-Nucleotidase: molecular structure and functional aspects '. Biochem.J. 285, p.345-365, 1992. ZIMMERMANN, H. Extracellular metabolism of ATP and other nucleotides. Naunyn Schmiedebergs Arch.Pharmacol. 362. p.299-309, 2000. ZILBERSTEIN, D.; SHAPIRA, M. The role of ph and temperature in the development of Leishmania parasites. Annu. Rev. Microbiol. 48, p.449-70, 1994. 53 WILKIN, F. et al. The P2Y11 receptor mediates the ATP-induced maturation of human monocyte-derived dendritic cells. J.Immunol. 166, p.7172-7177, 2001.