Debate sobre renovação de concessões trouxe insegurança aos investidores ANDRADE, Leticia Queiroz de. “Debate sobre renovação de concessões trouxe insegurança aos investidores”. Folha de São Paulo. São Paulo, 10 de dezembro de 2012. O debate em torno da renovação dos contratos de concessão para gerar e transmitir energia elétrica teve impacto negativo no mercado: as ações das empresas do setor caíram mais de 50%. Depois, os papéis subiram timidamente, com o anúncio de que algumas geradoras não haviam aderido à proposta de renovação apresentada pelo governo federal. Embora seja louvável o intuito de reduzir as tarifas de energia elétrica para aquecer a economia, o modo pelo qual a discussão acerca da renovação ocorreu gerou insegurança no investidor. É compreensível o ponto de vista da administração pública, mas tal perspectiva vai na contramão do que se busca ao investir no setor de infraestrutura; isto é, segurança de retorno no longo prazo. Os resultados negativos advindos desse episódio contrastam, entretanto, com uma série de medidas de incentivo à infraestrutura e de pacotes de concessão recentemente anunciados pelo governo federal, que visam incrementar o investimento no país. Foram criadas mais linhas de financiamento do BNDES, com maiores prazos de carência e amortização, e benefícios tributários para investimentos em debêntures de infraestrutura para fomentar o mercado de capitais. Os ganhos de capital com debêntures emitidas por empresas para investir em projetos de infraestrutura passaram a ser isentos de Imposto de Renda, no caso de investidores pessoas físicas, e a ser tributados com alíquota reduzida de 15% quando auferidos por pessoas jurídicas, deixando claro o intuito do governo de trazer os olhos dos investidores para o setor de infraestrutura. As medidas são positivas, sobretudo se inseridas em um cenário em que regras importantes --que afetam não só o setor de energia elétrica mas o setor de infraestrutura como um todo-- estão ainda por serem definidas, tais como as regras e os critérios dos cálculos da indenização devida sobre investimentos não amortizados. Resta agora aguardarmos que a definição dessas regras seja positiva e participarmos da concretização dos investimentos necessários para o crescimento de nosso país e o bem-estar dos cidadãos. LETICIA QUEIROZ DE ANDRADE é sócia do setor regulatório do Siqueira Castro Advogados, com expertise em infraestrutura e concessões. Mestre e doutora em direito do Estado pela PUC-SP, é professora de direito administrativo e pós-graduação na mesma instituição.