Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental HABILIDADES SOCIAIS E STATUS SOCIOMÉTRICO EM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL Social skills and sociometric status in children of basic education Habilidades sociales y status sociométrico en niños de educación básica José Maria Montiel – Centro Universitário FIEO (UNIFIEO) Fernando Pessotto – Centro Universitário Salesiano de Americana (UNISAL) Daniel Bartholomeu – Centro Universitário FIEO (UNIFIEO) Endereço para contato José Maria Montiel Centro Universitário FIEO Avenida Franz Voegelli, 300, Vila Yara São Paulo – SP – Brasil. CEP: 06020-190 E-mail: [email protected] José Maria Montiel Mestre e Doutor em Avaliação Psicológica em Contexto de Saúde Mental pela Universidade São Francisco; Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia Educacional no Centro Universitário FIEO – UNIFIEO/SP - Fundação Instituto de Ensino para Osasco, São Paulo, Brasil. Fernando Pessotto Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia pela Universidade São Francisco com ênfase em avaliação psicológica. É docente do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) onde compartilha a coordenação do Laboratório de Psicodiagnóstico e Neurociência Cognitiva (LaPeNC). Daniel Bartholomeu Mestre e Doutor em Avaliação Psicológica em Contexto de Saúde Mental pela Universidade São Francisco; Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia Educacional no Centro Universitário FIEO – UNIFIEO/SP - Fundação Instituto de Ensino para Osasco, São Paulo, Brasil. Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 251 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental Resumo O comportamento social qualificado pode ser definida como um conjunto de condutas emitidas num contexto interpessoal particular. Foram investigadas 257 crianças que frequentavam segunda até a quarta classe em escolas públicas de duas cidades do estado de São Paulo. A idade dos participantes variou de 8 a 11 anos, com uma média de 9 anos (DP = 0,77), 58,8% das meninas e 40,9% meninos. Os resultados descritos sugerem que Assertividade está relacionada à aceitação social para estudar e jogar, o que indica que o desenvolvimento de habilidades sociais é relevante para levar a uma melhor aceitação e integração social em crianças. Palavras chave: THAS, relações sociais, sociometria Abstract The skilled social behavior can be defined as a set of conduits issued in a particular interpersonal context. We investigated 257 children who attended second through fourth grade in public schools in two cities in the state of São Paulo. The age of participants ranged from 8 to 11 years, with an average of 9 years (SD = 0.77), 58.8% of girls and 40.9% boys. The results described suggest that Assertiveness is related to social acceptance to study and play, which indicates that the development of social skills is relevant to lead to better acceptance and social integration in children. Key words: THAS, social relationships, sociometry Resumen El comportamiento social experto puede ser definido como un conjunto de conductas emitidas en un contexto interpersonal particular. Fueron investigados 257 niños que asistieron a segundo hasta el cuarto grado de las escuelas públicas en dos ciudades del estado de São Paulo. La edad de los participantes varió de 8 a 11 años, con un promedio de 9 años (DE = 0,77), el 58,8% de las niñas y 40.9% niños. Los resultados descritos sugieren que la asertividad se relaciona con la aceptación social para estudiar y jugar, lo que indica que el desarrollo de las habilidades sociales es relevante para conducir a una mejor aceptación y la integración social en los niños. Palabras clave: THAS, relaciones sociales, sociometría Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 252 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental Introdução As habilidades sociais são compreendidas como um conjunto de comportamentos presentes no repertório de um indivíduo que possibilitam sua interação no meio em que está inserido (Del Prette & Del Prette, 2005). À medida que o sujeito observa que alguns destes comportamentos, emitidos em determinado contexto ou grupo são ou não aceitos, passam a ser referência de sua própria aceitação ou rejeição. Neste sentido um déficit na percepção, discriminação e controle destes comportamentos, pode acarretar no afastamento do grupo devido ao não cumprimento das regras, mesmo que implícitas (Del Prette, 1996). Dimitrov e Ebsary (1999) complementam que a entrada em um grupo implica na busca da aceitação evitando assim ser rejeitado podendo buscar inclusive papéis ou funções dentro do grupo. Estes papéis são determinado pelas representações acerca das interações sociais entre os membros de acordo com seus significados. Esta rede de interpretações e significados foi denominado por Moreno (1993) como átomo social. Para que o átomo social seja estabelecido positivamente deve haver uma eficaz leitura do ambiente e consequente julgamendo de quais comportamentos serão ou não aceitos naquele determinado contexto. A eficácia nesta leitura, compreensão e resposta ao meio, de acordo com o repertório comportamental do sujeito, é denominada competência social que, por sua vez, pode auxiliar na busca pelo objetivo de ser aceito elevando a qualidade das interações interpessoais podendo assim, contribuir com comportamentos futuros tidos como desajustados (Del Prette, 2001; 2005). Ser competente diz respeito à uma atuação de qualidade do indivíduo nas relações interpressoais. Neste sentido, são as habilidades sociais que possibilitam ser eficaz, ou seja, quanto maior seu repertório, maior a possibilidade de apresentar um Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 253 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental determinado comportamento pertinente à situação (Caballo, 2003). Este processo de emissão de respostas socialmente aceitas ou consideradas adequadas consiste num complexo desencadeamento de comportamentos emitidos à partir da percepção de estímulos percebidos comom relevantes. Esta percepção e emissão de comportamentos passa pelo processamento de informações responsável por elencar possíveis respostas a fim de chegar à mais adequada de acordo com a análise realizada. Assim é possível dizer que um bom repertório de habilidades sociais é importante, mas não suficiente para a competência social (Caballo, 1998). Segundo Caballo (1996; 2003) a definição de habilidades sociais não é consensual devido a própria natureza complexa do construto. O comportamento socialmente aceito é difícil de ser definido pois está intimamente ligado ao contexto em que é expresso, sendo possível alguns comportamentos serem assertivos em alguns contextos e não em outros. Portanto é possível concluir que não existe um modo universalmente correto de comportamento social. Sobre esta dificuldade na definição, pode-se relatar que algumas definições consideram apenas o conteúdo do comportamento emitido enquanto outras se baseiam exclusivamente nas consequências sociais oriundas das mesmas. Uma conceituação ampla deve considerer ambas as características, portanto, além do comportamento em si, também suas consequências. Neste sentido, uma boa definição para o comportamento socialmenta hábil pode se dar enquanto o repertório de comportamentos emitidos, em um determinado contexto social ou interpessoal, expressando desejos, sentimentos e opiniões da forma mais adequada à situação em questão. Isto deve acontecer observando os comportamentos dos pares e procurando resolver problemas inerentes ao contexto, visando assim a diminuição de dificuldades futuros na interação (Caballo, 2003). Esta definição foi adotada neste trabalho. Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 254 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental A reciprocidade constitui-se como base da conduta social bem sucedida. Esta conduta conta com o envolvimento de capacidades específicas, sendo elas aprendidas em algum estágio do desenvolvimento estando relacionadas aos fatores ambientais e pessoais. Isto se dá num sistema retroalimentativo, ou seja, ao mesmo tempo que o sujeito interage influenciando o ambiente este, por sua vez, responde, auxiliando na modelagem dos comportamentos do indivíduo (Caballo, 2003; Del Prette, 1996). Nesta perspectiva os diferentes contextos sociais podem funcionar como potencializadores na emissão de determinados comportamentos. Alguns arranjos sociais como comunidades de conviência, estruturação de grupos escolares e de recreação ou ainda uma simples organização especial/física, podem aumentar a necessiade de interações sociais, fazendo que o sujeito tenha que emitir mais comportamentos considerados adequados (Campos de Carvalho, 1998; Carvalho, 1997). Neste sentido, desde o início das interações sociais, ainda na infância, as experiências vivenciadas negativamente como pais violentos, condições sociais desfavoráveis, uso de drogas, embora não determinem, podem favorecer comportamentos antisociais no futuro, portanto, os diferentes contextos sociais podem auxiliary no bom o mal desenvolvimento de comportamentos pró-sociais (Baraldi & Silvares, 2003; Caballo, 2003; Del Prette, 1996; Ferreira & Marturano, 2002). Bussab (1999) já ressaltava que a criança, quando estimulada apropriadamente, pode aprensentar maior probabilidade no desenvolvimento interações sociais saudáveis. Del Prette e Del Prette (2005) complementam que a infância pode ser considerada um momento crítico no desenvolvimento das habilidades sociais pois é neste período que as primeiras relações significativas são formadas. Neste sentido, um amplo repertório de habilidades sociais pode ser considerado um fator importante no desenvolvimento auxiliando inclive, na proteção da Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 criança/adolescente, favorecendo um 255 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental desenvolvimento sadio (Baraldi & Silvares, 2003; Del Prette & Del Prette, 2001; Ferreira & Marturano 2002; Marinho, 2003). Portanto, como explanado anteriormente, um repertório extenso e habilidades sociais auxilia na competência social, mas não a garante sucesso nas relações interpessoais. A competência está ligada inclusive à organização dos pensamento com o objetivo de elaborar a melhor resposta para cada situação específica (Caballo, 1996). Frente a este cenário Del Prette e Del Prette (2001) salientam que, muitas vezes, o desenvolvimento destas habilidades se dá de forma natural, sobretudo nos casos de bom ajustamento. Porém, em alguns casos pode ocorrer déficits significativos prejudicando as interações sociais de forma geral. Muitos destes casos estão relacionados a um fraco desempenho acadêmico, uso de drogas, problemas emocionais, entre outros. Especificamente no contexto escolar Calderella e Marrel (1997) realizaram uma metanálise e verificaram 5 grupos de habilidade sociais consideradas como mais valorizadas para o contexto, à saber, a relação com os pares, autocontrole, habilidades sociais acadêmicas, ajustamento social e asserção. Estas habilidades estão diretamente ligadas à aceitação ou rejeição por parte do grupo, aspecto também investigado neste estudo enquanto decisivo para o bom desenvolvimento pessoal e acadêmico podendo aumentar a motivação para a aprendizagem. Morais, Otta e Scala (2001) salientam que o teste sociométrico se configura adequadamente para as medidas de aceitação e popularidade que são frequentemente utilizadas como preditoras da qualidade dos relacionamentos entre os alunos. Segundo Moreno (1972) a sociometria pode ser considerada um meio de quantificar as características psicológicas sociais de forma experimental tendo como premissa uma investigação sistemática na criação e desenvolvimento dos grupos e as Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 256 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental vivências individuais por meio de comportamentos de repulsa e atração. Moreno (1993) salienta ainda que, por meio do teste sociométrico, é possível investigar a qualidade dos vínculos por meio de um mapeamento possibilitando assim, a compreensão funcional dos membros em relação ao grupo. Estudos voltados para as habilidades sociais relacionadas à sociometria podem favorer portanto, uma melhor compreensão da complexa rede de habilidades sociais. Bartholomeu, Nunes e Machado (2010) puderam verificar isto num estudo com objetivo de investigar associações entre habilidades sociais e a aceitação-rejeição. Para este estudo contaram com 126 graduandos de educação física que responderam ao Iventário de Habilidades Sociais (IHS) e uma medida sociométrica a fim de mensurar o grau de aceitação ou rejeição em atividades intra e extra acadêmicas. Os autores verificaram, de acordo com os resultados, que para os homens, a aceitação não pôde ser explicada pelas habilidades sociais, ao passo que, para as mulheres, a medida de auto-exposição à desconhecidos foi verificada como habilidade importante na relação com o grupo. Portanto, segundo os autores, alguns comportamentos expressos podem ser utilizados em treinos de habilidades sociais com o objetivo de evitar a rejeição e favorecer a aceitação. Também o estudo de Bartholomeu, Montiel e Pessotto (2012) analisou as correlações entre habilidades sociais e aceitação entre os pares tanto para a situação de estudar como de sair. Foram avaliados 45 adolescentes de 16 à 18 anos, todos provenientes de uma escola particular. Os resultados apontaram que, separadamente por sexo, a medida do fator auto-afirmação na expressão de afeto positivo associou-se positiva e significativamente com aceitação e rejeição para estudar e o sociométrico geral para estudar. Esses dados indicam que os meninos que apresentaram habilidades para lidar com demandas de expressão de afeto positivo e de afirmação da auto-estima, Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 257 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental mesmo com um risco mínimo de reação indesejável foram mais aceitos e menos rejeitados na situação de estudar. Ao mesmo tempo, a dimensão autocontrole da agressividade em situações aversivas associou-se positiva e significativamente com rejeição para estudar e sociométrico geral para estudar. Com base nisso, pode-se sugerir que os meninos que apresentaram capacidade de reagir à estimulações aversivas do interlocutor com razoável controle da raiva e da agressividade, apresentaram-se mais competentes socialmente controlando seus sentimentos negativos, sendo menos rejeitados para estudar. Considerando que a literatura tem evidenciado relações entre a aceitação e rejeição entre colegas em estudantes universitários e do ensino médio, achou-se interessante analisar essas relações em crianças para averiguar se tais relações se mantém. Esta compreensão facilitaria a constituição de um padrão desenvolvimental de associações entre a aceitação e rejeição e as habilidades sociais, fornecendo um panorama de como essas variáveis se associam em diferentes etapas do desenvolvimento psicológico. Tal compreensão se configura como importante, no sentido de saber o que é esperado para cada momento escolar ao longo do desenvolvimento, favorecendo o planejamento de programas de intervenção em habilidades sociais com vistas a aumentar a coesão grupal e, consequentemente, afetar o processo de aprendizagem,a partir de uma maior aceitação entre os colegas. Método Participantes Participaram deste estudo 257 crianças que cursavam da 2ª à 4ª séries de escolas públicas de duas cidades do interior do estado de São Paulo. A idade dos participantes variou de 8 a 11 anos (M=9; DP=0,77), sendo 58,8% do sexo feminino. Foram Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 258 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental estudadas sete escolas de uma cidade e uma de outra. Optou-se por escolas públicas tanto de bairros socioeconomicamente menos favorecidos (5 escolas) como de bairros considerados mais favorecidos (3 escolas) considerando que, essas últimas, por terem acesso a uma diversidade maior de contextos poderiam apresentar habilidades sociais mais elevadas. Não houve seleção dos participantes em cada uma das escolas, já que se dependeu da assinatura dos termos de consentimento pelos pais dos alunos. Houve escolas que apresentaram desde 6 crianças (2,3%) até outras com 91 estudantes (35,4%). Instrumentos Teste de Habilidades Sociais para crianças em situação escolar (Bartholomeu, Silva & Montiel, 2012) Este instrumento foi desenvolvido com base na insuficiência de pesquisas que atestassem as qualidades psicométricas de medidas de avaliação das Habilidades Sociais em crianças. Atrelado à isso, no Brasil, o único instrumento dessa natureza compreende um sistema multimídia, desenvolvido por Del Prette e Del Prette (2001), o que dificulta o acesso de boa parte das escolas do país que carecem de computadores e pessoas habilitadas para a administração desse teste bem como disponibilidade de recurso para a aquisição do mesmo. Além disso, as características psicométricas desse instrumento também não foram satisfatórias. Desse modo, considerou-se pertinente desenvolver um teste de habilidades sociais que pudesse ser aplicado em papel e com respostas objetivas, dispostas numa escala likert. São apresentados ao examinando 23 itens para serem respondidos quanto à freqüência com que comete os comportamentos numa escala likert de três pontos. As categorias de resposta foram Nunca, As vezes e Sempre e foram atribuídos pontos de 1 Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 259 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental a 3 respectivamente a cada uma delas na correção do instrumento que foram somados. Alguns itens são pontuados de forma inversa, já que a conduta socialmente hábil está definida no oposto do que a frase propõe. Os resultados da análise preliminar feita por componentes principais e rotação varimax sugeriram a estrutura de três fatores mais evidentes que explicaram 34,17% de variância. O primeiro fator foi denominado Civilidade e Altruísmo e apresentou um índice alfa de Cronbach de 0,87; o segundo, Desenvoltura e autocontrole na interação social obteve um coeficiente de 0,84; e o terceiro Assertividade com enfrentamento evidenciou um alfa de 0,60. Esses dados podem ser considerados satisfatórios, o que torna o instrumento adequado para o uso em futuras pesquisas. A primeira dimensão, Civilidade e altruísmo, abrange habilidades como agradecer elogios, pedir desculpas, ajudar os amigos, elogiá-los, expressar sentimentos positivos aos pares, ser educado ao manifestar uma opinião. No segundo fator, Desenvoltura e autocontrole na interação social, seus indicadores devem ser invertidos para indicarem tais aspectos. As situações propostas sugerem situações negativas em que a criança é exposta à situações novas, desconhecidas ou que podem provocar constrangimento como receber críticas, falar para a sala toda, encerrar uma conversa, apresentar-se a um grupo de desconhecidos ou perguntar-lhes algo. Finalmente, a terceira dimensão, recebeu a denominação de Assertividade com enfrentamento. As habilidades propostas incluem demonstrar desagrado, defender seus direitos e opiniões, resistir à pressão do grupo, afirmando sua auto-estima, sob o risco de uma reação indesejável por parte do interlocutor. Esses fatores foram similares aos sugeridos por Del Prette e Del Prette (2005). A análise de Rasch, aplicada à esses itens, identificou o nível de dificuldade dos mesmo, possibilitando observar que os indicadores avaliam habilidades sociais Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 260 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental medianas, embora o nível de dificuldade dos itens aumente de um fator para o outro, sendo que os indicadores do fator 1 apresentam maiores concordâncias, enquanto os do fator 3 menor. Também o ajuste dos itens restantes da escala por Rasch evidenciou que nenhum esteve fora dos limites aceitáveis de ajuste ao modelo de Rasch. Desse modo, esse instrumento fornece uma informação diferenciada que talvez seja desejável de ser obtida por pesquisadores e psicólogos que trabalham com essa variável. Ao se hierarquizar a dificuldade dos itens, identificando quais condutas são mais fáceis de se apresentar no contexto de interação social, possibilita-se planejar intervenções para pessoas que apresentam baixa habilidade social, apresentando inicialmente condutas mais fáceis da pessoa emitir, para então passar às comportamentos mais complexos, permitindo uma avaliação precisa do repertório comportamental da criança, possibilitando um escalonamento comportamental, o que convida a novas pesquisas. O dado fornecido por esse instrumento identifica as situações interpessoais em que certas condutas (como fazer pedidos ou recusá-los) são mais fáceis e mais difíceis de ocorrerem, o que não é identificado nos demais instrumentos (Caballo, 2003). Também, descrevem comportamentos realizados com o intuito de otimizar os ganhos e minimizar perdas nas relações sociais. Em outros termos, seria uma medida de eficácia na relação. Além disso, essas condutas visam a manutenção da própria integridade, bem como a produção de uma sensação de domínio, o que caracteriza uma eficácia no respeito próprio. Um aspecto levado em conta na construção dos itens foi que as características apontadas seriam específicas à pessoa e a uma dada situação. Assim, alguns indicadores foram constituídos pensando-se no contexto escolar. Além disso, há que se considerar que as condutas que foram a base para os itens são socialmente eficazes, ou seja, não Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 261 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental danosas. Os comportamentos considerados foram: fazer elogios, aceitar elogios, fazer pedidos, expressar amor, agrado e afeto, iniciar e manter conversações, defender os próprios direitos, recusar pedidos, expressar opiniões pessoais, inclusive o desacordo, expressar incômodo, desagrado ou enfado justificados, pedir a mudança de conduta do outro, desculpar-se ou admitir ignorância, enfrentar as críticas, dar reforço ao outro, dar e receber retroalimentação, regular a entrada e saída de grupos sociais, e habilidade de falar em público. Medida Sociométrica Essa medida busca captar a aceitação ou rejeição de uma criança por seus colegas de classe para as atividades de brincar e estudar. Para isso, solicitou-se, primeiramente, que cada aluno indicasse três colegas de sua sala de aula com os quais gostariam de estudar. Dessa forma, o primeiro colega indicado foi considerado com quem ele mais gostaria de estudar e assim sucessivamente. Feito isso, foi solicitado para que indicassem três colegas de sala de aula com os quais não gostariam de estudar, sendo, o primeiro escolhido, o mais rejeitado para essa atividade e assim por diante. Essas mesmas perguntas foram também feitas em relação à atividade de brincar. As indicações positivas para cada uma das situações receberam pontos positivos da seguinte forma: + 3 para o primeiro escolhido; +2 para o segundo; e +1 para o terceiro. Já as negativas atribuiu-se -3 para o menos escolhido; -2 para o segundo menos escolhido; e -1 para o terceiro. Com base nessas pontuações, foi encontrada a posição sociométrica de cada um dos alunos pela soma aritmética dos pontos de aceitação e rejeição em cada uma das situações. Nesse contexto, foram obtidas três medidas. A primeira relativa à aceitação-rejeição para estudar, outra para brincar e uma geral que é soma das duas situações. Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 262 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental Procedimentos A aplicação do instrumento ocorreu de forma coletiva, realizada nas salas de aulas dos alunos e somente a aqueles cujos pais haviam autorizado previamente pela assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido (número de projeto comitê de ética 424-2010). Foi, inicialmente explicado às crianças de que se tratava a pesquisa e como responder ao instrumento. As questões foram lidas uma a uma pelo pesquisador que aguardava a resposta antes de prosseguir a coleta. As crianças que não desejavam prosseguir tinham essa liberdade, sendo liberadas da aplicação. Administrou-se inicialmente a medida sociométrica seguida da de Habilidades Sociais Resultados e Discussão Para analisar as relações existentes entre a medida sociométrica e de habilidades sociais empregou-se a prova de correlação produto-momento de Pearson, estabelecendo o nível de significância em 0,05. Pelos dados obtidos evidenciam-se coeficientes significativos e negativos na terceira série entre o Fator Assertividade e rejeição para as duas situações estudadas, a saber, estudar e brincar (r=-0,34; p=0,026; r=-0,35; p=0,033, respectivamente), sugerindo que quanto mais assertivas as crianças dessa série, menos tenderam a serem rejeitadas em seus grupos nas situações descritas. Um dado intrigante evidenciado e que merece maiores estudos concerne à associação positiva evidenciada entre o fator Civilidade e Altruísmo e rejeição para brincar nas meninas (r=0,33; p=0,007), já que sugere que quanto mais as meninas expressam seus sentimentos, fazem elogios e pedem desculpas aos demais, mas rejeitadas são na situação de brincar, o que convida a novas pesquisas. Uma possibilidade a ser analisada nesse particular diz respeito ao fato de que todas as crianças da amostra em questão eram provenientes de escolas públicas e muitas delas de Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 263 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental periferia em suas cidades, o que pode sugerir que o padrão de habilidades sociais esperado nesses contextos para evitar a rejeição seja também diferente, o que pode ser mais bem pesquisado futuramente. Apesar disso, observaram-se, de maneira geral, coeficientes de maior magnitude sempre entre as medidas de habilidades sociais e as situações de rejeição, na maior parte das vezes com coeficientes negativos e moderados, sugerindo que essas dimensões de habilidades sociais podem estar mais atreladas à redução da rejeição no grupo do que da aceitação propriamente dita, abrindo espaço para outras variáveis que também estejam imbricadas à aceitação e rejeição no grupo, como variáveis de personalidade como a socialização, dentre outras. Esse resultado também é consonante com outras pesquisas sobre o tema como a de Bartholomeu, Silva e Montiel (2011) em que os autores analisaram fatores de habilidades sociais avaliados pelo IHS em uma amostra de estudantes universitários, procurando identificar quais desses prediriam a aceitação e rejeição entre os pares. De fato, para os homens, nenhuma medida de habilidades sociais explicou a aceitação entre os pares e, somente o controle da agressividade, explicou a rejeição em situações de estudar e sair. Para as mulheres, somente a medida de exposição a desconhecidos explicou a aceitação entre os pares e a desenvoltura social explicou a rejeição social pelo grupo para a situação de sair, com coeficiente positivo, sugerindo que as mais desenvoltas, portanto hábeis socialmente nesse quesito, apresentaram maiores índices de rejeição. Em crianças, a assertividade esteve associada à maior aceitação no grupo em detrimento de outras condutas socialmente hábeis. Esse dado é intrigante e se associado com os dados da presente pesquisa efetuada com crianças, pode indicar uma tendência geral sobre o desenvolvimento da aceitação e rejeição no grupo de uma perspectiva da habilidade social, entendendo essa última como comportamentos emitidos na relação social para maximizar esses contatos Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 264 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental e minimizar danos. Obviamente, os instrumentos são diferentes e não avaliados em uma mesma escala (não equalizados), o que não permite fazer tal inferência, mas conduz a tal suposição, valendo-se à pena a investigação sob um método apropriado. Analisando-se ainda os resultados de Bartholomeu, Montiel e Pessotto (2012) identifica-se certas diferenças nas associações das medidas de habilidades sociais e aceitação e rejeição entre colegas. A Tabela 1 sintetiza as relações estabelecidas entre essas variávies em crianças, adolescentes e estudantes do ensino superior e fornece um panorama de como essas variáveis se associam nos diferentes níveis de ensino. Com base nessas informações, de forma geral, pode-se sugerir que a habilidade social em crianças do ensino fundamental tende a reduzir a rejeição mas não necessariamente provocar aceitação. Já em adolescentes do ensino médio, as habilidades sociais tendem a favorecer os meninos mas não as meninas quanto à aceitação para estudar e rejeição nesta situação. Finalmente, em universitários as habilidades sociais tendem a produzir menos rejeição para os meninos para o estudo, bem como facilitar a aceitação das meninas nesta situação. Todavia, certas condutas tendem a aumentar a rejeição das meninas principalmente para sair com as amigas. Tais dados convidam a novas investigações sobre o tema. O controle de outras variáveis nessa relação como a personalidade pode-se revelar importante e interessante, uma vez que essas apresentam relações com a sociometria (Sisto & colaboradores, 2004) bem como com as habilidades sociais (Bartholomeu, Nunes e Machado, 2010; Bueno, Oliveira e Oliveira, 2001), podendo ocorrer efeito de mediação destas relações. Tal fato convida também a novas investigações. Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 265 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental Tabela 1. Síntese de estudos sobre Associação entre habilidades sociais e aceitação e rejeição entre pares na escola, desenvolvimento e sexo. Habilidade Social Assertividade Enfrentamento com risco Autocontrole da agressividade Civilidade Altruísmo Expressão Afeto positivo Conversação e desenvoltura social Aceitação Estudar Geral ↑ Aceitação Sair/ Brincar Geral ↑ Geral ↑ Rejeição Estudar Rejeição Sair/ Brincar Meninos↓ Meninos↓ Meninas ↓ Meninos ↑ Meninos↓ Geral↓ Meninas↑ Auto exposição para Meninas↑ desconhecidos Crianças Adolescentes Universitários Setas para cima indicam correlação positiva moderadas Setas para baixo indicam correlações negativas moderadas Geral = amostra toda independente de sexo Conforme Del Prette (1996) a frequência Geral↓ com que determinados comportamentos são emitidos pelos indivíduos de um grupo ou contexto social constitui um indicador das habilidades efetivas e valorizadas nesse contexto. A associação encontrada entre as medidas do IHS e das medidas sociométricas, pode ser uma evidência das características valorizadas pela população do sexo masculino na amostra utilizada para aplicação. Caballo (1993) realizou pesquisas no âmbito dos componentes das habilidades sociais. Segundo o autor existem componentes de condutas que podem ser identificados e mensurados. Ressaltam-se duas divisões dos componentes, à saber, 1) de conduta que se subdividem em não verbais, como os gestos e expressões faciais; por exemplo, Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 266 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental quando se sorri ao encontrar um conhecido pelo caminho; componentes paralingüísticos, no volume e no tom da voz; componentes verbais, como elogios e agradecimentos; como o conteúdo geral de uma verbalização e componentes mistos mais gerais, como o afeto ou o saber escutar e 2) componentes cognitivos, que consideram as percepções e avaliações do indivíduo sobre os acontecimentos, situações e os estímulos que envolvem sua concepção de mundo e de si mesmo, neste caso seriam considerados fatores importantes à idade, o sexo e a cultura dos indivíduos; Ponderando o fato de que o conhecimento do repertório social da criança é bastante escasso, Del Prette e Del Prette (2005) sugeriram sete classes de habilidades consideradas prioritárias no desenvolvimento de treinamentos e avaliações de habilidades sociais, acrescentando-se ao modelo anterior as categorias fazer amizades, com comportamentos de fazer perguntas, elogiar, aceitar elogios, oferecer ajuda, apresentar-ser, cumprimentar, dentre outros; solucionar problemas interpessoais que envolvem pensar antes de tomar decisões, reconhecer e nomear problemas e identificar e avaliar possíveis alternativas de solução; e habilidades sociais acadêmicas que abarcam seguir regras, prestar atenção, ignorar interrupções feitas pelos colegas, aguardar a vez para falar, oferecer, solicitar e agradecer ajuda, reconhecer a qualidade do outro e cooperar nas discussões. Temos então que o comportamento social é uma conjunção de dados inatos e processos de socialização, que ocorrem a partir do conjunto de pensamentos, afetos, ações e atitudes em direção a um grupo social, ou ao próprio sujeito (Caballo, 1993). No fator auto-afirmação na expressão de afeto positivo (IHS) o risco de reação indesejável de outrem é mínimo, ou seja, a amostra emite um comportamento que tem grande probabilidade de ser aceito no meio social, quando se é cordial com todos, se tem uma fala agradável, uma boa escuta, ajuda o outro em situações públicas, entre Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 267 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental outras. O fator auto-afirmação correlacionou-se com aceitação para estudar avaliada nas medidas sociométricas. Porém, este mesmo fator não foi correlacionado com o fator enfrentamento e auto-afirmação com risco (IHS), no qual se reúnem situações em que há possibilidade de rejeição, réplica ou de oposição (Del Prette & Del Prette, 2001). Este dado levanta a possibilidade dos sujeitos do sexo masculino, avaliados na amostra, não possuírem repertório para lidar com situações de risco onde possa haver rejeição. Sendo assim, identifica-se a necessidade de uma intervenção para desenvolvimento no treino das habilidades identificadas no fator enfrentamento e auto-afirmação com risco. Para que as pessoas do sexo masculino possam melhorar sua aceitação no meio. No fator autocontrole da agressividade em situações aversivas encontrou-se associação com uma baixa rejeição para estudar. Vale ressaltar que isto não quer dizer que a população da amostra não se expressa, mas que o fazem de forma socialmente competente, ou seja, sem agressividade, por exemplo, em situações onde se é preciso lidar com críticas dos pais, com chacotas ou brincadeiras ofensivas. As pessoas desta amostra com comportamentos citados acima obtiveram uma baixa rejeição para estudar, sugere-se que isto se deve ao fato de se expressar de maneira mais competente, pois assim o risco de rejeição é menor. Identifica-se que tanto no fator de auto-afirmação na expressão de afeto positivo, quanto no fator autocontrole da agressividade em situações aversivas, a população da amostra não está exposta a situações onde haja risco de rejeição por emitir comportamentos que possam não ser aceitos. Sendo assim, levanta-se a hipotese de que em uma situação em que o adolescente enfrente risco por sua falta de comportamentos adequados para aquele contexto, ele possa ser rejeitado. Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 268 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental Acredita-se que, em relação a esta possível inabilidade social em enfrentar os riscos, vale sugerir que intervenções devem ser propostas através de treinos específicos de habilidade social, uma tentativa direta e sistemática de ensinar estratégias e habilidades interpessoais aos indivíduos, com a intenção de melhorar sua competência interpessoal e individual nas situações de interação sociais. Conforme Curran (apud Caballo, 2007), deve-se descrever os comportamentos socialmente adequados e suas repercussões na vida e nas relações dos indivíduos, de como se é possível discordar de colegas ou autoridades sem que isto seja interpretado de maneira inábil. Considerações Finais É relevante salientar que há uma estrutura neste processo de treinamento em habilidades sociais, em que se emprega a modelação, treino de assertividade e reestruturação cognitiva, o ensaio comportamental, a retroalimentação, o feedback e reforçamento, entre outras. Assim como técnicas de treinamento em grupo, conforme Caballo (2007). Descrevendo-se em etapas, a primeira seria identificar a necessidade do sujeito, que no caso, seriam os comportamentos citados anteriormente nesta discussão encontrada na amostra do sexo masculino em situações de enfrentamento com risco de rejeição. Posteriormente é relevante que o sujeito entenda e distingua as respostas que ele pode emitir que podem ser assertivas, não assertivas e agressivas. A terceira etapa abordaria uma reestruturação cognitiva dos modos de pensar considerados incorretos, para posteriormente se iniciar o ensaio comportamental das respostas socialmente adequadas em determinadas situações (Caballo, 2007). Espera-se que esta pesquisa possa fornecer um panorama sobre como essas variáveis se relacionam ao longo do desenvolvimento, incitem a pesquisa sobre essas Revista Sul Americana de Psicologia, v2, n2, Jul/Dez, 2014 269 Montiel, Pessotto, Bartholomeu. Habilidades sociais e status sociométrico em crianças do ensino fundamental variáveis e contribuam para o crescimento do conhecimento científico acerca da aceitação e rejeição entre pessoas nas escolas. Referências Anastasi, A. & Urbina, S. (2000). Testagem psicológica. Porto Alegre: ArtMed Editora. Baraldi, D. M., & Silvares, E. F. M. (2003). Treino de habilidades sociais em grupo com crianças agressivas, associado à orientação dos pais: análise empírica de uma proposta de atendimento. In A. Del Prette & Z. A. P. Del Prette (Orgs.), Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: ques- tões conceituais, avaliação e intervenção (pp. 235-258). Campinas: Alínea. Bartholomeu, D., Nunes, C. H. S. S., Machado, A. A. 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