UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO PRISCILA DANIELA SILVA RAIMUNDO ATENÇÃO CONCENTRADA: Prejuízo no Resultado do Teste em Decorrência do Nível de Escolaridade, em Candidatos a Primeira Carteira Nacional de Trânsito, na Cidade de Aracaju-SE MACEIÓ - AL 2013 2 PRISCILA DANIELA SILVA RAIMUNDO ATENÇÃO CONCENTRADA: Prejuízo no Resultado do Teste em Decorrência do Nível de Escolaridade, em Candidatos a Primeira Carteira Nacional de Trânsito, na Cidade de Aracaju-SE Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do curso de pós-graduação “lato sensu” em psicologia do Trânsito. Orientador: Prof Ms. Alessio Sandro De Oliveira Silva MACEIÓ - AL 2013 3 PRISCILA DANIELA SILVA RAIMUNDO ATENÇÃO CONCENTRADA: Prejuízo no Resultado do Teste em Decorrência do Nível de Escolaridade, em Candidatos a Primeira Carteira Nacional de Trânsito, na Cidade de Aracaju-SE Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do curso de pós-graduação “lato sensu” em Psicologia do Trânsito. APROVADO EM ____/____/____ __________________________________________________ PROF. MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA ORIENTADOR: __________________________________________________ PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO BANCA EXAMINADORA __________________________________________________ PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA BANCA EXAMINADORA 4 DEDICATÓRIA Dedico aos meus pais, a meu esposo e a minha família. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pelas oportunidades e por tudo que consigo concretizar. Agradeço ao meu marido George, aos meus pais Manoel Messias e Maria Pureza, e a minha família pelo apoio, incentivo e compreensão. Agradeço aos professores da Especialização de Psicologia do Trânsito, pela atenção e dedicação. Por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. 6 “Que os vossos impossibilidades, esforços lembrai-vos desafiem as de as que grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.” (Charles Chaplin) 7 RESUMO A Psicologia do Trânsito visa investigar as variáveis psicológicas e os processos externos que influenciam os motoristas. Na avaliação psicológica, o profissional capacitado utiliza vários instrumentos. Um dos instrumentos é o teste psicológico. O teste AC (Cambraia, 2003), bastante utilizado no contexto do trânsito, afere a atenção concentrada. No presente estudo, foi utilizado o Teste AC em candidatos a primeira Carteira Nacional de Habilitação. O objetivo desse trabalho foi analisar se há prejuízo no resultado do teste AC em decorrência do nível de escolaridade. O instrumento foi aplicado aleatoriamente em 64 candidatos, de ambos os gêneros e diversas idades e escolaridade. Os dados foram coletados nos meses de março, abril, maio, junho e julho de 2013, na Clínica Salud Integrar, credenciada ao Detran/Se, na cidade de Aracaju, Sergipe. Os resultados apontaram que não há prejuízo no resultado do teste em decorrência da escolaridade. Concluindo-se que o instrumento analisado avalia, de forma coerente, os avaliados. Palavras-chave: Avaliação Psicológica, Atenção Concentrada, Teste AC. 8 ABSTRACT The Traffic Psychology aims to investigate the psychological variables and external processes that influence drivers. In psychological assessment, the trained professional uses various instruments. One of the instruments is the psychological test. The test AC (Cambraia, 2003), widely used in the context of traffic, assesses focused attention. In the present study, we used the AC test candidates in the first driver's license. The aim of this study was to analyze whether there is impairment in AC test result due to schooling. The instrument was applied randomly in 64 candidates, of both genders and various ages and schooling. Data were collected in the months of March, April, May, June and July 2013, Salud Clinic Integrate accredited to the Detran/Se, in the city of Aracaju, Sergipe. The results showed that there is no loss in test results due to schooling. Concluding that the analyzed instrument assesses, consistently, the evaluated. Keyword:Psychological Assessment, Concentrated Attention, ACTest. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 – Desempenho dos Candidatos no Teste AC ............................................ 33 Gráfico 2 – Gênero dos sujeitos da pesquisa. ........................................................... 34 Gráfico 3 – Escolaridade dos sujeitos ....................................................................... 34 Gráfico 4 – Escolaridade e Classificação no Teste AC ............................................. 35 Gráfico 5 – Classificação no Teste Ac dos Candidatos com Ensino Fundamental Completo/incompleto ................................................................................................. 36 Gráfico 6 – Classificação no Teste AC dos Candidatos com Ensino Médio Completo/Incompleto ................................................................................................ 36 Gráfico 7 – Classificação no Teste AC dos Candidatos com Ensino Superior Completo/Incompleto ................................................................................................ 37 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 13 2.1 Trânsito ............................................................................................................. 13 2.2 Psicologia do Trânsito ..................................................................................... 15 2.3 Avaliação Psicológica ...................................................................................... 17 2.4 Atenção Concentrada ...................................................................................... 21 2.5 Atenção e Escolaridade ................................................................................... 25 2.6 Teste AC – Atenção Concentrada ................................................................... 26 3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 30 3.1 Ética ................................................................................................................... 30 3.2 Tipo de Pesquisa .............................................................................................. 30 3.3 Universo ............................................................................................................ 31 3.4 Sujeitos da Amostra ......................................................................................... 31 3.5 Instrumentos de Coleta de Dados .................................................................. 31 3.6 Planejamento para Coleta dos Dados ............................................................ 32 3.7 Planejamento para Análise dos Dados........................................................... 32 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 33 5 CONSIDERAÇÕES FINAS ................................................................................... 38 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 40 ANEXOS ................................................................................................................... 43 11 1 INTRODUÇÃO Atualmente, o trânsito é uma importante problemática no Brasil, uma vez que têm significativos índices de acidentes, e gera altos custos econômicos e sociais. Para isso, há como medida, pré-requisitos para a restrição ao acesso à Carteira Nacional de Habilitação. Um desses pré-requisitos é a avaliação psicológica. Esta avaliação é realizada por profissionais qualificados que podem utilizar vários instrumentos: entrevista, observação, dinâmicas, testes psicológico. No contexto do trânsito, a avaliação psicológica visa verificar se o candidato a C.N.H. possui as condições psicológicas mínimas necessárias para dirigir, como atenção, inteligência, traços personalidade, entre outras. Blasco (1994, apud RUEDA; GURGEL, 2008) enfatiza a importância de focar os esforços para minimizar os índices de acidentes de trânsito, considerando que o fator humano aparece como uma das principais causas desses acidentes. Assim, prever e prevenir determinados comportamentos humanos que podemresultar em acidentes é de extrema importância, pois a melhoria da sinalização e das condições da via não tem conseguido diminuir os altos números de acidentes no Brasil e no mundo. Destaca, ainda, que nos últimos anos algumas pesquisas na área têm se preocupado em contribuir para um maior entendimento e compreensão dos comportamentos e das características psicológicas dos condutores que poderiam se envolver em acidentes. Dessa forma, uma vez conhecidas as fontes dos acidentes de trânsito, medidas de segurança poderiam ser tomadas para promover uma maior tranquilidade para os usuários da via. Estudos apontam que a atenção tem um importante papel na ação de dirigir. Ao dirigir é necessário focalizar a mente em estímulos internos e externos, selecionando aspectos relevantes que conduzem a ação. Além disso, a atenção ajuda a aumentar a eficiência mental em relação a outros conteúdos psicológicos, pois mais atento, o sujeito desempenha com melhor qualidade suas funções intelectuais, perceptivas, além de outras. Sendo assim, esse estudo tem como objetivo analisar, no contexto do trânsito, o teste de Atenção Concentrada – AC – (CAMBRAIA, 2003), uma vez que é um instrumento psicológico bastante utilizado na avaliação psicológica do trânsito, e que tem como objetivo avaliar a capacidade do sujeito de manter a atenção concentrada no trabalho realizado, durante um período pré-determinado. 12 Essa pesquisa pretende verificar se o resultado do teste AC sofre prejuízo em decorrência do nível de escolaridade do candidato a primeiraC.N.H. Para isso, observou-se um grupo aleatório de candidatos primeira C.N.H., a fim de responder se aqueles com baixa escolaridade tendem a não atingir o percentil mínimo necessário no teste. Nessa perspectiva, esse trabalho utiliza-se de revisão literária sobre o trânsito, a psicologia do trânsito e a avaliação psicológica, focando a atenção concentrada, e de estudo de campo. Os dados coletados aleatoriamente em candidatos a primeira C.N.H., na Clínica Salud Integrar, na cidade de Aracaju-Se, credenciada ao Detran Sergipe, servirão de base para análise do proposto na pesquisa. Para tanto, esse estudo se revela importante para a Psicologia do Trânsito, pois visa avaliar o Teste AC, além de conscientizar o profissional, mostrando que o psicólogo do trânsito não deve ser um mero aplicador de testes. Ele deve, também, verificar se o instrumento utilizado está sendo efetivo, incentivando, assim, novos estudos e o aperfeiçoamento para tal instrumento. 13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Trânsito O trânsito surgiu em função da necessidade do ser humano se locomover, trocar mercadorias, comercializar produtos, intercambiar conhecimentos, tecnologias e cultura, aspectos essenciais que possibilitam a sobrevivência e favorecem o desenvolvimento em sociedade (ROZESTRATEN, 1988). Os primeiros automóveis e caminhões começaram a circular no Brasil no início do século XX. A locomoção em massa, realizada por meio de bondes e trens, foi lentamente substituída pelo uso do automóvel, fruto do apoio da indústria automobilística no país (LAGONEGRO, 2008). Nos tempos atuais, o uso de veículos automotores tem influenciado a sociedade de diferentes maneiras, como na mudança de valores culturais, na percepção de distância, entre espaço e tempo, cidades e países, nas relações humanas, no comportamento social e nos avanços tecnológicos (HOFFMANN e CRUZ, 2007). Apesar da produção e o uso do automóvel ter contribuído para o desenvolvimento econômico do país, também trouxe um lado negativo, pois, passaram a existir graves problemas ambientais e de saúde pública (SILVA, 2005). E, atualmente, o trânsito é considerado uma importante problemática, devido aos altos custos sociais e econômicos que geram, além dos sofrimentos incontáveis para vítimas e familiares, decorrentes, principalmente, dos acidentes. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, o trânsito é a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga (BRASIL, 1997). Para Rozestraten (1988), o trânsito é um conjunto de deslocamentos de pessoas e veículos nas vias públicas, dentro de um sistema convencional de normas, que têm por fim assegurar a integridade de seus participantes. O trânsito é uma disputa pelo espaço físico resultante, na realidade, da disputa pelo tempo e pelo acesso aos equipamentos urbanos. Uma "negociação" constante, coletiva e conflitiva, pelo espaço (RUEDA, 2009). Tebaldi e Ferreira (2009) definem o trânsito ressaltando sua complexidade. Considerando a quantidade de veículos nas ruas, a precariedade dos espaços das 14 vias e as características comportamentais das pessoas, analisadas em conjunto. O veículo, ao ser conduzido por um indivíduo, assume sua inteligência, alma, sensibilidade e comportamento, ou seja, o veículo assume as características da personalidade do condutor e, dessa maneira, o trânsito deve ser analisado em conjunto com a cultura, valores e ideais de quem conduz os veículos. Madeira (2009) conclui que, para que se possa compreender o trânsito não basta discutir apenas os problemas de congestionamentos e acidentes, mas analisar a maneira como as pessoas se comportam,considerando seus interesses e necessidades. O trânsito é caracterizadopor pessoas de uma dada sociedade com diferenças políticas, sociais eimportâncias diversas, se caracterizando por uma disputa de tempo, espaço físico eacesso aos equipamentos urbanos. Os sinistros automobilísticos começaram a se intensificar, no Brasil, na década de 1940, com a expansão do uso do automóvel, gerando preocupação para as autoridades, que buscaram desenvolver e implementar medidas junto aos diversos campos de conhecimento, como a psicologia (ANTIPOFF, apud SILVA, 2010). Os acidentes de trânsito e a violência em geral constituem uma verdadeira e urgente questão de Saúde Pública no mundo moderno. O aumento da morbimortalidade, devido à violência no trânsito, já é considerado uma epidemia, face à sua extensão e consequências para o indivíduo, para a família e para a sociedade (JOMAR et. all, 2011). Logo se percebe que o trânsito é uma problemática essencialmente social. Os problemas não se restringem apenas ao crescimento do número de veículos e à engenharia do sistema viário, como muitas vezes é apontado, mas também, e principalmente, ao comportamento do motorista. Uma das estratégias adotadas no Brasil foi a de restringir o acesso ao volante, das pessoas propensas a se envolver em acidentes de trânsito, por meio da avaliação psicológica de condutores. O marco inicial desta atividade no âmbito rodoviário foi o Decreto-lei n° 9.545, de 5 de agosto de 1946, em vigor em 1951, que caracterizou o exame psicotécnico para a aquisição da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), sendo aplicado à critério de uma junta médica e sem caráter eliminatório (SILVA, 2010). Com a aprovação do novo código de trânsito, o processo de avaliação até então chamado de exame psicotécnico, passou a ser denominado Avaliação Psicológica Pericial. Essa mudança baseou-se na Resolução n°80/98 do CONTRAN 15 que apresentou algumas mudanças no processo. As principais alterações se basearam no fato de que a avaliação psicológica pericial para o trânsito deveria ser realizada por Peritos de Trânsito que tivessem o respectivo curso, e a finalidade do exame passaria a ser investigar adequações psicológicas mínimas para o correto e seguro ato de dirigir um veículo automotor. O código de trânsito atual define, de maneira geral, que o processo de avaliação psicológica é uma etapa preliminar, obrigatória, eliminatória e complementar para todos os candidatos à obtenção da habilitação, assim como na renovação desse documento no caso dos motoristas que trabalham exercendo atividade remunerada conduzindo veículos (Brasil, 2002, apud SILVA, 2010). Nesse contexto, o objetivo da avaliação psicológica é o de verificar as condições psicológicas mínimas dos indivíduos para dirigir (como: atenção, inteligência, personalidade) a fim de identificar se eles são capazes ou não de dirigir sem perigo para a própria segurança e de terceiros (CÔRTES, 1952; LAMOUNIER& RUEDA, 2005, apud SILVA, 2010). A avaliação pericial para o trânsito considera como princípio o fato de que conduzir um veículo não é um direito do cidadão, mas uma concessão, que pode ser feita desde que ele atenda a diversos critérios, como ter condições físicas e características psicológicas adequadas às categorias da Carteira Nacional de Habilitação (conforme a complexidade e o tipo de veículo), conhecer as leis de trânsito e ter noções de mecânica e domínio veicular (Governo Federal, 1998). Nesse processo, as investigações dos fenômenos psicológicos, ou seja, tanto das capacidades gerais como das específicas do indivíduo, são de suma importância, pois fornecem indicadores que auxiliam o processo de tomada de decisões em relação às condições de esse indivíduo estar apto ou inapto para dirigir (SAMPAIO; NAKANO, 2011). 2.2 Psicologia do Trânsito A Psicologia de Trânsito teve início em meados do século XX, aproximadamente em 1920, conforme afirmam Hoffmann, Cruz e Alchieri (2003, apud LAMOUNIER; RUEDA, 2005). Foi nos últimos anos da década de 1950 e no começo dos anos 1960, porém, que a psicologia do trânsito começou a se desenvolver. Enquanto diversos países do mundo, como Inglaterra, Finlândia, 16 Áustria, Holanda, Suécia, França, Canadá e Estados Unidos, começaram a estruturar centros de pesquisa para estudar essa área e o comportamento humano nesse contexto, no Brasil pouco foi desenvolvido (LAMOUNIER; RUEDA, 2005). Seu início no Brasil foi marcado pela contratação de psicólogos pelo DetranRJ, na década de 1950, com a finalidade de estudar o comportamento dos condutores. Isso ocorreu em virtude de o diretor do Detran-RJ, na época, se interessar por conhecer as causas humanas que provavelmente estavam envolvidas na ocorrência de acidentes. Assim, foi sancionada a Lei 9545, que instituía o Exame Psicotécnico para candidatos à Carteira Nacional de Habilitação (CNH), sendo o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) o responsável por tal atividade. Nas décadas seguintes, o Detran-MG contratou a Professora Alice Mira Lopez para prestar assessoria e treinar seus psicólogos na área de Psicologia de Trânsito (ROZESTRATEN, 1983, apud LAMOUNIER; RUEDA, 2005). Assim, a Psicologia do Trânsito pode ser definida como o estudo científico do comportamento dos participantes do trânsito, entendendo-se por trânsito o conjunto de deslocamentos dentro de um sistema regulamentado. Este tipo de Psicologia estuda, portanto, o comportamento dos pedestres, do motorista amador e profissional, do motoqueiro, do ciclista, dos passageiros e do motorista de coletivos, e num sentido mais amplo, de todos os participantes do tráfego (ROZESTRATEN, 1981). A psicologia do trânsito apresenta-se como uma forma de estudar, de uma maneira concreta, as variáveis psicológicas que poderiam influenciar o modo como os motoristas se comportarem e de qual forma esse comportamento poderia levá-los a se envolver em acidentes de trânsito ou se colocar em situações de risco (RUEDA, 2009). Investiga os comportamentos humanos no trânsito, os fatores e processos externos e internos, conscientes e inconscientes que os provocam e o alteram (Conselho Federal de Psicologia, 2000). Para Lim, Sayed e Navin (2004) o ambiente do motorista é considerado complexo, e o fato de cometer ações e tomar decisões contraditórias poderia, muitas vezes, trazer prejuízos sérios e em muitos casos, até fatais. Segundo os autores, o papel principal do psicólogo do trânsito é minimizar a ocorrência de tais eventos contraditórios, promovendo e facilitando ações para a segurança e eficiência dos motoristas e pedestres inseridos no ambiente do trânsito. E devido ao grande número de fatores que influenciam o comportamento do motorista, promover essas 17 ações se torna muito difícil, e existiria uma necessidade de aumentar a compreensão da população de uma formageral sobre a relação existente entre o motorista e o comportamento motriz, para dessa utilizar essa compreensão na prática. Assim, a Psicologia de Trânsito e a Avaliação Psicológica são áreas afins, uma vez que essa última consiste em um processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, realizado por meio de estratégias psicológicas como métodos, técnicas e instrumentos que permitem um conhecimento de capacidades cognitivas e sensório-motoras, componentes sociais, emocionais, afetivos, motivacionais, aptidões específicas e indicadores psicopatológicos (NORONHA, 1999). Esse processo fornece informações cientificamente fundamentadas que possibilita um diagnóstico visando orientar, sugerir e sustentar o processo de tomada de decisão em algum contexto específico. Desse modo, os psicólogos de trânsito fazem uso da avaliação psicológica para investigar as características psicológicas dos candidatos à obtenção da CNH ou da mudança da categoria da CNH (LAMOUNIER; RUEDA, 2005). 2.3 Avaliação Psicológica As técnicas da avaliação psicológica utilizadas pelos psicólogos do trânsito têm como finalidade auxiliar na identificação de adequações psicológicas mínimas para o correto e seguro exercício da atividade (remunerada ou não) de conduzir um veículo automotor, para tentar garantir a segurança do condutor, do trânsito e dos demais envolvidos (Conselho Federal de Psicologia, 2000). Para isso faz uso dos testes psicométricos como um recurso para verificar habilidades para dirigir, especialmente para tentar prever a probabilidade de um indivíduo se envolver em acidentes (GROEGER, 2003, apud SAMPAIO; NAKANO, 2011). Na avaliação psicológica de trânsito, as investigações das capacidades gerais, bem como das específicas do indivíduo, são de suma importância, pois proporcionam indicadores para a tomada de decisões em relação às condições de esse indivíduo estar apto ou inapto para dirigir. Isso remete à necessidade de uma preocupação, por parte dos profissionais de psicologia, em atuar de forma preventiva e preditiva no processo de avaliação psicológica, buscando interferir para que os motoristas evitem a exposição 18 a situações de perigo a si e aos outros (LAMOUNIER; RUEDA, 2005, apud SAMPAIO; NAKANO, 2011). O processo de avaliação psicológica inclui alguns passos essenciais, como: o levantamento dos objetivos da avaliação e particularidades do sujeito ou grupo a ser avaliado (etapa de escolha dos instrumentos e estratégias adequados para a avaliação); coleta de informações (por meio de entrevistas, dinâmicas, observações, testes projetivos ou psicométricos); integração das informações e desenvolvimento das hipóteses iniciais; indicação de respostas e comunicação dos resultados, conforme procedimentos éticos e considerando eventuais limitações da avaliação. O Conselho Federal de Psicologia (2000), com a Resolução CFP nº 012/2000, realizou uma tentativa de sistematização mais objetiva das características do condutor que é submetido à avaliação pericial, embora reconhecendo “a impossibilidade de estabelecer um perfildiferenciado para condutores amadores e profissionais, o que será objeto de investigaçõesfuturas”. Nessa resolução, ficou determinado que o perfil psicológico do candidatoà CNH e do condutor de veículos automotores deve considerar: • Nível intelectual capaz de analisar, sintetizar e estabelecer julgamento diante de situaçõesproblemáticas. • Nível de atenção capaz de discriminar estímulos e situações adequados para a execuçãodas atividades relacionadas à condução de veículos. • Nível psicomotor capaz de satisfazer as condições práticas de coordenação entre asfunções psicológicas e as áreas audiovisiomotoras. • Personalidade, respeitando as características de adequação exigidas por cada categoria. • Nível psicofísico, considerando a possibilidade de adaptação dos veículos automotorespara os deficientes físicos. De acordo com Silva (2008), o candidato à CNH pode ser considerado apto quandoapresentar desempenho condizente na avaliação psicológica para a condução de veículo na categoria pretendida; apto com restrição quando apresentar distúrbio oucomprometimento psicológico que estivesse temporariamente sob controle, fazendoconstar, nesse caso, o prazo de validade para a revalidação da CNH; inapto temporariamentequando apresentar alguma deficiência psicológica nos aspectos psicológicosavaliados, que seria passível de recuperação ou correção; ou, ainda, inapto quandoapresentar inadequação nas áreas avaliadas que estejam fora 19 dos padrões da normalidadee de natureza não recuperável. Entretanto, as exigências pela avaliação dessesconstrutos nos levam a uma indagação: “Será que um indivíduo que obtém resultadosdos testes „na média‟ pode ser considerado um condutor seguro, mesmoas tabelas normativas fazendocomparações do indivíduo com a populaçãoem geral, não sendo específicas para o contexto do trânsito?”. Embora a psicologia do trânsito seja reconhecida socialmente, sérios debates têm ocorrido acerca dos métodos de avaliação que vêm sendo empregados nesse processo e do papel do psicólogo no desenvolvimento, aperfeiçoamento e seleção de motoristas. De acordo com apontamentos de Gouveia et al. (2002, apud SAMPAIO; NAKANO, 2011), as discussões referem-se principalmente a validade dos testes psicológicos e à capacidade do psicólogo em avaliar o perfil do futuro motorista. Mas será que a simples existência de estudos de validade e precisão dos instrumentos é suficiente para atestar a adequação destes para uso nesse contexto específico? Para Rozestraten (1983), apesar da atuação do psicólogo do trânsito como avaliador dos candidatos à CNH ser a face mais visível da contribuição dos psicólogos ao estudo do comportamento no trânsito, é a partir dela que se pode afirmar que pouco mudou na atuação do psicólogo do trânsito. E alguns questionamentos deveriam ser feitos diante dessa atuação, principalmente no que diz respeito ao processo de testagem, uma vez que os processos de validação e padronização de instrumentos psicológicos para a realidade do trânsito brasileiro são escassos. Noronha, Primi e Alchieri (2004, apud SAMPAIO; NAKANO, 2011) confirmam o apontamento de Rozestraten (1983), ao afirmarem que a área da Psicologia do Trânsito não conta com estudos científicos suficientes que predigam a boa atuação do motorista em relação aos testes utilizados nas avaliações. Segundo Campos (1978), apesar dos estudos teóricos relacionados ao trânsito, noBrasil não aconteceu o desenvolvimento e a validação de técnicas para motoristas e, consequentemente, entre os psicólogos pairavam dúvidas sobre o valor dos instrumentospsicológicos utilizados na avaliação de motoristas e sobre quais os requisitosconsiderados indispensáveis para ser um “bom motorista”. Embora existam alguns instrumentos com evidências de validade para o contexto do trânsito, a situação atual se depara com algumas barreiras que tendem a interferir no melhor desempenho dos indivíduos que almejam a CNH. Algumas 20 dessas limitações dizem respeito ao baixo grau de escolaridade dos candidatos, excluindo-os muitas vezes do perfil proposto da amostra normativa de alguns testes. Quando um psicólogo faz uma avaliação psicológica fazendo uso de testespsicológicos, precisa não só saber aplicar e avaliar o instrumento. Precisa, também, conhecer o teste bem afundo. É importante que, ao escolher um instrumento, o psicólogo saiba se o mesmo é adequado para avaliar o que ele pretende e se é indicado para o sujeitoem questão em relação a idade, sexo, escolaridade e outros aspectos relevantes. Éigualmente importante conhecer os parâmetros psicométricos do teste (osdados de validade, precisão e a existência de normas adequadas para aquele sujeito). Deve também considerar qual o tipo de norma e como foi composta à amostrade padronização, ou seja, com que grupo vai comparar o resultado obtido. Rueda e Gurgel (2008) atentam que pode ser observado em muitos manuais de instrumentos, utilizados na avaliação do condutor, uma normatização em função da escolaridadee, quando o fazem, do tipo de carteira de habilitação sem que, de fato, sejacomprovado no instrumento que essas diferenças existem. Assim o que temos visto é autilização de testes psicológicos que não necessariamente se ajustam ao perfil do motorista,visto que, segundo opinião de Noronha, Primi e Alchieri (2004), a área não contacom estudos científicos suficientes que predigam a boa atuação do motorista em relaçãoaos testes utilizados nas avaliações. Silva e Alchieri (2008) também apontam a problemática em relação a composição da amostra. Segundo eles, a maior parte dos estudos desenvolvidos baseia-se em amostras de candidatos à habilitaçãoapenas, ou seja, de pessoas não habilitadas. Essa constatação levanta um questionamento:“Como avaliar os candidatos a condutores com base em uma tabela cujos dadosforam obtidos com pessoas não habilitadas?”. Poucos estudosinvestigaram motoristas profissionais, motoristas acidentados, infratores e motoristas jáhabilitados, mas não profissionais. Outra falha, segundo Risser (2003), é que, no Brasil, embora as avaliações de motoristas venham sendo empregadas regularmente,pouco esforço vem sendo feito tanto para discutir caminhos futuros quanto emrelação ao investimento de recursos na busca de provas que atestem a validade da maneiracomo essa avaliação vem sendo conduzida. Dessa forma, as críticas feitas à avaliaçãopsicológica realizada no contexto do trânsito relacionam‑se à falta de padronizaçãoacerca da bateria de instrumentos a ser utilizada – visto que o CFP somente recomendaquais construtos 21 devem ser considerados na avaliação, pois estes variam muito de umlugar para outro – e à falta de continuidade da avaliação, já que ela é realizada apenas na primeira habilitação ou em condutores que exercem atividade remunerada, diferentemente do exame médico pericial, repetido periodicamente. Assim, a avaliação psicológica no trânsito mostra-se importante e relevante, uma vez que pretende verificar as condições psicológicas mínimas necessárias para dirigir, e dessa forma evitar ou diminuir os acidentes. Mas, percebe-se que há uma grande defasagem nessa área, falta aperfeiçoamento. E isso pode comprometer o resultado final da avaliação. Para tanto, é fundamental estudos que ajudem o desenvolvimento de tal área. 2.4 Atenção Concentrada A atenção desempenha um papel muito importante na vida das pessoas, uma vez estímulos são recebidos a todo instante e de diversas direções, que passam por vários sensores. Porém essa quantidade de informação muitas vezes está além do que se pode processar. Assim, pode-se afirmar que a principal função da atenção é selecionar e extrair o estímulo mais importante num determinado momento (ALLPORT & POSNER, 1993, apud FERNANDES; RUEDA, 2007). Em relação a sua origem, a atenção pode ser dividida em voluntária e involuntária. A atenção voluntária envolve a seleção ativa e deliberada do indivíduo em uma determinada tarefa, onde ele está motivado e interessado em realizá-la, por exemplo, ler um livro. A atenção involuntária ocorre diante de eventos inesperados no ambiente, em que o indivíduo não escolhe prestar atenção, não há um controle consciente e é mediada por um processo automático. O sistema de atenção age como um filtro que “abre” para as informações a serem atendidas e “fecha” para as ignoradas. Para Silva (1999, apud CAMBRAIA, 2003) a atenção é um processo sequencial em uma série de estágios, com diferentes sistemas cerebrais envolvidos, e a sua capacidade representa um papel importante para a realização de qualquer tarefa, pois, sem ela, não há a seleção de estímulos que representam o foco de maior interesse em um dado momento. A seletividade dos estímulos e o direcionamento da atividade mental seriam influenciados pela importância e interesse por uma 22 determinada tarefa, e, ainda, pelo estado emocional da pessoa. Este pode aumentar ou diminuir o grau de atenção em determinado estímulo. Logo, a atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto. É tomar posse pela mente, de modo claro e vívido, de um entre uma diversidade enorme de objetos ou correntes de pensamentos simultaneamente dados. Focalização, concentração da consciência são a sua essência (DALGALARRONDO, 2000). Nem todas as pessoas tem o processo de atenção agindo de forma eficiente. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais comumente identificado em crianças em idade escolar, é caracterizado pela desatenção, hiperatividade e impulsividade (ROHDE, 2013). A desatenção ocorre quando há a dificuldade de prestar atenção a detalhes ou errar por descuido em atividades escolares e de trabalho; dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; parecer não escutar quando lhe dirigem a palavra; não seguir instruções e não terminar tarefas escolares, domésticas ou deveres profissionais; dificuldade em organizar tarefas e atividades; evitar, ou relutar, em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante; perder coisas necessárias para tarefas ou atividades; ser facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa e apresentar esquecimentos em atividades diárias. (ROHDE, 2013). Trick, Enns, Mills e Vavrik (2004) afirmaram que a desatenção tem sido uma das principais causas de acidentes automobilísticos, independentemente da modalidade de atenção envolvida. Em seu modelo sobre a gênese do comportamento, Rozestraten (2005) propõe cinco fases, tomada de informação, processamento de informações, tomada de decisões, fase de ação, do comportamento ou da resposta e a fase do feedback, uma falha de atenção em qualquer dessas fases pode ocasionar acidente. Assim, a atenção se apresenta como um fator importante na fase de tomada de informação, na qual o estímulo deveria ser detectado, diferenciado e identificado. O bom desempenho nessa fase inicial interferia no sucesso do processo subsequente. No processamento da informação, são importantes outros processos cognitivos, com destaque para a inteligência. Na fase de tomada de decisões o motorista decide agir ou não segundo as regras, e essa decisão determina o comportamento manifestado na fase seguinte. E por fim, na fase de feedback, os resultados são avaliados (STERNBERG, 2000). 23 Em contraste com o déficit de atenção, existe o excesso de concentração, comum em estudantes e cientistas. Para Caliman (2008), tal excesso de comportamento atento, característico em homens que se dedicam ao trabalho intelectual e mental, pode levar ao sentimento de melancolia. A direção unilateral e excessiva da mente é o que pode causar a ruína das funções corporais e a alienação do mundo natural. Conforme Rueda (2009), atualmente no Brasil há a aceitação de quatro tipos de classificação da atenção, no que se refere à sua função ou operacionalização. Com base nisso, a atenção pode ser classificada em atenção dividida, alternada, concentrada e sustentada. A atenção é uma qualidade da percepção, considerando a percepção como a entrada de todos os materiais do conhecimento, de toda a informação recebida pelo indivíduo. A atenção é uma função mental que exige um determinado nível de alerta, de vigília plena, que mantém o cérebro preparado para desempenhar suas funções em diversos contextos. A percepção de situações no trânsito produz comportamentos diferentes e, para que sejam produzidos comportamentos adequados, são necessários estímulos claros, um organismo em condições de perceber e reagir, assim como conhecimento dos sinais e normas presentes no contexto do trânsito. Dessa maneira, quando o condutor olhar para uma determinada placa de trânsito, deve compreender o que o sinal está transmitindo e qual o comportamento esperado, já que, se não houver a percepção correta do mesmo, haverá risco de acidente. A atenção aos sinais de trânsito é um dos aspectos que constroem o comportamento adequado e que deve ser avaliado quando da avaliação psicológica do condutor (ROZESTRATEN, 1988). Para tanto, diante do grande número de acidentes de trânsito que acontecem no país, acredita-se na necessidade de estudos que demonstrem quais características estão relacionadas com o ato de dirigir. Nesse sentido, foram realizadas algumas pesquisas que mostraram que a atenção concentrada seria um atributo importante para aquelas pessoas que desejam dirigir veículos automotores (LIMA, 2010). A atenção vem sendo bastante focada nas avaliações no contexto do trânsito. Tal informação é constatada através da proliferação de instrumentos para sua avaliação nos últimos anos. Isso porque, dentre as variáveis que podem influenciar o desempenho das pessoas no trânsito, a literatura vem apresentando pesquisas que 24 indicariam que a atenção tem um papel relevante no ato de dirigir (NORONHA, SISTO, BARTHOLOMEU, LAMOUNIER e RUEDA, 2006, apud NAKANO; SAMPAIO; SILVA, 2011). Considerando a sua importância enquanto capacidade seletiva, a qual permite ao sujeito eleger alguns estímulos, diante dos vários que recebe, e direcionar sua atividade mental no sentido de, ou responder a uma determinada exigência, ou dirigir sua atenção para ele (CAMBRAIA, 2003).A atenção se constitui em uma função psicológica que se caracteriza pela capacidade de monitorar e selecionar aspectos relevantes dentre outros que não são relevantes, permitindo um estado de alerta para possíveis indícios de perigo. Em consequência, os condutores tendem a utilizar os aspectos da atenção concentrada durante o ato de dirigir, ao focalizar o estímulo e considerar outros fatores, tais como movimentos e demais estímulos presentes no meio ambiente (MONTIEL, FIGUEIREDO, LUSTOSA e DIAS, 2006, apud NAKANO; SAMPAIO; SILVA, 2011). Portanto, em qualquer tarefa ou atividade a ser realizada é necessário que o indivíduo focalize sua atenção concentrada por um maior intervalo de tempo, a fim de facilitar o processo de aprendizagem, promovendo o bom aproveitamento e a qualidade de sue trabalho. De acordo com Lima (2005, apud CORTESE et al, 1999), existem cinco fatores que estão presentes nos testes que avaliam a atenção: - Vigilância: capacidade de selecionar e focar os estímulos; - Amplitude: quantidade de estímulos que deverão ser processados na realização do teste; - Tracking: rastreamento do material em foco envolvendo processos de memória de curto prazo; - Tempo de reação: tempo necessário para a realização da tarefa; - Alternância: flexibilidade e velocidade no deslocamento da atenção de um foco para outro. Assim, é importante avaliar a atenção. Aptidão que se mostra importante e precisa ser examinada principalmente nos condutores de veículos automotivos de todo tipo, pois está relacionada com a qualidade com que as pessoas executam as tarefas que se propõem a realizar no seu dia a dia (CAMBRAIA, 2003). 25 2.5 Atenção e Escolaridade Piovani (2006) estudou a correlação da escolaridade com a atenção, com aplicação de testes com tempo pré-determinado. Neste estudo, ele observou que quanto maior o nível de escolaridade em sujeitos adultos, maior é a precisão da resposta em detrimento da velocidade. Em relação à velocidade, observou que pessoas com maior inteligência produzem respostas elétrica-cerebrais mais rápidas e mais complexas. Porém, atualmente ainda não há uma definição a respeito disso. Em uma pesquisa realizada em 1974, com uma amostra de 2.348 (dois mil trezentos e quarenta e oito) sujeitos que foram submetidos ao Teste AC - Atenção Concentrada, Cambraia (2009) descreve quefoi comprovadoque o nível de escolaridade do examinando determina padrões de rendimento diferentes, pois foram encontradas diferenças estatisticamente significantes em várias comparações realizadas para a variável escolaridade. A partir deste resultado, foram construídas tabelas de pontuação do desempenho do sujeito para cada nível de escolaridade e região do país, pois também foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre as médias do total de pontos comparando diferentes regiões do país. Assim, segundo a tabela do teste AC – Atenção Concentrada, há um aumento no valor da média de pontos dos sujeitos de acordo com a escolaridade, indicando que o desempenho do avaliando aumenta com a escolaridade. Mas, para isso, é necessária uma atualização constante dessas tabelas e normas, sendo fundamental levar em consideração as diferenças regionais e a época em que a pesquisa é realizada, visto que o Brasil passa frequentemente por mudanças sociais e econômicas. No entanto, essa atualização não é realizada constantemente, o que torna difícil confiar se os resultados das tabelas de pontuação do desempenho se mantêm. Assim, é importante que o psicólogo seja mais do que um aplicador de teste. É fundamental ser especialista em trânsito, para levar em consideração a realidade do sujeito, as condições da mobilidade e do trânsito, o local de aplicação do teste, além de ter um olhar crítico em relação ao instrumento utilizado. 26 2.6 Teste AC – Atenção Concentrada Durante o processo de avaliação para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no Brasil, um teste comumente utilizado para avaliação da atenção é o Teste de Atenção Concentrada - AC, segundo apontamento de Noronha et al. (2006, apud NAKANO; SAMPAIO; SILVA, 2011). Vários fatores podem contribuir para a ampla utilização doteste AC no âmbito do trânsito, dentre eles: a fácil aplicação do teste, o tempo paraa correção é curto, o custo do bloco com asfolhas do teste é relativamente barato secomparados aos demais testes, além de para a interpretação de resultados existirem tabelas apropriadas para o grau de instrução de cada candidato. O Teste de Atenção Concentrada (AC) tem como objetivo avaliar a capacidade do sujeito de manter a atenção concentrada no trabalho realizado durante um período determinado. O teste é composto por símbolos. O sujeito deve localizar, entre todos os símbolos da folha, os três símbolos apresentados como modelos. A correção é realizada pelo total de acertos, pela avaliação quantitativa e qualitativa. Existem estudos de precisão, validade e tabelas em percentis para o público-alvo de acordo com sua escolaridade e idade (CAMBRAIA, 2003). O Teste de Atenção Concentrada foi criado pelo psicólogo Suzy Cambraia e publicado pela primeira vez em 1967. Foi desenvolvido como uma alternativa para retestar os candidatos que já haviam sido submetidos ao teste de Toulouse-Pieron, que era o único instrumento disponível no Brasil (CAMBRAIA, 2003). Foram realizados vários estudos pilotos para se chegar à forma que o teste possui na atualidade, inclusive no campo dos símbolos abstratos a fim de se selecionar o estímulo mais adequado para o instrumento (CAMBRAIA, 2003). Após as experimentações iniciais, foi selecionado um símbolo para ser utilizado como estímulo: um triângulo estilizado, formando uma ponta de flecha, que pode estar dirigida para as quatro posições básicas (para cima, para baixo, para esquerda ou para direita). Além da orientação espacial foi introduzida também uma outra variação: a seta pode ser inteiramente preta, branca na parte interna com um contorno preto, ou branca com um ponto negro no centro, o que permite um total de doze combinações diferentes. Dessa doze combinações possíveis foram escolhidas três, mediante sorteio ao acaso, para servirem de modelos a serem cancelados, as 27 quais aparecem logo em cima na folha de resposta, dentro de um retângulo pequeno a fim de sobressaírem (CAMBRAIA, 2003). A linha que aparece na parte da frente da folha de aplicação é um exemplo que se destina ao treino do examinando. O verso da folha contém a prova propriamente dita que consiste em 21 linhas, cada qual com 21 símbolos. Em cada linha horizontal devem ser cancelados os símbolos idênticos aos apresentados. No alto da folha encontra-se o retângulo com os três estímulos a serem cancelados, para que o examinando não necessite decorar os estímulos e nem mesmo perder tempo virando a folha para confirmar os modelos a serem marcados. Encontra-se também no canto superior direito um espaço para que sejam anotadas as variáveis importantes do teste, a saber: os acertos, os erros, as omissões, o total de pontos e o percentil (CAMBRAIA, 2003). A localização dos símbolos a serem cancelados foi integralmente sorteada ao acaso, uma a uma. Este procedimento foi adotado para evitar que houvesse uma ordem na localização dos estímulos a serem cancelados e mesmo, evitar a repetição de linhas, o que ocorre em outras provas, não sendo raro encontrar examinandos que percebam rapidamente a forma em que os acertos se encontram colocados em cada linha, o que compromete o resultado do teste (CAMBRAIA, 2003). Após a elaboração final do instrumento, foi realizada uma pesquisa com a finalidade de estimar o tempo mais adequado de aplicação. O teste foi então aplicado em duzentas pessoas de diferentes níveis de escolaridade com tempo livre, permitido que todos chegassem ao final do teste e foram assinalados o tempo que cada um utilizou para chegar ao final do teste. A partir dos resultados encontrados foi obtido o tempo médio de seis minutos e cinquenta e sete segundos, fixando-se posteriormente o tempo de aplicação de cinco minutos (CAMBRAIA, 2003). Embora o Teste AC não tenha sido criado para ser um instrumento específico para a avaliação de motoristas, mas sim um teste de atenção concentrada para ser utilizado em diversas avaliações, atualmente sua utilização é bastante comum na realização da avaliação psicológica para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CAMBRAIA, 2003). O Teste AC pode ser aplicado de forma individual ou coletiva. No caso de aplicação individual, o psicólogo deve estabelecer um rapport com o examinando, antes da aplicação do teste. Para aplicação coletiva é importante ser dada uma explicação geral para os examinandos do motivo da realização do teste, sugerindo- 28 se um máximo de trinta candidatos em uma sala, e os candidatos devem sentar-se em carteiras que apresentem uma distância entre elas que permitam a passagem do examinador durante o teste (CAMBRAIA, 2003). As instruções do teste são padronizadas e devem ser lidas pelo psicólogo sem introduzir modificações, pois essas modificações podem invalidar a aplicação do instrumento. Em pesquisa utilizando o Teste AC, Nakano, Sampaio e Silva (2011) apontou, em relação à escolaridade, que sujeitos que possuem Ensino Superior apresentam média maior em atenção do que os participantes dos demais níveis educacionais, tanto em relação à pontuação total quanto no número de acertos. Participantes com Ensino Médio apresentam média mais alta em erros e participantes com Ensino Fundamental apresentam mais omissão que os demais. Com base nesses resultados os autores sugeriram o desenvolvimento de normas específicas para a interpretação dos resultados desse instrumento em função da escolaridade, pois as tabelas com níveis de escolaridade seriam insuficientes para um resultado com precisão. Assim, aqueles autores concluíram que o Teste AC sofre influência em relação à escolaridade, visto que o aumento nos anos de escolaridade parece estar associado a uma maior capacidade de atenção. Lacunas em relação à avaliação psicológica no trânsito podem ser notadas de forma que se verifica a importância do desenvolvimento de mais estudos para que a avaliação realizada na área do trânsito possa ser aperfeiçoada, aliada a um maior cuidado por parte dos autores no momento de seleção da amostra normativa dos instrumentos, de modo que seja condizente com o trânsito. Para Rozestraten (2000, apud SAMPAIO, 2012), a dificuldade para realizar uma avaliação confiável ocorre, em partes, pelo fato de que, muitas vezes, o psicólogo de trânsito é um mero aplicador de testes, enquanto deveria, pelo menos, questionar a fidedignidade e a validade desses instrumentos em relação aos candidatos a motorista. Nesse sentido, Christ (2003, apud SAMPAIO, 2012) argumenta que os padrões de desempenho exigidos devem diferir de acordo com a tarefa que o motorista irá realizar. Dirigir profissionalmente exige mais do que dirigir não profissionalmente. Para tanto, dirigir exige uma relação complexa entre capacidade, atitudes e hábitos, de modo que um procedimento de seleção deveria também tentar avaliar os riscos de segurança que resultam dessas interações. 29 Silva e Alcheri (2207, apud SAMPAIO, 2012) afirmam que as pesquisas sobre condutores são escassas e restritas a generalizações, de forma que uma melhora na área só será possível a partir do desenvolvimento de melhores instrumentos de avaliação, desenvolvimento de perfil de motoristas, amostra mais representativa dos motoristas e ações integradas ou parcerias entre instituições de ensino e aquelas responsáveis pelo transporte coletivo, individual e empresas de transporte. Para tanto, estudos das técnicas e dos instrumentos utilizados na avaliação psicológica no contexto do trânsito são fundamentais para aprimorar o desempenho dos profissionais, e assim, proporcionar maior segurança para aqueles que dirigem e, também, para aqueles que não dirigem mas fazem parte do trânsito. 30 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Ética A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas fundamentais conforme determina o Conselho Nacional de Saúde – CNS nº 196/96 do Decreto nº 93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos: A identidade dos sujeitos da pesquisa segue preservada, conforme apregoa a Resolução 196/96 do CNS-MS, visto que, não foi necessário identificar-se ao responder o questionário. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram coletados dados a respeito dos resultados do Teste AC – Atenção Concentrada, para obter maiores informações sobre a população pesquisada. 3.2 Tipo de Pesquisa Esta pesquisa foido tipo qualitativa. Esse tipo de pesquisa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo da pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas (SILVA; MENEZES, 2005). Os dados descritivos são obtidos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo (NEVES, 1996). O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem (SILVA; MENEZES, 2005). É frequente que o pesquisador procure entender os fenômenos segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada e, a partir daí, situe sua interpretação dos fenômenos estudados (NEVES, 1996). Segundo Maanen (1979, apud NEVES, 1996), a pesquisa qualitativa compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido 31 dos fenômenos do mundo social. Trata-se de reduzir a distância entre teoria e dados, entre contexto e ação. O desenvolvimento de um estudo de pesquisa qualitativa supõe um corte temporal-espacial de determinado fenômeno por parte do pesquisador. Esse corte define o campo e a dimensão em que o trabalho será desenvolvido (NEVES, 1996). Além disso, é uma pesquisa bibliográfica, uma vez que o levantamento bibliográfico é fundamental para qualquer estudo. 3.3 Universo O presente estudo abrangeu a cidade de Aracaju-SE. A coleta de dados ocorreu na Clínica Salud Integrar, credenciada ao Detran-SE, em 64 (sessenta e quatro) sujeitos, no período de maio à agosto de 2013. 3.4 Sujeitos da Amostra Os sujeitos deste estudo foram 64 candidatos a primeira CNH, escolhidos de forma aleatória, de ambos os sexos e diversas faixas etárias e escolaridade, atendidos na Clínica Salud Integrar, em Aracaju-SE. Foram analisados o teste AC – Atenção Concentrada, destes candidatos, considerando o nível de escolaridade e a pontuação do resultado do desempenho no teste, conforme tabela apresentada no manual de tal instrumento. 3.5 Instrumentos de Coleta de Dados Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foi entrevista estruturada e os resultados do teste AC – Atenção Concentrada -, de Cambraia (2003), aplicado nos candidatos a primeira CNH, na Clínica Salud Integrar. O teste AC avalia a capacidade que uma pessoa possui para selecionar um estímulo dentre muitos e focar sua atenção nele por um intervalo de tempo específico (cinco minutos). Tal instrumento foi utilizado conforme padronização de aplicação e correção estabelecida no manual, a fim de obter uma maior fidedignidade. 32 3.6 Planejamento para Coleta dos Dados A coleta de dados foi realizada em amostra aleatória (ambos os sexos e diversas faixas etárias) entre os meses de março, abril, maio, junho e julho de 2013, em candidatos a primeira Carteira Nacional de Trânsito, na Clínica Salud (clínica credenciada ao DETRAN-SE), na cidade de Aracaju-SE. O teste AC foi aplicado de forma coletiva, por psicólogo perito em trânsito, em clínica credenciada para tal fim. 3.7 Planejamento para Análise dos Dados Para Baptista e Cunha (2007), a ação de coletar dados para um estudo qualitativo envolve mais do que a obtenção de informações. O pesquisador deve começar um processo que envolve movimentos reiterados e cíclicos entre a coleta de dados e a sua análise. A coleta de dados faz parte do processo, e requer constantes julgamentos analíticos. Assim durante a coleta de dados, foi feita uma tabulação, com o auxilio do software Word, para quantificar os resultados obtidos no teste AC, considerando o gênero, a idade e a escolaridade dos candidatos a primeira CNH. Em seguida, os resultados foram organizados em gráficos, para destacar os dados obtidos, e assim, buscar resposta para esse estudo. 33 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Cambraia (2003) afirma que, no teste AC, a interpretação de um percentil igual a 60, por exemplo, indica que o resultado obtido pelo sujeito é igual ou superior a 60% da população da amostra de padronização. Concluindo-se que a capacidade de atenção concentrada é mediana. Na análise dos resultados desta pesquisa, observou-se que, dos 64 candidatos a primeira C.N.H., 55 atingiram o percentil mínimo necessário no teste AC, conforme tabela do manual do teste. E 9 candidatos não atingiram o percentil mínimo necessário. Esse resultado é demonstrado no Gráfico 1. Gráfico 1 – Desempenho dos Candidatos no Teste AC Fonte: Dados da Pesquisa. Aracajú/SE. 2013. Rueda (2009) afirma que um desempenho insatisfatório em um teste que avalia atenção, pode estar relacionado a um elevado índice de acidente veicular. Portanto, o profissional deve estar atento a esse desempenho. Observou-se que a maior parte dos candidatos a primeira C.N.H. atingiu o percentil mínimo necessário no Teste AC. Quanto ao gênero, verificou-se que dos sujeitos analisados, 27 foram do sexo feminino e 37 do sexo masculino, conforme demonstram os resultados no Gráfico 2. 34 Gráfico 2 – Gênero dos sujeitos da pesquisa. Fonte: Dados da Pesquisa. Aracajú/SE. 2013. Em relação à escolaridade, 18 dos candidatos desta pesquisa apresentaram ensino superior completo ou incompleto, 35 apresentaram ensino médio completo ou incompleto e 11 apresentaram ensino fundamental completo ou incompleto, conforme demonstra o Gráfico 3. Gráfico 3 – Escolaridade dos sujeitos 40 35 35 30 Ensino Superior Completo/Incompleto 25 20 Ensino Médio Completo/Incompleto 18 15 10 5 0 Fonte: Dados da Pesquisa. Aracajú/SE. 2013. 11 Ensino Fundamental Completo/Incompleto 35 Na avaliação do Teste AC, dos 18 candidatos com ensino fundamental completo/incompleto, 1 candidato obteve classificação muito superior, 1 classificação superior, 2 classificação médio superior, 5 classificação média e 2 classificação médio inferior. Dos candidatos com ensino médio completo/incompleto, 1 obteve classificação muito superior, 1 classificação superior, 7 médio superior, 22 média, 1 médio inferior e 3 inferior. E dos candidatos com ensino superior completo/incompleto, 4 obtiveram classificação médio superior, 11 média, 1 médio inferior e 2 inferior. Tais dados estão demonstrados nos Gráficos 4, 5, 6 e 7. Gráfico 4 – Escolaridade e Classificação no Teste AC Fonte: Dados da Pesquisa. Aracajú/SE. 2013. 36 Gráfico 5 – Classificação no Teste Ac dos Candidatos com Ensino Fundamental Completo/incompleto 6 5 5 Muito Superior 4 Supeior 3 Médio Superior 2 2 1 2 Médio Médio Inferior 1 1 Inferior 0 Ensino Fundamental Fonte: Dados da Pesquisa. Aracajú/SE. 2013. Gráfico 6 – Classificação no Teste AC dos Candidatos com Ensino Médio Completo/Incompleto Fonte: Dados da Pesquisa. Aracajú/SE. 2013. 37 Gráfico 7 – Classificação no Teste AC dos Candidatos com Ensino Superior Completo/Incompleto Fonte: Dados da Pesquisa. Aracajú/SE. 2013. Observa-se uma maior prevalência de candidatos com ensino médio, seguido de candidatos com ensino superior e, por fim, com ensino fundamental. Com base nos dados dos sujeitos desse estudo, observa-se, ainda, que dos 9 candidatos, que não atingiram o percentil mínimo necessário, 3 têm ensino superior, 4 têm ensino médio e 1 tem ensino fundamental. Tais dados mostram que não há prejuízo no resultados do Teste AC em decorrência do nível de escolaridade, uma vez que há um equilíbrio no número de candidatos que não atingiram o percentil mínimo necessário e a escolaridade. Porém, um estudo realizado por Rueda e Gurgel (2008) revelou que candidatos com escolaridade mais elevada, apresentaram maior aptidão no que diz respeito à atenção concentrada. Já Cambraia (2009) afirmou que pesquisas evidenciam que o nível de escolaridade do examinando determina padrões de rendimento diferentes em cada nível. Portanto, para cada nível de escolaridade deve existir uma tabela, reforçando assim, a necessidade de normas para as diversas regiões do Brasil onde o teste é aplicado, bem como a constante atualização dessas normas e tabelas. 38 5 CONSIDERAÇÕES FINAS Conforme aponta a bibliografia, a atenção influencia significativamente o desempenho do sujeito no ato de dirigir. E a avaliação psicológica no trânsito visa identificar características e habilidades psicológicas mínimas necessárias para tal ato. Assim, Cambraia (2003) desenvolveu um instrumento (Teste AC) que pretende medir a atenção concentrada. O Teste AC tem como foco avaliar a capacidade do indivíduo de manter a atenção concentrada no trabalho realizado, durante um tempo pré-determinado. Alguns estudos, como o de Nakano, Sampaio e Silva (2011), apontaram que, em relação à escolaridade, sujeitos que possuem Ensino Superior apresentam média maior em atenção do que os participantes dos demais níveis educacionais, tanto em relação à pontuação total quanto no número de acertos. Participantes com Ensino Médio apresentam média mais alta em erros e participantes com Ensino Fundamental apresentam mais omissão que os demais. Com base nesses resultados os autores sugeriram o desenvolvimento de normas específicas para a interpretação dos resultados desse instrumento em função da escolaridade. Assim, aqueles autores concluíram que o Teste AC sofre influência em relação à escolaridade, visto que o aumento nos anos de escolaridade parece estar associado a uma maior capacidade de atenção. Para tanto, essa pesquisa objetivou analisar se há prejuízo no resultado do Teste AC em decorrência da escolaridade, em candidatos a primeira C.N.H., na cidade de Aracaju-SE, uma vez que esse instrumento é bastante utilizado nas clínicas responsáveis pela avaliação psicológica dos candidatos à C.N.H. No presente estudo, a maioria dos sujeitos apresentou desempenho satisfatório no resultado do Teste AC, independente da escolaridade. Portanto, conclui-se que esse instrumento tem validade, conforme aponta seu manual. No entanto, fica clara a necessidade constante de atualizações das normas e das tabelas de avaliação. Além disso, no Brasil, país com uma vasta diversidade cultural, diferenças regionais trazem como consequências diferenças abundantes, em vários aspectos. Assim, é importante tabelas de padronização dos resultados para cada cidade, levando em consideração a regionalização, e estudos com foco em motoristas. 39 Dessa forma os profissionais podem trabalhar com maior segurança, e a avaliação psicológica, no contexto do trânsito, mais fidedigna. 40 REFERÊNCIAS BAPTISTA, S.G; CUNHA, M.B.Estudo de Usuários:visão global dos métodos de coleta de dados.Revista Perspectivas em Ciências da Informação, v. 12, n. 2, p. 168-184, maio/ago. 2007. BRASIL.Código de trânsito brasileiro. Lei nº. 9.503, de 23 de setembro de 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm>. Acesso em: 14 out. 2013. CALIMAN, L.V.Os valores da atenção e a atenção como valor.Estudo pesquisa e psicologia, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, dez. 2008. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180842812008000300006&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 14 jul. 2013. CAMBRAIA, S.V. Teste AC. 1.ed. São Paulo: Vetor Editora, 2003. CAMPOS, F. 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