FUNDAMENTOS DA LITERATURA EM LÍNGUA ESPANHOLA AULA 01: LITERATURA E TEORIA DA LITERATURA TÓPICO 02: A TEORIA DA LITERATURA. Como já havíamos visto o conceito de literatura é relativamente recente, do início do século XX, e consequentemente as teorias que a discutem também são jovens. Entretanto, fica a pergunta: como era entendida e estudada a literatura antes? O autor Jonathan Culler colabora para elucidar essa questão (p. 29): (...) obras que hoje são estudadas como literatura nas aulas de inglês ou latim nas escolas e universidades foram uma vez tratadas não com um tipo especial de escrita mas como belos exemplos do uso da linguagem e da retórica. Eram exemplos de uma categoria mais ampla de práticas exemplares de escrita e pensamento, que incluía discursos, sermões, história e filosofia. Aos estudantes não se pedia para interpretá-las, como agora interpretamos as obras literárias, procurando explicar sobre o que elas “realmente” são. Ao contrário, os estudantes as memorizavam, estudavam sua gramática, identificavam suas figuras retóricas e suas estruturas ou procedimentos de argumento. Uma obra como a Eneida de Virgílio, que hoje é estudada com literatura, era tratada de modo muito diferente nas escolas antes de 1850. Ainda que sem ser chamada e entendida como atualmente designamos, toda vez que a literatura toma um caráter institucional em uma sociedade ela é acompanhada de uma certa atividade crítica ou teórica. Antes de os críticos proporem a existência de uma teoria da literatura, esta era estudada por meio da Retórica e da Poética. E, até hoje estas são importantes disciplinas de aproximação à literatura. OLHANDO DE PERTO Retórica – Leia no E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia em verbete produzido por Roberto Acízelo de http://www.edtl.com.pt/index.php? option=com_mtree&task=viewlink&link_id=325&Itemid=2 [1] Souza Poética – Leia no E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia em verbete produzido por Roberto Acízelo de Souza http://www.edtl.com.pt/index.php? option=com_mtree&task=viewlink&link_id=381&Itemid=2 [2] Apresentaremos agora as várias correntes da Teoria da Literatura. Como será perceptível, várias delas se entrelaçam contendo autores e ideia em comum, outras se contrapõem promovendo uma grande revisão dos preceitos de outras ou ainda sugerem pequenas adaptações destas. Entretanto, há um consenso entre os teóricos de que o início desses estudos deu-se com um grupo denominado Formalistas Russos, no ano de 1917. O artigo pioneiro que conteria essa proposta foi publicado por Vitor Chklovski com o título “A Arte como artifício”. A partir desta data e em especial nos anos 2000 os estudos sobre teoria da literatura têm tomando diversos rumos. Tanto que o autor Jonathan Culler em Teoria Literária: uma introdução chega a propor que se considere a disciplina que estuda a literatura apenas como “teoria” e não “teoria da literatura” visto que tantas outras disciplinas são convocadas a colaborar neste intento de analisá-la. Vamos apresentar aqui várias correntes ou escolas que estudaram e estudam a literatura. Não o faremos de modo cronológico porque muitas dessas escolas serviram de base para outras, se influenciaram ou contrapuseram, se interligaram ou desmembraram devido aos estudos de algum ou de vários teóricos. Nossa intenção é realizar um panorama e com isso promover uma reflexão sobre a riqueza de possibilidades de estudo e interpretação da literatura. VERSÃO TEXTUAL FORMALISMO RUSSO Os críticos formalistas constituíram uma influente escola de crítica literária russa entre os anos 1919 e 1930. Para eles a preocupação ao analisar uma obra seria a busca da literariedade da literatura, ou seja, as estratégias verbais que a tornaria literária. Em uma obra literária a linguagem deveria estar em primeiro plano e esta deveria promover um “estranhamento” diante da linguagem corrente. Para esses críticos não se deveria diante de uma obra perguntar “o que o autor diz aqui?” e sim “o que acontece com o este poema aqui?” ou “que aventuras acontecem ao romance no livro Dom Quixote de Cervantes?”. Os nomes mais importantes foram: Roman Jakobson, Vitor Chklovski, Boris Eichenbaum e Yury Tynyanov. FENOMENOLOGIA Escola literária surgida a partir do trabalho do filósofo Edmund Husserl. Nos anos de 1918, depois da Primeira Grande Guerra Mundial a Europa vivia uma crise. A ordem social do capitalismo europeu fora abalada assim como as ideologias das quais essa ordem sempre dependera e os valores culturais pelos quais havia sido governada. Esse abalo também chegava à ciência e à filosofia. Esta, inclusive, se bipartia entre o positivismo e um subjetivismo. O anseio da fenomenologia era ser uma ciência da própria subjetividade. Voltando-se contra a reação à subjetividade promovida pelo positivismo cientificista do século XIX, a fenomenologia propunha que o sujeito deveria ser visto como fonte e origem de todo o significado.Uma crítica voltada a descrever o “mundo” da consciência do autor foi o que fizeram nomes como George Poulet e J. Hills Miller. Mas a fenomenologia também exerceu influência sobre outras escolas, por exemplo, a chamada “estética da recepção”, cujo representando máximo foi Hans Robert Jauss. Essa escola voltava-se para o leitor e entendia a obra como uma resposta a perguntas colocadas no que entendiam como um “horizonte de expectativas”: (Culler; 120) “A interpretação das obras deveria, portanto, enfocar não a experiência de um indivíduo, mas a história da recepção de uma obra e sua relação com as normas estéticas e conjuntos de expectativas mutáveis que permitem que ela seja lida em diferentes épocas” Outra escola que sofreu alguma influência da Fenomenologia foi o Formalismo Russo. NEW CRITICISM O chamado New Criticism ou Nova Crítica surgiu nos Estados Unidos, entre os anos de 1930 e 1940. A escola foi influenciada pelo trabalho de I. A. Richards e William Empson, da Inglaterra. A Nova Crítica rejeita uma leitura de cunho biográfico. O objetivo desta escola era concentrar atenção na unidade ou integração das obras literárias, os textos literários eram tratados como objetos estéticos, examinando as interações verbais e o sentido depreendido destas e não como documentos históricos, onde seriam procuradas as intenções e circunstâncias históricas dos autores. Uma das técnicas, por assim dizer, utilizada por eles é a leitura cerrada. Entretanto, a partir dos anos 60 do século XX uma gama de estudos passam a refletir sobre a literatura e outros produtos culturais, oferecendo uma leitura mais rica do texto literário do que faziam os adeptos da Nova Crítica. ESTRUTURALISMO O Estruturalismo tem por objetivo identificar as estruturas que tornam possível a obra literária. O movimento se originou em oposição a Fenomenologia, que buscava descrever a experiência. Portanto, em lugar de descrever a consciência procura analisar as estruturas que operam inconscientemente as estruturas sejam elas da linguagem, da sociedade e da psique. O início da escola Estruturalista ocorreu entre as décadas de 1950 e 60, principalmente a partir de pensadores franceses influenciados por Fernando Saussure e sua teoria da linguagem, aplicaram conceitos da linguística estrutural ao estudo dos fenômenos sociais e culturais. Podemos dizer que essa escola ramificou-se por várias áreas: primeiro na Antropologia com Claude Lévi-Strauss; nos estudos literários e culturais com Roman Jakobson, Roland Barthes, Gerard Genette; na psicanálise com Jacques Lacan, na história intelectual com Michel Foucault e na teoria marxista com Louis Althusser. Embora esses pensadores nunca tenham se constituído como escola estruturalista seus estudos tiveram muita influência em vários países, principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, nos anos 1960 e 70. PÓS-ESTRUTURALISMO Ao ser interpretado como escola alguns teóricos se distanciaram do estruturalismo, pois entendiam que suas obras não se enquadravam apenas na pretensão de dominar e codificar estruturas. Por este fato, autores como Michael Barthes, Jacques Lacan e Michael Foucault começaram a ser identificados como pós-estruturalistas. Ainda que muitas das posições vistas como pós-estruturalistas já serem evidentes na obra de alguns estruturalistas. O pós-estruturalismo trabalha a partir de uma teoria da desconstrução na análise literária, possibilitando que o texto seja entendido com uma pluralidade de sentidos. A realidade é considerada como uma construção social e subjetiva. A abordagem é mais aberta no que diz respeito à diversidade de métodos e em contraste com o estruturalismo, que afirma a independência e superioridade do significante em relação ao significado, já os pós-estruturalistas vêem o significante e o significado como inseparáveis. Para Culler, o pós-estruturalismo enfatiza uma crítica do conhecimento, da totalidade e do sujeito. As estruturas dos sistemas de significação não existiriam de forma independente do sujeito, como objetos do conhecimento, mas são estruturas para os sujeitos, que estão emaranhados nas forças que os produzem. O termo pós-estruturalismo é usado para englobar vários discursos teóricos que têm por objetivo promover uma crítica das noções de conhecimento objetivo e de um sujeito capaz de se conhecer. Deste modo estariam dentro do que se pode considerar pósestruturalismo estudos como as teorias psicanalíticas, feministas, os marxismos e historicismos contemporâneos, assim como a descontrução. DESCONSTRUÇÃO Essa noção teria surgido pela primeira vez na introdução à tradução de 1962 de Origem da Geometria, de Edmund Husserl. Já o conceito foi elaborado e ganhou destaque por Jacques Derrida em uma coleção de ensaios chamado The Languages of Criticism and the Sciences of Man, em 1970. A desconstrução como o nome pode sugerir, em um primeiro momento, não significa uma destruição significa destruição e sim desmontagem, decomposição dos elementos da escrita. É uma metodologia de análise centrada no texto. (Culler; p.122) “Descontruir uma oposição é mostrar que ela não é natural nem inevitável, mas uma construção, produzida por discursos que se apóiam nela, e mostrar que ela é uma construção num trabalho de desconstrução que busca desmantelá-la e reinscrevê-la – isto é, não destruí-la, mas dar-lhe uma estrutura e funcionamento diferentes.” TEORIA FEMINISTA Não pode ser considerada apenas uma escola que estuda a teoria da literatura. É um movimento social, filosófico e político que busca a igualdade de direitos e a possibilidade de uma convivência fora dos padrões opressores baseados em normas de gênero. Portanto sua proposta seria uma desconstrução da oposição homem/mulher e de todas as implicações existentes nela na história da cultura ocidental. Em termos literários este movimento promove textos escritos por mulheres como um modo de representação de experiência. Algumas vertentes do movimento se opõem a psicanálise por sua base sexista e outras vertentes promovem algumas rearticulações de psicanalistas feministas tais como Jacqueline Rose, Mary Jacobus e Kaja Silverman. PSICANÁLISE Para alguns críticos, juntamente com o marxismo, a psicanálise é a hermenêutica mais moderna com mais força. Esta escola trabalharia a partir de uma metalinguagem ou vocabulário técnico autorizado que pode ser aplicado às obras literárias, assim como a outras situações, para entender o que está “realmente” acontecendo. A teoria psicanalítica provocou um impacto nos estudos literários tanto como uma teoria que age sobre a linguagem, a identidade e o sujeito quanto como uma teoria sobre a linguagem. O nome de maior força é o do psicanalista francês Jacques Lacan. Dentro de usa teoria propôs um retorno ao pensamento de Freud e defende que o sujeito é um efeito da linguagem. A psicanálise pode ser considerada uma disciplina pósestruturalista porque entende que a interpretação reapresentação de um texto que ela não domina. é uma MARXISMO Essa escola também é conhecida como Novo Historicismo. Louis Althusser pode ser considerado como teórico máximo do marxismo. Dentro dessa linha de pensamento da teoria literária os textos pertencem a uma superestrutura determinada pela base econômica, denominada como “relações reais de produção”. Interpretar os produtos culturais é relacioná-los de volta com a base. Para o autor a formação social não é uma totalidade unificada tendo o modo de produção em seu centro e sim uma estrutura frouxa, na qual diferentes níveis ou tipos de práticas se desenvolvem em escalas temporais. As superestruturas sociais e ideológicas têm uma “autonomia relativa”. Lacan também se utiliza dos estudos psicanalíticos, em especial os de Lacan. Tanto que ele sustenta que “o sujeito é um efeito constituído no processo do inconsciente, do discurso e das práticas relativamente autônomas que organizam a sociedade.” Uma conjunção desses estudos de Lacan e Authusser ocorreu durante a década de 1970, na revista de estudos de cinema Screen que buscou compreender como o sujeito é posicionado ou construído pelas estruturas da representação cinematográfica. Um nome conhecido da teoria literária marxista é Raymond Williams (1921- 1988) foi acadêmico, crítico e romancista. Poucas de suas 33 obras foram traduzidas para o português, foram elas: (Cultura e Sociedade: 1780-1950, Marxismo e Literatura, O Campo e a Cidade e Cultura). MATERIALISMO CULTURAL Entre os anos de 1989 e 90 surge na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos uma crítica histórica teoricamente engajada que trabalha a partir de um enfoque de investigação sociológico e antropológico e postula que as condições materiais são o principal fator promotor de mudanças sociológicas e culturais. O materialismo cultural analisa a evolução e configuração das sociedades a partir de condições materiais. O criador da escola foi o antropólogo norte-americano Marvin Harris. Outro nome associado ao movimento é o de Raymond Williams que define o materialismo cultural britânico como “a análise de toda as formas de significação, inclusive muito centralmente a escrita, no interior dos meios de condições reais de sua produção”. Um ponto crucial para esses teóricos é a dialética de “subversão e contenção” de onde partem questionamentos tais como: em que medida os textos de determinado período histórico oferecem uma crítica genuinamente radical das ideologias religiosas e políticas de seu tempo e em que medida a prática discursiva da literatura, em sua aparente capacidade de subversão, é uma maneira de conter energias subversivas? TEORIA PÓS-COLONIAL Pode-se dizer que este seja um conjunto de teorias que analisa os efeitos políticos, filosóficos, artísticos e literários deixados pelo colonialismo nos países colonizados e suas conseqüências. Portanto, com relação a teoria literária trata da literatura produzida em países de passado colonial, especialmente das então potências europeias GrãBretanha, França e Espanha; em alguns contextos, inclui países ainda em situação colonial. A partir da década de 1980 houve uma grande expansão nos estudos que se voltam para a relação entre a hegemonia dos discursos ocidentais e as possibilidades de resistências e sobre a formação dos sujeitos colonial e pós-colonial, os chamados sujeitos híbridos, nascidos da imposição de língua e culturas conflitantes. Um dos grandes nomes desta teoria é o de Edward Said (1978) com obra Orientalismo. Podemos citar também Gayatri Spivak (1942, Calcutá) é uma crítica e teórica indiana, mais conhecida por seu artigo "Can the Subaltern Speak?” DISCURSO DAS MINORIAS Dentro dos Estados Unidos houve um crescimento muito grande do estudo das literaturas de minoria étnica: negros, latinos, asiáticoamericanos, nativo-americanos. Os debates visam a discussão entre o fortalecimento da identidade cultural de grupos específicos, relacionando-a a uma tradição de escrita e ao objetivo de celebrar a diversidade cultural e o “multiculturalismo”. QUEER THEORY A palavra “queer” poderia ser traduzida ao português como “excêntrico”, “estranho”. Também há uma conotação à homossexualidade. A partir do estudo sobre o marginal, o considerado além dos limites ou o radicalmente outro a Queer Theory analisa a construção cultural do que considera como o centro: a normatividade heterossexual. Esta teoria é vista por alguns críticos como o espaço de questionamento não apenas da construção cultural da sexualidade, mas da própria cultura por ser entendida como baseada em uma negação das relações homoeróticas. Alguns nomes relacionados a essa teoria são Eve Sedgwick e Judith Butler. ESTUDOS CULTURAIS Os Estudos Culturais aliam preceitos do estruturalismo francês dos anos 1960, principalmente com a obra de Roland Barthes Mitologias (1957) à teria literária marxista a partir da obra de Raymond Williams, especialmente Cultura e Sociedade (1958). Podese dizer que os Estudos Culturais se desenvolvem pela tensão entre o anseio de recuperar a cultura popular como forma de expressão de um povo ou de dar voz à cultura dos grupos marginalizados e o estudo da cultura de massas como uma imposição ideológica, ou seja, como uma forma opressão. Para conseguir tal intento são chamados a colaborar com a interpretação da obra disciplinas de várias áreas de estudo. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Assista aos vídeos: 1. Pessoas nas ruas de Madri respondem se costumam ler e o que lêem.[3] 2. O escritor peruano Mario Vargas Llosa fala sobre literatura.[4] 3. Este site trata da mudança da literatura e do livro e ainda sobre propriedade intelectual.[5] A partir desses vídeos e do conteúdo aprendido na primeira aula: 1. Tente escrever uma definição sua de literatura. Reflita sobre a importância ou não dela em sua vida, se você costuma ler e que tipo de livros. 2. Você tem por hábito realizar leituras na Internet? Já refletiu a respeito das mudanças que a literatura e o objeto livro vem sofrendo atualmente? E sobre a experiência, que você está iniciando, de estudar literatura por meio de uma nova mídia? FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.edtl.com.pt/index.php? option=com_mtree&task=viewlink&link_id=325&Itemid=2l 2. http://www.edtl.com.pt/index.php? option=com_mtree&task=viewlink&link_id=381&Itemid=2 3. http://www.youtube.com/watch?v=eNvupq5pTAA&feature=related 4. http://www.youtube.com/watch?v=OcKnjNpzxsU&feature=related 5. http://www.youtube.com/watch?v=UQG01oMXs6c&feature=related Responsável: Professor Jimmy Robson Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual