Especialistas discutem acesso ao tratamento da doença renal crônica e o crescimento da demanda no Brasil Nefrologistas e representantes dos centros de tratamento discutiram alternativas para melhorar e ampliar atendimento a pacientes Com o envelhecimento da população e o aumento progressivo da prevalência do diabetes e da hipertensão, a doença renal crônica também atingirá mais pessoas nos próximos anos. A doença, que acarreta a perda progressiva e irreversível das funções renais, leva os pacientes à dependência de terapias de substituição, com diálise ou transplante de rim. De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), existem hoje cerca de 92 mil pacientes em diálise no Brasil. Nos últimos 10 anos, esse número cresceu 115%1 e deve aumentar em uma proporção de 500 casos por milhão de habitantes a cada ano. Um panorama da incidência e tratamento da doença renal crônica no Brasil e no mundo foi apresentado em evento que reuniu nefrologistas de todo o País em São Paulo. Realizado com o apoio da Baxter, empresa da área de saúde, o encontro promoveu um painel de discussão sobre o acesso ao tratamento, em que foram apontadas as principais dificuldades de pacientes e profissionais de saúde. A principal questão levantada pelos participantes foi a falta de uma política unificada que possa adequar os investimentos em prevenção, diagnóstico e terapias, bem como otimizar os recursos humanos e financeiros envolvidos. Atualmente, 90% dos pacientes são tratados com hemodiálise em clínicas especializadas, com a filtragem do sangue por uma máquina, em sessões de três a quatro horas, três vezes por semana. O tratamento é custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas em 90% dos casos, acontece em clínicas privadas. Uma alternativa à hemodiálise é a diálise peritoneal, que é realizada em casa, pelo próprio paciente, com a infusão de uma solução de diálise na cavidade abdominal. O acompanhamento desses pacientes é feito mensalmente, ocasião em que é necessário o deslocamento à clínica. Problema de saúde pública Em sua apresentação, o Dr. Daniel Rinaldi, presidente da SBN, destacou que a doença renal crônica deve ser vista como um problema de saúde pública. Estima-se que 10 milhões de brasileiros tenham algum grau de deficiência na função renal. “O diagnóstico da doença é fácil, mas é preciso ter acesso a atendimento especializado para retardar a progressão da doença e preparar o paciente para a terapia de substituição mais adequada. A porta de entrada deveria ser a atenção básica à saúde, mas a maioria dos pacientes chega ao sistema pelo atendimento a emergências”, ressaltou. Para o Dr. Elias David Neto, nefrologista responsável pelo Serviço de Transplante de Rim do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e Coordenador do Centro de Nefrologia do Hospital Sírio-Libanês, o crescimento da demanda por terapia merece atenção. “A maior parte do atendimento é feito em clínicas privadas. O custo para a criação dessas clínicas é muito alto e o retorno é lento. Além disso, elas não podem expandir o atendimento, pois há um limite de 200 pacientes por unidade”, disse. Para o nefrologista, é preciso difundir o conhecimento sobre as possibilidades de tratamento. “Cerca de 30% dos pacientes que fazem hemodiálise, o que é um percentual expressivo, têm a possibilidade de realizar a diálise peritoneal. Esta terapia, além de melhorar a qualidade de vida uma vez que evita o deslocamento, esforço e tempo para ir até o centro, ampliaria automaticamente em 30% a capacidade de atendimento de pacientes em hemodiálise, pois liberaria vagas. E sem nenhum investimento em clínicas. Mas o fato é que a maioria dessas pessoas nem sabe que esta alternativa existe”. Para o presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Diálise e Transplante (ABCDT), o nefrologista Dr. Paulo Sérgio Luconi, o financiamento do tratamento é inadequado. “O paciente chega para ser tratado em uma condição muito ruim, quando já passou a fase de conservação da função renal em urgência dialítica, impossibilitando, na maioria das vezes, a diálise peritoneal, que sem dúvida, permite que ele tenha mais qualidade de vida sem ter que se deslocar três vezes por semana, viajar e ficar fora de casa. O método é muito bom, mas não existe incentivo pra que se pratique em maior escala devido à inadequação dos valores de honorários profissionais praticados para este tipo de atendimento”, explica. De acordo com o Dr. Antonio Cordeiro, médico responsável pela Central de Regulação de Terapia Renal Substitutiva, que faz a distribuição dos pacientes na cidade de São Paulo, a maioria dos pacientes é diagnosticada por médicos que não têm conhecimento suficiente dos métodos de tratamento. “Dos pacientes que ingressaram na diálise em São Paulo, entre 2007 e 2011, 75% não sabiam que tinham a doença. Eles foram encaminhados para a terapia por meio de uma ficha cadastral preenchida pelo clínico geral. Esses pacientes não chegam a ser avaliados por um especialista e a maioria vai direto para a hemodiálise, atualmente realizada em 95% dos casos”, revelou o médico. Impacto socioeconômico - Os centros que oferecem terapia de hemodiálise ainda estão concentrados nas cidades maiores e capitais. Assim, pela necessidade de se deslocar três vezes por semana, o que, muitas vezes, exige percorrer grandes distâncias, o paciente acaba se tornando inativo economicamente, e seus familiares e cuidadores também têm sua rotina alterada. Como estratégia para minimizar o impacto socioeconômico de doenças crônicas e melhorar a qualidade de vida de pacientes, governos de vários países estão incentivando as terapias domiciliares. No Brasil, o Ministério da Saúde lançou em 2011 o programa “Melhor em casa”. O objetivo é levar atendimento médico às casas de pessoas com necessidade de reabilitação motora, idosos, pacientes crônicos sem agravamento ou em situação pós-cirúrgica. Subdiagnóstico - De acordo com o último Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), cerca de 92 mil pessoas estão em tratamento de diálise no Brasil. No entanto, a SBN estima que existam 10 milhões de pessoas com algum grau de doença renal crônica no País, se levada em conta uma prevalência estimada em cerca de 50/100.000 habitantes. Segundo o Sistema de Dados de Doença Renal dos Estados Unidos (USRDS), que mostra dados mundiais, a prevalência considerada no Brasil é bem menor que de outros países da América Latina, o que sugere subdiagnóstico. Além disso, a distribuição de pacientes em diálise no Brasil é nitidamente heterogênea, com números bastante baixos nas regiões Norte e Nordeste, o que faz com que o total de pacientes seja relativamente menor do que no Chile e Uruguai, embora nas outras regiões os números estejam mais perto dos desses países e de outros países desenvolvidos. 1 J Bras Nefrol 2011; 33(4):442-447/ 2010 USRDS Annual Report Doença renal crônica Doença renal crônica é a perda lenta, progressiva e irreversível das funções renais. Por ser lenta e progressiva, esta perda resulta em processos adaptativos e, até que tenham perdido cerca de 50% de sua função renal, os pacientes permanecem quase sem sintomas. A partir daí, podem aparecer sinais que nem sempre incomodam muito. Anemia leve, pressão alta, edema (inchaço) dos olhos e pés, mudança nos hábitos de urinar (levantar diversas vezes à noite para urinar) e do aspecto da urina (urina muito clara, sangue na urina, etc). Enquanto os rins estão funcionando com 10 a 12% da função renal normal, pode-se tratar os pacientes com medicamentos e dieta. Quando a função renal se reduz abaixo desses valores, torna-se necessário o uso de outros métodos de tratamento da insuficiência renal: diálise ou transplante renal. Sobre a Diálise Peritoneal A diálise peritoneal é uma alternativa de tratamento para pacientes portadores de Insuficiência Renal Crônica. Diferente da hemodiálise, terapia que exige o deslocamento do paciente três vezes por semana para fazer o tratamento na clínica, na diálise peritoneal o paciente é treinado e realiza o procedimento em casa. Dessa forma, a pessoa fica livre para realizar suas atividades diárias normalmente. No tratamento domiciliar, a solução de diálise é infundida na cavidade abdominal do paciente. Conforme o sangue circula pela membrana peritoneal, tecido semipermeável que reveste internamente o abdome, as impurezas e a água do sangue são absorvidas pela solução de diálise. Sobre a Baxter A Baxter International Inc., por meio de suas subsidiárias, desenvolve, fabrica e comercializa produtos que salvam e prolongam as vidas das pessoas com hemofilia, deficiência de imunidade, doenças contagiosas, doenças do rim, trauma e outras condições médicas crônicas e agudas. Como uma empresa de saúde global e diversificada, a Baxter aplica uma combinação única de experiência em dispositivos médicos, farmacêutica e biotecnologia a fim de criar produtos que melhorem o tratamento aos pacientes no mundo todo.