81 4 Conclusão Nesse trabalho desenvolvemos e estimamos um modelo pertencente à classe dos “Internationally Affine Term Structure Models” para o caso de um par de países do tipo desenvolvido e emergente, quando considerações relacionadas à probabilidade de default da dívida existente sob a forma de títulos emitidos pela economia emergente e negociados nos mercados doméstico e internacional devem ser levadas em conta. Trata-se de uma contribuição efetiva para a literatura de Finanças e Macroeconomia, pois esse caso não havia sido tratado nos artigos que enfocam a modelagem integrada das curvas de juros e da taxa de câmbio bilateral vigentes em um par de países. Com efeito, nas aplicações desenvolvidas até hoje, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812148/CA somente o relacionamento existente entre as curvas de juros e a taxa de câmbio bilateral para um par de países desenvolvidos (EUA e Reino Unido, EUA e Canadá) havia sido tratada; nesse contexto, a probabilidade de default da dívida emitida pelo governo de um dos países do par é, por hipótese, zero. A principal conclusão do exercício é que, se as variáveis que incorporam o risco de default (as recovery intensities tem1 e US t 1 ) refletem uma probabilidade diferenciada de “repudiar” a dívida dependendo da moeda na qual ela foi emitida, então o resultado de Backus, Foresi e Telmer em seu artigo de 2001 (a saber, que a variação cambial se adapta às trajetórias dos fatores de desconto estocásticos das 2 economias) permanece válido (ver [36] e [39]). Mas há outras contribuições que consideramos importantes. A primeira diz respeito à tentativa de tratar de maneira conjunta a curva de juros sem risco vigente na economia desenvolvida e as curvas de juros com risco associadas aos títulos de cupom zero emitidos pela economia emergente nos mercados internacional (quando a emissão é denominada na moeda do país desenvolvido) e doméstico (caso no qual a emissão é denominada na moeda do país emergente). A incorporação da curva de juros para emissões domésticas denominadas na moeda do país emergente é uma novidade, pois as aplicações estudadas até hoje (pelo menos até onde sabemos) incorporam o relacionamento entre as curvas de juros com e sem risco obtidas a partir de emissões em moeda “forte”. 82 Já a segunda contribuição diz respeito à avaliação das condições de Fama (que são as condições que devem ser atendidas para que haja a “quebra” da hipótese das expectativas na sua forma pura, hipótese essa que supostamente valeria na relação entre os mercados à vista e futuro de câmbio) e a sua contextualização em um modelo afim conjunto para as curvas de juros e a taxa de câmbio bilateral. Backus, Foresi e Telmer (2001) fazem essa contextualização para um par de países desenvolvidos, ou seja, considerações relacionadas com o risco de default não são incorporadas. Na seção 2.3 fazemos essa contextualização para um par de países do tipo desenvolvido e emergente, quando a dívida em títulos emitida por esse último pode incorrer em default. A conclusão do exercício é que a contextualização conduz a resultados análogos aos obtidos por Backus, Foresi e Telmer, porém não idênticos. A razão é que a expressão para o prêmio de risco existente em operações no mercado futuro de divisas muda, deixando de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812148/CA refletir apenas a diferença entre as variâncias condicionais dos logaritmos naturais dos fatores de desconto estocásticos dos dois países e passando a ser a diferença entre a variância condicional do logaritmo natural do fator de desconto estocástico do país desenvolvido e a variância condicional da soma do logaritmo natural do fator de desconto estocástico do país emergente com o logaritmo natural da recovery intensity correspondente. O trabalho se encerra com o experimento empírico, que leva uma versão simplificada do modelo derivado nas seções 2.1 e 2.2 a dados oriundos de Brasil e EUA. O procedimento escolhido para estimar os parâmetros da versão simplificada é o MM executado em etapas e sub-etapas. Essa opção emana da dificuldade em estimar a versão simplificada do modelo afim integrado de juros e câmbio escrevendo-o sob a forma de um modelo em espaço de estados e utilizando a maximização da função de verossimilhança calculada por meio do filtro de Kalman, que seria a alternativa mais elegante. Isso ocorre porque o número de parâmetros se torna muito alto (da ordem de muitas dezenas, dependendo do número de vértices em cada curva), o que dificulta sobremaneira a busca do ótimo global da função de verossimilhança. O procedimento MM em etapas e sub-etapas evita esse problema, pois o número de parâmetros estimado a cada passo nunca ultrapassa uma dezena (ou seja, a dimensão do problema de otimização resolvido em cada passo é mantida propositalmente baixa). Os 83 resultados de estimação sugerem que a trajetória das variações da taxa de câmbio real/dólar é bem explicada pelo modelo, assim como as trajetórias das taxas pertencentes às 3 curvas de juros do sistema. Os resultados também sugerem que os determinantes externos das 2 curvas brasileiras são importantes, confirmando os resultados encontrados em Bonomo e Lowenkron (2008). Encerramos a conclusão com as tarefas que foram remetidas a trabalhos posteriores. Pensamos que a compreensão do arcabouço teórico se encontra mais adiantada, de maneira que a pesquisa futura deve priorizar o estudo empírico do modelo desenvolvido na seção 2. Nesse caminho ainda há muito a fazer como, por exemplo, (i) aperfeiçoar o procedimento MM descrito na seção 3.2, inserindo pesos que levem em conta a variância dos estimadores dos momentos escolhidos; (ii) adaptar o procedimento em etapas descrito na seção 3.2 para viabilizar a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812148/CA utilização do filtro de Kalman como ferramenta de estimação; (iii) investigar o número ótimo de variáveis latentes, ou seja, executar testes de hipótese a fim de chancelar ou não versões mais parcimoniosas do modelo; (iv) estimar modelos com market prices of risk variantes no tempo e avaliar se essa característica é importante sob o ponto de vista da trajetória da variação cambial; (v) continuar os exercícios de diagnóstico e interpretação do modelo (por exemplo, calculando funções de resposta ao impulso e fazendo decomposição de variâncias a fim de determinar as variáveis latentes mais importantes); e (vi) avaliar o desempenho do modelo integrado de juros e câmbio aplicado a um par de países do tipo desenvolvido e emergente em exercícios de previsão fora da amostra e verificar se os resultados promissores encontrados por De los Rios (2006) para o caso sem risco de default se repetem.