AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS NA REGIÃO DO BARREIRO: A METROPOLIZAÇÃO NA PERIFERIA DE BELO HORIZONTE. Saulo de Paula Pinto e Souza Evânio dos Santos Branquinho [email protected] Geografia – Universidade Federal de Alfenas Resumo Este trabalho parte do objetivo de analisar a urbanização Barreiro, periferia de Belo Horizonte, a metropolização da cidade, a partir do estudo da transformação do subúrbio em periferia. A partir do estudo teórico da produção do espaço e da Geografia como suporte para estudo social, buscando esclarecer o processo em que a cidade se constitui em metrópole, processo este, induzido principalmente pela industrialização e urbanização e por fim entender como o modo de vida e as relações dos moradores foram transformando-se gradualmente. Palavras-chave: Produção do espaço; metropolização; periferia. Key-words: production of space; metropolization; periphery . EIXO 8 - Geografia Urbana. INTRODUÇÃO A proposta deste trabalho é estudar a urbanização da região do Barreiro, localizada na região oeste de Belo Horizonte, a partir do espaço geográfico. Buscamos compreender a relação da sociedade com o espaço produzido, em continuo processo de transformação. Utilizando a Geografia como forma de compreender o mundo para compreender nosso papel neste, sermos compreendidos para nos comportar e agir, tomar posição e postura para ação, adquirir base para a transformação, acreditando ser esta é a base da geografia que precisa ser revelada, em benefício da perpetuação da vida. Nosso objetivo foi realizar a análise da urbanização da região do Barreiro, a partir da produção do espaço para entender como ele foi produzido ou reproduzido historicamente. Discutimos o conceito de produção e como ocorre a produção do espaço, como ele é abordado pela Geografia. Nesta pesquisa entendemos a sociedade como uma totalidade, onde as mudanças, trazidas pela modernização, irão, em lugares e momentos diferentes, resultar em ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1068 particularidades, estas que servem para revelar as contradições da reprodução social. Reprodução que vai além dos meios de produção, envolve a reprodução do espaço inteiro e da própria sociedade. O espaço foi observado como desenvolvimento de uma atividade social: tese esta que sustenta a pesquisa. Nossa análise então parte do fato da espacialização do processo social da modernidade, que paulatinamente transforma os lugares, integrando regiões em um modo de vida urbano e resultando na metropolização, processo pelo qual a cidade, ao se desenvolver, transforma se em uma metrópole. 1069 OBJETIVOS Nosso objetivo foi compreender a transformação da cidade em metrópole pela perspectiva do subúrbio, este transformado em periferia, onde resquícios do modo de vida tradicional ainda puderam ser resgatado e percebidos. Por meio disso, podemos analisar o processo em que aos poucos, rompeu as continuidades históricas e tornou esta região um fragmento da metrópole, desenvolvendo ainda uma funcionalidade própria. Por meio das transformação do espaço buscamos perceber as mudanças no modo de vida da população. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para analisar a urbanização do Barreiro, foi importante o conhecimento dos principais fatores que na produção de seu espaço, lhe deram as características que serviram de base para sua modernização: o espaço carrega traços do passado, que ajudam a esclarecer o sentido de progresso que a cidade assume. No sentido do progresso, buscamos olhar para os momentos em que agentes transformadores surgiram pela cidade e buscamos perceber: “por quê? para quem? ou em beneficio de quem?” (LEFEBVRE, 2009). Ocorreram estas estratégias que possibilitaram o crescimento de uma metrópole em meio à cidade. A partir da tese de Martins(1992, p. 16), obtivemos a justificativa da pesquisa partir do estudo do subúrbio, a partir dele entendemos que este é um posto privilegiado para observação e estudo das transformações da cidade e da formação das classes sociais e entender as particularidades da industrialização brasileira, que são fundamentais para realização da industrialização e refletem na produção do espaço urbano. Procuramos incorporar as mudanças que emergem do subúrbio, que “oferece uma perspectiva que não pode ser desdenhada na correta recuperação e reconstituição da história social da cidade (...) como se a indústria não tivesse revolucionado a existência da cidade, invertido seus horizontes, subvertido seus conteúdos de suas formas espaciais, arquitetônicas e sociais (MARTINS, 1992, p. 16). ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 Consideramos que o subúrbio de hoje (periferia) perpassa o modelo industrial. Em relações sociais urbanas, que são resultado da industrialização e urbanização. A periferia e centro constituem-se como um todo na metrópole, são partes integrantes. A metrópole é caracterizada pela sua capacidade de centralizar uma grande diversidade de usos, agentes, atividades; a busca e tentativa de integrar a sociedade a um todo homogeneizado. Regida por um modo de produção dominante, generalizado com a difusão da industrialização, uma tentativa de uniformidade de organização, nas bases social, política e econômica. METODOLOGIA A metodologia consistiu em realizar estudos e revisão bibliográfica, buscando formas de compreensão dos processos de urbanização e análise da modernização e produção social do espaço como método de abordagem. Para assim obter embasamento para elaboração teórico-metodológica condizente ao trabalho. Realizamos trabalhos de campo e entrevistas com os moradores antigos, utilizando de métodos e critérios qualitativos. Por meio delas buscamos abranger nossa percepção sobre a evolução urbana. Demos liberdade para exposição da trajetória dos entrevistados no Barreiro, procurando saber o motivo de viverem na região e sua percepção sobre as transformações vividas por meio de História oral. RESULTADOS Procuramos mostrar a partir do marxismo e do materialismo histórico, o movimento da historia de um ponto de vista dialético, em seguida perceber estas influencias no pensamento geográfico. Utilizamos Carlos (2007), para expor a herança deixada por essa reflexão, sendo o pensamento do espaço enquanto produção/produto da ação da sociedade. A noção de produção se vincula à produção da humanidade e diz respeito às condições de vida em sociedade. Em um processo que se revela “em diferentes escalas tendo, hoje, sua base definida/limitada e potencializada pelo processo de mundialização” e assim voltando o conhecimento para a “produção/reprodução do espaço enquanto nível da realidade, num movimento que articula passado, presente e futuro,” no sentido de elucidar os vários momentos da produção. Tratando-se de analisar a sociedade como uma totalidade, em um movimento dialético, que através da reprodução, produz uma universalidade, uma tentativa, vista como possível, de homogeneização do modo de vida urbano, por meio da simbiose industrialização-urbanização. Ao alcançar uma região, em um espaço tempo, resulta em particularidades, o processo é dinâmico e gradual. Buscamos elucidar, a maneira que a geografia compreende a vida em sociedade por meio da dialética, discutir sobre a produção do espaço e modernização, uma linha de raciocínio que traga o espaço para o eixo central ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1070 da análise social. Entendemos que o urbano é novo, foi produzido, uma criação, a sociedade urbana, o local onde se deram estas transformações foi na cidade, mas a cidade histórica porém, foi implodida e explodida através da urbanização da sociedade industrializada. A partir de Lefebvre (1971 apud BRANQUINHO, 2001) entendemos então que a “reprodução do espaço ocorre reproduzindo os conflitos sociais e contradições. Em um movimento que destacam-se três tendências simultâneas e inter-relacionadas: a homogeneização, a fragmentação e a hierarquização do espaço.” Neste contexto, entendemos “o bairro é um fenômeno da vida traduzindo uma especialidade especifica” (SEABRA, 2003 p.35), e todo investimento público dirigido a esse lugar da metrópole vai aumentar o preço do solo urbano; todo melhoramento numa área pobre faz dela o teatro de conflito de interesses de classes tanto sociais quanto econômicas e, vão atrair outras atividades, que interferirão nos espaços, levando a transformações significativas na vida dos moradores. Apoiamos na tese de Aguiar (2006 p. 36), para explicar a história do subúrbio de Belo Horizonte, ocorreram dois empreendimentos para modernização, sendo um urbano e industrial e o outro em moldes agrários, que incluía o estabelecimento da zona colonial nos subúrbios da nova capital segundo uma estratégia de diversificação econômica. Portanto, para Aguiar (2006, p. 59) a construção de uma nova cidade deve ser compreendida como iniciativas que, através do progresso material, buscavam transformar a sociedade e promover o progresso moral, desenvolver o Estado e construir uma sociedade moderna, em ideais positivistas, sendo influenciado pela instituição da república e legalmente o fim da escravidão. A partir dos anos 50, produção industrial se reorganizava, havia o interesse em novos mercados. A divisão internacional do trabalho mudava de contexto. De acordo com Martins (1992, p. 8), este processo levou a redefinição das relações entre cidade e seu subúrbio, sobretudo com a industrialização. Foi outro modo de viver na cidade, no seu subúrbio empobrecido de vinculo com a História, pobreza que é a face urbana e espacial da alienação do morador-trabalhador”. O processo de metropolização que se iniciava em Belo Horizonte resultaria na transformação do o espaço social da cidade em metrópole, e o subúrbio em periferia, processo que vem expandindo pelos arredores, constituindo a Região metropolitana. Através dos diversos pressupostos buscamos esclarecer que a modernização pode ser vista como estratégia para valorização imobiliária, onde a terra se transforma em mercadoria e o cidadão passa a cumprir papel de simples consumidor na sociedade urbana. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1071 Podemos perceber a perda dos referenciais sociais e do sentimento de nostalgia de quem viveu em outras épocas, percebendo a falta dos momentos lúdicos da vida, os relacionamentos familiares que estabeleciam entre a vizinhança, que não condiz mais com a manutenção atual da metrópole, nesta surgiu um novo modo de viver. CONCLUSÕES Entendemos que a metropolização como a reestruturação de processo materiais, relacionado á introdução de indústrias. O que permitiu a transformação do espaço da cidade a partir da práxis urbana, culminando nos processos de homogeneização, fragmentação e hierarquização da metrópole. Percebemos que a modernização afeta a vida social da população e suas relações, o urbano introduzido pela metrópole causou transformações na cidade, rompeu assim as relações e introduzindo novos referenciais pelas mudanças na paisagem, denotando em uma nova configuração socioespacial no lugar. A periferia estando inserida na lógica da metrópole mantém alguma continuidades, , resquícios da sua história, pela população que vivenciou tempos passados, pela toponímia presente no espaço, em seus bairros, ruas e praças. A realidade atual demonstra uma grande desigualdade socioespacial. Os moradores passam a reconhecer a periferia, ela esta presente no cotidiano e imaginário da população, percebe-se pela preocupação com a violência, o caos do transito, a infraestrutura precária que ainda fazem parte da realidade, a precariedade na educação e na saúde. Esses fatores contribuem revelam como se estabelece uma “exclusão” social como resultado do processo de metropolização, e assim percebemos a valorização da terra e especulação imobiliária e como o modelo capitalista é falho socialmente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Tito Flavio Rodrigues de. Vastos subúrbios da nova capital: formação do espaço urbano na primeira periferia de Belo Horizonte.2006. Tese (Doutorado em Historia) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. CARLOS, Ana Fani A. A “Geografia crítica” e a critica da Geografia, 2007 IX Coloquio Internacional de Geocrítica. Porto Alegre. LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008. LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008. LEFEBVRE, Henri. O direito à Cidade. São Paulo: Ed. Centauro, 2009. MARTINS, José de Souza. Subúrbio: vida cotidiana e história no subúrbio da cidade de São Paulo: São Caetano do fim do Império ao fim da República Velha. São Paulo: Hucitec/Prefeitura de São Caetano do Sul, 1992. MOREIRA, Ruy. Marxismo e Geografia GEOgeohia - Ano. 6 - NQ I I - 2004 ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1072 SEABRA, Odette Carvalho de Lima. Urbanização e Fragmentação; Cotidiano e vida de bairro na metamorfose da cidade em metrópole, a partir das transformações do Bairro do Limão. São Paulo. Tese de livre-docência, FFLCH, USP – Departamento de geografia. 2003 SOUZA, Antonio Augusto de. Barreiro: 130 anos de historia. Belo Horizonte: Mannesmann S.A, 1986. VILLAÇA, Flavio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Stúdio Nobel: FAPESP:Lincoln Institute, 2001. 1073 ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014