os impactos da agricultura urbana na qualidade da água

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Os impactos da agricultura urbana na qualidade da água na nascente do igarapé do
Mindu - comunidade Nova Esperança (Manaus – AM)
DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p1-9
Samara Aquino Maia; Flávio Wachholz; Robson Graças dos Santos; João Carlos
Ferreira Júnior
OS IMPACTOS DA AGRICULTURA URBANA NA QUALIDADE DA ÁGUA
NA NASCENTE DO IGARAPÉ DO MINDU - COMUNIDADE NOVA
ESPERANÇA (MANAUS – AM)
Samara Aquino Maia1
Flávio Wachholz2
Robson Graças dos Santos3
João Carlos Ferreira Júnior4
Resumo:
O homem modifica a natureza, principalmente com a prática da agricultura e a instalação/expansão das
áreas urbanas. Com essas transformações tem alterado significativamente os cursos d’água, ressaltando os
problemas de erosão das margens, assoreamento e deterioração da qualidade da água. O objetivo do
trabalho foi de identificar os impactos ambientais em uma das nascentes do igarapé do Mindu, localizada
na Zona Leste (Comunidade Nova Esperança) da área urbana de Manaus – AM. A metodologia consistiu
na realização de trabalho de campo para a identificação dos usos antrópicos do igarapé e de sua bacia
hidrográfica. O levantamento dos dados de campo foi realizado em onze pontos amostrais para coleta de
amostras de água para a realização das seguintes medidas: temperatura, pH, condutividade elétrica,
turbidez, oxigênio dissolvido. A temperatura da água foi crescente de 29,6 a 30,6 no sentido do igarapé,
devido à ausência de mata ciliar e a realização da dragagem do canal no baixo curso. As variáveis pH e
condutividade elétrica aumentaram no sentido do igarapé, com valores de 6,6 a 7,7 e 0,16 a 0,32 mS/cm,
respectivamente; associado possivelmente a ampliação das áreas de horticultura que se utilizam de
fertilizantes. O oxigênio dissolvido apresentou valores com pouca variação pois oscilaram entre 4,2 a 4,8
mg/L. A turbidez foi menor na nascente com 9 NTU e oscilou no curso de acordo com a presença de
barragens, visto que onde está estava ausente o valor foi de 68 NTU. Conforme as variáveis de qualidade
da água analisadas, a maioria delas sofre influência antrópica pelas áreas de horticultura, retirada de mata
ciliar, dragagem e a construção de pequenas barragens no igarapé.
Palavras-chave: Impactos ambientais, ação antrópica, bacia hidrográfica.
THE IMPACTS OF URBAN AGRICULTURE IN WATER QUALITY IN THE MINDU SPRING
STREAM- NOVA ESPERANÇA COMMUNITY ( MANAUS - AM )
Man changes the nature, especially with the agriculture practicing and the establishment expansion of
urban areas. With these changes has significantly changed the waterways, highlighting problems of
margins erosions, silting and deterioration of water quality. The objective was to identify the
environmental impacts of the creek's headwaters of Mindu, located in the East Side (Nova Esperança
Community) the urban area of Manaus - AM. The methodology consisted of field work to identify the
anthropogenic uses of the stream and its watershed. The survey of field data was carried out in eleven
sampling points for collecting water samples to carry out the following measures: temperature, pH,
conductivity, turbidity, dissolved oxygen. The water temperature was increased in the amount of 29.6
sense and 30, 6ºC in the downstream of the stream, in the absence of riparian vegetation and the
realization of the channel dredging in the lower course. The pH and conductivity increased in the
direction variables of the stream, with values of 6.6 the 7.7 and the 0.16 0.32 mS/cm, respectively;
1
Bolsista PAIC/FAPEAM, Curso de Geografia, Escola Normal Superior, Universidade do Estado do
Amazonas – UEA. E-mail: [email protected]
2
Professor Doutor, Curso de Geografia, Escola Normal Superior, Universidade do Estado do Amazonas –
UEA. E-mail: [email protected]
3
Bolsista CENSIPAM/ CR, Curso de geografia, Escola Normal superior, Universidade do Estado do
Amazonas – UEA. E-mail: [email protected]
4
Aluno do Curso de geografia, Escola Normal superior, Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Email: [email protected]
Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04,
p. 01-09. jul./dez. 2015.
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possibly associated with the expansion of horticultural areas that use fertilizers. The dissolved oxygen
values showed little variation since ranged from 4.2 to 4.8 mg/L. Turbidity was lower in the east with 9
NTU and fluctuated in the course according to the presence of dams, since that is where he was absent the
value was 68 NTU. As the water quality variables, most of which is influenced by anthropogenic
horticultural areas, removal of riparian vegetation, dredging and the construction of small dams on the
stream.
Key words: Environmental impacts, human action, watershed.
INTRODUÇÃO
A necessidade de água é universal. Entretanto, o suprimento de água está
relacionado com a distribuição de chuva da região, proporcionando abastecimento de
suas fontes: a água da superfície e a subterrânea. Sabe-se que esse recurso na superfície
é disponível pelos córregos, lagos, reservatórios e açudes e que a subterrânea é retirada
diretamente por meio de poços. No entanto, a quantidade e qualidade da água têm sido
afetadas pela industrialização assim como o desflorestamento, a erosão, irrigação e uso
de produtos químicos na agricultura (Bertoni e Lombardi, 1999).
Segundo Drew (2010) ressalta ser de absoluta importância a água potável para o
ser humano, porém sua ocorrência no tempo e no espaço provocou as primeiras
tentativas do homem modificar o meio ambiente natural. Na verdade, o
desenvolvimento da agricultura e da sociedade organizada sempre esteve vinculado ao
controle de água, especialmente para irrigação.
De acordo com Tucci (1997) em uma bacia hidrográfica rural pouco alterada, o
fluxo é retido pela vegetação, infiltra-se no subsolo e o que resta escoa sobre a
superfície de forma gradual, produzindo um hidrograma com variação de vazão e com
picos de enchentes moderadas. Os rios podem erodir seus canais verticalmente,
aprofundando o talvegue, ou lateralmente, alargando o canal (Florenzano, 2008). A
erosão hídrica influencia a qualidade do solo, através da perda de carbono e nutrientes e
consequentemente, a capacidade produtiva dos solos. Além da pressão econômica sobre
os agricultores leva-os a explorar intensivamente estas áreas, sendo que a contaminação
da água é potencializada quando práticas agrícolas conflitante são praticadas segundo o
potencial de usos das terras (MERTEN e MINELLA, 2002).
A agricultura urbana é realizada em pequenas áreas dentro de uma cidade, ou no
seu entorno (peri-urbana), é destinada à produção de cultivos para consumo próprio ou
para a venda em pequena escala, em mercados locais, sendo esta normalmente praticada
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em regiões ou municípios que tenham tradição agrícola no meio rural (ROESE; REIS
2003).
As bacias hidrográficas também devem ser avaliadas em função da qualidade e
quantidade das águas dos igarapés. Nesse contexto, a estratégia de desenvolvimento
sustentável é analisar as propriedades, a distribuição e a circulação da água, para
interpretar potencialidades e restrições de uso. Segundo DREW (2010), o
desenvolvimento da agricultura e da sociedade organizada sempre esteve vinculado ao
controle da água, especialmente para irrigação. Em virtude disso, o objetivo desse artigo
foi de identificar as formas e utilização do solo na comunidade Nova Esperança e
verificar as variações longitudinais da qualidade da água do igarapé, a partir dos
parâmetros: temperatura (°C), pH, turbidez (NTU) e condutividade elétrica (mS/cm),
com a finalidade de compreender a influência da agricultura urbana na qualidade da
água.
METODOLOGIA
A área de estudo compreende a bacia hidrográfica de uma das nascentes do
Igarapé do Mindu, localizado na Comunidade Nova Esperança/ bairro Jorge Teixeira,
zona leste de Manaus. Para a execução do projeto foram adotados sequencialmente, os
seguintes procedimentos metodológicos: trabalho de campo, tabulação dos dados e
avaliação dos resultados.
Foram realizados dois trabalhos de campo, sendo o primeiro no dia 13 de
fevereiro de 2014 e o segundo no dia 12 de março de 2015. O primeiro campo foi
realizado para reconhecimento e delimitação da bacia hidrográfica, usando materiais
como máquina fotográfica, GPS, mapa da área de estudo e imagem de satélite. O
segundo campo consistiu no levantamento das amostras de água, em onze pontos
amostrais, com o objetivo de obter informações da qualidade da água com as seguintes
variáveis: temperatura, pH, turbidez (NTU) e condutividade elétrica (ms/cm). As
medidas dessas variáveis foram coletadas por meio de equipamentos portáteis como:
condutivímetro, peagâmetro, turbidímetro e termômetro. A tabulação e avaliação dos
resultados ocorreram em laboratório com tabulação dos dados (organização das
planilhas), em virtude disso, foi possível gerar gráficos das variáveis apresentadas.
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RESULTADOS
A bacia hidrográfica é a região compreendida por um território e por diversos
cursos d’água. A água superficial escoa até um curso d’água (rio principal), e são
descarregadas por meio de uma única foz localizado no ponto mais baixo da região
(ANA, 2011).
Essas por sua vez podem sofrer com ação antrópica, tendo como
consequência a vulnerabilidade da poluição no corpo hídrico.
Na bacia hidrográfica que atende a comunidade agrícola Nova Esperança o
cultivo de hortaliças é intenso, utilizam a água do igarapé para irrigação das plantações
de coentro, cebolinha e alface, segundo o (IDAM, 2009) a comunidade possui 98
agricultores e seus produtos são destinados a comercialização local da cidade.
A nascente do igarapé tem recebido forte influência da ação antrópica. A largura da
lâmina d’água próximo a nascente varia de 0,30 à 0,95m, sendo que o canal está
assoreado e apresenta disponibilidade hídrica eventual. Na confluência das primeiras
nascentes, as margens do igarapé apresentam mata ciliar com uma faixa de 5m (Figura
1). A partir do Ponto 8, a largura da lâmina d’água se amplia consideravelmente
passando de 2,30 a 5,63m, devido abertura do canal através da dragagem e erosão nas
margens (Figura 2).
Imagem 1- Comunidade Nova Esperança/ Manaus-AM
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Na figura 1 é possível verificar que o canal está sendo ampliado verticalmente,
já que a remoção da areia e de cascalhos estão influenciando diretamente a erosão nas
margens. Drew (2010) afirma, se a interferência antrópica der em transferência na
superfície no solo, ou em armazenagens, é provável que uma reação em cadeia
provoque mudanças em todo restante dos depósitos e transferências.
Figura 1. Margens preservadas (ponto 5).
Figura 2. Ampliação do canal (ponto 8).
O solo próximo ao igarapé possui características da formação Alter do Chão, de
idade Cretácia Superior a Terciária, é constituída principalmente, por arenitos
feldspáticos/caulíniticos, quartzo-arenitos e conglomerados com estratificações cruzadas
acanaladas e tabular, interpretados como depósitos de canais fluviais. Essa unidade está
constituída por arenitos finos a médios, com níveis argilosos, cauliníticos,
inconsolidados, contendo grânulos de seixos de quartzo esparsos, com estratificação
cruzada e plano-paralela (SEINFRA, 2012).
Qualidade da água
A temperatura da água foi crescente de 29,6 a 30,6ºC no sentido do igarapé
(gráfico 1), devido à ausência de mata ciliar e a realização da dragagem do canal no
baixo curso.
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Gráfico 1 - Temperatura (°C) da água no igarapé Nova Esperança
30.6
30.4
30.2
6
30.0
29.8
29.6
29.4
29.2
29.0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Pontos amostrais
É possível observar nos (gráficos 2 e 3) que as variáveis pH e condutividade
elétrica aumentaram no sentido do igarapé, com valores de 6,6 a 7,7 e 0,16 a 0,32
mS/cm, respectivamente; associado possivelmente a ampliação das áreas de horticultura
que se utilizam de fertilizantes.
Gráfico 2 – potencial Hidrogeniônico da água no igarapé Nova Esperança
7.8
7.6
7.4
7.2
7.0
6.8
6.6
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
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Gráfico 3 – Condutividade elétrica (mS/cm) no igarapé Nova Esperança
0.34
0.32
0.30
7
0.28
0.26
0.24
0.22
0.20
0.18
0.16
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Pontos amostrais
A maioria dos rios de pequeno porte da Amazônia, classificados como de cor
preta. O processo de erosão é reduzido pela mata pluvial, consequentemente a carga de
sedimentos é baixa e os rios são transparentes (HOBER, 2008).
Consequentemente, o
gráfico nos mostra que a turbidez foi menor na nascente com 9 NTU e oscilou no curso
de acordo com a presença de barragens, visto que onde estavam ausentes o valor foi de
68 NTU.
Gráfico 4 – Turbidez (NTU) do igarapé Nova Esperança
70.0
60.0
50.0
40.0
30.0
20.0
10.0
0.0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Pontos amostrais
A concentração de oxigênio dissolvido não apresentou tendência e com pouca
variação (4,2 a 4,8 mg/L, conforme o gráfico 5). Os valores foram mais baixos para
alguns pontos devido a recarga subterrânea, ausência de vegetação e a presença de
barragens, como podemos observar na figura 3 e 4.
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Gráfico 5 – Oxigênio dissolvido no igarapé Nova Esperança
5.00
4.80
8
4.60
4.40
4.20
4.00
3.80
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Pontos amostrais
Figura 3 – Presença de barragens a montante
Figura 4 – Presença de barragem a jusante
Nota-se nas figuras 3 e 4 em vários pontos do igarapé Nova Esperança a água é
retida em barramentos com sacos de areia diminuindo a distribuição de água pelo canal.
Segundo Almeida (2010), as construções de represas, captação de água, dragagem
aumentará os problemas de contaminação, acentuando determinadas ações nocivas em
épocas não usuais, como por exemplo, diminuição da vazão, aumento das águas
paradas, redução da velocidade, aumento de depósito de sedimentação.
CONCLUSÃO
A bacia hidrográfica comporta principalmente áreas de agricultura, sendo essa
em plantações no solo exposto ou em estufas, somente as margens das vertentes estão
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preservadas com grande porção verde e o fundo de vale está sendo pressionado pela
ação antrópica para o cultivo de hortaliças e construções de casas de vegetação.
Dessa forma os parâmetros analisados da qualidade da água estão sendo
influenciados pela atividade agrícola, uma vez que essa esteja poluindo o igarapé e suas
nascentes, soterrando as mesmas, erosão nas margens e a presença de barragens. Isso
ficou comprovado com os valores crescentes de temperatura, pH, e turbidez no sentido
do igarapé.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Otávio Álvares de. Qualidade da água de irrigação. Cruz das Almas:
Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2010.
BERTONI, Joaquim; LOMBARDI, Francisco. Conservação do solo. 4. ed. São Paulo:
Ícone, 1999.
DREW, David. Processos Interativos: homem – meio ambiente. 7. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2010.
HORBER, A. M. C, OLIVEIRA, L. G. S. Química de igarapés de água preta do
nordeste do Amazonas - Brasil v.38, n4. Acta Amazônica, 2008.
IDAM, Instituto de desenvolvimento agropecuário e florestal do Estado do Amazonas.
Levantamento para diagnóstico da Comunidade Nova Esperança, 2009.
MERTEN, Gustavo e MINELLA, Jean. Qualidade da água em bacias hidrográficas
rurais: um desafio atual para a sobrevivência futura. Agroecologia e
Desenvolvimento Rural Sustentável, v. 3, n. 4, 2002.
ROESE, A. D. & dos REIS, V. D. A. Pré-diagnóstico da situação da horticultura em
Puerto Suarez, Bolívia. EMBRAPA Pantanal, 2003.
SEINFRA, Estudo prévio de impacto ambiental: diagnóstico ambiental, 2012.
TUCCI, Carlos Eduardo Morelli. Plano diretor de drenagem urbana: princípios e
concepção. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 2, n. 2, p. 5-12, 1997.
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