PRÓ E ANTI-CAPITALISMO O Prof. João César das Neves (JCN), da Universidade Católica, publicou, no Diário de Notícias de 7 do corrente, um artigo intitulado «Amar o sistema». Na mesma data, o Correio do Vouga noticiava que «trabalhadores cristãos apelam por um «rendimento básico incondicional». Nestas duas intervenções acha-se espelhada uma divergência profunda entre católicos: uns aceitam o capitalismo como bom, apesar das suas injustiças; outros rejeitam-no devido à sua injustiça de «raiz» (cf. a Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, nºs. 53 e 59); uns são pró-capitalistas, e outros anti-capitalistas. Segundo o pensamento social cristão, há que fazer a distinção entre economia de mercado e capitalismo tal como ele existe: a economia de mercado, em si mesma, é algo de positivo (cf. Caritas in Veritate, de Bento XVI, nº. 35); e esse capitalismo é injusto. O artigo de JCN não defende a injustiça; defende, sim, que «devemos amar o sistema não por ser bom» mas pelo «bem que permanece nesse mal». Dado, porém, que a palavra amor parece estranha neste contexto, podemos falar apenas de aceitação do sistema. E podemos reconhecer que tanto os pró como os anti-capitalistas são convidados a aceitá-lo, diligenciando superar as suas injustiças e outras imperfeições: os primeiros aceitam-no e aderem; os segundos aceitam-no, como facto, e rejeitam-no. Tanto uns como os outros procuram a justiça e a perfeição possíveis; procuram mesmo a otimização que estiver ao alcance. Para os primeiros, a otimização do sistema pode assegurar o bem comum e o de cada pessoa, particularmente se evoluir para uma verdadeira economia de mercado regulada; mas, para os segundos, a otimização implica a mudança de sistema. Parece assim relativamente claro que as duas correntes podem cooperar a favor do bem comum, e que a procura de um sistema diferente do capitalismo é tanto mais válida quanto mais consistentes forem as suas propostas. (Continua) Acácio F. Catarino (In Correio do Vouga de 21-10.15)