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Mobilização Neural: tratamento de distúrbios musculoesqueléticos
Edylena Marinho de Andrade1
[email protected]
Juliana Gama de Almeida2
[email protected]
Pós-graduação em Fisioterapia em Reabilitação na Ortopedia e Traumatologia com ênfase em Terapia
Manual (LatoSenso) – Faculdade Ávila
Resumo
Os distúrbios musculoesqueléticos são lesões agudas ou crônicas que comprometem a
estrutura e/ou a função dos tecidos comprometendo o desempenho físico dos indivíduos. A
técnica de Mobilização Neural que visa restaurar o movimento e a elasticidade do sistema
nervoso, realizada através de movimentos passivos ou ativos. Tem sido bastante utilizada na
recuperação de pacientes com distúrbios musculoesqueléticos como método de avaliação
para identificar possíveis alterações neurodinâmicas e recentemente, como possível
tratamento. Essa técnica é pouco conhecida, por isso pouco utilizada para tratamento de
pacientes com alterações musculoesqueléticas, devendo ser mais estudada para ser
aperfeiçoada e utilizada na terapêutica. Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica,
tendo por finalidade conhecer melhor a técnica de mobilização neural, levantar as indicações
e aplicação desta nas disfunções musculoesqueléticas, pois uma boa interpretação leva a
realizar um diagnostico correto para obter um bom tratamento. De acordo com estudos
pesquisados a mobilização neural promove resultados positivos no tratamento das alterações
musculoesqueléticas devolvendo sua funcionalidade. No entanto, sugerem-se novos estudos
buscando os seus efeitos para melhor desempenho dos tratamentos fisioterapêuticos.
Palavras-chave: Mobilização Neural; Sistema Nervoso; Disfunções Musculoesqueléticas.
1.Introdução
O Sistema Nervoso (SN) tem como principal função a condução de impulsos sendo
extremamente dependente da parte mecânica desse sistema e vice e versa. A interligação da
função mecânica e fisiológica do SN foi reunida no termo neurodinâmica. Se este sistema está
apresentando normalidade neurodinâmica, significa que suas propriedades mecânicas e
fisiológicas estão normais (VASCONCELOS et al, 2011).
A técnica fisioterapêutica mobilização neural também conhecida por neurodinâmica é,
essencialmente, a aplicação clínica da mecânica e da fisiologia do sistema nervoso e como
elas se relacionam entre si e são integradas à função do músculo esquelético. Esse método
parte do princípio que comprometimentos da fisiologia e da mecânica do sistema nervoso
(movimento, elasticidade, condução, fluxo axoplasmático) podem levar à disfunções do
sistema nervoso ou em estruturas musculoesqueléticas por ele inervadas, e que o
restabelecimento de sua biomecânica e fisiologia adequada, por meio do movimento e/ou
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Pós-graduando em Fisioterapia em Reabilitação na Ortopedia e Traumatologia com ênfase em Terapia Manual
(LatoSenso) – Faculdade Ávila.
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Pós- graduação em Metodologia do Ensino Superior.
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tensão, permite a recuperação da extensibilidade e da funcionalidade normal desse sistema e
das estruturas comprometidas (VÉRAS et al, 2011).
A mobilização neural vem sendo utilizada 1800, sendo progressivamente aperfeiçoada tanto
na teoria quanto na Pratica (Monnerat e Pereira, 2010; Marinez, 2004). No final do século
passado a técnica era utilizada de forma cirúrgica e os alongamentos feitos de forma empírica,
sem embasamento cientifico. Somente há algumas décadas começou-se a identificar
patologias ortopédicas e reumatologicas que envolviam o Sistema Nervoso Periférico direta
ou indiretamente. Notou-se então que a maioria delas realmente provinham da agressão ao
SNP, reproduzindo os sintomas da enfermidade. Nesse momento surgiram estudos que deram
uma quantidade maior de informações sobre o sistema nervoso, fornecendo subsidio para o
aparecimento da mobilização neural (SCHMIDT,2005).
As estruturas musculoesqueléticas envolvidas com o movimento humano são ossos, músculos
com tendões e bainhas sinoviais, bolsas e estruturas articulares como cartilagem, meniscos,
capsulas e ligamentos (WRITE, 2004 in SULLIVAN & SHMITZ).
Os distúrbios musculoesqueléticos (DME) é caracterizada por inflamações e/ou degenerações
que acometem tendões, nervos, músculos, articulações e bursas, e resulta em dor e
incapacidade funcional. São considerados hoje um dos mais significativos e dispendiosos
problemas de saúde pública, principalmente em relação a saúde do trabalhador em todo o
mundo (FONSECA, 2009).
Embora há mais de um século se saiba que as desordens musculo - esqueléticas apresentam
origem neural, somente nos últimos vinte a anos os fisioterapeutas com formação orientada à
ortopedia, interessaram-se no tratamento do sistema nervoso pela conexão deste com
músculos, articulações e outras estruturas buscando assim melhores resultados na terapia
(BOEING, 2004).
O desenvolvimento de técnicas que aliviem as tensões na musculatura por meio de diversas
formas, agindo de forma de direta ou indiretamente na musculatura, são uma busca constante
ao longo da historia do homem. Dentre essas técnicas uma em especial tem chamado atenção
por ser uma técnica essencialmente neural e influi no tecido muscular, a mobilização do
sistema nervoso (ALMEIDA & MOREIRA, 2011).
A mobilização neural têm sido bastante utilizada na recuperação de pacientes com distúrbio
musculoesqueléticos. Ekstron e Holden em 2002 utilizaram-na para a reabilitação de
indivíduos com epicondilite, obtendo sucesso. No entanto, esses autores, acreditam que ainda
não se sabe de resultados para pacientes com desordens musculoesqueléticas apresentando
déficit de ADM, utilizando a técnica para livrar o nervo periférico para seu livre movimento
(FARIAS, 2011).
Dada à importância do assunto e ás duvidas existentes, essa pesquisa teve como objetivo
reunir informações sobre a técnica mobilização neural que destaquem suas aplicações e
indicações como recurso terapêutico para as patologias musculoesqueléticas.
2.Metodologia
Para a produção desse artigo de revisão literária, qualitativa e exploratória foi realizada a
busca por produções nos bancos e bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde, (BVS) nas
fontes LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO
(Scientific Electronic Library Online) e MEDLINEn (U.S. National Library of Medicine),
PubMed (National Library of Medicine e do National Institutes of Health) e Google Scholar
bem como sites relacionados ao tema. Em complemento foram utilizados também, livros e
periódicos de fisioterapia e terapia manual que se referiam ao tema.
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Durante a busca as palavras chaves utilizadas foram: mobilização do sistema nervoso, tensão
neural, mobilização neural e distúrbios musculoesqueléticos e como estratégia de pesquisa os
mesmos foram descritos em todos os bancos de dados.
A busca se estendeu durante todo o processo de montagem do artigo de revisão, que teve
início no final do segundo semestre de 2011 e se estendeu até o mês de abril de 2012.
Na revisão foram incluídos artigos ou publicações que se referissem ao tema e constassem as
palavras-chaves supracitadas, excluíram-se artigos de experimentação animal e para a
discussão aqueles que utilizavam a mobilização neural em patologias que não fossem de
origem e patologias musculoesqueléticas.
A mobilização neural
O Sistema Nervoso (SN) é dividido em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso
Periférico (SNP), compreende um só sistema, considerado um tecido contínuo. Esse sistema é
contínuo de três maneiras: mecanicamente - por meio da transmissão de forças e movimentos
pelos seus envoltórios conectivos; eletricamente – por exemplo, quando impulsos gerados no
pé atinge o cérebro; e quimicamente – os neurotransmissores periféricos e centrais são os
mesmos e existe o fluxo axoplasmático de substâncias dentro do axônio. Por isso, qualquer
alteração ocorrida em uma parte dele ocasionará repercussões em todo o sistema (BUTTER,
2003).
O SN adapta-se mobilidade corporal através de suas propriedades mecânicas (movimento e
tensão) ao mesmo tempo que realiza sua principal função a de transmissão de impulsos
(Figura 1). A sua função depende do seu estado mecânico e seu estado mecânico reflete e
depende de sua função. Para a união dos aspectos mecânicos e fisiológicos, o termo
neurodinâmica foi introduzido. Se esse sistema apresenta normalidade neurodinâmica,
significa que suas propriedades mecânicas e fisiológicas se encontram
normais(MARINZECK,2000).
Fonte: MARINZEC, 2000
Figura 1: O sistema nervoso é um contínuo. Tensões e movimentos aplicados em uma extremidade são
transmitidos por toda a cadeia neural.
Quando ocorrer alteração da neurodinâmica, esta denomina-se de Tensão Neural Adversa
(TNA), que consiste numa resposta mecânica e fisiológica anormal quando a amplitude
normal do SN e sua capacidade de alongamento são testadas. A atividade adequada do SN
depende de sua integridade. O comprometimento das suas propriedades resultam em
disfunções do mesmo bem como das estruturas musculoesqueléticas que recebem suas
inervações (VASCONCELOS et al, 2011).
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Segundo Butter (2003), a mobilização neural constitui em um conjunto de técnicas que visam
colocar o neuroeixo em tensão e alonga-lo por meio de mobilizações adequadas. Estas
técnicas de tratamento são uma evolução dos testes diagnósticos propostos por Elvey para
verificar a presença de tensão neural adversa.
A ideia de aplicar um tratamento neural para o tecido neural não é nova, embora a técnica de
mobilização neural não seja amplamente conhecida. Desde ano de 1800 já existiam princípios
e métodos do alongamento neural que progressivamente foram se aperfeiçoando tanto na
teoria como na aplicação clínica (BOEING, 2004).
A técnica foi desenvolvida a partir dos avanços da neurobiologia, biomecânica e fisiologia do
tecido neural e da aplicação dos princípios da terapia manual neste tecido (BUTLER, 2003).
A obra Biomechanicics of the Central Neuvous System, de Alf Breig foi publicada em 1960
na qual introduziram os termos tensão mecânica adversa do sistema nervoso e o conceito de
“neurobiomecânica”, estabelecendo as relações entre a transmissão da tensão e o movimento
do SN durante a realização dos movimentos do corpo. O fisioterapeuta australiano, David
Buther, em 1991 publicou o livro “Mobilization of the Neurvous System, demostrando a
aplicabilidade e eficácia da técnica de mobilização do tecido neural (BAUM, 2009).
A partir de 1970, os testes de tensão neural começaram a ser reconhecidos como terapia,
denominados também de testes de estiramento neural. São sequências de movimentos,
realizados para avaliar a mecânica e a fisiologia de uma parte do sistema nervoso. Ele é
considerado positivo quando houver diminuição da amplitude de movimento ou quando os
sintomas dolorosos e de alongamento profundo forem reproduzidos, quando a resposta no
lado envolvido variar unilateralmente entre respostas normais, e quando houver diferenciação
estrutural de uma fonte neurogênica. Nem todos os sintomas provocados podem ser
considerados patológicos, como o tecido neural também é inervado, o seu estiramento pode
causar dor, sendo necessário que se conheça tais respostas e as diferenças entre um individuo
sintomático e assintomático (ZAMBERLAN & KERPPRES, 2007).
Os testes podem ser divididos em: testes membros inferiores, troco (coluna) e membros
superiores, sendo que cada teste pode isolar um nervo, como por exemplo nos testes de
tensões para membro superior (ULTT),ULTT1 nervo mediano, ULTT2 nervo radial e ULTT3
nervo ulnar (Figura 2), ou colocar a cadeia nervosa toda em tensão como no teste de
inclinação lateral ou slump test (Figura 3) (OLIVEIRA & TEIXEIRA, 2007).
Fonte: Junior & Teixeira, 2007
Figura 2 - ULTT3.
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Figura 3 - slump test.
Fonte: Junior & Teixeira, 2007.
A aplicação dos testes neurodinâmicos é contraindicada relativamente em casos de afecções
irritativas, inflamação, sinais medulares, malignidade, compressão de raízes nervosas,
neuropatia periférica e síndrome da dor regional periférica (ZAMBERLAN & KERPPERS,
2007).
Para o tratamento com a técnica mobilização neural é necessário apenas uma maca,
conhecimento teórico e treino das técnicas. Este é diferenciado de acordo com o estado da
patologia, podendo esta ser irritável (fisiopatológica) ou não-irritavel (patomecânico). Embora
as duas possam estar presentes há sempre o predomínio de uma, dando prioridade ao
tratamento (BUTLER, 20003).
Uma desordem irritável é caracterizada pela dor constante, facilmente desencadeada e que
persiste por algum tempo antes de diminuir; clinicamente há vantagens por ser capaz de
mover uma estrutura sem interferir muito em outras, aplica-se a técnica que proporcione o
máximo de conforto para o paciente, com grande amplitude, lenta, e rítmica, iniciando à
distância da área dolorosa, sem provocar sintomas ou aumentá-los. Sua progressão é
aproximando de locais mais próximais a área lesada, aumentar o número de repetições e
ADM até o aparecimento dos sintomas ou sentir resistência ao movimento. São exemplos
traumas leves e neuropatias inflamatórias agudas (BOEING, 2004).
A desordem não irritável é a mais antiga aumentando a chance de consequências devido ao
desuso de segmentos e pelos produtos de uma resposta inflamatória levando uma
característica de natureza patomecânica. A técnica deve ser iniciada próximo da origem dos
sintomas, empregando moderada resistência tendo grande movimento com tensão no final da
ADM (SCHMIDT, 2005).
A técnica de mobilização neural pode ser aplicada através de quatro categorias: mobilização
direta onde acontece o tensionamento dos nervos periféricos e/ou medula pela manobra
oscilatória, passiva em diferentes amplitudes de movimento e/ou brevemente mantida no final
da ADM articular aplicados através da articulação que compõem o trajeto do trato neural;
mobilização indireta aplicada quando há uma lesão aguda na qual os nervos periféricos e/ou
medula são colocados em tensão pelas manobras oscilatórias aplicadas as estruturas
adjacentes ao tecido nervoso comprometido; mobilização tensionante ocorre quando há um
aumento e uma diminuição da tensão no trato neural e mobilização deslizante onde existe o
deslizamento do trato neural sem no entanto, ter um aumento de tensão (MARINZECK,
2000).
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No decorrer dos anos, o homem vem tentando desenvolver técnicas que possam ser capazes
de aliviar tensões na musculatura por meio de diversas formas, agindo de forma direta ou
indiretamente nos músculos. Dentre as técnicas a mobilização neural vem chamando atenção
por ser essencialmente neural e influir no tecido muscular (ALMEIDA & MOREIRA, 2011).
O sistema musculoesquelético e suas disfunções
O sistema musculoesquelético é composto por osso, músculos com seus tendões e bainhas
sinoviais, bolsas e estruturas articulares como cartilagem, menisco, capsulas e ligamentos. O
osso fornece suporte, aumenta a alavanca, protege estruturas vitais, fornece inserções para
tendões e ligamentos e armazena minerais, principalmente o cálcio. Os tendões são estruturas
tipo corda que tem a função de inserir o músculo ao osso e de transmitir as forças geradas
pelos músculos ao osso fim de atingir movimento ou estabilidade ao corpo. Os ligamentos são
estruturas de tecido conjuntivo densamente armazenadas que consistem basicamente de
colágeno de força tênsil alta, contribuem para a estabilidade da função articular, prevenindo
movimento excessivo. As articulações são regiões ósseas cobertas e circundadas por tecido
conjuntivo que mantêm os ossos juntos e determinam o tipo e o grau de movimento entre eles.
As bolsas são estruturas achatadas, tipo saco, intimamente associadas com algumas
articulações sinoviais, são alinhadas com uma membrana sinovial e cheias de fluido sinovial
produz pequenas quantidades de liquido, permitindo movimentos suaves e quase sem fricções
entre músculos contíguos, tendões, ossos e ligamentos (WRITE, 2004 in SULLIVAN &
SHMITZ; DULTON, 2007).
A função normal no ser humano pode ser impedida por muitas causas, dentre elas: movimentos
articulares limitados, atrofias musculares, encurtamentos de tecidos moles, aumento ou
diminuição do tônus muscular, variações na sensibilidade, restrições cognitivas e de percepção.
Levando o organismo a sofrer lesões osteomusculares que afetam estruturas
musculoesqueléticas, tem origem multicausais, hoje é o mais frequente problema de saúde
relacionado ao trabalho. Os sintomas mais comuns são dor, parestesia, sensação de peso,
fadiga de aparecimento insidioso, geralmente se localizam nos membros superiores, mas
acometem também o inferior (VICTOR & SOARES, 2011).
Segundo Fonseca (2009), as lesões musculoesqueléticas mais comuns acontecem na coluna e
membros superiores. Na coluna principalmente na região lombar por haver forte evidência de
associação com levantar e/ou carregar cargas, postura inclinada e rotação de tronco, trabalho
físico pesado e vibrações. As extremidades superiores mostra forte evidência de associação
com repetição, força e vibração e a combinação entre repetição e força e repetição e frio.
As lesões agudas ou condições crônicas que comprometem a estrutura e/ou a função dos
tecidos musculoesqueléticos podem afetar amplamente o desempenho físico de um paciente,
por causar comprometimentos com dor, inflamação, deformidade estrutural, restrições dos
movimentos articulares, instabilidade articular e fraqueza muscular. Exemplos de diagnósticos
que resultam em comprometimento direto do sistema musculoesquelético abrangem
osteoartrite, luxações articulares, tendinites, bursites, distensões/rupturas musculares e
ligamentares (WRITE, 2004 in SULLIVAN & SHMITZ).
O sexo feminino é o mais acometido com distúrbio musculoesquelético, como possível
explicação esta a propensão biológica – morfologia ou fatores hormonais incidindo sobre a
construção biológica e psicológica – e a diferença de gênero na percepção e relato de sintomas
não tem sido consistentemente sustentada pela literatura. Já a forma que as mulheres foram
inseridas no mercado de trabalho e sua consequente determinação a exposição a fatores físicos
e psicossociais tem sido apontadas como justificativa para maior morbidade em mulheres,
pois estas são alocadas em atividades que exigem maior atenção, concentração, detalhamento,
paciência e disciplina se considerarmos suas “qualificações naturais”. (Fonseca, 2009)
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O diagnóstico é realizado individualmente para cada um dos distúrbios, sendo o exame clinico
o critério principal para sua caracterização. A dor é reconhecida como o elemento principal
para sua detecção, salienta-se a importância de obter informações a respeito do inicio, da sua
localização, da sua intensidade e da duração (NAVES & MELLO, 2008).
Para o tratamento dessas patologias torna-se indispensável à intervenção fisioterapêutica
permitindo assim, a restauração da funcionalidade da articulação afetada e o fortalecimento
dos músculos com o intuito de recuperar a capacidade de movimento, pois elas se
caracterizam por restrições de movimento devido a alterações biomecânicas (VICTOR &
SOARES, 2011).
3. Discussão
Há algumas décadas começou-se a identificar patologias ortopédicas e reumatolólogicas que
envolviam o SNP direta ou indiretamente. Notou-se então que a maioria delas realmente se
originavam da agressão do SNP, reproduzindo os sintomas da enfermidade, surgindo assim
estudos que deram informações maiores sobre a influencia do SN sobre as disfunções
musculoesquelética (SHMIDT, 2005).
Vários estudos vêm abordando a técnica de mobilização neural, o realizado por Gasparoto
(2007), avaliou a eficácia da mobilização neural na cervicobraquialgia. O paciente avaliado na
referida pesquisa há nove anos referia os sintomas de dor na região cervical e membro
superior direito e dificuldade para realizar movimentos nessa região, segundo o estudo pôdese observar a redução do quadro doloroso na região de punho e cotovelo e a melhora dos
índices funcionais da coluna cervical e punho, estabelecendo possíveis ralações disfuncionais
dessas regiões.
Em outro estudo Beleski (2004), utilizou os testes ULTT1 E ULTT2 na avaliação de tensão
adversa nos nervos mediano e radial em dois grupos de mulheres portadoras de
cervicobraquialgia, No grupo experimental as 16 pacientes sintomáticas apresentaram algum
grau de lesão nos nervos sendo 62,5% comprometimento do membro superior direito e 37,5%
no membro superior esquerdo. No grupo controle as 16 pacientes os graus de tensão
encontrados foram menores.
Fonteque et al (2005), em sua pesquisa verificou a eficácia da mobilização neural e do
alongamento passivo, no ganho de amplitude de movimento de flexão de quadril em
indivíduos sedentários e assintomáticos apresentando apenas restrição da musculatura
posterior de coxa por encurtamento. A técnica de mobilização neural foi mais eficaz no ganho
de amplitude de movimento do quadril do que o alongamento passivo.
No estudo desenvolvido por Vasconcelos et al (2011), onde buscou verificar os efeitos
imediatos da mobilização neural sobre o ganho de amplitude de movimento de extensão do
cotovelo em indivíduos com tensão neural adversa do nervo mediano, a amostra foi composta
de 60 indivíduos voluntários sendo 19 do sexo masculino e 41 do sexo feminino. A
mobilização neural demostrou-se como uma técnica eficaz para o ganho de amplitude de
movimento de extensão do cotovelo em indivíduos assintomáticos, porém só forma avaliados
os efeitos imediatos da técnica.
Marcolino et al (2008), utilizou a técnica de mobilização neural, em que o paciente
permanecia na posição para o teste de tensão do mediano e o terapeuta mobilizava a coluna
cervical do paciente para o lado contralateral e realizava a extensão progressiva do cotovelo.
O procedimento foi escolhido devido o paciente relatar aumento abruto de dor ao movimentar
o seu membro superior esquerdo. A técnica em conjunto com a aplicação de laserterapia,
mostrou-se eficaz na diminuição parcial dos sintomas do paciente com lesão de plexo
braquial.
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Na revisão de literatura realizada por Cerqueira e Reis (2003), sobre a aplicação da
mobilização do sistema nervoso na síndrome do túnel do carpo e concluiu que não há estudos
que comprovem a eficácia da sua aplicabilidade no tratamento da síndrome do túnel do carpo.
O trabalho de Lopes et al (2010) comparou a influência do alongamento muscular e da
mobilização neural na força isométrica de quadríceps, demostrou como a mobilização neural
pode causar o aumento de força muscular do musculo quadríceps. Justificado pois a
mobilização neural proporciona a facilitação do movimento axoplasmático, melhorando a
saúde do tecido muscular inervado pela estrutura mobilizada.
Monnerat& Pereira (2010), verificaram em seu estudo a influência da técnica de mobilização
neural sobre a dor e incapacidade funcional na hérnia de disco lombar póstero-lateral,
demostraram que a técnica pode ser eficaz no tratamento da hérnia de disco lombar por
apresentar boa resposta terapêutica na regressão dos sintomas dolorosos e incapacidade
funcional.
Na pesquisa de Boeing (2004), que teve como objetivo verificar se a técnica de terapia
manual utilizado a mobilização neural, seria adequada para o tratamento das lombociatalgias.
Constatou-se que o protocolo utilizado foi eficaz para a redução do quadro doloroso. Porém
não se obteve resultados significativos para as alterações de sensibilidade e mobilidade da
coluna lombar em flexão/extensão. No trabalho realizado por Soares et al, apesar das poucas
evidências clinicas a mobilização neural mostrou-se como uma técnica inovadora, que num
futuro bem próximo poderá servir como complementação do processo da reabilitação de
portadores de lombalgia, este sugere ainda que novos estudos sejam realizados, de preferência
do tipo ensaios clínicos randomizados, que possam explicar os benefícios e limitações.
Jesus (2004) aplicou a técnica de mobilização neural através de oscilações lentas em um
estudo com 50 indivíduos distribuídos em dois grupos, sendo 21 pacientes com
comprometimento neural ao Slump test e 28 pacientes sem comprometimento neural ao
mesmo teste. Verificou um aumento de flexibilidade dos isquiotibiais, concluindo que a
mobilização do nervo interfere no fluxo axoplasmático, podendo ser esperado a melhora da
função neural.
Machado & Bigolin (2010), avaliaram o efeito da mobilização neural e do alongamento na
flexibilidade, no quadro álgico e nas atividades de sujeitos com dor na lombar, pela análise
dos resultados obtidos, tanto o programa de mobilização neural quanto o programa de
alongamento muscular revelam melhoras na execução das atividades funcionais, na
flexibilidade da cadeia muscular posterior e na redução do quadro álgico. Vale ressaltar que
somente o programa de mobilização neural obteve melhora estatisticamente significativas.
Na revisão de literatura realizada por Junior & Teixeira (2007) que teve como objetivo
levantar as indicações e aplicações da mobilização do sistema nervoso como recurso
diagnóstico e terapêutico demonstra a eficácia da técnica tanto para a avaliação quanto no
tratamento das mais diversas patologias que acometem as raízes nervosas.
Baum (2003), em seu trabalho verificou a eficácia da mobilização neural nas raízes cervicais
em indivíduos de uma determinada instituição, concluiu que teve efeito positivo em relação à
diminuição dos sintomas de dor e/ou desconforto de 90% na região do pescoço e cervical e o
desaparecimento na região do ombro, costas superiores, braços, cotovelos, antebraços, punhos
e mãos. Juntamente com a redução da tensão neural de todos os nervos avaliados e o aumento
de suas amplitudes durante o teste de tensão neural.
No estudo realizado por Victor & Soares (2011), dos efeitos da mobilização neural em portadores
de bursite crônica ficou evidente que o uso da técnica da mobilização neural no grupo
experimental não foi superior ao grupo controle no que se refere ao ganho de amplitude de
movimento para a amostra de indivíduos, contrastando em parte com a literatura, que demonstra
haver interferência de caráter positivo no ganho de ADM quando se utiliza a técnica, fato este não
evidenciado nos indivíduos quando se equiparou o uso ou não da técnica. Uma das hipóteses para
tal resultado é que cada indivíduo apresentava funções distintas na empresa, fato este primordial
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para a exacerbação dos sintomas da patologia em estudo, visto que a mesma pode sofrer
predisposição ao agravamento dos sintomas quando se refere ao uso repetitivo na execução de
certos tipos de movimentos. Porém, quando se associa o uso da técnica a diminuição da
sintomatologia dolorosa, nota-se através dos dados houve uma diminuição estatisticamente
significativa, colaborando com a literatura que afirma haver melhora no quadro álgico dos
pacientes, o que também foi reforçado ao se observar uma melhora na redução da incapacidade
física do grupo experimental.
De acordo com Dutton (2007), o sistema musculoesquelético trabalha intimamente com o SN,
tem a função de produzir movimento coordenado e de fornecer estabilização articular
adequada e retroalimentação durante posições e movimentos sustentados.
4. Conclusão
Os distúrbios musculoesqueléticos necessitam de uma avaliação minuciosa e um correto
diagnóstico para obter melhora durante o seu tratamento. A utilização neural requer precisão
do fisioterapeuta na sua execução mostrando a sua eficiência no tratamento de paciente com
comprometimentos musculoesqueléticos, pois de acordo com estudos pesquisados a
mobilização neural promove resultados positivos no tratamento, diminuindo o quadro
doloroso e restaurando a sua funcionalidade.
Observamos que a técnica de mobilização neural foi útil para o tratamento de lombalgias e na
hérnia de disco lombar, como relatado anteriormente, houve melhora tanto do quadro álgico
como na restauração de sua funcionalidade.
A mobilização do sistema nervoso tem sido utilizada também no tratamento de diversas
patologias que acometem o membro superior, como nos casos de síndrome do túnel do carpo,
bursites e tendinites onde se observou melhora das incapacidades físicas.
Nos tratamento onde houve a associação da técnica com os métodos tradicionais na
fisioterapia ocorreu resultados de melhoras das disfunções musculoesqueléticas. Em contra
partida, estudos que utilizou os métodos tradicionais em comparação ao uso da técnica de
mobilização neural concluiu que os pacientes tratados tiveram um melhor resultado que
alguns pacientes tratados com métodos tradicionais.
A técnica de mobilização neural exige ainda que os profissionais fisioterapeutas terapeutas
manuais tenham um bom conhecimento de biomecânica gerando assim benefícios aos
pacientes tratados.
Acredita-se que as evidências levantadas aqui poderão servir de base para profissionais
fisioterapeutas que tratam de patologias musculoesqueléticas a fim de desenvolverem um
melhor resultado no tratamento de seus pacientes.
Por fim, sugere-se a realização de pesquisas adicionais envolvendo o tema para que haja
melhor aperfeiçoamento e validação desta técnica no âmbito da fisioterapia traumatoortopédica.
Referências
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