Parabéns aos envolvidos.

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Parabéns aos envolvidos.
Fonte: Folha de São Paulo, por Vinicius Torres Freire, 05/02/2014
"PESSIMISMO" É EM geral a palavra de quem pretende reduzir discussões a desconversa ou, na
melhor das hipóteses, consolar alguém.
Segundo o governo, seria pessimismo observar que o crescimento econômico se arrastaria no pântano.
Seria pessimismo observar que:
1) Os juros estão em alta desde o início do ano passado; 2) A confiança dos empresários estava baixa;
3) A desvalorização do real criaria tensão, incerteza e encareceria investimentos; 4) O crédito crescia
cada vez mais devagar; mesmo o marombado crédito direcionado (sujeito a normas do governo e
subsidiado) iria pelo mesmo caminho, por falta de dinheiro.
Note-se que estão listados apenas alguns e mais imediatos obstáculos ao crescimento da economia.
Que bicho deu?
A produção da indústria brasileira cresceu 1,1% em 2013. Não bastou nem para tapar o buraco
deixado pela recessão de 2012, quando a indústria encolheu 2,5%.
O tombo foi feio em dezembro, de 3,5% em relação ao mês anterior. Foi bem feio na produção de bens
de capital. Enfim, o segundo semestre foi deprimente, o que não deveria causar admiração, dados a
aceleração da alta das taxas de juros, os piques de desvalorização do real etc., como exposto acima.
Vai fazer meia dúzia de anos que a produção industrial está praticamente estagnada.
Alta de custos (salários em alta excessiva e infraestrutura ruim), taxa de câmbio nominal desfavorável,
liquidações no mercado mundial de manufaturados e escassos ganhos de produtividade são motivos do
estrago, que tem ajudado a avariar o conjunto da economia brasileira.
O relativo fechamento do país ao comércio, devido à política de remendos protecionistas jecas, a
subsídios mal justificados e à falta de planos de abertura inteligente, ajudaram a fazer uma razia nos
incentivos econômicos à inovação e à eficiência.
O esforço maior do governo foi no sentido de aumentar os subsídios diretos e indiretos à indústria:
reduções de impostos, empréstimos a juros de avô para neto, negativos, doações de dinheiro, enfim.
No fim das contas, o resultado foi apenas criar um remendo insustentável para uma situação
estruturalmente problemática. O governo compensou a queda da rentabilidade da indústria com
dinheiro público; gastou a fim de contribuir para que a taxa de desemprego ficasse baixa.
Dadas as condições fiscais brasileiras, obviamente isso não iria prestar. Isto é, o deficit público
aumentou, as taxas de juros aumentaram, juros que desde quase sempre já são uma tétrica
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exorbitância brasileira. Não há mais como pagar a conta do remendaço.
O que entra por uma porta sai pela outra, como é visível em tantas obras deste governo. Tabelar a
gasolina arrebenta a Petrobras. Subsidiar a indústria encalhada num pântano de ineficiências estoura
as contas públicas, o que dá em mais inflação, o que deteriora ainda mais a situação da indústria. A
maquiagem do custo da eletricidade torna-se mais dívida. Etc.
Enfim, o "modelo" faz água por todos os lados, para usar uma expressão original. Vai haver "desastre"?
Não, provavelmente, não. Mas agora é essa a nossa medida de sucesso, não haver "desastre"?
Para usar outra expressão da moda, "parabéns aos envolvidos".
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