Departamento de Economia EM BUSCA DE UMA NOVA MEDIDA DO GRAU DE ABERTURA ECONÔMICA E UM PARALELO COM A INFLAÇÃO Aluna: Camila Cunha Benevenuto Orientador: Carlos Viana de Carvalho Introdução Motivada pela leitura do paper “Openness and Inflation: Theory and Evidence”1 de David Romer, em que é discutida a relação existente entre a medida de abertura de um país e a sua inflação, procurei, por meio de diferentes fontes, encontrar dados para as importações e exportações de bens e serviços, PIB e inflação, para 176 países, dos anos de 1980 a 2012, visando analisar a relação entre as suas medidas de abertura e taxas de inflação. Mas, além de usar a medida de abertura usual, construí uma que se aproxima mais da realidade, utilizando um PIB que considera apenas os bens e serviços que podem ser comercializados internacionalmente (um PIB tradable). Objetivo O objetivo foi chegar a uma base de dados com as medidas de abertura dos países (tanto com o PIB normal quanto com o diferenciado) e suas taxas de inflação (em log) e o mesmo para as suas médias. Depois disso, através de gráficos e tabelas que apresentassem os dados encontrados, busquei estabelecer uma relação entre as variáveis citadas acima. Além de observar se realmente faz alguma diferença usar o PIB diferenciado ou não. Metodologia Procurei em diversos sites e encontrei boas bases de dados para as variáveis que precisava, como: The World Bank Data e United States Statistics Division (ONU). A medida de abertura dos países foi calculada da mesma forma como Romer calculou, da seguinte maneira: sendo os dados necessários retirados do site da United States Statistics Division, e o “PIBtradable” calculado da seguinte forma: PIB – soma dos valores adicionados dos setores da economia que são considerados “non tradables” Tomando por base o estudo “The Elasticity of Substitution in Demand for Non- tradable Goods in Uruguay”2 , pude chegar à conclusão de que os setores que são non tradables são: Construction (ISIC-F); Wholesale, retail trade, restaurants and hotel (ISIC-G-H); Transport, Storage and Communication (ISIC-I). Como Departamento de Economia medida da inflação, usei os índices de preços do consumidor, encontrados no site do The World Bank, em logaritmo. Para a manipulação desses dados utilizei o programa “R”. Primeiramente, realizei os downloads de quatro tabelas, referentes aos dados para: taxas de inflação, PIBs totais, valores adicionados dos diferentes setores da economia que compõem o PIB e exportações e importações. Retiradas das bases de dados já supracitadas. Após fazer os downloads, importei as tabelas para o programa (“R”) e construí um dataframe para o PIB tradable. Nele subtraí os valores adicionados dos setores considerados non tradables do valor do PIB total, para todos os países e anos de que dispunha. Com isso, cheguei ao valor do PIB modificado que pretendia. Utilizando funções do programa “R”, me certifiquei de que os formatos dos dataframes correspondentes às tabelas importadas eram iguais e que, portanto, não haveria problema em mesclar as informações deles. Mas descobri que um país aparecia com o nome escrito diferentemente na tabela de “importações e exportações” e na tabela do “PIB total”. Como o que mudava era apenas o modo como o país estava escrito não alteraria em nada nos dados que seriam mesclados. Construí, então, mais um dataframe, chamado “medidadeaberturadif”, para que eu pudesse calcular a medida de abertura diferenciada (usando o PIB tradable), cuja fórmula já foi aqui descrita. Além de outro, chamado “medidadeaberturanormal”, em que eu utilizei o PIB normal. Entretanto, eu ainda não podia mesclar os dados para as taxas de inflação e os dados para as diferentes medidas de abertura, pois os dados para inflação estavam organizados em um formato diferente dos outros (o primeiro estava organizado horizontalmente e os outros verticalmente). Reorganizei o dataframe que possuía os dados para inflação, além de eliminar os dados que não eram comuns a todos os dataframes. Construí então, o “inflacaomodificada”. Mas, ainda existiam incompatibilidades com o número de linhas que deveria existir. Observando os dados manualmente percebi que haviam valores dobrados para os dados de inflação da Nicarágua em determinado ano. Após corrigir este problema, e acrescentar uma coluna para os dados em log(inflação +1), o dataframe final para inflação ficou sendo o “inflacaomodificadacorreta”. Ainda assim, as tabelas ainda não estavam totalmente compatíveis em relação aos países e anos. Fui então, manualmente, observando todos os dados para as tabelas de medidas de abertura e consertei alguns problemas, como por exemplo, a não existência de linhas para alguns anos que não haviam dados para alguns países entre 1980 e 2012. Nesses casos incluí linhas e as preenchi com “NA”, que indica a não existência de dados. Após essas pequenas modificações, construí dois dataframes, chamados “medidadeaberturadifcorreta” e “medidadeaberturanormalcorreta”. Estes sim, estavam totalmente compatíveis com o número de países e anos que haviam em comum com a tabela para inflação. Finalmente, pude mergear os dados, contruindo mais dois dataframes, o “finaldif” e o “finalnormal”, que possuíam os dados para cara tipo de medida de abertura e a inflação (normal e em logaritmo)), corretamente organizado para cada ano e país. Como David Romer, em seu estudo usou os valores das médias, resolvi construir também as médias. Construí uma matriz de uma coluna com as médias para os dados de cada país da coluna que possuía os valores para log(inflação+1), e depois Departamento de Economia calculei o log desses resultados. Chamei o dataframe de “logdasmediasinflacoescomlog”. Depois calculei as médias para cada país dos dados para cada uma das medidas de abertura. Chamei de “mediasdasaberturasnormais” e “mediasdasaberturasdif”. Por fim, construí um último dataframe chamado “tabeladasmedias” que incluía todos os dados das médias encontradas. Após todas as modificações nas tabelas, pude passar para a parte dos gráficos. Tomando por base o estudo de David Romer, dei destaque para um grupo de países que é utilizado por ele como sendo formado pelos países mais desenvolvidos. Esta lista inclui: "United States, Canada, Norway, Luxembourg, Switzerland, Germany, France, Denmark, Japan, Iceland, Belgium, Sweden, Finland, Australia, Austria, New Zealand". Romer cita mais dois países além desses, mas utilizei apenas os que estavam presentes na base de dados que eu dispunha para esse estudo. Ao construir os gráficos, representei esses países por pontos vermelhos, diferenciando-os dos demais. Relacionando as diferentes medidas de abertura (normal e diferenciada) no eixo X e o log(inflação+1) no eixo Y, obtive dois gráficos, apresentados a seguir. Departamento de Economia Departamento de Economia E, similarmente, para os valores encontrados na “tabeladasmedias”, mais dois gráficos. Departamento de Economia Após observar os gráficos encontrados percebi que talvez pudesse ser melhor observar as diferenças por meio de regressões econométricas. Para isso, exportei as minhas tabelas finais para o programa “Gretl” e obtive os seguintes resultados. Departamento de Economia E, para as médias, os seguintes resultados. Departamento de Economia Conclusões Os gráficos encontrados indicaram uma relação negativa entre as duas variáveis. Já era de se esperar tal resultado, já que economias abertas tendem a ser mais eficientes, pois estão expostas à concorrência internacional. Naturalmente, seus produtos tendem a ter preços menores para poder competir com os produtos importados e, assim, apresentam taxas de inflação mais baixas. Entretanto, essa relação não é muito “limpa”, e isso ocorre porque existem inúmeros outros fatores que também afetam a inflação, além da medida de abertura, que não foram considerados no trabalho, e que estão causando viés. Isso pode ser claramente notado pelas observações em vermelho nos gráficos, correspondentes a um grupo de países mais desenvolvidos já supracitado. Para esses países, a relação entre a medida de abertura e a inflação praticamente desaparece, já que, independentemente das suas medidas de abertura, suas taxas de inflação tendem a ser baixas (fazendo com que as observações desses países se concentrem na parte inferior do gráfico). Uma das possíveis explicações para isso é que países mais desenvolvidos geralmente possuem Bancos Centrais mais independentes e críveis, de modo que a inflação seja guiada, em grande parte, pelas expectativas dos agentes. Assim, eles não enfrentam grandes problemas de inconsistência intertemporal na condução da política monetária, fator de grande peso para o nível da inflação. O caso desses países é um exemplo de fator que causa viés por não ter sido considerado na relação. Quanto à questão da medida de abertura diferenciada, ela nos dá uma visão mais realista, ao passo que considera, no denominador, apenas os bens que de fato podem ser comercializados internacionalmente. Mas, pelo que pude concluir, com base em todos os resultados encontrados, não há uma mudança significativa na relação entre medida de abertura e inflação quando usamos a abertura convencional ou a diferenciada. O que pode ser percebido tanto pelos gráficos aqui expostos quanto pelos coeficientes encontrados nas regressões do “Gretl”, que não apresentam uma diferença considerável. Referências 1 ROMER, David . Openness and inflation: Theory and evidence. The Quarterly Journal of Economics, Vol. CVIII, 1993, Issue 4. 2 LORENZO,Fernando; ABOAL, Diego; OSIMANI, Rosa. The Elasticity of Substitution in Demand for Non- tradable Goods in Uruguay. 2004, Pgs 9, 12.