Maria Carolina Correa Martone - Sapientia

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental:
Análise do Comportamento
Efeitos de Contingências Discriminativas sobre os
Repertórios Social e de Higiene de uma Participante
Institucionalizada
Maria Carolina Corrêa Martone
PUC/SP
São Paulo
2005
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental:
Análise do Comportamento
Efeitos de Contingências Discriminativas sobre os
Repertórios Social e de Higiene de uma Participante
Institucionalizada
Maria Carolina Corrêa Martone
Dissertação
apresentada
à
Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para a obtenção do título de mestre
em Psicologia Experimental: Análise do
Comportamento, sob orientação do Prof.º
Dr. Roberto Alves Banaco.
Trabalho financiado pela CAPES
PUC/SP
São Paulo
2005
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta dissertação por processos fotocopiadores ou eletrônicos.
Maria Carolina Corrêa Martone, São Paulo, março de 2005
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
_________________________________
_________________________________
AGRADECIMENTOS
Ao Roberto pelo apoio e incentivo desde o começo e por fazer com que a
execução do presente trabalho fosse divertida e tranqüila sob sua orientação.
Às professoras Amália, Teia e Nilza pela dedicação em nos mostrar os caminhos
da Análise do Comportamento.
Aos colegas do laboratório, pela agradável convivência nos anos do mestrado e
em especial a Tatiana pelas sugestões e paciência em assistir aos registros desse
estudo.
Às amigas de toda uma vida Clara , Denise e Claudia pela torcida sincera.
Aos meus queridos irmãos Ricardo e Rodrigo pela amizade e amor
incondicionais ...... vocês sempre farão parte da minha alegria de viver. Ao
Ricardo agradeço também as “leituras de última hora” e as sugestões.
A minha mãe querida, simplesmente por existir na minha vida e ser sempre
um porto seguro nos momentos difíceis.
Ao meu querido pai, que além de ser um exemplo de pesquisador , sempre nos
mostrou o valor e a importância do trabalho sério. Agradeço também as
traduções.
Ao Pituco do coração pela paciência e pelo companheirismo diário ... e por ser
muito querido.
Ao tio Alexandre e a vovó, que embora longe, nunca deixam se de preocupar
com todos.
À Bianca, que além de ser uma gracinha faz o Rodrigo muito feliz
A Angelina pela preocupação e carinho com todos
As queridas irmãs adolescentes Juliana, Mariana e Thaís pela alegria e energia
que trouxeram
Ao pessoal do laboratório, Dinalva, Neusa, Maurício e Conceição pela gentileza
e colaboração durante a execução do trabalho
Agradeço também a CAPES pelo financiamento concedido
Título: Efeitos de Contingências Discriminativas sobre os Repertórios Social e
de Higiene de uma Participante Institucionalizada
Autora: Maria Carolina Corrêa Martone
Orientador: Prof.º Dr. Roberto Alves Banaco
Linha de Pesquisa: Desenvolvimento de Metodologias e Tecnologias de
Intervenção
Núcleo: Psicologia e Saúde
RESUMO
O presente trabalho é composto por dois estudos e foi desenvolvido em um
serviço de Saúde Mental com uma participante diagnosticada com o quadro de
esquizofrenia e com extensa história de tratamentos psiquiátricos. Para o
Estudo 1 o objetivo foi instalar duas cadeias de respostas relacionadas ao
cuidado pessoal, lavar as mãos e escovar os dentes, utilizando como
procedimento instrução, dicas e encadeamento de respostas . O término da
execução de cada cadeia de respostas foi consequenciado pela apresentação de
observações sociais positivas do tipo elogios. O Estudo 2 constou de um treino
discriminativo cuja proposição foi aumentar respostas de leitura e conversa
sobre a leitura realizada consequenciando-as através de reforçamento social na
forma de atenção e elogios. Ao mesmo tempo respostas não coerentes e não
inteligíveis foram ignoradas.
Os resultados indicaram que para o Estudo 1, a combinação de instrução, dicas
e reforçamento positivo foram eficientes em modificar as respostas de cuidado
pessoal enquanto essas condições se mantiveram. Para o estudo 2 constatou-se
que o treino ampliou o repertório da participante
para comportamentos
complexos como leitura, ao passo que reduziu a freqüência de respostas não
coerentes e não inteligíveis. Além disso, a suspensão do reforçamento social
positivo na forma de atenção foi uma das variáveis que controlou o
comportamento da participante no aumento da freqüência das respostas
inadequadas. Por outro lado, foi notado que alterações não planejadas de seu
meio familiar (brigas) alteraram bastante o repertório durante o treino, mesmo
com a manutenção das conseqüências sociais no serviço de Saúde Mental.
Palavras Chave: treino de habilidades sociais, treino de atividades da vida
diária, esquizofrenia, comportamento psicótico.
ABSTRACT
This dissertation was developed in a Mental Health Service, taking as a case a
patient with the diagnosis of schizophrenia and an extensive record of
psychiatric treatment. The paper comprises two studies. Study 1 aimed at
getting two response chains related to personal care (washing the hands and
brushing the teeth), using as the procedure instruction, prompts and sequence
of responses. The end of each sequence of responses was followed by positive
social observations in the form of praise. Study 2 comprised a discriminative
exercise aiming at increasing the responses to reading and talking about the
material read, sequencing the responses by social reinforcement in the form of
attention and extolment. At the same time incoherent and unintelligible
responses were ignored. The results indicated that, in Study 1, the combination
of instruction, prompts and positive reinforcement, were efficient means to
modify the responses to personal care as long as the experimental conditions
were maintained. In Study 2, it was found that training amplified the patient’s
repertoire for complex behavior like reading, at the same time reducing the
frequency of incoherent and unintelligible responses. Moreover, the suspension
of positive social reinforcement in the form of attention was one of the variables
that controlled the patient’s behavior, inducing an increase in the frequency of
inadequate responses. On the other hand, it was observed that unplanned
variations in the familiar milieu (altercations) substantially changed the
repertoire during the training, even with the maintenance of the social
consequences in the Mental Health Service.
Key words: training of social skills, training of daily life activities,
schizophrenia, psychotic behavior.
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................... 01
Método ......................................................................................................27
Resultados .................................................................................................46
Discussão...................................................................................................58
Considerações Finais ...............................................................................72
Referência Bibliográfica ..........................................................................74
Anexo I
Anexo II
Anexo III
Anexo IV
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Respostas de cuidado pessoal observadas durante linha de base e
treino ..............................................................................................................................46
Figura 2: Respostas emitidas pela participante em cada etapa do treino ..............
.........................................................................................................................................48
Figura 3: Ocorrência de generalização para comportamentos não treinados .........
.........................................................................................................................................50
Figura 4: Freqüência das respostas de olhar a revista durante as sessões
.........................................................................................................................................52
Figura 5: Freqüência de respostas de fala não inteligível durante as
sessões............................................................................................................................53
Figura 6: Freqüência das respostas de fala não coerente durante as sessões
.........................................................................................................................................54
Figura
7:
Freqüência
das
respostas
de
leitura
durante
as
sessões............................................................................................................................54
Figura 8: Freqüência das respostas de conversar sobre assuntos relacionados aos
temas lidos nas revistas ...............................................................................................55
Figura 9: Relação entre a ocorrência de respostas de leitura e conversa e a
ocorrência de respostas de fala incoerente e não inteligível..................................56
Figura 10: Relação entre o total de respostas de olhar a as respostas de olhar que
foram de leitura no decorrer do treino ....................................................................57
1. Transtornos mentais e modelos animais de psicopatologia
Os critérios diagnósticos para os transtornos mentais contidos nos manuais
de psiquiatria apresentam descrições comportamentais que têm, entre os seus
objetivos, o de permitir a padronização e a troca de informações entre
profissionais. Contudo, é importante ressaltar os limites destas descrições, devido
ao seu caráter estritamente topográfico e construído sob critérios estatísticos de
“normalidade” (Banaco, 1999a).
Alguns dos transtornos mentais apresentam o que a literatura psiquiátrica
chama de comportamentos psicóticos e que muitas vezes estão associados ao
diagnóstico de esquizofrenia. Tais comportamentos caracterizam-se, em linhas
gerais, por um estado alterado no qual a pessoa tem sensações que não
correspondem à realidade vivida pelos outros e pensamentos que fogem ao seu
controle.
Não se pode dizer que a psicose seja sinônimo do chamado transtorno
esquizofrênico,
embora
muitos
dos
principais
sintomas
sejam
comuns.
Comportamentos psicóticos são um conjunto de comportamentos presentes em
diferentes transtornos mentais, inclusive no grupo das esquizofrenias, e que levam
a alterações no desempenho social e profissional (APA, 1994).
2
Os padrões comportamentais denominados de psicóticos, presentes
na
esquizofrenia, são fonte de intenso sofrimento para o indivíduo que o apresenta e
para a família que com ele convive. Costumam começar a partir do ponto em que
esses indivíduos relacionam-se com objetos e coisas que não existem no nosso
mundo. Em geral, o indivíduo modifica seus planos, suas idéias, suas convicções e
seu comportamento por causa de eventos não compartilhados pelos outros, ao
mesmo tempo em que a realidade clara e patente significa pouco ou nada .
Em relação à esquizofrenia, não se sabe até o momento se existe um fator
causador específico do transtorno. De fato, considera-se hoje uma doença de causa
multifatorial: o mais aceito é que algumas pessoas nascem com uma predisposição
geneticamente determinada, que em conjunção com conjunto de
estressores
ambientais (muitas vezes não claramente determinados), desenvolvem a doença.
Ocorre em média em 1% da população, porém, o aparecimento de um novo caso é
mais freqüente em famílias onde existe alguém com tal diagnóstico (APA, 1994).
De acordo com o DSM – IV (APA,1994), o transtorno esquizofrênico
caracteriza-se pela presença de sintomas positivos: distorções ou exageros do
pensamento (delírios), da percepção (alucinações), da linguagem e comunicação
(discurso desorganizado) e sintomas negativos: embotamento afetivo, alogia e
avolição.
3
Segundo esse manual, os delírios
são crenças errôneas, habitualmente
envolvendo a interpretação falsa de percepções ou experiências do dia a dia, e seu
conteúdo pode incluir uma variedade de temas. Os delírios são considerados
bizarros se são claramente implausíveis e incompreensíveis, e se não derivam de
experiências comuns da vida.
Já as alucinações podem ocorrer em qualquer
modalidade sensorial (por ex., auditivas, visuais, olfativas, gustativas e táteis),
sendo as alucinações auditivas as mais comuns.
Um comportamento amplamente desorganizado pode ser observado
quando o indivíduo apresenta problemas em qualquer forma de comportamento
dirigido a um objetivo específico. Em geral, essa característica é percebida através
da dificuldade manifestada ao realizar
tarefas que exijam uma seqüência de
comportamentos para a sua completa realização, como por exemplo, organizar as
refeições, manter a higiene, cuidar de tarefas domésticas, entre outras.
O embotamento afetivo é um sintoma especialmente comum e se caracteriza
pelo fato do indivíduo quase não apresentar expressão facial e pouco contato
visual com os outros, e a alogia (pobreza do discurso) é manifestada por respostas
breves, lacônicas e vazias.
Por fim, o DSM IV (APA, 1994) define a avolição como uma incapacidade
do sujeito de iniciar e persistir em atividades dirigidas a um objetivo. A pessoa
4
pode ficar sentada por longos períodos de tempo e demonstrar pouco interesse em
participar de atividades profissionais ou sociais.
Um dos subtipos do transtorno, a esquizofrenia residual, é comumente
encontrada em pacientes psiquiátricos crônicos, com vários anos de manifestação
da doença. Esse subtipo caracteriza-se pela presença persistente de sintomas
"negativos" tais como: lentidão motora, falta de iniciativa, pobreza da quantidade
e do conteúdo do discurso, pouca comunicação não-vocal (expressão facial, contato
ocular, modulação da voz e gestos), falta de cuidados pessoais e desempenho
social medíocre (CID-10, 1993) .
De acordo com a análise do comportamento os sintomas descritos nos
manuais psiquiátricos devem ser entendidos como descrições topográficas do
comportamento.
As
pessoas
diagnosticadas
com
esquizofrenia
diferem
enormemente entre si em seus problemas comportamentais e capacidades
adaptativas. Assim, “levar em consideração as condições ambientais (condição de
privação- social ou material, estimulação aversiva, reforçamento etc.) que participam de um
conjunto de variáveis biológicas e culturais é fundamental para o planejamento de qualquer
tratamento” (Martone e Zamignani, 2002, p 307).
Modelos experimentais que utilizam animais como sujeitos, vêm tentando
reproduzir em laboratório fenômenos análogos aos processos “psicopatológicos”
5
observados em humanos. Neste caso, o foco não é todo e qualquer comportamento
humano, mas aqueles que em nossa cultura são chamados de transtornos mentais e
para os quais há demanda social por uma compreensão sistematizada (Silva, 2003).
As vantagens do uso de animais no estudo de psicopatologias caracterizamse pelo controle da história de vida e da hereditariedade, pela possibilidade de
isolamento de variáveis, pelo monitoramento sistemático de seus comportamentos
e pela verificação das mudanças conseqüentes à manipulação de eventos (Thomas,
2001).
Para Silva (2003) as leis básicas do comportamento se aplicam aos
organismos nas diferentes escalas de filogenia. Desta forma, os estímulos podem
ser físicos ou verbais; o organismo pode ser afetado por privação, drogas, por
vozes que escuta, entre outros eventos que alteram sua predisposição para
responder ao mundo. A autora acrescenta ainda que o essencial no modelo é que o
estímulo físico se torne o mais parecido com o verbal, ou que o efeito de uma
droga simule o efeito corporal humano.
Vários modelos têm sido propostos para simular a esquizofrenia. Os mais
utilizados baseiam-se em mudanças produzidas por drogas e por lesões cerebrais
em áreas supostamente envolvidas na esquizofrenia (Silva, 2003). Entretanto,
alguns modelos animais simulam este transtorno através de manipulações do meio
6
ambiente, utilizando tratamentos não farmacológicos para provocar sintomas
específicos do transtorno (Alves e Silva, 2001).
Um dos modelos de esquizofrenia encontrados na literatura é o do
isolamento social (Mckinney e Bunney,1969), no qual se isola um animal da mãe nas
primeiras semanas de vida, colocando-o em uma gaiola individual sem contato
físico e visual com outros membros da espécie. Quando esse animal é removido do
isolamento observa-se uma diminuição da freqüência de vários comportamentos,
como os de interação social e consumo de alimento, em relação ao padrão
comportamental de um grupo controle.
Alves e Silva (2001) assinalam que os modelos animais que utilizam o
isolamento social se preocupam em verificar conseqüências futuras da falta de
contato social no início da vida e sugerem que o desequilíbrio na comunicação
social e a falta de contato social são sintomas relevantes da esquizofrenia. Os
autores ainda apontam, que
os resultados desses estudos mostraram estados
depressivos acompanhados de severas alterações comportamentais no animal
adulto,
similares
aos
sintomas
depressivos
apresentados
por
pacientes
esquizofrênicos.
Outro modelo animal que utiliza a manipulação de variáveis ambientais é o
modelo de pré – exposição ao estímulo condicionado (CS) ou inibição latente (LI)
7
(Lubow, 1998). O efeito básico da LI é demonstrado quando um estímulo que é préexposto sem conseqüências torna-se menos efetivo como um estímulo condicionado
(Lubow, 1998, p 107) . O modelo de LI se vale da exposição repetida a um
estímulo sem conseqüência para reduzir o controle por esse estímulo em um
condicionamento subseqüente (Silva, 2003).
A LI tem sido um modelo utilizado para estudar a atenção seletiva: o sujeito
ignora estímulos irrelevantes e seleciona outros relevantes. Para Silva (2003)
ignorar um estímulo que não tem conseqüência é um procedimento econômico, e
tem provavelmente uma origem filogenética. O efeito da LI foi demonstrado no
ser humano e em várias outras espécies (cães, carneiros, coelhos e ratos).
Para Lubow (1998) uma das principais características de indivíduos
esquizofrênicos é a dificuldade em manter a atenção (responder discriminado,
baseado em algum estímulo ou propriedade do estímulo)1. Assim, uma
diminuição ou falha do efeito da IL, seria responsável pela ausência de atenção
seletiva desses indivíduos. A conseqüência desse processo seria um contínuo
comportamento de atentar a quaisquer
estímulos presentes ou irrelevantes,
tornando difícil a execução de quaisquer tarefas.
1
Diz-se que um organismo atenta para um estímulo ou para a propriedade de um estímulo quando variações
naquele estímulo ou na propriedade mudam o comportamento. Por exemplo, dizer que um pombo discrimina
entre a presença e a ausência de uma luz azul, ou dizer que ele atenta para a cor e não para o brilho, é dizer
que seu comportamento muda com variações no comprimento da onda, mas não com a intensidade (Catania,
1999, p386).
8
Silva (2003) observa que esquizofrênicos submetidos ao procedimento de
LI suprimem a resposta ao estímulo de pré-exposição, ou seja, não exibem LI, não
“aprendem” a irrelevância do estímulo. Desta forma, aspectos do ambiente que
normalmente passariam desapercebidos, dada a sua irrelevância preditiva, passam
a fazer parte do repertório do indivíduo e produzem dificuldades típicas do
transtorno, tais
como
o pensamento desorganizado. Diz-se então que o
esquizofrênico apresenta um prejuízo na atenção seletiva, mas “numa análise
comportamental, essa super – atenção pode ser entendida como uma alteração no controle
do comportamento pelo ambiente” (Silva, 2003,p 39).
Os estudos iniciais de Seligman, Maier e Solomon (1971) mostraram que
animais
que
experimental
receberam
choques
não aprenderam
elétricos
inevitáveis
em
uma
situação
uma resposta de fuga quando esta se tornou
disponível em uma nova situação. A proposta do modelo de desamparo aprendido
(Seligman,1977) oriunda desses estudos, destaca que algumas circunstâncias
podem ensinar o indivíduo que seu ambiente mudou e
que, de uma forma
generalizada, reforçamentos não serão mais disponíveis. Conseqüentemente, ele
deixa de emitir respostas frente a novas situações, mesmo sem experimentar a
extinção.
Essa redução do repertório comportamental do organismo pode ser fruto de
diversas relações do organismo com eventos ambientais aversivos e incontroláveis.
9
Hunziker (2001) comenta que se essa experiência é tão traumática a ponto do
indivíduo aprender que os aspectos do ambiente não estão sob o seu controle, no
futuro ele atuará menos sobre o seu meio ambiente, emitindo menos respostas. Por
conta disso, será pouco reforçado, diminuindo drasticamente o seu repertório.
O crítico nos estudos sobre desamparo aprendido, é o fato de que os
indivíduos expostos a eventos aversivos incontroláveis deixam de mostrar
sensibilidade aos reforçadores, mesmo em circunstâncias em que respostas são
emitidas e seguidas de eventos que anteriormente mantiveram seu comportamento
(Hunziker, 2001)
Seligman (1977) observou que um organismo exposto constantemente a
eventos ambientais incontroláveis não aprende, em contingências posteriores, a
dependência entre uma resposta e a conseqüência, mesmo quando ela existe. Por
conseguinte, apresenta uma redução em seu repertório comportamental (alteração
da motivação para iniciar respostas, diminuição das ações agressivas, diminuição
da capacidade de aprender e distúrbios emocionais) e uma diminuição de
sensibilidade às contingências de reforçamento.
Embora o desamparo aprendido venha sendo utilizado como um modelo para
a depressão, vários dos aspectos apresentados pelo DSM-IV (APA,1994) na
caracterização da esquizofrenia parecem ter aspectos comuns com a depressão,
10
onde se destacam os sintomas negativos (embotamento afetivo, alogia e avolição)
que respondem por um grau substancial da morbidade associada ao transtorno.
2. Comportamento psicótico como comportamento operante
B.F Skinner, durante a década de 50, participou de uma série de
conferências (Skinner, 1959/1961) nas quais discutiu-se a contribuição da análise
do comportamento na intervenção junto ao transtorno mental. Nesse encontro, o
autor apresentou a psicologia como um ramo do conhecimento capaz de descrever
e mensurar o comportamento de um indivíduo na sua relação com os fatores
ambientais que o circundam.
Mais do que isto, Skinner (1998/1953) defendeu a idéia de que o
comportamento não é autodeterminado e que é possível encontrar
no
comportamento ordem e previsibilidade. Para o autor, o que o homem faz é
resultado de condições que podem ser especificadas e que uma vez determinadas,
são capazes de antecipar e até certo ponto determinar ações. Foi a partir da busca
de relações ordenadas entre o organismo e o ambiente que Skinner inseriu a
possibilidade de uma ciência do comportamento
Os comportamentos psicóticos característicos de alguns transtornos mentais
são apresentados por Skinner (1959/1961) como produtos de uma história
particular de reforçamento. Além disso, representam para o autor somente uma
11
parcela do comportamento do sujeito e são regidos pelos mesmos princípios que
governam qualquer outro tipo de comportamento.
Para Skinner (1998/1953) o
que um indivíduo realiza é fortemente
controlado pelo que acontece a seguir, ou seja, pelas conseqüências da ação, sendo
qualquer comportamento sujeito a essa lei. Desta forma os comportamentos
psicóticos, exceto pelo fato de serem, algumas vezes, incômodos ou perigosos aos
próprios indivíduos ou aos outros, não devem ser diferenciados de qualquer
outro comportamento, sendo portanto, objeto de estudo do analista do
comportamento.
De acordo com Skinner (1998/1953) quando se deseja explicar o
comportamento por intermédio de uma ciência natural, o ambiente deve
desempenhar necessariamente um papel primordial. Para o autor, qualquer
padrão de comportamento deve ser considerado tendo em vista os três níveis de
seleção do comportamento: (1) o nível filogenético, que se refere a características
herdadas no processo evolutivo da espécie e as características genéticas
individuais; (2) nível ontogenético, que diz respeito
ao repertório de
comportamentos adquiridos pelo indivíduo ao longo de sua história de
aprendizagem e (3) nível cultural, que envolve as práticas culturais de
determinado grupo social e sua relação com o comportamento de cada integrante
deste grupo.
12
Assim, o analista do comportamento, para compreender os processos
envolvidos ao estudar padrões de comportamentos psicóticos, deve considerar
que genética, história de vida e contingências atuais estão presentes na
determinação de qualquer comportamento.
Para Hunziker (2001) a determinação genética é considerada nessa análise,
apenas como responsável pela estrutura básica do organismo, já que sendo o
comportamento a interação do organismo com o ambiente, ele automaticamente
reflete a herança genética selecionada ao longo da evolução da espécie. A autora
acrescenta ainda que, uma vez que a individualização se processa ao longo da vida
sobre essa base orgânica herdada, as relações aprendidas com o meio formam a
história pessoal e única que garante a individualidade de cada ser. Por sua vez, a
história particular vai interagir com as condições presentes na vida desse
indivíduo, gerando seu comportamento atual, objeto de trabalho e estudo do
analista do comportamento.
3. Programas utilizados na aplicação da análise do comportamento em
indivíduos com transtornos psiquiátricos
Segundo Scotti, McMorrow e Trawitzki (1993) as aplicações clínicas da
análise do comportamento são decorrentes dos estudos experimentais com animais
no final da década de 50. O interesse desta área do conhecimento dirigiu-se a
diversos problemas humanos, com ênfase em trabalhos que foram desenvolvidos
13
junto à pacientes psiquiátricos crônicos. Entretanto, apesar do trabalho aplicado
desenvolvido e da experiência adquirida junto aos pacientes psiquiátricos, de uma
forma geral a literatura corrente sugere que a participação de analistas do
comportamento nesta área tem declinado (Kazdin, 1977; Bellack, 1986; Scotti,
McMorrow e Trawitzki, 1993; Schock, Clay e Cipani, 1998; Bellack, Buchanan ;
Gold, 2001 e Martone e Zamignani, 2002).
Esse declínio é observado especialmente nas décadas de 80 e 90 pelo
decréscimo de publicações, tanto em jornais sobre psicologia e psiquiatria, quanto
em periódicos específicos para intervenções comportamentais(Scotti, McMorrow e
Trawitzki, 1993), enquanto que tratamentos com outros problemas clínicos, tais
como autismo e ansiedade continuaram sendo divulgados pela área (Bellack,
Buchanan e Gold, 2001).
Como já apresentado (Scotti, McMorrow e Trawitzki ,1993) as técnicas
comportamentais tiveram uma extensa história de sucesso no tratamento de
indivíduos com “doença” mental crônica. Geralmente as técnicas empregadas
envolviam manipulação de conseqüências frente a um problema ou sintoma alvo,
enquanto eram programados reforçamentos concorrentes para promoção de
comportamentos socialmente aceitáveis.
14
A literatura apresenta numerosos casos onde cigarro e outros reforçadores
foram utilizados para eliminar comportamentos inadequados (Ayllon e Azrin,
1968; Kale, Kaye, Whelan e Hopkins, 1968; O’Brien, Azrin e Henson, 1969). Por
exemplo, Kale, Kaye, Whelan e Hopkins (1968) utilizaram cigarros como
reforçadores para aumentar o comportamento de saudar e cumprimentar dentro
de uma enfermaria psiquiátrica.
Bellack (1986) ressalta que tais estudos foram importantes para demonstrar
que os pacientes psiquiátricos respondiam diferencialmente a manipulações
ambientais, porém várias das técnicas empregadas foram pouco efetivas. Para o
autor o resultado dos estudos iniciais foi interpretado como se os sintomas
psicóticos pudessem ser facilmente controlados ou se tratassem de uma coleção de
comportamentos operantes indesejáveis. Em geral as intervenções ocorriam em
enfermarias psiquiátricas onde
pacientes
crônicos e com extensa história de
tratamento residiam .
No programa de economia de fichas (PEF), um dos
programas mais
difundido em instituições psiquiátricas e penais (Kale, Kaye,Whelan e Hopkins,
1968; Winkler, 1970; Wincze, Leitenberg e Agras, 1972; Bennett e Maley, 1973;
Tracey, Briddell e Wilson, 1974; Nelson e Cone, 1979) alguns aspectos do
comportamento dos participantes eram selecionados e conseqüências arbitrárias
arranjadas.
15
Os comportamentos alvo mais comuns escolhidos para serem modificados
eram os de manejo pessoal (arrumar a cama, se vestir, exercitar-se etc.), higiene
pessoal (pentear cabelos, escovar os dentes, tomar banho etc.) e de baixa interação
social (retraimento, isolamento etc.) por serem importantes para a manutenção da
organização das enfermarias. No PEF o reforço se dava através do uso de fichas
que poderiam ser trocadas por guloseimas, cigarros, atividades de recreação entre
outras coisas.
Entretanto, para Schock et al (1998) os procedimentos do PEF nem sempre
se mostraram efetivos em todas as aplicações. Para os autores o emprego de
reforçadores extrínsecos, que mantêm uma relação arbitrária com as respostas que
o
produzem
(Catania,
1999)
(entrega
de
fichas
mediante
emissão
de
comportamento desejado), sem uma análise mais ampla das variáveis de controle
envolvidas na manutenção dos comportamentos - problema, gerou resultados
pouco duradouros.
Por exemplo, em um estudo de Wincze, Leitenberg e Agras (1972), os
autores pretenderam reduzir o comportamento verbal alucinatório de um grupo
de dez pacientes psiquiátricos internados e diagnosticados com esquizofrenia
empregando as técnicas de feedback e economia de fichas. Na fase de feedback,
quando uma resposta incorreta era emitida, por exemplo, se o sujeito afirmasse ser
“Jesus Cristo” o terapeuta o corrigia . Na fase de reforçamento com fichas, estas
16
eram entregues contingentes aos comportamentos não alucinatórios e às respostas
corretas (respostas coerentes com a pergunta solicitada). As fichas podiam ser
trocadas por diferentes tipos de comida, cigarros e acesso a materiais de lazer. Os
resultados apontaram que apenas 50% dos pacientes apresentaram redução no
comportamento alucinatório, que essa redução se manteve por um curto período
de tempo e não se generalizou para outras situações fora da enfermaria
psiquiátrica.
Resultados como os do estudo citado acima produziram revisões sobre o
PEF (Gripp e Magaro,1974 e Nelson e Cone,1979). Segundo estas publicações o
PEF seria um sistema social –psicológico complexo com inúmeras variáveis
operando na manutenção e modificação do comportamento. Conhecer e controlar
as múltiplas variáveis que atuam no ambiente do PEF seria fundamental para
avaliar a eficácia de específicos procedimentos operantes.
Nelson e Cone (1979) avaliaram que, além de analisar mudanças no
comportamento alvo, considerar variáveis como o tipo de ambiente institucional
(enfermarias psiquiátricas, reformatórios, prisões), a qualificação das equipes das
instituições, a ocorrência de generalizações dos comportamentos treinados fora
das instituições e a manutenção do tratamento adquirido, seriam fundamentais
para o planejamento das intervenções aplicadas do PEF.
17
Para Holland (1978) as pessoas cujos comportamentos devem ser
modificados têm sido chamadas de doentes mentais, sociopatas, delinqüentes,
irrecuperáveis etc. Para o autor não é suficiente que
o modificador do
comportamento proceda a um arranjo particular de contingências de reforçamento
em ambientes institucionais especiais, como por exemplo o PEF em hospitais
psiquiátricos.
(...) dos sujeitos cujos comportamentos foram corrigidos dessa maneira, se espera
que mantenham seu novo comportamento independentemente das condições que
prevalecem fora das instituições. No entanto, a análise do comportamento ,
enquanto ciência, diz que o comportamento se adapta a contingências- quaisquer
que sejam – e não só as contingências programadas pelo psicólogo. O próprio
comportamento que perturba aquele que emprega o analista do comportamento é
fruto de contingências. Se isso é real e se é necessário obter mudanças
duradouras no comportamento, são essas contingências que precisam ser
mudadas. Mudanças duradouras no comportamento exigem que se modifiquem
as contingências que produzem e mantêm o comportamento original (...)
(Holland, 1978,p 61).
O autor alerta para que seja realizada uma análise das condições de controle
na sociedade como um todo. Questões como quais são as contingências existentes
no local de trabalho, quais são os meios pelos quais as pessoas são exploradas,
como se dá à distribuição de riquezas num determinado país, não podem deixar
de ser consideradas. Segundo ele, os programas elaborados pelos analistas do
comportamento ao se envolverem com os objetivos dos sistemas sociais
18
estratificados também seguem as formas de poder características da sociedade
onde estão inseridos.
Outro programa difundido em intervenções aplicadas à pacientes
psiquiátricos foram os procedimentos baseados em melhorar o desempenho social
desta população (Social Skill Training- SST). O programa previa treinamento das
equipes locais e um pacote de tratamento, em geral apresentado em um
delineamento de linha de base múltipla, para modificar distorções ou exageros do
pensamento e da linguagem e comunicação. Modelagem, instrução e feedback
foram as técnicas empregadas nestes estudos (Frederiksen, Jenkins, Foy e Eisler,
1976; Hersen e Bellack,1976; Bellack,1976).
Por exemplo, Bellack (1976) propôs uma intervenção de sete semanas e
baseada em SST junto a três esquizofrênicos de uma enfermaria psiquiátrica. O
tratamento consistiu de instruções, feedback e modelagem. Os comportamentos –
alvo a serem modificados foram identificados para cada paciente a partir de suas
respostas ao assistirem uma série de cenas envolvendo interações interpessoais.
Cinco comportamentos –alvo foram selecionados para cada participante (contato
visual, duração do discurso, entonação apropriada da voz e sorrisos e gestos
apropriados) e tratados seqüencialmente em uma linha de base múltipla. Os
resultados apresentados mostraram generalização para cenas não treinadas e um
follow-up de dez semanas indicou manutenção dos desempenhos modificados.
19
Na
década
de
90
novas
técnicas
surgiram
para
a
solução
de
comportamentos problema, tais como, o tratamento de crianças autistas e adultos
com severas desordens de comportamento (Scotti, McMorrow e Trawitzki, 1993).
Diversas metodologias foram desenvolvidas para identificar os eventos
antecedentes e conseqüentes associados com a aparição de problemas de conduta.
Uma delas foi a análise funcional experimental descrita por Iwata, Dorsey,
Slifer e Richman (1982/1994). Os autores destacam três enfoques para a avaliação
de comportamentos problema: (1) Métodos indiretos: que se baseiam em relatos
verbais, como as entrevistas e escalas; (2) Análise descritiva: que avalia o
comportamento do indivíduo em suas interações com o ambiente sem manipular
as variáveis suspeitas de influenciá-lo e se baseia em dados observáveis no
contexto natural onde os comportamentos se desenvolvem ; (3) Análise funcional
ou experimental: que similar a um experimento deve apresentar a manipulação de
cada fator que contribui para o aparecimento do comportamento problema,
comprovando a validez dos dados encontrados na fase anterior.
Para Schock et al (1998) os poucos estudos atuais publicados, cuja
população alvo foi a de indivíduos diagnosticados com esquizofrenia, têm sido
arbitrariamente selecionados, a despeito do uso e da demonstração da validade do
modelo de análise funcional
descrito por Iwata e cols (1982/1994)
tratamento de crianças autistas ou com incapacidades severas.
para o
20
Os autores acrescentam que os modelos comportamentais que se baseiam
em contingências de reforçamento positivo têm se mostrado muito simplistas para
a compreensão deste comportamento complexo e não têm considerado muitas das
variáveis de controle envolvidas, tais como as contingências de reforçamento
negativas, como fuga e esquiva, bem como, o papel de um conjunto de eventos
como
a
manipulação
de
estímulos
antecedentes
na
manutenção
dos
comportamentos.
Diversos estudos desenvolvidos na pesquisa aplicada da Análise do
Comportamento têm utilizado a análise funcional nos moldes de Iwata e cols
(1982/1994) com crianças e adolescentes
que apresentam comportamento
autolesivo (Iwata et al, 1994; Kennedy, 1994; Taylor e Ekdahal, 1994; Smith et al,
1995; Kahng e Iwata, 1998; Wacker, Cooper; Peck, Derby e Berg, 2000).
Por exemplo, Iwata et al (1994), em um estudo epidemiológico, expuseram
152 sujeitos a uma série de condições nas quais os eventos antecedentes e
conseqüentes ao comportamento autolesivo foram examinados sistematicamente.
A análise funcional experimental revelou que reforçamento social negativo (na
forma de fuga da execução de tarefas) manteve o comportamento problema em
38,1% dos casos estudados. Reforçamento social positivo (atenção ou acesso à
comida e materiais de lazer) foi responsável por 26.3% e reforçamento automático
por 25.7%. Em 9.9% dos casos não ocorreu um padrão de respostas consistente
para que os resultados fossem incorporados aos números acima.
21
A extensão dos trabalhos desenvolvidos nessa área se propagou para
algumas intervenções junto a outras populações como aquelas diagnosticadas com
esquizofrenia (Mace e Lalli, 1991; Wilder, Masuda, O’Connor e Baham, 2001).
Mace e Lalli (1991) usaram métodos descritivos e experimentais para
analisar os determinantes ambientais de um adulto esquizofrênico quando da
emissão de discurso bizarro (frases que se referiam a estímulos não presentes ou
discutidos durante as avaliações). Uma análise baseada em observação direta dos
comportamentos
revelou que as vocalizações bizarras ocorriam com maior
freqüência na presença de tarefas e na ausência de atenção. Quando o discurso
bizarro foi emitido durante as solicitações de tarefa estas foram suspensas e o
comportamento observado. Quando as vocalizações bizarras ocorreram na
ausência de atenção da equipe, atenção foi fornecida.
As duas hipóteses para a manutenção do discurso bizarro (esquiva de
tarefas e ausência de atenção) foram testadas
e somente a hipótese de
comportamento mantido para obtenção de atenção se manteve. Os dados
encontrados permitiram a proposição de duas intervenções: (1) fornecer ao sujeito
atenção não contingente às verbalizações bizarras (2) treino de novas habilidades
de linguagem (verbalização adequada). As duas intervenções foram efetivas em
suprimir o discurso bizarro.
22
Wilder et al (2001), também com o objetivo de observar que eventos
mantinham uma classe de comportamentos denominada de vocalizações bizarras
em sujeitos diagnosticado com esquizofrenia, utilizaram um procedimento
análogo às condições descritas acima. Após concluírem que os comportamentos
eram mantidos para obtenção de reforçamento social positivo na forma de
atenção, um delineamento reverso foi usado para avaliar uma intervenção que se
baseou em reforçamento diferencial para vocalizações apropriadas e extinção das
vocalizações bizarras. Os resultados mostraram que o tratamento produziu uma
substancial redução das vocalizações bizarras a níveis próximos de zero, bem
como aumento de vocalizações apropriadas.
4. Procedimentos empregados na modificação do comportamento
Os estudos aplicados relatados na literatura com diferentes populações alvo,
têm utilizado, entre outros procedimentos possíveis, fading, dicas (prompts),
encadeamento, modelagem
e instrução
para atingirem seus objetivos de
modificação do comportamento nos diferentes ambientes de intervenção.
O fading se caracteriza pela transformação gradual de um estímulo em outro
ou pela mudança gradual de uma dimensão do estímulo (Sério, Andery, Gioia e
Micheletto, 2002) e tem sido um procedimento utilizado para melhorar diferentes
aspectos do comportamento, principalmente na promoção de aprendizagem sem
23
erro (Doran e Holland, 1979) . Segundo Catania (1999) o estabelecimento do
controle de estímulos por meio da alteração gradual de estímulo é bastante efetivo,
sendo possível introduzi-los (fading in) ou removê-los (fading out) gradualmente.
O procedimento de fading permite que as propriedades do estímulo que
definem uma classe operante discriminada possam ser gradualmente alternadas
(Catania, 1999) , ou seja, um treino não precisa começar com estímulos difíceis de
discriminar, mas pode sim, começar por aqueles que são fáceis de discriminar e,
então, gradualmente mudar para estímulos mais difíceis.
Piazza, Moes e Fisher (1996) propuseram uma intervenção junto a um
menino autista para reduzir seu comportamento destrutivo (bater, bater a cabeça,
gritar etc) quando a execução de tarefas era solicitada . Para tanto utilizaram um
pacote de tratamento que incluiu reforço diferencial para comportamentos
alternativos, entrega de tarefas de forma gradual (demand fading) e dicas (prompts).
As dicas (orientação física, gestual e verbal) foram apresentadas simultaneamente
a cada 10 segundos independentemente da ocorrência do comportamento
destrutivo. Os resultados obtidos mostraram que o procedimento diminui o
comportamento destrutivo a níveis próximos de zero e a entrega gradual de
tarefas aumentou sua execução.
Controlar o comportamento através da instrução ao invés do controle
modelado por contingências tem sido uma questão bastante investigada na
24
pesquisa aplicada (O’Hara, Holmes e Roche, 2001). Para Catania (1999) o
comportamento governado por contingências ou modelado por contingências é o
comportamento que foi modelado pelas suas conseqüências e difere das
propriedades do comportamento determinado por antecedentes verbais, chamado
de comportamento governado verbalmente ou algumas vezes, de comportamento
governado por regras.
Engelman, Altus e Mathews (1999) realizaram um estudo cujo objetivo foi
treinar auxiliares de enfermagem de uma instituição para idosos demenciados a
utilizarem dicas verbais e instrução para melhorarem o desempenho dos
residentes em tarefas relacionadas a atividades da vida diária (comer sozinho, se
vestir etc)
e fornecer elogios para a emissão das respostas desejadas.
Os
resultados indicaram que o treino fornecido à equipe de enfermagem produziu
aumento da freqüência das atividades da vida diária em todos os cinco idosos
participantes do estudo.
Como ressalta Catania (1999) uma característica importante da instrução é
que ela substitui as contingências naturais por antecedentes verbais que podem
modificar o comportamento do ouvinte em situações em que as conseqüências
naturais são, por si mesmas, ineficazes ou eficientes somente a longo prazo. No
estudo descrito acima, como a população alvo foi de idosos com demência, um
fator foi decisivo para a escolha do uso de instrução: expô-los a conseqüências
naturais seria possivelmente ineficaz ou muito demorado.
25
Altus e Mosier (2003) também propuseram um estudo cujo objetivo foi
treinar auxiliares de enfermagem de uma instituição para idosos a melhorarem o
desempenho dos residentes
na tarefa de vestirem-se sem ajuda.
O
comportamento de se vestir foi decomposto em uma seqüência de 14
componentes. Elogios foram fornecidos quando o residente completava a tarefa
proposta. Os resultados mostraram que os idosos tornaram-se independentes na
tarefa de vestir.
O estudo relatado acima mostra como “uma resposta pode produzir ou alterar
variáveis que controlam outra resposta, gerando como resultado uma cadeia” (Skinner,
1998, p 244). O uso de cadeias de respostas também tem sido um recurso utilizado
para modificar comportamentos. Para Catania (1999,p 142) “ao quebrar-se uma
seqüência de comportamento em seus componentes, pode-se começar a tratar a seqüência
como uma sucessão de operantes diferentes, cada um definido pela conseqüência reforçadora
de produzir uma oportunidade de emitir o próximo, até que a seqüência seja terminada por
um reforçador”. Assim, qualquer segmento da seqüência serve à dupla função de
reforçar a última resposta e de produzir as condições que ocasionam a resposta
seguinte.
Baseado
na
literatura
levantada
e
visando
contribuir
para
o
desenvolvimento de novos estudos relacionados à aplicação da análise do
comportamento à demanda psiquiátrica, o objetivo da presente investigação foi :
26
(1) Instalar duas cadeias de respostas relacionadas ao cuidado pessoal ,lavar as
mãos e escovar os dentes, utilizando como procedimento instrução, dicas e
encadeamento de respostas e observar a ocorrência de comportamentos de
cuidado pessoal não treinados (Piazza, Moes e Fisher,1996 e Altus e Mosier,
2003);
(2) Aumentar o repertório da participante para respostas de leitura e conversa
sobre a leitura realizada através de um treino discriminativo que
consequenciou as respostas acima descritas com reforçamento social na forma
de atenção e elogio (Wilder et al, 2001).
27
MÉTODO
Ambiente
Todas as intervenções foram conduzidas em um serviço de saúde do tipo
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
2
com uma participante que freqüenta a
unidade em regime de Hospital-Dia. O Hospital –Dia caracteriza-se por ser um
espaço onde os clientes do serviço podem passar algumas horas do dia e depois
voltar para casa,
desenvolvendo atividades diversas, tais como: oficinas
profissionalizantes, atendimentos individuais e grupais, além de atividades sócio
recreativas como passeios, idas ao cinema e jogos.
Esta unidade de saúde está instalada em uma casa de dois andares cujas
dependências servem para a organização das atividades descritas acima. Além
disso, os clientes do serviço têm um armário a eles designados, no qual podem
guardar os seus pertences.
A equipe do serviço é composta pelas seguintes categorias profissionais:
médico psiquiatra, assistente social, terapeuta ocupacional, psicólogo, enfermeiro e
auxiliar de enfermagem.
2
Atualmente a modalidade de atendimento indicada pela legislação brasileira (Lei 10.216 de fevereiro de
2001) para o atendimento de pessoas portadoras de algum transtorno psiquiátrico é o serviço tipo CAPS, ao
invés de internações prolongadas em hospital psiquiátrico. Esses serviços de saúde devem ser organizados
territorialmente, ou seja, por bairros com perfis sócio-econômicos similares, cabendo a cada município
definir as regiões e propor atendimentos diferenciados e pautados na prevenção dos transtornos psiquiátricos,
evitando assim as internações.
28
Participante
As intervenções foram realizadas sobre as respostas de uma pessoa do sexo
feminino, 54 anos de idade, que freqüenta referida unidade de saúde desde 1994.
Até o término deste estudo seu horário de permanência na instituição foi das 8:00
às 17:00, quatro vezes por semana.
As informações contidas em seu prontuário no serviço revelam uma história
de 31 anos de tratamento psiquiátrico e apontam como seus principais prejuízos
comportamentais:
(1)
O descuido com as atividades da vida diária (atividades de
higiene pessoal, vestuário, alimentação) que como decorrência
tem acarretado problemas de pele (alergias, coceira etc) e
odontológicos;
(2)
Dificuldade em realizar
tarefas que exijam concentração, tais
como desenho, pintura, leitura etc. e
(3)
Dificuldade em manter uma conversar coerente (relacionada aos
tópicos discutidos).
Atualmente reside apenas com um irmão que constantemente a agride
fisicamente. O diagnóstico fornecido pela equipe foi de Esquizofrenia Residual
(F 20. 5) e durante a intervenção fez uso das seguintes medicações: Clorpromazina
29
100 mg (três vezes ao dia) , Haloperidol 5 mg (três vezes ao dia) e Biperideno 2mg
(duas vezes ao dia).
É importante ressaltar que a participante da pesquisa não é legalmente
incapaz e apresenta autonomia para vir e ir do serviço de saúde, bem como de
outros locais quando quiser.
Estudo 1 e Estudo 2
As sessões do Estudo 1 foram realizadas de três a quatro vezes por semana
de acordo com
a freqüência da participante na instituição de saúde e estão
divididas em cinco etapas. A coleta dos dados durou de 09/09 a 17/12 de 2004 e
cada etapa constou de um treino de seis sessões em dias diferentes e consecutivos.
A passagem de uma etapa a outra só ocorreu quando a participante realizou
outras duas sessões sem emitir erros nas respostas treinadas. Assim, cada etapa
totalizou oito sessões, exceto na de número cinco que constou de seis dias de
observação.
O Estudo 2 teve uma etapa : as sessões foram realizadas de três a quatro
vezes por semana de acordo com a freqüência da participante na instituição de
saúde e foi realizado de 11/09 a 21/10 de 2005.
30
Todas as sessões do Estudo 2 foram filmadas. Para que uma concordância
entre observadores fosse estabelecida, um colaborador registrou 20% das sessões
escolhidas aleatoriamente. O registro das sessões, tanto os realizados pela
pesquisadora, quanto os realizados para as medidas de fidedignidade, foram
efetuados através das fitas de registro .
A porcentagem de concordância (Tabela1) para cada resposta registrada foi
calculada pela divisão do número total de concorância pelo número total de
concordâncias mais discordâncias x 100.
Tabela 1: Cálculo da concordância entre observadores. A freqüência das respostas usadas
para o cálculo das porcentagens está entre parêntesis.
Respostas
mensuradas
Concordância/ (concordância +
discordância) x 100
Olhar revista
93.33 %
83.33 %
90.32 %
(56/60)
(25/30)
(28/31)
Leitura
0%
86.66 %
100 %
(1/0)
(13/15)
(16/16)
Conversa
50 %
81.81%
90 %
(1/2)
(9/11)
(9/10)
Não inteligível
93.75 %
100 %
75 %
(13/16)
(0/0)
(3/4)
Não Coerente
90 %
100 %
75 %
(36/40)
(5/5)
(3/4)
31
Estudo 1
Todas as sessões foram desenvolvidas no toalete feminino localizado na
parte superior da casa, medindo quatro metros de comprimento por dois de
largura . Para este estudo três colaboradores da equipe local participaram:
o
primeiro realizou os registros nas etapas 3 e 4 e os outros dois realizaram
diretamente a etapa 4 do procedimento. Todos foram instruídos quanto ao objetivo
do estudo e em como preencher as folhas de registro (Anexo I e II).
Material: frasqueira com pasta de dentes, escova de dente e sabonete
Seleção das respostas
A escolha das respostas de cuidado pessoal para este estudo foi guiada
pelas seguintes considerações: (1) caráter aberto das respostas, permitindo o
registro de sua freqüência e duração por terceiros ; (2) sua ocorrência estar
amplamente relacionada a uma rotina diária (nos mesmos horários e
imediatamente antes e depois de algumas atividades definidas pelo serviço de
saúde), bem como a um ambiente específico do serviço; (3) o descuido com a
higiene, problema apontado pela equipe do serviço com característico desta
participante.
32
A observação da participante em seu ambiente natural institucional ocorreu
durante 08 dias, das 8:00 as 17:00 horas por duas semanas (Anexo I) e mostrou que
nenhuma das seguintes respostas de cuidado pessoal ocorreu: lavar o rosto, lavar
as mãos, escovar os dentes e tomar banho . Um auxiliar de enfermagem da equipe
colaborou observando a participante no horário das 8:00 as 13:00, enquanto que a
pesquisadora observou o comportamento da participante entre 13:00 e 17:00.
Após esta etapa, para
o Estudo
1 duas cadeias de respostas foram
selecionadas para serem instaladas :
1) Lavar as mãos antes do lanche da tarde, sempre no horário de 14:45.
2) Escovar os dentes após o lanche da tarde
Descrição das respostas selecionadas
A descrição das respostas selecionadas e o registro das respostas (Anexo II) se
basearam em um estudo de Queiroz (1973).
Lavar as mãos
1. Pegar frasqueira com sabonete, pasta e escova no armário
A participante teve que ir ao armário destinado a ela, pegar sua frasqueira
contendo seus pertences para higiene pessoal. O modo como ela trouxe a
frasqueira – aberta, fechada, com algum pertence na mão, etc... - foi
considerado irrelevante.
33
2. Ir ao banheiro com os pertences de higiene
A participante teve que entrar no banheiro carregando os seus pertences
3. Ensaboar as mãos
Identificado por movimentos das mãos, molhadas, até produzir espuma.
4. Enxaguar as mãos
Identificado pelos movimentos de colocar as mãos sob a água , de modo a
remover toda a espuma
5. Enxugar as mãos
Identificado pelo movimento de pegar a toalha e friccioná-la contra as mãos
de modo a deixá-las secas
6. Descer com frasqueira para o lanche
A participante teve que sair do banheiro carregando seus pertences e dirigirse ao refeitório para consumo do lanche da tarde.
Escovar os dentes
7. Voltar ao banheiro com os pertences após o lanche
Após a ingestão do lanche a participante teve que retornar ao banheiro
carregando sua frasqueira.
34
8. Passar dentifrício na escova
Este evento foi identificado pela presença de dentifrício sobre as cerdas da
escova, pela observação de movimentos que resultam em dentifrício sobre a
escova, pela presença de espuma característica dos dentifrícios, no interior da
boca ou nos lábios da participante.
9. Friccionar a escova sobre os dentes
Identificado pela ocorrência de movimentos horizontais e verticais da escova
em contato com os dentes
10. Enxaguar a boca
Identificado por movimentos que resultam em colocar água na boca (usando as
mãos em forma de concha para transportar a água) e a remoção da espuma
característica do dentifrício do interior da boca.
11. Lavar a escova
Identificado por colocar a escova sob o jorro de água da torneira, friccionar
algum dedo sobre as cerdas de modo a remover sua espuma.
12.Guardar frasqueira no armário
Identificado pelos movimentos da participante em dirigir- se ao armário, abri-lo
e guardar seus pertences em seu interior.
35
Respostas do experimentador
1.Instrução da tarefa: antes do início de cada sessão foi explicado à
participante o porquê da importância de
cuidar da higiene pessoal e
solicitado sua execução;
2. Solicitação das tarefas com fornecimento de dicas : as duas cadeias de
respostas foram treinadas a partir de dicas. O objetivo foi fazer com que as
dicas se tornassem estímulos antecedentes discriminativos para a emissão
das respostas descritas no item “Descrição das Respostas Selecionadas”.
3. Reforço social: o término da execução de cada cadeia foi consequenciado
por observações sociais do tipo elogios (por exemplo: muito bem, é assim
mesmo, está ótimo etc.)
Descrição das dicas
o Dica de acompanhamento físico: definida neste estudo quando a
pesquisadora acompanhou a participante da pesquisa (esteve fisicamente ao
seu lado) em todas as etapas das cadeias treinadas.
36
o Dica gestual: definida neste estudo quando a pesquisadora mostrou através
de gestos cada etapa da cadeia comportamental
o Dica verbal : definida neste estudo quando a
pesquisadora usou de
palavras faladas para indicar as etapas das cadeias treinadas.
Etapas 1, 2 e 3
Estas etapas foram realizadas diretamente pela pesquisadora. O objetivo foi
instalar os comportamentos acima descritos corretamente e relacionados a sua
função, ou seja, para a cadeia 1, lavar as mãos ocorreu antes do lanche da tarde e
escovar os dentes, cadeia 2, após a ingestão do alimento. As duas cadeias foram
treinadas a partir de dicas que foram reduzidas gradativamente através de um
procedimento de fading.
O fading out das dicas obedeceu a seguinte hierarquia:
Etapa 1
Apresentação de dicas de acompanhamento físico, gestual e verbal : neste caso as
três modalidades de dicas foram apresentadas em cada elo da cadeia de respostas;
37
Etapa 2
Apresentação de dicas de acompanhamento físico e verbal: nesta fase somente
dicas físicas e verbais foram emitidas pela pesquisadora em cada etapa das cadeias
treinadas ;
Etapa 3
Apresentação de dica verbal apenas no início de cada cadeia : somente a primeira
dica verbal de cada cadeia comportamental foi emitida, a saber:
a) A pesquisadora dava a dica que eram 14:45, quase hora do lanche, para
que a participante iniciasse os preparativos para executar a cadeia de lavar
as mãos.
b) A pesquisadora dava a dica que o lanche havia terminado e era hora de
escovar os dentes.
Como a pesquisadora apenas apresentou a dica verba inicial para que as
cadeias fossem realizadas, a verificação da ocorrência ou não das respostas
treinadas foi efetuada por um colaborador, auxiliar de enfermagem da equipe do
local, e também registrada no modelo proposto do Anexo II. O quadro abaixo
mostra a seqüência das duas cadeias de respostas, tais como foram instaladas:
38
Quadro 1. Cadeia comportamental do estudo 1.
Sd1
R1
Sr
Sd 2
R2
Sr
Sd 3
R3
Sr
Sd 4
R4
Sr
Sd5
R5
Sr
Sd 6
R6
Sr
Sd 7
R7
Sr
Sd 8
R8
Sr
Sd 9
R9
Sr
Sd 10
R10
Sr
Sd 11
R11
Sr
Sd 12
R12
Sr
O pesquisador dá a dica que são 14:45, quase hora do lanche
A participante se dirige ao armário e pega seus pertences
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para o sujeito entrar no banheiro
A participante entra no banheiro
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para lavar as mãos ensaboando-as
A participante ensaboa as mãos
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para enxaguar as mãos
A participante enxágua as mãos
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para a participante enxugar as mãos
A participante enxuga as mãos
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para que o sujeito desça para o lanche com seus
pertences
A participante desce para o lanche com os pertences
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica que o lanche terminou e é hora de escovar os dentes
A participante se dirige ao banheiro com seus pertences
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para o sujeito escovar os dentes colocando pasta na
escova
A participante coloca pasta na escova os dentes
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica o sujeito escovar os dentes
A participante escova os dentes
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para o sujeito enxaguar a escova guardar seus pertences
A participante enxágua a boca
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para a participante lavar a escova s
A participante lava a escova
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para a participante guardar pertences
A participante guarda pertences
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
Etapa 4
Somente com as cadeias já instaladas pela pesquisadora após a etapa 3 é
que esta fase foi iniciada. Outros dois membros da equipe, sem a participação
direta da pesquisadora, forneceram a dica inicial verbal (igual a etapa 3) para que
39
as cadeias comportamentais fossem emitidas, sempre antes e depois do lanche da
tarde.
O objetivo desta etapa foi fazer com que outros dois membros da equipe
pudessem fornecer
estímulos antecedentes, neste caso dicas verbais, para a
emissão das respostas treinadas, aumentando assim as ocasiões em que os
comportamentos pudessem ser evocados.
Uma vez que a pesquisadora não participou diretamente desta fase, a
verificação da ocorrência ou não dos comportamentos treinados foi efetuada por
um colaborador, auxiliar de enfermagem da equipe do local e também registrado
no modelo proposto do Anexo II.
Etapa 5
Constou de uma observação de duas semanas para averiguar se a participante
emitia os comportamentos treinados sem o fornecimento de qualquer tipo de
dica. O objetivo foi verificar se o reforço para emissão dos comportamentos teria
se tornado intrínseco às respostas de higiene.
Foi observado ainda se os seguintes comportamentos não treinados
ocorreram:
o Lavar as mãos do antes almoço
o Escovar os dentes após o almoço
o Lavar rosto
40
o
Tomar banho na unidade.
O quadro abaixo sumariza as fases do Estudo 1:
Quadro 2. Sumário do procedimento relativo ao estudo 1.
Treino das cadeias com a presença de Participante
e
dicas físicas, gestuais e verbais: neste pesquisadora
Etapa1
caso as três modalidades de dicas
foram apresentadas em cada etapa da
cadeia comportamental
Treino das cadeias com a presença de Participante
e
dicas físicas e verbais: nesta fase pesquisadora
Etapa 2
somente dicas físicas e verbais foram
emitidas pelo pesquisador em cada
etapa da cadeia comportamental
Treino das cadeias com a presença de Participante
Etapa 3
e
dicas verbais inicias : somente a pesquisadora
primeira
dica
de
cada
cadeia
comportamental foi emitida
Etapa 4
Treino das cadeias com a presença de Participante e membros
dicas verbais iniciais : somente a da equipe do serviço
primeira
dica
de
cada
cadeia
comportamental foi emitida
Etapa 5
Participante
41
Estudo 2
Este estudo compreendeu uma etapa cujas sessões foram desenvolvidas em
uma sala destinada para diferentes atendimentos em grupo, medindo 5 metros de
comprimento por 3 de largura e registradas com uma filmadora VHS marca Sony.
À
participante foi entregue em cada sessão uma revista diferente e
solicitado a sua leitura. Participante e pesquisadora estiveram sentadas, uma ao
lado da outra, a uma distância de aproximadamente 50cm.
Material
Revistas de periodicidade semanal tipo Veja, Isto É, CARAS vendidas em bancas
de jornal
Para este estudo foi realizado um treino discriminativo através da
proposição de tarefas que aumentassem o repertório de leitura e conversa sobre a
leitura realizada. A escolha deste treino foi formulada a partir de informações
fornecidas pela equipe da instituição que referiu ter a participante extrema
dificuldade em manter-se concentrada na realização de tarefas que exigissem essas
habilidades.
42
Etapa 1
Nesta etapa as seguintes respostas foram consequenciadas com elogio e
atenção:
1. Respostas de olhar para objetos, figuras, desenhos etc. na revista,
seguidas de uma resposta verbal correspondente com aquilo que foi
observado;
2. Leitura em voz alta de qualquer trecho da revista;
As sessões variaram de 15 a 28 minutos, porém somente os quinze minutos
iniciais de cada sessão foram registrados para que se pudesse efetuar a comparação
entre as sessões.
Em duas avaliações realizadas antes da intervenção, à participante foram
disponibilizadas algumas revistas e observado o seu comportamento. O resultado
foi que
a participante efetuou a “leitura” de duas revistas em um intervalo de
tempo de quatro e três minutos respectivamente e nada conversou sobre a leitura
realizada.
Seleção das respostas
A freqüência (Anexo III) das seguintes respostas foi efetuada durante o
treino:
43
1. Respostas de olhar para a revista seguidas de um comportamento verbal
falado
Todas as respostas verbais decorrentes de olhar objetos (fotos, figuras,
desenhos etc.) e de leitura foram registradas, desde que a resposta emitida fosse
uma resposta verbal correspondente ao que foi observado na revista . Por
exemplo, ao observar a foto de um carro, a participante deveria falar a palavra
carro ou uma frase expressando o que foi observado (olha que bonito!, ao se
referir ao carro) para que a resposta fosse considerada.
2. Respostas de olhar a revista: leitura
Para o registro desta resposta destacou-se, entre todas as respostas de olhar a
revista (conforme item anterior) aquelas que foram de leitura em voz alta de
frases, manchetes e pequenos trechos da revista;
3. Respostas de falar não coerente:
Somente respostas com as seguintes características foram registradas: quando a
participante emitiu durante as sessões uma resposta verbal falada que não se
referiu aos estímulos presentes na revista.
Isto foi considerado como afirmação não relacionada aos tópicos observados e
definida aqui como não coerente;
4. Respostas de falar não inteligível:
44
Somente respostas com as seguintes características foram registradas: quando
durante a sessão a participante emitiu respostas do tipo murmúrios ou ainda
palavras inaudíveis;
5. Respostas de conversar sobre o que foi lido ou observado na revista
Todas as respostas de conversar sobre o que foi lido ou observado na revista
foram consideradas.
Para efeito deste estudo foi considerado uma resposta de “conversar”
quando pelo menos três respostas coerentes (relacionadas ao assunto discutido)
foram emitidas pela participante, intercaladas com o experimentador. Por
exemplo:
(R1)
Participante - Puxa, que bicicleta bonita (ao ver uma bicicleta na revista)
Experimentador- Você sabe andar de bicicleta?
(R2)
Participante- Sim, eu já tive uma de cor amarela
Experimentador- E onde está a bicicleta?
(R3)
Participante- Enferrujou com a maresia da cidade
Respostas do experimentador
1. Solicitação da tarefa com fornecimento das instruções para sua realização. À
participante foi entregue uma revista e dito para que ela a lesse.
45
2. Reforço social: elogio e atenção foram fornecidos à participante quando da
emissão das respostas desejadas (olhar objetos na revista, ler e conversar)
3. Responder a perguntas feitas pela participante: quando a participante iniciava
uma conversa coerente com o experimentador (conforme descrito no item “Seleção
de respostas, tópico 5).
4. Não foi fornecida atenção quando respostas não coerentes e não inteligíveis
foram emitidas.
46
RESULTADOS
Estudo 1
A Figura 1 mostra o número de vezes em que as respostas de cuidado
pessoal observadas (tomar banho, lavar rosto, lavar mãos e escovar dentes) para
este estudo ocorreram durante a linha de base e etapas do treino. A abscissa mostra
as etapas do treino e a ordenada o número de respostas emitidas em cada fase.
De acordo com a Figura 1 observou-se que nenhuma resposta de cuidado
pessoal ocorreu durante a linha de base, bem como na etapa de número 5 . Nessas
etapas nenhuma conseqüência social foi programada para as respostas registradas.
Entretanto, nas etapas 1, 2, 3 e 4 as cadeias treinadas de lavar as mãos antes do
lanche e escovar os dentes após o lanche foram emitidas. A Figura 1 ainda mostra
que a resposta de cuidado pessoal “lavar o rosto” ocorreu sem treino nas
Linha de base
Treino
n.o. de respostas em cada etapa
9
8
7
tomar banho
6
lavar rosto
5
4
lavar mãos
3
escovar dentes
2
1
0
1
2
3
4
5
etapas
Figura 1: Respostas de cuidado pessoal observadas durante linha de base e treino
47
etapas 1, 2, 3 e 4.
A Figura 2 aponta as respostas da participante em cada etapa do treino,
com ênfase em seu desempenho nas duas cadeias de respostas treinadas: lavar as
mãos e escovar os dentes . Na abscissa estão as cinco etapas do treino e na
ordenada o número de respostas emitidas em cada elo de cada cadeia.
A análise da Figura 2 mostra que as cinco primeiras respostas registradas
referentes à cadeia “lavar as mãos”: pegar pertences no armário, ir ao banheiro
com pertences, ensaboar as mãos, enxaguar as mãos e enxugar as mãos foram
emitidas sem erros em todas as quatro primeiras etapas do treino, ou seja, em
todas as tentativas oferecidas (seis sessões treino, mais as duas sessões para a
passagem à etapa seguinte) as respostas acima ocorreram.
Em relação à cadeia “escovar os dentes” as respostas de voltar ao banheiro
com pertences, colocar dentrifício na escova, friccionar a escova sobre os dentes e
enxaguar a boca também apresentaram um desempenho sem erros da participante
em todas as etapas, exceto a última.
A resposta de descer com pertences para o lanche foi emitida na etapa 1
apenas em quatro das oito tentativas oferecidas,mesmo com a apresentação dos
três tipos de dicas. Na etapa 2, entretanto, mesmo com a retirada da dica gestual e
48
ainda etapa 3, apenas com presença da dica verbal inicial, o desempenho da
participante foi sem erros quanto a essa resposta em todas as oito tentativas de
cada etapa.
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1
2
Etapas
3
4
5
P egar pertences no armário
Entrar no banheiro co m pertences
Ensabo ar as mão s
Enxaguar as mão s
Enxugar as mão s
Descer para o lanche co m pertences
Vo ltar ao banheiro co m pertences
Dentrifício na esco va
Friccio nar a esco va so bre o s dentes
Enxaguar a bo ca
Lavar a esco va
Guardar pertences
Figura 2: Respostas em itidas pela participante em cada etapa do treino
Na etapa 4, quando membros da equipe do serviço, e não mais a
pesquisadora, foram os responsáveis pela apresentação da dica verbal inicial para
o início das cadeias, uma diminuição na freqüência da resposta “descer para o
lanche com pertences” foi observada, já que entre oito das tentativas oferecidas,
apenas seis foram realizadas com êxito.
49
A resposta de lavar a escova foi a que mais baixa ocorrência teve em todas
as quatro primeiras etapas nunca sendo emitida em todas as oito tentativas de cada
etapa. Nas etapas 1, 2 e 4 ocorreu apenas em metade das oportunidades oferecidas,
quatro em oito. Porém na etapa 3 houve um aumento de sua freqüência, passando
para sete ocorrências em oito das possíveis.
A resposta de guardar pertences, último elo das cadeias treinadas deixou de
ser emitida duas vezes na etapa 1, porém, mostra um aumento de ocorrências no
decorrer do treino realizado com a presença da pesquisadora, passando para oito
ocorrências tanto na etapa 2 quanto 3. Entretanto, quando membros da equipe do
serviço passaram a fornecer a dica verbal inicial para o início do treino na etapa 4,
observou-se uma queda no desempenho da participante para seis tentativas
realizadas com êxito em um total de oito oportunidades.
A Figura 2 mostra ainda que na etapa 5, quando nenhuma dica foi
apresentada à participante e a ocorrência das cadeias foi observada, nenhuma das
doze respostas foi emitida nos seis dias de observação.
A Figura 3 mostra a ocorrência de generalização para comportamentos não
treinados. A abscissa representa as etapas do treino e a ordenada o número de
respostas emitidas para os comportamentos não treinados.
50
As respostas selecionadas para serem observadas de tomar banho, lavar as
mãos antes do almoço e escovar os dentes após o almoço não ocorreram em
nenhuma ocasião durante os dias de treino e nem na etapa 5. Porém, lavar o rosto
ocorreu durante as sessões de treino, tanto na cadeia treinada “lavar as mãos”,
quanto na cadeia de “escovar os dentes”. Nesta situação foi possível à participante
“lavar o rosto” duas vezes em cada sessão/dia , já que ambas as cadeias
aconteceram dentro do toalete feminino.
6
Lavar o ro sto na
cadeia Lavar as
mão s
5
To mar banho
4
3
Lavar mão s antes
do almo ço
2
Esco var dentes
apó s o almo ço
1
Lavar o ro sto na
cadeia Esco var o s
dentes
0
1
2
3
4
5
Etapas
Figura 3: Ocorrência de generalização para com portam entos não treinados
A análise da Figura 3 apresenta um aumento gradativo das ocorrências para
este comportamento não treinado até o término da etapa 4. Sendo assim, foi
possível observar que na etapa 1, “lavar o rosto” ocorreu duas vezes, uma antes
51
do lanche e outra no retorno da participante ao banheiro para a realização da
cadeia “escovar os dentes”.
Na etapa 2, lavar o rosto antes do lanche ocorreu cinco vezes e lavar o rosto
após o lanche duas vezes. Na etapa 3, quando da primeira ida ao banheiro, a
participante lavou o rosto em seis ocasiões e duas em seu retorno do lanche.
Na etapa 4 seu desempenho antes do lanche foi igual ao da etapa 3 e
quando voltou ao banheiro para completar a cadeia de “escovar os dentes”, lavou
o rosto três vezes . A etapa 5 apresentou os mesmos resultados obtidos nos treinos
das cadeias mostrados na Figura 2, ou seja, lavar o rosto não ocorreu nenhuma vez
quando as cadeias não foram executadas.
Estudo 2
As Figuras 4, 5, 6, 7 e 8 apresentam a freqüência das respostas da
participante para cada resposta mensurada durante a atividade proposta: olhar a
revista, fala não inteligível, fala não coerente, leitura e conversa sobre a leitura. Na
abscissa dessas Figuras estão as quinze sessões da Etapa 1 e na ordenada o número
de vezes em que as respostas descritas acima forma emitidas.
52
Em todas as Figuras apresentadas na etapa 1 do Estudo 2 (Figuras 4, 5, 6, 7,
8 , 9 e 10) as sessões 7 e 12 representaram ocasiões em que a participante relatou
brigas familiares em casa; já nas sessões 10 e 11 houve suspensão da contingência
de reforço, ou seja, nenhuma atenção foi fornecida à participante durante a
execução da tarefa proposta.
A Figura 4 apresenta a freqüência de todas as respostas de olhar a revista
(inclusive leitura) durante as sessões. Inicialmente, as taxas de respostas mais
elevadas encontraram-se nas cinco primeiras sessões. Nas sessões subseqüentes a
participante exibiu um comportamento mais estável, em torno de 30 respostas de
olhar a revista por sessão, exceto na sessão 11, na qual seu desempenho chegou a
53 respostas.
65
60
60
55
53
50
respostas
respostas de olhar a
revista
45
45
40
39
39
38
35
36
33
30
31
30
29
29
26
25
27
26
20
15
10
5
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
sessões
Figura 4 Frequencia das respostas de olhar a revista durante as sessões
14
15
16
53
A Figura 5 mostra a freqüência das respostas de fala não inteligível durante
as sessões, apresentando freqüências mais elevadas nas sessões 1, 2, 7, 10, 11 e 12 ,
chegando a 18 respostas na sessão 10, contra uma freqüência
inferior a três
respostas nas sessões 3, 5, 6, 8, 9, 13 ,14 e 15.
20
18
18
16
respostas de fala
não inteligível
16
16
14
respostas
13
12
11
10
10
Briga
8
7
6
Suspensão da atenção
4
3
2
2
2
2
2
1
1
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
sessões
Figura 5: Frequencia de respostas de fala não inteligível durante as sessões
Por outro lado, a Figura 6 apresenta a freqüência de falas não coerentes por
sessão. Pode- se observar nessa Figura uma tendência decrescente quanto ao
número das respostas emitidas pela participante . Nas três primeiras sessões foram
observadas as freqüências mais elevadas de respostas não inteligíveis: 40, 27 e 24
respectivamente, ao passo que nas sessões 8, 9, 13, 14 e 15, as respostas chegaram a
números inferiores a 8. Embora nas sessões 7, 10, 11 e 12 tenha havido um aumento
em torno de 15 respostas por sessão, foi possível notar o decréscimo na taxa de
respostas no decorrer do período total observado.
54
50
45
respostas de fala não coerente
40
40
Linear (respostas de fala não
coerente)
n.º respostas
35
32
30
Briga
25
23
Suspensão da atenção
20
16
15
14
15
13
11
10
15
12
7
5
5
5
4
4
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
sessões
Figura 6: Frequencia das respostas de fala não coerente durante as sessões
A Figura 7 apresenta a freqüência de respostas de leitura por sessão.
Inicialmente observou-se que a participante não emitiu nenhuma resposta. Porém,
nas sessões 11, 13, 14 e 15 a taxa das respostas chegou a 20, 19, 18 e 15
respectivamente. Nas sessões 7, 10 e 11 observou-se uma diminuição do número de
respostas abaixo da linha de tendência.
25
21
20
19
n.º de respostas
18
17
16
15
15
15
15
12
respostas de leitura
12
11
10
Linear (respostas de leitura)
10
9
Briga
5
4
0
Suspensão da atenção
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
sessões
Figura 7: Frequencia das respostas de leitura durante as sessões
14
15
16
55
A Figura 8 apresenta a freqüência de respostas de conversar por sessão. As
menores freqüências foram observadas nas sessões 1, 2 e 7, ao passo que nas
sessões 10 e 11, nenhuma resposta foi emitida porque a contingência de reforço na
forma de atenção foi suspensa. Tal fato não possibilitou a ocorrência de conversa.
As sessões 8, 9, 14 e 15 apresentaram as maiores taxas de respostas.
12
11
10
n.º de respostas
9
9
8
8
7
6
6
6
5
respostas de
conversar
5
4
Briga
2
2
2
2
Suspensão da atenção
1
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0
11
12
13
14
15
16
sessões
Figura 8: Frequencia das respostas de conversar sobre assuntos relacionados aos temas
lidos nas revistas
A Figura 9 apresenta a relação entre a ocorrência de respostas de leitura e
conversa e a ocorrência de respostas de fala incoerente e não inteligível por
sessões. As sessões 1 ,2, 3, 4, 5 e 6 apresentaram uma diminuição progressiva das
respostas de fala incoerente e não inteligível, ao passo que as respostas de leitura e
conversa aumentaram. Nas sessões 7 e 12, quando a participante chegou às sessões
relatando brigas familiares em casa, observou-se novamente um aumento das
respostas de fala incoerente e não inteligível e diminuição da freqüência das
56
respostas de leitura e conversa. Nas sessões 10 e 11, quando atenção não foi
fornecida, as respostas relativas aos comportamentos problema tornaram a
aumentar. Na sessão 11 a participante respondeu em freqüência elevada em todas
as respostas mensuradas (olhar a revista, fala inteligível, não coerente e leitura,
Figuras 4, 5, 6 e 7), exceto para conversa que não ocorreu.
60
56
50
respostas de leitura e conversa
42
respostas
40
respostas de fala incoerente e não
inteligível
30
30
31
28
27
25
24
22
20
17
25
26
25
22
26
21
18
17
15
15
12
11
12
9
10
6
5
7
6
5
1
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
sessões
Figura 9: Relação entre a ocorrência de respostas de leitura e conversa e a ocorrência
de respostas de fala incoerente e não inteligível por sessão
A Figura 9 ainda mostra que as sessões 8, 9, 13, 14 e 15 apresentaram o
melhor desempenho da participante: diminuição sensível das respostas não
57
coerentes e não inteligíveis e os níveis mais altos para os comportamentos de
leitura e conversa.
A Figura 10 apresenta a relação entre o total de respostas de olhar a as
respostas de olhar que foram de leitura no decorrer do treino. Nas duas primeiras
sessões, entre as respostas de olhar a revista, apenas quatro respostas foram de
leitura. Nas sessões 8, 9, 13, 14 e 15 mais da metade das respostas de olhar a revista
foram de respostas de leitura . Nas sessões 7, 10 e 12 a freqüência das respostas de
leitura diminuiu em relação às outras sessões. Na sessão de número 11 todas as
respostas de olhar a revista aumentaram, incluindo aquelas que foram de leitura.
60
53
45
38
39
respostas de leitura
36
respostas
39
33
29
30
respostas de olhar
31
29
26
26
27
21
19
17
15
11
15
18
16
12
15
12
10
9
4
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
sessões
Figura 10: Relação entre o total de respostas de olhar a as respostas de olhar que foram de
leitura no decorrer do treino
58
DISCUSSÃO
Estudo 1
As observações do desempenho da participante durante a linha de base , na
qual nenhuma contingência especial foi programada, mostraram uma freqüência
igual a zero para as respostas de cuidado pessoal (Figura 1). Entretanto, desde a
primeira sessão de treino a participante realizou as tarefas de cuidado pessoal
propostas, desde que solicitada, o que leva a supor que em sua história, ela já
havia sido exposta a conseqüências que reforçaram tais respostas.
Catania (1999) aponta que embora as conseqüências de muitas respostas
permaneçam constantes durante a vida de um indivíduo (como mudar de um
andar para outro quando subimos um lance de escadas), para outras respostas as
conseqüências mudam. Por exemplo, respostas reforçadas na infância podem não
ser mais reforçadas na idade adulta.
Assim, a facilidade da participante em realizar as tarefas de cuidado pessoal
quando solicitada, parece estar relacionada a uma história de aprendizagem
anterior. Porém, seu desempenho durante a linha de base, levou a suposição de
que a não ocorrência desses comportamentos estava relacionada a um ambiente
presente não reforçador para a sua emissão propõe-se um procedimento no qual as
59
respostas de cuidado pessoal
foram consequenciadas com a apresentação de
reforçamento social positivo, tais como elogios e atenção.
O planejamento do procedimento fundamentou-se na observação do
ambiente institucional da participante que parecia
indicar que somente a
exposição a contingências naturais seria ineficaz para instalar respostas de cuidado
pessoal, já que a participante tinha uma história psiquiátrica de 31 anos de
tratamentos e estava há dez anos freqüentando a unidade de saúde onde o estudo
foi realizado.
Desta forma, a escolha do uso de instrução e dicas se baseou na necessidade
de que comportamentos de cuidado pessoal ocorressem antes que prejuízos a
saúde da participante (tais como doenças de pele e problemas odontológicos),
como já relatados anteriormente, continuassem a manifestar-se. Catania (1999)
aponta que uma característica importante da instrução é substituir contingências
naturais por antecedentes verbais que podem modificar o comportamento do
ouvinte em situações em que as conseqüências naturais são eficientes somente a
longo prazo.
A apresentação de dicas nas etapas 1, 2, 3 e 4, através de um procedimento
de fading out, pareceu ser eficaz em dois aspectos:
60
(1) evocar as respostas de cuidado pessoal, resultado que corrobora com os
dos estudos de Piazza, Moes e Fisher (1996) e Engelmen, Altus e Mathews (1999)
que como este estudo, também utilizaram dicas em seus procedimentos para
especificar os componentes das respostas desejadas;
(2) sua retirada gradual não diminuiu
a freqüência do desempenho da
participante em relação às respostas de cuidado pessoal. Como apontam Sério,
Andery, Gioia e Micheletto (2002) , Catania (1999) e Doran e Holland (1979) a
transformação gradual de um estímulo em outro melhora diferentes aspectos do
comportamento e colabora na promoção de uma aprendizagem sem erro. No caso
do presente estudo, a participante continuou a emitir respostas de cuidado pessoal
com a retirada gradual das dicas.
Entretanto, observa-se uma diferença no desempenho da participante entre
as etapas 1, 2 e 3 e etapa 4 (Figura 2). As respostas treinadas “descer para o lanche
com pertences”, “guardar pertences” e “lavar a escova” foram emitidas em menos
ocasiões na etapa 4, etapa esta em que as contingências que agiram sobre as
respostas da participante foram liberadas por membros da unidade de saúde que
não a pesquisadora.
Entre os fatores que podem ter contribuído para que as respostas fossem
emitidas com menor freqüência na etapa 4 destaca-se: o controle que a
61
pesquisadora exerceu sobre as respostas de cuidado pessoal parece ter sido maior
que o controle exercido por outros membros do serviço. Tal evento possivelmente
está relacionado ao fato de que
as etapas 1, 2 e 3 (que foram diretamente
realizadas pela pesquisadora) tiveram 24 sessões, o que equivaleu a um tempo de
treino muito mais extenso do que as oito sessões efetuadas na etapa 4 por outros
membros da equipe.
Todavia, os resultados da etapa 4, mesmo que inferiores aos das etapas
treinadas pela pesquisadora, foram muito superiores aos da linha de base (Figura
1). Embora este estudo não tenha tido como objetivo treinar a equipe da unidade,
os dois funcionários colaboradores da etapa 4 receberam um treinamento de
acordo com o procedimento planejado pela pesquisadora. Entretanto, o treino
oferecido aos colaboradores deste estudo parece não ter sido suficiente para a
manutenção do desempenho da participante. Engelman, Altus e Mathews (1999) e
Altus e Mosier (2003) apontaram em seus resultados a importância do treino das
equipes para que as respostas selecionadas para seus estudos fossem instaladas e
mantidas.
Os resultados das etapas 1, 2, 3 e 4 (Figura 2) indicaram que além das
instruções orais e das dicas especificando os componentes das respostas, uma
terceira variável foi relevante para instalar as respostas de cuidado pessoal: o
62
encadeamento das respostas produzindo
ao término da cadeia o mesmo
reforçador, neste caso reforçamento social na forma de elogio
No presente estudo, as tarefas decompostas de “lavar as mãos” e “escovar
os dentes” e consequenciadas por elogios corroboram os resultados obtidos no
estudo de Altus e Mosier (2003) cujo procedimento desenvolvido em uma
instituição para idosos, possibilitou que a tarefa de vestir, decomposta em 14
componentes e também consequenciada ao final por reforçamento social na forma
de elogios, fosse instalada com sucesso em todos os residentes do serviço.
Após o treino duas situações foram observadas: (1) se o reforço para
emissão dos comportamentos teria se tornado intrínseco às respostas de higiene e
(2) a ocorrência de generalização para comportamentos não treinados. Porém, os
resultados da
etapa 5 mostraram que nenhuma resposta de cuidado pessoal
treinada foi emitida sem a apresentação de dicas e sem reforçamento social (Figura
2) e que a resposta de “lavar o rosto”, não treinada, parou de ser emitida com a
suspensão do treino (Figura 3).
Entre os fatores que podem ter contribuído para os resultados encontrados
na etapa 5 destaca-se em primeiro lugar, o tempo de realização do treino. Talvez
um tempo de treino maior fosse necessário para que o reforço possivelmente
63
intrínseco às respostas de higiene pudesse “competir” com o custo dessas
respostas e/ou de possíveis respostas concorrentes a elas.
Catania (1999) exemplifica esta questão, ao se referir ao uso freqüente de
reforçadores artificiais em sistemas educacionais que programam, às vezes por
anos, conseqüências como elogio ou notas para aumentarem a probabilidade de
que os alunos estudem as matérias indicadas. Posteriormente, essas conseqüências
artificiais são cuidadosamente descontinuadas e há uma avaliação para determinar
se as contingências naturais são capazes de manter a resposta. Neste estudo, o
tempo despendido para esse treino foi relativamente curto, 14 semanas.
Por outro lado, o procedimento de Bellack (1976) baseado no programa de
Social Training Skills (SST) e que teve a duração de sete semanas, tempo inferior ao
do presente estudo, foi suficiente para a ocorrência de generalização para
comportamentos não treinados, além apresentar um follow up de dez semanas que
indicou a manutenção dos desempenhos modificados. Deve-se ressaltar porém,
que diferentemente deste estudo, o programa de SST envolvia mais formalmente o
treinamento dos funcionários das instituições.
Schock et al (1998) apontam que o emprego de reforçadores extrínsecos, sem
uma análise mais ampla das variáveis de controle envolvidas na manutenção de
64
comportamentos–problema
tem
gerado
resultados
de
modificação
do
comportamento pouco duradouros.
Desta forma, além do tempo do treino, variáveis que podem ter colaborado
para que as respostas treinadas deixassem de ser emitidas na etapa 5 foram: (1) a
realização do treino ocorreu somente com uma pessoa do serviço de saúde, ou seja,
não houve a inserção de outros clientes da unidade; (2) o treino não fez parte de
um planejamento de ações definido pela instituição de saúde e (3) o limite desse
estudo em realizar o planejamento de contingências extra- institucionais.
Aqui é importante ressaltar as considerações realizadas por Gripp e Magaro
(1974) e Nelson e Cone (1979) ao apontarem que inúmeras variáveis operam na
manutenção e modificação do comportamento. Embora os autores acima tenham
se preocupado em analisar os Programas de Economia de Fichas, é possível
considerar que no presente
estudo, a falta de controle sobre o ambiente
institucional colaborou para os resultados da etapa 5. Além disso, Holland (1978)
destaca que para a Análise do Comportamento o organismo se adapta a quaisquer
contingências, inclusive aquelas que prevalecem fora das instituições, sendo
relevante para qualquer intervenção considerá-las.
65
O reflexo da falta de controle sobre os eventos ambientais envolvidos para
que o comportamento da participante se mantivesse modificado , pode ser
justificado ao se considerar :
(1) o fato da unidade em questão não apresentar nenhum programa
específico voltado para as dificuldades detectadas pelos clientes, exceto o controle
através do uso de medicações. Essa situação se refletiu na impossibilidade do
presente treino se inserir em um programa coletivo de ações da instituição; (2) a
falta de qualificação da equipe local referente aos princípios da análise do
comportamento, bem como o seu treinamento e (3) o limite deste estudo em
realizar o planejamento de contingências relacionadas ao ambiente familiar.
Em relação à última consideração, os registros do prontuário da participante
apontaram ser difícil o relacionamento entre os irmãos, fato que tornou esse evento
relevante de ser considerado em um posterior plano de tratamento.
Além disso, a suspensão da relação entre as respostas de cuidado pessoal e
o reforçamento social tornou a etapa 5 semelhante às condições da linha de base:
sem instrução, dicas e reforço social. Embora fosse esperado que após o término da
etapa 4 a participante já fosse um organismo modificado, seu desempenho mostra
que isso não ocorreu.
66
Quanto à generalização de respostas não treinadas (Figura 3) somente a
resposta de lavar o rosto emergiu. Porém, na etapa 5 essa resposta parou de
emitida juntamente com as respostas de lavar as mãos e escovar os dentes. Esse
resultado indica que as três respostas descritas acima fizeram parte da mesma
classe de respostas. Segundo Catania (1999, p 132) “definir classe de resposta em
termos de efeitos ambientais em comum é a base tanto para registrar respostas na classe
quanto para programar conseqüências para elas”. Assim, quando as respostas treinadas
pararam de ser consequenciadas, a resposta não treinada de lavar o rosto também
cessou.
Estudo 2
O Estudo 2 teve por objetivo efetuar um treino discriminativo através da
proposição de tarefas que aumentassem o repertório de leitura e conversa sobre a
leitura realizada, ao mesmo tempo em que não forneceu atenção às respostas
inadequadas, definidas para esta participante como não coerentes e não inteligíveis
( observar a descrição destas respostas no Método).
A Figura 9 mostrou que o treino foi eficiente em aumentar a freqüências das
respostas de leitura e conversa, ao mesmo tempo em que diminuiu a freqüência de
respostas não coerentes e não inteligíveis.
67
Entretanto, para ampliar a discussão referente a esse estudo é importante
considerar as sessões 7 e 12 que representaram ocasiões em que a participante
relatou brigas familiares em casa e as sessões 10 e 11 que foram ocasiões em que
houve suspensão da contingência de reforço, ou seja, nenhuma atenção foi
fornecida à participante durante a execução da tarefa proposta.
Embora os dados referentes às brigas familiares das sessões 7 e 12 tenham
constado de relato verbal emitido pela participante, sua história pregressa revelou
(através dos registros no prontuário e das informações da equipe) um ambiente
familiar aversivo e punidor. Além disso, o aumento na freqüência das respostas
não coerentes e não inteligíveis nessas sessões (Figuras 5 a 9) corroboram com a
interferência desses eventos ambientais no comportamento da participante.
Uma possibilidade para esse dado pode ser encontrada nos estudos sobre
desamparo aprendido, que apontam que indivíduos expostos a eventos aversivos
incontroláveis, deixam de mostrar sensibilidade aos reforçadores mesmo em
circunstâncias em que respostas são emitidas e seguidas de eventos que
anteriormente
mantiveram
seu
comportamento
(Hunziker,
2001).
Como
conseqüência dessa experiência o indivíduo pode aprender que os aspectos do
ambiente não estão sob o controle de suas respostas e passar a emitir menos
respostas, sendo portanto menos reforçado.
68
Para Seligman (1977) a diminuição da sensibilidade às contingências de
reforçamento traz como resultado uma redução no repertório comportamental do
indivíduo que se reflete, por exemplo, na motivação para iniciar respostas, na
capacidade de aprender e na presença de distúrbios emocionais.
No caso deste estudo a comparação, por exemplo, das respostas da sessão 7
com as sessões anterior e posterior a ela (Figura 9) parece evidenciar que o evento
aversivo “briga familiar” foi responsável pela interferência observada no
comportamento da participante. Observa-se que 27 respostas de fala não coerente
e não inteligível ocorreram na sessão 7, enquanto que apenas 15 e 5 respostas dessa
categoria foram registradas nas sessões 6 e 8. Além disso, as respostas de leitura e
conversa foram registradas 22 e 24 vezes nas sessões 6 e 8 respectivamente e
apenas 11 na sessão 7.
O mesmo ocorre em relação à sessão 12 ao ser comparada com as sessões
13, 14 e 15 (Figura 9). Vale recordar que a participante, segundo os registros da
unidade, tem sido exposta freqüentemente a situações de briga familiar que geram
agressões físicas.
As sessões 10 e 11 (Figuras 5 a 9) levantaram a hipótese de que a suspensão
de reforçamento social positivo na forma de atenção foi uma das variáveis que
69
controlou o comportando da participante
no aumento das respostas não
desejadas.
Diversos estudos (Iwata et al ,1994; Mace e Lalli ,1991e Wilder et al) na
pesquisa aplicada utilizam a análise funcional descrita nos moldes de Iwata e cols
(1982/1999). O que se constata nos resultados dos estudos acima é que
reforçamento social negativo, na forma de fuga e esquiva de tarefas, bem como
reforçamento social positivo na forma de atenção, têm sido variáveis relevantes na
manutenção de comportamentos – problema.
Neste estudo (Figura 9) os efeitos da suspensão da atenção podem ser
observados por exemplo, ao comparar-se as sessões 10 e 11 com as sessões 8 e 9. As
sessões 10 e 11 apresentaram 30 e 31 respostas de fala não coerente e não inteligível
respectivamente, contra 5 e 6 das sessões 8 e 9.
Ter consequenciado as respostas de leitura e conversa com reforçamento
social positivo na forma de atenção e elogio, bem como ignorar respostas não
inteligíveis e não coerentes, aumentou a freqüência das respostas de leitura e
conversa, o que se constata nas sessões 8, 9, 13, 14 e 15 da Figura 9. Similar aos
resultados encontrados neste estudo, Wilder et al (2001) , após concluírem que as
vocalizações bizarras em grupo de pacientes esquizofrênicos eram mantidas
quando seguidas por atenção (reforçamento social positivo), propuseram uma
70
intervenção que se baseou em reforçamento diferencial para vocalizações
apropriadas e extinção das vocalizações bizarras. Os resultados mostraram que o
tratamento produziu uma substancial redução das vocalizações bizarras a níveis
próximos de zero, bem como aumento de vocalizações apropriadas
O procedimento de consequenciar as respostas de leitura e conversa com
reforçamento social positivo,
além de gerar
o aumento na freqüência das
respostas de leitura e conversa, pode indicar um outro efeito: que o treino
realizado foi capaz de ampliar o comportamento de atentar
(responder
discriminado baseado em algum estímulo ou propriedade do estímulo, Catania,
1999).
Para Silva (2003) a submissão de esquizofrênicos ao procedimento de LI
(Lubow,1998)
evidencia que para esses indivíduos aspectos do ambiente que
passariam normalmente desapercebidos, dado a sua irrelevância preditiva, passam
a
fazer
parte
de
seu
repertório,
produzindo
como
conseqüência
um
comportamento amplamente desorganizado e que se refletiria na dificuldade de
atentar . Assim, para que respostas de leitura e conversa fossem instaladas foi
necessário que a pesquisadora liberasse conseqüências sociais a respostas
adequadas e as suspendesse subseqüentemente a respostas inadequadas, fazendo
com
que
participante
apresentados.
respondesse
discriminativamente
aos
estímulos
71
Vale ressaltar que mesmo com uma história de mais de 30 anos de
tratamento psiquiátrico foi possível, com um arranjo relativamente simples de
contingências, modificar o comportamento da participante para as respostas
selecionadas. Contudo, como no Estudo 1, se evidencia no Estudo 2 a necessidade
de um planejamento de contingências dentro e fora da instituição de saúde a fim
de que as modificações do comportamento alcançadas sejam duradouras.
Como outros autores já apontaram (Gripp e Magaro, 1974 e Nelson e Cone,
1979), avaliação sistemática das principais dificuldades dos clientes, planejamento
de ações e treino das equipes e intervenções extra- institucionais são questões
fundamentais a serem consideradas: quanto maior a variedade de situações criadas
para que as respostas treinadas, uma vez emitidas, sejam reforçadas, maiores as
probabilidades de ocorrer generalização de respostas.
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os procedimentos empregados nos Estudos 1 e 2 utilizaram reforçamento
social positivo para consequenciar as respostas de cuidado pessoal, leitura e
conversa.
Para o Estudo 1, a combinação de instrução, fading out de dicas e
reforçamento positivo foram eficientes em modificar as respostas de cuidado
pessoal enquanto essas condições se mantiveram. Para o estudo 2, mesmo com
uma história extensa de tratamento psiquiátrico, foi possível ampliar o repertório
da participante em relação a comportamentos complexos como leitura e conversa .
Os resultados apontaram também que variáveis ambientais, tais como a
suspensão da contingência de reforço na forma de atenção e que a exposição a
eventos aversivos, foram parte relevante do ambiente na determinação do
comportamento da participante neste trabalho.
Os Estudos 1 e 2 não planejaram mudanças nas contingências naturais do
meio em que a participante geralmente opera fora do serviço de saúde. Os
procedimentos foram eficientes no contexto institucional, sobretudo na presença
da pesquisadora. A autora não ignora que as respostas de cuidado pessoal, leitura
73
e conversa só seriam eficientemente mantidas, se outras contingências sociais
exercessem controle sobre o comportamento da participante.
74
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81
Anexo I
Registro dos cuidados com a higiene (linha de base)
0 – Não fez nada
1- Escovou os dentes
2- Lavou o rosto
3- Lavou as mãos
4- Tomou banho
Dia
Hora
Comportamento
1.º dia de observação
Ex: 9:00
12:00
15:00
1
4
3
2.º dia de observação
3.º dia de observação
4.º dia de observação
5.º dia de observação
6.º dia de observação
7.º dia de observação
8.º dia de observação
Observações
82
Anexo II
Marque X em cada casela correspondente se:
Sd1
O pesquisador dá a dica que são 14:45, quase hora do lanche
Sd 8
R1
Sr
A participante se dirige ao armário e pega seus pertences
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
R8
Sr
Sd 2
R2
Sr
O pesquisador dá a dica para o sujeito entrar no banheiro
A participante entra no banheiro
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
Sd 9
R9
Sr
Sd 3
O pesquisador dá a dica para lavar as mãos ensaboando-as
Sd 10
R3
Sr
A participante ensaboa as mãos
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
R10
Sr
Sd 4
O pesquisador dá a dica para enxaguar as mãos
Sd 11
R4
Sr
A participante enxágua as mãos
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
R11
Sr
Sd5
O pesquisador dá a dica para a participante enxugar as mãos
Sd 12
R5
Sr
A participante enxuga as mãos
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
R12
Sr
Sd 6
O pesquisador dá a dica para que o sujeito desça para o lanche com seus
pertences
A participante desce para o lanche com os pertences
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
O pesquisador dá a dica que o lanche terminou e é hora de escovar os
dentes
A participante se dirige ao banheiro com seus pertences
O pesquisador diz “muito bem” depois do comportamento emitido
R6
Sr
Sd 7
R7
Sr
data Sd1 R1 Sr Sd2 R2 Sr Sd3
R3 Sr Sd4 R4 Sr Sd5
R5 Sr
O pesquisador dá a dica para o sujeito escovar os
dentes colocando pasta na escova
A participante coloca pasta na escova os dentes
O pesquisador diz “muito bem” depois do
comportamento emitido
O pesquisador dá a dica o sujeito escovar os dentes
A participante escova os dentes
O pesquisador diz “muito bem” depois do
comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para o sujeito enxaguar a
escova guardar seus pertences
A participante enxágua a boca
O pesquisador diz “muito bem” depois do
comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para a participante lavar a
escova s
A participante lava a escova
O pesquisador diz “muito bem” depois do
comportamento emitido
O pesquisador dá a dica para a participante guardar
pertences
A participante guarda pertences
O pesquisador diz “muito bem” depois do
comportamento emitido
Sd6 R6 Sr Sd7 R7 Sr
Sd8 R8 Sr Sd9 R9
Sr Sd10 R10 Sr
Sd11 R11
Sr
Sd12 R12
83
Anexo III
Marque a freqüência com que cada resposta é emitida em cada sessão
Sessão Sessão 2
1
Olhar
Falar não coerente
Falar não inteligível
Ler
Conversar sobre
que foi lido
o
Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5 Sessão 6 Sessão 7 Etc..
84
Anexo IV
Termo de consentimento do sujeito para participação na pesquisa
Você é convidada para participar de uma pesquisa. Esta pesquisa é sobre
algumas coisas que você tem dificuldade em realizar e que podem te atrapalhar no
seu dia-a-dia. Eu tenho interesse em ajudá-la a cuidar melhor de sua higiene
pessoal e também de descobrir formas de fazer com que você preste mais atenção
nas tarefas que realiza e assim possa ler e conversar mais com os outros sobre
coisas que acontecem ao seu redor.
Quando fazemos pesquisas com pessoas precisamos respeitar algumas
regras. Por isso, antes de começar o trabalho com você, preciso saber se você
concorda com essas regras:
1. A pesquisa deve durar mais ou menos 2 meses
( ) concordo
( ) não concordo
2. Vão acontecer 2 coisas durante a pesquisa: primeiro eu irei, quase todo dia,
lembrar você de lavar as mãos antes das refeições e escovar os dentes após as
refeições. Em segundo lugar, quase que diariamente também, estarei com você
lendo revistas e conversando e nessa parte do trabalho eu precisarei filmar as
nossas conversas.
( ) concordo
( ) não concordo
3. Somente eu, o orientador da pesquisa e algumas pessoas que também
participam da pesquisa vamos ver e ouvir o que ficou gravado;
( ) concordo
( ) não concordo
85
4. O seu nome será guardado em segredo;
( ) concordo
( ) não concordo
5. É possível que eu apresente para as pessoas o que aprendi sobre você apenas
para fins de divulgação científica, mas não vou falar seu nome, nem nada que
possa mostrar quem você é;
( ) concordo
( ) não concordo
6. Não se preocupe, não haverá nada nessa pesquisa que possa te fazer mal;
7. Se você tiver alguma dúvida poderá ligar para mim ou para a outra pessoa
responsável pela pesquisa. Ligue para mim (Carolina: 97110994) ou para o
Orientador da pesquisa (Roberto: 99169227, 36757944 ou 36708386)
8. Você pode desistir de participar da pesquisa em qualquer momento, sem que
isso acarrete qualquer tipo de problema para você.
Se você concorda com tudo isso, por favor, preencha o formulário e assine abaixo:
Nome:_____________________________________________________________
Data de nascimento:____________ Sexo:_______ R.G.:___________________
Endereço:__________________________________________________________
CEP:___________ Cidade:_____________ U.F.:____ Telefone: ( )__________
São Paulo: ___ / ___ / ___
Assinatura do participante
Assinatura da Testemunha (psicóloga da unidade de saúde onde se realizou o
estudo)
Assinatura da pesquisadora
Maria Carolina Correa Martone
R.G.: 20.912.423-4
Assinatura do orientador
Prof. Dr. Roberto A. Banaco
R.G.: 9.737.144-0
86
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