UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA RELAÇÕES DE GÊNERO E PERCEPÇÃO DE VULNERABILIDADE FEMININA AO HIV/AIDS Marcela Contessotto da Silva Orientadora: Luciana Nogueira Fioroni Monografia realizada como trabalho de conclusão do curso de psicologia da Universidade Federal de São Carlos para obtenção do grau de Bacharel. São Carlos - SP 2009 RESUMO O número de mulheres com relacionamento estável infectadas vem aumentando significativamente no Brasil. Os determinantes de gênero e os processos de exclusão social e econômica exercem grande influencia na vulnerabilidade feminina ao HIV/Aids. Objetivou-se investigar o modo como as relações gênero podem influenciar a vulnerabilidade feminina ao HIV/Aids de mulheres portadoras e não portadoras do vírus. Através de uma abordagem de pesquisa qualitativa e utilizando a psicologia sócio-histórica como referencial teórico metodológico foram feitas entrevistas semiestruturadas com as participantes. Foram entrevistadas 10 mulheres, sendo 5 portadoras do vírus (grupo A) e 5 não portadoras (grupo B), mas que já tiveram histórico de DST. O critério para a escolha De um grupo de mulheres que já tiveram DST foi a maior vulnerabilidade destas, já que as DSTs são a porta de entrada para o vírus do HIV. O perfil sócio-demográfico das participantes era muito semelhante. A média de idade do grupo A era de 38,4 anos e do grupo B 28,8 anos. Todas as mulheres eram de baixa renda, a maioria negra ou parda e todas tinham filhos. Todas as mulheres do grupo B e uma do grupo A tinham um relacionamento estável. A transmissão do vírus para as mulheres do grupo A foi exclusivamente pela via sexual através de um relacionamento estável. As categorias de análise a partir do material do grupo A foram: Gênero, Vulnerabilidade e Vivendo com HIV. As categorias identificadas a partir dos discursos do grupo B foram: Gênero e Vulnerabilidade. Pode-se constatar que as histórias de exclusão e vulnerabilidade das participantes de ambos os grupos foram muito semelhantes. As mulheres entrevistadas vivem em uma situação de extrema pobreza, marginalização, violência estrutural e desigualdades de gênero, que são ingredientes fundamentais na manutenção da exclusão social e aumento da vulnerabilidade. Os papéis sexuais masculino e feminino são socialmente construídos e atribuem como características masculinas a virilidade e a impulsividade, e fragilidade e passividade como atributos femininos. Essas concepções naturalizam posturas dentro de um relacionamento que perpetua condições de subordinação da mulher em relação ao homem, principalmente quando a dependência econômica feminina é predominante, como é o caso da maioria das participantes do estudo. A questão do gênero favorece as relações desiguais de poder, o que contribui para o aumento da vulnerabilidade feminina ao HIV/Aids e dificulta tanto a percepção de risco quanto a negociação sexual por práticas preventivas. As ações em saúde não podem se restringir ao plano individual, pois a questão da vulnerabilidade feminina ao HIV/Aids apresenta fatores que extrapolam essa esfera. É preciso considerar as especificidades deste grupo para ações efetivas em prevenção e cuidado. Ao agir neste contexto é necessário considerar os determinantes de gênero como indissociáveis nessa questão e pensar em estratégias de empoderamento e fortalecimento dessas mulheres. PALAVRAS-CHAVE: gênero, vulnerabilidade, HIV/Aids.