UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO CLEONILDA TEIXEIRA DOS SANTOS O PAPEL DO EDUCADOR CAMPINAS 2006 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO CLEONILDA TEIXEIRA DOS SANTOS O PAPEL DO EDUCADOR Memorial apresentado ao Curso de Pedagogia - Programa Especial de Formação Professores em Exercício nos Municípios da Região Metropolitana de Campinas, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, como um dos préRequisitos para conclusão da Licenciatura em Pedagogia CAMPINAS 2006 2 © by, Cleonilda Teixeira dos Santos, 2006. Ficha catalográfica elaborada pela biblioteca da Faculdade de Educação/UNICAMP Santos, Cleonilda Teixeira dos Sa59p O papel do educador : memorial de formação / Cleonilda Teixeira dos Santos. -- Campinas, SP : [s.n.], 2006. Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Programa Especial de Formação de Professores em Exercício da Região Metropolitana de Campinas (PROESF). 1.Trabalho de conclusão de curso. 2. Memorial. 3. Experiência de vida. 4. Prática docente. 5. Formação de professores. I. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título. 3 AGRADECIMENTOS A Deus, pois sou fruto de sua criação, toda honra e gloria pertence a ele. A meu filho Guilherme, pela compreensão das ausências de varias noites neste três anos. Ao meu esposo Gustavo, amigo e maior incentivador na minha caminhada. Ao meu pai José, pelo incentivo e colaboração, A minha amiga Sonia Caprara pelo esforço e dedicação nos momentos difíceis. Por motivo de doença, ela foi minha porta-voz junto aos professores. Ao Dr. Bruno (ortopedista - UNICAMP), pois no momento que eu pensava em desistir, ele otimista, realizou a minha cirurgia de prótese de quadril, me possibilitando a andar novamente. Aos coordenadores do PROESF e a todos os professores, pois sem eles não seria possível, concretizar o sonho. Enfim, a todos que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a realização do curso de Pedagogia. 4 A arte mais importante do educador é provocar a alegria da ação criadora e do conhecimento (Einsteim) 5 “Não é o desafio com que nos deparamos que determina quem somos e o que estamos nos tornando, mas a maneira com que nós respondemos ao desafio. Somos combatentes, idealistas, mas plenamente conscientes , porque o ter consciência não nos obriga a ter teoria sobre as coisas; só nos obriga a sermos conscientes. Problemas para vencer, liberdade para provar... E, enquanto acreditamos em nosso sonho, nada é por acaso”. Henfil 6 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 07 1.O CAMINHO PERCORRIDO 09 2.O PAPEL DO EDUCADOR 12 2.1. A FORMAÇÃO DO 15 3. MINHAS PRÁTICAS ENQUANTO EDUCADORA 18 4. 23 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBIOGRAFICAS 27 29 7 APRESENTAÇÃO ...Seja determinado ao realizar as mudanças necessárias O mestre levou o discípulo para perto de um lago. -Hoje vou ensinar-lhe o que significa a verdadeira devoção, disse. Pediu ao discípulo que entrasse com ele no lago e, segurando a cabeça do rapaz, colocou-a debaixo d’água. O primeiro minuto passou. No meio do segundo minuto, o rapaz já se debatia com todas as forças para livrar-se da mão do mestre e poder voltar à superfície. No final do segundo minuto, o mestre soltou-o. O rapaz com o coração disparado, levantou-se, ofegante. -Senhor quis matar-me! – gritava. O mestre esperou que ele se acalmasse e disse: Não desejei mata-lo, porque, se desejasse, você não estaria mais aqui. -Queria apenas saber o que sentiu enquanto estava debaixo d’água. -Eu me senti morrendo! Tudo o que desejava na vida era respirar um pouco de ar! -È exatamente isso. A verdadeira devoção só aparece quando só temos um desejo e morreríamos se não conseguíssemos realizalo. Pense nisso, se está querendo fazer mudanças profundas na vida profissional ou em qualquer outra área. Até que ponto vai a intensidade do nosso desejo? ( Texto extraído do livro “Aprendendo com os gansos”, Alexandre Rangel, 2004) Como é difícil escolher um caminho, quando tantos outros parecem ser igualmente interessantes. Abraçar um só tema e se aprofundar somente nele confesso, que no começo me deixou com um sentimento de impotência. Quanto mais me aprofundava no tema escolhido mais encontrava outros tantos assuntos interessantes, porém não podia desviar do meu tema principal, como foi difícil direcionar meu olhar a um só caminho. Ao pensar no título norteador para o memorial, minha preocupação era descrever a formação e o papel dos profissionais que trabalham com crianças de educação infantil, mais precisamente nas creches da rede municipal de Campinas, onde convivo com esta realidade há quatorze anos, onde há dois profissionais: O professor que é exigido a formação de magistério e pedagogia e o monitor exige apenas o ensino fundamental, e o que intriga é 8 que, a criança em questão é a mesma que fica com o professor mais ou menos quatro horas e com o monitor, passam as outras oito horas, pois alguns ficam em período integral. A Educação Infantil, a partir de uma história de lutas e reivindicações de diferentes grupos da sociedade civil organizada, foi incluída no capítulo da Educação da Constituição Federal, em 1988, e reconhecida como primeira etapa da Educação Básica pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, em 1996. A definição da Educação Infantil como um nível de ensino, oferecido em creches e pré-escolas, exigiram da Lei outras determinações relativas à formação de seus profissionais. Assim, a LDB define o profissional da Educação Infantil como educador, estabelecendo que sua formação far-se-á em nível superior, admitida como formação mínima para o exercício de Magistério na educação infantil. Os educadores que atuam em creches e pré-escolas não tiveram, portanto, ao longo de sua história, acesso a instituições formais que se ocupassem de sua formação. Os coordenadores do o curso de Pedagogia (PROESF), ao pensarem na grade curricular e trabalho final de curso, possibilitaram me, a ter acesso a matérias especificas da educação infantil e refletir sobre minhas práticas e descrevê-las no memorial. 9 O CAMINHO PERCORRIDO Manhã de segunda-feira, mês de fevereiro, ano de 1975, sem entender o porque sou levada à escola ficando longe pela primeira vez de mamãe. A escola era fria não tinha atrativos, eu não conhecia ninguém, a professora, extremamente enérgica, escrevia o tempo todo na lousa, eu e todos os demais reproduzíamos no caderno exatamente o que nos pediam, muitas vezes frases sem sentido, mas questionar o que? Pois professor nesta época representava “sabedoria total”, o aluno não era para questionar, e sim aceitar o que era imposto (educação bancária)1. Ah! Como não lembrar da loura do banheiro, com os olhos vermelhos e algodão no nariz, passava o tempo todo sem ir ao banheiro e o caminho de volta para casa era longo, não me lembro de ter tido outra informação que isto era apenas fantasias e que realmente não existia. O ano passou, como não consegui reproduzir exatamente o conteúdo proposto, sem contar o medo que sentia da professora, sendo ela autoridade máxima com direito até a me bater, coisa que meus pais nunca fizeram, fui reprovada. No ano seguinte, em Agosto, após uma geada onde destruiu toda a plantação de tomates, não sobrando nem para o sustento cotidiano, meus pais resolveram vir para Campinas, cidade grande, uma garota extremamente tímida e amedrontada, e o pior é que a loura também existia no banheiro da escola na cidade grande. Como foi difícil me adaptar. Passam-se os anos, termino o ensino fundamental, mas como toda família numerosa (onze irmãos), não tinha condições para continuar os estudos, sendo que a oitava série do antigo ginásio para a década de oitenta já era um grande avanço. Em 1989, as creches de Campinas passam por uma mudança significativa, saindo da secretaria de assistência social e indo para a secretaria da educação, onde é realizado o primeiro concurso, prestei o concurso com sucesso para monitora e ingressei na Prefeitura. 1 . Educação Bancaria: Na concepção bancaria a educação é um ato de depositar, transferir, transmitir valores e conhecimentos. O educador é o que transmite os conhecimentos, os educandos passivamente assimilam os conteúdos e reproduzem na avaliação. 10 Voltei a estudar e cursei o magistério para melhor trabalhar com as crianças, fiquei um pouco frustrada ao concluir o curso, pois em nenhum momento tive conteúdos específicos para trabalhar com a educação infantil. .....É preciso conceber uma proposta de formação de educadores, focalizando a educação de maneira a abordar não só aspectos relativos à construção de conhecimentos, mas também à afetividade e a criatividade, a paixão de conhecer, levando em conta, ainda, os aspectos éticos e estéticos presentes no fazer educativo. Isso significa que é necessário perceber que são atores da pratica educativa(...) estão imersos na cultura, são autores, produtores..(ROSEMBERG, CAMPOS E VIANA, 1992, p. 57.). A Unicamp é a pioneira em oferecer, nos seus cursos de Pedagogia, uma formação para professores de crianças de 0 a 10 anos, onde há duas disciplinas que contemplam a educação infantil (0 a 06 anos). Em 2002, a prefeitura faz um levantamento dos interessados em cursar o ensino superior, pedagogia na UNICAMP, imagine a minha euforia, só que como na vida tudo tem prioridades, naquele momento, devido à perda da minha mãe e um filho muito pequeno, marido trabalhando a noite, adiei o sonho para o ano seguinte. Julho de 2003 estava radiante e assustada com a grandeza da universidade, não só no aspecto físico, mas o peso acadêmico que ela representa na vida de qualquer universitário. Primeiro dia de aula, quanta ansiedade e alegria, pois as quarenta alunas, que compunham a turma “A” tinham o mesmo sentimento de vitória, na hora da apresentação quantos sonhos e alegrias foram descritos naqueles segundos, que era aberto individualmente, queríamos resumir todo o percurso trilhado desde a inscrição até a concretização da matrícula. Três anos se passaram e com muita alegria estou redigindo o memorial, cresci muito profissionalmente, conquistei novos amigos, nossa turma (alunas e professores), vencemos vários obstáculos, compartilhamos algumas aflições, angústias, mas sempre empenhados a ajuda mútua. Como em todo lugar sempre surgem grupos com as mesmas “afinidades”, não foi diferente e o meu grupo era composto de oitos mulheres: Mães, filhas, irmãs, esposas, mas 11 também com uma vontade muito grande de aperfeiçoar-se profissionalmente. São elas: Sônia, Néia, Ana, Carol, Aparecida, Adriana, Célia e eu Cleonilda, sei que trilharemos por caminhos diferentes, mas terei na lembrança e no coração à amizade, à cumplicidade, sou convicta de que: Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa tudo sempre passará. A vida vem em ondas como um mar num indo e vindo infinito. Tudo que se vê não é Igual ao que a gente viu a um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo. Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora há tanta vida lá fora e aqui dentro sempre como uma onda no mar. Como uma onda no mar, como uma onda no mar, como uma onda no mar. LULU SANTOS, COMO UMA ONDA 12 O PAPEL DO EDUCADOR Nota-se que o papel do educador, segundo a LDB (1996), está muito além da simples transmissão de informações. Dentro do conceito de uma gestão democrática, ele participa da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino, isto é, decide solidariamente com a comunidade educativa, o perfil de aluno que se quer formar, os objetivos a seguir, as metas a alcançar. E isso não apenas no tocante a sua matéria, mas toda a proposta pedagógica. A LDB (1996), discorre sobre a elaboração e o cumprimento do plano de trabalho, trazendo à tona a organização do educador e a objetividade no exercício de sua função. No tocante à aprendizagem dos alunos, fala em zelo no sentido de acompanhamento dessa aprendizagem, que se dá de forma heterogênea, individual. Zelar é mais do que avaliar, é preocupar-se, comprometer-se, buscar as causas que dificultam o processo de aprendizagem e insistir em outros mecanismos que possam recuperar os alunos que apresentem alguma espécie de bloqueio para o aprendizado. Meu irmão tinha muita dificuldade de aprendizagem, certa vez ele precisava aprender tabuada, “decorar”, eu e minha mãe ficamos mais de uma semana repetindo os resultados, e ele não conseguia memorizar, e algumas vezes vinham bilhetes da professora reclamando que ele não conseguia aprender e que era falta de estudar em casa, por nenhum momento foi cogitado a sua dificuldade e a busca de outros métodos para auxiliá-lo, quantas cobranças fazíamos à ele, hoje com o conhecimento adquirido tenho outro olhar. O educador só conseguirá fazer com que o aluno aprenda, se ele próprio continuar a aprender. A aprendizagem do aluno é, indiscutivelmente, diretamente proporcional à capacidade de aprendizado dos educadores. Essa mudança de paradigma faz com que o educador não seja o repassador de conhecimento, mas orientador, aquele que zela pelo desenvolvimento das habilidades de seus alunos. Não se admite mais um educador mal formado ou que pare de estudar. A educação é em suma, um processo universal. Na definição do processo educacional, não podemos fugir das influências que sofremos em nossa própria formação. Assim é que, ao procurar definir o que entendo por educação, não deixo de refletir, em 13 parte, o processo educacional ao qual fui submetida, o tradicional com a cartilha (Caminho Suave). Enquanto escrevo, vêm em minha memória fatos ocorridos nos primeiros anos de escola, que até então esquecido, mas algumas atitudes e inseguranças estão ligadas a tais acontecimentos. Sou canhota e escrevo com o caderno deitado, geralmente não gosto que as pessoas me observem enquanto escrevo, quando tive meu filho, procurei incentiva-lo a não ser canhoto, mas ele é, pois ser canhoto foge dos padrões da sociedade. Relembrando a primeira série, quando a professora segurava a mão dos alunos para escrever as letras do alfabeto, lembrei que, na fileira do canto esquerdo da classe, eu era a quinta aluna, e lá vinha ela fazendo o mesmo processo com todos os alunos, mas ao chegar em minha carteira ela exclamou: -“Nossa você é canhota!” , simplesmente foi para a outra carteira, ignorando a minha presença. Talvez essa professora nem tenha se dado conta do constrangimento que causou em mim, não respeitando a minha diferença. Quando cheguei em casa perguntei ao meu irmão: Se treinasse bastante, eu seria destra? Ele respondeu que sim e foi mais de uma semana que tentei, mas não consegui. Essa é minha preocupação com minhas atitudes enquanto educadora, sei que tenho o compromisso de: ¾ Intermediar o conhecimento do aluno, oportunizando a construção de conhecimentos, atitudes, comportamentos e habilidades; ¾ Ser flexível, receptiva e crítica, inovando e pesquisando conhecimentos e novos caminhos que favoreçam a aprendizagem; ¾ Estabelecer com clareza os objetivos a atingir, identificando as partes mais importantes; ¾ Trabalhar em equipe junto à comunidade educativa, na formação dos alunos; ¾ Ter sensibilidade para avaliar-me tendo como base o desempenho dos alunos; 14 ¾ Ser referencial de comportamentos ético e cívico; ¾ Zelar pelo cumprimento do meu trabalho, visando a qualidade de minhas ações nas dimensões técnicas, humanas e políticas. Como fazer a diferença no cotidiano da sala de aula? Como aventurar-se pedagogicamente sem perder de vista os rumos educativos? Como encontrar atalhos pedagógicos que permitam aos alunos, o encontro com o conhecimento na perspectiva de sua construção e com as pessoas como sujeitos culturais , históricos e singulares? A prática pedagógica do PROESF (Programa Especial de Formação de professores em exercício) é um dos melhores instrumentos, sendo que a teoria anda junto com a prática de lecionar, possibilitando-me a oportunidade de experimentar com alunos os novos conceitos e as novas atividades de aprendizagem sugeridas. Fazer reflexão de minhas praticas pedagógicas nos encontros, com isso aperfeiçoando o método de ensino. Educar é a mais nobre missão. Nada é tão gratificante quanto contribuir para formação do ser humano. Só assim, construiremos um mundo melhor, indivíduos críticos e participantes ativamente da história. 15 A FORMAÇAO DO EDUCADOR A formação é um fator fundamental para o educador. Não apenas a graduação universitária ou a pós-graduação, mas a formação continuada, ampla, as atualizações e os aperfeiçoamentos. Não basta que um professor de matemática conheça profundamente a matéria, ele precisa entender de psicologia, pedagogia, linguagem, sexualidade, infância, adolescência, sonho, afeto, vida. Não basta que o professor de geografia conheça bem sua área e consiga dialogar com áreas afins, como história; ele precisa entender de ética, política, amor, projetos, família. Não se pode compartimentar o conhecimento e contentarse com bons especialistas em cada uma das áreas. A transversalidade exige uma intervenção educativa dirigida à superar as visões parciais e limitadas que abordam os fatos desde uma única disciplina. A complexidade da maioria dos fenômenos sociais torna imprescindível um novo olhar e uma nova forma de interpretação, transformando as visões tradicionais do mundo em outras mais globais, respeitosas e solidárias. (PUIG E MARTÍN,1998 apud ULISSES, 2003 p.472 ) Para que um educador desempenhe com maestria a aula, na matéria de sua especialidade, ele precisa conhecer as demais matérias, os temas transversais que devem perpassar todas elas e, acima de tudo, conhecer o aluno. Tudo o que diz respeito ao aluno deve ser de interesse do educador. Ninguém ama o que não conhece, e o aluno precisa ser amado! O educador é capaz de fazer isso. Para quem teve uma formação rígida, é difícil expressar os sentimentos; há pessoas que não conseguem elogiar, que não conseguem abraçar, que não conseguem sorrir. O educador tem de quebrar essas barreiras e trabalhar suas limitações (como é difícil, mas não impossível) e a dos alunos. Até bem pouco tempo atrás, os educadores estavam numa situação bastante confortável no papel de detentores do saber e transmissores do conhecimento. O mundo não importava mais que os conceitos que deveriam ser “ensinados” nas salas de aula. Dentro 2 Ulisses Ferreira Araújo de. Temas transversais e a estratégia de projetos. São Paulo: Moderna. 2003. 16 destas mesmas salas de aula o educador passou muito tempo alheio aos fatos que aconteciam fora dela. Numa espécie de alienação docente, os anos passaram, os alunos também e neste ponto começam as inquietações. Atendendo ao chamado da natureza, o homem evoluiu como espécie e biologicamente seu organismo progride adequando-se às necessidades do seu meio. Em épocas passadas, o bom educador era aquele que sabia tudo e conseguia “guiar” seus alunos. Os tempos mudaram e o mundo também. Hoje, o educador não está assistindo a isto tudo parado. Percebem-se claras mudanças na sua postura e nas diversas tentativas que faz, buscando resolver os problemas com os quais se depara. O obstáculo maior é a lacuna do tempo perdido na insistência de práticas que já estavam fadadas ao fracasso. Como, de uma hora para outra, aproximar o mundo da sala de aula? Como adequar conteúdos programáticos e objetivos educacionais às necessidades dos alunos? Exige-se do educador uma mudança que ele não sabe como começar. Por não ter vivido ou experimentado outras formas de fazer, repete, incessantemente, a fórmula inicial e reproduz, sem mesmo saber quais os motivos que o levam a esta prática. O novo sempre foi assustador e, invariavelmente, é repudiado num primeiro momento, pois é sinônimo de instabilidade e insegurança. Se pudermos optar, preferimos o que já conhecemos e permanecemos confortáveis com nossa escolha. O problema é que perdemos o poder de escolha em nossa sociedade globalizada e capitalista. Já que o educador deseja, uma alternativa seria aproveitar seu desejo de mudança e fazer com que ele experimente esta mudança, primeiro em si mesmo, vivenciando com seus pares novas situações de trabalho, aprofundando-se no estudo da Psicologia do Desenvolvimento, procurando entender as relações do mundo com seus alunos, tentando focalizar este mundo de acordo com o ponto de vista destes. É necessário que o educador aprenda a abrir mão do que sabe para abrir espaço para o que o aluno sabe, aproveitando estruturas cognitivas que estão prontas para serem desequilibradas (quem se lembra de Jean Piaget?). É imprescindível que o mundo esteja presente na sala de aula, não só através de projetos pedagógicos, mas na dinâmica de toda aula. O mundo não é uma disciplina, mas é transversal a todas as disciplinas. Estejamos preparados para isso ou não, a mudança é 17 necessária para a própria sobrevivência do educador como profissional, do contrário veremos cada vez mais médicos atuando como professores de Biologia ou Química, cada vez mais advogados como professores de Língua Portuguesa ou História; estes profissionais são absolutamente necessários para a evolução social, portanto, nada contra eles, mas os educadores jamais serão chamados a realizarem uma cirurgia, a redigirem uma petição ou a defenderem um acusado. Parece evidente que os educadores foram perdendo sua importância, justamente pela “alienação docente”, comentada anteriormente e que parece estar no fim. A escola atual tem o papel principal neste processo, permitindo aos seus educadores que vivam as mudanças antes de exercê-las, ou pelo menos, ao mesmo tempo, que possam experimentar o papel de agentes em sala de aula, concomitantemente ao papel de pacientes junto aos colegas, refletindo sobre suas posturas e problemas comuns. Estes são alguns dos objetivos propostos em qualquer empresa do mundo moderno na qualificação dos seus profissionais; bem como alguns dos objetivos que conhecemos como formação contínua ou continuada, é o que o PROESF tem proporcionado aos alunos, teoria juntamente com a prática. Pensar em uma política de formação profissional para a educação infantil requer, a garantia de um processo democrático que permita ascensão na escolaridade, em todos os níveis, assegurando um espaço pedagógico de interação entre formação geral e profissional. Formar na educação e para a educação é muito complexo, precisamos de uma formação para um ensino crítico com bases em princípios éticos, democráticos e favoráveis à justiça social. 18 MINHAS PRÁTICAS ENQUANTO EDUCADORA “Odeio você.......!” Há mais ou menos oito anos atrás, recém formada no magistério, com as melhores intenções possíveis, mais, os resquícios de uma educação tradicional, presente em minha prática, cometi um de muitos outros equívocos. Trabalhava na sala do pré com crianças de seis anos, na periferia de Campinas, aonde a maioria das crianças vinham para escola por causa do alimento e para os pais trabalharem, pois suas vidas era de pobreza total. Um dia, propus aos alunos uma atividade que era escrever o nome deles, mas havia uma criança que não queria participar de jeito nenhum, acabei ficando brava e ela olha pra mim e diz: “-Odeio você! Não quero estudar e sim brincar!” Pobre criança, ela tinha todo o direito de me odiar, pois, naquele momento eu não compreendia que “O brinquedo cria uma Zona de Desenvolvimento Proximal na criança”. (OLIVEIRA, 1977, p.67). Brincar é a linguagem natural da criança, e a mais importante delas. Em todas as culturas e momentos históricos as crianças brincam (mesmo contra a vontade dos adultos). Todos os mamíferos, por serem os animais no topo da escala evolutiva, brincam, demonstrando a sua inteligência. Entretanto, há instituições de Educação Infantil, onde o brincar é visto como um “mal necessário”, oferecido apenas por que as crianças insistem em fazê-lo, ou utilizado como “tapa-buraco”, para que o educador tenha tempo de descansar ou arrumar a sala de aula. A brincadeira é uma atividade essencial na Educação Infantil, onde a criança, pode expressar suas idéias, sentimentos e conflitos, mostrando ao educador e aos seus colegas como é o seu mundo, o seu dia-a-dia. A brincadeira é, para a criança, a mais valiosa oportunidade de aprender a conviver com pessoas diferentes entre si; de compartilhar idéias, regras, objetos e brinquedos, superando progressivamente o seu egocentrismo característico; de solucionar os conflitos que surgem, tornando-se autônoma; de experimentar papéis, desenvolvendo as bases da sua personalidade. Cabe ao educador fomentar as brincadeiras, que podem ser de diversos tipos. Ele pode fornecer espelhos, pinturas de rosto, fantasias, máscaras e sucatas para os brinquedos de faz-de-conta: casinha, médico, escolinha, polícia-e-ladrão, etc. Pode pesquisar, propor e resgatar jogos de regra e 19 jogos tradicionais: queimada, amarelinha, futebol, pique-pega, (estas brincadeiras dificilmente estão presentes em nossas escolas), etc. Pode confeccionar vários brinquedos tradicionais com as crianças, ensinando a reciclar o que seria lixo, e despertando o prazer de confeccionar o próprio brinquedo: bola de meia, peteca, pião, carrinhos, fantoches, bonecas, (AH! Doce lembrança dos tempos de boneca de espiga de milho e comidinhas feitas com lata de leite). Pode organizar, na sala de aula, um cantinho dos brinquedos, uma “casinha” além é claro, realizar diversas brincadeiras fora da sala de aula. Mesmo sem intenção de aprender, quem brinca aprende, até porque, se aprende a brincar. Neste momento tenho consciência disso, mas precisei ouvir de uma criança para refletir e planejar outros jeitos de se trabalhar com elas. Oferecer às crianças um ambiente lúdico, aconchegante, saudável e gostoso, onde brincar se faz presente e é considerado muito importante no que tange à organização do espaço, pois é no brincar que a criança tem garantido seus direitos de se relacionar com pessoas, ambientes e objetos. Este é meu lema e o norte para meu planejamento. Quando recebi o cronograma de aulas do quinto semestre do PROESF, fiquei feliz observei que iria estudar sobre orientação sexual, pois é um assunto muito difícil de falar por que ainda é um tabu. Trabalho com a comunidade do meu bairro, recentemente, nossa aula era sobre intimidade (relação sexual), mesmo após ter tido aulas o semestre inteiro, o professor Marinho ficava muito à vontade em passar o conteúdo, iniciei a aula pedindo desculpas, pois o assunto que abordaria era meio constrangedor para alguns dos presentes, inclusive, meu pai estava entre os presentes, ao final da aula abri um espaço para fazerem algum comentário e por incrível que pareça ouvi de uma pessoa de setenta anos que havia gostado muito, pois ele tinha muitos anos de vivência com sua companheira, mas não sabia muito do assunto. Apesar de ter sido desconfortante abordar o assunto, posso considerar um progresso, antes eu fugiria do assunto, mas é apenas o primeiro passo de uma longa jornada rumo a mudança. Mudar é muito difícil, pois não dormimos retraídos em determinados assuntos, e acordamos totalmente liberais, mas entendo que enquanto educadora preciso mudar, o novo assusta. 20 Em 1999, precisei substituir uma colega na sala do pré, já era meados de novembro e quase todas as crianças já tinham completado sete anos.Em uma tarde de brincadeiras livre no parque, observei que umas quatro crianças cochichavam e riam do que falavam, chamei um deles e perguntei o que tanto conversava, ele respondeu que não ia falar, pois tinha vergonha, insisti muito até prometi não ficar zangada, acabou cedendo.“Ah! Tia o fulano disse que vai enfiar o pênis na vagina da fulana “(ficou todo sem graça). Nossa, imagine a minha cara (susto), o máximo que fiz foi perguntar se era assim mesmo que fazia, ele todo embaraçado disse que sim, pedi que fosse brincar e não quis tocar no assunto, não me senti apta e temia o que eles iriam me perguntar, sei que negligenciei. Fiquei intrigada, mas me despertou a buscar novos conhecimentos buscando cursos, que me capacitasse. Lembro também de uma criança que não queria entrar na sala de aula, todos os dias era um show, sem contar o quanto ela chutava tudo e todos que se aproximavam dela. Passaram-se semanas e nada de progresso, lembrei-me que, quando ia a escola eu chorava o tempo todo, pois não via objetivos em nem atrativos, e a atitude da professora era de indiferença, sendo eu mais uma pra atrapalhar a aula. Chamei sua mãe, conversamos sobre a garota, era a primeira vez que, em seis anos ela se ausentaria por mais de oito horas, todos os dias de seus familiares e de seu cachorrinho de estimação (a creche nesta época era de período integral). Neste momento comecei a indagar se eu proporcionava situações para a aluna: ¾ Sentir-se segura e acolhida no ambiente escolar, utilizando este novo espaço para ampliar suas relações sociais e afetivas, estabelecendo vínculos com as crianças e adultos ali presentes, a fim de construir uma imagem positiva sobre si mesma e sobre os outros, respeitando a diversidade e valorizando sua riqueza. ¾ Tornar-se, cada vez mais, capaz de desenvolver as atividades nas quais se engaja de maneira autônoma e em cooperação com outras pessoas, crianças e adultos. Desta forma, desenvolver a capacidade de começar a coordenar pontos de vista e necessidades diferentes dos seus, socializando-se. 21 ¾ Interagir com o seu meio ambiente (social, cultural, natural, histórico e geográfico) de maneira independente, alerta e curiosa. Isto é, estabelecendo relações e questionamentos sobre o meio ambiente, os conhecimentos prévios de que dispõe, suas idéias originais e as novas informações que recebe. ¾ Apropriar-se dos mais diferentes tipos de linguagem construídos pela humanidade (oral, escrita, matemática, corporal, plástica e musical), de acordo com as suas capacidade e necessidades, utilizando-as para expressar o seu pensamento e as suas emoções, a fim de compreender e comunicar-se com as outras crianças e os adultos. Descobri que ela gostava de animais, mas como levar um para uma creche com mais de 250 alunos? Conversei com a direção e decidimos comprar dois peixes, e ela seria a responsável pela alimentação e cuidado. No começo ela não quis muita graça, mas logo foi se afeiçoando e menos de um mês a aluna vinha toda empolgada para a escola, não só pela responsabilidade de cuidar dos peixes, mas também pelo vinculo afetivo com os demais da sala e as brincadeiras proporcionadas. Com isso trabalhei, a importância das diferenças e a quantidade dos alimentos na vida do seres vivos, viver em grupo (sociedade), por isso dois peixes. Mais tarde aconteceu algo que a princípio não estava no programa, que foi a morte de um deles, com esse gancho pude trabalhar sobre a morte, a superação da perda. A escola dos pequeninos deve ser um ambiente livre, onde o princípio pedagógico deve ser o respeito à liberdade e à criatividade das crianças. Nela, os pequeninos devem poder se locomover, ter atividades criativas que permitam sua auto suficiência, e a desobediência e a agressividade não devem ser coibidas e, sim, orientadas, por serem condições necessárias ao sucesso das pessoas. (LISBOA, 1998, p. 15). Entendo que a organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil deve ser orientada pelo princípio básico de procurar proporcionar, à criança, o desenvolvimento da autonomia, isto é, a capacidade de construir as suas próprias regras e meios de ação, que sejam flexíveis e possam ser negociadas com outras pessoas, sejam eles adultos ou crianças. Obviamente, esta construção não se esgota no período dos 0 aos 06 anos de idade, devido às próprias características do desenvolvimento infantil. Mas tal construção, necessita ser iniciada na Educação Infantil. 22 No mês de Março/06 na festa dos aniversariantes, o grupo de educadores optou em trabalhar com canções mais antigas, resgatando a cultura de músicas da década de oitenta. Tem na escola vários LP (disco de vinil) e um aparelho apropriado, durante a brincadeira, uma das educadoras, foi explicar o estilo de música e mostrar o disco de vinil, o interessante que uma criança ao ver e ouvir a palavra disco ela perguntou se é o disco voador, foi muito interessante este resgate, com isso observei o quanto a nossa cultura vai se perdendo, não faz tanto tempo que os CDs substituíram os LPs, cabe a nós educadores, trabalhar a memória e não nos atermos ao modismo. 23 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL Historicamente, no Brasil, a Educação Infantil tem sido encarada de diversas formas: como função de assistência social, como função sanitária ou higiênica e, mais recentemente, como função pedagógica. De modo geral, podemos dizer que, em nosso país, existem dois tipos de Educação Infantil, constituindo um sistema educacional que visa, desde a mais tenra idade, reforçar a exclusão e a injustiça social presente na economia capitalista: há a “Educação Infantil dos Pobres” e a “Educação Infantil dos Ricos”. A “Educação Infantil dos Pobres”, baseia-se na concepção de que as crianças das classes trabalhadoras têm deficiências de todos os tipos (nutricionais, culturais, cognitivas, etc.), as quais precisam ser compensadas pela escola, a fim de que, no futuro, as crianças possam ter alguma instrução e, assim, desempenhar o seu papel na sociedade: o de trabalhador. As mães da classe trabalhadora precisam de algum lugar onde possam deixar seus filhos durante o dia, e para isto foram criadas as creches e pré-escolas públicas, local onde as crianças poderiam suprir as carências provenientes do seu meio ambiente social. Visto que tais crianças são consideradas muito “carentes”, qualquer atendimento dado a elas é satisfatório, pois já pode ser visto como uma melhoria nos estímulos que recebem no seu meio ambiente natural. Deste modo, cria-se um atendimento na Educação Infantil, onde encontramos: classes superlotadas, poucos adultos para atender a um número grande de crianças; espaços físicos improvisados e inadequados, onde as crianças não podem se movimentar livremente (porque o espaço é pequeno e/ou perigoso), bem como não encontram estímulos ou desafios; despreocupação com os aspectos essenciais da Educação Infantil, o educar e o cuidar (indissociáveis um do outro), afinal, a criança está ali apenas para que a sua mãe possa trabalhar; adultos que atuam junto às crianças, com pouca ou nenhuma formação pedagógica, já que não são considerados como educadores, mas como babás. Do outro lado, temos a “Educação Infantil dos Ricos”. Ela também foi criada devido à necessidade que as mulheres/mães, hoje em dia, têm de trabalhar fora de casa, mas apresenta concepções e práticas diferentes. Os pais, neste caso, pagam caro para que as crianças freqüentem as “escolinhas”, por isto, as instituições esforçam-se para atender aos 24 anseios das famílias, que esperam garantir a melhor educação possível para os filhos, preparando-os para as provas que o futuro reserva, como o vestibular e o mercado de trabalho. Aqui, a Educação Infantil tem a função de preparar a criança para o ingresso, com sucesso, na primeira série do Ensino Fundamental. Por isto é preciso desenvolver as habilidades cognitivas: treina-se a coordenação motora; ensina-se a criança a reconhecer e copiar letras e números; e, a fim de promover a boa saúde das crianças, ensina-se hábitos de higiene e boas maneiras. As escolas têm infra-estrutura muito rica, com piscinas, quadras de esportes e salas de informática, além de estarem sempre limpas, e com murais enfeitados. A Pedagogia da Educação infantil surge com o estatuto do questionamento do objeto da Educação Infantil, que é a própria educação da criança de 0 a 06 anos em instituições coletivas de educação e cuidado. Busca revelar os fundamentos epistemológicos subjacentes a essas práticas e a constituição da criança como um ser histórico, cultural e social. (ÁVILA, 2002, p.06) Em Campinas, a transição das creches da Secretaria de Promoção Social para a Secretaria de Educação, ocorreu em 1989, cumprindo com a Constituição de 1988 e mais adiante, com a Lei Orgânica do Município, em 1990. Com o assentamento na Lei Orgânica, a partir de 1990, as mulheres que trabalhavam com as crianças na creche passaram a se chamar monitoras. Neste mesmo ano, as monitoras passaram a ser admitidas por concurso público, no qual era exigido apenas o Ensino Fundamental; mesmo passando para a Educação, as crianças pequenas de 0 a 03 anos, ainda não conseguiram conquistar a importância e a valorização necessária, deixando de lado mais uma vez a formação específica destas profissionais. A bibliografia italiana é utilizada, não como um modelo a ser copiado, mas como uma inspiração, (sendo que no Brasil o tema ainda é pouco estudado), por apresentar uma vasta publicação sobre Educação Infantil e por ser a Itália, segundo Faria (1998) é o país que através da rede pública, melhor cuida e educa suas crianças pequenas. Na disciplina de educação infantil ministrada pela professora Simone, assisti a vários vídeos muito interessante da educação infantil italiana . 25 Trabalho em um CEMEI com mais 16 monitoras, 07 professoras, e os profissionais da limpeza, cozinha e segurança. A maioria das monitoras possui mais de 15 anos de experiência no cuidado e educação a crianças de 0 a 06 anos. Ao pensar no título para o norte do meu memorial pesquisei o nível de escolaridade, observei que é bem variado: 07 possuem o Ensino Fundamental completo, 04 possuem o Ensino Médio Completo, 02 estão cursando o Ensino Médio, 01 possui nível superior em Pedagogia, 01 está cursando o 2º ano do Normal Superior e eu estou cursando o último semestre de Pedagogia. Segundo Silva, as profissionais que atuarão com as crianças pequenas necessitam, portanto, de uma formação específica – acadêmica e continuada – que valorize as especificidades da infância. Alexandre Rangel, conta em seu livro “Aprendendo Com Os Gansos”, que três sapos estavam em uma lagoa quando ela começou a ferver. Um dos sapos resolveu sair da lagoa. Teoricamente, apenas dois sapos teriam morrido, mas não foi o que aconteceu. Os três morreram escaldados, pois o que resolveu sair, apenas “resolveu” sair. Em vez de agir, permaneceu ali parado na lagoa. Só resolver não adianta. Toda resolução exige uma mudança para se tornar efetiva. Quantas vezes eu reclamei do trabalho. Muitas vezes programei voltar aos estudos, mas passava os anos e eu me acomodava, até que ao ouvir esta história, em uma formação continuada3, entendi que para mudar é preciso mais do que resolver mudar; é preciso agir! Não queria fazer parte da estatística que educadores de creches não tem formação. Concluindo, eu profissional (monitora/educadora), estou construindo, inventando esta profissão tão difícil, mas ao mesmo tempo tão gratificante, que segundo Cora Coralina “...estou removendo pedras e plantando flores” Acredito que, para ser uma boa educadora, é necessário estar sempre atualizando seus conhecimentos, ter muita paciência, dar muita atenção e se preocupar com o cuidar e o educar. Mediante a trajetória da educação infantil, estudada nas disciplinas de educação infantil e educação de zero a três anos, tenho me questionado, que proposta posso fazer para a Educação Infantil, hoje, nas escolas públicas, na perspectiva da formação de sujeitos 3 Formação Continuada: São cursos, ou oficinas pedagógicas, oferecidos pela secretaria de Educação de Campinas aos profissionais que atuam na educação. 26 capazes de intervir na realidade de maneira crítica e criativa? Que questões afetam o que é ser criança hoje? Como as crianças interagem com os objetos culturais que a elas são disponibilizados? Como as crianças têm se apropriado das imagens e da linguagem dos meios de comunicação, em especial, da televisão? Como e de quê as crianças brincam hoje? Como têm sido as relações entre adultos e crianças? Como as instituições de Educação Infantil têm enfrentado as novas relações entre a criança e a sociedade? A criança deve vivenciar, na educação infantil, um direito seu, o trabalho com todas as suas dimensões, todas as suas linguagens (não só a escrita ou a matemática), não devendo resumir-se simplesmente a um preparo de habilidade para o futuro. A educação infantil deve oferecer condições materiais, pedagógicas, culturais, sociais, humana, alimentares e espaciais, para que esta proposta de trabalho se efetive. Deve proporcionar a vivência da cidadania, encarando a criança como sujeito de direitos. A verdade é que, enquanto nós, profissionais que trabalhamos com crianças na faixa de zero a seis anos, não acreditarmos profundamente na importância do nosso trabalho para o hoje dessas crianças, esta desvalorização generalizada e esta mistura de papéis continuarão a existir. 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse trabalho consiste em algumas reflexões sobre minha trajetória de vida escolar, da minha prática como monitora e a preocupação com a minha formação, sendo que não nasci educadora ou pré-destinada a ser, me formo permanentemente na prática e na reflexão da prática. O ato de refletir a lição deve ser um ato libertador, libertador porque instrumentaliza o educador no que ele tem de mais forte: A reflexão. Não existe ato de reflexão que não nos leve a constatações, descobertas, duvidas e, portanto, que não nos leve a transformar algo em nós, nos outros e no mundo. Para ser válida, toda educação, toda ação educativa deve necessariamente estar precedida de uma reflexão sobre o homem, e de uma análise do meio de vida concreto, do homem concreto a quem queremos ajudar e educar. A lição, a reflexão desse meu processo-formação (PROESF), só pode ser assumida por mim mesma. O grande desafio que o processo educacional nos apresenta neste momento histórico quanto à autonomia e competência técnica, deve ser repensado por todos que estão compromissados com a criança. Sei que enquanto educadora consciente do papel a exercer, cabe a mim, propiciar aos educandos, ambientes que os induza a experimentar o rico e animado mundo de imagens e fantasias que forma sua mente, e expressar suas idéias através das brincadeiras livres ou dirigidas, e ter clareza da influência que tenho para favorecer ou dificultar o desenvolvimento da criança. Ao ingressar na universidade, o meu objetivo foi enriquecer meu conhecimento, e trabalhar com as crianças da educação infantil, não com uma prática de senso comum e na intuição sobre o que parece certo, ou simplesmente desenvolver ações costumeiras ou tradicionais. Quero deixar em suas vidas marcas positivas, pois, quando estas forem escrever seus trabalhos de conclusões de cursos possam lembrar não com tristeza e sim da professoras (EU) que fez a diferença. 28 O educador do futuro (ou do presente) não pode, no entanto, se limitar a simplesmente sonhar ou reclamar como rabugento. Suas competências, concretizadas em ações efetivas, serão alguns dos motores de transformação, pela qual ansiamos (alunos conscientes e participantes ativamente da sociedade). Não existe qualquer tarefa que não garanta problemas e obstáculos. Eles existem, mas somente aqueles que persistirem bravamente irão atingir seus objetivos Ter persistência e nunca esquecer do valor de uma grande idéia. Ter coragem de arriscar, isto é essencial, e ser educadora no Brasil é ser persistente e acreditar que pode fazer diferença. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ABROMOWICZ, Anete. O direito das crianças à educação infantil. IN:PRÓ-POSIÇÔES. Revista da Faculdade de Educação/Unicamp: vol.14, n.3(42)-jan./abr. 2004. ARAUJO, Ulisses Ferreira de. Temas transversais e a estratégia de projetos. São Paulo: Moderna. 2003. ÁVILA, M. J. F. As professoras de crianças pequenininhas e o cuidar e educar. Anais da 25ª Reunião Anual da ANPED: Caxambu, 2002. BRASIL. Ministério da Educação/COEDI. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais da criança. Brasília, 1995. BRASIL. Ministério da Educação/SEF. Referenciais Nacionais para Formação de Professores do Ensino Fundamental. CAMPOS, Maria Malta. Revista quadrimestral de Ciências da Educação-Formação de Profissionais da Educação. Ano nº. 68, dezembro, 1999. CAMPOS, Maria Malta e ROSEMBERG, Fúlvia. Critérios de atendimento para uma creche que respeite os direitos fundamentais da criança. Brasília: MEC, 1995. CORALINA, Cora, http://web.pitas.com/contodereis/marco2004.html: acessado em junho/2006 FARIA, Ana Lúcia G. de. O espaço físico como um dos elementos fundamentais para uma Pedagogia da Educação Infantil. In: FARIA, Ana Lúcia G. de e PALHARES, Marina S. (Orgs.). Educação Infantil Pós-LDB: rumos e desafios. Campinas: Autores Associados, 4ª edição, 2003, p. 67-99. LISBOA, Antônio Márcio Junqueira. O seu filho no dia-a-dia: dicas de um pediatra experiente. Vol. 3. Brasília: Linha Gráfica, 1998. OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de (Org). Educação infantil: muitos olhares. 4.ed. São Paulo: Cortez. 2000. 30 RANGEL, Alexandre. O que podemos aprender com os gansos 1. São Paulo: Editora Original, 2004. __________________. O que podemos aprender com os gansos 2. São Paulo: Editora Original, 2004. ROSEMBERG, Fúlvia; CAMPOS, Maria Malta e VIANA, Claudia P. A formação do Educador de creche: sugestões e propostas curriculares. São Paulo. Fundação Carlos Chagas, 1992. 31