o papel do educador - Biblioteca Digital da Unicamp

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CLEONILDA TEIXEIRA DOS SANTOS
O PAPEL DO EDUCADOR
CAMPINAS
2006
1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CLEONILDA TEIXEIRA DOS SANTOS
O PAPEL DO EDUCADOR
Memorial apresentado ao Curso de Pedagogia
- Programa Especial
de
Formação
Professores em Exercício nos Municípios da
Região Metropolitana de Campinas, da
Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas, como um dos préRequisitos para conclusão da Licenciatura em
Pedagogia
CAMPINAS
2006
2
© by, Cleonilda Teixeira dos Santos, 2006.
Ficha catalográfica elaborada pela biblioteca
da Faculdade de Educação/UNICAMP
Santos, Cleonilda Teixeira dos
Sa59p
O papel do educador : memorial de formação / Cleonilda Teixeira dos
Santos. -- Campinas, SP : [s.n.], 2006.
Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Estadual
de Campinas, Faculdade de Educação, Programa Especial de Formação de
Professores em Exercício da Região Metropolitana de Campinas (PROESF).
1.Trabalho de conclusão de curso. 2. Memorial. 3. Experiência de vida.
4. Prática docente. 5. Formação de professores. I. Universidade Estadual de
Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, pois sou fruto de sua criação, toda honra e gloria pertence a ele.
A meu filho Guilherme, pela compreensão das ausências de varias noites neste três anos.
Ao meu esposo Gustavo, amigo e maior incentivador na minha caminhada.
Ao meu pai José, pelo incentivo e colaboração,
A minha amiga Sonia Caprara pelo esforço e dedicação nos momentos difíceis. Por motivo
de doença, ela foi minha porta-voz junto aos professores.
Ao Dr. Bruno (ortopedista - UNICAMP), pois no momento que eu pensava em desistir, ele
otimista, realizou a minha cirurgia de prótese de quadril, me possibilitando a andar
novamente.
Aos coordenadores do PROESF e a todos os professores, pois sem eles não seria possível,
concretizar o sonho.
Enfim, a todos que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a realização do curso
de Pedagogia.
4
A arte mais importante do
educador é provocar
a alegria da ação criadora
e do conhecimento
(Einsteim)
5
“Não é o desafio com que nos deparamos que determina
quem somos e o que estamos nos tornando, mas a
maneira com que nós respondemos ao desafio.
Somos combatentes, idealistas, mas plenamente conscientes ,
porque o ter consciência não nos obriga
a ter teoria sobre as coisas;
só nos obriga a sermos conscientes.
Problemas para vencer, liberdade para provar...
E, enquanto acreditamos em nosso sonho,
nada é por acaso”.
Henfil
6
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
07
1.O CAMINHO PERCORRIDO
09
2.O PAPEL DO EDUCADOR
12
2.1. A FORMAÇÃO DO
15
3. MINHAS PRÁTICAS ENQUANTO EDUCADORA
18
4.
23
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBIOGRAFICAS
27
29
7
APRESENTAÇÃO
...Seja determinado ao realizar as mudanças necessárias
O mestre levou o discípulo para perto de um lago.
-Hoje vou ensinar-lhe o que significa a verdadeira devoção,
disse.
Pediu ao discípulo que entrasse com ele no lago e, segurando a
cabeça do rapaz, colocou-a debaixo d’água. O primeiro minuto
passou. No meio do segundo minuto, o rapaz já se debatia com
todas as forças para livrar-se da mão do mestre e poder voltar à
superfície. No final do segundo minuto, o mestre soltou-o. O rapaz
com o coração disparado, levantou-se, ofegante.
-Senhor quis matar-me! – gritava.
O mestre esperou que ele se acalmasse e disse:
Não desejei mata-lo, porque, se desejasse, você não estaria mais
aqui.
-Queria apenas saber o que sentiu enquanto estava debaixo
d’água.
-Eu me senti morrendo! Tudo o que desejava na vida era
respirar um pouco de ar!
-È exatamente isso. A verdadeira devoção só aparece quando
só temos um desejo e morreríamos se não conseguíssemos realizalo.
Pense nisso, se está querendo fazer mudanças profundas na
vida profissional ou em qualquer outra área. Até que ponto vai a
intensidade do nosso desejo?
( Texto extraído do livro “Aprendendo com os gansos”,
Alexandre Rangel, 2004)
Como é difícil escolher um caminho, quando tantos outros parecem ser igualmente
interessantes. Abraçar um só tema e se aprofundar somente nele confesso, que no começo
me deixou com um sentimento de impotência. Quanto mais me aprofundava no tema
escolhido mais encontrava outros tantos assuntos interessantes, porém não podia desviar do
meu tema principal, como foi difícil direcionar meu olhar a um só caminho.
Ao pensar no título norteador para o memorial, minha preocupação era descrever a
formação e o papel dos profissionais que trabalham com crianças de educação infantil, mais
precisamente nas creches da rede municipal de Campinas, onde convivo com esta realidade
há quatorze anos, onde há dois profissionais: O professor que é exigido a formação de
magistério e pedagogia e o monitor exige apenas o ensino fundamental, e o que intriga é
8
que, a criança em questão é a mesma que fica com o professor mais ou menos quatro horas
e com o monitor, passam as outras oito horas, pois alguns ficam em período integral.
A Educação Infantil, a partir de uma história de lutas e reivindicações de diferentes
grupos da sociedade civil organizada, foi incluída no capítulo da Educação da Constituição
Federal, em 1988, e reconhecida como primeira etapa da Educação Básica pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, em 1996.
A definição da Educação Infantil como um nível de ensino, oferecido em creches e
pré-escolas, exigiram da Lei outras determinações relativas à formação de seus
profissionais. Assim, a LDB define o profissional da Educação Infantil como educador,
estabelecendo que sua formação far-se-á em nível superior, admitida como formação
mínima para o exercício de Magistério na educação infantil.
Os educadores que atuam em creches e pré-escolas não tiveram, portanto, ao longo
de sua história, acesso a instituições formais que se ocupassem de sua formação.
Os coordenadores do o curso de Pedagogia (PROESF), ao pensarem na grade
curricular e trabalho final de curso, possibilitaram me, a ter acesso a matérias especificas da
educação infantil e refletir sobre minhas práticas e descrevê-las no memorial.
9
O CAMINHO PERCORRIDO
Manhã de segunda-feira, mês de fevereiro, ano de 1975, sem entender o porque sou
levada à escola ficando longe pela primeira vez de mamãe.
A escola era fria não tinha atrativos, eu não conhecia ninguém, a professora,
extremamente enérgica, escrevia o tempo todo na lousa, eu e todos os demais
reproduzíamos no caderno exatamente o que nos pediam, muitas vezes frases sem sentido,
mas questionar o que? Pois professor nesta época representava “sabedoria total”, o aluno
não era para questionar, e sim aceitar o que era imposto (educação bancária)1.
Ah! Como não lembrar da loura do banheiro, com os olhos vermelhos e algodão no
nariz, passava o tempo todo sem ir ao banheiro e o caminho de volta para casa era longo,
não me lembro de ter tido outra informação que isto era apenas fantasias e que realmente
não existia.
O ano passou, como não consegui reproduzir exatamente o conteúdo proposto, sem
contar o medo que sentia da professora, sendo ela autoridade máxima com direito até a me
bater, coisa que meus pais nunca fizeram, fui reprovada.
No ano seguinte, em Agosto, após uma geada onde destruiu toda a plantação de
tomates, não sobrando nem para o sustento cotidiano, meus pais resolveram vir para
Campinas, cidade grande, uma garota extremamente tímida e amedrontada, e o pior é que a
loura também existia no banheiro da escola na cidade grande. Como foi difícil me adaptar.
Passam-se os anos, termino o ensino fundamental, mas como toda família numerosa
(onze irmãos), não tinha condições para continuar os estudos, sendo que a oitava série do
antigo ginásio para a década de oitenta já era um grande avanço.
Em 1989, as creches de Campinas passam por uma mudança significativa, saindo da
secretaria de assistência social e indo para a secretaria da educação, onde é realizado o
primeiro concurso, prestei o concurso com sucesso para monitora e ingressei na Prefeitura.
1
. Educação Bancaria: Na concepção bancaria a educação é um ato de depositar, transferir, transmitir
valores e conhecimentos. O educador é o que transmite os conhecimentos, os educandos passivamente
assimilam os conteúdos e reproduzem na avaliação.
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Voltei a estudar e cursei o magistério para melhor trabalhar com as crianças, fiquei
um pouco frustrada ao concluir o curso, pois em nenhum momento tive conteúdos
específicos para trabalhar com a educação infantil.
.....É preciso conceber uma proposta de formação de educadores, focalizando a
educação de maneira a abordar não só aspectos relativos à construção de
conhecimentos, mas também à afetividade e a criatividade, a paixão de conhecer,
levando em conta, ainda, os aspectos éticos e estéticos presentes no fazer
educativo. Isso significa que é necessário perceber que são atores da pratica
educativa(...) estão imersos na cultura, são autores, produtores..(ROSEMBERG,
CAMPOS E VIANA, 1992, p. 57.).
A Unicamp é a pioneira em oferecer, nos seus cursos de Pedagogia, uma formação
para professores de crianças de 0 a 10 anos, onde há duas disciplinas que contemplam a
educação infantil (0 a 06 anos).
Em 2002, a prefeitura faz um levantamento dos interessados em cursar o ensino
superior, pedagogia na UNICAMP, imagine a minha euforia, só que como na vida tudo tem
prioridades, naquele momento, devido à perda da minha mãe e um filho muito pequeno,
marido trabalhando a noite, adiei o sonho para o ano seguinte.
Julho de 2003 estava radiante e assustada com a grandeza da universidade, não só
no aspecto físico, mas o peso acadêmico que ela representa na vida de qualquer
universitário.
Primeiro dia de aula, quanta ansiedade e alegria, pois as quarenta alunas, que
compunham a turma “A” tinham o mesmo sentimento de vitória, na hora da apresentação
quantos sonhos e alegrias foram descritos naqueles segundos, que era aberto
individualmente, queríamos resumir todo o percurso trilhado desde a inscrição até a
concretização da matrícula.
Três anos se passaram e com muita alegria estou redigindo o memorial, cresci muito
profissionalmente, conquistei novos amigos, nossa turma (alunas e professores), vencemos
vários obstáculos, compartilhamos algumas aflições, angústias, mas sempre empenhados a
ajuda mútua.
Como em todo lugar sempre surgem grupos com as mesmas “afinidades”, não foi
diferente e o meu grupo era composto de oitos mulheres: Mães, filhas, irmãs, esposas, mas
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também com uma vontade muito grande de aperfeiçoar-se profissionalmente. São elas:
Sônia, Néia, Ana, Carol, Aparecida, Adriana, Célia e eu Cleonilda, sei que trilharemos por
caminhos diferentes, mas terei na lembrança e no coração à amizade, à cumplicidade, sou
convicta de que:
Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa tudo
sempre passará.
A vida vem em ondas como um mar num indo e vindo infinito. Tudo que
se vê não é Igual ao que a gente viu a um segundo. Tudo muda o tempo
todo no mundo.
Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora há tanta vida lá fora e
aqui dentro sempre como uma onda no mar.
Como uma onda no mar, como uma onda no mar, como uma onda no mar.
LULU SANTOS, COMO UMA ONDA
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O PAPEL DO EDUCADOR
Nota-se que o papel do educador, segundo a LDB (1996), está muito além da
simples transmissão de informações. Dentro do conceito de uma gestão democrática, ele
participa da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino, isto é, decide
solidariamente com a comunidade educativa, o perfil de aluno que se quer formar, os
objetivos a seguir, as metas a alcançar. E isso não apenas no tocante a sua matéria, mas toda
a proposta pedagógica.
A LDB (1996), discorre sobre a elaboração e o cumprimento do plano de trabalho,
trazendo à tona a organização do educador e a objetividade no exercício de sua função. No
tocante à aprendizagem dos alunos, fala em zelo no sentido de acompanhamento dessa
aprendizagem, que se dá de forma heterogênea, individual. Zelar é mais do que avaliar, é
preocupar-se, comprometer-se, buscar as causas que dificultam o processo de aprendizagem
e insistir em outros mecanismos que possam recuperar os alunos que apresentem alguma
espécie de bloqueio para o aprendizado.
Meu irmão tinha muita dificuldade de aprendizagem, certa vez ele precisava
aprender tabuada, “decorar”, eu e minha mãe ficamos mais de uma semana repetindo os
resultados, e ele não conseguia memorizar, e algumas vezes vinham bilhetes da professora
reclamando que ele não conseguia aprender e que era falta de estudar em casa, por nenhum
momento foi cogitado a sua dificuldade e a busca de outros métodos para auxiliá-lo,
quantas cobranças fazíamos à ele, hoje com o conhecimento adquirido tenho outro olhar.
O educador só conseguirá fazer com que o aluno aprenda, se ele próprio continuar a
aprender. A aprendizagem do aluno é, indiscutivelmente, diretamente proporcional à
capacidade de aprendizado dos educadores. Essa mudança de paradigma faz com que o
educador não seja o repassador de conhecimento, mas orientador, aquele que zela pelo
desenvolvimento das habilidades de seus alunos. Não se admite mais um educador mal
formado ou que pare de estudar.
A educação é em suma, um processo universal. Na definição do processo
educacional, não podemos fugir das influências que sofremos em nossa própria formação.
Assim é que, ao procurar definir o que entendo por educação, não deixo de refletir, em
13
parte, o processo educacional ao qual fui submetida, o tradicional com a cartilha (Caminho
Suave).
Enquanto escrevo, vêm em minha memória fatos ocorridos nos primeiros anos de
escola, que até então esquecido, mas algumas atitudes e inseguranças estão ligadas a tais
acontecimentos. Sou canhota e escrevo com o caderno deitado, geralmente não gosto que as
pessoas me observem enquanto escrevo, quando tive meu filho, procurei incentiva-lo a não
ser canhoto, mas ele é, pois ser canhoto foge dos padrões da sociedade.
Relembrando a primeira série, quando a professora segurava a mão dos alunos para
escrever as letras do alfabeto, lembrei que, na fileira do canto esquerdo da classe, eu era a
quinta aluna, e lá vinha ela fazendo o mesmo processo com todos os alunos, mas ao chegar
em minha carteira ela exclamou: -“Nossa você é canhota!” , simplesmente foi para a outra
carteira, ignorando a minha presença.
Talvez essa professora nem tenha se dado conta do constrangimento que causou em
mim, não respeitando a minha diferença. Quando cheguei em casa perguntei ao meu irmão:
Se treinasse bastante, eu seria destra? Ele respondeu que sim e foi mais de uma semana que
tentei, mas não consegui. Essa é minha preocupação com minhas atitudes enquanto
educadora, sei que tenho o compromisso de:
¾ Intermediar o conhecimento do aluno, oportunizando a construção de
conhecimentos, atitudes, comportamentos e habilidades;
¾ Ser flexível, receptiva e crítica, inovando e pesquisando conhecimentos e
novos caminhos que favoreçam a aprendizagem;
¾ Estabelecer com clareza os objetivos a atingir, identificando as partes mais
importantes;
¾ Trabalhar em equipe junto à comunidade educativa, na formação dos alunos;
¾ Ter sensibilidade para avaliar-me tendo como base o desempenho dos
alunos;
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¾ Ser referencial de comportamentos ético e cívico;
¾ Zelar pelo cumprimento do meu trabalho, visando a qualidade de minhas
ações nas dimensões técnicas, humanas e políticas.
Como fazer a diferença no cotidiano da sala de aula? Como aventurar-se
pedagogicamente sem perder de vista os rumos educativos? Como encontrar atalhos
pedagógicos que permitam aos alunos, o encontro com o conhecimento na perspectiva de
sua construção e com as pessoas como sujeitos culturais , históricos e singulares?
A prática pedagógica do PROESF (Programa Especial de Formação de professores
em exercício) é um dos melhores instrumentos, sendo que a teoria anda junto com a prática
de lecionar, possibilitando-me a oportunidade de experimentar com alunos os novos
conceitos e as novas atividades de aprendizagem sugeridas. Fazer reflexão de minhas
praticas pedagógicas nos encontros, com isso aperfeiçoando o método de ensino.
Educar é a mais nobre missão. Nada é tão gratificante quanto contribuir para
formação do ser humano. Só assim, construiremos um mundo melhor, indivíduos críticos e
participantes ativamente da história.
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A FORMAÇAO DO EDUCADOR
A formação é um fator fundamental para o educador. Não apenas a graduação
universitária ou a pós-graduação, mas a formação continuada, ampla, as atualizações e os
aperfeiçoamentos. Não basta que um professor de matemática conheça profundamente a
matéria, ele precisa entender de psicologia, pedagogia, linguagem, sexualidade, infância,
adolescência, sonho, afeto, vida. Não basta que o professor de geografia conheça bem sua
área e consiga dialogar com áreas afins, como história; ele precisa entender de ética,
política, amor, projetos, família. Não se pode compartimentar o conhecimento e contentarse com bons especialistas em cada uma das áreas.
A transversalidade exige uma intervenção educativa dirigida à superar as visões
parciais e limitadas que abordam os fatos desde uma única disciplina. A
complexidade da maioria dos fenômenos sociais torna imprescindível um novo
olhar e uma nova forma de interpretação, transformando as visões tradicionais do
mundo em outras mais globais, respeitosas e solidárias. (PUIG E MARTÍN,1998
apud ULISSES, 2003 p.472 )
Para que um educador desempenhe com maestria a aula, na matéria de sua
especialidade, ele precisa conhecer as demais matérias, os temas transversais que devem
perpassar todas elas e, acima de tudo, conhecer o aluno. Tudo o que diz respeito ao aluno
deve ser de interesse do educador. Ninguém ama o que não conhece, e o aluno precisa ser
amado! O educador é capaz de fazer isso. Para quem teve uma formação rígida, é difícil
expressar os sentimentos; há pessoas que não conseguem elogiar, que não conseguem
abraçar, que não conseguem sorrir. O educador tem de quebrar essas barreiras e trabalhar
suas limitações (como é difícil, mas não impossível) e a dos alunos.
Até bem pouco tempo atrás, os educadores estavam numa situação bastante
confortável no papel de detentores do saber e transmissores do conhecimento. O mundo não
importava mais que os conceitos que deveriam ser “ensinados” nas salas de aula. Dentro
2
Ulisses Ferreira Araújo de. Temas transversais e a estratégia de projetos. São Paulo: Moderna. 2003.
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destas mesmas salas de aula o educador passou muito tempo alheio aos fatos que
aconteciam fora dela. Numa espécie de alienação docente, os anos passaram, os alunos
também e neste ponto começam as inquietações. Atendendo ao chamado da natureza, o
homem evoluiu como espécie e biologicamente seu organismo progride adequando-se às
necessidades do seu meio.
Em épocas passadas, o bom educador era aquele que sabia tudo e conseguia “guiar”
seus alunos. Os tempos mudaram e o mundo também.
Hoje, o educador não está assistindo a isto tudo parado. Percebem-se claras
mudanças na sua postura e nas diversas tentativas que faz, buscando resolver os problemas
com os quais se depara. O obstáculo maior é a lacuna do tempo perdido na insistência de
práticas que já estavam fadadas ao fracasso. Como, de uma hora para outra, aproximar o
mundo da sala de aula? Como adequar conteúdos programáticos e objetivos educacionais às
necessidades dos alunos? Exige-se do educador uma mudança que ele não sabe como
começar. Por não ter vivido ou experimentado outras formas de fazer, repete,
incessantemente, a fórmula inicial e reproduz, sem mesmo saber quais os motivos que o
levam a esta prática.
O novo sempre foi assustador e, invariavelmente, é repudiado num primeiro
momento, pois é sinônimo de instabilidade e insegurança. Se pudermos optar, preferimos o
que já conhecemos e permanecemos confortáveis com nossa escolha. O problema é que
perdemos o poder de escolha em nossa sociedade globalizada e capitalista.
Já que o educador deseja, uma alternativa seria aproveitar seu desejo de mudança e
fazer com que ele experimente esta mudança, primeiro em si mesmo, vivenciando com seus
pares novas situações de trabalho, aprofundando-se no estudo da Psicologia do
Desenvolvimento, procurando entender as relações do mundo com seus alunos, tentando
focalizar este mundo de acordo com o ponto de vista destes. É necessário que o educador
aprenda a abrir mão do que sabe para abrir espaço para o que o aluno sabe, aproveitando
estruturas cognitivas que estão prontas para serem desequilibradas (quem se lembra de
Jean Piaget?). É imprescindível que o mundo esteja presente na sala de aula, não só através
de projetos pedagógicos, mas na dinâmica de toda aula. O mundo não é uma disciplina, mas
é transversal a todas as disciplinas. Estejamos preparados para isso ou não, a mudança é
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necessária para a própria sobrevivência do educador como profissional, do contrário
veremos cada vez mais médicos atuando como professores de Biologia ou Química, cada
vez mais advogados como professores de Língua Portuguesa ou História; estes
profissionais são absolutamente necessários para a evolução social, portanto, nada contra
eles, mas os educadores jamais serão chamados a realizarem uma cirurgia, a redigirem uma
petição ou a defenderem um acusado.
Parece evidente que os educadores foram perdendo sua importância, justamente pela
“alienação docente”, comentada anteriormente e que parece estar no fim. A escola atual
tem o papel principal neste processo, permitindo aos seus educadores que vivam as
mudanças antes de exercê-las, ou pelo menos, ao mesmo tempo, que possam experimentar
o papel de agentes em sala de aula, concomitantemente ao papel de pacientes junto aos
colegas, refletindo sobre suas posturas e problemas comuns. Estes são alguns dos objetivos
propostos em qualquer empresa do mundo moderno na qualificação dos seus profissionais;
bem como alguns dos objetivos que conhecemos como formação contínua ou continuada, é
o que o PROESF tem proporcionado aos alunos, teoria juntamente com a prática.
Pensar em uma política de formação profissional para a educação infantil requer, a
garantia de um processo democrático que permita ascensão na escolaridade, em todos os
níveis, assegurando um espaço pedagógico de interação entre formação geral e profissional.
Formar na educação e para a educação é muito complexo, precisamos de uma
formação para um ensino crítico com bases em princípios éticos, democráticos e favoráveis
à justiça social.
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MINHAS PRÁTICAS ENQUANTO EDUCADORA
“Odeio você.......!”
Há mais ou menos oito anos atrás, recém formada no magistério, com as melhores
intenções possíveis, mais, os resquícios de uma educação tradicional, presente em minha
prática, cometi um de muitos outros equívocos.
Trabalhava na sala do pré com crianças de seis anos, na periferia de Campinas,
aonde a maioria das crianças vinham para escola por causa do alimento e para os pais
trabalharem, pois suas vidas era de pobreza total.
Um dia, propus aos alunos uma atividade que era escrever o nome deles, mas havia
uma criança que não queria participar de jeito nenhum, acabei ficando brava e ela olha pra
mim e diz: “-Odeio você! Não quero estudar e sim brincar!”
Pobre criança, ela tinha todo o direito de me odiar, pois, naquele momento eu não
compreendia que “O brinquedo cria uma Zona de Desenvolvimento Proximal na criança”.
(OLIVEIRA, 1977, p.67).
Brincar é a linguagem natural da criança, e a mais importante delas. Em todas as
culturas e momentos históricos as crianças brincam (mesmo contra a vontade dos adultos).
Todos os mamíferos, por serem os animais no topo da escala evolutiva, brincam,
demonstrando a sua inteligência. Entretanto, há instituições de Educação Infantil, onde o
brincar é visto como um “mal necessário”, oferecido apenas por que as crianças insistem
em fazê-lo, ou utilizado como “tapa-buraco”, para que o educador tenha tempo de
descansar ou arrumar a sala de aula. A brincadeira é uma atividade essencial na Educação
Infantil, onde a criança, pode expressar suas idéias, sentimentos e conflitos, mostrando ao
educador e aos seus colegas como é o seu mundo, o seu dia-a-dia. A brincadeira é, para a
criança, a mais valiosa oportunidade de aprender a conviver com pessoas diferentes entre
si; de compartilhar idéias, regras, objetos e brinquedos, superando progressivamente o seu
egocentrismo característico; de solucionar os conflitos que surgem, tornando-se autônoma;
de experimentar papéis, desenvolvendo as bases da sua personalidade. Cabe ao educador
fomentar as brincadeiras, que podem ser de diversos tipos. Ele pode fornecer espelhos,
pinturas de rosto, fantasias, máscaras e sucatas para os brinquedos de faz-de-conta: casinha,
médico, escolinha, polícia-e-ladrão, etc. Pode pesquisar, propor e resgatar jogos de regra e
19
jogos tradicionais: queimada, amarelinha, futebol, pique-pega, (estas brincadeiras
dificilmente estão presentes em nossas escolas), etc. Pode confeccionar vários brinquedos
tradicionais com as crianças, ensinando a reciclar o que seria lixo, e despertando o prazer
de confeccionar o próprio brinquedo: bola de meia, peteca, pião, carrinhos, fantoches,
bonecas, (AH! Doce lembrança dos tempos de boneca de espiga de milho e comidinhas
feitas com lata de leite). Pode organizar, na sala de aula, um cantinho dos brinquedos, uma
“casinha” além é claro, realizar diversas brincadeiras fora da sala de aula.
Mesmo sem intenção de aprender, quem brinca aprende, até porque, se aprende a
brincar. Neste momento tenho consciência disso, mas precisei ouvir de uma criança para
refletir e planejar outros jeitos de se trabalhar com elas.
Oferecer às crianças um ambiente lúdico, aconchegante, saudável e gostoso, onde
brincar se faz presente e é considerado muito importante no que tange à organização do
espaço, pois é no brincar que a criança tem garantido seus direitos de se relacionar com
pessoas, ambientes e objetos. Este é meu lema e o norte para meu planejamento.
Quando recebi o cronograma de aulas do quinto semestre do PROESF, fiquei feliz
observei que iria estudar sobre orientação sexual, pois é um assunto muito difícil de falar
por que ainda é um tabu.
Trabalho com a comunidade do meu bairro, recentemente, nossa aula era sobre
intimidade (relação sexual), mesmo após ter tido aulas o semestre inteiro, o professor
Marinho ficava muito à vontade em passar o conteúdo, iniciei a aula pedindo desculpas,
pois o assunto que abordaria era meio constrangedor para alguns dos presentes, inclusive,
meu pai estava entre os presentes, ao final da aula abri um espaço para fazerem algum
comentário e por incrível que pareça ouvi de uma pessoa de setenta anos que havia gostado
muito, pois ele tinha muitos anos de vivência com sua companheira, mas não sabia muito
do assunto. Apesar de ter sido desconfortante abordar o assunto, posso considerar um
progresso, antes eu fugiria do assunto, mas é apenas o primeiro passo de uma longa jornada
rumo a mudança.
Mudar é muito difícil, pois não dormimos retraídos em determinados assuntos, e
acordamos totalmente liberais, mas entendo que enquanto educadora preciso mudar, o novo
assusta.
20
Em 1999, precisei substituir uma colega na sala do pré, já era meados de novembro
e quase todas as crianças já tinham completado sete anos.Em uma tarde de brincadeiras
livre no parque, observei que umas quatro crianças cochichavam e riam do que falavam,
chamei um deles e perguntei o que tanto conversava, ele respondeu que não ia falar, pois
tinha vergonha, insisti muito até prometi não ficar zangada, acabou cedendo.“Ah! Tia o
fulano disse que vai enfiar o pênis na vagina da fulana “(ficou todo sem graça).
Nossa, imagine a minha cara (susto), o máximo que fiz foi perguntar se era assim
mesmo que fazia, ele todo embaraçado disse que sim, pedi que fosse brincar e não quis
tocar no assunto, não me senti apta e temia o que eles iriam me perguntar, sei que
negligenciei. Fiquei intrigada, mas me despertou a buscar novos conhecimentos buscando
cursos, que me capacitasse.
Lembro também de uma criança que não queria entrar na sala de aula, todos os dias
era um show, sem contar o quanto ela chutava tudo e todos que se aproximavam dela.
Passaram-se semanas e nada de progresso, lembrei-me que, quando ia a escola eu chorava o
tempo todo, pois não via objetivos em nem atrativos, e a atitude da professora era de
indiferença, sendo eu mais uma pra atrapalhar a aula.
Chamei sua mãe, conversamos sobre a garota, era a primeira vez que, em seis anos ela
se ausentaria por mais de oito horas, todos os dias de seus familiares e de seu cachorrinho
de estimação (a creche nesta época era de período integral). Neste momento comecei a
indagar se eu proporcionava situações para a aluna:
¾ Sentir-se segura e acolhida no ambiente escolar, utilizando este novo espaço para
ampliar suas relações sociais e afetivas, estabelecendo vínculos com as crianças e
adultos ali presentes, a fim de construir uma imagem positiva sobre si mesma e
sobre os outros, respeitando a diversidade e valorizando sua riqueza.
¾ Tornar-se, cada vez mais, capaz de desenvolver as atividades nas quais se engaja de
maneira autônoma e em cooperação com outras pessoas, crianças e adultos. Desta
forma, desenvolver a capacidade de começar a coordenar pontos de vista e
necessidades diferentes dos seus, socializando-se.
21
¾ Interagir com o seu meio ambiente (social, cultural, natural, histórico e geográfico)
de maneira independente, alerta e curiosa. Isto é, estabelecendo relações e
questionamentos sobre o meio ambiente, os conhecimentos prévios de que dispõe,
suas idéias originais e as novas informações que recebe.
¾ Apropriar-se dos mais diferentes tipos de linguagem construídos pela humanidade
(oral, escrita, matemática, corporal, plástica e musical), de acordo com as suas
capacidade e necessidades, utilizando-as para expressar o seu pensamento e as suas
emoções, a fim de compreender e comunicar-se com as outras crianças e os adultos.
Descobri que ela gostava de animais, mas como levar um para uma creche com mais
de 250 alunos? Conversei com a direção e decidimos comprar dois peixes, e ela seria a
responsável pela alimentação e cuidado. No começo ela não quis muita graça, mas logo foi
se afeiçoando e menos de um mês a aluna vinha toda empolgada para a escola, não só pela
responsabilidade de cuidar dos peixes, mas também pelo vinculo afetivo com os demais da
sala e as brincadeiras proporcionadas.
Com isso trabalhei, a importância das diferenças e a quantidade dos alimentos na
vida do seres vivos, viver em grupo (sociedade), por isso dois peixes. Mais tarde aconteceu
algo que a princípio não estava no programa, que foi a morte de um deles, com esse gancho
pude trabalhar sobre a morte, a superação da perda.
A escola dos pequeninos deve ser um ambiente livre, onde o princípio
pedagógico deve ser o respeito à liberdade e à criatividade das crianças. Nela, os
pequeninos devem poder se locomover, ter atividades criativas que permitam sua
auto suficiência, e a desobediência e a agressividade não devem ser coibidas e,
sim, orientadas, por serem condições necessárias ao sucesso das pessoas.
(LISBOA, 1998, p. 15).
Entendo que a organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil deve ser
orientada pelo princípio básico de procurar proporcionar, à criança, o desenvolvimento da
autonomia, isto é, a capacidade de construir as suas próprias regras e meios de ação, que
sejam flexíveis e possam ser negociadas com outras pessoas, sejam eles adultos ou
crianças. Obviamente, esta construção não se esgota no período dos 0 aos 06 anos de idade,
devido às próprias características do desenvolvimento infantil. Mas tal construção,
necessita ser iniciada na Educação Infantil.
22
No mês de Março/06 na festa dos aniversariantes, o grupo de educadores optou em
trabalhar com canções mais antigas, resgatando a cultura de músicas da década de oitenta.
Tem na escola vários LP (disco de vinil) e um aparelho apropriado, durante a brincadeira,
uma das educadoras, foi explicar o estilo de música e mostrar o disco de vinil, o
interessante que uma criança ao ver e ouvir a palavra disco ela perguntou se é o disco
voador, foi muito interessante este resgate, com isso observei o quanto a nossa cultura vai
se perdendo, não faz tanto tempo que os CDs substituíram os LPs, cabe a nós educadores,
trabalhar a memória e não nos atermos ao modismo.
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A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Historicamente, no Brasil, a Educação Infantil tem sido encarada de diversas
formas: como função de assistência social, como função sanitária ou higiênica e, mais
recentemente, como função pedagógica. De modo geral, podemos dizer que, em nosso país,
existem dois tipos de Educação Infantil, constituindo um sistema educacional que visa,
desde a mais tenra idade, reforçar a exclusão e a injustiça social presente na economia
capitalista: há a “Educação Infantil dos Pobres” e a “Educação Infantil dos Ricos”.
A “Educação Infantil dos Pobres”, baseia-se na concepção de que as crianças das
classes trabalhadoras têm deficiências de todos os tipos (nutricionais, culturais, cognitivas,
etc.), as quais precisam ser compensadas pela escola, a fim de que, no futuro, as crianças
possam ter alguma instrução e, assim, desempenhar o seu papel na sociedade: o de
trabalhador.
As mães da classe trabalhadora precisam de algum lugar onde possam deixar seus
filhos durante o dia, e para isto foram criadas as creches e pré-escolas públicas, local onde
as crianças poderiam suprir as carências provenientes do seu meio ambiente social. Visto
que tais crianças são consideradas muito “carentes”, qualquer atendimento dado a elas é
satisfatório, pois já pode ser visto como uma melhoria nos estímulos que recebem no seu
meio ambiente natural.
Deste modo, cria-se um atendimento na Educação Infantil, onde encontramos:
classes superlotadas, poucos adultos para atender a um número grande de crianças; espaços
físicos improvisados e inadequados, onde as crianças não podem se movimentar livremente
(porque o espaço é pequeno e/ou perigoso), bem como não encontram estímulos ou
desafios; despreocupação com os aspectos essenciais da Educação Infantil, o educar e o
cuidar (indissociáveis um do outro), afinal, a criança está ali apenas para que a sua mãe
possa trabalhar; adultos que atuam junto às crianças, com pouca ou nenhuma formação
pedagógica, já que não são considerados como educadores, mas como babás.
Do outro lado, temos a “Educação Infantil dos Ricos”. Ela também foi criada devido
à necessidade que as mulheres/mães, hoje em dia, têm de trabalhar fora de casa, mas
apresenta concepções e práticas diferentes. Os pais, neste caso, pagam caro para que as
crianças freqüentem as “escolinhas”, por isto, as instituições esforçam-se para atender aos
24
anseios das famílias, que esperam garantir a melhor educação possível para os filhos,
preparando-os para as provas que o futuro reserva, como o vestibular e o mercado de
trabalho.
Aqui, a Educação Infantil tem a função de preparar a criança para o ingresso, com
sucesso, na primeira série do Ensino Fundamental. Por isto é preciso desenvolver as
habilidades cognitivas: treina-se a coordenação motora; ensina-se a criança a reconhecer e
copiar letras e números; e, a fim de promover a boa saúde das crianças, ensina-se hábitos de
higiene e boas maneiras. As escolas têm infra-estrutura muito rica, com piscinas, quadras
de esportes e salas de informática, além de estarem sempre limpas, e com murais
enfeitados.
A Pedagogia da Educação infantil surge com o estatuto do questionamento do
objeto da Educação Infantil, que é a própria educação da criança de 0 a 06 anos
em instituições coletivas de educação e cuidado. Busca revelar os fundamentos
epistemológicos subjacentes a essas práticas e a constituição da criança como um
ser histórico, cultural e social. (ÁVILA, 2002, p.06)
Em Campinas, a transição das creches da Secretaria de Promoção Social para a Secretaria
de Educação, ocorreu em 1989, cumprindo com a Constituição de 1988 e mais adiante, com
a Lei Orgânica do Município, em 1990. Com o assentamento na Lei Orgânica, a partir de
1990, as mulheres que trabalhavam com as crianças na creche passaram a se chamar
monitoras.
Neste mesmo ano, as monitoras passaram a ser admitidas por concurso público, no
qual era exigido apenas o Ensino Fundamental; mesmo passando para a Educação, as
crianças pequenas de 0 a 03 anos, ainda não conseguiram conquistar a importância e a
valorização necessária, deixando de lado mais uma vez a formação específica destas
profissionais.
A bibliografia italiana é utilizada, não como um modelo a ser copiado, mas como
uma inspiração, (sendo que no Brasil o tema ainda é pouco estudado), por apresentar uma
vasta publicação sobre Educação Infantil e por ser a Itália, segundo Faria (1998) é o país
que através da rede pública, melhor cuida e educa suas crianças pequenas. Na disciplina de
educação infantil ministrada pela professora Simone, assisti a vários vídeos muito
interessante da educação infantil italiana .
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Trabalho em um CEMEI com mais 16 monitoras, 07 professoras, e os profissionais
da limpeza, cozinha e segurança. A maioria das monitoras possui mais de 15 anos de
experiência no cuidado e educação a crianças de 0 a 06 anos. Ao pensar no título para o
norte do meu memorial pesquisei o nível de escolaridade, observei que é bem variado: 07
possuem o Ensino Fundamental completo, 04 possuem o Ensino Médio Completo, 02 estão
cursando o Ensino Médio, 01 possui nível superior em Pedagogia, 01 está cursando o 2º
ano do Normal Superior e eu estou cursando o último semestre de Pedagogia.
Segundo Silva, as profissionais que atuarão com as crianças pequenas necessitam,
portanto, de uma formação específica – acadêmica e continuada – que valorize as
especificidades da infância.
Alexandre Rangel, conta em seu livro “Aprendendo Com Os Gansos”, que três
sapos estavam em uma lagoa quando ela começou a ferver. Um dos sapos resolveu sair da
lagoa. Teoricamente, apenas dois sapos teriam morrido, mas não foi o que aconteceu. Os
três morreram escaldados, pois o que resolveu sair, apenas “resolveu” sair. Em vez de agir,
permaneceu ali parado na lagoa.
Só resolver não adianta. Toda resolução exige uma mudança para se tornar efetiva.
Quantas vezes eu reclamei do trabalho. Muitas vezes programei voltar aos estudos, mas
passava os anos e eu me acomodava, até que ao ouvir esta história, em uma formação
continuada3, entendi que para mudar é preciso mais do que resolver mudar; é preciso agir!
Não queria fazer parte da estatística que educadores de creches não tem formação.
Concluindo, eu profissional (monitora/educadora), estou construindo, inventando
esta profissão tão difícil, mas ao mesmo tempo tão gratificante, que segundo Cora Coralina
“...estou removendo pedras e plantando flores”
Acredito que, para ser uma boa educadora, é necessário estar sempre atualizando
seus conhecimentos, ter muita paciência, dar muita atenção e se preocupar com o cuidar e o
educar.
Mediante a trajetória da educação infantil, estudada nas disciplinas de educação
infantil e educação de zero a três anos, tenho me questionado, que proposta posso fazer
para a Educação Infantil, hoje, nas escolas públicas, na perspectiva da formação de sujeitos
3
Formação Continuada: São cursos, ou oficinas pedagógicas, oferecidos pela secretaria de Educação
de Campinas aos profissionais que atuam na educação.
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capazes de intervir na realidade de maneira crítica e criativa? Que questões afetam o que é
ser criança hoje? Como as crianças interagem com os objetos culturais que a elas são
disponibilizados? Como as crianças têm se apropriado das imagens e da linguagem dos
meios de comunicação, em especial, da televisão? Como e de quê as crianças brincam hoje?
Como têm sido as relações entre adultos e crianças? Como as instituições de Educação
Infantil têm enfrentado as novas relações entre a criança e a sociedade?
A criança deve vivenciar, na educação infantil, um direito seu, o trabalho com todas
as suas dimensões, todas as suas linguagens (não só a escrita ou a matemática), não
devendo resumir-se simplesmente a um preparo de habilidade para o futuro.
A educação infantil deve oferecer condições materiais, pedagógicas, culturais,
sociais, humana, alimentares e espaciais, para que esta proposta de trabalho se efetive.
Deve proporcionar a vivência da cidadania, encarando a criança como sujeito de
direitos.
A verdade é que, enquanto nós, profissionais que trabalhamos com crianças na faixa
de zero a seis anos, não acreditarmos profundamente na importância do nosso trabalho para
o hoje dessas crianças, esta desvalorização generalizada e esta mistura de papéis
continuarão a existir.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho consiste em algumas reflexões sobre minha trajetória de vida escolar,
da minha prática como monitora e a preocupação com a minha formação, sendo que não
nasci educadora ou pré-destinada a ser, me formo permanentemente na prática e na reflexão
da prática.
O ato de refletir a lição deve ser um ato libertador, libertador porque instrumentaliza
o educador no que ele tem de mais forte: A reflexão. Não existe ato de reflexão que não nos
leve a constatações, descobertas, duvidas e, portanto, que não nos leve a transformar algo
em nós, nos outros e no mundo.
Para ser válida, toda educação, toda ação educativa deve necessariamente estar
precedida de uma reflexão sobre o homem, e de uma análise do meio de vida concreto, do
homem concreto a quem queremos ajudar e educar.
A lição, a reflexão desse meu processo-formação (PROESF), só pode ser assumida
por mim mesma. O grande desafio que o processo educacional nos apresenta neste
momento histórico quanto à autonomia e competência técnica, deve ser repensado por
todos que estão compromissados com a criança.
Sei que enquanto educadora consciente do papel a exercer, cabe a mim, propiciar
aos educandos, ambientes que os induza a experimentar o rico e animado mundo de
imagens e fantasias que forma sua mente, e expressar suas idéias através das brincadeiras
livres ou dirigidas, e ter clareza da influência que tenho para favorecer ou dificultar o
desenvolvimento da criança.
Ao ingressar na universidade, o meu objetivo foi enriquecer meu conhecimento, e
trabalhar com as crianças da educação infantil, não com uma prática de senso comum e na
intuição sobre o que parece certo, ou simplesmente desenvolver ações costumeiras ou
tradicionais. Quero deixar em suas vidas marcas positivas, pois, quando estas forem
escrever seus trabalhos de conclusões de cursos possam lembrar não com tristeza e sim da
professoras (EU) que fez a diferença.
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O educador do futuro (ou do presente) não pode, no entanto, se limitar a
simplesmente sonhar ou reclamar como rabugento. Suas competências, concretizadas em
ações efetivas, serão alguns dos motores de transformação, pela qual ansiamos (alunos
conscientes e participantes ativamente da sociedade).
Não existe qualquer tarefa que não garanta problemas e obstáculos. Eles existem,
mas somente aqueles que persistirem bravamente irão atingir seus objetivos Ter
persistência e nunca esquecer do valor de uma grande idéia. Ter coragem de arriscar, isto é
essencial, e ser educadora no Brasil é ser persistente e acreditar que pode fazer diferença.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Original, 2004.
ROSEMBERG, Fúlvia; CAMPOS, Maria Malta e VIANA, Claudia P. A formação do
Educador de creche: sugestões e propostas curriculares. São Paulo. Fundação Carlos
Chagas, 1992.
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