OGLOBO VERSO A POESIA DE MANUEL ANTÓNIO PINA SÁBADO 27.10.2012 oglobo.com.br CUSTÓDIO COIMBRA/19-01-2011 PÁG. 8 À espera do trem na Central do Brasil: subúrbio longe e perto Complexo urbano Entre o bucolismo e a violência, entre o imaginário cultural e o traçado da linha férrea, o conceito de subúrbio no Rio de Janeiro ganha novos contornos MARIANA MOREIRA [email protected] S ubúrbio é originalmente um termo geográfico para distinguir territórios periféricos, distantes dos centros urbanos, formados inicialmente como refúgio da classe trabalhadora. No Brasil, e especificamente no Rio de Janeiro, entretanto, ele foi ganhando tanto os contornos concretos delimitados pelo traçado da linha férrea como também os de uma ideia construída a partir do comportamento e da cultura de seus moradores. Mesmo em franca expansão econômica e social, os subúrbios ainda costumam representar, para uma grande maioria, ruas de casas simples, crianças brincando de bola de gude, vizinhos em harmonia nas cadeiras das calçadas ou trocando impropérios de cada lado do muro, um bucolismo algo anacrônico. A visão do que é ou não é suburbano, porém, varia bastante, e pode exibir a face propositalmente caricata do bairro Divino, como na recém-encerrada novela “Avenida Brasil”; uma aproximação mais realista como a que promete a minissérie “Suburbia”, que estreia na próxima quinta-feira na TV Globo; ou ainda ser retratada de modo violento na chamada literatura “marginal”, feita por autores das próprias regiões. São diferentes teorias e conceitos, e entre eles está o do pesquisador do departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense Nelson da Nóbrega Fernandes, autor do livro “O rapto ideológico da categoria subúrbio: Rio de Janeiro 1858-1945” (Apicuri). — Há um conceito único de subúrbio no Rio, que é o de áreas afastadas, periféricas. E a palavra mudou tanto que é estranho, hoje, associála ao Jockey Club, que teve sua primeira sede na Freguesia do Engenho Novo, em 1868 — diz Fernandes, referindo-se à conotação pejorativa que o termo suburbano ganhou ao longo das décadas. — Copacabana, por exemplo, é um subúrbio com praia — brinca. Já para a antropóloga Alba Zaluar, o subúrbio carrega um paradoxo: a sociabilidade convive com altas taxas de criminalidade: — Ele se criou com a força da vizinhança, mas os bairros mais solidários são os mais violentos. Continua na página seguinte