TOLERÂNCIA DO COQUEIRO ANÃO A DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE UREIA APLICADAS NAS AXILAS. 1 Silva, R. M.; 1ZAN, A.; 1Rodrigues, L. A.*; 1Reicão, J. P. C.; 1Silva, M. 1 [email protected] , Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro. Av. Alberto Lamego, 2000, Horto. Campos dos Goytacazes/RJ-Brasil. +55-22-2748-6112. RESUMO O trabalho objetivou determinar à tolerância de diferentes concentrações de ureia e a concentração máxima a ser aplicada sem ocasionar queima das axilas do coqueiro; avaliar a absorção de N após aplicação da ureia e os efeitos sobre a produção. O experimento foi conduzido no estado do Rio de Janeiro, Brasil em Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico. Foi utilizado delineamento de blocos ao acaso com cinco repetições, cujos tratamentos consistiram 0; 3; 6; 9; 12; 18 e 24% de ureia aplicadas nas axilas das folhas do coqueiro reaplicadas aos 60 dias após a primeira aplicação. As avaliações das lesões foram realizadas aos 4, 7, 15, 30 e 60 dias após cada aplicação. Aos 60 e 120 dias foram realizadas avaliações da produção juntamente com a coleta de folhas para a análise de N, sendo os dados submetidos ao teste Duncan à 5% de probabilidade. O coqueiro não apresentou sintomas visíveis de toxidez até a concentração de 24% de ureia aplicada via axilar. Maiores quantidade de inflorescências/espatas, cachos e frutos foram emitidas por plantas submetidas às concentrações de 9% de ureia e menores valores na testemunha (sem aplicação) e na concentração 24% de ureia. Houve redução nos teores de N durante os quatro meses do experimento. Reduções mais acentuadas foram observadas na testemunha. PALAVRAS-CHAVE: Nitrogênio; Adubação Axilar; Toxidez por Ureia INTRODUÇÃO O aumento significativo da demanda por água de coco (Cocos nucifera L.) observado nos últimos anos gerou uma rápida expansão do plantio com coqueiros da variedade Anão, os quais passaram a ocupar áreas não tradicionais de cultivo com esta cultura. Entretanto, o deslocamento desta cultura para regiões não convencionalmente cultivadas, tem posto em evidencia diversas limitações agronômicas, os quais, na sua grande maioria, ainda necessitam de estudo. O pacote tecnológico disponível para a cultura foi desenvolvido baseado em condições de cultivo especifico para o Nordeste brasileiro com diferenças edafoclimáticas do restante do país. O crescimento contínuo do coqueiro além da produção do coco implica, segundo SOBRAL (2003), na remoção de grandes quantidades de nutrientes, os quais necessitam ser repostos por meio da aplicação de fertilizantes, dentre esses o N e o K são exigidos em maior quantidade (SILVA et al., 2009). Na maior parte dos coqueirais tem sido observadas aplicações de elevadas doses de N pelos agricultores com respostas da planta em termos de qualidade do fruto, produtividade e teor foliar poucos satisfatórias. Além disso, a ureia 45%, adubo nitrogenado frequentemente utilizado pelos agricultores, quando aplicada na superfície do solo está sujeita a elevadas perdas de N por volatilização de amônia (NH3), (em médias de 20 a 30% do N aplicado) (CANTARELLA et al., 2008). O alto preço da ureia no mercado torna bastante oneroso os custos das adubações para os agricultores, sendo necessária a aplicação de técnicas que minimizem as perdas deste nutriente e aumentem a eficiência de uso pela cultura. Com isso é importante buscar técnicas que definam as doses e formas de aplicação mais eficientes para reduzir os custos de produção e os impactos ambientais sem prejuízos a planta. A aplicação de ureia via adubação foliar, é uma técnica alternativa de aplicação que já vem sendo utilizada principalmente junto a aplicação de micronutrientes em algumas culturas. No coqueiral a aplicação foliar é uma técnica trabalhosa devido a forma de disposição das folhas e altura das plantas. Alternativamente, alguns trabalhos tem sugerido a aplicação de nutrientes na axila foliar. A aplicação via axilar em coqueiros já foi testada para B (PINHO, 2008) e K (RIBEIRO, 2008) indicando uma forma de aplicação promissora, no entanto, no caso da aplicação axilar com ureia, além da absorção é importante avaliar a concentração máxima de aplicação sem que ocorra a queima das axilas. Segundo MALAVOLTA (1981), o índice salino da ureia é 75,4%, o que pode causar murcha ou morte de plantas pela alta afinidade dos componentes pela água, levando à desidratação do tecido da planta. O índice salino tem sido utilizado para avaliar o potencial de queima em várias culturas, sendo utilizado como parâmetro para classificação de fertilizantes que provavelmente causarão maior injúria foliar (FERTIZER TECHNOLOGY, 2005) quando aplicados em altas concentrações. O objetivo deste trabalho foi determinar à tolerância e a absorção de N no coqueiro anão a aplicação de diferentes concentrações de ureia na axila. MATERIAIS E MÉTODO O experimento foi conduzido no período entre junho/outubro de 2013, em um coqueiral irrigado da variedade ‘Verde Anão’ com cinco anos de idade no Estado do Rio de Janeiro, Brasil, sob as coordenadas geográficas 21º 80’ 01,69” S e 41º 50’ 84,04” W e altitude de 30 metros. De acordo com a classificação de Köppen, o clima da região é do tipo AW com inverno seco e verão quente e chuvoso. O solo da região é classificado como Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico (EMBRAPA, 2003) com as seguintes características químicas: pH (água) 4,2; 2 mg/dm3; 0,5 mmolc/dm3 de K; 2,8 mmolc/dm3 de Ca; 1,3 mmolc/dm3 de Mg; 12 mmolc/dm3 de Al; 49,5 mmolc/dm3 de CTC; 17,75 g/dm3 de matéria orgânica; 0% de ISNa% e V de 14%. Foram aplicados 4,7 kg de calcário dolomítico na projeção da copa do coqueiro antes da implantação do experimento. Aos 60 dias após a calagem foram aplicados 90 g de P2O5 (superfosfato simples); 450 g de K2O (cloreto de potássio) e 360 g de N (ureia) no solo, sete dias antes da aplicação dos tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com cinco repetições, cujos tratamentos consistiram de testemunha mais seis diferentes concentrações de ureia (0; 3; 6; 9; 12; 18 e 24%) aplicadas nas axilas das folhas 8 e 9 do coqueiro na dosagem de 100 ml em cada folha. Após a primeira aplicação foi realizada uma reaplicações aos 60 dias. Todas as aplicações foram iniciadas após 14:00 horas (horário de Brasília). As avaliações de possíveis lesões foram realizadas visualmente e registradas através de fotografias aos 4, 7, 15, 30 e 60 dias após cada aplicação, observando-se possíveis queimas nas axilas, folhas e estipe e também abaixo da bainha foliar após a mesma ser destacada do estipe. Foram quantificadas as folhas, inflorescências / espatas, cachos e frutos na ocasião da primeira aplicação e aos 60 após cada reaplicação da ureia e também coletadas amostra do terço médio dos folíolos centrais da folha 14 (folha diagnóstico para o coqueiro) para a análise do teor de nitrogênio pelo método Kjeldahl . Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e ao teste Duncan à 5% de probabilidade. RESULTADO E DISCUSSÃO Os resultados indicaram ausência visual de queima para todas as concentrações testadas em todas as avaliações tanto na primeira quanto na segunda aplicação. Isto pode ter ocorrido em função da idade das plantas (6 anos) e/ou porte mais elevado do coqueiro, permitindo maior tolerância a aplicações de até 24% de ureia na axila foliar. De acordo com SAWYER (2001), os sintomas de queima foliar ocasionados pelo fertilizante ureia são visíveis com 24 a 48 horas após a aplicação para a maior parte dos vegetais. No presente trabalho as avaliações foram realizadas até 60 dias após a aplicação da ureia sem que fossem observados quaisquer sintomas visíveis na axila, nas folhas, no caule e também entre a bainha da folha e o estipe (Figura1- A e B). (A) (B) Figura 1: Corte em bisel da axila da folha 9 aos 60 dias após a aplicação de (A) testemunha e (B) aplicação de 24% de ureia. Foram verificadas diferenças significativas (a 5% de significância pelo teste de Duncan) no número de folhas em função das concentrações da ureia aplicada (Tabela 1). Na avaliação aos 60 dias as plantas dos tratamentos com as concentrações 3%, 6% e 18% apresentaram maior número de folhas comparativamente às demais concentração. Na avaliação aos 120 dias somente a concentração 3% apresentou maior número de folhas. A primeira avaliação foi para caracterização das plantas do experimento antes do início das aplicações de ureia. As plantas apresentaram em média 17,30 folhas. Comparando-se as três épocas de avaliação observou-se redução no número de folhas para a testemunha e a 9% de ureia. Este resultado indica que houve morte precoce das folhas e/ou possível redução no ritmo de emissão foliar neste período nesses tratamentos. Não foram observadas diferenças significativas no teor foliar de N entre as concentrações testadas nas avaliações a 0, 60 e 120 dias. Os teores foliares de N encontrados antes da aplicação dos tratamentos foram 18,79; 20,41; 19,41; 20,57; 19,25 e 19,99 g.Kg-1, respectivamente para as concentrações 0%; 3%; 6%; 9%; 12%; 18% e 24%, ficando evidente que as plantas apresentavam teor de N acima do nível crítico proposto por MAGAT (1991) para o coqueiro anão, que é de 18 g.Kg-1 na folha 14. Foi observado uma redução sistemática no teor de N em todas as doses testadas da avaliação realizada incialmente (zero dia) para a avaliação aos120 dias (4 meses) com valores percentuais de redução de 46,7; 26,8; 29,31; 34,21; 32,53; 29,27; 25,39, respectivamente, para a testemunha e para as concentrações 3%; 6%; 9%; 12%; 18% e 24% de ureia aplicada. Essa redução do teor de N foliar provavelmente ocorreu porque o intervalo de 60 dias entre as duas aplicações pode estar sendo muito longo e/ou a quantidade de nitrogênio aplicado ser muito abaixo da demanda da planta para este nutriente. MAGAT (1991) ressalta que as aplicações de N via foliar devem ser em menores concentrações em relação a aplicação deste nutriente no solo, porém com intervalos menores. Tabela1: Número de folhas, inflorescências/espatas, cachos, frutos e teores de nitrogênio (N) da folha 14 avaliadas antes da aplicação (zero dia), aos 60 e aos 120 dias após a primeira aplicação de ureia na axila das folhas 8 e 9 do coqueiro. Avaliações 0% 3% 6% 9% 12% 18% 24% Número de Folhas Zero 18,20 17,40 16,80 17,80 17,40 17,00 16,50 60 dias 15,60B 17,80A 17,20AB 15,80B 16,60AB 17,20AB 16,00AB 120 dias 15,60B 17,80A 17,20AB 15,80B 16,60AB 17,20AB 16,00AB Teor de N na Folha 14 Zero 18,79 20,41 19,41 20,57 19,25 19,99 19,12 60 dias 18,59 19,07 19,55 19,65 19,58 18,84 18,62 120 dias 10,00 13,75 13,28 12,36 12,68 13,29 14,02 Número de Inflorescência/Espatas Zero 2,40AB 4,00A 2,40AB 4,20A 2,80AB 2,20AB 0,75B 60 dias 5,60A 7,40A 5,80A 7,80A 6,40AB 5,40AB 3,00B 120 dias 5,60A 7,40A 5,80A 7,80A 6,40AB 5,40AB 3,00B Número de Cachos 60 dias 0,00 0,60 0,20 0,80 0,40 0,20 0,00 120 dias 0,00 0,60 0,20 0,80 0,40 0,20 0,00 Número de Frutos 60 dias 0,00B 0,60AB 0,20B 1,80A 1,20AB 0,40AB 0,00B 120 dias 0,00B 0,60AB 0,20B 1,80A 1,20AB 0,40AB 0,00B Os dados com ausência de letras não diferiram pelo teste Duncan a 5% de probabilidade. Observou-se, ainda, que comparativamente a testemunha os demais tratamentos apresentaram uma tendência de maior teor foliar de N, indicando que o N aplicado foi absorvido na axila da folha 8 e 9 e detectado na folha 14. Apesar disso, em todas as concentrações testadas, na avaliação realizada aos 120 dias após a primeira aplicação, o teor foliar de N foi observado abaixo do nível crítico (em média 12,77 g Kg-1) para o coqueiro (segundo MAGAT, 1991), indicando a necessidade intervalos entre as aplicações menores do que 60 dias. Em relação ao número de inflorescência/espatas foi verificado aumento da primeira para as demais avaliações em todas as concentrações aplicadas. As variações no número de inflorescência/espatas, observadas dentro de cada época avaliada ocorreram provavelmente mais em função da situação inicial das plantas (observada na primeira avaliação onde ainda não havia sido aplicada a ureia na axila) do que devido ao efeito da aplicação da ureia sobre a produção das plantas. As inflorescências/espatas observadas na primeira avaliação correspondem aos cachos e frutos observados na segunda e terceira avaliação. As espatas são brácteas que envolvem a inflorescência do coqueiro formada dois anos antes de sua emissão na axila de cada folha OHLER (1984). Segundo MIRANDA JÚNIOR (1948), após sua emissão, a espata demora cerca de dois meses para se desenvolver. Apesar de serem verificadas inflorescências em todas as avaliações e em todas as concentrações testadas as mesmas não resultaram em produção de cachos e frutos para a testemunha e para a concentração 24% (observadas na segunda e terceira avaliação). No caso da testemunha, pode ser pelo efeito da deficiência de N (o teor foliar de N de 10 g.Kg-1, está bem abaixo do nível crítico para o coqueiro), enquanto na concentração 24% pode ser algum efeito não visível de toxidez da ureia na axila prejudicando o desenvolvimento da inflorescência/espata, até a formação de cachos e frutos. A concentração 9% de ureia aplicada proporcionou tendência de incremento no número de cachos e frutos a avaliação aos 60 e 120 dias, apesar de ter apresentado menor número de folhas nestas mesmas épocas de avaliação. CONCLUSÃO O coqueiro não apresentou sintomas visíveis de toxidez até a concentração de até 24% de ureia aplicada via axilar. Maiores quantidade de inflorescências, cachos e frutos foram emitidas por plantas submetidas às concentrações de 9% de ureia e menores valores na testemunha (sem aplicação) e na concentração 24% de ureia. Houve redução nos teores de N durante nos quatro meses do experimento. Reduções mais acentuadas foram observadas na testemunha. REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA CANTARELLA, H.; TRIVELIN, P.C.O.; CONTIM, T.L.M.; DIAS,F.L.F.; ROSSETTO , R.; MARCELINO, R.; COIMBR A, R.B.& QUAGGIO, J.A. Ammonia volatilisation from urease inhibitortreated urea applied to sugarcane trash blankets. Sci. Agric., 65:397-401, 2008. CARVALHO FILHO, A. DE; LUMBRERAS, J. F.; WITTERN, K. P.; LEMOS, A. L.; SANTOS, R. D. DOS; CALDERANO FILHO, B.; CALDERANO, S. B.; OLIVEIRA, R. P.; AGLIO, M. L. D.; SOUZA, J. S. DE; CHAFFIN, C. E. Mapa de Reconhecimento de Baixa Intensidade dos Solos dos Estados do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: EMBRAPA Solos, 2003. 1 Mapa, Color. Escala 1:250.000. Disponível em:HTTP://WWW.CNPS.EMBRAPA.BR/SOLOSBR/SIGWEB.HTML. CHEPOTE, R. E.; BOVI, M. L. A. Resposta do dendenzeiro à adubação mineral. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. n.12. n. 2 p. 257- 262. Campinas,1988. FERREIRA NETO, M.; HOLANDA, J. S.; DIAS, H. R. G.; FOLEGATTI, M. V. 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