Dispositivos Eletrônicos Aula 10: Princípio de funcionamento de transistores bipolares (2/2) 1 Plano da Aula • Regime ativo reverso (para poder entender a saturação) • Regime de saturação (direta) • Limitações/efeitos parasitas: – Efeito Early – Ruptura – Variações com a temperatura – Limitação na potência dissipada 2 Relembrando… VCE=VBE+VCB • podemos ter 4 possibilidades para as 2 junções: • B-E diretamente, B-C inversamente : Região ativa direta • B-E diretamente, B-C diretamente : Região de saturação • B-E inversamente, B-C inversamente: Região de corte • B-E inversamente, B-C diretamente : Região ativa inversa 3 Regime Ativo Direto Até agora vimos o regime ativo direto (Forward): Diretamente polarizada Reversamente polarizada Consideraremos as seguintes relações de dopagem(não universais): N D − E > N A− B > N D −C =>Emissor mais dopado do que a base, que é mais dopada do que o coletor. 4 Regime Ativo Inverso Se invertermos as polarizações, operaremos o transistor no regime ativo inverso (Reverse): Diretamente Reversamente polarizada polarizada Regime ativo inverso: junção B-E: reversamente junção B-C: diretamente N D − E > N A− B > N D −C Por conta da dissimetria da estrutura, 5 BR<<BF (por vezes menor que 1!) Regime de Saturação Mas e se polarizarmos diretamente as junções B-E e B-C?⇒ Regime de Saturação!! Em termos de densidade de portadores, há uma “superposição” de curvas na base. Observe que o gradiente na Base diminuiu: para IE fixo, IC diminui!! 6 Regime de Saturação Regime de saturação: Observe a configuração! 7 O modelo Ebers-Moll Como um modelo equivalente “completo” deve ser fiel à realidade, deve prever o comportamento tensão-corrente sob qualquer modo Modelo Ebers-Moll de operação: VBE < 0, VBC > 0 VBE > 0, VBC < 0 αF = βF βF +1 αR = βR βR +1 3 parâmetros: IS, αF e αR! 8 Ebers-Moll: exemplo Tentemos simular as correntes na condição abaixo (saturação), usando o modelo Ebers-Moll: VBE = VBC = 0,7V αF = αR = Apenas 3 parâmetros: IS, βF e βR ou: IS,αF e αR I DE ≈ I DC ≈ βF βF +1 βR +1 IS ⋅ exp( VBE ) VT IS ⋅ exp( VBC ) VT αF αR βR 9 Ebers-Moll: exemplo Vamos às “continhas” : βF 100 = 0,990099 β F + 1 101 βR 6 αR = = = 0,8571429 βR +1 7 VBE = VBC = 0,7V αF = = I DE 10 −14 0,7 = ⋅ exp( ) = 5,7272 mA 0,990099 0,0258649 I DC 10 −14 0,7 = ⋅ exp( ) = 6,6155 mA 0,8571429 0,0258649 I C = α F ⋅ I DE − I DC = 0,990099 ⋅ 5,7272 ⋅10 −3 − 6,6155 ⋅10 −3 = −945 µA I E = I DE − α R ⋅ I DC = 5,7272 ⋅10 −3 − 0,8571249 ⋅ 6,6155 ⋅10 −3 = 56,89 µA I B = I E − I C = 56,89 µA + 945 µA = 1,002 mA 10 Ebers-Moll: exemplo Comparando com os valores calculados: I C = −945 µA I E = 56,89 µA No PSPICE, a referência da corrente é “entrar no dispositivo” I B = 1,002 mA E com uma ajudinha de software numérico (tal como o Scilab), o que dá pra fazer? 11 Ebers-Moll: exemplo // Função para calcular correntes com base no modelo Ebers-Moll // (3 parâmetros apenas) e as condições de contorno VBE e VCE (VBC=VCE-VBE) function [ic,ie,ib]=ebersmoll(is,betaf,betar,vbe,vce); alfaf=betaf/(betaf+1); // defina alfaf em função de betaf alfar=betar/(betar+1); // defina alfar em função de betar ide=is/alfaf*exp(vbe/0.0258649); //cacule IDE idc=is/alfar*exp((vbe-vce)/0.0258649); // cacule IDC ie=ide-alfar*idc; // calcule IE ic=(alfaf*ide-idc); // calcule IC ib=ie-ic; // calcule IB=IE-IC endfunction vce=[0:0.01:0.7]; //vetor de pontos de VCE: 0 a 0.7 V, passo de 10 mV for i=1:length(vce), // para cada valor do vetor de pontos, faça: [ic,ie,ib]=ebersmoll(1e-14,100,6,0.7,vce(i)); //calcule as correntes meuic(i)=ic; // aproveite apenas IC, num vetor end plot2d(vce,meuic); // plote o vetor de IC em função de VCE 12 Ebers-Moll: exemplo Veja o resultado do Scilab: 13 Ebers-Moll: exemplo Veja o resultado do PSPICE: Compare com o Scilab!!! 14 Regiões Saturação profunda (VCB ≤ -0,5 V) Saturação (VCB ≤ 0V) : diminuição de IC apreciável!! Região ativa (VCE≥VBE→ VCB ≥ 0) VBE=0.750V IC VBE=0.725V { VBE=0.700V Saturação leve (efeitos em IC ainda imperceptíveis) VCE VBE=0V Corte: VBE ≤ 0,4 V → IC≈0 15 Limitações Será que é uma fonte de corrente ideal (resistência paralela infinita)? Será que o IDEAL existe de verdade???? Será que posso aumentar VCE tanto quanto “Siqueira”? Posso colocar 1 MILHÃO DE volts??? 16 Limitações Efeito Early: modulação da largura efetiva da base Impacto no gradiente de minoritários na Base (elétrons em um NPN, lacunas em um PNP) J. Early, “Effects of space-charge layer widening in junction transistors,” Proceedings of the IRE, vol. 40, no. 11, pp. 1401–1406, Nov. 1952. 17 Limitações Com o aumento de VCB (VCE), o gradiente de minoritários na Base aumenta: a corrente de coletor aumenta!! Efeito “quasi-linear” Se o gradiente aumenta, IC aumenta VA é a tensão de Early (ai ai ai, mais um parâmetro do modelo...) 18 Limitações Modelando o efeito Early: IC Regra de triângulos, pra você matar a saudade do 2º Grau!!!! -VA I C (VCE = V A ) = 2 ⋅ I C ("VCE = 0" ) IC2 IC1 VCE1 V CE VBEBE I S ⋅ exp( ) ⋅ (1 + ) VT VA VCE2 VCE OBS: diferentemente dos livros, no PSPICE o termo corretivo é (1+VCB/VA)! Ao considerar o efeito Early, é preciso conhecer os parâmetros IS e VA do transistor para determinarmos IC. Em geral, o impacto em IB pode ser desprezado. 19 Limitações Uma continha não faz mal a ninguém... IC (mA) V BE = 0 , 7V 8 5 ∆I=3 mA ∆I=5 mA -VA 1 ∆V=VA+1 V I S ⋅ exp( V BE V ) ⋅ (1 + CE ) VT VA 5 mA = I S ⋅ exp( 11 VCE (V) ∆V=10 V Usando a expressão dos livros (ao lado), determine IS e VA, com base nos dados experimentais acima. V A + 1V → 5 mA 5 mA ⋅ 10 V VA = − 1V = 15 , 667 V 10 V → 3 mA 3 mA 0 ,7 1 ) ⋅ (1 + ) ⇒ I S = 8 , 289 ⋅ 10 −15 A 0 , 0258649 15 , 667 20 Limitações E seu eu quiser comparar com o PSPICE??? IC (mA) V BE = 0 , 7V 8 5 ∆I=3 mA VBE=0,7 V⇒ VCB=VCE-0,7 V -VA 0,3 V BE V ) ⋅ (1 + CB ) VT VA VCB (V) ∆V=10 V ∆V=VA+0,3 V I S ⋅ exp( 10,3 ∆I=5 mA Usando a expressão DO PSPICE (ao lado), determine IS e VA, com base nos dados experimentais acima. V A + 0 ,3V → 5 mA 5 mA ⋅ 10 V VA = − 0 ,3V = 16 ,367 V 10 V → 3 mA 3 mA 5 mA = I S ⋅ exp( 0 ,7 0 ,3 ) ⋅ (1 + ) ⇒ I S = 8 , 659 ⋅ 10 −15 A 0 , 0258649 16 ,367 Vamos Simular? 21 Limitações Implementando o modelo no PSPICE: 22 Limitações E aí, bateu?? Não se preocupe, você não vai ter que “decorar” 2 expressões. Use a dos livros. Em casos específicos para comparação com o PSPICE, eventualmente usaremos a outra. Em todo caso, as diferenças são, em 23 geral, muito pequenas. Limitações Existe um limite de VCB, acima do qual a junção B-C “rompe”. Em geral, deseja-se que este limite seja o maior possível, portanto em geral o processo de ruptura é por 24 avalanche (coletor pouco dopado) Limitações Em geral, IC>>IB e VCE>VBE. A potência dissipada no dispositivo é praticamente o produto IC⋅VCE + RTH Potência dissipada Temperatura da junção ambiente A conversão de potência em temperatura é numericamente calculada através da resistência térmica do componente: RTH ∆T K ºC Unidade = ou = W W ∆P TJunção = T0 + RTH ⋅ P Em Si (silício), a temperatura máxima é da ordem de 150 a 200ºC Exemplo: se RTH=100K/W, e T ambiente é de 25ºC, a máxima potência 25 dissipada é de 1.75W, para uma temperatura de junção máxima de 200ºC! Limitações Com o aumento de temperatura, um menor VBE é necessário para manter uma mesma corrente de coletor: Se fixarmos VBE e VCE com o transistor em um alto nível de potência, o aquecimento leva a um aumento de IC (já que VBE é fixo) que aumenta a potência (já que VCE é fixo), que aumenta a temperatura, que aumenta IC, que aumenta a potência... e kabum!!! Observe o mecanismo de realimentação positiva. Tal como no caso do diodo de silício, considere uma variação de -2mV/°C a corrente de coletor constante. 26 Limitações Efeito da temperatura e do nível de corrente no ganho de corrente de um transistor bipolar Si: Se fixarmos IB e VCE com o transistor em um alto nível de potência, o aquecimento leva a um aumento de IC (pois β aumenta) que aumenta a potência (já que VCE é fixo), que aumenta a temperatura, que aumenta IC, que aumenta a potência... e kabum!!! Observe o mecanismo de realimentação positiva. β varia com a corrente e com a temperatura!!! 27 Limitações Além disso, resistências de acesso e capacitâncias de difusão/junção. (e eu que pensei que era fácil...) 28 Modelo PSPICE Em um modelo SPICE, encontramos os seguintes parâmetros: BF : Ganho de corrente em modo ativo direto BR : Ganho de corrente em modo ativo reverso IS : Corrente de saturação VAF : Tensão Early em modo direto VAR : Tensão Early em modo reverso NF : Fator de idealidade em modo direto (η) NR : Fator de idealidade em modo reverso Rb : Resistência de acesso da Base ... E mais um monte de parâmetros para modelagem das variações com o nível de corrente, temperatura, ... 29 Exemplo de especificações 30 Resumo dos pontos importantes • Transistor bipolar: dispositivo em estado sólido que pode dar ganho de potência (ativo) • O efeito transistor é o controle da corrente de coletor através da tensão de controle aplicada na junção base-emissor • O dispositivo, como qualquer outro, apresenta limitações ligadas à sua construção física • As aplicações são inúmeras (veremos a seguir) 31 Cronograma de atividades • Não pense que você vai aprender revisando os slides: LEIA O LIVRO! Sugere-se o seguinte cronograma: Atividade Duração Razavi: Seções 4.4.5,4.5, 4.6 até 4.6.2 (incluso) 60 minutos Revisão dos slides 45 minutos Resolução analítica das questões (10 minutos/questão) 30 minutos Simulação das questões (6 minutos/questão) 30 minutos Total: 2h45min de atividades. Se você levar muito mais tempo do que esta previsão, converse com o professor. 32 Exercícios: trazer antes da próxima aula As questões são individuais, use a tabela de valores! 33 Exercícios pra trazer na próxima aula Esta questão não requer resposta analítica, apenas simulação. Considerando o modelo ORIGINAL PSPICE do transistor 2N2222, aplique o valor de corrente de base indicado (IBX) e determine, para este transistor e valor de corrente de base, o valor do ganho de corrente direto (βF=IX/IBX) e reverso (βR=IY/IBX). Observe atentamente as disposições do transistor: provavelmente você fará uso de rotação (CTRL+R) e espelhamento (CTRL+F). 34 Exercícios pra trazer na próxima aula Observe que nos circuitos abaixo, as 2 junções (B-E e B-C) estão polarizadas diretamente. Utilize um transistor para o qual IS=10-14 A, BF=100 e BR=BREV. Com a ajuda do modelo Ebers-Moll, calcule as correntes de base, coletor e emissor (utilize VT=0,0258649 V) em cada caso. Implemente o modelo no PSPICE, simule e compare resultados (erro esperado menor que 2%). Depois comente: com uma tensão direta de 0,5 V na junção B-C (circuito à direita), já se observa um “grande impacto” nas correntes de base e coletor, se comparadas ao regime ativo? 35 Exercícios pra trazer na próxima aula Considere um transistor para o qual IS=10-14 A, BF=100 e VA=VEARLY. Com a ajuda do modelo na página 19 (expressão dos livros), calcule IC nos seguintes casos: (a) VCE=1 V (b) VCE=5 V (c) VCE=20 V Implemente o modelo no PSPICE, simule e compare resultados (erro esperado <5%). 36 Exercícios pra trazer na próxima aula Considere um transistor para o qual IS=10-14 A, BF=100. Determine a tensão no emissor (em relação ao terra) quando uma corrente IE0 é forçada no emissor. Compare seu valor com uma simulação em 27 °C. Agora considerando uma variação fictícia de -2mV/°C (chamaremos de φ) em VBE a IC (≈IE) constante, calcule o novo valor de VBE em: (a) T=-25 °C, (b) T=50 °C, (c) T=75 °C. Simule o circuito nestas temperaturas, e com base em seus resultados DE SIMULAÇÃO, implemente uma função da forma VBE(T)=K1-K2·(T - 27 °C). Nesta sua função, o valor de φ estará naturalmente explícito. Qual a diferença percentual em relação ao valor -2mV/°C? (diferença esperada < 25%). Agora inverta a função, para que, dado VBE, você encontre T (ou seja T=f(VBE)) para a faixa de temperatura considerada (-25 a 75 °C). Você pode fazer um sensor de temperatura com o circuito! 37 Exercícios pra trazer na próxima aula Preste bastante atenção nesta questão, ela é interessante pra você botar os neurônios pra pensar. A questão não requer resposta analítica, apenas simulação. Você irá comparar o impacto na corrente de coletor de dois efeitos distintos: o Efeito Early (com temperatura fixa), e o aumento do β em função da temperatura (com VCE fixo). Considerando o modelo ORIGINAL PSPICE do transistor 2N2222, e uma temperatura default de 27 °C, simule o circuito mostrado inicialmente com VCE=1 V. Anote o valor da corrente de coletor (este valor será nomeado IC1). Em seguida, e na mesma temperatura, faça VCE=5 V. Anote o valor da corrente de coletor (IC2). Com base neste novo valor e na diferença de 4 V em VCE, determine a tensão de Early do transistor (ver slide 21). Abra o modelo, e compare com o valor de VAF. Em seguida, coloque a temperatura em 37 °C (apenas 10 °C a mais) e VCE=1 V. Anote o valor da corrente de coletor (IC3). Compare IC3 e IC2. Finalmente, faça VCE=5 V (com 37 °C), e anote o valor da corrente de coletor (IC4). Agora olhe o próximo slide... 38 Exercícios pra trazer na próxima aula Se você medisse o transistor com VCE em 1V, e a pequena potência dissipada (já que VCE é pequeno) fosse tal que a temperatura do transitor se elevaria apenas de 2,5 °C em relação a uma sala em 24,5 °C, você iria medir o valor IC1. Ao mudar VCE para 5V (portanto multiplicando a potência dissipada por 5 vezes, se desprezarmos a variação em IC), a temperatura do transitor se elevaria de 5·2,5 °C=12,5 °C em relação à sala em 24,5 °C, e você mediria IC4. Se no momento do experimento você usasse a regra de triângulos (pag. 13) para determinar VAF a partir de IC1 e IC4, que valor acharia? Este valor corresponde ao valor no modelo? Qual o erro? Veja que o problema acima é que você não levou em conta o impacto da variação do β com a temperatura. Agora bote todos os seus neurônios para, juntos, responderem à questão: Se, para ganhar o emprego na empresa dos seus sonhos, você tivesse que modelar corretamente a tensão de Early do transistor, em que níveis de potência/IC/VCE você faria o experimento? 39