COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL DOS ÓRGÃOS DE Ocimum Campechianum MILL Alberto Ray Carvalho da SILVA1,3 Pablo Luis Baia FIGUEIREDO2 Sebastião Gomes da SILVA2 Ted Wilson BICHARA JUNIOR2 Lidiane Diniz do NASCIMENTO3 Eloisa Helena de Aguiar ANDRADE2.3 [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] 1 2 Faculdade Integrada Brasil Amazônia,Graduando de Biomedicina. Universidade Federal do Pará, Programa de Pós-Graduação em Química. 3 Museu Paraense Emilio Goeldi, Coordenação de Botânica RESUMO: Os óleos essenciais dos órgãos (raízes, ramos, folhas e inflorescências) de um espécime de O. campechianum cultivado em Abaetetuba, Pará foram obtidos por hidrodestilação e analisado através de cromatografia de gás acoplada a espectrometria de massas (CG/EM). Os rendimentos dos óleos essenciais foram: traços (raiz), 0,36% (ramos), 5,06% (folhas) e 3,95% (inflorescências). O fenilpropanóide metileugenol foi o composto majoritário identificado nos óleos de todos os órgãos: raiz (73,85%), ramo (53,43%), folha (68,78%), inflorescência (65,32%), seguido dos sesquiterpenos: β-cariofileno (7,9015,34%), β-selineno (4,14-6,96%) e -selineno (0,58-4,43%). PALAVRA-CHAVE: Ocimum campechianum, Óleo essencial, Metileugenol. ABSTRACT: The essential oils from the organs (roots, branches, leaves and inflorescences) of a specimen O. campechianum cultivated in Abaetetuba, Pará state were obtained by hydrodistillation and analyzed by gas chromatography-mass spectrometry (GC/MS). The oil yields (ml / 100g ) ware trace (root), 0.36 % (branches), 5.06 % (leaves) and 3.95 % (inflorescences) . The phenylpropanoid methyleugenol was the major compound identified in oils of all organs: root (73.85%) , branch (53.43 %) , leaves (68.78 %), inflorescence (65.32 %), followed by sesquiterpenes: E-caryophyllene (7.90 to 15.34 %) , β-selinene (4.14 to 6.96 %) and -selinene ( 0.58 to 4.43 % ) . KEY WORD: Ocimum campechianum, essential oil, methyleugenol. 1. INTRODUÇÃO As plantas aromáticas são utilizadas desde a antiguidade como agentes antissépticos, contra infecções, na forma de aromas em perfumes e cosméticos, assim como conservantes para bebidas e alimentos. Suas propriedades biológicas estão diretamente relacionadas com sua composição química, a qual pode ser afetada pelo ambiente, geografia e sazonalidade (CERQUEIRA et al., 2007). Em toda a parte da planta podem ser encontrados princípios ativos importantes, sintetizados pelo metabolismo secundário e que dão origem a uma série de substâncias conhecidas como alcalóides, flavonóides, cumarinas, saponinas, óleos essenciais, entre outras (SIMÕES, 2004). O gênero Ocimum, da família Lamiaceae inclui cerca de 50 espécies que se distribuem em toda a extensão do planeta, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais (Vieira e Simon, 2000). No Estado do Pará, as espécies mais cultivadas deste gênero são O. americanum L., O. 1 649 campechianum Mill., O. gratissimum L., entre outras, para muitas finalidades como culinária, banhos e uso medicinal (ZOGHBI et al., 2007). Ocimum campechianum é popularmente conhecido como alfavaca de galinha e alfavaca do campo, tem grande potencial farmacológico e industrial (SILVA et al.,2004). Os óleos voláteis podem estar presentes em vários órgãos das plantas como nas flores, folhas, cascas, tronco, galhos, raízes, rizomas, frutos ou sementes. Segundo Siane et al. (2000) apesar de todos os órgãos de uma planta poderem acumular óleos voláteis, a sua composição pode variar segundo a localização. Os óleos essenciais de espécies do gênero Ocimum têm demonstrado diferença em suas composições químicas (SUPPAKUL et al., 2003). 2. OBJETIVOS Avaliar rendimento e composição química do óleo essencial obtido das inflorescências, folhas, ramos e raízes da espécie Ocimum campechianum. 3. METODOLOGIA O espécime Ocimum campechianum (Figura 1) foi cultivado no município de AbaetetubaPará. Os órgãos da planta (raízes, ramos, folhas e inflorescências) foram separados e secos em estufa, com ventilação a temperatura média de 35ºC, por cinco dias, após a secagem as amostras foram moídas, homogeneizadas, pesadas e submetidas à hidrodestilação utilizando um sistema de vidro do tipo Clevenger modificado, acoplado a um sistema de refrigeração para manutenção da água de condensação entre 10-15º, durante 3 h. Os óleos essenciais obtidos das amostras foram centrifugados durante 5 min a 3000 rpm, desidratados com Na2SO4 anidro e novamente centrifugados nas mesmas condições e armazenados em ampolas de vidro âmbar e mantido em ambiente refrigerado a 5 ºC. Figura 1 Ocimum campechianum O rendimento (%) do óleo essencial extraído da biomassa vegetal foi obtido do material bruto seco e base livre de umidade (BLU). O cálculo do rendimento (equação 1) em óleo em base livre de umidade (BLU) foi feito através da relação entre massa do material, óleo e umidade: 2 650 % óleo BLU = volume de óleo obtido (mL) massa (g) − ( massa X U 100 ) X 100 (1) A determinação da umidade residual do material vegetal foi realizada em balança determinadora de umidade com infravermelho, da marca Marte ®, modelo ID50, momentos antes a extração. A composição química dos óleos essenciais foi analisada por cromatografia de fase gasosa acoplada a espectrometria de massas em sistema Shimadzu QP2010 plus equipado com coluna capilar de sílica Rtx-5MS (30m x 0,25 mm; 0,25 µm de espessura do filme) nas seguintes condições operacionais: programa de temperatura: 60º-240ºC, com gradiente de 3ºC/min; temperatura do injetor: 240ºC; gás de arraste: hélio (velocidade linear de 1,2 mL/min); injeção sem divisão de fluxo (1 µL de uma sol. 2:1000 de n-hexano); temperatura da fonte de íons e outras partes 200ºC. A ionização foi obtida pela técnica de impacto eletrônico a 70 eV. A identificação dos componentes voláteis foi baseada no índice de retenção linear (Índice Kováts) calculado em relação aos tempos de retenção de uma série homóloga de n-alcanos e no padrão de fragmentação observados nos espectros de massas, por comparação destes com amostras autenticas existentes nas bibliotecas do sistema de dados (NIST05) e da literatura (ADAMS, 2007). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os rendimentos dos óleos essenciais (%) obtidos da extração dos órgãos de O. campechianum pelo processo de hidrodestilação estão listados na tabelas 1, assim como a umidades (%) obtidas das amostras antes da destilação. Tabela 1. Rendimento de óleo e umidade dos órgãos de O. campechianum órgão óleo (%) Umidade (%) raiz traços 9,75 galhos 0,36 15,99 folhas 5,06 15,32 ramos 0,57 12,33 inflorescências 3,95 9,51 3 651 Figura 02 Variação em óleo essencial dos órgãos de Ocimum campechianum Mill Óleo essencial (%) 6 5 4 3 óleo (%) 2 1 0 Órgãos destilados Na Figura 2 observa-se uma grande variação entre os teores de óleos obtidos dos vários órgãos da planta, os teores máximos foram extraídos das folhas (5,06%), seguido das inflorescências (3,95%), e os teores mínimos foram extraídos dos galhos (0,36%) e das raízes (traços). A tabela 2 apresenta os constituintes químicos (%) identificados nos óleos essenciais dos órgãos de O. campechianum e seus respectivos índices de retenção (IR), em ordem crescente. TABELA 2. Constituintes químicos identificados nos óleos essenciais dos órgãos de O. campechianum IRL 974 1026 1032 1044 1128 1165 1195 1335 1356 1389 1403 1417 1434 1452 1464 1476 IRC 979 1034 1037 1045 1132 1170 1202 1341 1362 1397 1416 1428 1440 1461 1468 1482 Componentes octen-3-ol 1,8-cineol (Z)-β-ocimeno (E)-β-ocimeno allocimeno borneol metilchavicol δ-elemeno eugenol β-elemeno metileugenol β-cariofileno γ-elemeno α-humuleno 9-epi-β-cariofileno β-chamicreno raízes galhos folhas inflorescências ramos 0,53 0,26 1,06 0,15 0,44 0,06 0,95 0,88 0,47 0,14 3,39 65,64 10,98 0,27 2,17 0,15 0,36 0,05 8,60 0,17 0,88 2,35 73,85 7,90 1,05 7,84 53,43 15,34 0,43 4,05 0,10 0,46 0,97 0,07 6,76 68,78 10,64 0,24 1,99 0,10 6,09 65,32 11,49 0,29 1,91 0,04 4 652 1489 1498 1582 1608 1649 1719 1494 β-selineno 1502 α-selineno 1587 óxido de cariofileno 1613 epóxido de humuleno II 1657 β-eudesmol 1662 selin-11-en-4α-ol Monoterpenos hidrocarbonetos Monoterpenos oxigenados Sesquiterpenos hidrocarbonetos Sesquiterpenos oxigenados Fenilpropanóides Total identificado 4,14 0,58 0 8,6 16,02 0 73,85 98,47 6,96 4,05 1,98 0,56 0 0 35,6 6,59 53,6 95,79 5,55 3,89 0,08 0,05 0 30,14 0,08 69,31 99,58 5,35 4,43 0,06 0,12 0 0 30,55 0,06 65,38 95,99 0,04 0,16 1,65 0,26 17,79 0,32 66,66 87,21 IR (índice de retenção) C (calculado), L (literatura) Metileugenol, constituinte majoritário, presente em todos os óleos obtidos (53,43% 73,85%), independentes do órgão da planta, seguido pelos hidrocarbonetos sesquiterpênicos βcariofileno (7,90%-15,34%), β-elemeno (2,35% - 7,84%), β-selineno (4,14% - 6,96%), α-selineno, (0,58% - 4,43%) e α-humuleno (1,05% - 4,05%). A figura 3 mostra a variação dos constituintes majoritários (≥ 6,0%) dos óleos essenciais obtidos da extração dos órgãos estudados, observa-se que metileugenol (I) alcançou teor máximo na raiz e os mínimos nos ramos e inflorescências, os sesquiterpenos β-elemeno, β-cariofileno também apresentam variações entre os órgãos, porém o monoterpeno oxigenado borneol (II) foi detectado somente no óleo essencial da raiz. (I) Metileugenol (II) Borneol 5 653 Figura 3 Variação dos constituintes (≥ 6,0%) no óleo essencial dos órgãos de O. campechianum Órgão da planta ramos inflorescências folhas galhos raizes 0 β-cariofileno 20 40 β-elemeno 60 borneol 80 metileugenol 5. CONCLUSÕES O maior teor de óleo essencial de Ocimum campechianum foi obtido das folhas; O constituinte principal identificado é o fenilpropanoide metileugenol, presente nos óleos de todas as partes da planta, com variações insignificantes, o que desperta o interesse das indústrias neste espécime visando sua aplicação. O monoterpeno oxigenado borneol foi encontrado somente nas raízes, cujo teor de óleo foi traços. 6 654 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, R.P. Identification of Essential Oil Components by Gas Chromatography/Mass Spectrometry. Allured Publishing Corp., Carol Stream. 2007. CERQUEIRA, M. D.;NETA, L. C. S.; PASSOS, M. G. V. M.; LIMA, E. O.; ROQUE, N. F. ; MARTINS, D.; GUEDES, M. L.S.; CRUZ, F. G.- Seasonal Variation and Antimicrobial Activity of Myrciamyrtifolia Essential Oils. Journal of the Brazilian Chemical Society.,998, 2007. SIANI, A. C; SAMPAIO, A. L. F.; SOUZA, M. C.; HENRIQUES, M. G.M. O.; RAMOS, M. F. S. Óleos essenciais: potencialanti-inflamatório. Bio tecnol. Ciênc. Desenvolvimento, v.16, p. 38-43, 2000. SILVA, M. G. V; MATOS, F . J. A; MACHADO, M. I .L; SILVA, F. O. Essential Oil Composition of the Leaves ofOcimum micranthumWilld. journal of Essential Oil Research, Volume 16, p. 1895 190, 2004. SIMÕES, C. M. O.;SPITER, V. Óleos volateis. In: SIMÕES, C. M. O.; et.al. 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