Torcicolo - WordPress.com

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ITM - Instituto
de Terapêuticas Manuais
Disciplina: Anatomia e Fisiologia
Formador:
Identificação do Formando:
Nome:
Curso: Técnico Auxiliar de Fisioterapia
Turma: F14-A
Data: Junho de 2010
Índice
O Torcicolo – Definição da Patologia ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 4
Causas e Consequências ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 5
- A Anatomia do Pescoço ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 5
- Três Causas Três Classificações :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 6
Diagnóstico e Tratamento :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 9
- A Medicina Convencional ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 9
- A Medicina Alternativa – A Acupuntura:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 10
Casos Ilustrativos dos Dois Tipos de Torcicolo :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 13
- Torcicolo Congénito ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 13
- Torcicolo Espasmódico:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 14
Erros de Má Prática - Erros de Diagnóstico e Tratamento :::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 17
Prevenção: O Que Cada Um Pode Fazer Por Si Próprio ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 18
- Consciência Corporal :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 18
- Alongamentos Activos da Cervical ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 19
Conclusão Fazer Diferença Enquanto Técnico Auxiliar de Fisioterapia ::::::::::::::::::::::::::::::::: p. 20
Bibliografia
O Torcicolo
Definição da Patologia
São várias as formas de definir a patologia Torcicolo. De acordo com Stuart
Porter “torcicolo espasmódico ou distonia cervical” acontece quando “os músculos do
pescoço ficam afectados, fazendo com que a cabeça se incline e vire para um lado,(…)
e para trás ou para a frente.”1 Outros especialistas em Medicina Física e de
Reabilitação definem esta patologia como uma “deformidade, congénita ou adquirida,
caracterizada pela inclinação lateral da cabeça para o ombro homolateral e pela
torção do pescoço e rotação do queixo para o lado contralateral.”2 Na internet ainda se
pode encontrar outras definições, mais simples, mas que tornam a palavra torcicolo
bastante familiar ao afirmarem que “em geral, o torcicolo é um distúrbio do pescoço
caracterizado pelo enrijecimento dos músculos dessa região, fazendo com que os
movimentos da cabeça se tornem muito dolorosos e limitados.”3 Seja qual for a
definição, seja qual for o vocabulário usado, um torcicolo é sempre um mau-estar, uma
dor na região cervical(mais ou menos violenta dependendo do caso), associada aos
músculos do pescoço, que limita os movimentos normais da cabeça, condicionando a
própria postura.
1
Stuart Porter – Dicionário de Fisioterapia – pág.449
www.scielo.com
3
www.torcicolo.com
2
Causas e Consequências
Anatomia do Pescoço
O torcicolo é uma patologia muscular da região cervical. Anatomicamente
divide-se essa região em nuca e pescoço. A nuca é a parte posterior e o trapézio o
músculo que permite a união da mesma com o
dorso. Anteriormente à nuca encontra-se o
pescoço, que para além de músculos é
constituido por outras estruturas, como por
exemplo o osso hióide, a cartilagem da tiróide, o
esófago, as cartilagens laríngeas e a traquéia.
Relativamente
aos
músculos,
estes
estão
distribuidos por quatro regiões: músculos suprahioideus (encontram-se acima do osso hióide);
músculos infra-hioideus (encontram-se abaixo
do osso hióide); músculos da região lateral do pescoço e músculos da região prévertebral.
Os supra-hioideus são músculos cuja função/acção, na sua maioria, permite a
elevação do osso hióide (digástrico, estilo-hioideu, milo-hioideu e geni-hioideu). Por
seu lado, os infra-hioideus permitem a acção contrária, que é baixar o osso hióide
(esterno-hioideu, esternotireoideu, tireoideu e omo-hioideu). Os da região pré-vertebral
são responsáveis por movimentos de flexão da cabeça (recto anterior da cabeça e o
longo da cabeça) e a flexão e inclinação homolateral do pescoço (longo do pescoço). Os
músculos da região lateral do pescoço têm um papel muito importante na acção
inspiratória e na inclinação homolateral do pescoço (escaleno anterior, escaleno medio
e escaleno posterior), estando quase todos envolvidos nessas funções/acções, com
excepção do recto lateral da cabeça que permite a inclinação homolateral da cabeça. O
maior deles todos - o esternocleidomastoideu – também acumula outras acções para
além das descritas nos escalenos, são elas a flexão e a rotação com a face virada para o
lado oposto. Toda esta mobilidade permitida por este músculo faz dele o principal
interveniente nos torcicolos.
Como é possivel ver pela imagem seguinte, o esternocleidomastoideu é um
músculo longo com “origem no processo mastóide e linha nucal superior e insere-se na
face anterior do manúbrio do esterno junto à face superior e borda anterior do 1/3
medial da clavícula.”4 Como é o principal músculo lateroflexor do pescoço e por
funcionar como um eixo, qualquer lesão que o afecte, independentemente da causa,
acaba por se repercutir na mobilidade do pescoço. É o que acontece num torcicolo.
Três Causas Três Classificações
Além da rigidez, da dor e dos espasmos musculares que trazem um denominador
comum a esta patologia, as causas responsáveis pela mesma dividem o torcicolo em três
principais classificações: o repentino ou adquirido, o congénito e o espasmódico.
4
www.anatomiaonline.com
Repentino ou Adquirido5: decorrente de uma contractura muscular, que pode ser
resultado de uma má postura do pescoço, um movimento brusco, tensão, uma posição
incorrecta no sofá ou à mesa, exposição ao frio ou má posição ao dormir. Mas também
pode ter subjacente uma patologia: lesão cerebral ou da espinal-medula, tumor,
toxinas, hipertiroidismo.
Congénito6: O torcicolo muscular congénito é a deformidade do pescoço envolvendo
primariamente um encurtamento do músculo esternocleidomastoideu que é detectada
ao nascimento ou logo após o nascimento. Um estudo recente aponta para uma
alteração histológica focal no desenvolvimento do músculo. Daí resulta um nódulo
palpável na sua espessura. Caso não ocorra um tratamento adequado (fisioterapia), a
criança pode crescer com inclinação homolateral e rotação contralateral da cabeça.
Outras causas de torcicolo em crianças podem ser o desequilíbrio dos músculos
oculares e as deformidades musculares ou ósseas da porção superior da coluna
vertebral.
Espasmódico7: espasmos neurológicos irreversíveis, de causa desconhecida, desviam
frequentemente a cabeça para um lado. Geralmente é indicativo de doença
neuromuscular. Alguns autores e especialistas presumem que na “ maioria dos casos se
deva a um distúrbio bioquímico na atividade dos gânglios da base, levando a déficit
funcional em certas vias inibitórias que se projetam sobre o tronco cerebral e medula
espinhal, resultando em atividade aumentada dos músculos cervicais."
Destas três formas, claramente agrupadas e divididas de acordo com as causas
que provocam a patologia, a forma de torcicolo adquirido é a forma mais comum da
doença e a mais facilmente tratada (embora possa degenerar para uma fase mais
crónica). Aparece em qualquer pessoa e em qualquer idade. Isso deve-se ao facto das
suas causas serem principalmente de ordem mecânica e postural. As razões supracitadas
como por exemplo, uma noite mal dormida, uma exposição da coluna cervical ao frio
por um longo período ou uma rotação abrupta do pescoço, provocam espasmos
musculares e contraturas, e na última causa activam o sistema de defesa do organismo
que contrai voluntariamente o segmento muscular envolvido, diminuindo a amplitude
5
www.torcicolo.com
www.scielo.oces.mctes.pt
7
www.manualmerck.net
6
de movimento da articulação,
para evitar distensões ou rupturas musculares. Esta
rigidez vai provocar dores intensas na movimentação da cabeça e, claro, consequências
na qualidade de vida das pessoas. É facilmente tratado. Geralmente, basta um pouco de
repouso, e em 48 horas o torcicolo desaparece. Pode, no entanto, acontecer manifestarse de uma forma mais aguda, e então terá derivado para uma cervicalgia. Algo mais
grave em que a dor no pescoço alastra para o ombro e em casos mais severos para todo
o membro superior, onde para além de dor pode ser sentido alterações na sensibilidade e
fraqueza muscular. Neste caso as causas são bem mais graves como por exemplo:
torcicolos crónicos, lesão violenta no pescoço ou na cabeça, como acontece na lesão
chicote ou numa contusão, síndrome dolorosa miofascial, osteoartrose, fracturas,
infecções, alteração na ATM e tumores, entre outras. Nestes casos é necessária a
intervenção médica, devido à gravidade da situação, com outras patologias a adicionar
ao torcicolo.
Diagnóstico e Tratamento
A Medicina Convencional
Diagnosticar um torcicolo parece fácil, se pensarmos nas consequências físicas,
bem visíveis exteriormente, que esta patologia traz consigo. Descobrir a causa de um
torcicolo, essencial para o tratamento, é que, por vezes, pode ser tarefa ingrata. Estamos
perante algo que pode ser caracterizado como um iceberg clínico8, ou seja, a parte que é
passível de análise e examinação é apenas a ponta do problema. Claro que se pensarmos
no torcicolo adquirido, aquele que quase todos já tiveram, talvez não faça grande
sentido, mas no caso do torcicolo espasmódico e congénito é bem diferente. São duas
formas da doença bastante complicadas cujas causas ainda não foram bem
determinadas. O carácter neurológico do espasmódico (muitas vezes confundido com
epilepsia devido ao movimento de rotação brusco e continuado da cabeça) e o facto do
congénito ser formado, muitas vezes, durante a vida intra-uterina, impedem os
especialistas de conseguirem determinar as reais causas destas formas de torcicolo. Por
vezes fazem-se vários exames como radiografias, tomografia axial computadorizada
(TAC) e ressonância magnética (RM), para procurar as causas específicas dos espasmos
musculares do pescoço, embora com pouca frequência essas causas sejam reveladas.
Para além disso, exames físicos e questionários sobre lesões anteriores ou outros
problemas do pescoço e saúde em geral, são essenciais para acrescentar ao processo.
Muitos especialistas usam o diagnóstico diferencial, que consiste em encontrar o
problema usando o método de exclusão de partes. Seja qual for o método o importante é
identificar a causa para que o tratamento seja o adequado e, por isso, eficaz. Contudo, é
menos provável que o tratamento controle o espasmo quando a causa é uma perturbação
do sistema nervoso ou completamente desconhecida. Nestes casos o tratamento é usado
quase como cuidado paliativo, apenas para diminuir a dor e permitir alguma qualidade
de vida.
Na medicina convencional tratar as formas mais severas desta patologia
(congénito e espasmódico) “inclui protocolos de fisioterapia, que variam segundo os
autores, mas que na generalidade incluem exercícios de estiramento activos e
8
Stuart Porter – Dicionário de Fisioterapia – pág 219
passivos.”9 No caso específico do congénito é importante incluir “os posicionamentos,
a estimulação auditiva, visual e cutânea” assim como a educação dos pais,
“nomeadamente no que diz respeito aos cuidados posturais e à continuação da
correcção activa.”10 Quando estes tratamentos se traduzem em resultados pouco
satisfatórios, então é chegado o momento de usar métodos cirúrgicos que podem incluir
“as tenotomias unipolares, as tenotomias bipolares, a plastia em Z e a excisão
completa do músculo esternocleidomastoideu.”11
Caso de torcicolo congénico tratado numa idade mais avançada – Foi usado tratamento cirúrgico
Além disto, o recurso a medicamentos específicos, como os analgésicos, os
anticolinérgicos, que impedem os impulsos específicos do nervo, e as benzodiazepinas
(sedativos suaves), ajuda a reduzir os espasmos musculares e os movimentos
involuntários, embora seja uma opção de tratamento temporário. Algum repouso,
calores húmidos na área da contratura e movimentos suaves de massagem são
aconselhados para todos os tipos de torcicolo, e talvez sejam suficientes para tratar um
simples torcicolo adquirido. O importante é não forçar e saber “escutar” o corpo.
A Medicina Alternativa
A medicina alternativa também nos apresenta várias opções viáveis de
tratamento do torcicolo, especificamente a Acupuntura e a Reflexologia. Vejamos com
mais pormenor.
9
www.scielo.oces.mctes.pt
Idem ibidem
11
Idem ibidem
10
A Acupuntura é um método tradicional da
medicina chinesa e associa a um enorme conhecimento
anatómico e fisiológico do ser humano a utilização de
ferramentas simples (agulhas), não invasivas, e que
provocam poucos danos colaterais. A selecção dos pontos
de Acupuntura é um dos factores decisivos da terapia e a
experiência acumulada pelos acupunturistas chineses em
tempos remotos e actuais é importante para o sucesso
desta prática. No caso específico do torcicolo adquirido o tratamento a seguir é o
seguinte: os pontos principais a tratar são “laozhenxue (extra), xuanzhong (vb 39),
houxi (id 3), pontos ashi, yanglao (id 6)”12, e o método de aplicação consiste em
colocar as agulhas nos respectivos pontos do local a tratar. “Geralmente Laozhenxue
(Extra), Xuanzhong (VB 39) ou Yanglao (ID 6) é o primeiro a ser agulhado com
estimulação moderada ou forte. Quando rotacionar a agulha, pedir ao paciente que
gire o pescoço. Inserir Houxi (ID 3) em pontos sensíveis na região quando a dor for
aliviada. Manter as agulhas por 15 a 30 min
e manipulá-las 1 ou 2 vezes, durante esse
período. Moxibustão (técnica que consiste em
aquecer certos pontos ou zonas do corpo com
uma erva seca chamada Artemísia) também
pode ser aplicada ao mesmo tempo, e, após
remoção das agulhas, ventosas podem ser
feitas no ombro e região escapular, bem
como nos pontos sensíveis.”13 A complementar este primeiro tratamento, alguns
especialistas adicionam outras terapias da Acupuntura. É o caso da Auriculaterapia que
consiste na produção de estimulação forte com agulhas filiformes. O método da Sangria
e da Ventosa também estão incluidos. Tudo isto torna, nas palavras dos especialistas, a
”acupuntura muito boa para o tratamento do torcicolo.” 14
12
www.clinicasdrpedrochoy.pt
www.webartigos.com
14
Idem ibidem
13
A Reflexologia, igualmente uma ciência holística milenar, usa o conhecimento
total dos pés e das mãos para tratar todo o organismo. Nas palavras da fisioterapeuta que
desenvolveu e aperfeiçoou esta técnica Eunice
Ingham “A Reflexologia é uma terapia que se
baseia no princípio da existência de reflexos nos
pés e mãos relacionados com todos os órgãos,
glândulas e membros do corpo. Ao estimular estes
reflexos, através de técnicas específicas, o
terapeuta de Reflexologia irá ajudar o corpo nos
vários processos homeostáticos (de equilíbrio).”15
Neste caso em particular, tratar um torcicolo
adquirido é bastante simples. Através de uma
massajem, na qual a pressão é palavra de ordem, o
terapeuta tenta encontrar os pontos dolorosos nas
mãos de quem se queixa de dores na parte cervical, de
modo a conseguir o relaxamento e o alivio da dor.
Com especial atenção para o polegar que representa o
esternocleidomastoideu e para a base das articulações
metacarpofalagianas do 4º e 5º dedos que simbolizam o trapézio e a clavícula. Estes
pontos são massajados vigorosamente e com bastante pressão, assim que a dor deixa de
ser sentida, o torcicolo também já desapareceu.
15
www.institutoreflexologia.com
Casos Ilustrativos de Dois Tipos de Torcicolo
Torcicolo Congénito
De seguida transcreve-se dois casos exemplificativos do torcicolo congénito,
diagnosticados e tratados no Hospital Pediátrico de Coimbra.
Como já foi referido, esta forma de torcicolo aparece nos bébés, antes ou depois
do nascimento. No primeiro caso, o paciente, um menino, nasceu de cesariana e aos 2
meses foi diagnosticado um torcicolo muscular congénito. No segundo caso aqui
apresentado,o paciente é uma menina a quem, aos 4 meses, foi diagnosticado um
torcicolo paroxístico benigno (distúrbio que ocorre de modo súbito e espontâneo
caracterizado por um desvio da cabeça para um dos lados, mantendo-se assim por horas
ou dias; outros sintomas podem ocorrer associados como vômitos, sudorese, palidez,
irritabilidade, cefaléia e marcha instável). Estes casos tiveram a intervenção da seguinte
equipa médica: Agostinho Fernandes (pediatria), Manuel Salgado (pediatria), Lília
Martins (medicina física e reabilitação), Jorge Seabra (ortopedia) e encontram-se
publicados na revista Saúde Infantil do mesmo hospital.
1º Caso – Torcicolo Muscular Congénito
“Menino nascido por cesariana às 39 semanas, por apresentação em pélvica. Aos 2
meses de idade é notada inclinação mantida do pescoço para a direita, com ligeira
rotação do queixo para o lado oposto. Na porção média do músculo
esternocleidomastoideu (ECM) palpava-se um nódulo com 2,5 cm de diâmetro, duro e
indolor, fazendo corpo com o músculo. Não obstante a persistência do torcicolo, é
aconselhada uma atitude espectante. Aos 2 anos de idade, por noção de persistência e
agravamento do torcicolo, foi enviada ao Serviço de Ortopedia do Hospital Pediátrico
de Coimbra (HP). Apresentava limitação moderada do movimento do pescoço. Não era
palpável o referido nódulo, mas apenas um cordão fibroso ao longo do músculo
esternocleidomastoideu direito. Não apresentava assimetria facial. Os exames
neurológico e oftalmológico foram normais, assim como a tele-radiografia (Rx) da
coluna cervical de frente e perfil. Aos 3 anos de idade foi realizada tenotomia distal do
músculo ECM, seguida de fisioterapia, com resolução total do torcicolo.”
2ª Caso – Torcicolo Paroxístico Benigno
“Menina que, aos 4 meses de idade, iniciou episódios autolimitados de lateralização
alternante da cabeça, ora para a direita ora para a esquerda, que se repetiam várias
vezes por dia e com duração variável, desde breves minutos a horas. Estes episódios,
que se repetiam quase mensalmente, ocorriam sem desencadeante prévio e associavamse a irritabilidade. Nos períodos de remissão a criança estava assintomática. O exame
físico não mostrou alterações do músculo ECM, nem limitação dos movimentos do
pescoço. O crescimento estaturo-ponderal e o desenvolvimento eram normais e os
antecedentes pessoais e familiares da criança eram irrelevantes. Os exames
neurológico e oftalmológico, incluindo o fundo ocular, foram normais. O Rx da coluna
cervical e o EEG não mostraram alterações. Não fez despiste de RGE. Nos controlos
assistiu-se a um espaçamento progressivo dos episódios, que se tornaram breves,
desaparecendo por volta dos 3 anos de idade. O diagnóstico final foi TPB.”
Torcicolo Espasmódico
Foi escolhido apresentar dois casos clínicos de torcicolo espasmódico para
tornar mais entendível esta patologia, caracterizada por J.P.R. Dick como “uma
patologia infrequente, em geral subdiagnosticada, causada por contraturas da
musculatura do pescoço associadas a movimentos e posturas anormais da cabeça, que
se deve a anormalidade funcional do sistema nervoso central.”15
O primeiro caso, descreve-nos o diagnóstico e tratamento de um torcicolo
espasmódico, consequência de um traumatismo na região supraciliar esquerda. Ana
Isabel Silva (medicina fisica e de reabilitação), João Massano (neurologia), Fernanda
Simões Ribeiro (neurologia) e Maria José Rosas (neurologia) são os autores deste
trabalho***, publicado nos Arquivos de Medicina, Hospital de S. João.
No segundo exemplo foi observado um torcicolo espasmódico provocado por
um hemangioma no corpo da 1ª vértebra dorsal. Os neurologistas espanhóis E. Durán
Ferreras e J.R. Chacón (autores do trabalho) publicaram este estudo clínico na Factor de
Impacto - revista de neurologia de Janeiro de 2001 (suporte digital em
www.revneurol.com).
1º Caso – Distonia Cervical de Etilogia Traumática
“J.C.M.P., sexo masculino, 36 anos, caucasiano, motorista de pesados. Assintomático
até Abril de 2004, altura em que, uma semana após queda de camião de que resultou
traumatismo da região supraciliar esquerda, iniciou um quadro clínico caracterizado
por distonia cervical e tremor distónico da cabeça, pescoço e membro superior
esquerdo com agravamento progressivo na frequência e gravidade ao longo de meses.
O tremor cervico-cefálico de tipo negativo era exacerbado com a extensão do pescoço e
com o decúbito o que perturbava acentuadamente o sono. Ao exame objectivo
apresentava ligeira disartria, tremor constante de características ondulatórias do
membro superior esquerdo na prova dos braços estendidos, elevação do ombro
esquerdo e contractura dos músculos esternocleidomastoideu e esplénio da cabeça
esquerdos com consequente inclinação ipsilateral do pescoço e rotação contralateral
da cabeça, condicionando, portanto, um torcicolo direito e um laterocolo esquerdo. O
doente tinha antecedentes de asma controlada com salmeterol e salbutamol. Negou
qualquer outra terapêutica medicamentosa, assim como história familiar de
movimentos involuntários. A ressonância magnética cerebral e cervical não revelou
alterações. A electromiografia documentou tremor arrítmico, com frequência de 1-2 Hz
em padrão não síncrono e duração de surtos > 150 ms. A pesquisa da mutação DYT1
foi negativa. O tratamento da distonia cervical consistiu na injecção intramuscular de
toxina botulínica do tipo A (Dysport®) nos músculos esternocleidomastoideu e esplénio
da cabeça esquerdos e trapézio bilateralmente num total de 600U, com repetição do
procedimento com uma periodicidade de quatro meses. O tremor distónico foi
controlado com topiramato, na dose de 25 mg de manhã e 50 mg à noite, e clozapina,
12,5 mg ao deitar. Após controlo clínico foi efectuada uma tentativa de suspensão da
terapêutica, com agravamento clínico e retorno da sintomatologia, pelo que o
tratamento foi novamente instituído.”
2º Caso – Torcicolo Espamódico e Hemangioma Vertebral
“Doente de 30 anos com antecedentes de dificuldade para escrever com a mão direita
desde a infância. Aos 20 anos é-lhe diagnosticado cãibra do escritor e torcicolo
espasmódico idiopático. A observação física geral não revelou alterações. Observação
neurológica: objectiva-se arreflexia dos membros superiores, limitação cervical para a
rotação para a esquerda sem dor e hipertrofia do trapézio esquerdo. Os vários testes
analíticos, neurofisiológicos e de neuroimagem para identificar uma causa secundária
do torcicolo foram negativos. Não se observa anel de Kayse-Fleischer. Radiografia do
tórax: escoliose dorsal com convexidade esquerda. TAC e RM da coluna vertebral:
hemangioma do corpo de D1. Arteriografia dos troncos supra-aórtico e vertebral:
hemangioma em D1 mascarado por uma ramificação do tronco tirobicervicoescapular
direito. A terapêutica instituida com diversos medicamentos, diazepam, Botox®,
Dysport®, tetrabenacina, baclofeno... foi ineficaz. Não foi possível chegar-se ao
diagnóstico definitivo de torcicolo secundário, uma vez que o hemangioma estava
irrigado por um pedículo vascular muito estreito que contraindicava a sua
embolização. Conclusão. A patologia raquimedular vascular pode ocasionar quadros
de distonia focal por aumento da excitabilidade do I neurónio espinal, devida a
disfunção na desinibição das vias recíprocas descendentes.”
Erros de Má Prática Erros de Diagnóstico e Tratamento
Na terminologia criminal “erro médico” não é causa passível de queixa crime,
afinal “os médicos não são obrigados a curar”16 tendo tão somente, uma obrigação de
meios e não de resultados, ou seja, do médico espera-se o uso de todos os
conhecimentos e meios que existem, ou que tem à sua disposição, para tratar um doente,
sempre com o objectivo final de ser bem sucedido. Infelizmente nem sempre é o caso, e
isso pode ter várias explicações e não ser imputável ao médico por prática negligente.
No caso dos torcicolos ou distonias cervicais os erros de diagnóstico podem acontecer
consequência da própria patologia, visto muitos dos casos serem idiopáticos. Aqui,
apenas um tratamento paliativo é indicado, unindo a terapêutica farmacológica à
fisioterapia. Como o objectivo é inibir a actividade reflexa patológica permitindo um
regresso aos padrões normais de postura e movimento, o uso de relaxantes musculares
ou da toxina botulínica são usados em conjunto com terapias fisioterapêuticas como por
exemplo: aplicação de calor; massagens profundas perto das inserções musculares,
estimulação eléctrica, alongamentos cervicais, entre outros. Sempre com o objectivo de
promover o ganho de força, amplitude, coordenação e outros componentes do
desempenho motor indispensáveis ao processo de reabilitação. Os erros de tratamento
podem acontecer derivado a vários factores. Desde logo o desconhecimento da doença e
das terapias utilizadas. Este elemento pode ser fatal quando, por exemplo, se administra
a toxina botulínica, que nas quantidades erradas pode levar a outras complicações como
insuficiência respiratória, disfagia ou miastenia, entre outras. A distração e o excesso de
trabalho são dois elementos que podem ter consequências desagradáveis no tratamento,
especialmente na utilização da electroterapia - a voltagem pode ser demasiada e
queimar, ou se o analgésico não for aplicado no eléctrodo correcto, a ionização não terá
o efeito desejado. Durante os alongamentos também é fácil cometer erros. O segmento
muscular está sedado, logo, é dificil saber quando se ultrapassa o limite de amplitude da
articulação e se alonga demasiado o músculo. As consequências são óbvias – a
contração do músculo pode ser ainda maior, retrocedendo-se no processo de tratamento.
16
Processo de Código Penal
Prevenção
O Que Cada Um Pode Fazer Por Si Próprio
Consciência Corporal
Há um ditado popular muito sábio e que se encaixa aqui na perfeição. Lá diziam
os mais antigos “mais vale prevenir que remediar”. E isso aplica-se em tudo na nossa
vida. No trabalho, na vida social e até nos momentos de lazer. Temos sempre presente
que, no exercício da liberdade pessoal, a consciência da nossa responsabilidade para
com os outros e para com nós próprios é essencial. Essa mesma consciência de
responsabilidade deve alargar-se ao nosso organismo. Claro que não podemos ser todos
médicos e ter os conhecimentos de anatomia e fisiologia necessários à compreensão do
funcionamento do corpo humano, mas também não nos devemos esquecer que nos
encontrámos numa posição privilegiada, em relação aos outros quando o assunto é o
nosso corpo. Afinal cada um é que sabe como se sente.
E evitar um torcicolo adquirido é perfeitamente possivel. Com uma atitude
positiva e alguns minutos por dia de alongamentos, não só se evitam dores, musculares
neste caso, como se melhora a qualidade de vida. Os alongamentos só trazem vantagens
para o organismo. Para além de aumentarem a nossa consciência corporal (permitem
conhecer os limites do corpo), também preparam as estruturas músculo-tendinosas e as
articulações para o stress do dia-a-dia, relaxando e não deixando acumular tensões que
podem resultar em lesões musculares, articulares e tendinosas. Mas não ficam por aí.
Corrigem a postura, aumentam a liberdade de movimentos, a flexibilidade entre muitos
outros benefícios. Os exercícios de alongamentos cervicais que são feitos em
fisioterapia para melhorar o torcicolo, podem ser feitos em casa para evitar o torcicolo.
Os movimentos de flexão, extensão, hiperextensão, rotação e inclinação à direita e à
esquerda são alongamentos que podem ser activos, ou seja, podem ser realizados sem
ajuda de terceiros. Ficam aqui exemplos de alguns exercícios. Uma nota apenas: os
alongamentos devem ser feitos devagar, sem causar dor e se possivel no duche onde se
pode ter uma fonte de calor que ajuda ao relaxamento muscular.
Alongamentos Activos da Cervical
Sentado(a), com os ombros relaxados, elevar os ombros e depois puxar os ombros para trás.
Baixar os ombros para a posição inicial e relaxar. Repetir 5 vezes.
Inclinar a cabeça lentamente para um lado, aproximando a orelha do ombro, sem elevar o
ombro. Manter esta posição por 3 segundos e depois voltar à posição inicial. Repetir o mesmo
no lado oposto. Repetir 5 vezes.
Flexionar a cabeça (levar o queixo ao peito), manter por 10 segundos. Voltar à posição neutra e
fazer hiperflexão da cabeça (deitar a cabeça para trás), manter 10 segundos. Repetir 3 vezes
Rodar a cabeça lateralmente (lado esquerdo e direito) em alternância, mantendo em cada
posição 10 segundos. Repetir 3 vezes
Fazer a circundação da cabeça, muito lentamente. Repetir 4 vezes, alternando sempre os lados
no início de cada movimento.
Conclusão
Fazer Diferença Enquanto Técnico Auxiliar de Fisioterapia
Fazer diferença seja no que for é sempre complicado. Em certa parte, no meu
entender, depende de cada um de nós. Da própria vontade em fazê-la. Por outro lado, à
que ter sempre presente os limites da nossa acção e das nossas competências, ou seja,
saber qual o nosso lugar e o que podemos fazer com os conhecimentos que temos.
Embora o segundo possa, e deva, sempre evoluir, o primeiro, pode acontecer, ser
permanente. Seguindo este raciocínio, fazer diferença enquanto Técnico Auxiliar de
Fisioterapia (TAF) começa por ter noção do que é um TAF e, da diferença que existe
entre um auxiliar de fisioterapia e um Fisioterapeuta. Essa diferença é óbvia. Um
Fisioterapeuta é um especialista em medicina física, com conhecimentos em áreas como
anatomia, fisiologia, histologia, bioquimica, isto só para citar algumas. Um profissional
com capacidades para diagnosticar, prevenir e tratar “disturbios cinéticos funcionais
intercorrentes, em orgãos e sistemas do corpo humano”15, enquanto que um TAF, com
as noções que aprende de anatomia, fisiologia e fisioterapia, é um profissional com
capacidades para aplicar algumas técnicas como massagens, calores húmidos,
electroterapia, mobilizações, entre outras, em patologias mais simples. Ao lado do
fisioterapeuta, auxiliando naquilo que for necessário, tendo sempre em conta o máximo
bem-estar da pessoa que está a ser tratada. E esta última afirmação é o segundo
elemento a adicionar para se construir um percurso profissional marcado pela diferença.
Como TAF trabalha-se para e nos outros. Sendo a melhoria das condições físicas de
cada paciente o principal objectivo. É então necessário personificar termos como
cuidado, atenção, interacção humana, respeito, unicidade, amabilidade e educação.
Parece fácil. Mas não é. Fácil é perdermo-nos nas teias de relações que construimos à
nossa volta, tanto a nivel profissional como pessoal. Fácil é descarregar nos outros
frustações e tristezas. Fácil é automatizar o trabalho. Então fazer a diferença, talvez seja,
estar alerta, numa atitude de permanente vigilância ao nosso comportamento e às nossas
atitudes. Claro que tudo isto é extensível tanto aos pacientes como aos colegas de
trabalho que partilham connosco uma boa parte do seu dia.
Mas esta equação não fica por aqui. Já temos dois elementos muito importantes conhecer bem o nosso lugar e os nossos limites e a humanização do trabalho. Vamos
acrescentar mais alguns. A constante aprendizagem, por exemplo. Os primeiros
conhecimentos são noções que permitem começar a trabalhar. Podem e devem ser
alargados e aprofundados. Mesmo que isso não implique uma melhoria no posto de
trabalho ou no ordenado, com certeza será notado por quem for alvo dos cuidados do
Técnico de Fisioterapia. Saber mais, aprender com outras áreas de conhecimento,
aumenta a autoconfiança e a sensibilidade para ter atenção aos pequenos pormenores
(tão decisivos). Este contínuo aprender passa, também, por saber ouvir os colegas,
respeitar a experiência de cada um e partilhar o que vamos conhecendo e descobrindo.
Somando estes valores (que não são matemáticos mas podem ser somados) concluimos
que o resultado se apresenta em duas palavras responsabilidade humana e
profissionalismo. Desta soma se tira a diferença que um Técnico de Fisioterapia pode
fazer. As pessoas depositam confiança em quem as trata - à que honrar essa
confiança.
Bibliografia
Livros

PARKER, Steve – Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano – Dorling
Kindersly-Civilização Editores

PORTER, Stuart – Dicionário de Fisioterapia – ed. Lusodidacta

COLECÇÃO MANUAIS SINAIS VITAIS – Técnicas de Reabilitação I e II –
ed. Formasau-Formação e Saúde, Lda

REICHEL/GROZA – Fisioterapia Prática Clinica – ed. Paidotribo

CARTER, Mildred; WEBER, Tammy – Reflexologia das Mãos – ed.
Pensamento

O’SULLIVAN, Susan B. – Fisioterapia: Avaliação e Tratamento – ed. Manole
Sites da Internet

www.anatomiaonline.com

www.torcicolo.com

www.online.unisanta.br

www.rbo.org.br

www.scielo.com

www.scielo.oces.mctes.pt – Arquivos de Medicina do HSJ Porto

www.auladeanatomia.com

www.clinicasdrpedrochoy.com

www.saudeinfantil.asic.pt – edição Dezembro de 1995

http://en.scientificcommons.org

www.webartigos.com – Manual de Aplicação de Acupuntura no Tratamento de
Dores Cranio-Faciais e das Patologias da Cabeça e Pescoço.

www.farmaceutico.planeta.clix.pt

www.institutoreflexologia.com
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