Eduardo Augusto da Silva UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES EDUARDO AUGUSTO DA SILVA O palco! Comunicação por Ação Cultural e Marketing Cultural São Paulo 2005 E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 2 EDUARDO AUGUSTO DA SILVA O palco! Comunicação por Ação Cultural e Marketing Cultural Dissertação apresentada ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP), da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP), como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Comunicação. Linha de Pesquisa Comunicação Institucional – Políticas e Processos, sob a orientação da Profa. Dra. Mauren Leni de Roque. São Paulo 2005 E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 3 DEDICATÓRIA A minha família, com amor e gratidão pelo carinho, compreensão e apoio incondicional por mais este difícil e importante período de minha vida. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 4 AGRADECIMENTOS A minha orientadora Profa. Dra. Mauren L. Roque pelo seu apoio nos momentos difíceis e sua paciência em aturar as diversidades. A Profa.Dra. Margarida M. K. Kunsch pela minha oportunidade em contribuir nas suas aulas, no curso de Relações Públicas da ECA. Ao Prof. Dr. Mitsuru H. Yanaze, pelo sincero apoio, moral e estrutural, ao longo dos anos e um dos grandes responsáveis por minha trajetória. Ao Prof. Dr. Clóvis de Barros Filho em me mostrar o estudo da comunicação por uma perspectiva contagiante e desafiadora. Aos meus professores mestres, doutores e colegas do curso, alunos, meus amigos de casa em Sampa, aos velhos amigos que, mesmo de longe, torcem com fiel vigor, e a todos que de alguma forma contribuíram para que este trabalho se realizasse. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11 CAPÍTULO I – O TEMA ............................................................................... 1. Marketing, Comunicação e Relações Públicas ................................... 1.1 O escopo do Marketing .................................................................... 1.2 O campo da Comunicação .............................................................. 1.3 As funções das Relações Públicas ................................................ 15 15 16 20 23 CAPÍTULO II – O CENÁRIO ........................................................................ 2. O Mercado Cultural ................................................................................ 2.1 Breve entendimento sobre cultura ................................................ 2.2 A cultura como investimento social e manifestação de poder ... 2.3 Os atores do cenário cultural brasileiro ........................................ 2.4 Doações, Mecenato, Apoio e Patrocínio Cultural ......................... 26 26 28 31 40 50 CAPÍTULO III – O ROTEIRO ....................................................................... 3. Marketing Cultural e Comunicação por Ação cultural ........................ 3.1 Marketing Cultural: invariações do mesmo tema .......................... 3.2 Comunicação por Ação cultural...................................................... 3.3 A bandeira da Responsabilidade Social e o Balanço Social ........ 55 55 56 60 65 CAPÍTULO IV – O ESPETÁCULO .............................................................. 72 4. Relatório de Pesquisa – Análise de Estudos de Casos ...................... 72 4.1 Estudo de caso em Uberlândia – MG – 2000 ................................. 83 4.2 Estudo de caso em São Paulo – SP – 2005 .................................... 91 4.3 Análise comparativa dos dois estudos de casos .................. 117 CAPÍTULO V – OS APLAUSOS OU VAIAS?! ............................................ 5.1 Conclusões preliminares ................................................................. 5.2 Gestão Cultural e Projeto Cultural, para o Agente e o Artista ..... 5.3 Planejamento da Política Cultural para Organizações.................. 5.4 Limitações da Pesquisa e Sugestões para Futuros Estudos ...... 123 123 125 128 130 6. CRÉDITOS – Referências Bibliográficas .............................................. 131 E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 6 LISTAS Fig. 2.2 Alternativas de viabilização da cultura ............................................. 37 Fig. 2.4 Ações Institucionais e suas formas de atuação, segundo a legislação brasileira........................................................................................... 51 Quadro 2.3 - 20 maiores incentivadores nas Leis – Rouanet (8.313/91) e Audiovisual (8.685/93) em 2005 ....................................................................... 47 Quadro 3.3 – Formulário de Balanço Social ................................................... 69 Quadro 4.2 Representação esquemática dos itens pesquisados em Uberlândia ......................................................................................................... 89 Quadro 4.3 Representação esquemática dos itens pesquisados em São Paulo .................................................................................................................. 116 E-mail do autor: [email protected] 7 Eduardo Augusto da Silva RESUMO Os investimentos em cultura pelas organizações estranhas ao mundo das artes vêm se tornando um importante instrumento institucional para geração de posicionamento estratégico. Este instrumento foi adotado popularmente de Marketing Cultural. A promoção desses investimentos deveria ser corretamente denominada de Comunicação por Ação Cultural. Assim, tornou-se imperativo um estudo que contribuísse na conceituação e orientação das funções e estratégias que a Comunicação por Ação Cultural pode implicar e as estratégias inerentes ao Marketing Cultural. Como metodologia de pesquisa, utilizamos o estudo descritivo de caso para a avaliação do cenário cultural de Uberlândia – MG no ano de 2000 e São Paulo, no ano de 2005, através de entrevistas individuais em profundidade com representantes de organizações, agências de comunicação e de planejamento, instituto cultural e produtores culturais. Estes resultados foram comparativamente analisados. Os principais resultados deste trabalho indicaram que o termo Marketing Cultural, é visto como ferramenta de comunicação ou parte da estratégia de comunicação das empresas, que fazem uso, na sua maioria, do patrocínio de atividades culturais com o objetivo principal de geração de imagem positiva da marca. A filantropia está deixando de ser prática comum, no sentido de uma ação simples de responsabilidade social e dando lugar a ações estrategicamente formatadas e amplamente divulgadas para os diversos públicos da empresa. Dessa forma este estudo demonstra que a cultura virou negócio em que o benefício institucional passa a ser objetivo principal das organizações. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 8 ABSTRACT The culture investments made by companies there are not envolved in the arts have become a important institutional instrument for creation of estrategic positioning. This instrument was adopted popularly like Cultural Marketing. The pomotion this one must be correctly named of Communication for Cultural Action. Therefore, it became imperative a study that contributed in the concept and orientation of the functions and strategies that the Communication for Cultural Action can to imply and the strategies inherent to the Cultural Marketing. As a Research Methodology, it was used the descriptive study of case for the evaluation of the cultural scenary of the Uberlândia City, on 2000, and São Paulo City, on 2005, through individual interviews with representantes of companies, communications and of planning agencies, cultural institute and cultural producers. These results were comparatively analysed. The main results of this work has indicated that the term Cultural Marketing is seen as a tool of Communication of part of the Communication Strategy of the companies, which use, in the majority, the sponsorship of cultural activities as the principal objective of building up the positive image of eh brand. The philanthropy is not anymore a common practice in the sense of a simple action with social responsibility and it gives place to strategically formed actions and widely spread to the various publics of the press. Summing up this study demonstrates that the culture turned to a business in which the institutional benefits become the principal objctive of the organisations. E-mail do autor: [email protected] 9 Eduardo Augusto da Silva INTRODUÇÃO O campo das Relações Públicas vem sendo permeado por diversos profissionais de outras áreas que passaram a enxergar nas ações de relacionamento da organização com os diversos públicos uma ferramenta estratégica de competitividade. O apoio à cultura assume um dos papéis deste estreitamento das relações. Na retórica do marketing, o discurso da preocupação direta com outros públicos de interesse, além do consumidor, coincide com um momento em que a sociedade impõe posturas éticas e sociais. Por conseqüência da necessidade de sobrevivência no mercado, o apoio à cultura pelas empresas em eventos sociais vem se tornando uma ferramenta eficaz na busca de diferenciação competitiva, tendo como função principal a comunicação com os diversos públicos e o desenvolvimento de imagem positiva para a organização apoiadora. Essa ferramenta vem sendo confundida como Marketing Cultural, pois se o objetivo é se comunicar para estabelecer relacionamento aproximativo, tal apoio deve ser melhor denominado Comunicação por Ação cultural e, como tal, estar sob a tutela de profissionais de Relações Públicas. Este projeto é resultado de um trabalho de pesquisa que se iniciou em 1998, quando nos foram apresentados, pela primeira vez, os fundamentos de marketing cultural, através de uma revista nacional (Marketing Industrial), na qual havia um artigo de Yacoff Sarvovas, profissional que introduziu, desde 1986, o conceito de “Comunicação por Atitudes” (termo que será discutido na categoria 3.2 Comunicação por Ação Cultural). Assim, este projeto se justifica no sentido de dar forma mais adequada E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 10 aos termos Comunicação por Ação Cultural e Marketing Cultural, bem como oferecer material de apoio aos profissionais, pesquisadores, professores, agentes e produtores da área cultural. Nossa preocupação inicial foi de estudar as práticas contemporâneas de apoio à cultura, procurando diferenciar com a maior nitidez possível os dois campos – marketing e comunicação – tão ampla e genericamente confundidos. Eles têm uma série de elementos de convergência, mas também, oferecem cada um deles, seus próprios traços distintivos. Os seguintes procedimentos foram incluídos neste trabalho: • Identificar as terminologias utilizadas no cenário literário sobre Marketing Cultural; • Compreender a evolução das práticas mercadológicas e institucionais relacionadas às ações culturais; • Identificar a importância de ações de responsabilidade “cultural” no conjunto das estratégias de comunicação das empresas; e • Avaliar as práticas de Comunicação por Ação cultural e de Marketing Cultural a partir das leis federais, estaduais e regionais de incentivo à cultura. Cabe ressaltar aqui sobre a possível aplicabilidade deste estudo: • Para os empresários – material de apoio para o uso adequado das formas de comunicação institucional, na busca de diferenciação perante aos concorrentes, através da construção de uma Política Cultural. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva • 11 Para os agentes e produtores culturais – ampliação do horizonte sobre as possibilidades de profissionalização adequada e eficaz, na postura de um Gestor Cultural, através do uso do Marketing (de seu produto) Cultural. • Para os artistas – instrumento de conscientização quanto ao seu papel e às possibilidades de ampliação de seu trabalho para diversos públicos. • Para os profissionais de marketing – um instrumental com novas alternativas de comunicação para diversos interesses e adaptável aos objetivos específicos de cada organização. • Para os professores – um importante instrumento de análise para a atribuição coerente entre marketing e comunicação. • Para a sociedade em geral – portfólio para organização de eventos com caráter cultural, artístico e educacional. Este trabalho está estruturado em 5 capítulos, usando como referencial o desenvolvimento de um produto cultural como, por exemplo, uma peça de teatro, demonstrando o palco como o espaço onde todos os atores apresentam e representam seu papel. No primeiro é apresentado o “tema” em que se discutem as diferentes posições dos campos do Marketing, da Comunicação e das Relações Públicas quanto às ações institucionais na busca do estreitamento do relacionamento entre as organizações e o seu ambiente externo. No capítulo 2 aborda-se o “cenário” tendo como base um estudo histórico das diferentes utilizações da cultura pelos diversos componentes do mercado cultural. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 12 No “roteiro”, capítulo 3, uma discussão sobre as terminologias de Marketing Cultural utilizadas pelos diferentes pesquisadores, especialistas e profissionais, e a necessidade de adequação mais coerente com os seus propósitos, no momento em que “Comunicação por Ação cultural” é apresentada para assumir o sentido que a perspectiva das Relações Públicas lhe atribui. No capítulo 4, denominado “espetáculo”, apresentamos dois estudos de casos: um de Uberlândia – MG, realizado em 2000 e outro de São Paulo – SP, no segundo semestre de 2005, em foram analisadas as posturas dos atores culturais do cenário cultural respectivos de cada região pesquisada. Os “aplausos ou vaias”, no capítulo 5 das considerações finais, são os resultados encontrados a partir da comparação entre teoria e prática no mercado cultural. Indicam-se, também, ferramentas de auxílio para os agentes, produtores culturais e artistas para que assumam o papel de Gestores Culturais através das estratégias de Marketing (de seu produto) Cultural para a construção de Projetos Culturais, além de indicar para as organizações, que queiram ou já se envolvem com o meio cultural, o desenvolvimento de uma Política Cultural para o uso ético e social da cultura na busca de aproximação com a sociedade em geral. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 13 CAPÍTULO I – O TEMA 1. MARKETING, COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS O objetivo nesta seção é estabelecer alguns parâmetros entre as áreas de Marketing e Comunicação no âmbito das relações de mercado, justificadas pela constatação de que num sistema mercadológico, como o que estamos inseridos hoje, as funções das duas áreas estão sendo utilizadas como se fossem similares. Ainda neste capítulo são discutidos as funções de Relações Públicas e seu próprio campo de atuação, tendo como base as diferentes perspectivas quanto às formas de utilização das ações institucionais, especialmente das manifestações culturais, de apoio aos objetivos corporativos. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 14 1.1 O ESCOPO DO MARKETING Tornar possível o equilíbrio entre lucratividade, satisfação dos desejos dos consumidores e promoção do bem-estar social passou a ser o maior desafio das empresas nos tempos atuais. Esta nova realidade é resultado do desenvolvimento incessante do mercado, em que a evolução tecnológica proporcionou a equiparação, levando à padronização da oferta e à inexistência de diferencial entre as marcas concorrentes. Por sorte ou força das condições econômicas e competitivas e pressão do consumidor, as empresas sentiram a necessidade de se aproximar do seu cliente, de entendê-lo, de conhecer suas percepções dentro do organismo social no qual está inserido, o que concorreu para o estabelecimento de novos patamares de disputa de mercado. Em 1948, quando a American Marketing Association (AMA), uma associação profissional de marketing em nível internacional, esforçou-se para padronizar a terminologia aplicada ao marketing, em ração das diferentes conceituações que o mercado empregava, ela o fez definido-o como: “a realização de atividades de negócios dirigidas ao fluxo de bens e serviços do produtor ao consumidor ou usuário”. (NICKELS; WOOD, 1999, p.4). Em 1985, a própria AMA substituiu aquela definição por outra mais abrangente, entendendo quem os interesses organizacionais só alcançariam seu objetivo se levassem em conta os interesses individuais de seus públicos: “Marketing é o processo de planejamento e execução da concepção, da determinação de preço, promoção, e distribuição de idéias, bens e serviços para criar negociações que satisfaçam metas individuais e organizacionais”. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 15 (BOONE; KURTZ, 1998, p.6). Para Kotler (2000:30) a nova definição permanecia atribuindo ao marketing a ‘arte de vender produtos’. No seu entender, marketing tem um papel na sociedade, sendo “o processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros”. Na tentativa de estabelecer um componente mais social ao conceito de marketing, os pesquisadores, na sua maioria, sinalizam uma preocupação em entender a dinâmica das relações de mercado entre empresa e seus diversos públicos, percebendo um processo menos mecanicista – de troca entre as partes –, mais complexo e subjetivo. Um mecanismo que exige um registro mais preciso, visto que o discurso dos fundamentos de marketing não consegue articular. Na difícil tarefa de ampliar o significado do termo encontramos alguns especialistas. Dentre eles, os europeus Semenik e Bamossy (1995, p.16) entendem que “marketing é uma filosofia de negócios que estabelece que o propósito fundamental de um negócio é atender aos desejos e necessidades dos clientes”.Para Nickels e Wood (1999, p.4), esta atividade adquire um novo significado que leva em conta o relacionamento entre a organização e o meio no qual está inserida: “Marketing é o processo de estabelecer e manter relações de troca mutuamente benéficas com clientes e outros grupos de interesse”. Construir relacionamentos, e não apenas vender, passou a ser a atividade principal das organizações, de forma a construir, desenvolver e manter a carteira de clientes, para possibilitar a permanência da organização E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 16 num cenário mercadológico crescentemente inconstante. Christopher (2001, p.10-40) demonstra uma lista de fatores que geraram aquela natureza volátil do mercado: “a) clientes mais sofisticados e experientes; b) erosão da fidelidade à marca; c) redução da eficiência dos gastos com publicidade; d) pouca diferenciação na funcionalidade dos produtos; e) competição por preços.”E [percebe-se o aumento do poder do cliente com]:” a concentração do poder de compra; os clientes racionalizando sua base de fornecedores e; a extinção do mercado de massa “. Com a mudança do cenário, parece natural pensar em novas estratégias de marketing. Mas esta naturalidade esquece inconscientemente dos papéis de outras áreas em resolver essas novas demandas. Os especialistas passam a reconhecer o papel dos benefícios sociais que uma organização pode e deve oferecer, tal como expresso por Keegan (2005, p.3): “Nos anos 90 já estava claro que o ‘novo’ conceito de marketing estava ultrapassado e que a época exigia um conceito estratégico: o foco do marketing deixa de estar no cliente ou no produto e passa para o cliente em um ambiente externo mais amplo. (...) Uma conseqüência revolucionária da tendência ao conceito estratégico de marketing são os próprios objetivos de marketing, que deixam de ser os lucros e passam a ser os benefícios para os interessados ou stakeholders. Os interessados são indivíduos ou grupos que têm algum interesse na atividade de uma empresa, como funcionários, diretoria, acionistas, clientes e até a sociedade e o governo, para mencionar apenas os mais proeminentes”. Os autores supra citados sinalizam a amplitude e a imponderabilidade com que a sociedade, na forma de indivíduos isolados ou grupos, direta ou indiretamente relacionados com a organização, irão exercer pressão sobre ela. No entanto, aqueles fundamentos indicam um descuido que os especialistas dão à área de comunicação, especificamente à comunicação institucional, que tem exatamente a função de estabelecer relacionamentos entre a organização e seus diversos públicos de interesse. A emergência de uma nova Relações Públicas – aqui deve ser entendida tanto como surgimento quanto também de necessidade imediata, das reais tarefas da comunicação para dar conta deste novo cenário – se faz E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 17 mais clara e mais eficaz que a “filosofia” de marketing, a qual tenta ampliar sua responsabilidade gerencial. Os profissionais de comunicação, principalmente os de Relações Públicas têm, atualmente, o exercício de ratificar suas qualificações e garantir sua posição estratégica, através de uma filosofia que permita uma comunicação integrada aos objetivos mercadológicos. E-mail do autor: [email protected] 18 Eduardo Augusto da Silva 1.2 O CAMPO DA COMUNICAÇÃO Se o principal desafio das empresas é construir imagem positiva e garantir reputação perante os seus públicos como fator de diferencial competitivo, ações isoladas de comunicação não terão o efeito desejado e por vezes, apenas irão impor gastos sem o devido retorno. O princípio de que “o todo é maior que a soma das partes” se aplica nesta área, em que é primordial uma comunicação organizacional integrada para que a empresa possa atingir os seus objetivos. A realidade passada mostrava um ambiente empresarial com concorrentes domésticos e produtos poucos padronizados no mercado, em que os consumidores eram preponderantemente passivos. Naquela época, comunicação empresarial se limitava a repassar de informações sobre o que a empresa fazia, de forma unilateral. Para Nassar (2004, p.49), “esse tipo de gestão da comunicação peca[va] por relacionar-se com os inúmeros públicos organizacionais de forma mecanicista, tal qual o apontador nas fábricas se comunica com os trabalhadores. É uma relação assentada em ordens, em uma visão autoritária e hierarquizada que vê pequenos acionistas, trabalhadores, comunidade, sindicatos, consumidores e jornalistas, entre outros, como uma platéia, que preferencialmente deve ‘aplaudir’, endossar, tudo aquilo que a empresa faz.” Atualmente a comunicação passa a ser encarada como estratégica. O lucro deixa de ser o parâmetro único de eficácia e a postura ética e a responsabilidade social são assumidas como fatores-chave de sucesso. A comunicação da empresa com os seus diversos públicos - trabalhadores consumidores, sociedade, autoridades, governo e grupos de interesse - passa a fazer parte da oferta. A comunicação organizacional (e não exclusivamente o E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 19 Marketing) adquire sentido no planejamento estratégico com a organização. Disposta assim, a comunicação enfrenta desafios novos. Vemos, por exemplo, na argumentação de Bueno (2003, p.2), como as novas incumbências da comunicação empresarial ultrapassam as dimensões institucionais e mercadológicas de sua atuação: “... a comunicação empresarial (...) deve buscar atingir os objetivos globais da organização: desenvolver vantagem competitiva e imagem positiva para os diversos públicos. (...) Passa a ser fundamental então, a constituição de uma comunicação integrada, sem adiamento nem separação de suas atividades”. Na busca de definir fronteiras ou áreas de atuação para o profissional de comunicação, autores consagrados reconhecem a variação terminológica que a comunicação organizacional pode sofrer em função da expansão de suas incumbências. Um bom exemplo disso tem-se o que Torquato (2002, p.52-3) descreve para a área de comunicação social: “A área de comunicação social da organização (...) envolve as ações da comunicação coletiva ou de massa, por meio de jornais, revistas, rádio e televisão. (...) Os principais programas de comunicação social estão circunscritos às áreas de: jornalismo empresarial; assessoria de imprensa; relações públicas; articulação institucional e relações corporativas e lobby; marketing cultural e eventos; publicidade institucional e comercial/industrial; e editoração e identidade visual. (...) A terminologia pode mudar, de acordo com as visões de pesquisadores e profissionais, mas, na essência, são essas as áreas básicas da comunicação social”. (grifo nosso). E sua obra anterior, Idem (1986) sinalizava que a sociedade vinha pressionando as organizações quanto às suas posturas, exigindo uma comunicação adequada para saber de forma clara o que elas fazem em prol dos benefícios sociais, além da produção de produtos e serviços, geração de empregos e pagamentos de impostos. Demonstrados os argumentos dos autores supra citados, indica-se uma E-mail do autor: [email protected] 20 Eduardo Augusto da Silva dificuldade que os especialistas têm em separar os fundamentos de marketing dos de comunicação, os objetivos mercadológicos dos institucionais, somada ao fato não se ater às diferenças de “marketing cultural”, dentro do espectro de conceituação desse termo, como ferramenta de comunicação e não de marketing, corroborando com o pensamento comum. Deve-se ter em mente os objetivos globais da empresa e suas metas mercadológicas. Há todo um processo anterior de definição de onde chegar, quando, como, quanto, porque, quais as metas a serem alcançadas para, assim, definir os objetivos de comunicação. Ou seja, a definição dos objetivos, e da própria razão da organização passaram a ser determinadas pela necessidade, desejo e expectativas que os cidadãos, manifestadamente, entendem que a organização deve suprir. E-mail do autor: [email protected] latente e Eduardo Augusto da Silva 21 1.3 AS FUNÇÕES DAS RELAÇÕES PÚBLICAS A consciência de que profissionais têm importante papel no mundo organizacional contemporâneo tem ampliado os limites de atuação das Relações Públicas no mercado. Defendendo a tese de que grandes marcas corporativas da atualidade foram construídas com o uso de ferramentas de argumentação não comercial, Ries (2003, p.4) afirma que, “no futuro, os profissionais de relações públicas terão o papel preliminar no desenvolvimento da estratégia de marketing da marca e não mais os gerentes de propaganda ou agências de publicidade. Uma nova marca precisa ter boas relações públicas ou não alcançará o sucesso.” Na vanguarda da defesa da importância das Relações Públicas, Corrado (1994, p.42) já antecipava a necessidade de estabelecer o campo de atuação da área: “Não é fácil administrar as atividades de comunicações de uma organização. Há muitos públicos e muito trabalho por fazer. Se adicionarmos a isso a multiplicação de tecnologias e canais de comunicações, a tarefa passa a ser tremenda. Hoje, poucas organizações têm todas as atividades de comunicação centralizadas em apenas um departamento. Às vezes, temos os serviços de comunicação interna incorporados ao Departamento de Recursos Humanos, a comunicação externa ao Departamento Jurídico e as Relações Públicas em Marketing. Embora censurada pelos líderes do campo de relações públicas, essa situação atesta a crescente importância da profissão e a lentidão dos profissionais para se colocarem em dia com as novas realidades.” Entendendo que é preciso esclarecer os pontos de convergência e as diferenças entre Relações Públicas e Marketing, Kunsch (2003, p.95-6) demonstra que ambas as áreas exercem funções essenciais nas organizações, E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 22 porém cada uma tem tarefas distintas: “As relações públicas: identificam os públicos, suas reações, percepções e pensam em estratégias comunicacionais de relacionamentos de acordo com as demandas sociais e o ambiente organizacional; supervisionam e coordenam programas de comunicação com públicos; prevêem e gerenciam conflitos e crises que porventura passam as organizações. (...) O marketing visa atingir o mercado: baseia-se em modelos de competitividade para atingir objetivos econômicos; objetiva persuadir o público-alvo e satisfazer os clientes/consumidores; identifica e cria mercados para os produtos e serviços; coordena e supervisiona os programas de comunicação mercadológica para criar e manter os produtos e serviços”. Corroborando com esta posição, Yanaze (2004, p.56), indica que, “o apoio que relações públicas pode oferecer à empresa, para ela alcançar seus objetivos mercadológicos é efetivo na medida em que, por meio das atividades planejadas suas relações com os públicos sejam caracterizadas pelo mútuo entendimento e pela colaboração e os possíveis motivos de conflitos gerados nessas relações sejam minimizados e até resolvidos de forma adequada para ambos os lados. (...) Obviamente, o papel de relações públicas não se restringe apenas a administrar os conflitos entre a empresa e seus públicos. O planejamento e a consolidação de atividades que propiciam a aproximação e a interação entre as partes constituem-se também em objetivos de relações públicas.” O fator relacionamento como estratégia de Relações Públicas está em França (2004, p.3-9), quando ele diz que, “atua como técnica especializada de relacionamento, cujo objetivo principal é perceber as realidades da sociedade/organização, a obrigatoriedade de seus interrelacionamentos institucionais e mercadológicos, suas necessidades permanentes de comunicação e seus envolvimentos harmônicos ou controversos com a sociedade. Sua influência é exercida de forma efetiva no planejamento e na ordenação inteligente de diretrizes e ações em benefício, tanto das organizações como da sociedade, tendo como resultado final a conquista da aceitação e do apoio da opinião pública. (...) Pode-se afirmar a multivariedade das funções de relações públicas: estratégica, política, institucional, mercadológica, social, comunitária, cultural, etc.” As perspectivas acima demonstradas nos abrem os olhos para entender que as ações institucionais, especialmente através da cultura, visam estabelecer relacionamentos e não simplesmente a persuasão do público E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 23 consumidor. Por que se assim o fosse, por um lado, pouco sentido teria em diferenciar as atividades de Marketing das de Relações Públicas. Por outro lado, deve-se atentar pelo fato de que sempre haverá objetivos estratégicos definidos pela organização que irão determinar as formas de atuação das Relações Públicas além da sua aparente neutralidade em estabelecer relacionamentos com seus públicos como, por exemplo, a provocação da opinião pública sobre os eventos institucionais. Parés I Maicas (1994, p.27) já nos sinalizou neste sentido quanto ao uso das Relações Públicas relacionadas às causas originárias do mecenato (um dos fundamentos que iremos abordar adiante quanto às formas de Ações Institucionais): “Si las relaciones públicas se definen principalmente por la creación u organización de actividades o de acontecimientos que dan lugar a informaciones de actualidad aparentemente neutras – cuando, a menudo, no lo son, puesto que responden a determinados intereses – si, el mecenazgo cultural, con frecuencia, se configura por la generación de actividades o acontecimientos en este campo, pienso que puede afirmarse que aquél se sirve principalmente de las técnicas de las relaciones públicas y que, sin las mismas, resulta difícil concebirlo como realidad concreta.” (grifo nosso). No próximo capítulo demonstraremos que a atividade de apoio às artes e à cultura pelos diversos “atores” do cenário cultural não tem a ver com marketing (pessoal, político, corporativo etc), mas sim com as relações públicas e, portanto, com a comunicação. E, ainda que tenham objetivos institucionais, o uso das manifestações culturais busca criar uma “áurea” positiva nos relacionamentos para permitir o atingimento de metas estratégicas, políticas e sociais. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 24 CAPÍTULO II – O CENÁRIO 2. O MERCADO CULTURAL Neste capítulo aborda-se o “cenário”, tendo como base um perfil histórico das diferentes utilizações da cultura pelos diversos componentes do mercado cultural, como também, um diagnóstico desse mercado no Brasil. Discute-se a relação volúvel da arte, enquanto manifestação cultural, com o poder político, religioso e econômico em diferentes momentos da história. Introduz-se nesta seção a figura do mecenas, como ator social e tentase explicar os motivos que levaram ao surgimento e à constante relação do mecenas com o artista. O ator político, na figura do Estado e diferentes formas de governo, e sua relação com a arte, como facilitadora e provedora de manifestação de poder. A figura da Igreja, assumindo por diversas vezes como ator político e/ou mecenas em suas diversas intervenções na arte, no decorrer da história, também como manifestação de poder e de imposição de sua ideologia. E o surgimento de uma “nova” relação com a emergência do ator econômico nos novos tempos – o empresário e suas organizações –, que busca na arte a instalação e manutenção de legitimidade no decorrer da E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 25 história recente. Demonstra-se, neste capítulo, o artista como o “ator” central do mercado cultural e as suas dificuldades no estabelecimento de seu produto ou obra, além de se tentar demonstrar a perspectiva de uma nova postura para seu trabalho. Por fim, faz-se um diagnóstico do papel que estes atores – sociais, políticos, religiosos e econômicos – tiveram e têm no cenário cultural do Brasil. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 26 2.1 BREVE ENTENDIMENTO DO QUE É CULTURA Para se discutir o tema principal de nosso trabalho, devemos ter clara a definição do termo. A compreensão que se tem sobre Cultura determina a maneira de assumi-la, colocá-la e torná-la disponível para qualquer público a que se pretenda dirigir. Nessa direção Manet (1984, p.3) diz que cultura é informação, conhecimento e exercício de valores sociais dominantes ou desejáveis, hábitos e normas consagrados por práticas que identificam o modo de vida de uma comunidade. Para Malagodi e Cesnik (1999, p.19), cultura refere-se ao modo de vida de um povo, em toda sua extensão e complexidade e que se traduz nas formas de agir, sentir e pensar de uma coletividade que aprende, inova e renova o seu próprio modo de criar e fazer as coisas, numa dinâmica de constantes transformações. Coelho (1989) defende que cultura é o que move o indivíduo, o grupo, para longe da indiferença; é uma construção, que só pode proceder pela diferenciação. Seu oposto é a diluição. São exatamente as diferenças, os pontos incomuns, que determinam a preservação de uma cultura específica. Quando numa sociedade predomina o comum, a cultura e as diferenças se extinguirão. Trabalhar com cultura implica entendê-la como conceito ativo, que influencia e é influenciado pela sociedade. A cultura é vista, como um sistema de significações onde uma dada ordem social pode ser comunicada, reproduzida, vivenciada e estudada. Os produtos culturais se manifestam neste sistema de significações como forma de poder simbólico que pode ser E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 27 colocado a serviço da dominação ou da emancipação social. Para Nussbaumer (1997), parece estar justamente no poder simbólico dos produtos culturais o interesse da iniciativa privada em investir neste setor. Ao apostar no mecenato e no patrocínio, as organizações visam transferir para si o prestígio de determinados produtos culturais e buscar, através de associação direta ou indireta, legitimação junto à sociedade a qual pertencem. Se por um lado, o conceito de cultura implica em conhecimento ou produto de suma elaboração só acessível às elites, a oferta construída sobre essas bases atingirá pequenos grupos, provavelmente a elevados preços, como, por exemplo, visitas a museus, concertos de gala, óperas, balés e livros de autores eruditos. Por outro lado, se o conceito de cultura é entendido como algo de significativa essência artística, ficarão de fora, e, portanto não se oferecerão a seus públicos, produtos culturais não especificamente artísticos, vinculados mais diretamente ao cotidiano, ao estilo de vida e identidade de uma determinada comunidade ou país. Assim, a concepção que se tem sobre o produto cultural determina a maneira de comprá-lo e oferecê-lo ao mercado. De qualquer forma: “Embora os meios de comunicação, cada vez mais, tratem a cultura como sinônimo de entretenimento, e se perceba nas ações culturais e artísticas principalmente seu valor como fonte de distração e lazer, é preciso entender a cultura em seu sentido amplo, em seu real papel. A cultura é o elemento que garante a todos – criadores, artistas e platéias – o direito à celebração de sua identidade, à manifestação de sua sensibilidade e emoção, desenvolvendo, a um só tempo, o espírito crítico, a imaginação e o sentido de coletividade, num processo de conscientização, sociabilização e transformação social. Até porque, toda transformação social tem mesmo seu começo no interior de cada indivíduo. Num mundo cada vez mais fragmentado, violento e sem rumos definidos, nada poderia fazer mais sentido.” (CORRÊA, 2004, p.31) E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 28 Partindo-se desses conceitos de cultura abre-se uma outra perspectiva de como utilizá-la de forma atrativa ou eficiente para os públicos a eles oferecida. Assim, desde essa ótica, pode-se direcionar não só para pequenos segmentos de mercado, mas também para setores mais amplos; podem-se oferecer diferentes produtos culturais menos tradicionais dentro da oferta cultural como visitas a comunidades e produtos do seu cotidiano ou as mais sofisticadas manifestações culturais para diversos targets, desde que se faça um planejamento criterioso em que se destaquem os objetivos globais estrategicamente traçados. Pontos que serão discutidos mais detalhadamente nas próximas seções. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 29 2.2 A CULTURA COMO INVESTIMENTO SOCIAL E MANIFESTAÇÃO DE PODER “Quando uma empresa investe em cultura, está se beneficiando a si mesma”. D. Rockefeller Comecemos com uma pergunta: de quem é o principal papel no mercado cultural? Parece (ou parecia) ser do artista, aquele que concebe uma obra, que a princípio, pretende ser uma forma de expressão de atitude e/ou idéia materializada de sua produção intelectual, instância em que se inicia o processo de construção da arte como fomentadora de idéias, conceitos, visões, formas e valores. Porém, este papel presumidamente central do artista não significa, necessariamente, uma posição de independência e de liberdade do protagonista. O papel central, na verdade, se resume, na maior parte dos momentos, na capacidade técnica de se criar uma obra de arte. É o que a história demonstra. Com o desenvolvimento das civilizações as artes vão deixando de ser exclusivas dos artistas e poucos particulares que as possuíam ou as encomendavam, para se tornarem cada vez mais públicas e coletivas, como também, se aproximando do poder político e econômico. Segundo Alonso (2002, p.7), “Na antigüidade, quando se formaram os grandes impérios, a produção artística torna-se atribuição das elites políticas, fossem elas reis ou sacerdotes. Dos Jardins da Babilônia às pirâmides do Egito, inscreve-se numa história arquitetônica do poder. Desde então, poder e arte mantêm relações tão próximas que é difícil determinar onde começam e terminam seus limites.” Nesse período, o artista não recebe tratamento diferente de qualquer outro súdito e tido como artesão e servo real, visto que a arte constituía-se em E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 30 bem público e não era concebida como propriedade privada. Os gregos são os primeiros a pensar a arte como atividade abstrata, ao mesmo nível da filosofia e da matemática, mas o artista não criava para si, ou o resultado de seu trabalho não era uma manifestação particular. Nos mesmos moldes, no Império Romano a obra de arte continua preservando sua essência coletiva; os representantes do Senado e dos Conselhos das cidades desembolsavam altíssimas somas para financiar espetáculos e obras públicas para promover seu reconhecimento público. (ALONSO, 2002, p.8). Foi na Roma dos Augustos quando a expressão mecenato tomou corpo como referência às atividades desenvolvidas por Caius Cilnius Maecenas, ministro e fonte de inspiração do Imperador Caio Julio Augusto. Entre 74 a.c. e 8 d.c. Maecenas (ou Mecenas) articulou uma política de relacionamento entre o governo e os pensadores, filósofos e artistas e utilizou o prestígio e aceitação desses últimos como efeito multiplicador para o restante da sociedade romana. (ALMEIDA, 1993, p.17) Mecenas entendia que o poder necessitava cercar-se da criação artística e do pensamento para alcançar sua legitimidade. Formavam-se e mantinham-se então, círculos de eruditos em torno do ministro e do governo, servindo de intermediação das idéias e ações imperiais junto à população. Ao que se convencionou chamar “maneira grega de pensar o poder no coração do Império Romano”, Mecenas arquiteta um dos mais sutis e eficientes sistemas de legitimação do poder na história. (Ibid., p.18). Com a queda do Império Romano no século 5 d.C., a Igreja Católica Romana assume o papel de unificador social sob uma base espiritual para uma sociedade movida pelo conflito, passando a ser a principal patrocinadora da E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 31 arte. Segundo Alonso (2002, p.9), do fim da Antigüidade até os séculos XIII, XIV ou XV, dependendo do estágio de desenvolvimento de cada região européia – compreendendo então o que corresponde à Idade Média –, a Igreja Católica Romana assume papel preponderante na produção artística e cultural. Paralelamente às manifestações culturais oficializadas pelo patrocínio e controle das lideranças políticas e religiosas, com interesses próprios de busca da hegemonia, emerge uma arte não-oficial que, segundo Ibid.(p.10), “era realizada pelos jograis, menestréis e trovadores, influenciando e sendo influenciada pela arte clerical erudita, uma arte produzida de forma coletiva, na qual não existia o produto artístico transformado em mercadoria. (...) Uma arte laica, no sentido de que o deleite era plenamente identificado com o prazer obtido pela sua fruição. (...) Os nobres assistiam, participavam e financiavam espetáculos de malabarismos e teatros populares, divertiam-se com os bufões, levavam-nos para a corte, e o que viam e ouviam serviu de inspiração para que os senhores feudais letrados contassem a história de sua época.” O Renascimento significou a ruptura com a ordem medieval, quando as relações do homem deixaram se ser coletivas e passaram a ser individualizadas pela competição. (Ibid., p. 20) O sagrado perde sua força como tema da produção artística, para dar lugar a uma visão racionalista da ação humana, de domínio do homem sobre a natureza, impulsionada pelo patrocínio da burguesia que lutava por sua afirmação perante o clero e a nobreza. O mecenato atinge o seu apogeu na Europa Renascentista, entre os séculos XV e XVII, num movimento de revalorização das artes financiado por famílias burguesas e aristocráticas, e altos membros do clero da Áustria, França, Espanha e Itália que buscaram expressar poder junto à sociedade. (Ibid., p.12) A nobreza e clero também incentivavam produções artísticas como E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 32 forma de expressão de seu poder econômico e busca de poder político. Neste cenário de arte, poder e fortuna, a Itália desempenha um papel destacado dos demais países numa progressão patrimonial que, estrategicamente, confundia mecenato com ação pública, levando o entusiasmo do povo para ambos. Palácios e igrejas são erguidos como verdadeiras sínteses da criação artística, agrupando escultores, pintores, vitralistas e arquitetos em torno do mesmo projeto. (ALMEIDA, 1992, p.20-2). Paralelamente noutros países europeus, como a Inglaterra, Holanda e Alemanha, o século XVI é marcado pela Reforma protestante, que vai introduzir uma fragmentação no cristianismo. Isto alterou as condições de produção artística, cujo “ideal de austeridade somado à crença de que a idolatria era um resquício das práticas pagãs da Idade Média fez retirar quadros e esculturas de igrejas e casas. O artista foi, então, obrigado a se dedicar principalmente a ilustrações de livros e a produzir obras, em sua maioria retratos, paisagens e naturezas-mortas não mais realizados sob encomenda o que o afastava da esfera de poder e interferência do patrono e que preparavam terreno para uma nova relação de produção.” (ALONSO, 2002, p.:14). A formação de um mercado cultural naquela época ainda era incipiente, pois vai depender da mudança da estrutura econômica das nações por conseqüência da evolução das relações mercantis que vai se disseminar por todo o mundo, num processo que perdurará entre os séculos XVII e XVIII. Segundo Villar (1981, p.217-8 apud MARTÍN-BARBERO, 2003, p.139), “A Nação como mercado não será uma realidade até o momento de maturação do capitalismo industrial, pois foi durante os séculos de desenvolvimento do mercantilismo que se configurou o Estado moderno: aquele no qual a economia deixa de ser ‘doméstica’ e se converte em economia política, aquele que leva a cabo uma primeira unidade do mercado baseada na identificação dos interesses do Estado com o ‘interesse comum’ e cujo índice simbólico será a unidade monetária.” Neste período, entre os séculos XVII e XVIII, o Barroco tem a sua E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 33 ascensão pelo forte patrocínio da Igreja Romana, retomando novamente, o seu lugar de grande patrocinadora da arte. Mas com a Revolução Francesa, ainda no século XVIII, a estrutura política se altera, visto que o sentido de Nação é implantado sob a ideologia onde o povo é “posto” como lugar central e o conceito de Estado é a representação deste povo, com o povo e para o povo. Para Martín-Barbero (2003, p.141), “do plural dos povos à unidade do povo convertido em Nação, e integrado a partir da centralidade do poder, põe-se em marcha a inversão de sentido que tornará visível a cultura chamada popular no século XIX”. Neste ambiente, a arte torna-se um patrimônio público a serviço das necessidades dos cidadãos. Em Portugal do século XVIII, surge uma das figuras, considerada por muitos polêmica, que irá mudar os rumos do Brasil: Sebastião José de Carvalho e Melo, ou como é mais conhecido, o Marquês de Pombal, como autoridade máxima, abaixo do rei, entre 1750 a 1770. A época pombalina foi a primeira, depois do Renascimento, em que Portugal manteve um contato cultural constante e atualizado com o resto da Europa, recebendo assim a influência dos ideais iluministas. “Com uma determinação quase messiânica, Marquês de Pombal estava disposto a tirar seu país de uma suposta ‘Idade das Trevas’ e colocá-lo no caminho da modernidade iluminista de então”. (CORREIA, 2002, p.64-5). Assim seu apoio à cultura foi fundamental para as artes do Brasil colônia, pois financiou diversas obras de artistas, vistos como extensão dos valores que Portugal impunha. Seu papel era visto por muitos com a função de “homegeinizar” o pensamento luzitano que tentava empreender nos domínios E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 34 conquistados. No item 2.3. deste trabalho voltaremos a enfatizar o papel de Marques de Pombal na cultura brasileira. Do final de século XVIII e meados do século XIX o sistema capitalista se estabelece definitivamente na Europa e EUA, num processo em que o tempo baseado na circulação do dinheiro e das mercadorias vai se desembocar no tempo baseado na produção, transformando radicalmente as relações de trabalho em todas as esferas da sociedade. Neste cenário, a obra de arte, como quase tudo, transforma-se em mercadoria, ou seja, deve ter valor de uso para ter demanda e ser “consumida”. É no início do Século XX, nos Estados Unidos, quando se configura a atuação do capital privado no suporte à cultura. Almeida (1993, p.19) denomina esta relação de mecenato de capital. De acordo com este autor, o Estado (norte-americano) como papel secundário, mas facilitador através de benefícios fiscais, incentivava famílias emergentes a investirem na criação artística. Emigradas da Inglaterra fizeram fortunas ao investir seu capital em novas indústrias americanas e ficaram desejosas de aceitação e reconhecimento da comunidade: campo propício para o desenvolvimento das artes e da cultura daquele país. Sobrenomes como Rockefeller, Ford, Getty ou Carnegie, identificados com setores das finanças e da indústria, deram origem a estruturas como o Rockefeller Center, a Fundação Ford, o Museu Getty ou o Carnegie Hall. Mas até 1917, os estímulos fiscais provenientes do Estado norte-americano favoreciam o mecenato de indivíduos e não de empresas. Somente a partir dos anos de 1960, o mecenato de empresas, conhecido como sponsoring (patrocínio), adquire significação, com ajuste no código tributário, e perspectiva E-mail do autor: [email protected] 35 Eduardo Augusto da Silva de prosperidade econômica impulsionaram a participação das empresas no universo das subvenções. Há também uma preocupação institucional, o desejo de aproximação com a comunidade buscando “retocar uma imagem eventualmente comprometida”. (ALMEIDA, 1993, p.20). No mesmo período, no início do Séc. XX na França, o Estado é o grande fomentador de incentivo à cultura exercendo o papel intervencionista do governo nas questões sociais do país. O poder público tinha caráter onipresente no que diz respeito à criação artística, implantando planos de política cultural que incluíam a criação de casas de cultura, festivais de província e a reorganização de museus e teatros. Neste contexto, as ações da iniciativa privada para o meio artístico ficam retardadas até meados de 1985, quando novos mecanismos de isenção fiscal são introduzidos na legislação francesa. (Ibid., p.21-2) Nos tempos atuais no mundo todo, especialmente no Brasil, as condições de produção artística adquirem os mesmos moldes que qualquer outro produto oferecido ao mercado. A figura 2.2 abaixo apresenta quatro possíveis linhas de recursos financeiros em que o artista pode recorrer. Cabe a ele analisar as fontes de financiamento que permitem seu acesso aos meios de produção e assim, viabilizar seu projeto cultural. Receita Direta Ator Social Artista ou Produtor Ator Político Ator Econômico Fig. 2.2 Alternativas de viabilização da cultura. Como o artista, na maioria das vezes, depende de recursos financeiros E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 36 para que sua obra atinja o público desejado, o primeiro passo para sua consolidação implica na constituição de um público numeroso que deseje sua obra, que forme uma demanda suficientemente necessária para que ele dependa menos do demais agentes: social (mecenas), político (governo e órgãos públicos), religioso ou econômico (empresariado). Estes também serão explorados mais detalhadamente no item 2.3 do trabalho. Quando se consolida este público, em virtude, na maioria dos casos, da descoberta de seu talento artístico e da qualidade da sua obra, o artista tornase popular no meio onde está inserido, legitimado por determinação do próprio público. Assim se constitui o capital simbólico que permite a autonomia do campo cultural. No entanto, o artista passa por um dilema: ao mesmo tempo em que, por um lado, pretende que a sua obra seja o símbolo da libertação de padrões pré-estabelecidos pelo sistema, portanto contra a ordem de mercado, de consumo, do modismo, do status quo, por outro lado, necessita da própria lógica e dinâmica das leis do mercado: dos meios de produção, nos quais se permite a construção da própria obra para atender a sua demanda e dos meios de divulgação, que lhe permitirão tornar pública a sua existência. Fica, portanto, dependente da lógica da cultura de mercado, ou seja, do capital econômico. O artista – “proprietário” do produto cultural – muitas vezes não dispõe de recursos necessários para colocar sua obra à disposição do público adequado, no local adequado e nas condições apropriadas para mantê-lo no mercado cultural. Diga-se “muitas vezes”, visto que há quem defenda que o campo cultural detém uma relativa autonomia, como Herscovici (1995, p.61): E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 37 “(...) é possível observar que a autonomização do campo cultural criou suas próprias leis de funcionamento. As influências externas são obrigatoriamente mediatizadas e retranscritas pela lógica específica do campo. Isto explica a autonomia relativa do campo e dos atores que nele intervêm (...)”. Na realidade, dadas as condições do cenário cultural, o artista necessita ter acesso às alternativas de viabilização de seus empreendimentos culturais, ou seja, ao capital econômico disponível no mercado ao financiamento e promoção da cultura. Este fato revela certa imposição de limites para a produção artística, chegando a situações extremas de projetos culturais moldados de acordo com objetivos negociais ou políticos de quem os financiam. A necessidade de recursos de terceiros torna o artista dependente e limitado, podendo caracterizar uma mercantilização da sua obra na busca de sobrevivência. A constituição de um mercado se estabelece quando há vendedores e compradores. Portanto, não existe mercado cultural sem o produto cultural préconcebido. E esse não existe sem um mercado que o absorva, muitas vezes feito exatamente nos moldes do “público-alvo” inserido naquele referido mercado. Este fator coloca em cheque a relativa autonomia do campo cultural. A existência do produto cultural implica na existência de produção cultural e, portanto, nos moldes da cultura de mercado, uma “indústria cultural”. E quando esta efetivamente se estabelece no cenário, vemos um mercado concentrado nas mãos de poucos agentes, principalmente dos meios de comunicação, em que a cultura é objeto e sujeito da mediação. (MARTÍNBARBERO, 2003). E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 38 2.3 OS ATORES DO CENÁRIO CULTURAL NO BRASIL “Quem não tem público não tem patrocínio”. Leonardo Brant (2001:43) Nos primeiros 300 anos do Brasil colonial, a produção cultural, embora significativa em termos estéticos, tem uma tímida atuação na realidade brasileira. Um dos fatores desta incipiente produção vem da proibição que Portugal impõe principalmente no que dizia respeito à impressão de qualquer obra ou livro. Coligado à Igreja Católica da época este movimento reflete o momento crítico em que a Europa passava em função das regras rígidas que a Inquisição impunha, estabelecendo o que deveria ser divulgado e o que deveria ser reservado, ou até mesmo, queimado. Além mar, a proibição de qualquer tipo de arte, que não fosse a pré-estabelecida por Portugal, era uma forma de controle eclesiástico para permitir a disseminação dos fundamentos cristãos numa terra de pessoas iletradas e de selvagens. (CORREIA, 2002, p. 87-8). Assim, segundo a autora, a igreja, através de suas cruzadas para catequizar os índios e tentar exterminar sua cultura mítica, construiu igrejas e seminários para complementar sua empreitada. Mas este movimento não poderia ser considerado uma forma de mecenato, porque não constituía apoio à cultura. As poucas exceções, nos longos primeiros 300 anos de Brasil quanto à produção cultural, vão acontecer a partir do século XVII, com a descoberta do ouro, como relata Ibid. (p.86): “O extrativismo mineral de Minas Gerais, Goiás e Bahia seria então a exceção neste sombrio panorama colonial. Este subsidiou, embora de forma aleatória e por interesses puramente pessoais, os exemplares de um Barroco que, embora fortemente calcado num modelo europeu, encontrou de alguma forma seus caminhos”. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 39 As obras de Aleijadinho, os sermões de Vieira e a poesia de Cláudio Manoel da Costa são vistos como exceções à regra, enquanto a América Hispânica vivia um Renascimento, semelhante ao que ocorreu na Europa pósmedieval, com a criação de universidades, bibliotecas públicas, teatros nacionais, jornais com periodicidade e tiragem delimitadas e livros. (CORREIA, 2002, p.87-8). Foi no século XVIII que as influências de Marquês de Pombal tiveram seu maior impacto na maior colônia de Portugal. Na sua administração ele tratou de extinguir o regime de capitanias hereditárias para unificar a colônia, acabando com o poder dos donatários, dividindo o Brasil em apenas dois Estados: do Maranhão e do Brasil; transferiu a capital da colônia, Salvador, para o Rio de Janeiro para administrar mais próximo à economia mineira e, ainda, proibiu que se falasse qualquer outro dialeto ou língua que não fosse o português, tirando a oportunidade da colônia de ser, no futuro, um país bilíngüe. Como mecenas, Pombal patrocinou a edição em Portugal de inúmeros livros, incluindo as sete publicações do autor brasileiro Basílio da Gama. Segundo Correia (2002, p.69), “Deve-se reconhecer que a atuação do Marquês de Pombal foge um pouco do clássico papel de mecenas. Embora desejoso de capitalizar e passar à posteridade, através de inúmeros sonetos poemas e outras peças literárias que bancou, o nosso Marquês pensava na arte como mais uma de suas ”empresas estatais”. Em meados do século XVIII, por conta de Napoleão Bonaparte de fazer correr em retirada a Coroa Portuguesa para o Brasil colônia, o rei D. João VI, aqui estabelecido, imprime os primeiros fundamentos de mecenato e, portanto, insere-se como o primeiro ator social (cultural) efetivamente, que o país experimentou. Como conseqüência, criou importantes instituições: a Impressão E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 40 Régia (ocupada em publicar as decisões governamentais), a Biblioteca Nacional e o Jardim Botânico são alguns destes exemplos. O monarca português manda vir da Europa diversos tipos de profissionais, principalmente da França, trazendo novas concepções de arte e estética. Compondo este movimento de importação do modo de vida europeu, a monarquia inaugura museus, escolas, academias militar e de belas-artes, teatros e observatórios. A abdicação de D. Pedro I e a coroação de D. Pedro II estabeleceram um novo impulso nas artes. Apreciador das “modernidades”, como o telégrafo, a arte fotográfica e o telefone, D Pedro II financiou, por seu “próprio” bolso e vinculou ao Ministério do Império, a Academia Imperial de Belas Artes; patrocinou por um bom tempo o autor da ópera “O Guarani”, o músico Carlos Gomes e procurou também distribuir sua generosidade da forma mais ampla possível entre as artes as ciências, etc. (CORREIA, 2002, p.95-100). “O Brasil é um país sem tradição de mecenato”, diz Almeida (1993, p.56). Segundo ele, o Brasil só experimentou algum movimento nesse sentido basicamente em dois momentos: na Era Vargas, década de 30, quando o Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema e seu Chefe de Gabinete, Carlos Drummond de Andrade, na busca de gerar prestígio e legitimação ao nacionalismo pregado na época, reúnem artistas e intelectuais como VillaLobos, Cecília Meireles e Cândido Portinari. Este último teve no início de sua carreira um mecenas particular de grande renome: Olegário Mariano (membro da Academia Brasileira de Letras). Dos anos 1930 a 1950, a política de substituição das importações sob o mote de desenvolvimento sustentado e da constituição de “nação”, convocou o E-mail do autor: [email protected] 41 Eduardo Augusto da Silva povo a se unir sob a batuta de um Estado totalitário. E o populismo como condutor desta política. Segundo Garcia (1994): “No Brasil, Getúlio Vargas foi um dos que mais se preocuparam com a forma do ambiente urbano como instrumento de confirmação das suas idéias. A eficiência e modernidade de suas medidas eram sugeridas através de inúmeras construções que indicavam um governo organizado e empreendedor. A idéia do seu carisma e de sua personalidade forte era reforçada através das suas fotografias, obrigatoriamente afixadas em todas as escolas, fábricas, repartições públicas, bares e restaurantes, vagões de trens. Sua efígie estava nas moedas, selos, placas comemorativas e de inauguração. Bustos de bronze foram erigidos em diversos locais. Seu nome foi atribuído a inúmeras ruas e logradouros públicos. Sua imagem, dessa forma, impregnava todos os lugares e ambientes durante todo o tempo”. A comunicação, como apoio aos governos deste período, se estabeleceu através de meios e mensagens de cunho massivo e a cultura era vista como o deleite da elite tendo, portanto, pouca expressão e atenção às perspectivas do restante da população brasileira. Dado o fato de que a comunicação depende, cada vez mais, de aparelhagem sofisticada e bastante cara, torna-se inevitável que os meios sejam controlados por pessoas e grupos da classe economicamente mais forte. Ele os utilizam exclusivamente para a difusão das idéias e opiniões que lhes são favoráveis, não permitindo que se propaguem ideologias contrárias ou fatos que contestem seus interesses. (Ibid., 1994). Nos anos 1960 e 1970, o modelo do populismo não consegue sustentar a perda de hegemonia visto que o Estado perde seu papel de principal condutor e provedor das necessidades da população. O imperialismo dos EUA impõe um modelo de consumismo e a perda de identidade nacional. As diferenças culturais são achatadas ou escamoteadas, para permitir que a produção em massa encontrasse nações com as necessidades homogeneizadas: o consumo em massa. (MARTÍN-BARBERO, 2003). E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 42 Para tentar conter as diferentes necessidades advindas historicamente da formação das classes populares, o Estado usa a cultura como um instrumento de dominação. A comunicação ganha aspectos de espetáculo, onde as massas ficam “hipnotizadas” de forma a se esquecerem de suas necessidades especificas. Assim a sociedade de massa vira “sociedade do espetáculo”, para deixar de ser um espaço onde se “situa” as diversidades, as possibilidades de conflito – este anestesiado ou exigindo ações para controlá-lo, colocando o desafio constante ao Estado que, na busca de sua legitimidade, faz uso da cultura como instrumento para legitimação. A ponto de gerar, como conseqüência, uma sociedade “desinteressada”, porque amortizada, das questões gerais do sistema. O segundo momento significativo de apoio às artes, no Brasil do séc. XX, se caracterizou, segundo Almeida (1993, p.25), por ações isoladas no Governo Geisel, fins dos anos 1970, que liberou altas verbas para criação e manutenção de agências de fomento à produção artística, como a Funarte e a Embrafilme, além de institutos específicos, dando início a uma lenta reaproximação do governo com as artes, acelerada pelo fim da censura na gestão seguinte. A partir de 1985, com a aprovação das leis de incentivos à cultura permitindo a dedução de impostos para as organizações brasileiras, o governo gerou relevante relação com a arte, potencializando a captação e execução de projetos importantes, e as empresas, públicas e privadas, se projetando enquanto financiadoras da arte brasileira. Na Gestão Sarney cria-se o Ministério da Cultura e elabora-se a lei de incentivos fiscais (Lei Sarney). Este E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 43 processo é interrompido no governo Collor, quando o presidente extingue o ministério e a lei Sarney. Sérgio Paulo Rouanet é nomeado para o cargo de Secretário de Cultura e os incentivos fiscais são restabelecidos com uma nova roupagem. Porém com o impedimento de Collor e ascensão de Itamar Franco a realidade da economia com hiperinflação obriga o novo governo a rever os recursos públicos para outras prioridades em detrimento da área cultural. A partir dos anos 1990, a atuação do Estado brasileiro se resume na disposição de leis de incentivo à cultura. As leis de apoio às atividades culturais no país são várias e se distribuem nas esferas federal, estadual e municipal. A mais significativa dentre elas é a Lei Federal de Incentivo à Cultura 8.313/91, de 23 de dezembro de 1991 – antiga lei Sarney, conhecida a partir de então como Lei Rouanet, alterada por vários decretos e pela Lei 9874, de 23 de novembro de 1999 – e a Lei do Audiovisual. Alguns aspectos contemplados pela Lei Rouanet: ¾ Empresas ou pessoas que fornecerem patrocínios e projetos culturais poderão abater, ainda que parcialmente, os benefícios concedidos do Imposto de Renda devido da seguinte forma: no caso de pessoas físicas, 80% das doações e 60% dos patrocínios; no caso de pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, 40% das doações e 30% dos patrocínios. ¾ A lei se aplica a pessoas físicas, jurídicas, ONG’s e órgãos públicos. ¾ Os projetos devem se inserir em segmentos artístico – culturais como: teatro, dança, literatura, música, cinema, rádio e televisão ( desde que de caráter não comercial), artes plásticas, patrimônio cultural etc. ¾ O projeto deve trazer benefícios para a população de forma a democratizar o acesso a bens culturais, através de mecanismos que facilitem este acesso tais como: ingressos a preços populares ou entradas gratuitas em espetáculos, distribuição de livros para bibliotecas, exposições de artes abertas, etc. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 44 ¾ O valor total a ser abatido do imposto devido não pode ultrapassar a 4% do valor total no caso das pessoas jurídicas, percentual que se eleva a 6% no caso das pessoas físicas. ¾ O abatimento do valor integral, até os tetos estabelecidos em relação ao imposto devido só é permitido para projetos nas áreas de artes cênicas; livros de valor artístico, literário ou humanístico; música erudita ou instrumental; circulação de exposições de artes plásticas e doação de acervos para bibliotecas públicas e para museus. Neste caso, no entanto, é vedado, às pessoas jurídicas com fins lucrativos, a dedução do valor da doação ou patrocínio como despesa operacional. ¾ O patrocinador poderá, em alguns casos, obter retorno em produto (livros, discos, gravuras, CD-Rom´s, etc.) para utilização como brinde ou para obtenção de mídia espontânea, limitado a 25% do total produzido, destinado à distribuição gratuita. Alguns aspectos contemplados pela Lei do Audiovisual: ¾ Mecanismo específico de incentivo fiscal para a atividade audiovisual. Um projeto audiovisual pode, assim, beneficiar-se dos dois mecanismos concomitantemente (Rouanet e Audiovisual), desde que para financiar despesas distintas. ¾ Podem também receber os benefícios da Lei projetos de exibição, distribuição e infra-estrutura técnica, específicos da área audiovisual, sendo vedada, entretanto, a aquisição, reforma ou construção de imóveis. ¾ Poderão ser deduzidos do imposto de renda os investimentos realizados na produção de obras audiovisuais cinematográficas brasileiras de produção independente. ¾ A dedução está limitada a 3% do imposto devido, tanto para pessoas físicas como para pessoas jurídicas. As pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real poderão, ainda, abater o total dos investimentos efetuados como despesa operacional, com resultados positivos na redução do imposto devido. ¾ O investidor poderá abater até 70% do imposto incidente na remessa de lucros e dividendos decorrentes da exploração de obras audiovisuais estrangeiras no território nacional, desde que os recursos sejam investidos na co-produção de obras audiovisuais cinematográficas brasileiras de produção independente, em projetos previamente aprovados pelo Ministério da Cultura. E-mail do autor: [email protected] 45 Eduardo Augusto da Silva ¾ Os projetos devem, necessariamente, atender aos seguintes requisitos: contrapartida de recursos próprios ou de terceiros correspondente a vinte por cento do valor global; limite máximo de captação de 3 milhões de reais; viabilidade técnica e artística; viabilidade comercial; aprovação do orçamento e do cronograma físico das etapas de realização e desembolso, fixado o prazo de conclusão. ¾ É vedado o apoio a projetos de natureza publicitária. O principal financiador da arte brasileira, neste início do século XXI Brasil, continua sendo o Estado, seja diretamente por investimentos em projetos públicos diversos ou através de suas empresas estatais, seja por renúncia fiscal. Veja quadro 2.3 abaixo: Incentivador Quadro 2.3 - 20 maiores incentivadores nas Leis – Rouanet (8.313/91) e Audiovisual (8.685/93) em 2005 Valor do apoio Petróleo Brasileiro S. A - PETROBRAS 60.345.276,63 Banco do Brasil S.A 15.833.804,80 Gerdau Aço Minas S.A 12.521.181,45 Centrais Elétricas Brasileiras S. A - ELETROBRÁS 8.285.983,42 Companhia Vale do Rio Doce 6.554.565,06 BR Distribuidora S.A 5.651.717,68 Companhia Siderúrgica Nacional 3.859.276,00 Souza Cruz S.A 3.565.737,71 Cia Brasileira de Distribuição - CBD 3.524.996,20 Companhia Siderúrgica Paulista - COSIPA 3.451.632,66 Banco Nacional de Desenv. Econômico e Social - BNDES 3.124.570,65 Telecomunicações de São Paulo S.A - TELESP 2.885.000,00 Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais 2.826.347,30 Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos 2.598.000,00 Bradesco Previdência e Seguros S.A. 2.526.107,25 Banco do Estado do Paraná 2.500.000,00 BankBoston Banco Múltiplo S.A. 2.473.894,75 Copesul Petroquímica do Sul S/A 2.414.958,00 ELETROPAULO - Eletricidade de São Paulo S.A. 2.406.203,06 Itaú Previdência e Seguros S.A 2.250.000,00 Fonte: Site do MinC: www.cultura.gov.br, atualizado em 22/10/2005 E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 46 Entre as 20 maiores empresas doadoras de recursos em 2005 pelas leis Rouanet e do Audiovisual, veja quadro abaixo, estão nos primeiros lugares a Petrobrás, Banco do Brasil, Eletrobrás, BR Distribuidora, BNDES e Correios. Esta lista demonstra uma contradição entre o público e o privado, onde as maiores adesões estão nas empresas públicas mais comprometidas com o desenvolvimento da cultura. Mesmo com o benefício da dedução de impostos, a iniciativa privada ainda investe pouco e, muitas vezes como os bancos privados, em fundações culturais das próprias corporações. Isto significa que, ainda que nas leis de incentivo haja exigências que as empresas apoiadoras disponibilizem uma parcela de recursos próprios para garantir relativa co-responsabilidade na qualidade dos projetos, o governo ainda é o grande financiador da cultura no Brasil, visto que direciona os recursos oriundos da renuncia fiscal para o fomento a arte. Mas, ainda como grande financiador da cultura no Brasil, o Estado no seu papel de ator político cultural vem demonstrando pouca contribuição para o equilíbrio no mercado cultural visto sua clara associação com as grandes empresas. Especificamente no caso do Brasil, quanto ao quesito incentivo fiscal em favor da cultura, há um apoio desproporcional dos projetos aprovados de “autoria” das grandes empresas. A discussão sobre as leis de incentivo é polêmica e vários setores da população brasileira vêm argumentando a sua aplicabilidade, benefícios e distorções. Brant (200, p.58-9) é um dos profissionais do mercado cultural que faz um importante apontamento: “A política de incentivos culturais no Brasil (depois 10 anos de vigência da Lei Rouanet) continua discriminando e priorizando categorias artísticas para efeito da concessão de recursos públicos, estabelecendo assim critérios com viés elitista. (...) As E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 47 leis de incentivo à cultura na prática beneficiam poucos, fora grandes empresas patrocinadoras e alguns artistas consagrados. Aqueles que a rigor não necessitariam tanto de incentivo”. Assim, os atores econômicos - as organizações públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, mas estranhas ao mundo das artes - passam a se manifestar com maior envergadura a partir dos anos 1990, exatamente quando as leis de incentivo adquirem importância maior para o governo na tentativa de fomentar o mercado cultural brasileiro. Yacoff Sarcovas (2004), diretor da Articultura – agência pioneira no planejamento estratégico de patrocínios e idealizadora do conceito de comunicação por atitude –, faz outro alerta quanto a este aspecto: “No reino da fantasia do incentivo fiscal com dedução integral, não é necessário enfrentar o mundo real. Numa transação feita exclusivamente com dinheiro público, um finge que foi patrocinado, e o outro, que é patrocinador; um finge que é financiado, e o outro, que é investidor. Isso mantém a área cultural no jardim da infância do mercado, retardando seu amadurecimento e sua sustentabilidade. O fim do anabolizante fiscal revelaria a verdadeira dimensão econômica do patrocínio cultural no Brasil”. As diversas intervenções na cultura, no Brasil, por parte das empresas, por qualquer que seja o seu interesse nisso, ainda gera confusão em se diferenciar o que seja mecenato, doação, patrocínio e apoio cultural. O próximo item tentará definir adequadamente estas formas de incentivo a cultural. E também, discutiremos outros pontos que as leis de incentivo define para o uso de suas atribuições por parte das organizações que tenham interesse no investimento à cultura e que exercem algumas distorções quanto a sua utilização. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 48 2.4 DOAÇÕES, MECENATO, APOIO E PATROCÍNIO CULTURAL Sob a ótica empresarial ocorre uma contradição dos termos, no que diz respeito às ações voltadas para área institucional, particularmente para a cultural. No contexto brasileiro, estas definições são corroboradas pela legislação de incentivos fiscais à cultura, que faz a diferenciação com base no modo de exploração. Conforme a formulação da Lei Rouanet e das Leis Estaduais de Incentivo à Cultura, entende-se por: • Doação: transferência gratuita, em caráter definitivo, à pessoa física ou pessoa jurídica de natureza cultural sem fins lucrativos, de numerário, bens ou serviços para a realização de projetos culturais, vedado o uso de publicidade paga para a divulgação de ato;1 • Mecenato: a proteção e o estímulo das atividades culturais e artísticas por parte de incentivadores;2 • Patrocínio: a) Transferência gratuita, em caráter definitivo, à pessoa física ou jurídica de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos, de numerário para a realização de projetos culturais com finalidade promocional e institucional de publicidade; b) Cobertura de gastos ou utilização de bens móveis ou imóveis, do patrimônio do patrocinador, sem a transferência de domínio, para a realização de projetos culturais por pessoa física ou jurídica de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos. Este item é mais conhecido como Apoio.3 _____________________ 1) www.minc.gov.br/projs/vmvc/cg1.htm; acessado em 10/11/2005 2) www.min-cultura.pt/Destaque/MecenatoCnt.html; acessado em 10/11/2005 3) www.minc.gov.br/projs/projsb.htm; acessado em 10/11/2005 E-mail do autor: [email protected] 49 Eduardo Augusto da Silva Na figura 2.4 podemos perceber a diferença quanto às ações institucionais, definidas de acordo com os interesses da organização que as pratica. AÇÕES INSTITUCIONAIS FILANTROPIA DOAÇÕES qualquer área , exceto cultural MECENATO apenas na área cultural. Incluem-se aqui PATROCÍNIO CULTURAL e demais áreas APOIO cobertura de gastos em todas as áreas Fundações Fig. 2.4 Ações Institucionais e suas formas de atuação, segundo a legislação brasileira. A filantropia se diferencia do patrocínio quando a organização, que participa da vida da comunidade onde atua, não tem como objetivo primário divulgação/promoção – aqui entendida especificamente de propaganda - das ações culturais. O mecenato é uma versão de filantropia, mas que se aplica apenas na área cultural. O patrocínio se constitui, na medida em que a empresa busca atingir seus públicos, sejam eles consumidores ou formadores de opinião, através da divulgação clara e direta de suas ações institucionais. O apoio é um tipo de patrocínio com a diferença de que não há transferência de valores ou bens. Por exemplo: uma companhia de transporte aéreo que contribui com passagens de avião para um elenco de teatro, ou um hotel que hospeda este mesmo elenco, com o direito de ter nas peças de divulgação do evento a sua marca como apoiadora. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 50 O patrocínio cultural no Brasil, tem se tornado atrativo às empresas porque: 1) gera eventos; 2) gera produtos culturais que podem ser distribuídos a clientes como brindes e cortesias, por exemplo: livros, catálogos, fitas de vídeo, cd´s etc); 3) proporciona visibilidade; 4) estreita o relacionamento entre o patrocinador e a causa social; 5) reforça percepção da marca comprometida com a comunidade e com os consumidores. (BRANT, 2001, p.24). Como referência, a perspectiva americana sobre filantropia merece destaque através da visão de um dos mais renomados pesquisadores sobre estratégia, Michael E. Porter, que nos leva a uma outra dimensão do tema, mas não necessariamente a ser seguida no Brasil, quanto às iniciativas privadas neste campo. Para Porter e Kramer (2002, p.43) a filantropia é vista sob a forma de relações públicas ou publicidade, com o objetivo de promover a imagem ou marca da empresa através do ‘marketing social’ ou de patrocínios que gerem grande visibilidade. E ainda: “Poucas expressões são tão recorrentes e mal definidas como ‘filantropia estratégica’. O termo é usado em alusão a praticamente todo tipo de atividade filantrópica dotada de algum tema, meta, abordagem ou foco definível. (...) O marketing social, em que uma empresa concentra as suas doações numa única causa ou em alguma organização simpática ao público, foi uma das primeiras práticas rotuladas como ‘filantropia estratégica’ e está um degrau acima das contribuições empresariais esparsas.” (Ibid., p.44). Dessa forma entende-se que a iniciativa privada, no que tange às doações ou mesmo ao patrocínio, é vista como estratégia na busca de melhorar o contexto competitivo da organização – a qualidade do ambiente de negócios no local, ou locais, em que opera. Ou seja, utilizar a filantropia estratégica significa alinhar as metas sociais e econômicas e melhora as perspectivas comerciais de longo prazo da empresa. Mas esta melhoria, segundo estes autores, poderia perfeitamente ser E-mail do autor: [email protected] 51 Eduardo Augusto da Silva alcançada por ações mais diretas, que não necessariamente sob o critério de relações públicas: “Enquanto o alvo das contribuições continuar privilegiando as relações públicas em detrimento do impacto alcançado, as empresas estarão sacrificando oportunidades de criar valor social O que não impede que as empresas, através da filantropia, também atraiam simpatia e melhorem sua reputação. Mas conquistar simpatia não basta como motivação. (...) O teste crucial da boa filantropia corporativa é se a mudança social desejada é tão benéfica para a empresa que a organização empreenderia a mudança mesmo que ninguém ficasse sabendo”. (PORTER; KRAMER, 2002, p.53). Uma observação mais pontual da qual nos aproximamos quanto ao destaque de ações filantrópicas corporativas que esperam alguma contrapartida, nem sempre quantificável economicamente, e que tem uma estreita relação com a difusão através dos meios de comunicação – está na visão européia espanhola de Parés I Maicas (1994) em seu estudo sobre filantropia: “(...) no constituye ninguna aberración relacionar filantropía e interés, partiendo de la base que no utilizamos este término en su vertiente economicista, aunque de forma indirecta o mediata pueda existir en un mecenazgo o en una fundación, en tanto que siempre se da, de forma mucho más tangible, en un patrocinio. Dicho de otra manera, no cabe duda que, para un mecenas o para el promotor de una fundación, en su acción concurren una serie de motivaciones y de factores entre los cuales no puede descartarse el de los intereses, aunque no sean económicos, sino que se manifiesten en contraprestaciones comunicativas. Que, por tanto, no dejan de ser intereses, aunque sean diferentes, por su naturaleza, de aquellos.(...) Si el mecenazgo recibe una difusión pública, ello implica que, normalmente, hoy, el nombre del mecenas suele se mencionado unido a aquel. O sea, la contrapartida, en este caso, es la imagen y la notoriedad. Solamente cuando tiene carácter anónimo es cuando se puede decir que no existe una contrapartida. Supuesto cada vez más insólito.” Segundo este autor supracitado, a fundação, historicamente, nasce propriamente no Direito Romano, que o reconhece como personalidade moral e jurídica independente de seus componentes. Sua duração é ilimitada e tem a capacidade de contar com patrimônio próprio, mas sua sobrevivência se E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 52 estabelece por meio de doações de pessoas físicas, privadas ou mesmo do governo. Quando a fundação tem a chancela de uma marca corporativa, ficam claros os interesses econômicos, ainda que indiretos, de retorno. Assim a contrapartida estabelece a semelhança com as demais ações institucionais, em que se espera retorno indireto de imagem e reputação positiva. A diferença está na continuidade da fundação ao longo do tempo em função da necessidade de sua permanência na comunidade em que ela opera. Essas definições demonstram que a legislação brasileira quanto à denominação de doações, mecenato e patrocínio, deve ser revista à luz da realidade praticada no cenário cultural, visto que o próprio governo, para promover o incentivo às instituições quanto aos benefícios da renúncia fiscal faz uso de argumentos tais como o referente ao mecenato, citado na página do Minc - Ministério da Cultura do Governo Federal, abaixo reproduzido: “O Mecenato viabiliza benefícios fiscais para investidores que apóiam projetos culturais sob forma de doação ou patrocínio. Empresas e pessoas físicas podem utilizar a isenção em até 100% do valor no Imposto de Renda e investir em projetos culturais. Além da isenção fiscal, elas investem também em sua imagem institucional e em sua marca”.4 No próximo capítulo poderemos entender que a própria criação das leis de incentivo à cultura tem e continua a ter como objetivo principal estimular as organizações a investir em cultura por meio da renúncia fiscal e da possibilidade aberta de utilizar as ações culturais como elementos de promoção da sua marca. _________________ 4) www.cultura.gov.br/apoio_a_projetos/lei_rouanet, acessado dia 14/11/2005. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 53 CAPÍTULO III – O ROTEIRO 3. MARKETING CULTURAL E COMUNICAÇÃO POR AÇÃO CULTURAL Este capítulo busca analisar o discurso dos profissionais e empresários quando abordam sobre suas ações e intervenções no mercado cultural brasileiro. Serão apresentados conceitos e definições que indicam a passagem pelo mesmo caminho com poucas variações na fala. Como o próprio título do capítulo, há um roteiro em que os atores do cenário fazem poucas improvisações em seu diálogo quanto ao conteúdo discutido, gerando um crescente distanciamento quanto aos fundamentos teóricos que deram origem a termos-chave como Marketing Cultural. Ainda nesta seção introduzimos e desenvolvemos o termo-chave que poderá complementar a parte em que esse distanciamento teórico-prático se estabeleceu: Comunicação por Ação Cultural. Por fim, tentamos dar uma alerta sobre a retórica de Responsabilidade Social como objetivo institucional por trás das ações culturais financiadas pelas organizações estranhas ao mundo da arte. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 54 3.1 MARKETING CULTURAL: INVARIAÇÕES SOBRE O MESMO TEMA A promoção ou divulgação de ações culturais, por meio de eventos, shows, mostras, bienais e a criação de produtos culturais, via de patrocínios, apoios, parcerias com ONG´s ou a criação de fundações por parte da iniciativa privada não significa necessariamente que se esteja fazendo Marketing Cultural. Teóricos e executivos reduzem o termo a uma condição de ferramenta de comunicação organizacional associada aos seus objetivos institucionais. Veremos abaixo uma série de conceituações, que mesmo de profissionais dedicados exclusivamente ao mercado cultural com discursos próprios, não se diferenciam em denominar o termo como peça de comunicação. Por exemplo, Muylaert (1995), um dos primeiros a escrever sobre o tema no Brasil, considerou o Marketing Cultural uma estratégia de comunicação institucional, cujos resultados mercadológicos virão a longo prazo. Almeida (1992) já afirmava que, além de ser utilizado com fins institucionais, o Marketing Cultural é, também, uma poderosa ferramenta mercadológica, destacando que o principal diferencial da cultura enquanto veículo de comunicação é o prestígio conferido pela arte a qualquer ação mercadológica. Outro pesquisador, que escreveu sobre o tema numa época de pouca produção bibliográfica brasileira sobre marketing cultural foi Vaz (1995), entendeu que as organizações utilizavam-se do Marketing Cultural como “parte de sua estratégia de divulgação para públicos de interesse da empresa, capaz E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 55 de proporcionar retorno institucional competitivo em relação a outros canais de divulgação”. Becker (1998) destacou que, das empresas que investem no mercado cultural, muitas acreditam estar fazendo marketing cultural, quando estão fazendo doação ou outra atividade. A empresa só vai estar realizando realmente o marketing cultural ao desenvolver o que chamou de “patrocínio integrado”. Seus argumentos baseiam-se na integração dos diversos elementos do mix de comunicação com o patrocínio, sendo este definido como investimentos de recursos financeiros com objetivos promocionais da marca. Portanto, o Marketing Cultural também foi visto como ferramenta de comunicação com fins mercadológicos para a marca patrocinadora. Os conceitos apresentados acima fogem aos princípios das “leis” de Marketing no tocante às estratégias do composto mercadológico, como foi demonstrado no capítulo I deste trabalho, principalmente no que dizem respeito às políticas de produto, porque o produto/serviço das empresas não é cultura. As empresas fazem uso da cultura para vender seus produtos. Portanto há uma inversão de conceitos que devem ser melhor definidos. Na busca de denominar as ações culturais das organizações estranhas ao mercado cultural, Machado Neto (1999) definiu o marketing cultural como “uma estratégia de comunicação institucional de empresas cuja produção e/ou difusão cultural não é fim, com recursos próprios ou decorrentes de renúncia fiscal, como meio de promoção mercadológica”. Porém ainda se resume a estratégia de comunicação como os demais pesquisadores quanto ao marketing cultural. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 56 A amplitude da definição de Malagodi e Cesnik (1999, p.23) oferece uma visão genérica de marketing cultural, visto que, para eles, “há várias maneiras de se praticar o Marketing Cultural. Qualquer pessoa, física ou jurídica, ou governo que financie de alguma forma (com recursos financeiros, ou bens e serviços) algum produto cultural, e torne isso público esperando algum retorno, estará praticando o marketing cultural.” Entrando no Século XXI, já com os mecanismos do mercado cultural brasileiro adquirindo um posicionamento mais claro, mas ainda longe de sua maturidade em relação às experiências internacionais, Fischer (2002, p.19), além de oferecer pouca contribuição, ainda insere outro termo que, equivocadamente no Brasil, vem sendo disseminado pela “retórica” do Marketing – o institucional: “O marketing cultural é um recurso utilizado com a finalidade de fixar a marca de uma empresa ou entidade por meio de diversas ações culturais, tais como a música, a arte, o esporte, a literatura, o cinema, o teatro etc. Podemos entender que o marketing cultural pode ser caracterizado como marketing institucional.” O tempo se passou e, depois de dez anos em que os primeiros autores escreveram sobre marketing cultural no Brasil, ainda não percebemos mudanças significativas no conceito. Pensando em diferenciar as ações culturais das organizações estranhas ao mercado cultural das ações dos próprios profissionais da área, Costa (2004, p.36) ainda designa marketing cultural como: “as atividades de promoção de produtos ou eventos culturais, quando empregadas por uma organização cujo produto ou serviço último não é um produto ou serviço cultural. Assim, não se confunde com programas e ações desenvolvidas por organizações culturais (museus, teatros etc.), intermediários culturais (promotores de artistas e organizações de eventos) ou artistas que desenvolvam o marketing de seu trabalho pessoal”. Moreira (2004, p.11) defende que “a definição de marketing cultural é polêmica, pois ele é entendido de diversas formas por diferentes públicos”, mas E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 57 ela dá a sua própria definição: “é o atendimento das necessidades culturais de um determinado público, objetivando retornos específicos em comunicação”. Corrêa (2004, p.55), corrobora com a visão de Moreira, quando diz: “Seja por questões mercadológicas de seu negócio (como a divulgação de sua marca e de seus produtos e serviços), seja por questões institucionais (fortalecendo sua imagem junto a públicos específicos, como acionistas, governo, profissionais dos meios de comunicação), seja por interesse em participar de forma mais ativa da vida das comunidades em que atua (e de onde saem seus empregados, clientes, fornecedores e demais públicos que gravitam em torno da sua operação), o fato é que a empresa passou a ter uma atuação na área cultural que a torna força extremamente estratégica para o desenvolvimento dessa área”. Depois desta lista de conceitos pouco orientadores que insistem em repetir o que se fala, sem a menor preocupação com a incoerência do termo e das diferenças que se impõem no formato das conseqüentes estratégias, aqui abrimos uma discussão sobre as confusões entre o termo Marketing Cultural e a emergência de um novo campo das Relações Públicas: Comunicação por Ação cultural. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 58 3.2 COMUNICAÇÃO POR AÇÃO CULTURAL A inserção no mercado cultural vem recebendo atenção cada vez maior pelas empresas que percebem nela a possibilidade de diferenciação competitiva, uma vez que permite posicionamento favorável da marca perante a sociedade e, consequentemente, o consumidor. Esta inserção pela iniciativa privada foi denominada, especialmente no Brasil, de Marketing Cultural. Devido ao uso indiscriminado de termos e conceitos, Marketing Cultural se confunde com Comunicação Institucional, visto como parte integrante das estratégias de Marketing Institucional, Marketing de Relacionamento ou ainda de Marketing Promocional e, atualmente, de Responsabilidade Social, com o pressuposto básico não apenas de manter e melhorar o bem-estar do consumidor e da sociedade como também, através daquelas iniciativas, possibilitar à empresa fixar junto ao público uma imagem positiva da organização. Sob um olhar mais cuidadoso, porém torna-se imperativo tentar definir algumas fronteiras entre os diversos campos de trabalho no mercado cultural e delimitar adequadamente uma área, até então, pouco percebida: a de Comunicação por Ação cultural. Em primeiro lugar, pesquisamos o termo atitude associado ao de comunicação que Sarcovas (1998, p.9) definiu como: Comunicação por Atitude: “Associação de empresas, produtos e serviços a ações adequadas à identidade de suas marcas e de interesse de seus públicos, com finalidade institucional e mercadológica”. Esse conceito, por um lado, pode não se aplicar adequadamente às organizações, visto que, mesmo que sejam compostas por pessoas, há uma E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 59 despersonalização das ações corporativas. Por outro lado, os pesquisadores sobre comportamento organizacional, como Robbins (2002, p.66) definem que “atitudes são afirmações avaliadoras – favoráveis ou desfavoráveis – em relação a objetos, pessoas ou eventos. Refletem como o indivíduo se sente em relação a alguma coisa”. A atitude é composta por três componentes que se relacionam coerentemente entre si: o Cognitivo; o Afetivo; e o Comportamental. O componente cognitivo é entendido como o conjunto de conhecimento que o indivíduo adquire, desde o seu nascimento, através de suas relações com a família, amigos e grupos sociais, somados ao aprendizado via escolas, livros e outras mídias que repassam constantemente as informações que irão compor todo o seu grau de conhecimento em relação ao meio em que convive. O componente afetivo, de forma diretamente ligada ao cognitivo, vem do processo de aprendizagem e conhecimento, que não vêm desassociados dos valores e crenças, ou seja, daquilo que é ou será aceito como certo ou errado dentro do contexto em que está inserido. Por fim, o fator comportamental é o resultado final da coerência entre os componentes cognitivo e afetivo, de forma que o indivíduo, na maioria de suas ações, irá agir de acordo com o que conhece, acredita e aceita. Fica mais claro quando vemos a classificação que os pesquisadores dão aos tipos de atitudes: “Uma pessoa pode ter milhares de atitudes, mas o estudo do comportamento organizacional volta sua atenção para apenas um número limitado delas, relacionadas com o trabalho (...) [que] (...) revelam avaliações positivas ou negativas que os trabalhadores têm em relação a diversos aspectos de seu ambiente de trabalho (...)” (ROBBINS, 2002, p.66). Assim, o termo atitude não representa adequadamente as relações das E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 60 organizações e seu meio através da comunicação. Assim, pensa-se que o termo ação seria mais adequado para descrever as práticas organizacionais no cenário cultural ou outro em que tenha interesse, como o social, o esportivo e, também, o ambiental. Voltamos, então, à questão: se Marketing Cultural é ferramenta de comunicação como apoio a manutenção de imagem e da marca, então não é marketing, é comunicação. Ou seja, se a uma empresa de bens ou serviços utiliza ações culturais para se promover, divulgar sua marca e, mesmo, persuadir determinados públicos, isto é diferente de praticar marketing, na perspectiva dos componentes básicos apontados na década de 1970 por E. Jerome McCarthy (1997, p.45) e popularizados por Phillip Kotler (2000, p.27). É na verdade a utilização do composto de comunicação (P de Promoção), seja institucional ou mercadológica. Isto porque os Produtos/Serviços destas organizações não são da área cultural; as estratégias de Preço aplicam-se aos produtos/serviços da empresa, mas não no patrocínio do produto cultural; e as políticas de (Ponto de) Distribuição estão, necessariamente, vinculadas ao espaço de comercialização do produto/serviço da organização apoiadora da ação cultural. Portanto, é mais adequado como Comunicação por Ação cultural, sendo um campo específico das Relações Públicas. Deve-se deixar claro que esta análise não se resume a simplesmente criar novas denominações. No entanto, estratégias de marketing e estratégias de comunicação impõem ações e funções diferentes, como o que foi dito antes. Para auxiliar neste trabalho, utilizaremos a definição que Ferreira (2004, p.74) desenvolve para Comunicação Dirigida, quando o coloca como um E-mail do autor: [email protected] 61 Eduardo Augusto da Silva campo de atuação do profissional de Relações Públicas no uso de ‘veículos aproximativos’: “Congressos, convenções, reuniões de informação ou discussão; Conferências, palestras, conversas, discursos, entrevistas, treinamentos; Visitas, feiras, exposições; Eventos: culturais, esportivos, musicais, lançamentos de produtos; Acontecimentos especiais, inaugurações, shows, datas cívicas, comemorações; Praça de esportes, auditório, biblioteca, museu, ambulatório, estacionamento e demais dependências usadas pelos públicos; Serviços prestados à comunidade, donativos, bolsas de estudos, patrocínio, concursos, brindes”. Cabe aqui fazer uma diferenciação entre comunicação de massa e de comunicação dirigida: Comunicação de massa - ação cultural voltada para um grande público através de produtos culturais massificados e grandes eventos megashows, espetáculos gratuitos em espaços abertos etc. Esses eventos se adequam principalmente às empresas que produzem bens de consumo de massa, ou seja, de grande produção e consumo. Utilizam como meio de divulgação mídias de ampla cobertura, principalmente a publicidade. Comunicação Dirigida - ação cultural, onde há segmentação através de determinado produto cultural para público específico, utilizada freqüentemente pelas empresas que desejam alcançar maior visibilidade junto a determinado segmento. Ações para esse público geram identificação do indivíduo com a obra e a empresa. Como exemplos, podem ser citados mostras de cinema, de teatro contemporâneo, espetáculos de música erudita, entre outros. Segundo Hamam (2004, p.107), o evento seria um veículo de comunicação dirigida, porque, “diferentemente dos meios de comunicação massiva, destinamse a públicos homogêneos, com interesses comuns e atividades afins. Também, ao contrário dos órgãos de comunicação massiva, nem sempre requerem grandes investimentos para atingir sua finalidade, com a vantagem de se poder avaliar com mais facilidade o grau de aceitação ou não do público-alvo. A E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 62 comunicação, neste tipo de veículo, enfoca de forma direta e quase exclusiva o participante do evento; dificilmente qualquer outro meio de comunicação poderia atingir em cheio um público tão específico em uma só oportunidade. Isso é possível num evento, onde participantes convivem durante um determinado período, onde mensagens são divulgadas com a maior eficiência, abrangendo um target seleto de formadores de opinião, sem a menor dispersão.” Se assim o fosse não poderíamos considerar os megashows como eventos. Estes são veículos de comunicação de massa que podem ser utilizados com o objetivo de aproximação entre a organização promotora e os seus públicos-alvos. Portanto, ações como Skol Beats, Coca-Cola Vibe Zone, Vivo Open Air, Nokia Trends, Pão Music, Tim Festival e outras como Philips of Monsters, Free Jazz Festival, Hollywood Rock, em nenhuma delas seria correto dizer que as empresas promotoras estariam praticando Marketing Cultural, visto que seus produtos não constituem parte do cenário cultural. Todos estes eventos acima têm, portanto, a função de estabelecer relações públicas, através das quais as empresas promotoras buscam aproximar-se dos diversos públicos com os quais se relacionam. Assim, tais empresas efetuam Comunicação por Ação cultural. Todas elas, sem exceção, por mais criteriosas que sejam, entendem como estratégia de comunicação organizacional, ou mesmo de comunicação institucional, visando atingir objetivos empresariais e particulares. Uma das razões dessa confusão de conceitos é que hoje as lógicas institucional e empresarial se confundem num cenário onde o mercado da cultura tem inserido vários agentes sociais, econômicos e políticos na busca de objetivos díspares e muitas vezes, contrários uns dos outros, podendo levar a conflitos de interesses, prejudiciais à ética, à moral e à responsabilidade social desses agentes e das empresas que os financiam. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 63 3.3 A BANDEIRA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL E O BALANÇO SOCIAL Como fazer o bem pra ganhar bem já não é mais pecado sob a ótica do capital, isto nos coloca frente à discussão dos conceitos de Responsabilidade Social, visto que as organizações insistem em se firmar sob esta bandeira quando investem em alguma causa social e, especificamente, na cultura. Porter e Kramer (2002, p.54) aprovam a postura das empresas, quanto à questão acima, de forma clara: “Não há nenhuma contradição intrínseca em melhorar o contexto competitivo e ter um compromisso sincero com o avanço da sociedade. A rigor, quanto mais a empresa vincular filantropia a contexto competitivo, maior será sua contribuição à sociedade. (...) A filantropia focada no contexto, quando sistematicamente adotada de modo a maximizar o valor criado, pode proporcionar à empresa um novo conjunto de ferramentas competitivas que bem justifica o investimento em recursos. Concomitantemente, pode ativar um modo infinitamente mais poderoso de converter o mundo num lugar melhor”. A imagem corporativa recebeu o status de principal elemento a ser enfatizado como fator diferencial de competitividade quando, segundo Ries & Trout (1996, p.18), “as empresas de sucesso descobriram que a reputação, ou imagem, era mais importante para se vender um produto do que as suas características específicas”. Alguns pesquisadores e profissionais confundem Relações Públicas com Responsabilidade Social ao tratarem da ação institucional. Isto pode ser visto nitidamente em Ianhez (2004, p.:160-1) quando busca alertar para a necessidade de ações de responsabilidade social como formatos de uma nova postura das organizações frente às demandas sociais na atualidade: “Restará o recurso da ação institucional, a importância do contato pessoal como fundamental para diferenciar a empresa no mercado. O seu pessoal deverá ser preparado para o entendimento de que não administra produtos, dinheiro ou E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 64 espaços. Eles se relacionam com pessoas que embutem em ações, na transação com produtos e serviços, sentimentos e expectativas humanas. Do outro lado, deve haver a recíproca, respeito aos sentimentos e aos valores humanos. (...) E isto não pode nascer do nada. Terá que nascer da consciência social da empresa, do seu comportamento ético, do seu respeito ao público, das técnicas que hoje denominamos de relações públicas”. Empresa Cidadã ou Socialmente Responsável são atributos buscados pelas instituições de todos os tipos e tamanhos, em qualquer região do mundo. Mas esta prática vem se tornando cada vez mais utilizada nos últimos anos. Este movimento – a conscientização “natural” das organizações quanto ao seu papel na sociedade – é mérito não só da competição acirrada como, também, da pressão da sociedade (tendo a mídia como a grande guardiã) e de uma relativa conscientização do empresariado. Ainda há muito que se fazer quanto à adesão efetiva das empresas brasileiras, visto que é um movimento recente das descobertas quanto ao verdadeiro retorno que essas ações podem oferecer. Os dois conceitos nos quais se baseiam – Cidadania Corporativa e Empresa Socialmente Responsável – exigem uma revisão criteriosa quanto às posturas éticas de quem tenta adotá-los e inseri-los na definição de sua missão corporativa. Segundo o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (constituído como uma associação de empresas, sem fins lucrativos, criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa), uma empresa socialmente responsável é: “aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los ao planejamento de E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 65 suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários.”5 As recentes descobertas, segundo Arménio Rego (2000, p.113), indicam que comportamentos de cidadania organizacional: “(...) lubrificam os mecanismos sociais da organização; reduzem as fricções e conflitos; favorecem a produtividade dos colegas de trabalho; libertam os gestores de certas atividades de controle e gestão de conflitos, favorecem a coordenação do trabalho entre os membros das equipes e entre os diversos grupos; permitem reter e atrair as pessoas mais competentes; facilitam a adaptação organizacional às mudanças ambientais.” Percebendo os benefícios, as organizações se esquecem de suas obrigações que os preceitos da Responsabilidade Social exigem que sejam respeitados: “Responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir os negócios que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. (...) A responsabilidade social é focada na cadeia de negócios da empresa e engloba preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente), cuja demanda e necessidade a empresa deve buscar entender e incorporar aos negócios. Assim, a responsabilidade social trata diretamente dos negócios da empresa e de como ela os conduz.”6 Carmella B. de Carvalho (2003, p.21-3) faz uma série de levantamentos históricos para determinar o surgimento e a evolução do conceito e de sua prática no Brasil, indicando que o início da prática de responsabilidade social no país se dá com a criação, em 1960, da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), quando se reconhece a função social das empresas associadas. _____________________ 5) http://www.ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3344&Alias=Ethos&Lang=pt-BR; acessado em 15/11/2005. 6) http://www.ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3344&Alias=Ethos&Lang=pt-BR; acessado em 15/11/2005. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 66 Mais de 20 anos depois, em 1982, a Câmara Americana do Comércio de São Paulo lançou o prêmio Eco de Cidadania Empresarial, que promove até o presente. O lançamento da Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, com o apoio do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE), constituiu-se em fator de aproximação dos empresários com as ações sociais. Segundo a mesma autora supra citada, os marcos fundamentais, que fincaram de vez a consciência de responsabilidade social no país foram, em 1998, com a criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social pelo empresário Oded Grajew; em 1999, o lançamento do selo Empresa Cidadã pela Câmara Municipal de São Paulo, para premiar as empresas que praticam a responsabilidade social e publicam o balanço social; a criação do prêmio Top Social pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e, posteriormente a iniciativa da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, de lutar pela erradicação do trabalho infantil, criando o selo de Empresa Amiga da Criança que premia as empresas apoiadoras da sua causa. Empresas interessadas em demonstrar engajamento institucional com causas sociais começam a publicar Balanços Sociais, que segundo o Instituto Ethos (2005) têm a finalidade de atender: “(...) uma expectativa crescente de que a atividade econômica seja capaz de propiciar um bem-estar social amplo e equinânime.” Um alerta sobre o uso deste instrumento está na sua estrutura, que não segue os padrões contábeis. Ou seja, não há a possibilidade de demonstrar paralelamente no Balanço Social os direitos em relação às obrigações, como se faz no Balanço Patrimonial de qualquer organização. Veja, no quadro E-mail do autor: [email protected] 67 Eduardo Augusto da Silva abaixo, o modelo de formulário de Balanço Social que as empresas devem preencher para analisar seu desempenho social. Quadro 3.3 – Exemplo de Formulário de Balanço Social Balanço Social Anual / 2004 Empresa: 1 - Base de Cálculo Receita líquida (RL) Resultado operacional (RO) Folha de pagamento bruta (FPB) 2 - Indicadores Sociais Internos Alimentação Encargos sociais compulsórios Previdência privada Saúde Segurança e medicina no trabalho Educação Cultura Capacitação e desenvolvimento profissional Creches ou auxílio-creche Participação nos lucros ou resultados Outros Total - Indicadores sociais internos 3 - Indicadores Sociais Externos Educação Cultura Saúde e saneamento Esporte Combate à fome e segurança alimentar Outros Total das contribuições para a sociedade Tributos (excluídos encargos sociais) Total - Indicadores sociais externos 4 - Indicadores Ambientais Investimentos relacionados com a produção/ operação da empresa Investimentos em programas e/ou projetos externos Total dos investimentos em meio ambiente Quanto ao estabelecimento de “metas anuais” para minimizar resíduos, o consumo em geral na produção/ operação e aumentar a eficácia na utilização de recursos naturais, a empresa 5 - Indicadores do Corpo Funcional Nº de empregados(as) ao final do período 2004 Valor (Mil reais) 2003 Valor (Mil reais) 0 0 0 0 0 Valor (mil) % sobre FPB % sobre RL 0 0 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 0 0 0 0 % sobre FPB % sobre RL 0 0 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! % sobre RO #DIV/0! % sobre RL #DIV/0! % sobre RO #DIV/0! % sobre RL 0 0 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 0 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! % sobre RO #DIV/0! % sobre RL #DIV/0! % sobre RO #DIV/0! % sobre RL 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 #DIV/0! #DIV/0! 0 Valor (mil) 0 Valor (mil) ( ) não possui metas ( ) cumpre de 51 a 75% ( ) cumpre de 0 a 50% ( ) cumpre de 76 a 100% 0 E-mail do autor: [email protected] Valor (mil) 0 Valor (mil) 0 Valor (mil) ( ) não possui metas ( ) cumpre de 51 a 75% ( ) cumpre de 0 a 50% ( ) cumpre de 76 a 100% 0 68 Eduardo Augusto da Silva Nº de admissões durante o período 0 Nº de empregados(as) 0 terceirizados(as) Nº de estagiários(as) 0 Nº de empregados(as) acima de 45 anos 0 Nº de mulheres que trabalham na empresa 0 % de cargos de chefia ocupados por mulheres 0,00% Nº de negros(as) que trabalham na empresa 0 % de cargos de chefia ocupados por negros(as) 0,00% Nº de portadores(as) de deficiência ou necessidades especiais 0 6 - Informações relevantes 2004 quanto ao exercício da cidadania empresarial Relação entre a maior e a menor remuneração na empresa 0 Número total de acidentes de trabalho 0 Os projetos sociais e ambientais ( ) direção ( ) direção e ( ) todos(as) desenvolvidos pela empresa gerências empregados(as) foram definidos por: Os padrões de segurança e ( ) direção e ( ) todos(as) ( ) todos(as) + gerências empregados(as) Cipa salubridade no ambiente de trabalho foram definidos por: Quanto à liberdade sindical, ao ( ) não se ( ) segue as ( ) incentiva e direito de negociação coletiva e envolve normas da OIT segue a OIT à representação interna dos(as) trabalhadores(as), a empresa: A previdência privada ( ) direção ( ) direção e ( ) todos(as) gerências empregados(as) contempla: A participação dos lucros ou ( ) direção ( ) direção e ( ) todos(as) gerências empregados(as) resultados contempla: Na seleção dos fornecedores, ( ) não são ( ) são ( ) são exigidos os mesmos padrões éticos e de considerados sugeridos responsabilidade social e ambiental adotados pela empresa: Quanto à participação de ( ) não se ( ) apóia ( ) organiza e empregados(as) em programas envolve incentiva de trabalho voluntário, a empresa: na empresa no Procon na Justiça Número total de reclamações e ________ ________ ________ críticas de consumidores(as): na empresa no Procon na Justiça % de reclamações e críticas ________% ________% ________% atendidas ou solucionadas: Valor adicionado total a Em 2004: distribuir (em mil R$): ___% colaboradores(as) Distribuição do Valor Adicionado ___% governo ___% acionistas ___ % terceiros ___% retido (DVA): 7 - Outras informações 0 0 0 0 0 0,00% 0 0,00% 0 Metas 2005 0 ( ) direção 0 ( ) direção e gerências ( ) todos(as) empregados(as) ( ) direção e gerências ( ) todos(as) empregados(as) ( ) todos(as) + Cipa ( ) não se envolverá ( ) seguirá as normas da OIT ( ) incentivará e seguirá a OIT ( ) direção ( ) direção e gerências ( ) direção e gerências ( ) serão sugeridos ( ) todos(as) empregados(as) ( ) todos(as) empregados(as) ( ) serão exigidos ( ) não se envolverá ( ) apoiará ( ) organizará e incentivará na empresa ________ na empresa ________% Em 2003: no Procon ________ no Procon ________% na Justiça ________ na Justiça ________% ( ) direção ( ) não serão considerados ___% governo ___% colaboradores(as) ___% acionistas ___ % terceiros ___% retido Fonte: www.balancosocial.org.br, acessado em 17/11/2005 O formulário e, conseqüentemente, a análise do Balanço Social não contempla as ações operacionais, que geram como resultados os impactos negativos como, por exemplo: catástrofes ambientais; doenças e prejuízos à saúde, ocasionadas por poluição ambiental, desmatamento, emissão de gases E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 69 tóxicos etc; e os malefícios oriundos do consumo de seus produtos como: obesidade, câncer, dependência química, distorções psicológicas, vícios etc. Da mesma forma, os benefícios efetivos por conseqüências das ações corporativas sempre indicam impactos positivos como: geração de emprego, receita pública originadas pelo pagamento de impostos e melhoria da qualidade de vida da população local. Estes resultados não deveriam constar como benefícios advindos de uma postura de responsabilidade social, visto que são resultados previstos e no mínimo devem ser realizados, porque são efeitos naturais das operações de uma organização, caso contrário não se justificaria a presença ou instalação dela em qualquer lugar do mundo. Portanto, não indicam ou não coroam a organização como socialmente responsável. O conceito de responsabilidade social, exposto acima, exige posturas corporativas além de sua operação diária de exploração de recursos para obtenção de lucro. Mas as empresas utilizam isto para levantar sua bandeira de empresa cidadã. Responsabilidade social implica em efetiva preocupação com os problemas sociais do meio onde a organização está inserida e solução pontual adequada dos problemas, muitas vezes causados pela própria corporação. Portanto, o modelo de formulário do Balanço Social dá margens para que a emprese camufle possíveis desníveis e, portanto, sua dívida social em relação às suas ações operacionais. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 70 CAPÍTULO IV – O ESPETÁCULO 4. ANÁLISE DE ESTUDOS DE CASOS E RELATÓRIO DE PESQUISA Nesta seção analisamos dois estudos de casos – o primeiro indica uma pesquisa realizada na cidade de Uberlândia -MG no ano de 2000, onde fizemos um levantamento detalhado dos atores culturais daquele cenário em que se buscou fazer um parâmetro com o pensamento e pesquisas dos grandes centros urbanos. Depois, realizamos um outro estudo de caso na cidade de São Paulo, nesse ano de 2005, com o objetivo de traçar uma perspectiva dos representantes importantes do cenário cultural do país, tendo em vista a relevância de suas atividades realizadas em relação a seus pares no mercado nacional. Por fim, é realizada uma análise comparativa entre os dois estudos de casos, com o objetivo de verificar na prática, para o capítulo das considerações finais, as coerências e as devidas incompatibilidades dos conceitos apresentados nas seções anteriores. E-mail do autor: [email protected] 71 Eduardo Augusto da Silva Metodologia do Estudo de Caso O método de pesquisa utilizado neste projeto foi o estudo de caso, visto como um dos métodos qualitativos. Segundo Yin (2001, p.32), “o estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas”. Como método qualitativo, entende-se que todo o processo de pesquisa implica em análise subjetiva em que a preocupação principal é a interpretação de fatores implícitos, carregados de valores, crenças que podem ou não oferecer um modelo de comportamento específico do objeto de estudo e sem se preocupar com a comprovação estatística ou numérica. Estudo de caso, para Lüdke e André (1986 apud DUARTE, M., 2005, p.218): “(...) são comumente vistos como de natureza qualitativa ou ‘naturalística’; aquele que ‘se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada”. O estudo de caso considera qualquer unidade social como um todo. Assim, “(...) cada estudo de entidades que se qualificam como objetos (pessoas, organizações ou países) seria um estudo de caso, independentemente da metodologia utilizada (...)”. (DUARTE, M., 2005, p.216). O método de estudo de caso parte do princípio de que um fenômeno ou objeto segue leis próprias, utilizando modelos especiais de comportamento dentro da lógica humana. Bergamini (1982, p.24) explica que no método de E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 72 caso: “(...) se procura reconstituir a história de vida anterior ao sintoma atual, que aparece sob forma de comportamento, e daí descobrir que fatos explicam tal sintoma. Os dados obtidos devem ser correlacionados entre si de tal forma que, a partir de uma evidente coerência entre eles, já seja possível levantar uma hipótese diagnóstica”. Muitos pesquisadores entendem equivocadamente que o estudo de caso é uma técnica de fácil manejo e, portanto, pode levar a resultados simplificados e pouco fidedignos. No entanto, a análise de comportamentos e fenômenos efetivamente mensuráveis, implica que: “(...) nas Ciências Sociais, para que um caso exista, precisamos ser capazes de identificar uma característica única, cuja uniformidade é dada em experiências históricas concretas. Esta unidade deve ser observada, mas não tem significado em si mesma. Ela só é significativa se um observador puder referenciá-la em uma categoria analítica ou teórica. Não é suficiente observar um fenômeno social, um evento histórico ou destacar certos comportamentos com o objetivo de declará-los ‘ ‘casos’. Se desejarmos falar sobre um ‘caso’, precisamos dos meios de interpretá-los ou contextualizá-lo em uma realidade”. Ragin e Becker (1992 apud DUARTE,M., 2005, p.218). Unidade de Análise Sem a definição da unidade de análise não é possível que se entenda ou denomine um “caso”, onde serão focados todas as argumentações e questionamentos e discuti-los, posteriormente, sob o prisma teórico previamente escolhido como referencial de análise. No nosso estudo de caso, entendemos que a unidade de análise é a organização estranha ao mundo das artes (portanto, não tem a arte como produto ou serviço), mas envolvida de alguma forma com o mercado cultural. Salvo o caso de Uberlândia, em que procuramos agentes e produtores culturais que passaram a ser importantes unidades de análise para o estudo da época. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 73 Ainda que tenhamos feito, nos capítulos anteriores, abordagens relativas ao artista, aos grupos e aos produtores culturais, estes sim originados do mercado cultural, nosso estudo implica na postura das empresas e outros tipos de organizações, (que, mais uma vez, não têm nada a ver com o mercado cultural) no uso dos produtos culturais para fins mercadológicos e de comunicação. Mas é preciso cuidado na definição de uma ou mais unidades de análise. Servindo de alerta Duarte, M. (2005, p.224) indica que: “o importante é que as questões primárias da pesquisa sejam corretamente formuladas para que haja uma seleção adequada da unidade de análise. (..) O modo como uma área em geral lida com um fenômeno pode ser muito diferente do modo como um pequeno grupo trata desse mesmo fenômeno, confusão freqüente entre pesquisadores”. Procuramos destacar que no mercado cultural sempre existiram agentes sociais vindos de outros campos de atuação fora do mundo artístico. Mas, este fenômeno da inserção de agentes estranhos, vem oferecendo comportamentos justificáveis de estudos importantes para um diagnóstico e análise do campo da comunicação e do marketing. Tipo de Estudo de Caso Segundo Yin (2001, p.61), há quatro tipos de projetos de estudo de caso: 1) projetos de caso único holístico – unidade única de análise; 2) projetos de caso único incorporado – unidades múltiplas de análise; 3) projetos de casos múltiplos holísticos e 4) projetos de casos múltiplos incorporados. Assim, como nossa unidade de análise foi a organização estranha ao mundo das artes e foram mais de uma unidade a estudar, nosso projeto passou ser caracterizado como de casos múltiplos. E como estudamos E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 74 diferentes tipos de organizações e os mesmos elementos sociais originados do mercado cultural (como agentes e produtores culturais), nosso trabalho se classificou, finalmente, como Projetos de Casos Múltiplos Incorporados Seleção dos Entrevistados A seleção dos entrevistados em estudos qualitativos, segundo Jorge Duarte (2005, p.69), “tende a ser não probabilística, ou seja, sua definição depende do julgamento do pesquisador e não de sorteio a partir do universo”. Amostras não-probabilísticas podem ser classificadas em vários tipos básicos. Os mais comumente aceitos são: a) seleção por conveniência – em que os selecionados são fontes de fácil acesso em termos de proximidade ou disponibilidade e b) seleção intencional ou por julgamento – a amostra é considerada ideal por fatores subjetivos do pesquisador como: conhecimento do tema ou representatividade adequada ao estudo. No nosso estudo de caso selecionamos os entrevistados pelo procedimento não probabilístico intencional, visto que eles representam o universo dos elementos mais significativos do campo cultural de cada região estudada. Em cada estudo de caso, demonstrado abaixo, iremos indicar e justificar quais foram os entrevistados em cada região. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 75 Técnica de Coleta de Dados Os estudos de casos normalmente utilizam entrevistas individuais – entrevistador e entrevistado apenas – em profundidade, num espaço adequadamente isolado e confortável que proporcione uma espécie de relacionamento informal, importante para que ambos tenham condições de abordar o assunto ou tema de forma natural e descontraída. Mas, em muitos casos, a entrevista em grupo pode ser uma alternativa viável, pois tem a vantagem de colocar um número relativamente maior de entrevistados num mesmo local e hora. No entanto, este tipo de entrevista implica em: ambientes maiores e melhor estruturados; um ou mais moderadores experientes que possam ser os intermediários na discussão, já que a entrevista se transforma num tipo de conversação entre os entrevistados; equipamentos de gravação de som e imagem adequados e, se possível, salas de espelho falso com equipamentos de circuito fechado para visualização da entrevista. Ou seja, são exigidos recursos físicos, humanos e financeiros adequados. A técnica de investigação deste estudo foi o de entrevistas individuais em profundidade. Para Duarte, J. (2005, p. 62), trata-se de uma: “técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada. Entre as principais qualidades dessa abordagem está a flexibilidade de permitir ao informante definir os termos da resposta e ao entrevistador ajustar livremente as perguntas (...) A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer”. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 76 Instrumentos de Coleta de Dados Como dito acima, as entrevistas em profundidade exigem equipamentos adequados para coletar os dados. Eles podem ser um simples bloco de notas para registrar as respostas dos entrevistados, como podem ser utilizados gravadores, câmeras de vídeo, telefone e/ou Internet. O instrumento de coleta de dados pode ser entendido como o meio pelo qual as informações serão passadas, circuladas ou armazenadas para uma posterior análise. Nos nossos estudos de casos o gravador de fita cassete foi o principal instrumento de coleta de dados. Segundo Duarte, J. (2005, p.76), “a gravação possibilita o registro literal e integral. Apesar de certa discussão, a experiência indica que não afeta o resultado e oferece maior segurança à fonte”. No caso da Petrobras não foi possível seguir essa orientação, pois seus principais executivos responsáveis pela área cultural estavam locados na sede da empresa, na cidade do Rio de Janeiro, e têm eles suas agendas com prioridades de âmbito nacional, o que impossibilitou a realização das entrevistas pessoais. Assim, utilizamos a Internet, por meio da qual enviamos o formulário e recebemos suas respostas, e também consultamos o site oficial para compor as informações complementares para o estudo. Para Ibid.(p.77), a Internet “pode ser particularmente útil para informações objetivas, assim como para introdução ou complemento de uma entrevista face a face. Também é utilizada para obter informações de pessoas importantes, por outros meios inacessíveis”. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 77 Construção do Roteiro das Entrevistas De forma a auxiliar o desenvolvimento das entrevistas, foi utilizado um roteiro, detalhado a seguir, aplicado de forma bastante flexível. Para efeito de análise o roteiro foi separado em segmentos específicos para as empresas, para as fundações, para as agências e produtores culturais e para as agências de comunicação, porque entendemos que suas perspectivas eram, por vezes, diferentes, possibilitando uma análise mais fidedigna. Cada roteiro segmentado foi subdivido em itens, ou categorias, também com o objetivo de facilitar a coleta de dados e posteriormente a análise. Estes itens foram escolhidos como resultado da revisão bibliográfica e dos estudos de casos analisados para esta pesquisa, de forma que eles representam os pontos mais abordados e analisados pelos acadêmicos e foram fundamentais para a realização da análise comparativa. Seguimos a orientação de Duarte, J. (2005, p.79): “Para ajudar na redação e na compreensão, pode ser útil fazer uma introdução em cada categoria, definindo e explicando o que será tratado e, ao final, fazer um fecho conclusivo. Esta última opção evita a necessidade de retomar a discussão sobre cada categoria na Conclusão, que tenderá a ficar mais sintética e abrangente”. A estrutura do roteiro é apresentada adiante, logo após os objetivos específicos, para um melhor entendimento da forma em que ele foi montado. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 78 Objetivo Geral dos Estudos de Casos de Uberlândia e São Paulo O objetivo do projeto foi estabelecer um diagnóstico do mercado cultural da cidade de Uberlândia-MG (ano de 2000) e São Paulo-SP (ano de 2005) quanto às práticas de Marketing Cultural e de Comunicação por Ação cultural e analisá-los sob o prisma do arcabouço teórico sobre o tema. Objetivos específicos da pesquisa de ambos os casos Os objetivos específicos para avaliar o mercado cultural da cidade de cada um dos casos são exatamente os mesmos, para estabelecer comparativo relevante entre tempo e espaço diferentes. Eles tiveram a seguinte estrutura: • • • • • • • Avaliar o nível de conhecimento e entendimento acerca das atividades de apoio a cultura desenvolvidas pelos agentes sociais do mercado cultural da região. Detectar se as estratégias de Marketing Cultural estão atreladas às estratégias de Marketing ou Corporativas, ou seja, se existe algum objetivo específico atrelado. Analisar se as ações institucionais realizadas estão inseridas em alguma linha específica de atuação na área cultural. Identificar o nível de entendimento e de diferenciação entre Marketing Cultural, Patrocínio Cultural e Comunicação por Ação cultural. Verificar se as leis de incentivo à cultura são determinantes para a atuação no mercado cultural da região. Verificar como se dá o processo de seleção dos projetos culturais. Identificar como se procede a avaliação do evento ou produto cultural depois de realizado quanto ao seu impacto e alcance dos objetivos prédeterminados, bem como das eventuais formas adotadas de mensuração de retorno. Estrutura do Roteiro para ambos os casos 1) Postura da empresa: Nesta categoria buscamos entender quais os fatores que levaram a empresa a se envolver com a esfera cultural, detectando tempo de envolvimento, objetivos e o entendimento das atividades de Marketing Cultural, sendo estas consideradas isoladamente ou atreladas às estratégias corporativas. Além dessas variáveis buscou-se nesta seção E-mail do autor: [email protected] 79 Eduardo Augusto da Silva identificar o nível de entendimento dos profissionais em relação aos conceitos acadêmicos e compará-los com a prática do mercado. 2) Papel do Estado Nesta categoria queríamos verificar até que ponto os entrevistados delegavam a responsabilidade ao Estado no fomento à cultura e principalmente, se as leis de incentivo eram fundamentais para que os atores, do mercado cultural assumissem seu próprio papel neste cenário. 3) Seleção de Projetos Culturais A necessidade de avaliar se um projeto é viável, quanto ao impacto esperado e o público a ser atingido, passou a determinar o nível de qualidade dos produtos e serviços culturais de acordo com os interesses dos agentes sociais. Portanto, nesta categoria buscou-se identificar o grau de preocupação dos diversos agentes em relação ao enfoque de seus projetos e dos responsáveis pela divulgação deles. 4) Análise de Retorno O objetivo nesta categoria foi verificar a postura dos profissionais no que diz respeito à mensuração do retorno das atividades culturais “apoiadas”. Muitos desses projetos, quando realizados passam por algumas ou mais etapas de análise de retorno e outros nem sequer tem este enfoque. Além disso, buscamos identificar se algum dos métodos utilizados poderia servir de padrão de modelo eficiente para outros interessados. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 80 Modelo do Roteiro Separado por Categoria 1) Postura da empresa em atividades culturais ¾ Tempo de envolvimento da empresa com a esfera cultural; ¾ Fatores influenciadores para o envolvimento; ¾ Atividades culturais favorecidas; ¾ Objetivos iniciais e atuais do envolvimento; ¾ Ações culturais: mecenato ou patrocínio; ¾ Percepção do emprego de atividades culturais como ferramentas de marketing; ¾ Política Cultural e estratégias de Marketing: Sinergia; ¾ Foco de investimentos nas áreas culturais: teatro, cinema, música, artes plásticas etc.; ¾ Entendimento e diferenciação entre Patrocínio Cultural, Marketing Cultural, Comunicação por Ação Cultural e Política Cultural. 2) O papel do Estado ¾ Leis de incentivo como determinantes motivacionais a participação da iniciativa privada; ¾ Sentimento de substituição da participação do Estado nos projetos culturais pela atuação da iniciativa privada; ¾ Tipos de leis de incentivo à cultura utilizada nos seus projetos. 3) Seleção de Projetos Culturais ¾ Procedimentos de seleção de projetos culturais; ¾ Determinação do responsável pela seleção dos projetos culturais; ¾ Tipos de mão de obra utilizada na operacionalização dos projetos patrocinados ou apoiados; ¾ Grau de liberdade do patrocinado na escolha do repertório, local e data; ¾ Público-alvo destinado às atividades culturais; ¾ Responsável pela divulgação das atividades culturais: a empresa, o patrocinado, o agente/produtor, a agência de propaganda ou consultoria de comunicação; ¾ Valor da verba anual destinada às atividades culturais. 4) Análise de Retorno ¾ Procedimento de avaliação das atividades culturais – antes, durante e depois de realizadas – quanto ao seu impacto e alcance dos objetivos pré-determinados; ¾ Formas de mensuração do retorno adotadas: estudos próprios de controle e avaliação, pesquisas qualitativas, centimentragem e minutagem, audiência direta e indireta, análise comparativa de vendas, monitoria de novos clientes ou outro método; ¾ Ações decorrentes da análise de retorno. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 81 4.1 ESTUDO DE CASO EM UBERLÂNDIA - MG Problema da pesquisa no caso Uberlândia Assim como foi exposto anteriormente - que as empresas e os demais agentes do mercado cultural têm uma visão imprecisa dos conceitos e práticas do Marketing Cultural - na região de Uberlândia não ocorre diferentemente com as empresas que desejam atuar nesse campo. Percebeu-se, por um lado, um crescimento cada vez maior de inserções no mercado cultural regional de organizações entranhas ao mundo da arte, que na maioria, por um lado, tem como grande motivador as leis de incentivo cultural no âmbito tanto federal, quanto estadual. Por outro lado desenvolvia-se uma consciência do uso da cultura e da arte como ferramenta de incremento de imagem corporativa e como formadora de cidadãos. Neste último caso, voltada àqueles que, marginalizados do ambiente econômico, social e até político, podem participar de eventos e oficinas culturais sem ônus. Nesse sentido, o problema da pesquisa consistia na necessidade de conhecer o estado da arte do mercado cultural na região de Uberlândia no que dizia respeito às visões e práticas de Marketing Cultural e Comunicação por Ação cultural. E-mail do autor: [email protected] 82 Eduardo Augusto da Silva Público-Alvo da Pesquisa A amostra desse estudo, realizado no ano de 2000, se constituiu naqueles que, de algum modo na época da pesquisa, estavam propiciando, oferecendo, utilizando e desenvolvendo a cultura, ainda que com objetivos diversos entre si, mas que no contexto regional permitiram um incremento no mercado cultural, onde as técnicas e práticas de Marketing Cultural e de Comunicação por Ação cultural tiveram algum tipo de movimentação. Estes atores eram empresas e agentes/produtores culturais efetivamente inseridos no mercado cultural e, vistos como representantes líderes da região, listados abaixo: Empresas (gerentes de comunicação) − Grupo Algar − CTBC Telecom − Center Shopping Agências e Produtores Culturais − Interlúdio − 2 Pontos − Projeto Pré-Estréia − ABC Propaganda − Carlos Guimarães − “Teto” E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 83 Resultados por categoria no caso Uberlândia CATEGORIA 1: POSTURA Motivos para investir em cultura As empresas pesquisadas entendiam que o uso das atividades culturais se resumia ao patrocínio cultural como forma de gerar consolidação de imagem positiva perante aos diversos públicos, salvo aquelas que se preocupavam apenas em aumentar sua notoriedade. As Agências e Produtores culturais viam nas atividades culturais uma alternativa de comunicação para as empresas. Uma observação importante cabe a “2 Pontos” que sentia que o mais difícil era provocar um desejo coletivo nas pessoas para que o projeto acontecesse, visto as dificuldades de implantar inovações no campo cultural na cidade de Uberlândia. Outra opinião importante foi da “ABC Propaganda” que alertou que o mercado brasileiro ainda começava a perceber o valor dos investimentos em cultura, por conseqüência de pressão do meio externo. O governo federal, estadual e municipal, segundo a “ABC Propaganda”, não conseguiam resolver os problemas culturais efetivamente. Exigir-se-ia, segundo ela, uma visão mais global da comunicação, para extrapolar a mídia tradicional e lançar mão de outras ferramentas como a do “Marketing Cultural”. Ações Culturais e Marketing As empresas entrevistadas entendiam as estratégias de Marketing Cultural como parte das políticas de comunicação, porque acreditavam que E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 84 essas significavam objetivos de marketing. Segundo os resultados do estudo, as agências e produtores pesquisados não percebiam que as ações empresariais de Marketing Cultural estariam ligadas a algum objetivo de marketing previamente estabelecido. Da mesma forma entendiam que havia uma preocupação em tornar públicas estas ações e que, portanto visavam aos objetivos de comunicação. Área da cultura investida As empresas entrevistadas não adotavam nenhuma linha ou área especificamente exclusiva da cultura. Elas tinham a preocupação em focar a educação, principalmente das crianças, para geração de consciência crítica e de futuros formadores de opinião. Diferenciações dos conceitos Ao fornecermos as palavras-chaves – Marketing Cultura, Comunicação por Ação Cultural e Patrocínio Cultural – tanto as empresas pesquisadas quanto as agências não os definiram adequadamente. As empresas não fizeram uma articulação coerente e suas conceituações acabaram por se assemelhar às de ferramentas de comunicação. As agências fizeram uma definição correta quanto ao termo Patrocínio Cultural entendido como uma ação isolada de apoio financeiro para uma atividade cultural num determinado momento. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 85 CATEGORIA 2: PAPEL DO ESTADO Os dois segmentos entrevistados – empresas e agentes/produtores culturais – entendiam que as leis de incentivo eram fundamentais para o desenvolvimento da cultura. No entanto a ação do Estado, qualquer que fosse a sua esfera, deixava a desejar segundo eles, mesmo com perspectivas diferentes entre si. Para as empresas, a atuação do Estado só seria interessante quando os projetos tivessem focos altamente sociais e, portanto, deveriam ter a participação do governo, pois receavam que a sua interferência mais inibiria (por exemplo, com sua burocracia ou interesses políticos implícitos) que incentivaria a participação da iniciativa privada. CATEGORIA 3: SELEÇÃO DE PROJETOS Critérios de seleção Os critérios de seleção de projetos pelos dois segmentos entrevistados – empresas e agentes/produtores culturais – seguiam fatores como orçamento, qualidade do projeto ou identidade pessoal e cultural. A agência “ABC Propaganda” tinha um critério específico: 1) se for pelo enfoque estratégico, isto exigia um planejamento, em que priorizava os projetos de grandes grupos artísticos, que iriam dar a repercussão adequada aos objetivos mercadológicos da empresa ou 2) se o objetivo for o fomento de novos grupos ou pequenos grupos, a escolha dos projetos teria enfoque diferente, em que se buscava desenvolver uma nova geração de talentos culturais. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 86 Exclusividade A exclusividade no patrocínio dependia muito dos eventos e dos parceiros co-patrocinadores. Salvo a “CTBC Telecom” que procurava sempre atuar com exclusividade nos projetos, exceto projetos já aprovados e patrocinados de ordem nacional em que geralmente já existiam outros apoiadores, mas que estariam de acordo com a filosofia da empresa. Quem seleciona Nas empresas pesquisadas, a pessoa dedicada à seleção de projetos era definida a partir de uma hierarquia. Nas agências e produtores culturais pesquisados isto iria depender da estrutura e independência dos elementos envolvidos. E isto valia também, para o grau de liberdade do patrocinado para o planejamento e a execução do projeto. Público-alvo dos projetos culturais Não houve uma definição clara e específica, quanto ao público-alvo a ser atingido pela ação cultural, salvo quando a empresa criava um evento para clientes ou fornecedores especiais ou mesmo para seus empregados. Responsabilidade na divulgação Na maioria das vezes, a responsabilidade pela divulgação dos eventos cabia ao agenciador ou produtor cultural. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 87 CATEGORIA 4: AVALIAÇÃO DE RETORNO Ambos os segmentos pesquisados faziam uma avaliação informal e assistemática dos projetos depois de realizados. Nenhum adotava uma fórmula específica de mensuração efetiva. Os métodos se resumiam à contagem do público e sondagem de opinião quanto à repercussão do evento ou da obra. Deve-se destacar a “CTBC Telecom”, que segundo ela, fazia constantemente uma pesquisa junto aos clientes de várias cidades onde suas ações culturais eram realizadas, questionando sobre o que eles pensavam dos projetos realizados por ela: se eles sentiam se era demagogia da empresa ou uma “ação de marketing”, ou seja, buscavam saber qual a percepção que o cliente tinha em relação aos projetos “patrocinados”. Por outro lado, a mídia espontânea das cidades onde aconteciam os eventos estava, segundo seu relato, sempre dando retorno para a empresa, agradecendo por suas ações. O quadro 4.2 oferece um panorama dos itens pesquisados e discutidos acima. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva Segmentos Empresas Agências e Produtores Objetivos Uso das atividades culturais e Papel dos atores culturais Estratégias de MC atreladas aos Objetivos Corporativos Linhas Específicas Diferenciação entre: MC (Marketing Cultural) PC (Patrocínio Cultural) CAC (Comunicação por Ação Cultural) Leis de Incentivo Não adotavam nenhuma linha específica. MC, PC e CAC como ferramentas de comunicação. Substituição do Estado pela iniciativa privada Critérios Seleção dos Projetos O governo deve ser menos omisso quanto a geração infraestrutura e geração de mais incentivo. Critério: respeito ao orçamento fiscal As leis são determinantes em atender os interesses das empresas. O Estado como provedor de infra-estrutura e monitor do mercado cultural. Critério: qualidade e identidade cultural. Exclusividade Exclusividade: importante, mas não condição única. Exclusividade: pouco importante. Responsáveis Responsável pela seleção: Hierarquia Responsável: depende da estrutura do agenciador. Liberdade do artista Grau de liberdade do artista: total. Grau de liberdade: restrição quanto ao local e data. Público-alvo Público-alvo: diversificado Público – alvo: Diversificado Quem divulga Avaliação de Retorno Responsável pela divulgação: na maioria produtor/proponente. A avaliação informal e subjetiva. Responsável pela divulgação: o proponente Avaliação informal. Patrocínio e Consolidação de imagem Alternativa de comunicação para as empresas. Políticas de Comunicação Quando definidas estavam atreladas aos objetivos de comunicação Não se aplica. Somente PC definido corretamente como ação isolada, específica e momentânea de apoio financeiro aos projetos culturais. As leis são fundamentais como benefícios fiscais. Formas adotadas de mensuração do retorno são contagem do público, centimentragem nos jornais e audiência direta e indireta. Quadro 4.2 Representação esquemática dos itens pesquisados em Uberlândia E-mail do autor: [email protected] Formas adotadas de mensuração do retorno são a contagem da quantidade de pessoas e repercussão do evento. Eduardo Augusto da Silva 4.3 ESTUDO DE CASO SÃO PAULO Problema de pesquisa no caso São Paulo Como demonstrado em capítulos anteriores, a região sudeste concentra a maior parte dos investimentos em cultura no país. Sendo uma referência importante para avaliação do “espetáculo”, enquanto cena principal do mercado da cultura, a cidade de São Paulo indicou um desafio para este trabalho de dissertação. Pode-se perceber, na região, claramente todos os atores do mundo das artes se articulando na busca de atender interesses específicos. Público-Alvo da Pesquisa A amostra desse estudo se deu pela seleção não-probabilística através de critério intencional, por constituir-se de atores ícones que se utilizam das ações culturais na cidade de São Paulo. Os atores selecionados do cenário cultural de São Paulo para pesquisa foram: • Petrobrás • Fundação Itaú Cultural • Articultura • Agência de Relações Públicas: Hill & Knowlton A escolha da Petrobrás como um dos objetos do estudo de caso vem da identificação de que, como dito no categoria 2.4 (atores do cenário cultural brasileiro) do capítulo 2, entre as 20 maiores empresas brasileiras doadoras de recursos, já em 2005, está a Petrobrás no primeiro lugar. Resultado que vem E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 90 se repetindo há vários anos. O Instituto Itaú cultural se justifica pelo fato de ser o maior beneficiado pelas leis de incentivo no Brasil: desde 2003 permanece em primeiro lugar. A Articultura foi indicada como um importante agente no cenário cultural, visto que seu diretor, Yacoff Sarvovas, é tido como precursor e considerado pelo mercado empresarial um dos líderes no campo de planejamento, desenvolvimento e implantação de marketing cultural para projetos culturais e de consultoria em políticas culturais para organizações diversas. A Agência de Relações Públicas: Hill & Knowlton, por sua importante contribuição no campo da Comunicação Organizacional e especificamente na prática das técnicas de Relações Públicas no uso de ações culturais para empresas como Petrobrás e Bridgestones [multinacional japonesa de pneus e uma das duas fornecedoras de pneus para as equipes de corrida automobilística da Fórmula 1]. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 91 Resultados por categoria no caso São Paulo CATEGORIA 1: POSTURA Motivos para investir em cultura Petrobras Como maior investidor em cultura no país, a Petrobrás assume o compromisso do Governo Federal de defender e valorizar a cultura brasileira, de produzir e difundir os bens culturais, buscando a democratização do acesso a esses bens. Com a consolidação do Programa Petrobras Cultural em 2003, que passa a representar a política cultural da empresa, busca-se uma ação de âmbito nacional, com a difusão e a assimilação da política de patrocínios da empresa em todas as regiões do país, de forma a contemplar e valorizar a cultura brasileira em toda a sua diversidade étnica e regional Instituto Itaú Cultural Com a idéia de se colocar a experiência tecnológica do banco Itaú a serviço da arte e da cultura e sociedade, o grupo Itaú dividiu suas ações filantrópicas em duas: para a área social – a Fundação Itaú Social e, para a área cultural – o Instituto Itaú Cultural. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 92 Os objetivos que balizam sua atuação no mercado cultural são: a) democratização do acesso à cultura; espaço de articulação de bens, produtos, artistas e materiais culturais, como ponto de convergência com o mundo cultural e; gerador de conteúdo qualificado. Articultura A agência descobriu que a ação cultural, através da sua influência simbólica, constituía fonte alternativa para financiamentos dos projetos de iniciativa privada e possibilidade desses agregarem valor às suas marcas; Dessa forma suas operações começaram como uma produtora cultural até se tornar agência de planejamento de políticas, programas e ações, que depois vieram a se chamar comunicação por atitude. Além disso, o envolvimento da Articultura no planejamento e estruturas dos projetos culturais para seus clientes - as empresas “patrocinadoras” -, possibilitou aprendizado necessário para entender as necessidades de cada lado do processo: o artista e a empresa. Os objetivos atuais da empresa a posicionam como agência de comunicação operando não apenas na cultura, mas noutras áreas como esportiva, ambiental e social. Agência de R.P. Hill & Knowlton (HK) A agência de RP HK entende que deve buscar permanentemente oportunidades para seus clientes, ou seja, segundo ela “criar um fato”. Assim a agência torna-se uma agenciadora ou captadora de projetos culturais e depois E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 93 oferece os melhores para os clientes escolherem de acordo com os seus objetivos de comunicação. Portanto, seus objetivos, enquanto agência de comunicação, se baseiam na criação de fatos (culturais) que dêem repercussão positiva e discreta para a marca do cliente. Ações Culturais e Marketing Petrobras Mecenato ou patrocínio: os investimentos da Petrobrás, na sua maioria, se concentram no que considera projetos culturais patrocinados, os quais são classificados em duas categorias: a) projetos culturais contemplados no Programa Petrobras Cultural através das Seleções Públicas do programa ou Escolha Direta do Conselho Petrobras Cultural e b) projetos culturais de continuidade, são projetos de patrocínio continuado que têm a função de gerar associação à marca. Ações de mecenato (empresarial), segundo a empresa, estão representadas, por exemplo, no Projeto Memória Cultural Petrobrás, que busca um mapeamento de todos os projetos patrocinados pela Petrobrás no período de 1995 – 1999, para se tornar em material de pesquisa e estudo para a comunidade em geral; e o que denomina Projetos de Restauro Edificado (bens tombados), lembrando que a seleção dos projetos desta categoria também leva em consideração as áreas de negócios prioritárias da empresa. Percepção do emprego de atividades culturais como ferramentas de marketing: segundo declarações da própria empresa: “a Petrobras fortalece sua marca ao associá-la aos aspectos simbólicos do povo brasileiro, buscando E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 94 retornar para a sociedade não somente produtos, mas valores que possibilitem o reconhecimento e a identificação do cidadão com suas raízes mais profundas”. Política Cultural e estratégias de Marketing: segundo o Relatório de Política Cultural da Petrobrás: “A política cultural da Petrobrás é alinhada ao Planejamento Estratégico da Companhia, onde é explicitamente colocada a preocupação, tanto com a rentabilidade, quanto com a questão da responsabilidade social”. Instituto Itaú Cultural Pode-se considerar que todas as ações realizadas pelo Instituto Itaú Cultural são vistas como mecenato, pois a viabilização do Instituto ou de uma fundação depende do seguinte procedimento: o instituto apresenta um plano anual para o ministério da cultura com todos os projetos previstos a se realizarem ao longo do ano; a responsabilidade e a verba dos projetos aprovados pelo Minc são então, repassados para o Grupo Itaú, que os repassa como mecenas para o Instituto Itaú Cultural. Segundo Eduardo Zanon, superintendente do Instituto Itaú Cultural, a possibilidade do Grupo Itaú em empregar as atividades culturais como ferramentas de marketing “é zero, pois o Banco Itaú criou o Instituto Itaú Cultural para se colocar à disposição da arte, ainda que use os desdobramentos e os resultados das ações culturais do instituto para fins mercadológicos de agregação de valor a marca, mas o Instituto tem total autonomia e independência na suas operações”. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 95 E que, portanto, não há sinergia da Política Cultural do instituto com as estratégias de marketing do banco, mas apenas integrado aos objetivos do instituto. Articultura Yacoff Sarcovas, diretor presidente da Articultura, acredita que há uma percepção relativamente adequada dos profissionais perante o emprego das atividades culturais como ferramentas de marketing. Mas ele alerta que o caminho adequado é desenvolver, antes, uma política cultural corporativa integrada às estratégias de marketing. Para isto, é preciso contar com profissionais que tenham domínio de compreensão e de trânsito para formular políticas culturais consistentes para que suas marcas possam atuar de acordo com os objetivos mercadológico da empresa. Com este domínio a Articultura, por exemplo, foi capaz de reformular toda a Política de Patrocínio da Petrobrás, entre 1999 e 2002, quando ela fôra responsável pelo planejamento estratégico da empresa em relação a vários campos em que investia como o cultural, o social, o esportivo e o ambiental. Agência de R.P. Hill & Knowlton (HK) A agência HK entende que alguns segmentos ou empresas têm uma percepção madura das atividades culturais como ferramentas de marketing, como: a) aquelas em que suas operações são muito próximas às comunidades locais e, portanto, precisam de ações de geração de relacionamento; e b) aquelas empresas que pelo perfil do setor têm de fortalecer os esforços de E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 96 marketing e assim procurar investir em ações de comunicação alternativas e eficazes. Porém alerta que o trabalho na área cultural dessas empresas é dirigido para projetos que já existem como, patrocínio de peças de teatro e/ou artistas mais conhecidos, de shows, que dão visibilidade e já estão a disposição. Segundo elas, devem-se desenvolver projetos culturais mais diferenciados. Uma importante verificação da agência diz respeito à atuação dos proponentes de projetos culturais: “os produtores culturais que oferecem os projetos são ansiosos, não se preocupam em apresentá-los adequadamente o projeto, pouco cuidando de sua adequação à empresa potencial e do levantamento de atributos atrativos para a marca”. Segundo o depoimento das entrevistadas, Débora Jacob, Supervisora de Contas e Sheila Magri, da H & K, uma agência de RP precisa de profissionais que entendam da seara do campo cultural, como a Articultura enquanto agência de comunicação e um agente cultural que possa preencher todas as exigências burocráticas para efetivação do projeto, principalmente no que diz respeito às leis e processos de aprovação no Minc e órgãos públicos de fomento a cultura. A participação da agência na definição das políticas culturais de seus clientes depende do grau de abertura e flexibilidade da empresa e da complexidade dos projetos a serem desenvolvidos. Para a agência é essencial que as ações e políticas culturais sejam atreladas às estratégias de marketing da empresa, buscando o envolvimento de todas as áreas e profissionais, alertando que as ações de marketing são ações pontuais de curto e médio prazo. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 97 Área da cultura investida Petrobras A Petrobras busca o equilíbrio entre pulverizar e reter a distribuição dos recursos disponibilizados para os projetos culturais contemplados no Programa Petrobrás Cultural, pois entende que há projetos, por sua natureza demandam maior volume de recursos. No entanto, além dos projetos selecionados pelo Programa Petrobras Cultural a cada ano, a Petrobras tem patrocínio continuado a alguns projetos como o Grupo Corpo, o Grupo Galpão, a Cia Deborah Colker, o Festival Anima Mundi e a Orquestra Petrobras Pro-Música. Instituto Itaú Cultural Segundo Zanon, praticamente todas as áreas culturais têm um gerente ou pessoa do Instituto Itaú Cultural trabalhando em função dela, tende ao equilíbrio, sendo o teatro o de menor atuação. Articultura Atua em todas as áreas, pois trabalha com todos os tipos de organizações com diferentes perfis de mercado e objetivos corporativos específicos. Agência de RP Hill & Knowlton A princípio, a agência tem experiência na área do Teatro. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 98 Diferenciações dos conceitos Petrobras Patrocínio Cultural e Marketing Cultural – investimento que a empresa faz ao adotar um projeto cultural; Conhece o termo comunicação por atitude como um avanço das práticas de “patrocínio cultural” da empresas, visto que receberam orientação da agência Articultura de onde o termo nasceu. Política Cultural – o Programa Petrobras Cultural. Instituto Itaú Cultural Segundo Zanon, a diferenciação entre Marketing Cultural e Comunicação por Ação Cultural, não se aplica para o Instituto, pois os objetivos são democratizar o acesso a cultura, articular os produtores culturais e artistas e gerar conteúdo qualificado. Mas, acredita que em relação aos outros atores culturais envolvidos, as ações para alguns podem ser vistas como comunicação por atitude (termo conhecido no mercado pela influencia bem sucedida da Articultura, disseminadora dele). Articultura Marketing Cultural: é o termo com que se batizou o processo de patrocínio cultural no Brasil adotado tanto pelo meio empresarial como pelos profissionais da área cultural; Este conceito foi pouco a pouco sendo posto de lado pela Articultura, pois seria mais apropriado denominá-la na aplicação de produtos culturais, ou E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 99 seja, como se pode aplicar o marketing a um museu, uma orquestra, um grupo de teatro; Para Sarcovas, o termo Marketing Cultural virou sinônimo de Patrocínio Empresarial à Cultura, se consagrando o ponto de vista da empresa; Começaram a usar a técnica denominada por eles mesmos como Comunicação por Atitude; Como o objetivo negocial, segundo ele, é obter resultados positivos de comunicação, mas estes resultados serão mais significativos quando a formulação das suas ações se der através de uma Política Cultural de longo prazo, não através de uma ação isolada; Ações isoladas de curto prazo são patrocínio cultural Agência de RP Hill & Knowlton Política Cultural corporativa: o guarda-chuva, aquele que abraça todas as premissas de atuação na cultura; Marketing Cultural: projeto cultural na área da empresa; Comunicação por Ação Cultural: é decorrente das estratégias de Marketing Cultural do projeto, que irá definir as estratégias de comunicação da ação cultural; ou Por uma outra perspectiva - departamental - dentro de uma organização: • Política Cultural quem define são os executivos das áreas de alto escalão; • Marketing Cultural, quem define as premissas das ações de investimentos na cultura é o departamento de marketing da empresa; e E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva • Comunicação por Ação Cultural, 100 o departamento de comunicação se responsabiliza em determinar as estratégias de comunicação da ação cultural investida. CATEGORIA 2: PAPEL DO ESTADO Petrobras Embora existam casos de patrocínio a projetos não incentivados, a Petrobras patrocina, prioritariamente, aqueles que dispõem de aprovação na Lei Federal de Cultura (a Lei Rouanet). Essa aprovação, no entanto, não é exigida no momento da inscrição do projeto no Programa Petrobras Cultural. Caso o projeto seja selecionado, o proponente terá um prazo, definido no Regulamento, para aprovar o projeto junto ao MinC. A Petrobrás não sente uma provável substituição da participação do Estado nos projetos culturais pela atuação da iniciativa privada, porque a Petrobrás, ainda que tenha capital misto, seguida do Banco do Brasil, são os maiores investidores na cultura do país, através das leis de incentivo. É governo apoiando as ações do próprio governo na área cultural. Instituto Itaú Cultural Para Zanon, no papel de Estado, as leis de incentivo à cultura deveriam ser um dos vários componentes de um conjunto de políticas públicas determinadas por um plano de ação para a cultura brasileira. As leis são importantes, mas não necessariamente determinantes pois, ainda que E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 101 acabassem ou cessassem por algum tempo, as atividades do instituto se reduziriam mas não acabariam. O Instituto Itaú Cultural vem atuando, ao longo dos seus 18 anos de existência, por vários períodos sem lei de incentivo à cultura no Brasil. Portanto, vê com estranheza o fato de que o Estado possa ser substituído pela iniciativa privada no campo da cultura nacional. O Estado tem uma visão macro da diversidade cultural do país e, portanto, segundo Zanon, é fundamental que esteja presente em todas as atividades culturais. O instituto utiliza basicamente a Lei Rouanet da seguinte forma: a cada R$10 investidos, R$7 são abatidos pela lei e os outros R$3 não são abatidos. A lei permitiria abater 100%, mas optou-se por esta outra alíquota. O superintendente enfatizou que Instituto não cobra ingresso em nenhum evento ou ação cultural promovida, ainda que a lei permita a cobrança. Articultura Para Sarcovas, leis são determinantes, com um crescente avanço da inserção das empresas nos diversos campos da cultura, indicando uma perversa dependência (e sua expansão) para o patrocínio através dos benefícios da renúncia fiscal do patrocinador cultural. Quanto à possibilidade da substituição da participação do Estado nos projetos culturais pela atuação da iniciativa privada, ele acredita que não vai ocorrer porque, segundo ele, as leis de incentivo, além de não terem nada a ver com patrocínio privado, são um modelo brasileiro de financiamento público. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 102 O modelo de financiamento da cultura brasileira, segundo Sarcovas, é resultado dos lobbies do mercado cultural que optou por um processo em que o dinheiro público destinado ao campo passasse pelo caixa privado; e o preço que se paga por isto é que a decisão para onde distribuir o dinheiro é uma decisão privada e não pública. Portanto, um modelo que precisa ser repensado e alterado com muito cuidado. A área privada, de acordo com o entrevistado, não esta financiando a produção cultural, porque o dinheiro é público e é transferido para a área como uma espécie de repasse em que a empresa é intermediária. Assim, como intermediária, a empresa decide onde investir de acordo com o espectro da máquina corporativa e não do interesse coletivo. Para as áreas de relevância do interesse coletivo, mas de pouco interesse empresarial, há a necessidade de deixar este modelo de lado e buscar o financiamento direto pelo Estado, como reais Políticas Públicas. A Articultura pouco usa as leis e praticamente não é proponente de projetos. Porém como as leis estão disponíveis para o mercado e gera altos lucros para quem as utiliza, segundo a Articultura, não se consegue operar no campo do patrocínio empresarial sem usar as leis; mas a agência busca orientar os seus clientes para que não criem dependência às leis, focando mais nas políticas culturais [desenvolvidas em função de seus objetivos estratégicos e não apenas contábeis], políticas para ficar. Por exemplo, “a Articultura venceu a disputa pela escolha da Natura para formular sua política cultural, pois foi a única empresa a dizer para Natura que ia botar a mão em dinheiro público e, por isto, [deveria] adotar uma postura de agente público, desenvolver programas que funcionassem por editais públicos E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 103 e que a seleção técnica dos projetos fosse independentemente de seus quadros e de seus interesses mais diretos”. De acordo com Sarcovas, não cabe às empresas abrir mão dos benefícios que as leis de incentivo oferecem: renúncia fiscal significa menos impostos para pagar, gerando benefício financeiro. Cabe ao governo criar outros mecanismos de incentivo menos perniciosos para a nação. Agência de RP Hill & Knowlton Para a HK as leis de incentivo são determinantes motivacionais à participação da iniciativa privada, mas acredita que nem todos os profissionais conhecem ou têm noção exata quanto aos usos adequados das leis. As entrevistadas da HK não pensam que há um processo de substituição pelas empresas, por que o mercado tem muito campo de trabalho a ser explorado, sendo impossível algum lado assumi-lo sozinho. A agência utiliza apenas a Lei Rouanet CATEGORIA 3: SELEÇÃO DE PROJETOS Critérios de seleção Petrobras O patrocínio da Petrobrás a projetos culturais pressupõe que estes estejam alinhados com o conceito, os objetivos e as linhas de atuação do Programa Petrobras Cultural. Os projetos podem ser contemplados através de duas modalidades: E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva • Seleção Pública ou • Escolha Direta 104 A deliberação final sobre os projetos contemplados em cada edição anual do Programa é atribuição exclusiva do Conselho Petrobras Cultural, não cabendo recursos ou esclarecimentos sobre essa deliberação. Instituto Itaú Cultural O instituto utiliza duas formas para selecionar os projetos culturais: 1) desenvolvimento de projetos pela equipe de gerentes, pensando e planejando o que o instituto Itaú cultural irá fazer durante todo o ano; e 2) programa de incentivos aos novos talentos, tem comissão independente, que se procede através de edital público, percorrendo o país no período de inscrição e fazendo todos os procedimentos burocráticos para a realização do concurso – Projeto “Rumos”: Escola de Arte Articultura Em relação à seleção dos projetos culturais, a Articultura não realiza nada diretamente. Segundo Sarcovas, ela desenvolve as políticas para os seus clientes e a partir daí chega às ações, aos projetos. A agência orienta os seus clientes a utilizarem duas formas básicas de seleção: E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 105 1) seleção pública – criam-se as regras; dá-se ampla divulgação às regras; o cliente-empresa assume quem está apresentando as regras e os interessados apresentam os seus projetos, sendo que a cada edital de uma nova edição muda-se a comissão julgadora dos projetos; 2) seleção dirigida – quando há um projeto específico, a agência busca profissionais mais aptos para apresentar propostas específicas, pois conta com especialistas. Segundo seu diretor, a Articultura não é aberta a receber projetos, além de não patrocinar nenhuma empresa ou marca. Agência de RP Hill & Knowlton A agência não se responsabiliza pela seleção dos projetos, cabendo a ela a função de orientar sobre os objetivos de comunicação que o projeto deve contemplar. Exclusividade Petrobras A Petrobrás busca na maioria dos casos ser investidora exclusiva nos projetos em que investe mas, segundo a empresa, dependendo da amplitude e complexidade do projeto a ser desenvolvido pode-se tornar inviável para uma única empresa investidora quanto ao custo e necessitando de co-patrocinadores para seus projetos. E-mail do autor: [email protected] à operacionalização, Eduardo Augusto da Silva 106 Instituto Itaú Cultural O instituto busca exclusividade em 100% dos eventos, salvo as parcerias com as instituições sem troca de dinheiro, por ex.: Embratel – transmissão on-line, em que há outro tipo de troca: conteúdo oferecido pelas atividades culturais do instituto versus aumento do link, potencializado pela estrutura de transmissão da Embratel. Articultura Não se aplica, visto que não é ela quem decide sobre a exclusividade ou não dos projetos para os seus clientes. Há sim uma orientação aos seus clientes das vantagens e desvantagens decorrentes de cada projeto específico. Agência de RP Hill & Knowlton Também não se aplica para a agência, sendo o mesmo caso que o da Articultura. Quem seleciona Petrobras Para selecionar os projetos a Petrobrás criou um conselho - Conselho Petrobras Cultural - que funciona da seguinte forma: é constituído pelos três consultores do Programa Petrobras Cultural, José Miguel Wisnik, Jurema Machado e José Carlos Avellar; pelos representantes do Ministério da Cultura (MinC) e da Subsecretaria de Comunicação Institucional da Secretaria Geral da E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 107 Presidência da República (SECOM) e pelos Gerentes de Patrocínio e de Comunicação Institucional da Petrobras holding e da Petrobras Distribuidora. O Conselho Petrobras Cultural tem como atribuições: avaliar permanentemente os processos e os resultados do Programa Petrobras Cultural, formular o conjunto de seleções públicas de projetos a serem lançado a cada edição; analisar, aprovar e convidar os especialistas que participarão das Comissões de Seleção; deliberar sobre a escolha final dos projetos préselecionados pelas Comissões de Seleção; validar a relação final de projetos contemplados por Escolha Direta e Continuidade; examinar propostas relevantes encaminhadas ao Conselho; e decidir acerca de questões não previstas em regulamento. Instituto Itaú Cultural Para a seleção dos projetos em geral, o instituto tem o apoio dos seus gerentes de áreas culturais. Para o projeto “Rumos” o instituto opta por uma comissão independente. Articultura A Articultura faz planejamento estratégico de captação, ou seja, faz arquitetura de captação, uma metodologia de captação que se baseia em determinar: • quantidade das cotas e seus possíveis valores; • seus respectivos benefícios; • tipos de empresas que se interessariam por estas cotas; E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva • 108 possíveis decisores e os argumentos que podem ser usados para oferecer as cotas para os possíveis interessados. Por exemplo: o projeto piloto foi Brasil 500 anos: Mostra do Descobrimento, em que a Articultura fez um planejamento com verba de R$14 milhões que permitiu desenvolver o que chama de “propriedade de valor”, visto o resultado em que a mostra chegou a ser vendida a R$30 milhões no mercado. Assim os projetos vão ao mercado como propriedade de comunicação, com uma linguagem de mercado. Agência de RP Hill & Knowlton Primeira ela faz uma seleção dos projetos que podem ser interessantes para o cliente da agência de RP. Mas a responsabilidade na seleção das peças, artistas ou produto cultural é do agente cultural ou de comunicação intermediário. Público-alvo dos projetos culturais Petrobras [A quem possa interessar...]. O mais amplo possíveil, em todas as regiões do Brasil, de acordo com os objetivos do Programa Petrobrás Cultural. Instituto Itaú Cultural O público-alvo é definido de acordo com a atividade, por exemplo: E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 109 - Lançamento do Programa Rumos: tem-se que escolher quais entidades serão convocadas para trabalhar juntas e qual o perfil delas; - Quando for uma ação institucional deve-se escolher público que tem capacidade de formar opinião. Através de um mailing com 100 mil nomes construído desde o início das atividades do instituto, ele envia a cada semana 30mil e-mails, divulgando a agenda, fazendo um recorde de mailing específico a cada atividade cultural relacionada. A assessoria de imprensa do instituto é o carro chefe para divulgar as ações do instituto. Além disso, o instituto, por conta própria, distribui 5mil folders a formadores de opinião. Articultura Não se aplica, pois depende do projeto. Agência de RP Hill & Knowlton Depende do projeto, mas a maioria foca em formadores de públicos. Responsabilidade na divulgação Petrobras A Petrobrás e seus parceiros. Instituto Itaú Cultural O instituto terceiriza uma agencia de notícias, que presta serviços de assessoria de imprensa, com acompanhamento do instituto na discussão da E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 110 pauta: diária e semanal, além de suas ações pontuais de envio de e-mail´s e folders. Articultura Depende do projeto, mas normalmente não é a agência que se responsabiliza em divulgá-los. Agência de RP Hill & Knowlton Idem Articultura CATEGORIA 4: AVALIAÇÃO DE RETORNO Petrobras O Conselho Petrobras Cultural faz permanente avaliação dos resultados dos projetos, principalmente daqueles de continuidade. Há uma fiscalização feita pelo gestor do contrato durante toda a execução do projeto, por meio de visitas e/ou relatórios apresentados pelos proponentes. A fiscalização é apoiada também por técnicos das regionais de comunicação da Petrobrás. Além da fiscalização, não há procedimentos formalizados para avaliar o retorno dos investimentos em cultura. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 111 Quanto às ações decorrentes da análise de retorno da Petrobrás as orientações de continuidade, alteração ou ruptura vão de acordo com os resultados alcançados Instituto Itaú Cultural Segundo Zanon, o instituto faz avaliação do início ao fim de cada ação cultural desenvolvida. Por exemplo, no caso do projeto “Rumos”: • Antes de realizar a atividade se estabelecem metas; • Durante: - análise das inscrições pelo nº e perfil dos inscritos; - atividades de formação de acordo com o perfil dos selecionados; • Depois: - análise dos resultados com os colaboradores quanto ao upgrade alcançado dos selecionados no fim do programa; - análise do público alcançado: nº e perfil. As formas de mensuração do retorno adotadas pelo instituto são: • Contagem do público; • Centimentragem nos jornais e revistas; • Pesquisa qualitativa e quantitativa; • Auditoria de imagem Quanto às ações decorrentes da análise de retorno há uma série de procedimentos: controle e revisão para atividades futuras; seminários de sensibilização e mobilização em torno do edital; nacionalização do programa a partir do perfil e dos impulsos para fortalecer o projeto; pesquisa de opinião quanto ao espaço e adequação ao público, estrutura e tema; revisão do E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 112 mailing-list, qualificando e selecionando, aprimorando a lista através de ação dirigida, não sendo por internet ou telefone. Articultura O procedimento de avaliação das atividades culturais da Articultura implica na orientação ao longo de todo a concepção do projeto, pois como a agência está envolvida com a política cultural de seus clientes, ao definir o planejamento dessas políticas os objetivos são determinados. Ou seja, a Articultura foca o papel que aquele projeto tem, entendido como um processo de comunicação, dentro de todas as necessidades da empresa-cliente; dos objetivos se definem as metas, que definem os processos de medição/mensuração. As formas de mensuração do retorno comumente adotadas pela agência são: fixação de atributo; mudança de posicionamento; envolvimento de determinados públicos; geração de determinado nível de aceitação, para determinado públicos estratégicos, para determinados eventos etc.; e pesquisas quantitativas e qualitativas. Segundo Sarcovas, “nenhum processo de comunicação em que não saiba por que se está comunicando é mensurável (os aspectos tangíveis ou intangíveis)”. Assim as ações decorrentes da análise de retorno são de correção de rumo, podendo resultar numa orientação de abandono ou ruptura. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 113 Agência de RP Hill & Knowlton A agência não estabelece nenhum procedimento formal de avaliação das atividades culturais, resumindo em feedback espontâneo, contagem de público e clipagem, mas nenhum tipo de pesquisa de opinião ou pesquisa qualitativa. O quadro 4.3 oferece um panorama dos itens pesquisados e discutidos acima. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 114 Entrevistados Instituto Itaú Cultural Petrobras Articultura Hill & Knowlton Objetivos Uso das atividades culturais e Papel dos atores culturais Estratégias de MC atreladas aos Objetivos Corporativos Linhas Específicas Diferenciação entre: MC(Marketing Cultural), PC(Patrocínio Cultural) e CAC(Comunicação por Ação cultural) Leis de Incentivo Difusão e valorização da cultura Democratização da cultura Oportunidade de comunicação Um gerente p/ cada área cultural Tudo é comunicação empresarial, não reconhece aplicação p/ o instituto Deveria ter mais outros incentivos Fonte alternativa p/ agregar valor à marca de seus clientes Sim, mas mercado precisa se profissionalizar Atua em todas as áreas MC - termo adotado pelo mercado PC - ação pontual CAC = Comunicação por Atitude Infelizmente são determinantes Fortalecimento da marca Não. Atividades como mecenato Busca equilíbrio sem pulverizar MC - estratégia de comunicação PC - estratégia de MC CAC - Não respondeu Fundamentais Substituição do Estado pelas empresas Tem espaço pra todos Critérios de Seleção dos Projetos Seleção Pública e Escolha Direta Não, Estado tem visão macro Desenvolvimento de projetos Modelo de incentivo pernicioso Orientação ao cliente Não acreditam numa substituição Orientação ao cliente Exclusividade Depende do projeto 100% Depende do cliente e projeto Depende do cliente e projeto Responsáveis Conselho e Comissão Gerentes e comissão Apenas orientação Apenas pré-seleção Liberdade do artista Depende do projeto Apenas repertório e criação Depende do projeto Negociável Público-alvo Amplo Depende do projeto Depende do projeto Depende do Projeto Quem divulga Avaliação de Retorno Parceria Avaliação permanente pela Comissão Assessoria Imprensa terceirizada Antes, durante e depois Não se aplica Definição dos critérios planejamento dos projetos Formas de Mensuração Implantação de modelo de avaliação de retorno em comunicação e marketing Contagem de público; Fixação de atributo; mudança de Feedback espontâneo; contagem centimentragem; pesquisas quali e posicionamento; envolvimento de de público e clipagem. quanti; auditoria de imagem públicos específicos; geração de aceitação; pesquisas quali e quanti Quadro 4.3 Representação esquemática dos itens pesquisados em São Paulo E-mail do autor: [email protected] Alguns segmentos precisam amadurecer nesta questão Teatro, pela experiência PC - ação pontual MC - projeto cultural empresarial CAC - estratégia de MC Fundamentais Não se aplica no Nenhum procedimento formal Eduardo Augusto da Silva 115 4.4 ANÁLISE COMPARATIVA DOS DOIS CASOS ESTUDADOS No universo da prática, os dois estudos de casos, separados pela distância regional de 650km e cinco anos entre o primeiro e último estudo, estabelecem um comparativo em que encontramos mais pontos em comum que díspares. Sinal que tempo e espaço nem sempre são suficientes para gerar mudança concreta, sem contarmos com as diferenças de dimensão dos fatores econômica, social e culturalmente presente nos casos estudados. CATEGORIA 1: POSTURA Salvo a Petrobras e o Instituto Itaú Cultural, que investem nas artes com objetivos de difusão e democratização da cultura no Brasil, as demais instituições pesquisadas entre os dois estudos entendem que o investimento cultural tem fins de comunicação na busca de geração e consolidação de imagem e posicionamento estratégico da marca corporativa. Usando o termo “Marketing Cultural” adotado pelo mercado e buscando facilitar o entendimento dos entrevistados e a preservação os resultados sem viés de pesquisa, todos os entrevistados entendem que suas ações estão atreladas às estratégias de marketing, exceto o Instituto Itaú Cultural que entende suas atividades como mecenato. Destaca-se disto que a Petrobras declara que investe na área artística para fins de difusão e valorização da cultura, mas, quando se pergunta sobre a conexão desta prática com as estratégias de marketing concorda que também busca com isso o fortalecimento da marca. Exceto a agência de R.P. Hill & Knowlton que foca seus trabalhos na E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 116 área do teatro, pelo fato de seus clientes priorizarem-na, os demais entrevistados nos dois estudos não indicam nenhuma área cultural de preferência. Todos buscam ampliar o campo de atuação nas artes, mas com o cuidado de obedecer aos objetivos de comunicação de cada projeto cultural. Na espinha dorsal de nosso trabalho, os anos e distanciamento regional não determinaram nenhuma diferença quanto à definição adequada para os termos “Marketing Cultural” e “Comunicação por Ação Cultural”; exceto a Articultura, por razões óbvias de ter sido pioneira na adoção do conceito de “Comunicação por Atitude”, os demais entendem os termos como sinônimos entre si e indicativos de estratégias de comunicação. CATEGORIA 2: PAPEL DO ESTADO A maioria dos entrevistados de ambos estudos, Uberlândia e São Paulo, via nas leis de incentivo uma ação importante para incrementar o mercado cultural. Mas as agências e produtores culturais de Uberlândia, na ocasião de pesquisa, tinham a consciência que as leis eram determinantes para as empresas, que buscavam nelas o benefício fiscal e de geração positiva de imagem e, no entanto, não eram determinantes para as artes no geral, visto que entendiam a necessidade de tornar o mercado cultural menos dependente das leis de incentivo e das empresas. A Articultura foi a única instituição que “acidamente” questionou e vem questionando as leis de incentivo, alertando que é um mecanismo pernicioso que o Estado estabelece para o mercado cultural, visto que deixa nas mãos E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 117 das empresas a decisão de onde deverão ser distribuídas as verbas públicas destinadas à cultura, através da renúncia fiscal. Precárias ou não, todos os entrevistados utilizavam e vêm utilizando as leis de incentivo nos seus projetos, ou porque sem elas não é possível “vender” os projetos, especialmente os produtores e agentes culturais, ou porque buscam mesmo os benefícios da abdicação fiscal. Quanto à especulação sobre a substituição do Estado pelas empresas, nenhum entrevistado, de ambos os casos, se mostrou preocupado. Pelo contrário, alguns pediram mais incentivos do governo, seja federal, estadual ou municipal, caso das empresas e agentes/produtores culturais de Uberlândia. Os demais de São Paulo, mesmo a Articultura, defendem que não cabe às empresas abrir mão dos benefícios, mas sim, o governo criar melhores mecanismos de incentivo para um efetivo impulso do mercado cultural no Brasil. CATEGORIA 3: SELEÇÃO DE PROJETOS As agências e produtores culturais de Uberlândia pesquisados foram os únicos que selecionavam os projetos por critérios de qualidade da obra e identidade cultural da região. Talvez pelo envolvimento mais próximo da arte que das empresas, visto que há cinco anos, e ainda no interior de Minas Gerais, fosse mais natural um comportamento menos negocial quanto à postura corporativa. As empresas entrevistadas de Uberlândia tinham como critério outro E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 118 mecanismo: investiam em cultura se estivesse no orçamento contábil, para fins fiscais e não financeiros. Fica claro que projetos que não contemplassem as leis de incentivo passavam longe de qualquer avaliação mais coerente. Assim, percebe-se que faziam um exercício de decisão baseados em projetos que, ao mesmo tempo, fossem importantes para a imagem da marca e dentro do previsto da renúncia fiscal. Um perigoso e contraditório recurso para o mundo das artes. No caso de São Paulo, os critérios de seleção dos “produtos culturais”, para cada um dos segmentos entrevistados, são mais voltados às estratégias de comunicação das instituições investidoras. Não significa, no entanto, que as variáveis “fiscal e qualidade da obra” não sejam contempladas nos projetos, mas têm peso menor nas decisões de escolha da obra artística. A busca pela exclusividade em investir num projeto cultural e, portanto, ter apenas a sua marca exposta nos eventos promocionais da obra artística é uma exigência unânime entre os entrevistados. Porém, o “co-patrocínio” é bem vindo quando o projeto cultural oferece uma complexidade ou amplitude de investimentos inviáveis para apenas um investidor, mas desde que o(s) parceiro(s) não ofusque(m) ou não gerem(m) questionamentos quanto à identidade e imagem da marca. Com relação aos responsáveis pela seleção dos projetos, a Petrobras e o Instituto Itaú Cultural são os únicos que têm comissões e equipes formadas exclusivamente dedicadas a isso. Os demais entrevistados indicaram que dependia da dimensão do projeto formação de equipes ou comissão, pois muitos projetos culturais passavam ou passam nas mãos de poucas decisores para serem selecionados. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 119 O artista, de acordo com todos os entrevistados, tem pouca liberdade de escolha quanto à data e local, pois ficam vinculados aos interesses de seus patrocinadores que, em alguns casos, criam os eventos baseados em suas obras para determinado objetivo institucional. Mas o “repertório” não sofre nenhuma interferência. Daí percebe-se que essa liberdade limitada tem ligação com os públicosalvos definidos de acordo com os interesses do patrocinador que, na maioria dos casos examinados, busca formadores de opinião, ainda que nem sempre isto seja possível, variando o público para a comunidade em geral. “Check” para o discurso da responsabilidade social, mas ainda passível de discussão e de defesa para as organizações que se dizem cidadãs. O proponente dos projetos, segundo os entrevistados de ambos os casos, quase sempre têm de assumir a responsabilidade pela divulgação do evento para promovê-lo. Salvo alguns projetos da Petrobras e a maioria dos eventos do Instituto Itaú Cultural, que utiliza uma assessoria de comunicação terceirizada, em que eles mesmos assumem o papel de divulgadores. CATEGORIA 4: AVALIAÇÃO DE RETORNO A agência de R.P. Hill & Knowlton de São Paulo se junta às empresas e agências/produtores culturais de Uberlândia quanto à avaliação de retorno dos seus projetos culturais: não estabelece nenhum procedimento formal para avaliá-los. Pelo lado mineiro pode-se ter a justificativa da pouca profissionalização do mercado cultural da época. No caso da multinacional americana HK pode-se entender que mesmo que faça parte do “core business” E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 120 de uma agência de Relações Públicas, não depende exclusivamente dela para realizá-lo. Este parece ser um movimento que obrigará os profissionais da área em assumir o seu papel no planejamento, desenvolvimento, implementação e controle de projetos de comunicação por ação (cultural). Por conseqüência, as formas de mensuração ficam diretamente ligadas a formalidade ou não da avaliação: resumem-se a contagem de público, clipagem, centimentragem e feedback espontâneo. Como modelos a seguir, a Petrobras vem implantando um processo de avaliação de retorno em comunicação, por uma equipe de consultores contratados para desenvolver este mecanismo com fins de melhorar a eficiência no planejamento de comunicação por ação (cultural). Outro modelo que podemos seguir é o da Articultura que, segundo seu diretor Sarcovas, tem o seguinte preceito: “nenhum processo de comunicação em que não saiba por que se está comunicando é mensurável”. Dessa forma as variáveis que eles buscam no processo de avaliação são totalmente voltadas para a perspectiva empresarial, porque entendem os motivos pelos quais as organizações investem nas artes. São elas: 9 Fixação de atributo; 9 Mudança de posicionamento; 9 Envolvimento de públicos específicos; 9 Geração de aceitação; 9 Pesquisas qualitativas e quantitativas; e 9 Outras de acordo com a necessidade ou interesse do cliente. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 121 CAPÍTULO V – OS APLAUSOS (OU VAIAS?!) 5.1 CONCLUSÕES PRELIMINARES Da análise resultante da revisão bibliográfica e das duas pesquisas de campo, percebemos que os profissionais e pesquisadores de marketing e comunicação, na sua maioria, ainda não têm uma visão clara do Marketing Cultural enquanto fundamento mercadológico para os produtos e serviços culturais. Eles o definem como um instrumento de apoio à comunicação para construção de imagem de marca. O termo foi reduzido a funções meramente comunicacionais, relegando o seu uso ao fomento da cultura pelas instituições sem fins lucrativos, para ser utilizado num cenário altamente competitivo que busca técnicas alternativas de comunicação institucionais para gerar diferenciação frente os concorrentes. As ações culturais, na medida em que são direcionadas e divulgadas para os públicos-alvos das organizações estranhas ao mundo das artes, perdem o caráter puramente institucional e se constituem em políticas de comunicação empresarial – Comunicação por Ação Cultural. Na busca de imprimir imagem de empresa cidadã e socialmente responsável, coloca-se em risco a própria ética empresarial ao se utilizar mecanismos promocionais na busca de diferenciais intangíveis. Nas condições oferecidas pelo governo às organizações, para incrementar a cultura no Brasil através da renúncia fiscal, os benefícios pendem mais para o lado empresarial do que efetivamente para a sociedade, quais sejam: liberdade de escolha sobre o contexto da obra de acordo com E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 122 objetivos mercadológicos; ações que geram informações, dinheiro, pessoas, consumidores; agradam outros comerciantes; geram empregos diretos e indiretos; integram a empresa na comunidade alcançada; constrói imagem positiva – insumo fundamental para posicionamento estratégico eficaz; além de possibilitar mais vendas e mais lucros, no mínimo. No contexto atual, com uma sociedade cada vez mais consciente do papel da cidadania corporativa, exige-se o estabelecimento de uma relação entre empresa e o mundo, em que os objetivos comerciais devem deixar de ser interesse único e se movimentar na direção de objetivos coletivos e sociais. A cultura vira negócio e o uso dela vem se tornando alternativa importante para a sustentação da organização no seu mercado. Porém a falta de planejamento por parte dos “atores culturais” (social, cultural e político) pode retardar o desenvolvimento do mercado cultural brasileiro e dos próprios benefícios efetivos para a sociedade. Alerta-se para a necessidade de maior profissionalismo e formação ética dos atores culturais para geração de oportunidades efetivas de crescimento, tanto corporativo quanto social, a todos os envolvidos direta ou indiretamente com a arte. Marketing Cultural deve ser entendido como um conjunto de ações mercadológicas na esfera das instituições culturais, em que seus produtos e serviços são a própria obra artística e os fundamentos de marketing estrategicamente traçados para os seus interesses comerciais. O conceito de Comunicação por Ação Cultural se aplica às práticas de apoio a cultura, adotadas no cenário nacional, em que o objetivo é puramente promocional, ainda que as organizações que as utilizam tenham uma preocupação sincera com a sociedade. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 123 5.2 GESTÃO CULTURAL E PROJETO CULTURAL, PARA AGENTE E ARTISTA A emergência de um novo tipo de agenciador cultural se faz patente no cenário, onde a cultura de mercado impera. A agência (de marketing e comunicação) cultural representa uma instância intermediária entre a criação cultural e a fonte de financiamento. Cabe a ela imprimir um tratamento mercadológico ao projeto, identificar potenciais patrocinadores, negociar a venda e supervisionar a execução do mesmo. A estrutura operacional da agência deve estar voltada para atender ãs necessidades das duas pontas envolvidas no processo: o artista e o patrocinador. A melhor forma de enfrentar este cenário seria assumir a postura de GESTOR CULTURAL. Para ser bem sucedido nesta função, o agente/produtor (e mesmo o artista, quando não tem opção para contratar um profissional dedicado exclusivamente a isto) deve, segundo Brant (2001:48), ficar atento aos seguintes itens: a) Desenvolver um “check list” que sirva de roteiro geral para todas as produções que forem realizadas; b) Definir quem deverá assumir a responsabilidades como prováveis processos judiciais, funções administrativas e financeiras do negócio cultural; c) Acompanhar todas as etapas do processo de produção e gestão do negócio através de arquivos e relatórios; d) Avaliar constantemente através de análise do que foi bem ou mal realizado; e) Atualizar freqüentemente os cadastros como mailings de imprensa, clientes fornecedores, formadores de opinião e pessoas do mercado cultural; f) Tomar com hábito a formalização de contratos entre os parceiros culturais; g) Prestar contas durante todo o processo de produção e gestão cultural; e h) Avaliar pós-evento como prerrogativa de aprimoramento para as próximas produções. Uma vez atento quanto às funções da Gestão Cultural, o agente/produtor poderá se preocupar em desenvolver projetos culturais dentro E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 124 das exigências do mercado. Abaixo há um Roteiro para elaboração de um Projeto Cultural, baseado nos autores Brant (2001), Moreira (2004) e Sarcovas (2005), adaptado neste trabalho e constituído de oito etapas: 1) Seleção de uma idéia através de um briefing; 2) Planejamento – define o conceito da proposta: a. b. c. d. e. f. g. h. Pesquisa para identificar ameaças e oportunidades; Descrição do projeto: ação e área cultural pretendida; Definição dos objetivos principais: O que se pretende? Justificativas: Por quê? Realizadores, coordenadores e responsáveis: Quem faz o quê? Apresentação das características principais do projeto: O quê? Público-Alvo: Pra quem? Plano de Comunicação: • Conceito e foco; • Ações de Exposição e Promoção; • Mídias a serem utilizadas; • Assessoria de Imprensa e Relações Públicas; i. Cronograma: Quando se realizará cada fase? j. Política de Patrocínio – Investimento: • Valor total do projeto • Cotas de participação e seus benefícios; • Atributos de imagem do projeto; k. Informações advindas de pesquisa e coleta de dados complementares; 3) Pré-produção: envolvimento dos parceiros culturais envolvidos; 4) Inscrição nas Leis de Incentivo: Formatação e tempo de aprovação de 90 dias dependendo do órgão de fomento se federal, estadual ou municipal; 5) Captação: prospecção e venda do projeto aos potenciais – importante patrocinadores; 6) Execução/Produção: Lançamento e Divulgação momento para pesquisa na coleta dos resultados alcançados; 7) Pós-Produção: levantamento dos relatórios de prestação de contas; 8) Avaliação: Comparação do Previsto com o Realizado – crucial para Análise do Retorno sobre os Investimentos do(s) patrocinador(es) do projeto cultural e de possíveis variações do cenário. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 125 Para se trabalhar com Marketing Cultural, deve-se tentar responder às perguntas abaixo: 9 Conheço profundamente pelo menos alguma área cultural (música, dança, artes cênicas, artes plásticas etc)? 9 Participei de algum tipo de trabalho voluntário que me fez entender ou perceber as necessidades de uma comunidade local? 9 Sei trabalhar diferentemente com Planejamento de Marketing e de Comunicação? 9 Tenho conhecimento suficiente sobre Análise do Retorno dos Investimentos em Comunicação e Marketing? 9 Conheço o mercado cultural, os concorrentes, as empresas patrocinadoras potenciais? 9 Entendo de Atendimento a Cliente: Pré-venda, Venda, Acompanhamento e Pós-Venda? 9 Meu negócio cultural está estruturado em missão, visão e valores? 9 Tenho equipe qualificada para atuar no mercado cultural? 9 Tenho posicionamento de mercado adequado e estabelecido? Se não, sei como fazê-lo? 9 Tenho algum diferencial que proporcione alternativa interessante para os meus parceiros culturais? E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 126 5.3 PLANEJAMENTO DA POLÍTICA CULTURAL PARA ORGANIZAÇÕES As organizações que se utilizam esporadicamente de ações culturais correm o risco de passarem a imagem de oportunistas e despreocupadas do seu importante papel de viabilizadoras de empreendimentos culturais para a sociedade. O ideal é que as interessadas em atuar no campo cultural desenvolvam uma política cultural duradora, que sobreviva às mudanças de gestão. Isso mostraria para a sociedade a seriedade da empresa e seu compromisso com ela. Portanto é necessário um Planejamento de Política Cultural (e não de Marketing Cultural) da empresa para garantir sua permanência no fomento as artes e no retorno social. Seguem abaixo algumas sugestões para a constituição deste planejamento, baseado em Moreira (2004:88-9) e adaptado para o nosso trabalho: 1) Identificação das áreas culturais de melhor aptidão – O que a empresa tem para investir em cultura. Indica-se um check-list de perguntas que podem auxiliar nesta fase: Questões importantes para a empresa que nunca patrocinou: 9 Qual é o seu produto ou serviço? 9 Quais os diferenciais de sua marca? 9 Realiza planejamento de marketing? 9 Quais os públicos-alvos? Quais os objetivos de comunicação? 9 E quais os instrumentos de comunicação utilizados? 9 Produz brinde no final do ano? Já pensou em brindes com valor cultural agregado? 9 A concorrência faz patrocínio? 9 Já pensou em diferenciar a comunicação de sua marca com a cultura? 9 Conhece Leis de Incentivo à Cultura? 9 Sabe quanto a sua empresa paga em impostos? E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 127 Questões importantes para a empresa que patrocina: 9 Qual é o modelo de patrocínio adotado por sua empresa? 9 Patrocínio tradicional ou estratégico? 9 Quais os objetivos do patrocínio? 9 Como são aferidos os resultados? 9 Qual foi o balanço dos resultados? 9 O público percebe o patrocínio? Responde positivamente? 9 Será que é possível otimizar recursos? 9 A concorrência faz patrocínios em quais áreas? 9 Quais os diferenciais das suas atividades em cultura? 9 Faz Patrocínio Planejado? 2) Definição dos objetivos, estratégias, metas culturais a serem perseguidos pela empresa; 3) Desenvolvimento de ações e projetos culturais a serem implementados; 4) Implementação e coordenação dos projetos culturais pré-aprovados; 5) Avaliação dos projetos culturais implementados através de pesquisa e análise de relatórios dos resultados; e 6) Readaptação dos objetivos e metas culturais. Depois de definido o Planejamento da Política Cultural a empresa terá não apenas a capacidade de selecionar e adequar os projetos culturais que por ventura forem oferecidos pelos artistas, produtores e/ou agentes culturais, como também de pró-ativamente encomendá-los dentro de suas necessidades de comunicação. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 128 5.4. Limitações da Pesquisa e Sugestões para Futuros Estudos Dadas as proporções do mercado cultural da cidade de São Paulo, não foi possível entrevistar os artistas, pois ficam dispersos num cenário de diversas correntes e manifestações culturais. Isto exigiria a escolha de uma delas, o que fugia ao nosso objetivo quanto ao estudo das intervenções das empresas estranhas a este mercado. Como sugestão para pesquisas futuras, percebemos poderíamos usar a mesma linha de estudo para outras como: esporte, ambiental e social, num estudo que possa abordar a aplicação interdisciplinar das ciências sociais como: sociologia, antropologia, filosofia e economia. Assim o estudo dessa amplitude complementará o conceito de Comunicação por Ação: objetivo de nosso próximo trabalho para o Doutorado. E-mail do autor: [email protected] Eduardo Augusto da Silva 129 “CRÉDITOS” 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO, Arlete de Lourdes. Marketing cultural: um estudo sobre a produção cultural a partir das leis de incentivo em uma sociedade de mercado. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação, apresentado ao Depto de Comunicações e Artes, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa). ECA/USP, São Paulo, 2002. ALMEIDA, Cândido José. Arte é Capital: visão aplicada do marketing cultural. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. ALMEIDA, Cândido José Mendes de; DA-RIN, Silvio. 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