Neste número: REPORTAGEM - Conselho Nacional do Café - CNC, em apoio ao produtor COMO VAI VOCÊ 03 05 PESQUISANDO Capa: “Meu cafezal em flor. Tanta flor meu cafezal.” NOTA DO EDITOR O 3º número da Revista Coffea é especial, pois será distribuído no 30º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, em São Lourenço-MG, atendendo a um publico maior e mais diversificado. As matérias continuam a enfocar os avanços na tecnologia cafeeira, na forma de trabalhos de pesquisa e revisões de literatura, de recomendação técnica e de análises conjunturais. Reportagens e entrevistas também levantam opiniões e sugestões em benefício da cafeicultura. Queremos manter o conteúdo técnico, para suporte à equipe de AT e produtores lideres, visando o manejo racional da produção cafeeira. Pedimos desculpas pela falta de ilustrações a cores. Elas podem ser visualizadas no site da Fundação Procafé. - Proteção do café em côco, armazenado em tulhas, pela palha do café - Uso de flutriafol (impact 125 SC) no controle da ferrugem - Maturação e produtividade de cultivares de café - Influência do ciclo bienal no custo de produção de café - Escória siderúrgica (cálcio/silício) para reduzir o custo - Avaliação de prejuízos com a presença de grãos moka em cafeeiros - Uso de micronutrientes via água de irrigação - Competição de cafeeiros híbridos com resistência à ferrugem - Produtividade do cafeeiro irrigado sob diferentes critérios RESPONDE 06 06 09 11 13 14 15 16 18 22 RECOMENDANDO - Podo ou não meu cafezal - Replantio e repovoamento em cafezais - Controle biológico das principais pragas do cafeeiro 23 26 30 RESUMINDO - Seis trabalhos de pesquisa cafeeira em diversos países 34 PANORAMA - Notícias da produção cafeeira 36 ANÁLISE - Existe resistência da ferrugem do cafeeiro aos fungicidas - Como é feita a estimativa da safra brasileira de café 38 39 ENTREVISTA - José Edgard: Motivador do cooperativismo 42 PRODUTOS E EQUIPAMENTOS - Novas formulações de fungicidas cúpricos - Sistemas mecanizados para aplicação de formulações/fungicidas 44 44 CARTA AO CAFEICULTOR INVESTIR SÓ NO ESSENCIAL Persistem as dificuldades para o setor da lavoura cafeeira. Uma pequena melhoria nos preços nominais do café vem sendo anulada pelo avanço nos custos de produção. Além disso, essa evolução nos preços tem sido muito volátil, sobe e desce rapidamente. As lavouras sentiram o maltrato e as condições climáticas adversas no período de inverno. Foi um tempo úmido e frio, que facilitou o ataque de doenças. As plantas de café vinham estressadas pela baixa nutrição e, quando atacadas por pragas e doenças, ficaram muito desfolhadas. Agora, em setembro/outubro, um período seco ocasionou mais desgaste aos cafeeiros. As chuvas já começaram. É hora de retomada dos tratos, devendo o produtor avaliar onde e como investir os recursos obtidos com a safra atual. Deve-se dar prioridade aos talhões com maior potencial. A análise de solo é importante para avaliar onde se pode economizar nos adubos, racionalizando o seu uso. A safra de 2005 vai ser pequena e, provavelmente, os preços vão melhorar. Parece estar chegando ao fim aquele ciclo de safras altas, que aumentaram os estoques e causaram retração nos preços. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretário de Produção e Comercialização: Lineu Carlos da Costa Lima. Chefe do Departamento de Café: Vilmondes Olegário da Silva Secretário da SARC: Manoel V. F. da Rocha Delegado da DFA/MG: João Vicente Diniz FUNDAÇÃO PROCAFÉ / CONVÊNIO MAPA/FUNPROCAFÉ/UFLA Presidente da Fundação Procafé: José Edgard Pinto Paiva UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Reitor da UFLA: Antônio Nazareno Guimarães Mendes REVISTA DE TECNOLOGIA CAFEEIRA Ano 1: nº 3 setembro-outubro/2004. Conselho Editorial: José Braz Matiello (Editor Executivo); Rubens José Guimarães (Coordenador UFLA); Saulo Roque de Almeida, Leonardo Bíscaro Japiassú, Guilherme Borges Frota e Antônio Wander Rafael Garcia - MAPA/FUNPROCAFÉ e Carlos Henrique Siqueira de Carvalho - EMBRAPA CAFÉ. Programação Visual e Impressão: Gráfica Editora Bom Pastor. Composição: Rosiana de Oliveira Pederiva. Tiragem: 2000 exemplares. Endereços: Alameda do Café, 1000 - Bairro Jardim Andere 37026-400 - Varginha/MG 35. 3214-1411 [email protected] e Av. Rodrigues Alves, 129 - 6º andar - Centro 20081-250 - Rio de Janeiro/RJ 21. 2233-8593 [email protected] É permitida a reprodução, desde que citada a fonte e autores. www.fundacaoprocafe.com.br REPORTAGEM 03 CONSELHO NACIONAL DO CAFÉCNC, EM APOIO AO PRODUTOR. O Conselho Nacional do Café é o órgão representativo e responsável pela defesa dos interesses da produção cafeeira no Brasil. Fundado em 1981, o CNC vem fazendo um bom trabalho ao longo dos 23 anos de sua existência, atuando junto às autoridades governamentais, ao sistema financeiro e junto à área política do governo, buscando melhores condições para os cafeicultores . Nos últimos anos a ação do CNC vem se modernizando, para aumentar sua eficiência, com a criação de 3 diretorias excutivas e suporte político e técnico para acompanhar os problemas e as medidas necessárias no dia a dia. Participando do CDPC Conselho de Desenvolvimento da Política Cafeeira, órgão máximo de orientação sobre a ação governamental para o café, o CNC, juntamente com representantes de outros setores da cadeia do café, luta para manter a cafeicultura competitiva no país. 04 Um pouco de história Já são quase 23 anos desde a criação do CNC em 1981, através de um movimento liderado pelo seu idealizador e 1º presidente, o ex. governador, ex. ministro Roberto Costa Abreu Sodré. Hoje falecido, Abreu Sodré conduziu o CNC até 1985. No ano de 1986 foi presidente o Dr. José Carlos Jordão. No periodo de 1986 a 1991 o CNC foi dirigido pelo Dr. Jaime Nogueira Miranda. De 1991 a 1993 foi dirigido por Dr. Nely Amarante; de 1993 a 1995 por Dr. Manoel V. Bertone; de 1995 até 2001 por Dr. Gilson Ximenes. Atualmente, desde 2001, o Conselho vem sendo presidido pelo Dr. Oswaldo Henrique Paiva Ribeiro, Engº Agrº, também presidente da Cooperativa de Cafeicultores de Varginha. O secretário geral do CNC, desde o seu inicio até hoje, é o Dr. Ercílio Amaral Neto, com a sua conhecida eficiência e bom relacionamento com todos do setor. Composição e objetivos O Conselho Nacional do Café é composto por representantes de Cooperativas e Associações de produtores, sendo que, atualmente, 62 desses organismos contribuem para a composição do CNC. Ele é uma entidade civil, de direto privado, composto por uma Diretoria Executiva, com 3 Diretores, um Conselho Diretor de 17 membros, e uma vicepresidência de coordenação política, com 6 personalidades. A sede do CNC fica em São Paulo, tendo, também, um escritório de suporte em Brasília. Os objetivos do CNC são a representação e defesa dos interesses do setor da produção cafeeira, os cafeicultores, suas associações e cooperativas, atuando em conjunto com outras entidades representativas dos produtores, os sindicatos, federações e confederações de agricultura. O CNC tem outros objetivos como: desenvolver estudos e analises sobre a REPORTAGEM cafeicultura, visando dar suporte a ações governamentais; manter banco de dados e estatísticas para fornecer aos interessados; manter intercâmbio e troca de informações com outros organismos no país e no exterior; participar em fóruns internacionais em defesa da cafeicultura; apoiar ações de marketing e de pesquisa cafeeira etc. Problemas atuais e medidas em curso Os problemas atuais da lavoura cafeeira dizem respeito à sua falta de rentabilidade, num período que vem de excesso de oferta mundial de café. As ações do CNC apontam para os bons resultados obtidos nos últimos anos, conseguindo minimizar problemas dos produtores e indicam novos caminhos a serem percorridos. Foram liberados, junto ao Governo Federal (MAPA e MF), vultosos recursos para várias linhas de financiamento, atendendo ao custeio e à pré-comercialização do café. Ainda nesse setor de apoio financeiro foram obtidas a recomposição e prorrogação de dívidas de financiamentos realizados no passado. No campo tecnológico, o CNC sempre defendeu a alocação de recursos para a pesquisa e para a melhoria nos processos de previsão de safra. Para o futuro é preciso haver maior autonomia para o CDPC, onde o CNC toma parte, com a possibilidade, ainda, de criar uma agência reguladora ou organismo semelhante, capaz de gerar um núcleo de inteligência, para planejar e cuidar do setor cafeeiro, para executar uma política de marketing, de assessoramento e de estabelecimento de mecanismos de defesa dos preços de café, em colaboração com os demais países produtores. Como cultura perene, o café precisa de medidas de maior estabilidade na oferta e preços menos voláteis. COMO VAI VOCÊ 05 ALDIR: PROFESSOR DE QUALIDADE DO PERES ROMERO: UM IDEALISTA DA CAFÉ LAVOURA CAFEEIRA Aldir Alves Teixeira tem muita sorte pois fica bebendo café e ainda ganha para isso. Aldir, Eng.º agrº formado pela ESALQ em 1959, com mestrado, trabalhou por longos anos na Secretaria de Agricultura de São Paulo, (19601991) que o colocou em convênio com o ex. IBC, atuando como responsável por pesquisas e ensaios no setor de qualidade do café. Ali coordenava, a partir de 1966, os cursos de classificadoresprovadores de café do IBC. Participou da equipe de pesquisas do IB-SP e do IBC-GERCA, tendo mais de 60 trabalhos de pesquisa publicados. Fez parte, por vários anos, da comissão organizadora dos congressos de pesquisas cafeeiras e participa, também da Asic - Associação Científica Internacional do Café. Destacam-se no colega Aldir a sua seriedade no trabalho e a sua ótima didática ao proferir palestras e aulas, prendendo a atenção dos participantes com a sua clareza de expressão. Aldir se aposentou no serviço publico estadual de São Paulo, como pesquisador, em 1991, mas não parou. Montou a empresa Assicafé, responsável por analises e assessoria em qualidade do café. Coordena, também, o concurso de cafés para expresso da Yllicafé. Recentemente Aldir recebeu uma homenagem da Câmara Setorial do Café de São Paulo, que colocou seu nome no concurso de cafés especiais naquele estado. José Peres Romero é Engº Agrº, formado pela ESALQ, em 1952 e, também, grande cafeicultor nas montanhas de Ouro-Fino-MG, onde é entusiasta dos cafés de qualidade, despolpados, e das lavouras adensadas e defensor das podas em cafézais. A bela trajetória de Peres Romero, em sua careira agronômica, combina idealismo, muito trabalho e uma paixão especial pelos livros e pelo café. Edita livros e publicações pela renomada Editora Ceres, de sua propriedade, que já foi responsável pela edição de centenas de títulos de livros sobre agricultura e pecuária. No café Peres Romero orienta todos que o procuram, sempre com novas idéias, junto com o seu parceiro predileto, o professor Malavolta. Ele lançou as idéias da secagem em estufa, do caféduto e adotou, antes que todos, os processos do cerejadescasdo, a poda por planta e o manejo do mato como aliado na lavoura. Participou de viagens a vários países cafeeiros no exterior e simpatiza muito com a cafeicultura de Costa Rica. Sempre está presente, também, em congressos, seminários e encontros. É gregário por natureza e todos gostam dele pela sua capacidade de falar de forma motivada, usando muito o coração. Agora Peres Romero está transmitindo toda a sua grande experiência e conhecimentos a seus filhos, também Engºs Agrônomos. Continua, sem parar, em Ouro-Fino e em todos lugares onde é convidado. Nosso agradecimento pelo seu grande empenho com o café. Você merece a nossa homenagem. PESQUISANDO 06 PROTEÇÃO DO CAFÉ EM CÔCO, ARMAZENADO EM TULHAS, PELA PALHA DO CAFÉ. J.B.Matiello - Eng. Agr. MAPA/PROCAFÉ; A.T.Lamis e U.V.Barros Eng. Agr. Consultores. Foi demostrada como de grande utilidade a proteção do piso, em tulhas rústicas, através de lona plástica com isolamento de palha de café, para armazenar o café em côco em pequenas propriedades. Objetivou-se evitar a umidade junto ao fundo da tulha. Na pequena propriedade cafeeira na Zona da Mata de Minas é comum o uso de tulhas de alvenaria para armazenagem do café em côco. Nestas condições, sem a devida impermeabilização de piso ou sem um assoalhado de madeira isolado do piso, é freqüente a ocorrência de umidade e mofo na camada de café que fica junto ao piso. Na presente nota técnica relata-se a experiência conduzida em uma propriedade cafeeira para solucionar esse problema de umidade e prejuízo no café em côco armazenado. O trabalho teve início pela colocação de um lençol plástico sobre o piso que, nas condições testadas, mais rústicas, era do próprio solo batido. No ano seguinte, retirando o café, apareceu uma camada de 10-15cm de café mofado no fundo. Em seguida, a evolução foi para encontrar um isolante da umidade do solo que auxiliasse a ação da lona. Procedeu-se, então, à colocação de uma camada de palha de café sob a lona, o que melhorou, mas não deu certo completamente, o que aconteceu quando a camada de palha (de cerca de 15cm) foi colocada sobre a lona. Aí, então, despejado o café em côco, por cima, não mais se verificou café mofado. Por ocasião do beneficiamento do café, a palha vai junto com o café em côco, sendo separada na bica de jogo. Para o ano seguinte, deixa-se uma sobra de palha nova para refazer a camada isolante sobre a lona plástica preta. Com essa adaptação de tecnologia a baixo custo o pequeno produtor pode economizar e, ao mesmo tempo, manter seu café sem fermentação, umidade ou mofo. USO DE FLUTRIAFOL (IMPACT 125 SC) FERRUGEM DO CAFEEIRO. NO CONTROLE J.B.Matiello e S.R.Almeida - Eng. Agr. MAPA/PROCAFE; R.A.Ferreira - Tec. Agrícola MAPA/PROCAFÉ. Foram testados vários sistemas de aplicação do fungicida Impact125SC (flutriafol) no controle da ferrugem do cafeeiro, em 2 ensaios na Fazenda Experimental em Varginha. No 1º ensaio foram avaliados 8 tratamentos compreendendo 2 épocas de aplicação do Impact via solo e outros modos de uso do Impact, via tronco, via saia e via pulverização foliar. No 2º foram testados 5 tratamentos, com aplicações em 3 partes localizadas na copa do cafeeiro em relação à aplicação na planta toda. Foram avaliadas a infeção em 2 ciclos e a 1ª produção útil no ensaio 1 e a infeção e a desfolha no ensaio 2. Verificou-se que o Impact apresentou boa eficiência no controle da ferrugem, com ganhos de produtividade, sendo possível seu uso em vários sistemas de aplicação, devido à facilidade de absorção e à boa translocação do produto nos cafeeiros. DA PESQUISANDO A ação de fungicidas sistêmicos Triazóis, no controle da ferrugem do cafeeiro é bastante conhecida, estando 6 ativos em uso extensivo na lavoura cafeeira. A partir de 1985, vem sendo pesquisado o uso de um novo ativo do grupo dos Triazóis, o Flutriafol, cujos resultados levaram, recentemente, à sua indicação e uso no controle da doença. Nos anos agrícolas 2001/02 2002/03, novos ensaios foram conduzidos, com o objetivo de acompanhar a eficiência do Impact líquido, na formulação 125 SC, ampliando os conhecimentos sobre aspectos técnico-econômicos do controle, como a época, dose e modos de uso. No presente trabalho foram reunidos os resultados obtidos em 2 ensaios realizados na Fazenda Experimental de Varginha, a 950 m. de altitude, no Sul de Minas. No 1º ensaio, 2 ciclos de controle foram avaliados, em lavoura de Mundo Novo, 10 anos, espaçamento 4x1m, testando-se 8 tratamentos, em blocos ao acaso com 4 repetições. Os tratamentos ensaiados estão detalhados no Quadro 1. O 2º ensaio, também instalado na Fazenda Experimental do MAPA/FUNPROCAFÉ, em Varginha-MG, foi conduzido em cafezal Mundo Novo, no espaçamento 4x2m ( 2 pl./cv ) com 5 tratamentos e 5 repetições, parcelas de 6 plantas, no 07 delineamento de blocos ao acaso. Foram testados 4 modos de aplicação do Impact 125 SC, conforme discriminado no Quadro 2. As aplicações foram feitas com pulverizador costal motorizado, usando o equivalente a 400 l de calda por ha, no tratamento em que toda a planta foi pulverizada, e reduziu-se o uso de calda para 30%, e para 50%, nas modalidades “na saia”, “no topo” e de um lado das plantas, mantendo, em todos os casos, a dose de 1,5 l/ha, modificando a concentração da calda. Foram feitas 2 aplicações, em 21/01/03 e 24/03/03. A amostragem de folhas foi feita no pico da doença em ago/03, coletando-se, ao acaso, 10 fls/pl. A desfolha foi avaliada em set/03 em 4 ramos, ao acaso, por planta. Foram coletados frutos da safra de 2003, no ensaio 1, para análise de resíduos no tratamento via solo, com 4 l/ha, na testemunha e em parcela adicional que recebem 7 l/ha. A análise foi realizada no laboratório da ESALQ. Quadro 1 - Infeção pela ferrugem e produção em ensaio de época e modo de aplicação do Impact em cafeeiros, Fazenda Experimental do MAPA/FUNPROCAFÉ. Varginha-MG, 2003. TRATAMENTOS 1. Impact 125 SC - 4,5l/ha, solo, dezembro 2. Impact 125 SC - 4,5l/ha, solo, janeiro 3. Baysiston - 50kg/ha, solo, dezembro 4. Baysiston - 50kg/ha,solo,janeiro 5. Impact 125 SC - 1,5 l/ha, pulverizado 2 vezes 6. Impact 125 SC - 4,5l/ha, pulverizado na saia, dezembro 7. Impact 125 SC - 4,5 l/ha, pulverizado no tronco, dezembro 8. Testemunha Infeção % de fls. infectada Junho / 02 Agosto / 03 20,5 a 11,0 a 37,0 ab 12,0 a 37,0 ab 22,0 ab 42,5 ab 21,0 ab 20,5 a 15,0 a 29,0 a 21,5 ab 24,0 a 25,0 ab 84,0 c 48,5 c Prod. 2003 scs / ha 16,0 a 11,6 ab 16,9 a 10,1 ab 14,5 a 11,0 ab 9,8 ab 4,4 c Quadro 2 - Infecção e desfolha em cafeeiros sob 4 sistemas de pulverização com Impact. Varginha-MG, 2003. TRATAMENTOS 1. Impact 125 SC - 1,5 l/ha, saia, 2 apl. 2. Impact 125 SC - 1,5 l/ha, topo, 2 apl. 3. Impact 125 SC - 1,5 l/ha, lateral, 2 apl. 4. Impact 125 SC - 1,5 l/ha, planta toda, 2 apl. 5. Testemunha % de fls. afetadas Ago/03 26,0 c 18,0 ab 30,0 c 6,0 a 81,0 d % de desfolha Set/03 47,6 ab 42,2 a 54,4 ab 34,7 a 82,5 c 08 Resultado e Conclusões: Nos Quadros 1 e 2 estão colocados os dados da infeção e produção (ensaio 1) dos tratamentos com Impact líquido no controle da ferrugem. No ensaio 1 (Quadro 1): Houve superioridade, tanto na infeção como na produção, para os tratamentos com Impact via solo ou pulverizado (trat. 1 e 5 ), ficando, ligeiramente inferiores, os tratamentos via solo mais tarde, na saia e no tronco (trat. 2, 4, 6 e 7), todos superiores à testemunha que apresentaram infeção alta no 1º ciclo (84% de plantas infectadas) e média no 2ºciclo (48,5 %) devido à sua baixa carga, que foi somente de 4,4 scs/ha, contra 1016 sacas nos tratamentos com Impact. Com relação à época, na aplicação via solo, o efeito sobre o controle da ferrugem, tanto no Impact, quanto no padrão Baysiston, foi semelhante no 2º ciclo, pelo controle residual e pela baixa produção. Os resultados da análise de resíduo, tanto nos frutos da testemunha como nos 2 tratamentos com Flutriafol (4 e 7 l/ha) deram níveis menores que 0,05 ppm. No ensaio 2 (Quadro 2): A ferrugem evoluiu até 81% de folhas infectadas e a desfolha foi elevada a 82,5% nas plantas da testemunha e nos 4 tratados com diferentes modos de aplicação foliar do Impact a infeção e a desfolha foram significativamente inferiores (6 a 3 % de folhas infectadas e 34-54 % de PESQUISANDO desfolha). A pulverização da planta toda foi o modo mais eficiente, seguido da aplicação no topo. Nesse ensaio o comportamento da aplicação na saia foi inferior àquela do ensaio 1 devido à menor dose aplicada e o início da aplicação mais tarde, já com maior infeção da doença, visto que tanto as aplicações via solo, ou localizadas via foliar precisam ser mais preventivas. Da análise conjunta dos dois ensaios pode-se concluir que: a) O Impact líquido foi eficiente em variadas formas de aplicação, devido à sua capacidade de translocação nos cafeeiros. b) Os sistemas via solo, com uma aplicação até dezembro, e 2 foliares, em toda a planta apresentaram o melhor comportamento, tanto sobre a ferrugem como sobre a desfolha e a produção. c) O efeito de época de aplicação via solo foi significativo apenas no 1º ciclo de controle. d) A aplicação localizada mostra eficiência regular, com resultados ligeiramente inferiores aos demais sistemas ( solo e foliar total) parecendo que sua ação está bastante relacionada à época e dose, exigindo mais pesquisas. Pode-se verificar, no entanto, que a facilidade de absorção e translocação do ativo, nos vários sentidos da planta, poderão facilitar bastante no que se refere à tecnologia de aplicação. PESQUISANDO 09 MATURAÇÃO E PRODUTIVIDADE DE CULTIVARES DE CAFÉ EM REGIÃO DE ALTITUDE ELEVADA, DO SUL DE MINAS. J.B.Matiello, S. R.Almeida e A.W.R.Garcia - Eng. Agr. MAPA/PROCAFE; R.A.Ferreira - Téc. Agr. MAPA/PROCAFE e C.H.S.Carvalho - Eng. Agr. EMBRAPA Café. Foram avaliadas as caracteristicas produtivas e da maturação em cultivares de café na região de Carmo de Minas, em condição de altitude elevada. 13 materiais genéticos foram colocados em ensaio tendo como padrões o catuai vermelho IAC 144 e amarelo IAC 74. Foram avaliados, até o momento, 2 produções, em 2002 e 2003, verificando-se que sobressairam, nas produções iniciais, o Sabiá 398 seguido do Canário, do Icatu 3282 e dos Catucaís. Quanto à maturação, se mostraram mais precoces o Bourbon, o Acaiá, o Canário, o Híbrido Bomjardim e o Icatu3282. O comportamento dos cultivares de café depende da condição ambiente, onde a temperatura, a luminosidade e as chuvas, influem tanto no desenvolvimento e produtividade das plantas, quanto na maturação dos frutos, esta uma condição essencial para a obtenção de boa qualidade nos cafés colhidos. Na região do Sul de Minas Gerais, existem regiões montanhosas, de altitude bastante elevada (1200 m), exigindo o estudo de cultivares de café que apresentem em características mais adequadas a esse ambiente. Com o propósito de comparar materiais genéticos de maturação mais precoce, já conhecidos com outros em desenvolvimento no MAPA/PROCAFÉ, estão sendo conduzidos dois ensaios em Carmo de Minas, em área com altitude elevada e com baixa insolação. Estão sendo estudados 13 materiais, em blocos ao acaso, 3 repetições e parcelas de 10 plantas. PESQUISANDO 10 Quadro 1 - Produtividade média das 2 primeiras safras, em sacas beneficiadas/ha, de cultivares e seleções de café em região de altitude elevada. Carmo de Minas - MG, 2003 VARIEDADES / CULTIVAR 1. Bourbom Vermelho 2. Bourbom Amarelo 3. Canário 4. MN x Catuaí (Bom Jardim) 5. Icatu Amarelo 3282 6. Acaiá 474/19 7. Sabiá 708 8. Sabiá 398 9. Catucaí Amarelo Multilinea 10. Catucaí Vermelho Multilinea 11. Catuaí Vermelho 144 12. Catuaí Amarelo 74 13. Catucai Amarelo 20/15 – 479 Produção média 2 primeiras safras - Scs/ha. Média dos 2 ensaios 20,5 27,4 37,3 32,0 37,2 31,0 32,6 40,0 35,0 37,2 28,0 30,3 35,3 % de frutos verdes na colheita 12,0 6,5 11,0 13,5 19,0 8,0 30,0 45,0 39,0 31,0 28,5 26,5 25,0 O plantio foi efetuado em Mar/2000, e a condução das plantas, com adubação e tratos, foram os normais. Resultados e Conclusões Preliminares: Até o momento foram colhidas as 2 primeiras safras, cujos dados de produtividade e percentual de frutos verdes na colheita estão colocados no Quadro 1. Verifica-se que em termos das safras iniciais, mostrando a precocidade produtiva, sobressaíram o Sabiá 398, seguido do Canário, Icatu 3282 e Catucaís (2 amarelos e 1 vermelho), todos com produtividade superior a 35 scs/ha. Em segundo plano situaram-se o Sabiá 708, o híbrido Bom Jardim, o Acaiá e os Catuaís, com média de cerca de 30 scs/ha. As piores produtividades estiveram relacionadas com os Bourbons, sendo o amarelo mais produtivo que o PESQUISANDO vermelho, variando de 20-27 scs/ha. Na maturação foram mais precoces o Bourbom amarelo, o Acaiá, o Canário, o Bombom vermelho, o híbrido de Acaiá x Catuaí e o Icatu 3282. Com maturação média se comportaram os Catuaís, os Catucaís 20/15 479 e vermelho e o Sabiá 708 e tardios o Sabiá 398 e o Catucai Amarelo Multilinea. As conclusões preliminares, já possíveis, foram as seguintes: Existem novas seleções de cafeeiros com maior precocidade produtiva que os padrões Catuaí, 11 para as condições de regiões frias, podendo apresentar diferentes níveis de maturação, destacando-se o Canário (porte alto e frutos grandes) e o Icatu 3282 (alto e frutos pequenos). De maturação média destacaram-se os Catucaís (porte baixo) e de maturação tardia o Sabiá 398. Apresentando produção mediana e boa maturação ficaram o Acaiá e o híbrido de Acaiá com Catuaí (porte baixo). A opção pelos Bourbons representa menor produtividade. INFLUÊNCIA DO CICLO BIENAL NO CUSTO DE PRODUÇÃO DE CAFÉ: COMPARATIVO EM LAVOURAS DE ARÁBICA E ROBUSTA. J.B.Matiello - Eng. Agr. MAPA/PROCAFÉ, G.Ribeiro - Eng. Agr. Residente MAPA/DFA/RJ, J.H.Siqueira - Econ. e P.M.O.Sobrinho - Cont. F.R.J.P. e E.E. Miranda - Cont. Fazendas Heringer. Foram analisados os custos de produção de café, em 4 safras, em 2 fazendas no Leste de Minas, em Mutum e Manhuaçú, a 1ª de café conillon e a 2ª de café arabica-catuaí. Avaliou-se os custos por saca com efeito do ciclo bienal das produções obtidas. Os custos obtidos para os cafezais arabica variaram de R$ 80,00 a R$ 175,00 por saca, com média de R$ 135, 00, para 46 sacas/ha. Para os cafezais conillon a variação foi de R$ 57,00 a R$ 102,00, com média de R$ 83,20 para produtividade de 34 sacas/ha. O ciclo bienal influiu no custo, com o maior efeito sobre as lavouras arábica. O custo de produção do conillon eqüivaleu a 63% do custo da saca do café arabica. O custo de produção de café depende de diversos fatores, destacando-se o sistema de plantio e de manejo, a região produtora e o nível de racionalização nos tratos e na administração do empreendimento. Um fator muito importante é a produtividade da lavoura, que influi atenuando os custos fixos, já que são distribuídos por maior número de sacas produzidas na mesma área. No sistema de plantio a pleno sol, como praticado na cafeicultura brasileira, a produção e a produtividade variam ano a ano, em ciclos bienais, afetando o custo anual e a sua média. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a variação de custo do café conforme o ciclo bienal de produção, na situação de lavouras de café arábica e, ao mesmo tempo, analisar a mesma condição em cafezal robusta-conillon. Foram tomadas para as quatro últimas safras, os custos contabilizados em 2 Fazendas no Leste de Minas, uma na Zona da Mata, de café arábica, a cerca de 700m de altitude e outra no Vale do Rio Doce, a cerca de 200m de altitude com café conillon. Ambas possuem áreas de café com cerca de 130ha, com bom nível tecnológico, sendo na de conillon adotada a irrigação de salvação. Também foram registrados os níveis de produção e produtividade em cada ano. A Fazenda de conillon possui cerca de 100ha de lavouras abertas 4x1m. e 30ha 2,0x1,0m. Na de arábica a distribuição é de cerca de 1/3 aberta (3,5x1,5m), 1/3 com 3,0x1,0m e 1/3 com 1,75 a 2,0x0,5 a 1,0m. Os dados de custos foram adotados conforme as despesas efetivas contabilizadas, para todos os i t e n s , c o m o p e s s o a l , i n s u m o s , e n e rg i a , administração, manutenção e outras. Em ambas fazendas além do custeio, houve também pequeno investimento anual, seja em equipamentos ou renovação de lavouras, sendo esses gastos PESQUISANDO 12 considerados no custo de produção, já que representam uma reposição (depreciação) tanto da lavoura como do maquinário. No Quadro 1 fez-se um resumo das safras, da produtividade e do custo de produção por saca registrado em cada ano e na média, nas 2 propriedades em análise. Verifica-se que os custos de produção variam muito de ano para ano, conforme o ciclo produtivo (alto ou baixo) nas lavouras de café arábica. Já nas lavouras de conillon, a variação dos custos é menor em função, também, do ciclo da produção variar menos a cada ano. Entre anos de alta e baixa produção em lavouras arábica o custo cresceu em média (2 ciclos) 82%. No conillon a variação foi de 54%. Em níveis absolutos, considerando fazendas com nível tecnológico semelhante, pode-se observar que o custo médio para o café conillon ficou em R$ 83,00 por saca, contra R$ 135,70 no arábica com um diferencial de 63%. Abstraindo outras razões de ordem técnica no manejo das lavouras, pode-se concluir que parte dessa diferença entre as “variedades” pode ser atribuída à menor variação no ciclo produtivo no conillon, cuja produção média entre as 2 safras altas e as 2 baixas variou somente 16%, enquanto na área de café arábica variou 52%. Os dados da planilha de custo mostraram, ainda, a participação dos vários itens no total do custo por saca. Para a lavoura arábica verificou-se que a mão-de-obra contribuiu com 54-60%, os insumos (adubos + defensivos) de 15-18%, e a manutenção de tratores e veículos 5-7%, e outras despesas incluindo comercialização com o restante. Para a lavoura Locais e anos Manhuaçu (arábica) 1999 2000 2001 2002 Média Mutum (Conillon) 2000 2001 2002 2003 Média conillon a mão de obra nos tratos representou 1719%, a da colheita 22-30% e da administração 4,56,5%, no total significou 43,5-55,5%; os insumos representaram 24-34 % e a energia elétrica em torno de 7%, ficando o restante para despesas de veículos , comunicação, transporte e materiais diversos. Os resultados de custo analisados permitiram concluir que: a) O ciclo produtivo (alta ou baixa safra) influi no custo de produção de café, com maior efeito no café arábica, onde este diferencial é mais acentuado. b) O custo de produção no café conillon para semelhante manejo tecnológico, representa 63% a menos que aquele no café arábica. c) Os ítens com maior participação no custo de produção: são a mão de obra e os insumos, sendo que no conillon a mão-de-obra, especialmente da colheita, teve custo menor. Quadro 1 - Produção, produtividade e custo unitário de produção de café, em lavouras arábica e Conillon, no Leste de Minas. Produção (scs/benef) Produtividade (scs/ha) Custo/saca (R$) 4800 8100 3200 8500 - 37,0 62,0 25,0 61,0 46,0 175,00 113,00 175,00 80,00 135,70 3300 2800 5350 4500 - 33,0 28,0 41,0 35,0 34,0 74,00 102,00 57,00 100,00 83,20 PESQUISANDO 13 ESCÓRIA SIDERÚRGICA (CÁLCIO/SILÍCIO) PARA REDUZIR O CUSTO DA PAVIMENTAÇÃO DE TERREIRO PARA SECAGEM DE CAFÉ. F.N.Ribeiro - Eng. Civil; J.B.Matiello - Eng. Agr. MAPA/PROCAFÉ e E.C.Aguiar Filho Agrop. São Tomé. Foi testada uma escória siderúrgica (cálcio-silicio) em 2 fazendas, em Pirapora e Serra do Salitre MG, na construção de piso de terreiro para secagem de café. Foi utilizada uma mistura de 25% da escória, 35% de brita zero, 35% de areia grossa e 5 % de cimento. O material foi distribuído em fôrmas, sobre o solo compactado, em camada de 2 cm de espessura. O custo obtido, em maio de 2003, foi de R$ 3,50/m2 de piso, contra R$ 15,00 do piso concretado normal. Os terreiros para secagem de café ao sol devem ter seu piso pavimentado, para evitar o contato do café com a terra. Vários tipos de piso podem ser usados, sendo mais comuns, atualmente, os revestimentos com tijolos, concreto e asfalto. Dentre as características do piso do terreiro, são mais importantes, sob o ponto de vista econômico, sua resistência, durabilidade e custo. Com o objetivo de reduzir o custo da pavimentação do terreiro foi utilizada escória de siderurgia, do tipo cálcio/silício, (de alto forno), visando reduzir o uso de outros materiais, principalmente do cimento. Duas áreas de terreiro foram pavimentadas com esse material, usando tecnologia própria, conforme descrito no presente trabalho. Os terreiros foram construídos nas Fazendas São Tomé, em Pirapora-MG (área de 5.000m²) e na Fazenda Itapuã, em Serra do SalitreMG, (área de 10.000m²). O material usado (escória bruta) foi obtido junto à RIMA (Várzea da Palma-MG), sendo constituído de: 30% CaO, 2% MgO e 60% Si 02. Após a adequada terraplanagem e compactação do terreno, foi usada a seguinte composição do material de cobertura: 25% de escória, 35% de brita zero, 35% de areia grossa e 5% de cimento. A mistura foi preparada em betoneira e distribuída, com pouca umidade, em camada de 2 cm, com auxílio de formas metálicas desmontáveis, sendo preenchidos retângulos, no chão, de 1m. de largura, compactando, em seguida, com soquete. Com o sistema e o material utilizado no terreiro foi obtido um custo médio de R$ 3,50 o metro² (junjul/2003), incluindo a terraplanagem prévia, sendo que nessa época um terreiro normal, concretado, saía por R$ 15,00 o metro². Esse piso suporta os tratores e carretas normais e a mecanização no terreiro. Pode-se observar, portanto, que é possível construir um piso de terreiro bastante econômico, com o uso de material disponível (escória) em vários locais, relativamente próximos às diversas regiões cafeeiras em Minas Gerais. PESQUISANDO 14 AVALIAÇÃO DE PREJUÍZOS COM A PRESENÇA DE GRÃOS MOKA EM CAFEEIROS. J.B. Matiello - Eng. Agr. MAPA/PROCAFÉ; C.H.S. Carvalho - Eng. Agr. EMBRAPA Café; G.B. Frota - Eng. Agr. Bolsista PNP&D Café; R.N. Paiva e L. B. Japiassú - Eng. Agr. FUNPROCAFÉ. Foram estudadas a presença e a perda de peso nos grãos devidas à falta de fecundação de uma das lojas de frutos de café, dando origem aos grãos moka. Duas lavouras foram avaliadas, coletando-se frutos em 3 posições do cafeeiro e em 2 situações nos ramos, nas variedades catuaí e M. novo, em Varginha - MG, na safra 2003. Verificou-se maior presença de grãos moka na parte alta do cafeeiro e na parte externa dos ramos produtivos. A perda de peso em cada grão moka foi de 9% em relação aos grãos chatos. A presença de frutos com uma só semente em cafeeiros e dos grãos moka no café beneficiado, afetando a qualidade dos cafés (peneiras), está ligado a fatores genéticos e do ambiente. A quantidade de grãos moka, na prática, em variedades comerciais, varia de ano para ano, conforme a condição climática, principalmente pela chuva e temperatura, afetando a fecundação dos frutos. No presente trabalho procurou-se estudar a presença de grãos moka, em diferentes posições dos cafeeiros e determinar a perda de peso em função dessa presença. Na safra de 2003, foram avaliadas 2 lavouras na Fazenda Experimental de Varginha, sendo 1 e o peso de 100 grãos moka, nas 2 variedades. cafezal Catuaí/ 144, com 12 anos de idade, espaçamento 3,8 x 1m e outra de Mundo NovoQuadro 1 - Percentagem de grãos Moka em 3 Acaiá, com 10 anos, espaçamento 4 x 1m. Foram posições do cafeeiro e em 2 regiões dos ramos. colhidas 30 plantas de cada variedade, separando a Varginha - MG, 2003. planta em 3 posições, terço baixo (saia), médio e alto, Parte das Região dos % de grãos e em 2 regiões dos ramos, na parte externa e interna. Plantas ramos moka Os frutos colhidos, em cada condição, foram Dentro 10,2 secos separadamentes, até umidade uniforme Topo Fora 13,5 (11,5%), beneficiados e os grãos foram avaliados, Média 11,85 determinando-se a percentagem de grãos moka de Dentro 8,4 grãos chatos (normais). Em jogos de peneiras, foram Médio Fora 11,4 separadas as categorias moka grande (peneira 11 acima) e moka miúdo (9 acima) e chato grande (17 Média 9,9 acima) e chato miúdo (13 a 16). Dentro 7,9 Saia Resultados e Conclusões: Nos quadros 1 e 2 estão colocados os dados de percentagem de grãos moka nas posições, nas plantas Fora Média Média Dentro Média Fora 8,4 8,15 8,83 11,11 PESQUISANDO 15 Quadro 2 - Peso de 100 grãos de formato moka e chato em dois tipos de peneiras, 2 variedades. - Varginha - MG, 2003. Variedades Mundo Novo Catuaí Média Moka miúdo 10,2 8,6 9,9 Peso de 100 grãos (g) Moka graúdo Chato miúdo 13,5 11,3 11,5 10,9 12,5 11,1 Verificou-se que a presença de grãos moka foi maior nas partes alta e média do cafeeiro, e na posição externa do ramo, sendo menor na saia e na parte interna dos ramos laterais. A percentagem média de mokas ficou em torno de 10%, na média das 2 variedades, número um pouco acima do normal, afetado pelo período mais seco no último ano. Com relação ao peso dos grãos, a diferença entre mokas e chatos, nas duas categorias de peneiras,ficou em torno de 9%, com maior peso dos grãos chatos. Os prejuízos com presença de grãos mokas, nesse caso resultariam em 0,9%. A essa quantia deve Chato graúdo 14,0 13,3 13,6 ser adicionado 10% de grãos faltantes, isto na situação ideal, onde ocorressem teoricamente 100% dos grãos chatos. Conclui-se que: a) A presença de grãos mokas é maior nas partes mais externas dos ramos e nas partes mais altas das plantas, onde a condição de temperatura e suprimento de água é mais desfavorável. b) A perda de peso em cada grão moka é de cerca de 9% em relação a cada grão chato. c) O prejuízo deve considerar, ainda, os grãos inexistentes, por ter sido preenchida uma só loja. USO DE MICRONUTRIENTES VIA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO EM CAFEEIRO IRRIGADO POR GOTEJO CULTIVADO EM CONDIÇÕES DE CERRADO. André Luís T. Fernandes - Eng. Agrônomo, Prof. Universidade de Uberaba; Roberto Santinato - Eng. Agrônomo MAPA/Procafé; Luís César Dias Drumond, Prof. Universidade de Uberaba, Clênio Batista de Oliveira - Técnico Agrícola Universidade de Uberaba. Foi conduzido um experimento, em Uberaba-MG, objetivando suprir os 5 micronutrientes importantes para o cafeeiro através da água de irrigação por gotejo, sendo utilizadas 2 doses para cada fonte de nutriente, zinco, boro, cobre, ferro e manganês. Como padrão foi usada a aplicação foliar com sais, mais a testemunha. Foram obtidos dados de 3 safras, cuja média mostrou ganhos de produtividade de 7 a 73 % pelo uso de micronutrientes, todos com resposta positiva sobre a testemunha, à exceção do boro, reduziu ligeiramente a produção. Foi viável o uso dos micronutrientes via gotejo. A literatura é abundante em trabalhos relacionados a doses de micronutrientes na condução da lavoura cafeeira, porém são escassos os trabalhos que tratam da aplicação de micronutrientes através da água de irrigação, em diferentes sistemas. No presente trabalho, objetivou-se estudar doses de diferentes micronutrientes aplicados via água de irrigação, em comparação com a pulverização convencional em cafeeiros irrigados por gotejamento autocompensante na região do Triângulo Mineiro. O experimento foi instalado na Fazenda Escola da Universidade de Uberaba (Uberaba MG), em Latossolo Vermelho amarelo textura arenosa, a 850 metros de altitude, em lavoura de café Catuaí 144, plantado em dezembro de 1998 no espaçamento de 4,0 x 0,5 m. O sistema de irrigação utilizado no experimento é o de gotejamento marca Netafim, com emissores RAM, vazão de 2,3 litros/hora, espaçados PESQUISANDO 16 de 4,0 m entre linhas e 0,75m entre plantas. Na Tabela 1 estão dispostos os diferentes tratamentos, bem como as produtividades obtidas após as duas primeiras safras. Convém salientar que na pulverização com micros (tratamento 5), foi utilizado o padrão de sais para a região do Triângulo Mineiro, e nos demais tratamentos, exceto na testemunha, foram aplicados exclusivamente os micronutrientes especificados no Quadro 1. Comparando-se com a testemunha, onde não foram aplicados micronutrientes, a maioria dos tratamentos promoveu aumentos significativos de produtividade, de 7 a 73%. Apenas as doses de 1,25 e 2,5 kg/ha de Boro promoveram reduções na produtividade, em relação à testemunha. Comparando-se com a pulverização com sais, que promoveu aumentos de 37% na produtividade média (3 safras) em relação à testemunha, os tratamentos referentes à aplicação de 10 kg/ha de manganês, 5 kg/ha de zinco, 3,25 e 7,5 kg/ha de cobre e 10 kg/ha de ferro também foram responsáveis por aumentos significativos de produção (42 a 73%). Após três safras, pode-se concluir que: É viável a aplicação de micronutrientes via água de irrigação por gotejamento; As doses mais recomendadas de Zn, Cu, Mn, Fe e B são respectivamente, 10,0; 7,5; 10,0; 10,0; 1,25 kg/ha. Tabela 1 - Doses micronutrientes aplicados via água de irrigação (gotejamento), em comparação com a pulverização com sais e testemunha - safras 2001, 2002 e 2003. Tratamentos Dose(kg/ha) 1 - Zinco 10,0 2 - Cobre 7,5 3 - Manganês 10,0 4 - Testemunha (sem micronutrientes) 0,0 5 - Micro em pulverização Sais 6 - Ferro 20,0 2,5 7 - Boro 5,0 8 - Zinco 3,25 9 - Cobre 5,0 10 - Manganês 10,0 11 - Ferro 12 - Boro 12,5 2001 31,4 37,0 33,8 24,9 31,9 24,1 14,7 33,1 38,9 35,0 39,5 19,1 2002 26,0 38,8 28,4 18,9 28,3 22,8 23,6 25,4 27,2 24,7 26,5 20,3 2003 45,7 35,6 33,9 26,7 31,5 24,0 28,7 33,0 29,7 28,3 34,1 30,0 Média 34,4 37,1 32,1 23,5 30,6 23,6 22,3 30,5 31,9 29,3 33,4 23,1 R% 146 158 136 100 130 101 95 130 136 125 142 98 COMPETIÇÃO DE CAFEEIROS HÍBRIDOS COM RESISTÊNCIA À FERRUGEM E NEMATÓIDE M. exigua, NA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS. J. B. Matiello, A. R. Queiroz e S.R.Almeida - Engos Agros MAPA/PROCAFÉ, A.S.Amaral e S. M. Mendonça Engºs Agrºs e S.L.Filho e A. Louback Tecs. Agrs. CEPEC-Heringer. Foi conduzido um ensaio de competição de híbridos com resistência à ferrugem e alguns também com tolerância ao nematóide M-exigra , no CEPEC, em Martins Soares, zona da mata de Minas. Foram avaliados 13 materiais genéticos, usando-se como padrão o catuai amarelo IAC 86. O ensaio foi conduzido no período de 1995 a 2003, sendo obtidos dados de 7 safras. Verificou-se ligeira superioridade para o material de Acauã, seguido do catuaí/86, do catucaí amarelo 2SL e do catucaí 785. Esses híbridos apresentaram bom potencial produtivo e características desejáveis como resistências à ferrugem e ao nematóide prevalecente na região. PESQUISANDO A evolução na seleção de linhagens e híbridos de cafeeiros, para plantio na Zona da Mata de Minas Gerais, deve ser dirigida para materiais com porte baixo, resistentes à ferrugem e, para renovação ou dobra de lavouras, seleções que tenham, também, tolerância ao M. exigua. Com o objetivo de verificar o comportamento de novos híbridos, com resistência à ferrugem e nematóide, na região de cafeicultura de montanha em Minas Gerais, foi conduzido um ensaio no Centro Experimental de Café Eloy Carlos Heringer (Conv. MAPA/PROCAFÉ Grupo Heringer), em Martins Soares, a 740 m de altitude, em solo LVAh. O ensaio é composto de 13 itens, com delineamento em blocos ao acaso, com 4 repetições e 10 plantas por parcela. O plantio foi efetuado em Fev/95, no espaçamento 2,5 x 1,0 m, seguindo-se os tratos culturais usuais, sendo feita uma adubação 17 anual de produção na base de 2000 Kg de 20-0520/ha (em 3 parcelas) e 3 pulverizações, cada com 2,4 Kg/ha de sulfato de zinco, mais 1,5 kg/há de ácido bórico, mais 2,0 Kg/ha de hidróxido de cobre por ano agrícola ( em out, dez e fev). A relação dos materiais em estudo encontra-se no quadro 1. A avaliação constou das produções, obtidas nas 7 primeiras safras. Resultados e conclusões: O quadro 1 apresenta os dados médios de produtividade, em sacas/ha, das 7 safras já colhidas nas parcelas dos vários itens em estudo. Quadro 1 - Produção em sacas beneficiadas/ha (média de 7 safras) nos cafeeiros do ensaio de híbridos. Martins Soares - MG - 2003. Tratamentos Produção média - 7 safras (scs/ha) * Acauã Catuaí 86 Catucaí Amarelo 2 SL CTA 86 x EP 24 cv 701 Catucaí 785 CTA 86 x EP 90 EP 24 x EP 90 FEX 607 CAT x ICATU EP 24/365 x EP 24/170 CTA 86 cv 320 x EP 24 cv 337 Catucaí Vermelho F2 Catindú CTA 86 x Piatã cv 368 * Tukey a 5% 56,2 a 51,6 ab 49,8 abc 49,1 abc 48,5 abc 46,2 abc 46,0 abc 45,6 abcd 40,6 bcde 40,3 bcde 37,9 cde 33,6 de 31,6 e A análise estatística mostra ligeira superioridade para o Acauã, um material oriundo do cruzamento entre o Sarchimor (1668) e o Mundo Novo (379/19), realizado pelos Técnicos do IBC no Paraná e selecionado na FEX - Caratinga, seguido do Catuaí 86 (padrão do ensaio), do Catucaí Amarelo seleção 2 SL, dos híbridos de CTA 86 com materiais tolerantes a bicho mineiro, e do Catucaí 785, resistente a M. exigua. Os demais itens, com comportamento intermediário, ainda em processo de seleção das melhores plantas e com desempenho inferior, ficaram o Catucai Vermelho F2, o híbrido de Catuaí com Piatã e o Catindu. Conclui-se que os novos híbridos em seleção apresentam bom potencial produtivo e características desejáveis, como a resistência à ferrugem e ao M. exigua (Catucaí 785 e Acauã). O ensaio foi encerrrado e o processo de melhoramento está continuando com a seleção das melhores plantas individuais. PESQUISANDO 18 PRODUTIVIDADE DO CAFEEIRO IRRIGADO SOB DIFERENTES CRITÉRIOS COM VÁRIAS DENSIDADES DE PLANTIO, NA REGIÃO DE LAVRAS/MG. M. S. Scalco - Eng. Agr. Dra/DAG/UFLA, A. Colombo - Prof. Adjunto/DEG/UFLA, R. A. Gomes - Eng. Agr. Bolsista Des. PNP&D/Café, R. J. Guimarães - Prof. Adjunto/ DAG/UFLA, C.H. M. de Carvalho - Eng. Agr. mestrando em Agronomia/Fitotecnia, L. C. Paiva doutorando em Agronomia/Fitotecnia, M.A. de Faria Prof. Titular/DEG/UFLA. Especialmente, em lavouras cafeeiras em formação a “molhação” tem sido praticada com sucesso, mesmo em regiões consideradas aptas quanto ao déficit hídrico. Entretanto, é necessário rever os critérios utilizados para caracterizar as condições de umidade no solo que levam ao desenvolvimento de déficits hídricos e conseqüentemente a quedas na produtividade do cafeeiro. Considerando-se que a densidade de plantio utilizada em uma lavoura cafeeira pode modificar completamente a resposta da cultura à irrigação, é necessário também avaliar os diferentes limites de armazenamento em relação aos diferentes arranjos de plantas. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de diferentes critérios para determinação do momento de início das irrigações sobre características de produção do cafeeiro plantado em diferentes densidades de plantio. O experimento foi instalado em área de pesquisa da Universidade Federal de Lavras/MG. O plantio foi realizado em 03/01/01, variedade “Rubi” MG-1192. O solo foi analisado quanto as suas características físico-hídricas e químicas para instalação da cultura no campo.Os tratamentos constam de cinco densidades de plantio, 2.500pls/ha (4,0x1, 0m), 3.333pls/ha (3,0x1, 0m), 5.000pls/ha (2,0x1, 0m), 10.000pls/ha (2,0x0, 5m) e 20.000pls/ha (1,0x0, 5m) e cinco critérios de irrigação, tensões de 20, 60, 100, 140kPa e manejo baseado no software SISDA 3.5 (irrigando-se três vezes na semana), e testemunha sem irrigação. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados em esquema de parcelas subdivididas, com quatro repetições. As cinco densidades de plantio estão localizadas nas parcelas e os cinco critérios de irrigação e a testemunha sem irrigação nas subparcelas, perfazendo um total de 30 tratamentos. O número de plantas na subparcela é de 10, considerando-se 8 plantas úteis para avaliação da produtividade de café da roça e estimativa do beneficiado (sc/ha). Para irrigação das parcelas, junto a cada linha de plantas, existe uma linha lateral de gotejamento com emissores de vazão de 3,8l/h espaçados de 0,4m. A umidade do solo foi indiretamente monitorada através do uso de tensiometros (com tensímetro digital) e blocos porosos de gesso resinado.(Water Mark-Irrometer). Os tensiômetros e os blocos foram instalados nas profundidades de 10, 25, 40 e 60cm em duas das quatro repetições. A irrigação de cada subparcela ocorre quando a leitura média de tensão de água na profundidade de 25cm indica a tensão de irrigação relativa àquele tratamento. A correspondência entre tensão de água no solo e umidade é obtida através das curvas características de umidade do solo, determinadas em laboratório para as diferentes profundidades consideradas. Os tensiômetros e os blocos porosos para avaliação dos diferentes valores de tensão foram instalados na fileira de plantas afastados cerca de 10cm da base do caule. As lâminas de irrigação são calculadas considerando-se as leituras obtidas nos tensiômetros e blocos porosos nas profundidades de 10, 25 e 40cm. Em relação ao manejo SISDA 3.5, os dados climáticos necessários são monitorados diariamente utilizando-se uma estação meteorológica automática Metos instalada na área do experimento. Os tratos culturais são os recomendados para a cultura irrigada e a adubação é feita seguindo as recomendações para uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais 5a PESQUISANDO 19 aproximação, Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (1999) para o cafeeiro, e as recomendações de Malavolta e Moreira (1997) e Santinato e Fernandes (2002) para a cultura irrigada. A adequação da adubação é avaliada periodicamente através de diagnose foliar e do solo. nesse caso o microclima é alterado em função do sombreamento, da temperatura e de outros fatores envolvidos na demanda evapotranspirativa do cafeeiro. Irrigações mais freqüentes (Figura 1) através do manejo SISDA 3.5 e tensão de 20kPa, proporcionaram produtividades de café da roça mais altas em praticamente todas a densidades de plantio. Nas densidades de 2.500 e 3.333 plantas/ha as produtividades nos diferentes critérios de irrigação tendem a se igualar, diferenciando significativamente apenas da testemunha, sem irrigação. Resultados e Conclusões A produtividade de café beneficiado foi estimada considerando-se um rendimento médio de 450l/saca de sessenta quilos, relação comumente usada pelo produtor. Porém, em função dos tratamentos essa relação pode ser alterada para mais ou menos. A resposta da produtividade variou em função das diferentes densidades de plantio e dos critérios de irrigação, demonstrando que o consumo de água do cafeeiro varia em função do espaçamento, porque Figura 1 - Produtividade de café da roça e estimativa de beneficiado (sacas/ha) em diferentes critérios de irrigação e densidades de plantio. UFLA, Lavras/MG, 2003. 2.500 plantas/hectare (4,0 x 1,0m) Café da roça 280 260 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 a a 3.333 plantas/hectare (3,0 x 1,0m) Café da roça beneficiado 320 300 280 260 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 a a a a a a a a b b SISDA3.5 20kPa 60kPa 100kPa Momentos de irrigação 140kPa S/irrigação a a 420 390 360 330 300 270 240 210 180 150 120 90 60 30 0 a a a a a b b SISDA3.5 20kPa 60kPa 100kPa Momentos de irrigação 140kPa S/irrigação 10.000 plantas/hectare (2,0 x 0,5m) beneficiado Café da roça 600 a a a a a 5.000 plantas/hectare (2,0 x 1,0m) Café da roça beneficiado a a 550 a beneficiado a 500 b b 450 400 b b 350 300 c a b 250 200 a b b a 150 100 c a a b b c c 50 0 SISDA3.5 20kPa 60kPa 100kPa Momentos de irrigação 140kPa S/irrgação SISDA3.5 20kPa 60kPa 100kPa Momentos de irrigação 20.000 plantas/hectare (1,0 x 0,5m) Café da roça 800 750 700 650 600 550 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 a beneficiado a b b b a a b b c c d SISDA3.5 20kPa 60kPa 100kPa Momentos de irrigação 140kPa S/irrigação 140kPa S/irrigação PESQUISANDO 20 Aliás, especialmente em sistemas de plantio mais adensados a falta da irrigação provocou fortes quedas de produtividade. Essas perdas, nas densidades de 2.500, 3.333, 5000, 10.000 e 20.000plantas/ha, são da ordem de, respectivamente, 74%, 68%, 57%, 78% e 84% da produção máxima. As produtividades máximas estimadas de café beneficiado de 163 e 155 sacas/ha foram verificadas na densidade de 20.000 plantas com o manejo SISDA e na tensão de 20kPa, provavelmente pelo maior número de plantas por área e pela manutenção da umidade do solo sempre próxima a capacidade de campo. Apesar destes bons resultados, na densidade de 20.000 plantas ocorreu uma queda significativa de grãos na colheita aumentando a proporção de café de varrição nestas condições, tanto nas plantas irrigadas quanto nas não irrigadas (Figura 2). Sem o uso da 120 Café colhido (%) Pano irrigação, ocorreu uma maior proporção de café de varrição do que de café no pano (34,2 % de café de varrição para 65,8 % de café do pano). Isso pode ter ocorrido porque houve maior desuniformidade e maior atraso na colheita nesta densidade, além da operação ter sido dificultada pelo fechamento da cultura. Nas demais densidades essa proporção situou-se acima de 90% para café de pano e 10% de varrição. A colheita foi feita respeitando-se um limite de 15% de verde, exceção para 20.000 plantas colhido com aproximadamente 20% de frutos verdes, pois, já computava mais de 30 dias de atraso. Figura 2 - Porcentagem da produção total de café colhido no pano e varrição sob diferentes critérios de irrigação e diferetnes densidades de plantio. UFLA, Lavras/MG, 2003. Café colhido (%) Varrição 100 80 60 40 20 0 SIS 20k 60k 100 140 S/ SIS 20k 60k 100 140 S/ SIS 20k 60k 100 140 S/ SIS 20k 60k 100 140 S/ SIS 20k 60k 100 140 S/ DA Pa Pa kP kP irri DA Pa Pa kP kP irri DA Pa Pa kP kP irri DA Pa Pa kP kP irri DA Pa Pa kP kP irri 3.5 a a ga 3.5 a a ga 3.5 a a ga 3.5 a a ga 3.5 a a ga ção ção ção ção ção 2.500 3.333 Independente do critério, o uso da irrigação por gotejamento aumentou substancialmente a produção do cafeeiro. Mesmo irrigações em tensões mais altas, (tensões de 100 e 140kPa) que resultaram em maiores aplicações de água com turnos de irrigação mais espaçados, mas que se concentraram no período de seca (maio a setembro) aumentaram a produtividade do cafeeiro. Pode ocorrer que nestas condições, o maior turno de irrigação tenha sido benéfico. Segundo vários autores o cafeeiro necessita de um período de dormência, que proporciona maior intensidade e uniformidade na floração, resultando, na época da colheita, em frutos com maturação mais 5.000 10.000 20.000 homogênea. Tanto as plantas não irrigadas quanto às irrigadas em tensões mais altas apresentaram uma maturação mais rápida e uniforme em relação àquelas irrigadas de forma mais freqüente. De acordo com o critério de colheita adotado (porcentagem de verde de 10 a 20%), a colheita iniciou-se pelas parcelas menos adensadas (2.500 e 3.333 plantas/ha) e pelos tratamentos não irrigados e os irrigados em tensões mais altas. Sendo esta a primeira produção significativa em uma lavoura de dois anos e meio, necessita-se resultados das próximas safras para confirmação do melhor critério e do melhor sistema de plantio. PESQUISANDO 21 As médias gerais do experimento sugerem aumentos de produtividade significativos à medida que se disponibiliza maior umidade no solo, com menores quantidades de água por aplicação e menores turnos de irrigação durante todo o ano, e com a utilização de um maior adensamento de plantas tanto na linha quanto entre linhas (Figuras 3 e 4). Na região de Lavras/MG, o controle adequado no uso da irrigação por gotejamento aumentou o potencial produtivo do cafeeiro, resultando em produtividades de café beneficiado acima de 100 sacas/ha quando a média da região sem o uso da irrigação situa-se em torno de 20sacas/ha. No entanto, esse aumento da produtividade de plantas irrigadas é diferenciado em função da densidade de plantio, fato que deve ser verificado com critério pelo cafeicultor irrigante. Figura 3 - Produtividade de café da roça e estimativa do beneficiado (sacas de 60kg/ha) sob diferentes critérios de irrigação. UFLA, Lavras/MG, 2003. Café da roça 450 400 350 300 250 200 c c Figura 4: Produtividade de café da roça e estimativa do beneficiado (sacas/ha) sob diferentes densidades de plantio. UFLA, Lavras/MG, 2003. Café da roça 550 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Beneficiado a b c d e d e 250 0 333 3 500 0 Literatura Citada COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Recomendações para uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais, 5a aproximação. Viçosa, 1999. 359p. a b c 1000 0 2000 0 MALAVOLTA, E. ; MOREIRA, A. Nutrição e adubação do cafeeiro adensado. Informações agronômicas, Piracicaba: POTAFOS, n. 80, p. 1-8, 1997 ( Encarte técnico ). SANTINATO, R. FERNANDES, A. L. T Cultivo do cafeeiro irrigado em plantio circular sob pivô central, 2002. 22 Consulte pelo E-mail: [email protected] Tenho uma lavoura de café, ainda nova, na 1ª e 2ª safras. São 26 ha, plantados a 2 x 0,7m, em área bem amorrada, entre 500 e 600 m de altitude, na zona da mata de Minas. Venho colhendo pouco, apesar de não economizar nos adubos (mando a análise de solo). A lavoura, em sua maioria, desfolha bastante no pós - colheita. Gastei bem mais do que rendeu a venda do café. Quero saber o que devo fazer. Largo a lavoura ou continuo? Milton Assis, S.F. do Gloria - MG. COFFEA: Senhor Milton: vamos, primeiro, analisar a sua região. Ela apresenta aptidão para o café arabica, mas com pequena restrição. A sua área se encontra em altitude mais baixa que o ideal (600-900 m), sendo mais quente, por isso a necessidade de água pelas plantas é maior e, no sentido contrário, as chuvas são ali menos freqüentes, o que pode exigir complementação por irrigação de socorro, visando suprir o solo em períodos críticos, na pré-florada e na formação dos frutos. Vamos, agora, à parte agronômica, ou seja, como vem sendo conduzida sua lavoura. Pelos resultados da analise de solo vemos que ocorre falta de cálcio e magnésio nas áreas, sendo necessário uma calagem. Verifica-se, ainda, que o potássio está bastante alto (140-200 ppm) o que pode dispensar seu uso no próximo ano agrícola, pois ele , em excesso, pode agravar sua relação com o cálcio e magnésio e pode causar a seca de ponteiros e desfolha que a lavoura vem apresentando. É necessário, portanto, maior equilíbrio na adubação. Outra coisa importante é o RESPONDE controle fitossanitario na lavoura. A ferrugem e o bicho-mineiro são problemáticos nessas áreas mais quentes. É preciso executar um programa de controle preventivo desses problemas, pois quando se vê o prejuízo, pela desfolha, já é tarde. Finalmente, vamos à parte econômica da questão. Dois fatores são muito importantes na economia da lavoura cafeeira. O primeiro é a produtividade, que para o seu caso deve ser alcançada a meta de 40-50 sacas/ha. O segundo é a racionalização dos gastos e administração das operações na lavoura, eliminando os pontos críticos. Por fim, a rentabilidade depende dos preços no mercado, os quais, atualmente, estão muito baixos. Em conclusão pode-se aconselhar o senhor a continuar na atividade, efetuando os ajustes no manejo das lavouras, especialmente: adubação/calagem racional; controle de pragas e doenças e irrigação de salvação. Procure um técnico para lhe dar uma orientação permanente. Assim, com a melhoria prevista em sua produtividade e com a expectativa de preços melhores, a curto e médio prazo, seu investimento, em grande parte já realizado, poderá dar-lhe retorno adequado. RECOMENDANDO 23 PODO OU NÃO MEU CAFEZAL? J.B. Matiello - Engº Agrº - MAPA / PROCAFÉ A poda de cafeeiro é uma prática que deve ser usada com muito critério. É preciso avaliar e analisar bem, antes, para cada situação de lavoura, a oportunidade e o modo de fazer a poda, a qual, feita na hora e de modo inadequados, pode causar prejuízos graves na produtividade do cafezal. Até pouco tempo atras o uso das podas era pequeno na cafeicultura brasileira, cujos cafeeiros, em espaçamentos normalmente largos, eram conduzidos a livre crescimento. Atualmente as podas tem se tornado mais freqüentes, sendo executadas para atender a fins variados, quando, inicialmente, a preocupação era restrita à questão de produtividade, visando manter ou restabelecer a condição produtiva das plantas de café afetadas por fechamento. Hoje os técnicos recomendantes e o produtor devem ter uma visão menos conservadora sobre poda em cafezais. Devem, sim, manter o exame de caso a caso, analisando as características do talhão, mas, por outro lado, devem examinar a poda como um componente do manejo da lavoura, sua interação com as demais práticas no cafezal. Por isso, a resposta à pergunta do titulo, se um produtor deve ou não podar sua lavoura vai ser respondida em seguida. FINALIDADES DAS PODAS Como já foi dito anteriormente, hoje em dia pode-se obter várias finalidades na aplicação das podas em cafezais, sendo as principais: a) eliminar o problema de fechamento dos cafeeiros; b) aumentar a área de ramos produtivos em plantas debilitadas, cinturadas, deformadas, compactadas etc; c) acelerar e adequar a recuperação de cafeeiros atingidos por geadas, granizo, raio, secas etc; d) renovar a estrutura primária, as hastes e a copa de cafeeiros, também promovendo seu reequilíbrio com o sistema radicular; e) eliminar excesso de hastes ou de plantas; f) reduzir a alturas das plantas, para facilitar o trato e a colheita (principalmente a mecanizada); g) melhorar o ambiente(arejamento, insolação) dentro do cafezal , para reduzir a incidência e facilitar o controle de certas pragas e doenças (broca, ferrugem, phoma); h) melhorar ou programar a produção das plantas (caso de safra zero); i) equilibrar a parte aérea com o sistema CONDIÇÃO DE USO Uma análise da situação das lavouras deve ser radicular, em áreas com problema de suprimento de efetuada examinando, a princípio, os fatores que água. RECOMENDANDO 24 estejam influindo negativamente na produtividade e na operacionalidade das práticas de manejo da lavoura, como o fechamento, o depauramento, o acinturamento, a altura das plantas e outros aspectos, incluindo análise de custo, que levam à indicação de podas. Em seguida é preciso observar se a lavoura apresenta condições de recuperação após as podas. Plantas muito velhas, de variedades pouco vigorosas (caturra e bourbon), com sistema radicular pouco desenvolvido, contaminadas por nematóides, fusariose ou outras pragas ou doenças de raízes, normalmente não respondem bem às podas. Muitas vezes é necessário adotar práticas complementares de tratamento para recuperação do solo, controle fitossanitário etc. Do mesmo modo, se as lavouras estiverem muito falhadas, ou com espaçamento inadequado (baixo número de plantas por área), pode-se optar por sua substituição ou efetuar replantio ou repovoamento concomitante à poda. Podar na época ou de modo errado pode significar alem de perdas de produção desperdícios de material vegetal, acumulado à custa de investimentos feitos na nutrição e outros tratos dispensados à lavoura e cuja reposição necessitará tempo e novos investimentos. Como se observa do quadro 1 as podas promovem a remoção de partes da planta - folhas, ramos e troncos que representam enorme quantidade de nutrientes acumulados, quantidade essa crescente à medida em que o tipo de poda empregado é mais drástico. Quadro 1 - Quantidade de macro e micronutrientes nas partes podadas de cafeeiros (folhas + ramos +troncos), em cafezal Mundo Novo, 12 anos, 4 x 1,2m. Varginha-MG-1984 Tipo e altura de poda Nutrientes Recepa Decote Decote Decote 0,4m 1m 1,5m 2m N (g/planta) 169 154 85 42 P (g/planta) 10 8 5 2 K (g/planta) 150 139 88 41 Ca (g/planta) 78 72 33 17 Mg (g/planta) 16 17 8 4 S (g/planta) 5 4 3 2 B (mg/planta) 189 197 86 93 Cu (mg/planta) 120 115 64 26 Zn (mg/planta) 91 79 39 14 Fonte: Garcia et alli – Anais do 13º CBPC, p. 158-64. RECOMENDANDO 25 As podas promovem, também, morte no sistema radicular, conforme dados do quadro 2, em conseqüência da redução da parte aérea da planta, sendo as perdas proporcionais à intensidade da poda. Essa morte é gradual e persiste até aos 4 meses na recepa e esqueletamento (podas drásticas) e já ocorre recuperação a partir dos 2 meses para o decote. Isso significa que, atendidas as necessidades, quanto menos se cortar a planta melhor. Nos quadros 3 e 4 pode-se observar os resultados na aplicação de podas drásticas ou leves, mostrando menores perdas nas podas onde a estrutura das plantas foi melhor aproveitada. Quadro 2 Mortalidade de raízes de cafeeiro em vários tipos de podas. Cafezal Mundo Novo, 7 anos, 3,5 x 1,5m(3-4 hastes/cova) - Alfenas - MG - 1986. Quadro 3 - Produção de café após sistemas de poda na recuperação de cafeeiros atingidos por geada superficial (''Capote'') em cafezal MN, 5 anos, 4 x 5m - Elói Mendes - MG - 1979. Produção média 2 Safras pós-poda Tratamento Recepa a 40 cm Esqueletamento Decote a 1,8 m Sem poda, com limpeza Testemunha 3,2 b 16,4 a 15,8 a 15,6 a 14,5 a Quadro 4 - Produção inicial de cafeeiros após 2 tipos de recepa (baixa e alta), cafezal Mundo Novo, 15 anos, 4 x 0,8m - Elói Mendes - MG - 1994. Tratamento Recepa a 0,4 m Recepa a 0,8 m (com pulmão), 4-5 ramos laterais despontados 1ª 10,2 21,0 CONCLUINDO Como conclusão pode-se verificar que a poda deve ser precedida de uma análise da situação da lavoura e, consequentemente, da necessidade da poda, diante das finalidades que se pretende dessa prática. A capacidade de resposta à poda também Safra pós-poda (scs/ha) 2ª 87,0 98,0 Média 48,6 59,5 deve fazer parte dessa análise. Esse exame, se possível assessorado por um técnico experiente, pode levar a 3 opções: não podar, podar ou substituir a lavoura. Indica, ainda, o tipo de poda mais adequado, visando o melhor retorno produtivo e a custo mais baixo. RECOMENDANDO 26 REPLANTIO E REPOVOAMENTO EM CAFEZAIS. J. B. Matiello - Engº. Agrº. MAPA/PROCAFÉ Uma das principais condições para se obter boa produtividade na lavoura cafeeira é o “stand” de plantas, ou seja, o n.º de plantas de café por área. As pesquisas mostram que o aumento do stand eleva a produção por área, ao mesmo tempo em que reduz o “ stress” ou desgaste dessas plantas no póscolheita, o que possibilita, também, melhor produtividade na safra seguinte. Deste modo, lavouras falhadas, com espaçamento muito largo, com n.º pequeno de plantas/ ha devem ser transformadas ou substituídas por outras. Para o pequeno e médio produtor, especialmente nas regiões montanhosas, normalmente é mais econômico o replantio ou repovoamento dos cafezais, em relação à opção de substituição por outra lavoura, esta condição é mais viável para o grande produtor, principalmente em áreas mecanizáveis, que facilitam tanto a eliminação da lavoura velha como sua renovação. O replantio é a prática utilizada para repor falhas da lavoura, por morte ou fraqueza das plantas. O repovoamento consiste na colocação de novas plantas de café na lavoura, para aumentar o seu n.º por hectare. Vamos ver como eles devem ser feitos. As causas de falha São muitas as causas que podem levar os cafeeiros, jovens ou adultos, à morte ou ao seu severo enfraquecimento, gerando a necessidade de replantio. As causas principais são: Em cafeeiros jovens: período muito seco no pós-plantio; sistema radicular deficiente (origem da muda ou plantio mal feito); rizoctoniose tardia; queima da planta ou tronco (canela) por geada; roletamento do tronco por vento; afogamento do caule; encharcamento excessivo do solo; dano mecânico por implementos; dose excessiva de adubos (concentração de sais); danos por herbicidas; roletamento do caule ou ataque de raízes por insetos e faíscas elétricas. Em cafeeiros adultos: Roseliniose (= mal de 4 anos), ataque severo de nematóide (M. incognita); problema de impedimento de solo (pedra, cascalho etc); excesso de água no solo (encharcamento); sistema radicular deficiente (associado a solo de má física); dano mecânico por implementos; ataque severo de fusariose; idem de mosca das raízes e cigarras; poda drástica associada a sistema radicular deficiente; mancha manteigosa (em cafeeiros canillon e híbridos com robusta); e faísca elétrica. Como replantar O replantio de falhas, em lavouras jovens ou adultas, deve ser feito o quanto antes RECOMENDANDO 27 possível, logo que essas falhas sejam detectadas, observando, lógicamente, a ocorrência do período chuvoso, para que as novas plantas possam ter um bom pegamento. Esse procedimento é necessário, pois evita-se gastos com capinas e outros tratos numa área sem plantas. Cuidados especiais precisam ser adotados no replantio, pois mudas acostumadas em ambiente adequado serão colocadas em condição menos favorável, com a presença de pragas, doenças, ervas daninhas, clima incerto etc. As principais recomendações para o sucesso do replantio são as seguintes: a) Não replantar lavouras muito velhas, de variedades superadas, e com alta percentagem de falhas. O melhor nesses casos é a substituição por outra. b) Usar mudas boas, de variedade igual ou de porte e maturação semelhantes à da lavoura replantada. Usar, de preferência, mudas maiores. c) Preparar bem a cova, de preferência com adubo orgânico e usando inseticida/fungicida de solo, para que haja um bom arranque inicial da planta nova e para proteção contra eventuais pragas, oriundas da lavoura replantada. d) Manter um controle diferenciado do mato, inclusive com herbicidas de pré-emergência, para proteger a muda nova, mais sensível ao mato. e) Usar mudas de variedades resistentes/tolerantes a nematóides (pé-franco ou enxertada) sempre que a lavoura apresente problemas com essa praga. f) Onde a morte for por roseliniose replantar após aplicação de cal ou calcário na cova, e espera de pelo menos 3 meses. g) Não replantar quando o espaço da falha for pequeno (menos de 1 m) porque a planta maior pode encobrir, ocupar o espaço e não deixar desenvolver a muda nova. Nesse caso, replantar quando houver duas falhas seguidas, deslocando um pouco a planta nova das laterais. h) Usar, no replantio, distâncias mais adequadas entre plantas na linha. Por exemplo, se houver 2 falhas, na distância de 1,5m entre elas, replantar com 3 mudas (a 80 cm) mantendo, ainda, 70 cm distante nas 2 laterais. i) Aproveitar, sempre que possível, para replantar após uma poda drástica (recepa) na lavoura, para abrir mais espaço e dar mais igualdade ao crescimento, alem do que, nessa condição, a necessidade de replantio aumenta com a morte ou a má brotação de algumas plantas podadas, que apresentavam problemas de raízes. j) Não replantar nas áreas que apresentam morte devida a problemas de física do solo (encharcamento, pedras etc). k) Cuidado no uso de adubos/corretivos na cova, pois o solo já pode estar corrigido e o excesso, por exemplo de calcário, pode levar a problemas com micronutrientes. Como repovoar Os modos de repovoar são 3: na rua, na linha e em ambos. O repovoamento na rua também é chamado de “dobra” pois, como o nome indica, vão ser dobradas as linhas da lavoura, com o plantio de uma nova linha no meio da rua da lavoura antiga. O repovoamento, no caso, com a “dobra” na rua, era uma prática tradicional em lavouras antigas no Estado do Paraná, sendo usado, principalmente, para permitir a substituição da lavoura antiga, sem perda de produção. Esta é uma das finalidades da dobra e, nesse caso, 2 anos após a dobra, faz-se a erradicação da lavoura antiga. Também fica a opção de recepar a lavoura antiga e aproveitar sua brotação por mais algumas safras. A segunda finalidade, a maior, do erando-as RECOMENDANDO 28 repovoamento é a de colocar mais plantas por área, mantendo aquelas já existentes, se for o caso, recuperando-as (com ou sem podas). Com os cuidados é perfeitamente possível repovoar a rua de um cafezal adulto, no espaçamento largo (3,5 a 4,5m de rua) sem interferir, com poda drástica, nos cafeeiros existentes, desde que eles não estejam fechados, quando, aí, torna-se necessário abrir espaço para as novas plantas. Já, o repovoamento na linha é mais problemático e, normalmente, requer a associação com uma poda por recepa. Quando a lavoura tiver um certo fechamento, uma alternativa é a recepa de linhas alternadas, que permite boa abertura sem perda total da produção. De acordo com a necessidade, 2-3 anos após, seria recepada a linha que ficou. Para o repovoamento valem as mesmas recomendações e cuidados citados para o replantio. Destaca-se, dentre eles, dois bem importantes: a)O bom tratamento da cova, com adubação adequada e com o uso de inseticida/fungicida/nematicida, sendo indicados: 2 g de Temik/cv ou 3 g de Baysiston/cv ou ainda 1 g de Bayfidan 60 GR + 2 g de Temik/cv, aplicado logo após o pegamento das mudas; b) O uso de espaçamento na linha e de variedades mais adequados. Os problemas fitossanitários observados, com maior gravidade sobre as plantas novas, tem sido o ataque de Phoma/Ascochyta (pela umidade e inóculo), os nematóides, a infestação rápida de mosca e de cochonilhas de raízes. Alerta-se, ainda, para adotar o cuidado de analisar o terreno antes, para dar base ao uso ou não de calcário e outros nutrientes na cova. Como a lavoura adulta, por anos sucessivos, deve ter recebido calagens, o uso de calcário nas covas, uma prática normal, pode causar graves deficiências de micronutrientes, já nas mudas. Tem sido constatados em áreas repovoadas problemas com manganês, cobre, zinco, boro, ferro, todos com sua disponbilidade reduzida em função da elevação do pH do solo (acima de pH 6,0). Tem sido observadas tambem toxidez por micronutrientes. Quadro 1 - Porcentagem de folhas atingidas por geadas em cafeeiros jovens e adultos sob diferentes combinações de podas, dobras e substituição de cafezal. Varginha - MG - 2000. Tratamento a) Substituição (plantio novo) b) Dobra em área com cafeeiros recepados c) Dobra em área com cafeeiros esqueletados d) Dobra em área com cafeeiros decotados e) Dobra em área com cafeeiros sem poda Fonte: Matiello et alli - Anais 26º CBPC, p. 61-2 % de folhas afetadas pela geada Plantas novas Plantas velhas 55,7 50,4 9,2 4,8 2,9 79,6 65,3 64,6 0 RECOMENDANDO Pesquisa mostra viabilidade Na fazenda Experimental de Varginha vem sendo conduzido um ensaio de dobras ou substituição de cafezal adulto. O ensaio foi instalado em 1999 sobre cafezal catuai com 15 anos, espaçamento 3,5 x 1,5m.. Foram estudados 18 tratamentos, compreendendo repovoamento na rua e/ou na linha, combinado com recepa, esqueletamento e sem poda. Foram testados tratamentos com adubo orgânico e/ou inseticida/fungicida na cova. Um tratamento constou, ainda, na eliminação da lavoura e sua substituição, em sistema adensado e aberto. Os primeiros dados desse experimento foram obtidos já no 1º ano de campo, evidenciado, após uma geada fraca ocorrida em 2000, que as plantas jovens, plantadas no meio da lavoura adulta, ficaram protegidas, sofrendo pouco o efeito da geada e de ventos frios, como se pode observar no quadro 1, onde se verifica que a % de folhas afetadas nas plantas novas decresceu na medida em que a poda das plantas adultas foi menos drástica. Assim, as plantas adultas funcionaram como guarda-chuva para as jovens, como ocorre com a arborização na lavoura de café, que mantem o ambiente da área mais quente à noite. O ensaio vem sendo conduzido por 4 anos, com resultados preliminares, em 4 safras, conforme os dados acumulados, médios, agrupados no quadro 2, que mostram o efeito da recuperação das plantas velhas e podadas e a entrada em produção (inicial) das novas plantas. Verificou-se que: Em relação ao tipo de poda, a curto prazo, nas 4 safras pós-poda, houve maior produção acumulada no tratamento testemunha (sem poda), seguindo-se, de forma semelhante, o esqueletamento e o decote, e por último, a recepa. Com relação ao tipo de dobra na linha, o maior ganho ocorreu para a área com recepa, que permitiu maior abertura inicial na linha para as plantas novas, do que o esqueletamento, onde as novas plantas ficaram esguias e fracas, já que cresceram entre aquelas velhas, que voltaram a fechar mais rapidamente, após o esqueletamento. 29 Quadro 2 - Agrupamento das produções médias de café do ensaio, conforme o tipo de poda e de dobra. Varginha,2003. Tipos de Podas Prod. Acum. 00/03 (scs./ha) Recepa (sem dobra) Decote (sem dobra) Esqueletamento (só plantas velhas) Sem poda (testemunha) 89,2 126,7 135,6 148,8 Tipos de Dobras Prod. Acum. 00/03 (scs./ha) 38,8 2,3 35,1 24,3 13,8 7,8 43,2 a) Na linha Com recepa Com esqueletamento b) Na rua Com recepa Com esqueletamento Com decote Sem poda Subst. com arranquio (sem adensamento) Subst. com arranquio (adensado) Com inseticida Com adubo orgânico Sem adubo orgânico 56,9 46,8 52,6 35,1 Quanto à dobra na rua também a recepa ofereceu vantagens para as plantas jovens, seguindose o esqueletamento, o decote e a área sem poda (testemunha). A substituição após o arranquio representou um acréscimo de 8 sacas/ha em relação à dobra na área com recepa, porém nesse caso não se pode contar com a produção nas plantas velhas, que se recuperaram e acumularam produções de 91,8 scs/ha. Quanto ao uso de adubos/defensivos houve resposta de 17 sacas/ha pelo uso de adubo orgânico na cova e 11 sacas para o inseticida usado (Temik). O uso de adubo orgânico promove uma ligeira melhora, também, nas plantas da lavoura velha da área dobrada. O efeito das plantas novas, dobradas, sobre as plantas velhas, foi observado de forma diferenciada, de acordo com o tipo de poda. Para a recepa, as plantas velhas perderam, nas 2 últimas safras, 4,8 scs/ha, enquanto no decote elas ganharam 12,5 sacas, o que é explicado pela melhoria do solo, mais próxima das plantas. RECOMENDANDO 30 CONTROLE BIOLÓGICO DAS PRINCIPAIS PRAGAS DO CAFEEIRO ALGUMAS MEDIDAS PARA PRESERVAR E AUMENTAR SUA AÇÃO José Marcos Angélico de Mendonça; Geraldo Andrade Carvalho O cafeeiro hospeda espécies de insetos e ácaros, algumas de maior importância econômica, causando prejuízos freqüentes, como o bichomineiro-do-cafeeiro Leucoptera coffeella (GuérinMenèville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae), a broca-do-café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867 (Coleoptera: Scolytiidae) e as cigarras-do-cafeeiro, especialmente a espécie Quesada gigas (Olivier, 1790) (Homoptera: Cicadidae). Existem, ainda, outras pragas consideradas secundárias, como ácaros, cochonilhas, formigas, lagartas, besouros desfolhadores e as moscas (Moraes, 1998; Reis et al., 2002). Para o controle efetivo das pragas do cafeeiro, como de qualquer outra cultura, deve-se implementar um conjunto de técnicas para o manejo do agroecossistema, baseando-se em características sociais, econômicas e ecológicas, que adota como princípio, a otimização dos fatores naturais que limitam as populações de pragas e respeita os limiares de tolerância das plantas ao ataque dos artrópodes-praga (Gravena, 1992). Esse é o conceito do Manejo Integrado de Pragas (MIP), também chamado de Manejo Ecológico (ME), que preconiza a aplicação de produtos fitossanitários somente em caráter emergencial e de forma menos prejudicial aos inimigos naturais das pragas e ao ambiente (Gravena, 1990). Os principais métodos de controle que podem ser utilizados no MIP do cafeeiro são o cultural, o biológico e o químico (Moraes, 1998; Reis & Souza, 1998, Reis et al., 2002). Por definição, o controle cultural consiste no emprego de práticas agrícolas normalmente utilizadas no cultivo das plantas, visando ao controle das pragas, como por exemplo: destruição de cafezais velhos e improdutivos, alterações no espaçamento de plantio, realização de adubação orgânica, colheita bem feita e repasse, no caso da broca-do-café, etc. O controle biológico baseia-se na ação de inimigos naturais (predadores, parasitóides e entomopatógenos) sobre populações de pragas, contribuindo para a sua manutenção abaixo do nível de dano econômico. O controle químico é realizado por meio da utilização de substâncias químicas capazes de repelir e/ou intoxicar e/ou matar as pragas nos agroecossistemas. Neste trabalho serão apresentadas algumas medidas para preservar e até mesmo, incrementar a ação de inimigos naturais das pragas do cafeeiro. Segundo Reis et al. (2000), todos os esforços devem ser concentrados para o estabelecimento e manutenção do controle biológico no agroecossistema cafeeiro, o que contribui de forma sobremaneira para a prática do ME. IMPORTÂNCIA DE INIMIGOS NATURAIS NO CONTROLE DE PRAGAS DE CAFEEIRO Controle biológico do BMC Em estudos a respeito da ação de agentes de controle biológico sobre o bicho-mineiro-docafeeiro (BMC), observou-se eficiência no controle da praga da ordem de 69% por vespas predadoras (Tabela 1), 18% pelos parasitóides (Tabela 1) e, em proporção menor, pelos entomopatógenos, causando doenças nas lagartas (Souza, 1979; Reis et al., 2002). Tabela 1. Relação de espécies de vespas predadoras e de parasitóides do bicho-mineiro-do-cafeeiro. Vespas Predadoras (Hymenoptera: Vespidae) Brachygastra lecheguana (Latreille, 1824) Polistes versicolor (Olivier, 1791) Polybia scutellaris (White, 1841) Polybia paulista Ihering Protonectarina sylveirae Saussure, 1854 Protopolybia exigua Saussure Apoica pallens Fabricius Eumenes sp. Synoeca surinama cyanea (Fabricius, 1775) Brachygastra augusti St. Hil. Fonte: Adaptado de Reis et al. (2002). Parasitóides (Hymenoptera) Centidea striata (Rohwer, 1914) Cirropilus sp. Colastes letifer (Mann, 1872) Horismenus sp. Mirax sp. Orgillus niger (Haliday, 1833) Proacrias coffeae Ihering, 1913 Stiropius sp. Tetrastichus sp. Eulophus sp. RECOMENDANDO 31 As vespas predadoras de lagartas, também chamadas de marimbondos, perfuram as minas do BMC com suas mandíbulas, preferencialmente na face inferior das folhas. Ao localizarem a lagarta no interior da mina, puxam-na para fora, causando rasgaduras na epiderme da folha, que apresenta sinais típicos do ataque do predador (Figura 1) (Reis & Souza, 1983). Figura 1. Mina com sinais de ataque de vespa predadora na face inferior da folha. O predador Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) (Figuras 2 e 3), em sua fase larval, também tem ação predatória sobre pré-pupas e pupas do BMC, sendo mais um agente de controle biológico a ser preservado em agroecossistema cafeeiro (Silva et al., 2001; Ecole, 2003). Figura 2. Adulto de Chrysoperla externa. Figura 3. C. externa em fase jovem. Os parasitóides do BMC ovipositam em lagartas dentro das minas, onde suas larvas se desenvolvem, causando a morte da praga. Colaboram para a regulação populacional do BMC, entretanto, a sua verdadeira participação no controle é de difícil mensuração, visto que as vespas predadoras se alimentam também de lagartas do BMC parasitadas. Ainda, são listados na literatura, alguns microrganismos capazes de causar doenças em lagartas do BMC, como por exemplo, as bactérias Erwinia herbicola e Pseudomonas aeruginosa (Schroeter). Contudo, nota-se que esses agentes de controle biológico são menos conhecidos, passando, muitas vezes, despercebidos na cultura cafeeira (Reis et al., 2002). Controle biológico da broca-do-café Foram testados alguns agentes que apresentam características interessantes para o manejo desta praga. Dentre eles, cita-se a vespa-de-uganda Prorops nasuta Waterston, 1923 (Hymenoptera: Bethylidae). Esse inseto parasita larvas e preda adultos da broca-do-café. Entretanto, não houve sucesso no estabelecimento como agente eficiente de controle, devido à ausência de “sincronismo” entre a praga e o inimigo natural, já que, depois da colheita, a vespa se limita ao parasitismo/predação da broca alojada nos frutos pendentes, não atuando sobre os insetos de frutos sob a saia do cafeeiro. Este comportamento da vespa-de-uganda promove acentuada redução de sua população na lavoura cafeeira, sendo necessárias liberações periódicas para que o controle biológico seja eficiente (Moraes, 1998). Ainda existem outros microrganismos que podem ser utilizados no controle biológico dessa praga, como o fungo Beauveria bassiana (Bals.) (Figura 4) que necessita de condições de umidade relativa em torno de 90% (nem sempre encontrada em nossas condições) e Metarhizium anisopliae (Metsch.), promissor no controle da broca-do-café, desde que seja aplicado de forma correta e que as condições climáticas sejam favoráveis ao seu crescimento (Moraes, 1998; Reis & Souza, 1998). Referente às cigarras, Souza et al. (1983) constataram pela primeira vez, o fungo M. anisopliae infectando a espécie Q. gigas, em cafeeiros no Estado de Minas Gerais. Figura 4. Colonização da galeria da broca-docafé pelo fungo Beauveria bassiana. À direita, no canto superior, observa-se um adulto colonizado pelo entomopatógeno. 32 PRINCIPAIS MEDIDAS PARA PRESERVAÇÃO E INCREMENTO DA AÇÃO DE INIMIGOS NATURAIS DAS PRAGAS DE CAFEEIRO RECOMENDANDO citam-se maior retenção de água, melhor aeração, melhoria da fertilidade e aumento do número de microrganismos benéficos ao cafeeiro, presentes no solo. Tudo isto favorece o desenvolvimento de plantas vigorosas capazes de tolerar ao ataque de Dentre as medidas apresentadas por Gravena pragas. (1992) e Moraes (1998), citam-se algumas que são mais fáceis de serem implantadas na lavoura Utilização de produtos fitossanitários seletivos aos cafeeira: inimigos naturais Dentro da filosofia do MIP preconiza-se o uso Manutenção de matas próximas à lavoura de pesticidas somente quando todos os outros A presença de áreas de matas próximas às métodos (variedade resistente, cultural, físico, lavouras cafeeiras possibilita o estabelecimento de legislativo, biológico, comportamental etc.), não inimigos naturais, pois são usadas como fontes de apresentarem respostas satisfatórias na manutenção alimento e abrigo. O aumento da diversidade de do nível populacional da praga abaixo do nível de espécies vegetais próximas à lavoura cafeeira dano econômico. colabora para a manutenção do equilíbrio biológico. Como características do método químico Por exemplo, a conservação de vespas predadoras do citam-se: emergencial, temporário, oneroso e, acima BMC pode ser realizada com sucesso em áreas de de tudo, capaz de causar prejuízos ambientais matas nativas adjacentes ao cafezal, ao passo que, em irreversíveis, quando usado de forma incorreta. Mas, lavouras muito extensas e sem a presença de matas, se utilizado de forma correta, ou seja, o produto todos os ninhos presentes nas plantas de café sendo aplicado na dosagem recomendada pelo certamente serão destruídos, pois prejudicam a fabricante, com a tecnologia de aplicação requerida, execução de atividades na lavoura. observando-se condições de clima e baseando-se em amostragens nos talhões, o controle químico pode Manejo do mato na entrelinha contribuir para o sucesso do MIP, resultando no Essa tática baseia-se no manejo de plantas controle efetivo da praga em questão. presentes nas entrelinhas das plantas de café para Assim, deve-se realizar o monitoramento dos serem fornecedoras de pólen, néctar, presas talhões da propriedade, no sentido de se obter a alternativas para os predadores e parasitóides de dinâmica populacional da praga, e decidir o pragas, além, de promoverem áreas de refúgio e momento mais adequado para intervenção química. reprodução desses inimigos naturais. Recomenda-se Amostrando-se periodicamente as lavouras, pode-se que seja feita a roçagem do mato na entrelinha do calcular os índices populacionais das pragas e de seus café, evitando-se manter “totalmente no limpo”, inimigos naturais. contudo, sem que essa medida apresente riscos ao O uso de produtos seletivos é uma ferramenta cafeeiro. de grande valia no MIP, pois causa a morte das pragas e são inócuos ou pouco tóxicos aos seus inimigos Manejo do solo e adubação orgânica naturais, contribuindo para a manutenção de O manejo adequado das propriedades física e predadores, parasitóides e patógenos presentes no química do solo, o preparo bem feito, entre outros agroecossistema cafeeiro (Rigitano & Carvalho, cuidados, promove melhor estabelecimento das 2001). plantas, capazes de explorar melhor o solo, água e A seletividade pode ser fisiológica (inerente ao nutrientes disponíveis na solução do solo, refletindo produto) ou ecológica (quando o produto é aplicado em lavouras mais equilibradas e com maior de uma maneira que a praga fica mais exposta aos capacidade de tolerar ao ataque de pragas. Em plantas seus resíduos do que os inimigos naturais (Moraes, com desequilíbrios nutricionais ocorre acúmulo de 1998; Rigitano & Carvalho, 2001). Atualmente, radicais livres (açúcares e aminoácidos), que em existem produtos registrados para o controle do BMC muitos casos, servem de atrativos para as pragas, que são seletivos às vespas predadoras, como podendo ocorrer maior infestação da lavoura (Gallo exemplo, teflubenzuron e lufenuron (reguladores de et al., 2002). crescimento de insetos) (Moraes, 1998; Vallone et al, Ressalta-se que a adubação orgânica promove 2002). vários benefícios ao solo e às plantas. Dentre eles, A tecnologia de aplicação de alguns inseticidas RECOMENDANDO também pode ser fator de seletividade ecológica, como por exemplo, a utilização de defensivos agrícolas granulados de solo ou via líquida no colo da planta, de forma que não contamine diretamente a parte aérea evitando a morte de inimigos naturais. Contudo, deve-se salientar que os produtos nestas formas de aplicação são usados de forma preventiva, não levando em consideração valores de amostragens populacionais das pragas e, portanto, discordando dos princípios do MIP (Moraes, 1998). Utilização de substân ias atrativas aos inimigos naturais Gravena (1992) relatou que pulverização de substâncias atrativas e alimentares de inimigos naturais pode ser uma boa estratégia para o incremento do controle biológico na lavoura. Entretanto, num trabalho conduzido por Moraes et al. (2001), foi observado efeito tóxico às vespas predadoras e parasitóides quando se utilizou proteína hidrolisada (atraente para inimigos naturais) mais o inseticida cartap (visando ao controle do BMC). De acordo com estes autores, mais pesquisas nessa linha de trabalho devem ser realizadas e que o uso de iscas tóxicas requer cuidados. Avaliando o efeito de suplementos alimentares no aumento populacional de inimigos naturais do BMC, Ecole (2003) aplicou lêvedo de cerveja + mel (1:1) a 20%, melaço a 10% e proteína hidrolisada a 2% em plantas de café, e concluiu que esses suplementos alimentares apresentam potencial como tática de manejo para os inimigos naturais do BMC. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a importância econômica da cafeicultura para o país, é importante que mais pesquisas visando obter informações a respeito do manejo de pragas-chave desta cultura sejam incentivadas. Salienta-se que o uso contínuo de produtos fitossanitários de largo espectro de ação e longo poder residual, pode causar seleção de populações resistentes de pragas, comprometendo o MIP do cafeeiro. Desta forma, o incremento do controle biológico natural e outros métodos alternativos para o manejo das principais pragas da cultura cafeeira que causem menos desequilíbrios biológicos e menor impacto ambiental, devem merecer mais atenção por parte dos pesquisadores. Sugere-se, portanto, a realização de trabalhos envolvendo aplicação de suplementos alimentares 33 como atrativos aos inimigos naturais das pragas, o uso de feromônios sexuais sintéticos para monitoramento e controle de pragas, o uso de entomopatógenos tolerantes às condições climáticas normalmente encontradas nas regiões cafeeiras, a utilização de produtos sintéticos e naturais, seletivos aos inimigos naturais dos insetos-praga, dentre outros. LITERATURA RECOMENDADA CARVALHO, G.A. et al. Impacto de produtos fitossanitários sobre vespas predadoras e parasitóides e sua performance no controle do bicho-mineiro-docafeeiro Leucoptera coffeella (Guérin-Menèville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 28., 2002, Caxambu, MG. Anais... Rio de Janeiro: MAPA-SARC / PROCAFÉ, 2002. p.226-227. ECOLE. C.C. Dinâmica populacional de Leucoptera coffeella e seus inimigos naturais em lavouras adensadas de cafeeiro orgânico e convencional. 2003. 101 p. Tese (Doutorado em Entomologia) Universidade Federal de Lavras, Lavras. GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: Agronômica Ceres, 2002. 648p. GRAVENA, S. Manejo ecológico de pragas no pomar cítrico. Laranja, Cordeirópolis, v.11, n.1, p.205-225, 1990. GRAVENA, S. Controle biológico no manejo integrado de pragas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 27, p.281-299, 1992. MENDONÇA, J.M.A. de. Produtos naturais e sintéticos no controle de Leucoptera coffeella (Guérin-Menèville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) e o impacto sobre vespa predadora. 2004. 81p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) Universidade Federal de Lavras, Lavras. MORAES, J.C. et al. Efeito de atraentes alimentares no manejo do bichomineiro-do-cafeeiro Leucoptera coffeella (Guérin-Menèville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) e de seus inimigos naturais. In: SIMPÓSIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 7., 2001, Poços de Caldas. Resumos... Poços de Caldas. 2001. p.258, 1CD. MORAES, J.C. Pragas do cafeeiro: importância e métodos alternativos de controle.cLavras: UFLA/FAEPE, 1998. 45p. REIS, P.R.; SOUZA, J.C. de. Controle biológico do bicho mineiro das folhas do cafeeiro. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.9, n.109, p.16-20, 1983. REIS, P.R.; SOUZA, J.C. de. Manejo integrado das pragas do cafeeiro em Minas Gerais. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n.193, p.17-25. 1998. REIS, P.R.; SOUZA, J.C. de.; MELLES, C.C.A. Pragas do cafeeiro. Informe Agropecuário. Belo Horizonte, v.10, n.109, p.63-72, 1984. REIS, P.R.; SOUZA, J.C. de.; VENZON, M. Manejo das principais pragas do cafeeiro. Informe Agropecuário. Belo Horizonte, v.23, n.214/215, p.83-99, 2002. RIGITANO, R.L.O.; CARVALHO, G.A. Toxicologia e seletividade de inseticidas. Lavras: UFLA/FAEPE, 2001. 72p. SILVA, R.A. et al. Predação de ovos, larvas e pupas de bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Menèville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) por Chrysoperla externa (Hagen, 1841) (Neuroptera: Chrysopidae). In: SIMPÓSIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 7., 2001, Poços de Caldas. Resumos... Poços de Caldas, 2001. p.259, 1 CD. SOUZA, J.C. de. Levantamento, identificação e eficiência dos parasitos e predadores do “bicho-mineiro” das folhas do cafeeiro, Perileucoptera coffeella (Guérin-Menèville) no estado de Minas Gerais. 1979. 91p. Dissertação (Mestrado em Entomologia) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba. SOUZA, J.C.de; REIS, P.R.; MELLES. C. do C.A. Cigarras-do-cafeeiro: histórico, reconhecimento, biologia, prejuízos e controle. Belo Horizonte, EPAMIG, 1983. 27p. (Boletim Técnico: 5). SOUZA, J.C. de.; REIS, P.R. Bicho mineiro: biologia, danos e manejo integrado. Belo Horizonte: EPAMIG, 1992. 28p. (Boletim Técnico, 37). SOUZA, J.C. de.; REIS, P.R.; RIGITANO, R.L.O. Bicho mineiro do cafeeiro: biologia, danos e manejo integrado. Belo Horizonte: EPAMIG, 1998. 48p. (Boletim Técnico, 54). VALLONE, H.D. et al. Efeitos do inseticida fisiológico lufenuron no controle do bicho-mineiro Leucoptera coffeella (Guérin-Menèville & Perrottet, 1842) e no desenvolvimento inicial do cafeeiro. In: Congresso Brasileiro de RESUMINDO 34 Extratos de Revistas Científicas nacionais e estrangeiras. CONSIDERAÇÕES ECOLÓGICAS NA PRODUÇÃO DE CAFÉ COM E SEM SOMBRA: UMA REVISÃO. O trabalho apresenta uma revisão sobre os fatores ecofisiológicos limitantes para a produção de café arábica e robusta cultivados à sombra e a pleno sol. Salienta que embora estas duas espécies, as quais contribuem com quase a totalidade da produção mundial de café, foram originalmente consideradas plantas de sombra, embora lavouras a pleno sol possam produzir mais que lavouras sombreadas. Salienta, que, como regra geral, os benefícios do sombreamento aumentam quando o café é cultivado em ambientes menos favoráveis. A revisão enfatiza a bienalidade de produção e a seca de ramos, os quais são bastante reduzidos em condições de sombreamento, e as relações entre as trocas gasosas e fatores ambientais, bem como os aspectos fisiológicos de plantios adensados. (Da Matta, FM. Field Crops Research, 86:99-114. 2004).uez Moreno. In: Boletim Promecafé, nº 97, mar-jun/2003). PRODUTOS NATURAIS E SINTÉTICOS NO CONTROLE DE Leucoptera coffeella (Guérin-Menèville & Perrotett, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) E O IMPACTO SOBRE VESPA PREDADORA. Objetivou-se neste trabalho, avaliar o desempenho de produtos naturais e sintéticos no controle de BMC e o impacto sobre a vespa predadora Polybia scutellaris (White, 1841) (Hymenoptera: Vespidae). Foram instalados bioensaios em laboratório visando avaliar a toxicidade dos produtos naturais extrato pirolenhoso (2%, 4%, 8% e 16%) e azadiractina (0,25%, 0,5%, 0,75% e 1%) e dos inseticidas lambdacyhalothrin (0,01 mg i.a./mL) e ethion (1,5 mg i.a./mL) sobre lagartas do BMC e adultos de vespa. Em lavoura da cultivar Catuaí Vermelho, simultaneamente, foi instalado experimento em aproximadamente 1,2 ha, onde foram aplicados os mesmos produtos e doses utilizados em laboratório, com o objetivo de se avaliar a influência dos compostos sobre a dinâmico populacional da praga e de seus inimigos naturais. Tanto em condições laboratoriais quanto em campo, os produtos naturais não interferiram sobre a praga e seu inimigo natural. Ethion foi altamente tóxico em condições laboratoriais, tanto à praga quanto á vespa predadora. Em condições de campo, ethion apresentou baixo efeito residual, possibilitando o restabelecimento da praga, enquanto o inseticida lambdacyhalothrin foi efeiciente no controle do BMC, não demonstrando qualquer efeito inibitório sobre a atuação das vespas predadoras. (Mendonça, J.M.A. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG. 81p., 2004). NUTRIÇÃO DO CAFEEIRO ARÁBICA EM FUNÇÃO DA DENSIDADE DE PLANTAS E DA FERTILIZAÇÃO COM NPK. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do cafeeiro arábica à aplicação de N (100, 300, 500 e 700 kg/ha de N), P (0, 60, 120 e 180 kg/ha de P2O5) e K (100, 300, 500 e 700 kg/ha de K2O), cultivados em diferentes densidades de plantio (3.333, 5.000, 10.000 e 20.000 plantas por hectare). Com base em informações obtidas em cinco produções, não foram observadas diferenças significativas de produtividade em função da densidade de plantas. A resposta em produtividade do café arábica às doses de N, P e K foi variável nos diversos espaçamentos, com maior freqüência de resultados positivos para N e P e menos expressivos para K. Os teores foliares de N e P foram pouco influenciados pelas doses de N e P2O5. Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O. Cafeeiros submetidos ao sistema de cultivo adensado apresentaram maiores teores foliares de P e K, quando comparados àqueles cultivados em espaçamento largo. Os solos sob cultivo adensado, quando comparados a solos sob cultivos mais largos, apresentaram variações em suas características químicas, sendo mais evidente a redução do teor de H + Al. (L.C. Prezotti, A.C.Rocha, Bragantia, 63(2):239251. 2004). RESUMINDO 35 CARACTERIZAÇÃO DE CULTIVARES DE UTILIZAÇÃO DE DESCRITORES MÍNIMOS. A espécie Coffea arabica apresenta base genética estreita sendo as cultivares bastante aparentadas e originárias, em sua maioria, das tradicionais cultivares Típica e Bourbon. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar a eficiência de descritores mínimos na caracterização de cultivares de cafeeiros e como diferenciadores entre cultivares a serem submetidas ao processo de proteção de cultivares no Brasil. Foram avaliadas trinta e oito características botânicas ou tecnológicas das plantas, folhas, flores, frutos, sementes, assim como três características agronômicas. Os resultados evidenciaram que apenas COFFEA ARABICA MEDIANTE com a utilização das características porte, cor do fruto, resistência ao agente da ferrugem e ciclo de maturação é possível obter uma discriminação eficiente dos diferentes grupos de cultivares avaliados. A cor da folhas jovens e o diâmetro da copa revelaram-se importantes descritores na discriminação de cultivares do grupo Mundo Novo. Não foi possível, porém, identificar descritores eficientes na discriminação das cultivares Catuaí Vermelho, Catuaí amarelo e Icatu Vermelho. (A.T.E. Agruiar, O. Guerreiro-Filho, M.P. Maluf, et. al. Bragantia, 63(2):179-182. 2004. EFEITOS DE RESTOS CULTURAIS DE MILHO SOBRE O CRESCIMENTO DE PLANTAS DE CAFEEIRO (Coffea arabica L.). Com esta pesquisa, visou-se testar o efeito de restos culturais da parte aérea de três cultivares de milho sobre o crescimento de cafeeiro cv. Rubi, em condições de casa-de-vegetação, na Universidade Federal de Lavras, Lavras Minas Gerais. Os tratamentos foram constituídos de 0, 2, 4 e 8 t/ha de palhada de milho (cv. AG1051, C333 e C435), incorporada ou em cobertura, em vasos de 8 L de capacidade preenchidos com solo. Avaliaram-se a área foliar, altura e diâmetro de caule das plantas de café aos 60, 120 e 180 dias após o plantio (DAP), o teor de clorofila aos 170 DAP e a biomassa seca de raízes aos 180 DAP. A palhada de milho incorporada ao solo causou redução de área foliar, na altura e no diâmetro de caule até os 60 DAP. A palhada da cultivar AG1051 ocasionou maiores efeitos negativos sobre o crescimento das plantas de cafeeiro, quando incorporada. O uso de palhada de milho em cobertura promoveu aumento de todas as características avaliadas, como exceção do teor de clorofila. A palhada da cultivar C435 em cobertura do solo foi a que mais estimulou o crescimento das plantas. (C.C. Santos, I.F. Souza, L.W.R. Alves, Ciência e Agrotecnologia. 27(5)991-1001. 2003). CONTROLE DE Brevipalpus phoensis (Geijskes, 1939) E Oligonychus ilicis (McGregor, 1917) (Acari: Tenuipalpidae, Tetranychidae) EM CAFEEIRO E IMPACTO SOBRE ÁCAROS BENÉFICOS. I - ABAMECTIN E EMAMECTIN. O ácaro B. phoensis é importante em cafeeiro (Coffea spp.), por ser o vetor do vírus da mancha-anular, responsável por queda de folhas e má qualidade da bebida de café, e o ácaro-vermelho, O. ilicis, por reduzir a área foliar de fotossíntese. Alguns ácaros da família Phytoseiidae são eficientes predadores associados aos ácaros-praga. Este trabalho teve como objetivo estudar o controle dos ácaros-praga e o impacto do abamectin e emamectin sobre os fitoseídeos. Em laboratório, foram estudados os efeitos ovicida, tópico, residual, tópico mais residual sobre ácaros-praga e a seletividade fisiológica aos fitoseídeos. Em semicampo, foi estudada a persistência dos produtos no controle dos ácarospraga. Verificou-se que abamectin e emamectin não possuem ação ovicida, para ambas as espécies de ácaros-praga estudadas. Considerando o efeito tópico mais residual, o abamectin e emamectin foram altamente efeicientes no controle de larvas, ninfas e adultos de B. phoensis; apenas abamectin foi eficiente no controle de O. ilicis. Abamectin foi levemente a moderadamente nocivo e emamectin mostrou-se inócuo a levemente nocivo aos fitoseídeos. Devido à eficiência de controle e seletividade a fitoseídeos, conclui-se que abamectin e emamectin podem ser utilizados em programas de manejo integrado do ácaro B. phoensis, e abamectin para o manejo de B. phoensis e O. Ilicis. (P.R. Reis, M. Pedro Neto, R.A. Franco, A.V. Teodoro. Ciência e Agrotecnologia. .28(2):271-283. 2004). PANORAMA 36 INTENSA DESFOLHA NOS CAFEEIROS As lavouras de café vem apresentando, neste ano, no período de pré e pós-colheita, uma desfolha severa das plantas, deixando produtores e técnicos abismados diante do mau aspecto dos cafezais. Como se diz, vulgarmente, as lavouras estão ficando “no pau”, ou seja, só se vê, ao longe, a galharia, depois das plantas perderem, quase que completamente, as folhas. Quais são as causas dessa desfolha anormal? É a pergunta freqüente. A resposta é baseada no que se conhece, analisando o que vem acontecendo, relativamente ao clima e ao trato dos cafezais. O clima se apresentou mais úmido no inverno, facilitando a ocorrência de doenças secundárias, como a phoma/ascochyta e a ferrugem tardia, que causam desfolha. Os tratos tem sido menores, devido à crise de preços do café. O nível de adubação nas lavouras foi reduzido. O excesso de chuvas, principalmente no inicio do ano, agravou essa situação de baixa nutrição, pois provocou a lavagem (lixiviação) dos adubos do solo. Com isso as plantas ficaram mais fracas e sujeitas à cercosporiose, outra causa da desfolha. O abaixamento da temperatura à noite, alternado com tempo quente durante o dia, na forma de um choque térmico, pode, também, ser uma causa paralela de desfolha. Em resumo, pode-se dizer que plantas fracas, clima frio e úmido, favorecendo o ataque de doenças tem sido os responsáveis pelo mau aspecto dos cafezais, situação que ocorre mesmo em talhões que produziram menos nesta safra. NOVA PUBLICAÇÃO FACILITA A IRRIGAÇÃO NA CAFEICULTURA FAMILIAR. CONVÊNIO MAPA/FUNDAÇÃO PROCAFÉ APÓIA A TECNOLOGIA CAFEEIRA. O livro “utilização da aspersão em malha na cafeicultura familiar”, dos professores André Fernandes e L. C. Dias Drumond, da UNIUBE, recentemente lançado, traz informações completas sobre as condições técnicas e econômicas para facilitar a irrigação em pequenos projetos. Trata-se de uma tecnologia simples, que pode ser montada e operada pelo cafeicultor familiar, muito adequada a sistemas de plantio de café adensados, ou, então, em cultivos combinados no cafezal, com bom aproveitamento das áreas e da água. Sua apresentação, clara no texto e bem ilustrada, vai tornar o uso do sistema bastante acessível aos técnicos da AT, de modo a permitir sua introdução em novas áreas de cafeicultura Para obter a publicação, na UNIUBE, pelo tel.: (34) 33198964 ou e-mail: [email protected] Foi aprovado um novo convênio entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e a Fundação PROCAFÉ, para o programa de desenvolvimento de tecnologia cafeeira na região de abrangência da Fundação, o Sul de Minas e regiões vizinhas. Com isso os trabalhos de pesquisa e de difusão de tecnologia poderão ser ampliados, na Fazenda Experimental de Varginha e nos campos em colaboração. Os recursos destinados ao programa são de R$ 280 mil, para a manutenção de atividades por um ano. Eles representam a primeira injeção de verba pública, vinda do MAPA, para a ativação dos projetos da Fundação PROCAFÉ, em apoio à cafeicultura regional. PANORAMA 37 TIRO NO PÉ DOS COLHEDORES. A colheita de café é, tradicionalmente, uma atividade altamente empregadora de mão-de-obra, aproveitando todo tipo de trabalhador, das fazendas ou das cidades, homens e mulheres. Diante de uma estimativa de gasto de cerca de 50 homens/dia por ha de lavoura, para sua colheita, e de um período médio de trabalho de 60 dias nessa operação, a cada ano, pode-se calcular que, para a área cafeeira no Brasil, de 2,4 milhões de hectares, seriam empregado cerca de 2 milhões de trabalhadores. A colheita de café é um serviço braçal leve, que exige menor esforço, por isso podendo ser feita por mulheres e por trabalhadores com pouca força, dando oportunidade a pessoas que não trabalham regularmente. Ocorre que a mão-de-obra vem se tornando onerosa, pelo seu elevado custo social e exigências paralelas da legislação trabalhista, muitas delas difíceis de serem atendidas, especialmente diante da crise atual de preços baixos do café. Em boa parte por isso, visando reduzir custos, tem-se observado um rápido crescimento no uso de maquinário na colheita de café, onde é viável a mecanização, seja com colheitadeiras automotrizes, com derriçadeiras (tratorizadas ou costais), recolhedores de café do chão etc. Com varias passadas de colheitadeiras e com as recolhedoras de café do chão tem sido possível a eliminação do repasse manual. Com isso, uma equipe de cerca de 20 trabalhadores equipados pode dar conta da colheita em cerca de 200 hectares de café em uma fazenda, quando ali seriam necessários de 200 a 300 colhedores. É preciso adequar a legislação para favorecer a ambas as partes envolvidas no emprego. Do jeito que está pode acontecer, em escala crescente, a substituição dos trabalhadores que, assim, receberão o efeito contrário pretendido pela lei, como se diz vulgarmente “um verdadeiro tiro no pé” do trabalhador. MAIS UM DIA-DE-CAMPO EM VARGINHA. No dia 08 de junho/04 foi realizado, neste ano agrícola, um segundo dia-de-campo na Faz. Exp. da Fundação Procafé, em Varginha. O evento contou com a presença de 350 participantes, técnicos e cafeicultores, dos vários municípios da região Sul e Oeste de Minas, que vieram conhecer novas técnicas de manejo da lavoura cafeeira. As estações de campo enfocaram: poda, sistema radicular do cafeeiro, controle da ferrugem e outras doenças e pragas, e levantamento e discussão dos problemas atuais da lavoura (desfolhas). O dia-de-campo foi, novamente, um sucesso de participação, pelo grande número de interessados e pela sua qualidade, como técnicos recomendantes e cafeicultores líderes. O evento teve a importante colaboração da Bayer Crop Science, através da regional de Belo Horizonte, que apoiou nas facilidades de locomoção do pessoal e ofereceu um almoço a todos no final da programação. 38 ANÁLISE EXISTE RESISTÊNCIA DA FERRUGEM DO CAFEEIRO AOS FUNGICIDAS. Responder, com certeza, à questão se já existe resistência do fungo causador da ferrugem do cafeeiro aos fungicidas que vem sendo utilizados é impossível, pois não se dispõe de trabalhos específicos de pesquisa visando essa determinação. O que se pode ver na prática, entretanto, são alguns produtos fungicidas que não vem apresentando a mesma eficiência de anos passados, levando à hipótese da ocorrência de resistência. É preciso efetuar pesquisas para avaliar o nível de resistência existente, e, ao mesmo tempo, usar combinações de ativos no controle da ferrugem, como já vem sendo feito em certos casos, devendo essa recomendação ser ampliada, até por precaução. Fungicidas e seus mecanismos Os fungicidas usados no controle da ferrugem do cafeeiro foram inicialmente (a partir de 1970) produtos a base de cobre, até hoje utilizados, seguindo-se a introdução e uso extensivo dos fungicidas sistêmicos Triazois (a partir de 1985), com produtos a base de Triadimefon, Triadimenol, Tebuconazole, Cyproconazole, Propiconazole, Hexaconazole, Tetraconazole e Flutriafol. Mais recentemente foram lançados produtos do grupo das estrubirulinas. Os fungicidas cúpricos agem na ligação das proteínas do fungo, impedindo o crescimento do tubo germinativo dos esporos e, assim, protegendo as folhas da entrada do patógeno. Os fungicidas Triazois atuam na síntese do ergosterol do fungo e funcionam como protetivos e curativos, devido à sua ação sistêmica. Os fungicidas à base de estrubirulinas atuam na respiração mitocondrial, possuindo efeito protetivo/curativo, com ação mesostemica. Para os fungicidas cúpricos não se conhece história de resistência dos fungos. Para os Triazois já ocorre resistência para fungos de ferrugens de alguns cereais. Para estrubirulinas, igualmente, já existe citação de resistência em outras doenças. Raças de ferrugem Os fungos causadores das ferrugens apresentam, normalmente, muitas raças fisiológicas. Para o caso de H. vastatrix, causador da ferrugem do cafeeiro, são conhecidas mais de 50 raças, que são importantes para a seleção de variedades de café com resistência. No Brasil, apesar de não existir um trabalho sistemático de pesquisa de novas raças, já foi constatada a ocorrência de 13 - 15 diferentes raças de H. vastatrix. Na India tem-se notícia da ocorrência de ANÁLISE 39 novas raças, que vem superando a resistência apresentada pelo Híbrido de Timor, um material genético de café até então imune a todas as raças. Muitas variedades de cafeeiros no Brasil, desenvolvidas ultimamente, que apresentavam bom nível de resistência, estão, atualmente, com maior nível de ataque de ferrugem. Embora não exista uma relação direta entre o aparecimento de uma nova raça de ferrugem, que quebre a resistência de determinado material genético, e o seu comportamento em relação à resistência a fungicidas, já que se tratam de mecanismos diferentes, deve-se prestar atenção a esse fato, pois aparecem indícios de que está havendo uma certa pressão de seleção, seja pelo uso de material genético resistente, seja pelo uso continuado de um grupo de fungicidas. ferrugem do cafeeiro, em ensaios e em aplicações comerciais, mostram que a eficiência de alguns produtos triazóis via solo ocorria inicialmente com doses em torno de 30kg/ha, que, em seguida, foram sendo elevadas, até atingir 60-80 kg/ha atualmente. O controle obtido com esses produtos ocorria com uma eficiência de praticamente 100%, hoje em dia esse nível de eficiência diminuiu bastante. Bons resultados de controle são obtidos nos últimos anos com formulações de triazois com estrubirulina ou com associações do controle via solo com a via foliar, com ativos diferenciados. Tudo leva a crer, portanto, que no controle praticado com triazóis vem ocorrendo uma seleção de fungos tolerantes, cuja infecção aumenta na medida em que aqueles susceptíveis são controlados. É preciso, com toda prioridade, efetuar trabalhos específicos de pesquisa voltados para Observações práticas determinação de resistência de H.vastatrix a As observações da evolução do controle à fungicidas utilizados em seu controle. COMO É FEITA A ESTIMATIVA DA SAFRA BRASILEIRA DE CAFÉ: CIÊNCIA OU ADIVINHAÇÃO. Falar sobre a importância do conhecimento dos principais indicadores da produção cafeeira, a dimensão do parque e as safras é chover no molhado. Todos sabem que o volume da safra de café no Brasil afeta, diretamente, a oferta mundial do produto, com reflexos nos preços internacionais e, por conseguinte influi na rentabilidade para nossos produtores. Um bom trabalho de estimativa de safra é desejável pois traria mais clareza ao mercado, beneficiando, também, o comércio, a indústria, e o próprio consumidor, enfim toda a cadeia do café. Mas, como são feitas hoje em dia, nossas estimativas, apesar das melhorias em curso, deixam muitas dúvidas, pela falta de uma metodologia adequada, dando espaço para uma série de estimativas paralelas, que mais parecem um exercício de futurologia, quase uma adivinhação do que irá ocorrer. TIPOS DE ESTIMATIVA Diante dos trabalhos técnicos e das experiências realizadas na previsão de safras de café no Brasil pode-se agrupar 2 tipos de estimativa: a objetiva e a subjetiva. A metodologia objetiva obtém as informações “ i n l o c o ” , j u n t o a o p r o d u t o r, e m s u a propriedade,avaliando os dados sobre a área cafeeira existente, sua produtividade e a safra prevista a colher, ou já colhida. Em seguida, esses números são 40 expandidos, obedecendo à sua representatividade na amostragem, para, em conjunto com os outros produtores pesquisados, chegar-se à produção regional e daí para a estadual e do país. O plano de amostragem nessa metodologia deve ser elaborado com processos estatísticos, para uma boa representatividade do universo, para reduzir o coeficiente de variação e a margem de erros. Para isso é necessário, previamente, ter em mãos o universo dos produtores ou das áreas de café a serem avaliadas pela amostragem. No passado, na época do IBC, a amostragem era efetuada sobre as áreas de café já avaliadas com o uso de fotografias aéreas comuns (escala de 1: 25.000) como base de amostragem. Os pontos amostrais eram sorteados e, em seguida, um técnico conhecedor da região e de café, ia às propriedades para levantar os dados, que depois, de forma centralizada, eram apurados conforme o plano estatístico. A estimativa subjetiva, avalia, como o nome indica, de forma subjetiva, as opiniões de alguns componentes da produção cafeeira. O pesquisador vai à região produtora e pergunta a produtores, cooperativas, comerciantes e técnicos, sobre opiniões de como deverá ocorrer a ANÁLISE safra, e, depois, calcula uma média de opiniões. Não tem, portanto, uma metodologia científica. MÉTODOS EMPREGADOS PELAS VARIAS PESQUISAS Pelas informações disponíveis pode-se catalogar os trabalhos de previsões de safra no Brasil, assim: USDA - Pesquisa subjetiva, com pessoas visitando as regiões e obtendo informações sobre estado das lavouras e expectativas de produção. Empresas de comércio - Tristão, Unicafé e outras - mesmo sistema subjetivo, usando pessoas experientes, com visita às áreas produtoras. CONAB - Atualmente responsável pela pesquisa de safra oficial do MAPA (em convênio). Usa sistemas diferentes de acordo com cada área produtora. No Paraná e em São Paulo obtem dados dos órgãos ligados às Secretarias de Agricultura (DERAL ,IEA,CATI), os quais se valem de amostras estatísticas sobre fotos aéreas e sobre cadastro de produtores. Existem dúvidas quanto ao plano de amostras, que ao abranger todas as culturas, ANÁLISE propriedades amostradas em São Paulo variam a cada ano, o que é prejudicial à estimativa da safra cafeeira, onde a variação de produtividade, em anos seguidos, é muito importante na definição dos resultados. No Espírito Santo os dados são obtidos junto à INCAERP, que usa amostra de propriedades, porem o universo inicial é desconhecido. Na Bahia e Rondônia a metodologia é semelhante, porem é complementada com informações subjetivas, obtidas junto a Associações de produtores. Nos estados pequenos produtores, como Mato Grosso, Goiás, Pará, Acre, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará, lança-se mão de informações do IBGE e outras subjetivas. Por ultimo, porem não menos importante, vem Minas Gerais, responsável por cerca de 50% da produção cafeeira. Nesse Estado é utilizado um misto de estatística com subjetividade. Parte-se de uma informação do IBGE, que dá, saiba Deus com que precisão, a produção em cada município. Sobre essas unidades municipais é lançado um plano de amostragem, sendo sorteados alguns. Esses recebem visitas que procuram, com informantes, saber qual será a safra naquele ano, naquele município. Os dados obtidos são, então, expandidos para chegar ao total regional e no Estado. Como se pode ver, existem deficiências nas metodologias de estimativa, devido à falta de informações básicas, desconhecendose o universo, ou seja a área cafeeira efetiva e os produtores, e, ainda, reluta-se em empregar métodos de pesquisa objetiva, a mais adequada. NOVAS METODOLOGIAS As novas metodologias hoje disponíveis poderão ser empregadas futuramente, consistindo em usar foto de satélite como base de amostragem, com trabalho complementar de levantamento em campo, junto aos pontos nas propriedades. Esta metodologia levaria a informações bastante precisas, porém 41 exige tempo e recursos significativos. É preciso adquirir as fotos e efetuar trabalho de campo para restituição e interpretação correta de imagens, sendo que em algumas áreas (montanhosas e pequenas) existe grande margem de erro de geoprocessamento. A CONAB está recebendo recursos para implantar essa nova metodologia. Vamos esperar que, no mais curto prazo, possamos contar com informações mais precisas, capazes de orientar tanto as autoridades responsáveis pelas políticas cafeeiras como os vários segmentos do setor, em suas tomadas de decisão. CAUTELA NÃO FAZ MAL A NINGUÉM Enquanto não se tem estimativas melhores resta prestarmos atenção a uma coisa: divulgar resultados de pesquisas sem base é contra a lei, pois uma pesquisa estatística, como o nome indica, precisa ter a chancela de um profissional habilitado, no caso um estatístico ou equivalente, conforme norma do IBGE. Veja o caso das pesquisas eleitorais, que envolvem intenções que podem influenciar os resultados das eleições. Veja, igualmente, uma previsão de safra de café superestimada, como pode derrubar o mercado e causar prejuízo a milhares de pessoas e ao próprio país. ENTREVISTA 42 JOSÉ EDGARD: MOTIVADOR DO COOPERATIVISMO José Edgard Pinto Paiva, Eng. Agrônomo, Cafeicultor, Cooperativista de primeira hora, sempre buscou soluções de consenso em seu trabalho junto à assistência técnica à cafeicultura no Sul de Minas. José Edgard Pinto Paiva, Engenheiro Agrônomo, formado pela UFLA em 1965, tem em seu “curriculum” uma enorme contribuição prestada à cafeicultura, nesses últimos 38 anos em que está ligado, de corpo e alma, ao café. Entrou para o IBC-GERCA em 1966 trabalhando no Programa de Erradicação. Já a partir de 1968, começou seu trabalho em prol da cafeicultura no Sul de Minas. Foi chefe da Divisão Regional de Assistência à Cafeicultura do IBC por 20 anos. Nesse período ajudou a criar a Fazenda Experimental de Varginha (em 1976) e dirigiu uma equipe de 40 Engenheiros Agrônomos e 32 Técnicos Agrícolas distribuída em 22 Escritórios de Assistência Técnica na região do Sul de Minas (240 municípios), responsável por passar uma safra de 1.000.000 de sacas em 1970 para 7.500.000 em 1990. Sempre foi um chefe motivador e conciliador, usando suas palavras, calmas e sensatas, como instrumento de convencimento, contornando os problemas e buscando, sempre, progredir com soluções concordadas. Esse seu jeito de mineiro, com veia política, o levou, até a se candidatar, no passado, para a Prefeitura de Varginha, coisa que atualmente renunciou. Seu espírito associativista esteve presente em toda sua carreira e até hoje persiste, mesmo após sua aposentadoria do Serviço Público, em 2001. Ajudou a criar em 1985, a COCCAMIG - Cooperativa Central de Cafeicultores de Minas Gerais, que congrega 25 cooperativas, da qual é seu atual presidente. Com as mesmas idéias ajudou a criar e preside a Fundação Procafé, instrumento para execução de programas de tecnologia cafeeira em benefício dos cafeicultores. Vamos ver as opiniões do colega José Edgard. Revista Coffea: Você, que motiva tanta gente, qual é sua motivação para isso? Existem razões que a própria razão desconhece, mas a motivação fundamental é fazer o que gostamos desprovidos de outras intenções que não sejam as de trabalhamos com honestidade e despreendimento, procurando sempre fazer o melhor. Revista Coffea: Quais os conceitos e as vantagens que vê na estruturação das cooperativas de produtores? O conceito fundamental do movimento cooperativista como um todo é o da “UNIÃO”. As vantagens são inúmeras, mais os fundamentos são: Igualdade, representatividade; compras em comum; vendas em comum; etc. Revista Coffea: Com sua larga vivência no café, como cafeicultor, técnico e dirigente, o que falta para um maior apoio à cafeicultura? Falta à cafeicultura independência e planejamento. O básico para a cafeicultura de hoje, que são os recursos oriundos do FUNCAFÉ, deveriam ser ampliados com outros do próprio setor e, no conjunto, a administração deveria ser feita também pelo setor. Revista Coffea: Como você vê a assistência técnica atual ao produtor no Sul de Minas? ENTREVISTA É preciso um programa de racionalização e aperfeiçoamento de soluções, especialmente para 3 áreas: Formação de mudas com qualidade; novos plantios, de lavouras racionais; e para uso correto de adubos, defensivos, máquinas e equipamentos. A atuação poderia ser atrelada a um “Programas de Custeio Agrícola” onde o produtor tem assistência técnica e financiamentos, com isso haveria ganhos significativos na introdução de novas tecnologias bem como na aplicação mais correta dos insumos com aumento da produtividade. Numa 3ª fase é importante um Programa de Fomento Tecnológico, no qual a Assistência Técnica é levada mediante uma prestação de serviços. Atualmente a assistência técnica é feita quase que somente através de diversas entidades cooperativas, com menor atuação da EMATER, Empresas, Universidades e consultores. Perde-se, com isso, uma unidade de planejamento e orientação uniforme e fica-se distante do objetivo fundamental da A.T. que é atingir o Homem e à sua família, como um todo, e no nosso caso específico, o cafeicultor. Revista Coffea: Em sua opinião como deve ser feito o desenvolvimento e a difusão de tecnologia cafeeira? Existem diversas maneiras de se fazer difusão ou seja através: de assistência individual; palestras; encontros; reuniões; dias de campo; vídeos e televisão. A melhor forma de difusão é a individual, que se torna impossível devido ao enorme número de produtores existentes e o de maior alcance é a televisão. No entanto, dentro de cada situação. Mais importante é o conteúdo da difusão, que tem que ser a mais correta e objetiva possível, de preferência através de pesquisa já testada na região. Revista Coffea: Qual o futuro ou as tendências de mudança na lavoura cafeeira? Esta assistência atual possui vantagens e desvantagens, mas perde muito na pulverização de idéias e interesses o quanto no nosso entender seria muito importante que a assistência fosse prestada com uma sintonia total de: Pesquisa, crédito e assistência técnica. A cafeicultura vem passado por uma transformação muito grande desde o plantio até a comercialização. As principais transformações no nosso entender são os seguintes: 1. Produção Econômica Antecipada - com o 43 aumento de alguns produtos que são aplicados no viveiro e no plantio conseguimos reduzir em 1 ano a produção no cafeeiro que passou a produzir economicamente à partir do 2º ano. 2. Adensamento - com o desenvolvimento da pesquisa ficou claro para todos os produtores que o stand ideal para se plantar café, dependendo de cada propriedade, é de 5.000 a 10.000 plantas por hectare. 3. Irrigação - com as mudanças climáticas ocorridas nos últimos anos a irrigação passou ser um instrumento fundamental na produção e produtividade cafeeira. 4. Mecanização - com as exigências cada vez maiores do governo e dos trabalhadores rurais a mecanização passou a ser fundamental para sobrevivência na cafeicultura. Neste aspecto a mecanização da colheita que era o grande gargalo da cafeicultura, passa por grandes transformações tanto nas áreas planas como nas montanhosas e, em breve, ela será dominante e terá poucos problemas. Precisamos, como na indústria, sistematizar as atividades e melhorar e baratear o custos das máquinas. Outra idéia que deverá sofrer uma grande transformação é a do preparo do café, que devido às exigências cada vez maiores dos consumidores, deverá se adequar a esta nova realidade. 5.Transporte - os produtores bem como as cooperativas e empresas de comercialização interna do produto, também nesta década, deverão passar por uma intensa transformação. O café deverá ser comercializado como milho, soja e etc à granel, em Big Bag, sendo depositados em silos. 6. Comercialização - cada vez mais no mundo, tanto na área de comercialização de insumos como na de grãos, existe uma intensa concentração de empresas, que deixa cada vez mais vulnerável o setor produtivo. A única forma de se contrapor a esta tendência é a união dos produtores em cooperativas que também deverão passar por uma intensa transformação de custos, entendendo-se elas deverão trabalhar quase como “empresas virtuais” , com uma central que deveria fazer parte comercial de insumos e grãos atuando tanto na importação, exportação e comercialização interna. 7. Conclusão - só permanecerão no mercado os produtores e empresas que trabalharem no mercado com qualidade, freqüência e preços competitivos. 44 PRODUTOS E EQUIPAMENTOS NOVAS FORMULAÇÕES DE FUNGICIDAS CÚPRICOS Os fungicidas à base de cobre são os fungicidas mais antigos, os primeiros que foram usados no controle de doenças na época, com a utilização da calda bordaleza, em vinhedos na Europa. Para a cultura do café o uso desses produtos teve inicio com a constatação da ferrugem, em 1970, sendo bastante empregados, pois controlam também outras doenças, como a cercosporiose, e tem efeito tônico-nutricional anti-etileno, reduzindo as desfolhas do cafeeiro. Alem disso são de menor custo e, até o momento, não tem aparecido resistência dos fungos a eles. Existem várias formulações de fungicidas à base de cobre, sempre com a característica de liberação gradual desse metal, essencial para seu funcionamento. A calda bordaleza (complexo de sulfato de cobre e cal), sulfato tribásico de cobre, oxi-cloreto de cobre, óxido cuproso e hidróxido de cobre são os mais comuns. Duas novas marcas ou formulações à base de hidróxido de cobre entraram no mercado recentemente, o produto Garra, da Empresa Oxiquimica, e o Kocide, da Dupont. Ambas tem conteúdo de 45% de cobre metálico e são indicadas para controle de ferrugem, em doses entre 1,7 e 2,3kg/ha. SISTEMAS MECANIZADOS PARA APLICAÇÃO DE FORMULAÇÕES / FUNGICIDAS, VIA LÍQUIDA, NO SOLO. As aplicações de fungicidas (Triazóis), inseticidas (neonicotinóides) ou formulações mistas (inseticida/fungicida) vinham sendo utilizadas nas lavouras cafeeiras sob a forma de produto granulado, através de granuladeira tratorizada ou de matraca (manual). Nos últimos anos foram desenvolvidos dispositivos para uso desses produtos via líquida, no solo. Para aplicações manuais foram disponibilizados a matraca-liquida e lanças especiais para adaptação no pulverizador costal manual. Agora dois sistemas foram adaptados para uso de via liquida em equipamentos tratorizados. O 1º sistema usa a própria estrutura da granuladeira, substituindo o depósito de grânulos por um tanque (200-300L). Uma pequena bomba elétrica, ligada à bateria do trator, bombeia esse liquido, que vai, por uma pequena mangueira, até o terminal com um bico leque, adaptado localmente ou a Empresa MECMAQ ,de Piracicaba-SP (home: www.mecmaq.com.br ) fornece o kit completo. O 2º sistema está sendo promovido pela Empresa Syngenta. Ele consta da adaptação de um braço lateral no aplicador de herbicidas PH400 ou então fixada na própria estrutura (no meio) do trator. O liquido sai por um bico com boa pressão, que distribui em um filete contínuo próximo ao tronco do cafeeiro, nesse caso com uma só passada por linha de cafeeiro O sistema liquido oferece algumas vantagens como a) aplicação mais precisa; b) com maior rendimento operacional; c) pode-se aplicar em dias úmidos ou em solo secos e não depende de retirada de folhas do chão. DESENVOLVENDO E DIFUNDINDO A TECNOLOGIA CAFEEIRA No princípio foi apenas uma idéia, que aos poucos foi se fortalecendo e cumprindo seu papel de reunir e divulgar os resultados das pesquisas em café, juntando os técnicos de desenvolvimento, aqueles de difusão e os produtores, visando a melhoria da cafeicultura. Valeu a pena chegar aqui. Vale, também, continuar. Reunindo os 29 congressos anteriores foram divulgados 4876 trabalhos, versando sobre as principais áreas de estudo da cultura cafeeira. Esses trabalhos foram básicos para a renovação de cafezais e com avanços significativos. Novos sistemas de plantio, variedades, práticas de manejo e preparo do café estão disponíveis, com a necessária segurança. Novas regiões cafeeiras foram abertas e consolidadas. Outras estão em desenvolvimento. Tudo isso, em grande parte, é fruto da massa de conhecimentos e de experiências dos técnicos ligados à pesquisa e à AT. Também tem sido muito importante a contribuição dos cafeicultores, com a sua capacidade de inovar. O Congresso começou em plena crise, motivada pela constatação da ferrugem do cafeeiro, no início da década de 1970. A safra de café no Brasil, naquela época, era de apenas 22 milhões de sacas. Enfrentamos esse problema e outros, como a geada de 1975 e chegamos a uma safra média atual de 35 milhões de sacas, gerando rendas e empregos. Nos últimos anos os recursos para a pesquisa foram ampliados, com verbas geradas pelo próprio setor cafeeiro (FUNCAFÉ). Precisamos continuar a melhorar o trabalho de apoio tecnológico à cafeicultura. MAPA PROCAFÉ, FUNDAÇÃO PROCAFÉ, EMBRAPA CAFÉ, UFLA, UNIUBE, SECR. AGR. MG e Institutos e Empresas de Pesquisa e Colaboradoras.