HOMENAGEM A FRANCESC PETIT Brilhante, genial, provocador... Você fará falta, Petit Por Fernando Guimarães Foto: Alê Oliveira / Propmark 36 Marketing Direto - Outubro/13 - nº 136 - Ano XIII A morte de Francesc Petit, o P da DPZ, na noite de 6 de setembro, uma sexta-feira, deixou o mercado perplexo. Quer dizer que os imortais também morrem? A resposta é não. Parafraseando Guimarães Rosa, Petit ficou encantado. Assim como vivemos encantados com o seu trabalho desde sempre. O artista e publicitário catalão que chegou ao Brasil em 1952 criou algumas das principais marcas e as mais memoráveis campanhas publicitárias brasileiras, para Itaú, Sadia, Gol e tantas outras. São criações suas personagens como o Garoto Bombril, em parceria com Washington Olivetto, e o Franguinho Sadia Lequetreque. Um dos seus primeiros trabalhos em terra brasilis, por exemplo, foi a criação do tucano vestido de turista que foi o símbolo da Varig durante 25 anos. E que ainda hoje, certamente, é a imagem de maior recall dessa indústria. Outra criação que demonstra bem a combinação de brilhantismo visual com alto grau de ousadia, um convite a ir além da explicação superficial e encarar com mais profundidade o que significa toda uma atividade, fantasticamente resumida em uma assinatura com a inconfundível grife Petit, é a marca da ABEMD. Graças a ele, o marketing direto brasileiro entrou no Século XXI com um ar de indiscutível, em suas próprias palavras, “modernidade e internacionalidade”. Efraim Kapulski, presidente da ABEMD lembra como tudo começou: “Foi em 2002. Naquela época, diversos integrantes da associação e profissionais do mercado defendiam a necessidade de reformular a marca da ABEMD que, como a maioria das marcas do marketing direto, fazia referência à mala direta.” Convencido que estava na hora de empreender essa modernização, Efraim passou ao problema seguinte: quem convidar para fazer isso, principalmente considerando que seria um trabalho voluntário. A sugestão veio de Roberto Barbeiro, presidente do Grupo Takano: “Por que você não pede para o Petit?” Efraim confessa ter se surpreendido inicialmente, mas levou a história à frente e não demorou muito para estar reunido com o publicitário em seu escritório no 5º andar do prédio da DPZ, na Avenida Cidade Jardim. A surpresa transformou-se em excitação, porque Petit aceitou o convite de imediato, prometendo inclusive fazer o trabalho “o mais rápido possível”. O que Efraim não sabia era que Petit nutria imenso respeito pelo marketing direto, como se pode depreender por suas próprias palavras, publicadas em seu livro “Marca e Meus Personagens”, publicado no ano seguinte à criação da marca da ABEMD, a qual o catalão genial fez questão de incluir no livro, como uma das suas “grandes marcas”: “É um serviço indispensável para toda grande empresa que quer chegar a seus clientes de maneira criativa, inteligente e sem perturbar a vida de ninguém. O marketing direto é uma preciosa ferramenta para se ter sucesso nos negócios.” Duas semanas depois, estavam juntos de novo na sala do publicitário. A ideia era verem “alguns estudos”, mas a cabeça do Petit não funciona- va dessa forma. Conta ele no livro que partiu da constatação de que a marca usada até então, mais do que apenas envelhecida, não transmitia toda a dinâmica e a complexidade da atividade. “Minha primeira reação”, escreveu, “foi tentar colocar no papel o tema e encontrar formas visuais que transmitissem essa atividade. Na verdade, o assunto é aparentemente simples, são notícias ou mensagens, produtos e serviços, que vão de um lado para o outro. No entanto, é preciso ter um complexo núcleo de trabalho criativo e estratégico para que essas mensagens cheguem ao destino com o maior sucesso.” Ou seja, o Petit , ao comentar o processo de criação da marca da ABEMD no seu livro, publicado em 2003, antecipou a discussão atual sobre a denominação da disciplina, com a expressão marketing diálogo ganhando força, exatamente porque mensagens e ofertas “vão de um lado para o outro” em um Outubro/13 - nº 136 - Ano XIII - Marketing Direto 37 HOMENAGEM A FRANCESC PETIT diálogo cada vez mais rico entre empresas e consumidores. No livro, Petit toca na questão do impacto da marca, na necessidade de que ela ganhe uma identidade forte e imediata: “Outro ponto importante que levei em consideração é que a marca fosse nova, diferente, que se olhasse uma vez e não se esquecesse mais.” E esse objetivo foi atingido plenamente. Diretores e associados confessam a mesma experiência: ao mostrarem qualquer material da ABEMD – cartão de visita, pasta, envelope, ou mesmo uma apresentação de ppt – para alguém que não conhece a associação, o logotipo causa sempre uma reação fortíssima – e instantânea! – de surpresa e encantamento. A lembrança da marca, um ativo da ABEMD, também é muito forte. Voltando à narrativa do Efraim, encontramo-lo outra vez na sala do artista. Petit o recebeu de pé e foi logo falando que “a marca que criei passa modernidade e internacionalidade. Minha equipe viu e gostou.” Efraim ainda tentou brincar, retrucando que “então não preciso nem ver, é só mandar produzir?” Mas nem conseguiu terminar a frase, pois quando Petit mostrou a nova marca tudo que lhe veio à cabeça foi “Meu Deus!” 38 Marketing Direto - Outubro/13 - nº 136 - Ano XIII Acostumado com reações misturadas de apreciação e susto que a ousadia dos seus trabalhos gerava, Petit tratou de acalmar Efraim, propondo que ele convivesse com a marca alguns dias. “Sempre é necessário conviver com uma marca nova por algum tempo”, disse. “Eu mesmo fiz isso, antes de me convencer de que ela era mesmo o que a ABEMD precisava.” Efraim fez mais do que isso: envolveu outras pessoas da ABEMD no processo de análise crítica. E, aos poucos, foi aumentando em todos a certeza de que o publicitário-artista (ou artista-publicitário) havia realmente conseguido traduzir, em um traço objetivo e ao mesmo tempo extremamente artístico, a atividade do marketing direto e seu processo de planejamento, com toda a carga de diversidade e complexidade inerentes a ela. A surpresa inicial deixou lugar à convicção de que se tratava de “uma obra perfeita, acabada, com atributos que talvez jamais tenha encontrado em outra marca nova da qual eu tenha participado do processo de construção em todos os meus anos de carreira na comunicação, tanto em veículos, como em agências e clientes”, afirma Efraim. “Atributos que se tornaram ainda mais atuais agora que passamos a usar também a expressão Marketing Diálogo”, completa. A marca da ABEMD é plasticamente muito bela. Chega a lembrar alguns trabalhos de Miró, catalão como Petit. A sua principal força, porém, não vem da parte estética, mas dos significados que carrega. “A sutileza com que ele tratou a seta”, reforça Efraim, “é bem uma demonstração da qualidade do Petit como homem de comunicação. Ela funciona como um ‘ponto de fuga’ do logotipo e, portanto, não vai direta e linearmente ao ponto. Em vez disso, leva o olho a assistir a transformação da mensagem em algo ‘redondo’, ou seja, ao seu enriquecimento através dos processos de marketing direto, que envolvem tanto o trabalho da mente humana como o uso de tecnologias para, aí sim, atingir o objetivo final e mais relevante que é a entrega, a conclusão da ação.” A ousadia da marca também conota inovação, pois a nossa atividade tem necessidade permanente de desenvolver novas estratégias, novos domínios, ir aonde nenhuma outra disciplina de marketing foi antes. Obrigado, Petit. Por tudo. A marca ABEMD funciona perfeitamente seja qual for o suporte. Quando é levada para o digital, por exemplo, o logotipo pode ser percorrido por uma luz ou simplesmente por um movimento de câmera virtual, criando uma sensação incrível de movimento e velocidade. Outra prova disso é o troféu do Prêmio ABEMD no qual a marca foi levada para um espaço tridimensional sem perder nada de sua força. O objeto foi desenvolvido pela artista plástica Ligia Stocco, a partir de um briefing do Efraim. O troféu é a própria marca, cunhada em ferro vazado e pairando sobre uma base retangular. Na primeira versão, essa base era de granito preto. Depois ela diminuiu para tirar um pouco o peso da peça e o logo ficava suspenso por duas hastes de metal. Agora, a base volta ao seu tamanho original, mas em acrílico fosco. A seta e a bola representam cada tipo de troféu – ouro, prata e bronze. Uma verdadeira obra de arte que agências e anunciantes adoram receber e colocar em locais bem visíveis em seus escritórios – onde ele sempre se sobressai. Mais recentemente, foi criado o troféu do Grand Prix, no qual se usou acrílico transparente para a base, o que faz a marca flutuar e junta elementos de várias premiações especiais pelo mundo, que têm em seus nomes os elementos titanium e diamante. Dessa forma, uniram-se os dois, aplicando a cor de titanium no logo e, como detalhe mais sutil, um brilhante encravado na esfera de uma das pontas do logo. Um troféu realmente à altura da marca e do melhor case de cada ano. É importante frisar que o Petit sempre gostou das adaptações para outros suportes que a ABEMD fez com a marca que criou. No ano passado, por exemplo, quando recebeu o troféu na sua sala na hora chamou sua equipe para mostrar o mesmo e dizer o quanto gostou do que foi feito. Outubro/13 - nº 136 - Ano XIII - Marketing Direto 39